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História Auror (Drarry) - Chá


Escrita por: OAleCampos

Notas do Autor


Boa leitura!

Capítulo 4 - Chá


[Harry]

Cheguei em casa com uma dúzia de relatórios e pastas para ler sobre o caso em que fui colocado. Coloquei-os sobre a minha cama, tirei a roupa e fui até o banheiro. Precisava de um longo, quente e relaxante banho para desopilar toda aquela situação na minha cabeça. Depois de vários minutos pensativos sob a água quente do chuveiro, terminei meu banho e saí do box. Sequei meu cabelo e limpei o vapor do espelho. Olhei-me por alguns segundos, tentando buscar em mim mesmo alguma orientação sobre o que fazer.

Coloquei uma calça de moletom, uma blusa e calcei meias de algodão. Fui até a cozinha e preparei um chá quente qualquer que Hermione comprara na última vez em que saiu. Sem fome, sentei-me na cama, com o chá nas mãos e passei a encarar aquela pilha na minha frente. Um gole. Um suspiro. Por mais idiota que pudesse parecer, eu sentia como se, a qualquer momento, uma resposta sensata brotaria de todos aqueles documentos oficiais.

Deixei o chá na cabeceira e tomei coragem para abrir novamente outro arquivo. Diversas folhas começaram a sair por conta própria e a se organizar na minha frente em algum tipo de ordem. Várias fotos fizeram o mesmo. Olhei-as com atenção e ali parecia conter as informações coletadas por um auror durante todo o ano de 1999. Detalhes de suspeitas, localizações, missões fracassadas. Comecei a ler todos os arquivos, um a um...

Um gole do chá. Ele ainda estava quente.

Os arquivos pareciam ficar mais densos de acordo com o passar dos anos. Cada auror parecia cada vez mais determinado a pegar a família Malfoy. Muitas imagens mostravam Draco muito diferente do que eu me lembrava. Mais velho, em algumas com barba, outras sem barba, com cabelos de várias cores. Certamente eu não seria capaz de reconhece-lo sem dificuldade em nenhuma daquelas imagens. Já fazia o que... Dez anos? Provavelmente sim. Contudo, havia uma coisa que não mudava. E isso eu tinha certeza que não havia mudado desde 1996.

Seus olhos.

Os olhos cinzentos. Durante cinco dos anos da nossa convivência, aqueles olhos sempre me encaravam com desdém, mas tinham luz. Desde que ele foi recrutado pra trabalhar ao lado dos comensais, algo parecia ter mudado ali dentro. O olhar parecia mais fundo, mas vazio. Olheiras escuras. Olhar para ele era como enxergar um tubo oco. Um tubo oco com alguém preso lá dentro, tentando desesperadamente sair. Um olhar triste. Cinza... como as nuvens em um dia de chuva. Um dia triste. Um dia cinza.

Isso não havia mudado. Eu podia ver o mesmo vazio através de seus olhos.

Em uma das imagens, ele olhava diretamente para a câmera e executava um movimento como se tentasse se virar de costas e cobrir seu rosto. E isso se repetia. Fiquei por algum tempo encarando aquela imagem, tentando decifrar em que circunstância exatamente aquele momento havia sido capturado. Não somente isso. Toda vez que ele olhava na direção, parecia que ele estava olhando diretamente para mim. Por mais idiota que isso possa soar, eu sentia como se ele estivesse no quarto comigo, dentro daquela foto. Seu olhar parecia querer me dizer alguma coisa.

Minha atenção foi desviada quando escutei alguém bater na porta do meu quarto.

- Pode entrar – respondi, sem tirar completamente meus olhos da imagem em looping.

Hermione abriu a porta e entrou no meu quarto. Ainda estava vestida nas roupas que fora trabalhar mais cedo. Havia acabado de chegar de seu expediente. Ela caminhou até estar próxima da minha cama e ver todos aqueles arquivos espalhados ali por cima. Ela pegou uma das pastas, sentou-se na beira da cama e começou a passar o olho pelos escritos contidos dentro dela, sem falar nada.

- Você sabia, não sabia? – perguntei, mudando meu olhar para a sua direção.

Ela respirou bem fundo.

- Eu entendo que você esteja chateado – ela não tirava os olhos dos papéis – mas isso não está sob o meu controle. Ben deixou bem claro que queria você e Gina junto a ele para designar-lhes especificamente essa missão quando soube que vocês integrariam o corpo de aurores.

- Não, eu entendo que isso tenha acontecido, de verdade – coloquei a foto ao lado do travesseiro e me ajeitei na sua direção – mas eu acho que nesse caso, especificamente, teria sido muito bom você ter me avisado.

- É sobre isso que falei mais cedo – ela olhou para mim, com os olhos caídos – a nossa amizade não pode interferir nos assuntos do ministério.

Fui vencido. Não tinha argumentos. Agora eu sabia exatamente o porquê de tudo que ela me falou mais cedo.

- Hermione, você sabe que tudo só não foi perdido porque Draco e Narcissa nos ajudaram – engoli seco – mais de uma vez.

Ela olhou para o teto e pareceu pensar muito bem nas palavras que usaria antes de prosseguir com a nossa conversa.

- Harry, os Malfoy abrigaram Voldemort por muito tempo. Lucius estava presente naquele dia em que estivemos no ministério durante o quinto ano. Mais que isso, muitas coisas foram provadas que tinham envolvimento direto ou indireto de algum Malfoy – ela voltou a me olhar – O ministro da magia não quer e não deve correr esse risco.

- Você não acha que, em dez anos, eles já teriam feito alguma coisa, se assim o quisessem?

- Harry, não se trata de querer ou não e você sabe muito bem disso.

- Tudo bem, tudo bem, eu posso ter ficado mole por ter revivido muitas das coisas que senti naquela época vendo tudo isso – dei de ombros – um auror não pode hesitar desse jeito.

- O que a Gina disse sobre isso? – perguntou, tentando mudar um pouco o foco da conversa.

- Na verdade, não tivemos muito tempo para dialogar sobre isso de maneira clara – lembrei-me do dia de trabalho – fomos soterrados com esse tanto de relatórios e mal pudemos conversar. Ela também sabe de tudo e parecia também um pouco tensa com toda essa situação.

- Sabe, você não é obrigado a aceitar essa missão...

- E colocar em xeque todo o trabalho que tive para virar um auror? Rejeitar a minha primeira missão? Destruir uma reputação que ainda sequer conseguir construir?

- Tem razão – ela se levantou da cama – preciso dizer, como sua chefe, que a confiança do ministério em você poderia ser muito abalada.

- Bom, preciso continuar lendo tudo isso para conversar com a Gina amanhã e saber como e por onde começaremos a agir – passeei com meus olhos por toda aquela papelada.

- Tudo bem, vou deixar você aqui com o seu trabalho. Necessito de algum descanso, tive um dia muito atarefado também – ela pegou na maçaneta da porta.

- Boa noite – desejei e ela respondeu com um gesto com a sua cabeça.

Não sei muito bem quanto tempo passou, mas continuei a varrer todos aqueles documentos, linha a linha, imagem a imagem, tentando entender tudo o que tinha acontecido naquele espaço de tempo. Cheguei até o ano de 2006. Lucius Malfoy fora preso após uma emboscada feita pelos aurores durante uma perseguição na Ásia.

Lucius Malfoy. Preso. Era irônico pensar em como aquele homem, com postura tão arrogante, estaria em Azkaban. Sem qualquer glamour em roupas, comidas e até mesmo tratamento. Mal podia imaginar o estado da sua marca registrada: os longos fios loiro-platinados.

A essa altura eu já estava muito cansado. Com um movimento da varinha, fiz com que todos os documentos voltassem para suas respectivas pastas. Deitei-me e virei para o lado da cômoda. A foto que eu deixara ali, durante minha conversa com Hermione, não havia se movido. Peguei-a com uma das mãos e tornei a encarar aqueles olhos cinzentos. O olhar penetrante, como um pedido de socorro, ainda era o mesmo e se repetia incansavelmente. Respirei fundo e coloquei-a sobre a cabeceira da cama, lembrando-me da xícara de chá que fizera sabe-se-lá quanto tempo mais cedo.

Peguei a xícara e tomei um gole do chá. O chá já estava frio.

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Ao abrir meus olhos, a primeira coisa vi foi a imagem borrada daquele olhar me encarando, enquanto desviava das lentes. Coloquei meus óculos, peguei a foto e coloquei-a dentro da pasta da qual ela fazia parte. Eu já não tinha mais tempo para me martirizar sobre aquele assunto.

Seria feito aquilo que precisava ser feito.

A manhã se iniciou de maneira normal. Me arrumei, fiz a higiene pessoal e desci para tomar café. Encontrei com Hermione na cozinha e tivemos uma breve conversa sobre qualquer coisa, como se fosse mais um dia normal como aqueles que tivemos nos últimos anos em que moramos juntos. Nenhum de nós sequer tocou no assunto da noite passada. Ela parecia pisar em ovos ao falar comigo, para evitar com que meu dilema moral pudesse ser, de alguma forma, piorado por qualquer coisa que ela pudesse dizer.

Não demorou muito até estarmos prontos para sair de casa e chegarmos até o ministério da magia. Aparatamos por uma das lareiras de nossa casa e seguimos nosso caminho até o D.E.L.M.. Nos despedimos e Hermione seguiu para a sua sala. Quando me aproximei da minha baia, percebi que a luz da baia do lado estava acesa: Gina já havia chegado.

- Bom dia, Gina – cumprimentei-a, colocando todas as pastas e meus objetos pessoais sobre a mesa.

- Bom dia, Harry – ela respondeu, sem tirar os olhos atentos de um relatório.

- Pelo visto, vejo que você deve ter aberto o escritório hoje – tentei enxergar o que ela estava lendo.

- Algo do tipo – ela deu de ombros – acho que precisamos conversar sobre tudo isso.

Olhei na direção da sala de Morris. A luz ainda estava apagada. De certo, ele ainda não havia chegado. Talvez fosse mais seguro discutir sobre isso nesse momento. Apenas assenti e apontei para uma das salas de reunião do lado de fora da seção dos aurores. Pegamos nossos arquivos, seguimos para lá, me certifiquei de que não havia ninguém por perto e fechei a porta. Colocamos todo o material sobre a grande mesa no centro e nos sentamos. Eu e Gina encaramos todo o conteúdo por alguns segundos, em silêncio absoluto.

- Harry, eu estive pensando sobre tudo isso e... – a ruiva iniciou sua fala, sem me olhar de maneira direta.

- Você não sabe se isso é o correto – interrompi-a e dei um longo suspirou após me ajeitar na cadeira de madeira escura. – Eles não sabem de muita coisa que aconteceu por baixo dos panos, Gina – bati com a varinha em uma das pastas e fiz com que as fotos de Lucius se espalhassem pela mesa – nós sabemos que ele foi o culpado por toda a lástima da família Malfoy e ele já está preso.

- Sim, mas também pensei na memória de Moody, Tonks... e todos os outros aurores que morreram por causa de Voldemort. Não sei se seria justo com eles a gente deixar passar esse tipo de erro – seu olhar parecia perdido nas imagens de Lucius sendo recebido em Azkaban.

- E o que você sugere? – indaguei-a.

- Vamos atrás do Draco e da Narcissa. Vamos tentar nos aproximar e observá-los de longe. Sei lá, tentar determinar de ainda representam algum tipo de perigo.

- E você acha que Morris...

Alguém bateu na porta e dois segundos depois, ela estava aberta. Ben entrou na sala em que estávamos e pareceu analisar todo o material disposto sobre a mesa.

- Bom dia, Potter, Weasley. Me falaram que vocês estavam aqui. Fico feliz que tenham chegado mais cedo e já estejam trabalhando em cima do caso que passei para vocês – ele sorriu de maneira gentil – Já pensaram em alguma coisa?

- Na realidade, estávamos discutindo sobre isso agora – olhei de canto de olho para Gina – precisamos de mais alguns dias para estudar todos esses arquivos. Tentar observar algum padrão, alguma coisa que nos leve até eles.

- E aí, assim que tivermos alguma coisa sólida, avisaremos a você – completou Gina.

- Ótimo. Conto com o trabalho de vocês! -  ele fechou a porta, deixando-nos novamente a sós.

Então estava definido. Teríamos que dar algum jeito de localizar Malfoy e aí, só depois, decidiríamos o que seria justo e correto a ser feito. Se Malfoy tivesse que ser mandado para Azkaban, ele iria para Azkaban. Se não... Bem, isso a gente teria que descobrir.


Notas Finais


Espero que estejam gostando de tudo!


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