— Ok, quem ainda falta? — Jeongin perguntou.
— Felix e o Hyunjin — respondeu Jisung.
Todos olharam para os citados; faltava pouco para o final de tudo aquilo e saberem quem seria o ganhador da noite.
— Eu posso ser o último, pode contar a sua história primeiro, Jin — falou Felix, entregando a foto para o Hwang.
— Pra falar bem a verdade… — pigarreou Hyunjin, iniciando sua fala. — Acho que nenhum de vocês está sendo justo sobre as origens desse tal, hum, chupa-cu.
Os olhos se voltaram para o garoto, que apertava em mãos seu ursinho cor-de-rosa. Apesar de ainda guardar um resquício de inocência no costume de nunca dormir sem a proteção de seu fiel guardião, Hyunjin era inteligente e bastante maduro. Embora imaginativo, os demais costumavam sempre levar a sério o que ele dizia, por saberem de sua honestidade.
— Faça sua defesa do monstrengo então, filho de Atena. Nos elucide sobre como pode ser benevolente um monstro que, bem, chupa o cu das pessoas sem seu consentimento — incentivou Changbin. Hyunjin apertou as orelhinhas de Freddie entre os dedos álgidos, como se juntasse as palavrinhas em sua cabeça, enfim, começando sua fala.
— Uma coisa que aprendi nos meus anos de estudo das mitologias é que os deuses ancestrais não são como os cristãos. Eles são mais humanos que seres de luz, o que significa que o poder os corrompe tanto quanto corromperia qualquer mortal. E as maldições que eles aplicam nem sempre são merecidas, de todo. Às vezes, sim, mas até que ponto?
— Ora, Hyunjin. Se você um deus, talvez fosse justo, mas se eu fosse, não pensaria duas vezes antes de dar cabelos de cobra ao Seungmin. A existência dele certamente foi uma das pragas saídas da caixa de Pandora — alfinetou o Lee mais velho do recinto, sendo fulminado por seu nêmesis do outro lado da pequena roda.
— Eu já tenho uma serpente e ela já é suficientemente perigosa, Lee — sorriu provocador. — Há quem diga que eu seja capaz de transformar certas coisas em pedra com um simples olhar, também, mas isso-
— Por favor, se resolvam depois que eu terminar antes que eu sufoque vocês com um travesseiro, obrigado — bufou o Hwang, impaciente. — Como eu dizia…
“Houve um tempo em que os deuses eram apenas humanos com mais poderes. Sentiam inveja, ira, luxúria e ciúmes. E o mesmo se estendia a deuses menores, como ninfas, dríades e, no caso dessa história que vou lhes contar, daemones, que, num resumo geral, seriam a personificação de sentimentos, facetas da personalidade humana, como a ira, loucura ou o prazer.
"Quem protagoniza essa história que eu li há algum tempo são as daemones Lipe, daemone da dor emocional, a dor do coração causada pelo sofrimento, pela tristeza e pelos problemas da vida sentimental, e Hedonê, daemone da luxúria, filha de Eros e Psiquê.
"Diz-se que, certa vez, Lipe se viu apaixonada por um mortal, cujo nome foi apagado da história. O mortal, porém, rejeitou-a por estar encantado com Hedonê. Irada, Lipe o castigou. Amaldiçoou-o com a mistura vil da luxúria de sua amada e a tristeza carregada pela daemone rejeitada. Ele carregaria a maldição de ser tomado pela luxúria, mas nunca pode se satisfazer dela, sentindo apenas uma incontrolável tristeza, como a que se apossara do coração de Lipe ao ser rejeitada por ele.
"Hedonê, porém, compadecida do jovem apaixonado, mas incapaz de reverter uma maldição feita por Lipe, pôde apenas abrandá-la, e conjurou uma prece que dizia:
“Que a todo aquele que sentir em seu coração a mesma tristeza que este pobre diabo possa ter em seu tormento algum alívio, e das garras de Lipe se livre ao menos por um instante, vindo a mim e sendo abraçado em um prazer dissipador das dores.”
— Whoa… Então o chupa-cu é um coitado que não quis dar uns pegas em um demônio grego? — exclamou Jisung. Hyunjin sorriu com a simplicidade das palavras do amigo, que esfiaparam sua Odisséia em uma esquete de comédia em poucos segundos. Não que estivesse errado.
— Pondo nesses termos parece bem mais esdrúxulo, mas é isso mesmo. Inclusive, o termo beijo grego vem daí.
— O que é beijo grego? — Felix prontamente cobriu os ouvidos de Jeongin.
— Não. Se. Atrevam.
Os garotos riram, e a pergunta de Jeongin ficou sem resposta.
— Ele já sabe o que é, Lix. Só não sabe que pode ser bom. — Changbin arqueou a sobrancelha sugestivamente. Por algum motivo, Felix corou. — A propósito, o contra-feitiço da outra daemone, o que exatamente ele fez? Nunca fui bom com interpretação de texto.
Hyunjin apertou mais o ursinho em seus braços, como se tentasse aquecer seu coração de fora para dentro. Suspirou profundamente, como se tivesse dificuldade para falar sobre aquela parte da história.
— Bom… Basicamente, assim como Lipe amaldiçoou o rapaz usando os domínios de Hedonê, Hedonê contrafez a maldição agindo sobre os poderes de Lipe: causar tristeza, dor e desespero nos corações. Para todo aquele que já estivesse sentindo uma dor tão profunda quanto a que a maldição trazia ao jovem amaldiçoado, ser atacado por ele no ritual que nós já conhecemos não causaria dor ou desespero. Na verdade, faria essa dor ser dissipada e transformada em… Prazer.
— Tipo masoquismo?
— Não é bem assim — continuou. — Diz a lenda que essa criatura, que aos poucos foi perdendo a forma humana e se tornando mais uma figura deformada pela tristeza, por vezes aparecia para aqueles que passavam por uma situação de suplício emocional, como uma decepção amorosa, por exemplo, e para estes se mostrava vagamente humano, para que não os assustasse. E para estes, fazia bem. Levava-o diretamente aos braços de Hedonê, como ele mesmo jamais pode estar, se é que me entendem. Li também que algumas culturas veneravam essa criatura com poemas, agradecendo por limparem seus corações da dor de um amor desfeito, o que as ajudava a seguir em frente.
— Então o chupa-cu: a) é uma vítima e b) pode ser benéfico para as pessoas? — Minho questionou, bastante surpreso, mas cético como era, não se deu por satisfeito: — Mas, e você, Hyunjin? Acredita nisso ou só está contando o que leu por aí? Nem todos os livros dizem a verdade, sabe, e aqui trabalhamos com provas. Você não pode simplesmente defender esse chupa-cu do bem se todos os relatos que temos dele é de um ser vil que ataca as pessoas de um jeito bem doloroso e traumático.
Hyunjin parecia sério, um rubor rosado em suas bochechas magras. Torceu os dedinhos como uma criança inquieta escondendo uma grande conspiração, cuja língua coçava para delatar.
— Vocês lembram, hum, do Jinyoung-nim?
— O professor bonitão que te fazia babar no segundo ano? Claro que sim — respondeu Seungmin. — Achei que falar dele ainda te causasse gatilhos.
— Nah, eu superei bem rápido.
— Eu lembro disso — Felix comentou. — Foi muito rápido mesmo. Em uma noite você estava chorando e na out- OH, NÃO, HWANG HYUNJIN! — Felix pareceu finalmente ter compreendido tudo. Os outros também arregalaram os olhos ao chegarem a uma óbvia e alarmante conclusão. — Você não pode estar falando sério.
— E eu alguma vez já menti para vocês? — sorriu com uma sombra da maldade, sabendo que havia convencido os amigos.
— E eu que sempre jurei que você tinha usado seu cupom FNM com o Chan hyung? — disse Jeongin. — Quem diria que você foi visitado pelo chupa-cu bonzinho.
— FNM? — Felix questionou.
— É, hyung. Fodinha na amizade, nunca ouviu falar?
E tudo que se ouviu depois disso foram as risadas histéricas de sete garotos e o som das palmadas e o sermão de Felix sobre como aquele grupinho estava, definitivamente, estragando de vez o seu bebê — ninguém lembrando de questionar-se sobre como o suposto ataque de um chupa-cu do bem se dera, em tese, no mesmo dia em que Bang Chan dormiu na casa dos Hwang.
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