Eu estava no balcão do bar do meu restaurante analisando algumas planilhas de última hora sobre o estoque. Era tudo muito difícil, mas eu tinha feito um curso extra de contabilidade. Assim, eu poderia saber, pelo menos, o básico para entender o que estava acontecendo com meu restaurante. Adam, no inicio, achou um absurdo eu querer fazer esses trabalhos por mim mesma quando eu poderia contratar meu próprio contador (com o dinheiro dele), mas eu insisti que queria fazer as coisas sozinha e ele acabou aceitando eventualmente.
- Ual, isso aqui é gigante! – Calum entrou no saguão olhando em volta e eu sorri automaticamente.
- Cal! – Eu o abracei e ele sorriu, empolgado, olhando em volta. – O que você veio fazer aqui?
- Conhecer o restaurante. – Ele disse, dando de ombros.
- Sozinho? – Eu perguntei, desconfiada.
- Ashton e eu não somos casados, você sabe, né? – Ele perguntou, me provocando e eu fiz uma careta.
- Cashton não se separa quando vai visitar uma cidade nova. – Eu disse, rindo e ele assentiu.
- Ok, isso é verdade. Mas, ele não quis vir.
- Oh. – Eu disse, surpresa e um tanto desapontada.
- Não leve a mal. – Calum percebeu minha reação. – Ele até tem curiosidade de ver o restaurante. Chegou a comentar com o quanto ele estava impressionado de você ter seu próprio negócio agora, mas ele ainda prefere não passar muito tempo perto.
- Eu entendo. – Eu assenti, guardando as planilhas.
- Mas... Eu shippo muito vocês dois, você sabe. – Calum começou a falar, se apoiando no balcão e eu o encarei, achando graça. – Será que é muito errado eu criar esperanças quando vi aquela secretaria e o seu marido?
- Katrina é só uma empregada. – Eu falei, evasiva. Não seria uma boa ideia falar sobre a discussão que tive com Adam no almoço.
- Mas, ela claramente queria o seu marido. – Ele disse, rindo.
- Mas, meu marido é extremamente fiel. – Eu rebati, ficando irritada.
- Ei, não me leve a mal, estou brincando. É sério, Emma, fique de olho. Essa mulher tem algo de errado. – Ele me avisou e eu respirei fundo.
- Vou ficar. Mas, isso é normal. Sempre acontece, sabe? Sempre surge alguma nova garota tentando dar em cima de Adam.
- É assim tão corriqueiro? – Ele perguntou, achando estranho.
- Você nem imagina! – Eu disse, rindo. – Aparentemente, um multimilionário atrai muitas mulheres.
- Mais que um baterista de uma banda famosa? – Ele perguntou malicioso, e eu revirei os olhos.
- Não comece com isso. – Eu pedi, tentando manter o humor. – Ashton e eu somos passado, ok?
- Ok. – Ele sorriu. – Mas, se eu der um empurrãozinho...
- Continuaremos a ser passado. – Eu disse, firme. – Eu estou casada, Calum, e estou feliz.
- Então, tudo bem, vou desistir. – Ele admitiu a derrota. – Mas, eu não shippo... Amma? Eman? Viu? Nem o nome do shipp é bom! Isso não pode indicar coisa boa.
---*---
Eu cheguei tarde novamente e fiz meu ritual, indo direto para a cozinha. Dessa vez, não me assustei quando encontrei Ashton lá.
- Boa noite. – Eu disse, distraída, largando uma sacola em cima do balcão que continha um pouco da sobremesa que eu tinha servido no restaurante.
- Boa noite. – Ele disse, me entregando prontamente uma xícara de chá. Eu arqueei as sobrancelhas surpresa ao pegar a xícara.
- Obrigada.
- Eu vim tomar meu chá e pensei que já que é o horário que você chega, seria bom deixar pronto para você também.
- Isso é bom. – Eu sorri, nervosamente. Não era bom, era estranho. Era quase como se ele estivesse me esperando chegar.
- Como foi o dia hoje? Calum me contou sobre o restaurante. Parece ser bem legal.
- É, Calum até experimentou a comida. – Eu disse, rindo. – Ele me falou que você não quis ir. – Eu precisava alfinetar. Eu não sabia por que ele não querer ir conhecer meu restaurante estava me incomodando tanto.
- É que... Eu não sei como ficar perto de você ainda.
- Como assim?
- Como devemos agir? Como se não nos conhecêssemos? Como se já tivéssemos namorado? Como se fossemos amigos? Eu nunca sei como reagir. – Ele confessou, rindo nervosamente. Eu o analisei por um tempo antes de continuar.
- Só comece a agir como você é, Ash. Nós não temos que rotular o que somos agora. – Eu disse, sorrindo. – Mas, é legal voltar a falar com você.
- Também acho. – Ele disse, sem jeito, encarando o próprio chá. Eu respirei fundo e tomei uma decisão rápida para o clima não pesar. Puxei a sacola e tirei o pratinho de dentro e abri a embalagem, mostrando para ele.
- Quer?
- O que é isso? – Ele perguntou, desconfiado.
- É um bolo! Como assim o que é isso? – Eu perguntei, achando graça.
- Tem cara de bolo mesmo, mas é diferente.
- É uma nega maluca. – Eu disse, rindo e ele me olhou, rindo também.
- Que nome esquisito.
- É um bolo brasileiro. Mas, não tem segredo nenhum, vocês têm bolos parecidos em Los Angeles.
- Ok. – Ele concordou, atencioso. Eu peguei dois garfos e entreguei um para ele.
- Experimente. – Eu pedi e ele me analisou por alguns segundos. Seus olhos verdes pareciam os mesmos de sempre e meu coração se aqueceu. Ele pegou um pedaço do bolo e provou. Eu o observei com expectativa.
- Nossa, isso é realmente bom! – Ele concordou, empolgado.
- É bolo de chocolate com brigadeiro. – Eu falei, rindo. – Mas, eu tomei a liberdade de colocar recheio extra e cobertura de brigadeiro e granulado, além de pedacinhos de morango. Porque, se não ficaria muito doce.
- Está ótimo, Emma. – Ele disse, sorrindo e pegou mais um pedaço, me deixando empolgada. – As comidas do seu restaurante são todas do Brasil?
- Hum, não. – Eu disse, sorrindo, enquanto pegava um pedaço também com o meu garfo. – Mas, a maioria são. Eu sentia falta da comida do Brasil e criei um restaurante em que os pratos principais são de lá. Mas, eu tive que servir outros pratos também, porque aqui é mais natural que se comam frutos do mar do que churrasco ou feijoada.
- O que é feijoada? – Ele perguntou, interessado, comendo o bolo sem parar.
- Para simplificar, é feijão com vários tipões de carnes cozidas dentro. Você pode comer com arroz, com farinha, tem vários acompanhamentos. No Brasil é bem comum e é uma delícia.
- Parece ser bom. – Ele concordou e o bolo chegou ao fim. Eu parei, o encarando. De certa forma, aquilo doía um pouco, mas eu não ia admitir. Ele realmente se interessava pela minha culinária. Ele comia da minha comida e vibrava quando estava bom. Ele me perguntava sobre a comida do Brasil e não tinha nada melhor para falar sobre. Isso me lembrava o início do meu namoro com Adam. Ele sempre foi empolgado com a minha comida. Mas, quando casamos, a empolgação já não era a mesma. Vieram cozinheiras para cuidar da casa e dos eventos. E de certa forma, ele estava sempre ocupado demais para me ouvir falar sobre a comida do restaurante. Fazia um ano e meio que ele não ia lá para prestigiar.
- Bom, eu vou subir.
- Eu vou pro meu quarto. – Ele assentiu, largando o garfo na pia. – Obrigado pela sobremesa.
- Obrigada pelo chá. – Eu sorri, e ele apenas assentiu, saindo da cozinha.
---*---
Eu deitei na cama, exausta. Os pensamentos giravam, mas eu tentei me manter firme. Eu lembrava da dor que ver Bryana e Ashton tinha me causado. Então, eu deveria apenas seguir em frente e encarar Ash como um novo amigo. Assim que relaxei, senti os braços de Adam me envolver.
- Você demorou. – Ele falou, manhoso, me dando um beijo na nuca e eu virei para encará-lo.
- Achei que estivesse dormindo.
- Fiquei te esperando.
- Que bom. – Era realmente bom. Nós ainda não tínhamos conversado desde a discussão. Eu não queria conversar de qualquer jeito, mas também não queria me sentir tão distante como estava me sentindo.
- Desculpe por hoje, querida. – Ele pediu de novo, me encarando. Eu sorri, cansada de ficar brigando.
- Tudo bem. Acho que fui mesmo insegura. – Eu tinha um histórico de insegurança enorme desde que namorei Ashton. Eu sempre tentava melhorar, agir como uma mulher mais madura. Mas, às vezes, parecia impossível.
- Não importa. Você tem todo o direito de brigar com meus empregados. Você é a rainha. – Ele disse, sorrindo. Isso me fez sorrir também.
- Mas, passei dos limites. – Eu admiti, me aconchegando nos braços dele e deitando sobre seu peito. Ele me abraçou forte, respirando fundo.
- Você quer que eu demita a Katrina?
- Por quê? – Eu levantei a cabeça, sobressaltada, o encarando.
- Não sei. Se você acha que...
- Não, não precisa. – Eu me apressei a dizer. Também não queria que ninguém perdesse o emprego por ciúmes.
- Então tudo bem. – Ele sorriu, me dando um selinho. – Boa noite, querida.
- Boa noite. – Eu respondi, sorrindo e deitei novamente sobre o seu peito.
---*---
No dia seguinte, eu acordei mais tarde, porque só iria para o restaurante à noite. Tinha tirado a tarde para ficar com Giulia e seu irmão Lucca. Eu sempre separava um tempo, pelo menos, um dia no mês para eles passarem a tarde comigo, porque isso renovava as energias.
Percebi que Adam deixou o paletó jogado no chão e o peguei para colocar na cadeira. Ele tinha o péssimo hábito de tirar as roupas e ir deixando pelo chão até o banheiro. Assim que coloquei o paletó esticado, notei que havia um bilhete no chão e o juntei. Uma caligrafia feminina que eu já reconhecia de alguns documentos revelava:
“Obrigada pelo jantar. K.”.
Ao lado, uma marca de beijo em batom vermelho me fez arquear as sobrancelhas. Aparentemente, eu não estava sendo insegura e infantil. Eu só estava enxergando as coisas como elas estavam acontecendo.
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