História Back Home. - Capítulo XXIX.

Eu passei o dia inteiro no restaurante e só voltei quando já passava da meia noite. Eu sempre ficava até o estabelecimento fechar. Estava exausta e entrei na casa sem ligar a luz por força do hábito. Fui direto para a cozinha fazer meu chá, assim subiria para o quarto direto e dormiria pesadamente como fazia quase toda noite.

Ao chegar na cozinha, liguei a luz distraída e dei um pulo, segurando um grito para não acordar Adam.

- Deus, que susto. – Eu parei, colocando a mão no peito e Ashton me olhou igualmente surpreso.

- Eu vim fazer um chá.

- Eu também. – Eu disse, o analisando e respirei fundo, passando na frente dele e pegando a chaleira.

- Você chegou agora? – Ele perguntou, me olhando ainda plantado no meio da cozinha.

- Sim.

- Estava no restaurante?

- Estava. – Eu não queria falar com ele depois da briga que tivemos no dia anterior, então foquei em deixar a água esquentar e pegar os sachês de chá.

- Desculpe por ontem. Passei dos limites. – Ele disse, de repente, e eu parei para encará-lo, surpresa.

- Ah, tudo bem. – Eu falei, em dúvida. – Acho que nós dois estávamos surpresos demais em nos encontrar aqui.

- Eu passei meses te procurando e vim te achar em Florença. – Ele disse, cruzando os braços e se encostando no balcão. Eu dei de ombros e comecei a servir a água em duas xícaras.

- Eu tenho família aqui.

- Tem? Eu não sabia.

- Duas tias e uma prima. – Eu entreguei uma xícara para ele e ele sorriu pela primeira vez. Meu estomago deu uma volta completa e meu coração apertou ao mesmo tempo. Ele ainda tinha o mesmo sorriso adorável, a minha maior fraqueza.

- Elas estavam na festa?

- Ah, a minha prima Naomi estava. Minhas tias não, porque elas têm que cuidar da loja.

- Loja?

- De costura. Elas têm uma loja pequena no vilarejo. Foi lá que vivi por quase dois anos desde... – Eu parei de falar, sem jeito e dei um gole no meu chá. Ele também tomou um pouco do chá dele, sem jeito.

- E você está gostando daqui? É bem menos agitado que Los Angeles.

- Ah, com certeza. – Eu disse, rindo. – Eu sentia falta da agitação no início, mas agora já me acostumei. E, bom... Aqui é o paraíso da culinária!

- Então, é o seu paraíso também. – Ele concluiu, rindo, o que me fez rir também. Mas, logo depois o aperto no coração voltou e eu parei de rir, chateada. Ele devia sentir a mesma coisa, porque também parou de rir.

- Desculpe pelas coisas que eu falei ontem. – Eu decidi falar e ele me analisou com os olhos verdes, sério.

- Tudo bem. Era só isso que eu precisava, afinal. Agora que sei da verdade, posso...

- Seguir em frente? – Eu perguntei e mordi o lábio em seguida. Eu não deveria estar perguntando isso, porque parecia que eu me importava demais.

- Sim. – Ele disse, tenso e eu resolvi tomar meu chá, porque o clima estava pesado.

Sem que eu estivesse preparada, Ash terminou seu chá e veio até mim. Ele parou exatamente na minha frente, a poucos centímetros de distância e eu podia sentir o seu perfume que eu já conhecia de tantos anos atrás. Eu fiquei sem reação e ele apenas se esticou e colocou a xícara na pia atrás de mim. Seus olhos estavam diretamente nos meus enquanto ele fazia isso, parecendo extremamente tenso.

- Eu vou deitar. – Ele disse, finalmente, parado na minha frente.

- Tudo bem, boa noite. – Eu me despedi, sem jeito e ele continuou parado por um tempo, me fitando.

- Boa noite. – Ele disse, simplesmente, e se virou, saindo da cozinha para o jardim em direção à casa dos fundos. Eu respirei aliviada assim que a porta se fechou.

---*---

No dia seguinte, eu marquei de almoçar na cidade com Adam e aproveitei para chegar cedo em sua empresa para lhe fazer uma surpresa. Eu entrei na sala dele e paralisei na porta:

- Oh, desculpe! – Eu disse, surpresa que os meninos da 5sos estavam todos ali no sofá. – Eu não sabia que você estava atendendo. – Eu falei para Adam que abriu um sorriso.

- Tudo bem, querida, pode ficar. – Eu sorri, sem jeito e cumprimentei os meninos de longe com a cabeça. Dessa vez, Ashton também me cumprimentou, mas ele ainda parecia muito formal. – Nós estávamos decidindo um horário para todos irem ao laboratório escolherem as notas do perfume.

- Essa é a parte mais divertida. – Eu sorri e os meninos sorriram de volta.

- Eu queria cheiro de manga, mas ninguém concorda comigo. – Calum se pronunciou, me fazendo rir.

- Como a torta de manga que ninguém queria?

- Exatamente como a torta de manga. – Calum riu, apontando para mim.

- Com licença. – Katrina entrou na sala e eu a encarei, surpresa, que ela entrava na sala com tanta liberdade. Ela era a secretária de Adam e estava usando uma saia extremamente apertada que eu jurava ser um número menor do que o que ela deveria usar. Além disso, a camisa social estava aberta e seus seios poderiam pular para fora a qualquer momento. Seu cabelo estava solto e eram negros com ondas perfeitas. A resposta na sala foi óbvia, os meninos da banda a analisaram de cima abaixo, inclusive Ashton.

- Eu trouxe o cronograma de horários. – Ela falou passando reto por mim. Por que Katrina era a única que não puxava meu saco naquela empresa? Isso sempre me deixava desconfiada.

- Obrigado. – Adam falou, sério, pegando os papeis da mão dela. Katrina, por sua vez, parou ao lado do meu marido e eu a encarei sem disfarçar.

- Oh, você está aqui. – Ela disse, me enxergando e eu arqueei as sobrancelhas, hostil.

- Você não, senhora. E é claro que estou aqui.  – Eu falei, seca, e os meninos fizeram uma cara de espanto no sofá. Adam levantou o olhar dos papeis igualmente surpreso.

- Katrina. – Adam a censurou.

- Desculpe, senhora Willies. – Ela disse, forçada e eu sorri ainda hostil. Aparentemente, o pedido de desculpas foi o suficiente para Adam que voltou a sentar em sua mesa com os papeis. Para a minha surpresa, Katrina foi até ele e se apoiou na mesa de maneira que os peitos ficaram diretamente na frente do meu marido, enquanto ela empinava o bumbum exageradamente para trás. Eu estava tão estupefata que resolvi olhar para os meninos para ver se não era implicância minha. Luke e Mike analisavam o bumbum de Katrina sem disfarçar. Ashton franzia o cenho e olhava diretamente para mim, ele estava desaprovando aquilo tanto quanto eu e Calum estava com a boca aberta, surpreso demais e olhou diretamente para mim, gesticulando com a boca sem emitir som:

- Você vai deixar? – Eu revirei os olhos e cruzei os braços, irritada. Eu me aproximei da mesa, enquanto Adam estava ocupado demais com os papeis para notar a posição que Katrina se encontrava. Eu parei ao lado do meu marido e lancei um olhar feroz para ela.

- Querida, está com dor nas costas ou os peitos estão pesados demais? – Eu perguntei, irritada e Calum emitiu um som alto, tentando segurar a risada. Katrina se endireitou num pulo e Adam levantou os olhos novamente.

- Está tudo bem, Emma? – Ele me perguntou, estranhando minha atitude, mas eu o ignorei e continuei encarando Katrina.

- Pode se retirar. Quando nós precisarmos de você, te chamamos. – Eu disse, fria, e ela me olhou, furiosa. Adam apenas analisou a secretaria sem esboçar reação, mas quando viu que a mesma não ia se retirar da sala, ele se recostou na cadeira e decidiu falar:

- Obedeça. – Ele disse, sério e ela bufou, saindo da sala. Eu relaxei finalmente e Adam me lançou um olhar estranho. Ele estava me analisando, mas não falou nada e voltou a atenção para os papeis.

---*---

- O que deu em você hoje? – Ele perguntou quando sentamos na mesa para almoçarmos sozinhos.

- Por quê? – Eu perguntei, distraída com o cardápio.

- Com a Katrina.

- Você já notou que ela é a única que não me trata como “a rainha”? – Eu virei para ele e perguntei, juntando toda a coragem que tinha.

- Não, não tinha notado. Para mim, ela te trata perfeitamente bem. – É claro que ela não me tratava nem um terço bem do que as outras pessoas me tratavam e isso era bem visível. Mas, Adam parecia não enxergar.

- Parece que você tem um ponto cego quando se trata dessa garota. – Eu dei a indireta e voltei para o meu cardápio.

- Um ponto cego?

- É. Você não vê que ela me trata diferente.

- Eu acho que você está com ciúmes e decidiu implicar com a secretaria.

- Implicar com a secretaria? – Eu perguntei, cética e ele continuava sério.

- É, você não tem que ficar implicando com uma pobre secretaria. Tem que se colocar no seu devido lugar.

- Como é que é? – Eu perguntei, surpresa.

- Uma rainha não sai implicando com os plebeus. Não fique implicando com ela.

- Eu estava fazendo ela me respeitar como sua esposa. – Eu disse, irritada.

- Deixe que eu lido com ela de agora em diante.

- Por que o tratamento especial? Ela é apenas a secretaria. – Eu disse, ácida, e ele me olhou, irritado.

- Emma, eu não gosto que você fique chamando a atenção dos meus funcionários.

- Eu sempre chamo a atenção dos seus funcionários e você nunca reclamou. – Eu falei, surpresa, porque era a realidade. Às vezes, inclusive, eu chamava a atenção deles, porque Adam pedia para que eu o fizesse. Segundo ele, eu tinha delicadeza e classe para reclamar sem que a pessoa se ofendesse. Aquilo estava cada vez mais esquisito e me deixava muito irritada.

- Emma, não vamos discutir.

- Por que com ela é diferente, Adam? – Eu insisti, irritada.

- Emma, agora não.

- Eu quero saber o que a Katrina tem de diferente.

- Droga, Emma, você está estragando o meu humor com suas infantilidades e inseguranças. – Ele falou, firme, e eu arqueei as sobrancelhas. Ele nunca falava comigo daquela maneira e eu estava magoada. Então, simplesmente parei de falar e virei para o cardápio, séria. Ele respirou fundo e voltou a me encarar: - Desculpe, querida. Eu não devia ter falado assim.

- Ok. – Eu disse, seca, sem encará-lo.

- Emma, olhe para mim.

- Acho que vou comer depois. Perdi a fome. – Eu disse, irritada e me levantei da mesa.

- Emma, volte aqui.

- Tchau. – Eu peguei minha bolsa e saí do restaurante, o deixando sozinho.