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História Bad Things - Paraíso Infinito


Escrita por: Koha

Capítulo 22 - Paraíso Infinito


Tudo que eu quero nada mais é do que ouvir você batendo na minha porta, porque se pudesse ver seu rosto mais uma vez, tenho certeza que eu poderia morrer feliz...


A igreja tinha se tornado um lugar estranho para Sakura. O lugar que antes era uma zona de conforto, agora parecia ser um local onde todas as almas hipócritas da cidade vinham rezar pelos seus pecados, e julgar o dos outros.

A senhora Aito flertava com o senhor Sarutobi, mas estava sempre grudada no braço do marido quando precisava rezar;

O senhor Hanako jogava água nos mendigos que ficavam em frente a sua mercearia, mas era o primeiro a ir ao altar, achando que algumas moedas eram o suficiente para salvar a sua alma;

Sua mãe, uma figura tão respeitada e até um exemplo para algumas mulheres da cidade, era totalmente intolerante e estava acostumada a falar da vida dos outros, mas nunca a reconhecer seus próprios erros.

Sakura se sentiu estranha, nauzeada e principalmente irritada por perceber aqueles detalhes que, para alguém que não podia fazer mais do que observar, ficavam muito claro depois de algum tempo.

Eram todos hipócritas, fingindo uma postura correta quando eram mais errantes do que Sasuke, aquele que era mais apontado e perseguido por pré-conceitos na cidade.

— Fico muito feliz que você tenha decidido vir conosco. — sua mãe comentou, se inclinando em sua direção mas não olhando em seu rosto. Se o fizesse, saberia que sua disposição não vinha pela vontade de estar ao lado deles. — Te fará bem algum tempo com Deus, querida. Tenho certeza que ele lhe mostrará que só queremos seu bem.

— Será? — sorriu, vazia, sob um suspiro. Então, teve a atenção dos olhos da mãe. — Sinceramente, acredito que você deva dar mais atenção a Deus, Ele deve estar batendo a cabeça na parede de frustração agora.

— Que tom é esse, mocinha? Talvez seja melhor que você não fale, de qualquer forma.

Sakura seguiu o conselho da mãe, não pelo que ela disse, mas por seus próprios sentimentos — se falasse tudo o que queria, estragaria seus planos.

Mas embora Itachi Uchiha fosse sua única esperança de conforto e prazer aquele momento, nem mesmo sua plácida voz e o carinho com que fazia cada discurso pôde desfazer a inquietação que assolava todo seu corpo. Há cada vez que ouvia a porta do fundo se abrir, olhava para trás automaticamente.

A parte boa de tudo aquilo, era que sua mãe acreditava mesmo que ela se tornara numa filha resignada. Então, ela não parecia ter percebido sua inquietação. E seu pai, como sempre, estava enfadado com o local.

Foi por estar atenta a porta, que seu coração quase saltou em sua garganta quando seus olhos perceberam uma imagem. Uma imagem que ocasionalmente, sendo tão diferente das pessoas ali, vestido em tantas tatuagens e aquele cabelo rebelde e aquela beleza arrebatadora, não poderia ser realmente ignorada.

Sentiu os olhos arderem, mas ficou quieta, acompanhando apenas com os olhos ele andar de maneira tranquila, lhe procurando com os olhos também.

Quase gritou, para que ele a notasse. Se antes não tinha voz, sabia que agora poderia ser ouvida do outro lado da cidade.

Não demorou muito tempo, é claro, para os olhos negros alcançarem os seus.

E então, tudo pareceu estar perfeito.

— O que ele está fazendo aqui? — ouviu sua mãe murmurar para o pai, quase olhando brevemente para o seu rosto. Se controlando, ela manteve os olhos nos pés, murmurando uma canção baixo para que eles não a percebessem.

— O irmão dele é o pastor, querida. Ele não está proibido de vir à igreja.

— Deveria! Você acha que é coincidência?

— Você sabe melhor do que ninguém que ela não falou com ele. — seu pai, controlado, esfregou as costas de sua mãe, também lançando um breve olhar em sua direção. — Nós temos estado de olho nela, tenho certeza que ela não sabe.

Eles pararam, por um tempo. Sakura quase deu um sorriso de satisfação, mas sentiu a mão de sua mãe em seu ombro.

— Hmm… querida, que tal se fôssemos embora? Seu pai não está muito bem.

Sakura apertou os olhos, lutando para controlar o veneno em sua voz.

— O pastor Uchiha concordou em me deixar cantar. — e então encarou seu pai, tendo os olhos tão iguais aos seus porém apenas um pouco mais experientes e cansados. — Você prometeu que deixaria.

— Outro dia, quem sabe? — sua mãe interrompeu a boca aberta de seu pai, que não pôde dizer o que queria. — Respeite seu pai, ele está cansado.

— Eu sinto muito, de verdade. — ela se afastou, quando a mão de sua mãe quis pegar em seu pulso. — Mas eu não vou. Se quiser, vão vocês.

— Sabe muito bem que não deixaríamos você sozinha. — avisou, os olhos afiados e escuros.

Mas também, Mebuki não podia realmente controlar a filha, não quando ela estava tão perto de Sasuke. Ele era como algum tipo de energético, ou mesmo sua droga pessoal, como sempre fora o que Sakura, mesmo sem nenhuma experiência com drogas ilícitas, pensara.

E Sakura sabia, além tudo, que Mebuki Haruno nunca faria um escândalo, por isso avançou até o palco sem culpa ou receio.

— Ah, Sakura. — o sorriso de Itachi iluminou o rosto bonito. — Chegou bem na hora, a banda já está te esperando.

— Hmm… posso te pedir um último favor? — perguntou, se aproximando mais dele e ignorando completamente os dois olhares da platéia. — Você poderia deixar que Sasuke ficasse mais próximo do palco?

— Eu devo ficar preocupado?

— Apenas se meus pais te assustam o suficiente para isso. — ela franziu os lábios com incerteza, juntando as sobrancelhas. — Não vou mentir, isso não vai agradá-los.

— E como você se sente com isso?

Sakura não pensou muito, quando um sorriso iluminou seu rosto.

— Mais do que satisfeita, eu posso garantir.

O pastor, então, sorriu com carinho antes de checar o local onde seu irmão estava. Sakura também olhou na mesma direção, sentindo seu coração pular, bater mais forte e então sossegar, quando seguiu para onde estava.

Sakura se sentou na banqueta que estava disponível, arrumando a altura do microfone. Estava acostumada a ver uma garota cantar, com seu óculos de armação redonda e o cabelo ruivo. Acreditava que seu nome era Karin, mas não tinha certeza.

Ela cantava muito bem, contudo.

— Já sabe o que vai cantar?

— Na verdade, é uma música de autoria própria. — sorriu, vacilante, então tirou o papel  dobrado de seu bolso e entregou a garota, que avaliou rapidamente a letra.

— Uau. — respirou, admirada. — Eu gostei, mas não sei se faz bem o tipo da…

— Não faz, mesmo. Nem é pra fazer, na verdade. Pode me ajudar?

Ela pareceu perceber o desespero em seus olhos, ainda que tenha pegado a guitarra meio relutante. Sakura tentou explicar mais ou menos a batida que precisava, e eles testaram.

Não precisava ser perfeito, no fim.


O amor é minha religião

Mas ele era minha fé

Algo tão sagrado

Tão difícil de substituir

Me apaixonar por ele foi como sair da graça

Tudo em um

Ele era tantos pecados

Faria qualquer coisa

Tudo por ele

E se você me perguntar

Eu faria de novo


A medida com que sua voz soou por todo estabelecimento, pôde encontrar vários tipos de reações. Em primeiro lugar, admiração, pelo tom agudo e potente de sua voz. E então, conforme a letra ficava mais clara, pôde perceber alguns olhares, e então um borburinho.

Sua mãe levou a mão ao coração com horror estampado em sua face, abrindo levemente a boca enquanto seu pai apertava os olhos em sua direção.

Ela sorriu, fechando os olhos.


Não preciso imaginar

Porque eu sei que é verdade

Eles dizem: Todos os garotos bons vão para o céu

Mas os garotos maus trazem o céu até você

É automático

É simplesmente o que eles fazem

Eles dizem: Todos os garotos bons vão para o céu

Mas os garotos maus trazem o céu até você


Então, ela quis rir, e não reprimiu o sorriso que nasceu conforme cantava. Estava feliz, depois de muito tempo. Pela primeira vez, sentia que conseguia colocar em palavras, de fato, os seus sentimentos por Sasuke.

E ao lembrar dele, seus olhos encontram o rosto lívido, o sorriso presumido e os olhos brilhantes.

Ele ainda era seu Sasuke, perfeito e cretino, como sempre.

E então, tudo fez sentido, como se o Universo estivesse encaixado perfeitamente aquele momento, como se ela soubesse exatamente quem era e, sobretudo, se sentiu ainda mais apaixonada e agradecida a Sasuke.


Eu ainda me lembro do momento em que nos conhecemos

O toque que ele plantou

O jardim que ele deixou

Eu acho que a chuva foi só metade daquele efeito

Não preciso imaginar

Porque eu sei que é verdade

Eles dizem: Todos os garotos bons vão para o céu

Mas os garotos maus trazem o céu até você

É automático

É simplesmente o que eles fazem

Eles dizem: Todos os garotos bons vão para o céu

Mas os garotos maus trazem o céu até você


Podia ouvir a voz da garota ruiva soando como segunda voz, sobre a sua. Segurou o microfone e cantou com os olhos fechados, mas o sorriso permanente e então terminou, abrindo os olhos e encontrando a platéia pasma de:

Incredulidade;

Decepção;

Horror;

Todos os tipos de sentimentos imundos, os quais ela apreciou cada qual com sua essência — não, não se importava, e estava feliz. Aquilo era mais do que suficiente para entender que aquele não era mesmo o seu lugar.

Olhou para Sasuke de novo, ao lado  do irmão mais velho, talvez os únicos que não tivessem a olhando com desgosto — embora Itachi parecesse pasmo. Sasuke, por outro lado, estava lindo, um pouco magro e abatido, o que fez seu rosto franzir em uma careta. Teria que comer mais, e se manter saudável. Certamente não gostava disso, quando era ela que tinha que ver.

Embora todo seu corpo tenha clamado para ir em sua direção, não foi isso que ela fez, saindo do pequeno palco no silêncio do recinto. Sua mãe, quase estava menos horrorizada do que impressionada.

E teve que se controlar, pelo restante da reunião, para não puxá-la pelo braço para fora da igreja. Sasuke ter sumido, em seguida, também colaborou com as decisões dela.

— O que foi aquilo, Sakura?! — mas quando tudo acabou, e ela lutou para não correr com a porta da igreja, a voz estava carregada de raiva e tensão. — Você quer mesmo me matar do coração, não é?

— Era uma música, que eu compus. Não é você quem diz que eu devo cantar mais?

Os olhos da mulher se apertaram, irados.

— Não tente ser engraçadinha comigo, Sakura...

— Querida, não é a hora e nem o lugar. — seu pai falou, a voz baixa e controlada, mas os olhos se erguendo para uma figura que se aproximava. — Que tal falarmos sobre isso depois?

Sakura encarou o rosto consternado de Hinata, e então os olhos claros penosos em direção a sua mãe.

— Sakura, por que você não me escuta nunca? — então, parecia irritada, balançando a cabeça. — O que conversamos semana passada não lhe serviu de nada?

Sakura ficou em silêncio, os olhos sem expressão. Hinata fez um barulho com os lábios, balançando ainda mais os cabelos escuros.

— Sinto muito por isso, senhora Haruno. Estou tentando, sabe… — ela fez uma voz comovida, o que fez a senhora Haruno suspirar com os olhos brilhando de orgulho.

Era uma dádiva que sua filha tivesse uma amiga que compreendesse seus sentimentos.

— Eu agradeço muito, muito mesmo, Hinata. — ela sorriu, segurando as mãos da garota, que sorriu com lamento. — É bom que a Sakura tenha uma amiga como você. Sem namorado, responsável, inteligente…

— Somos jovens e inexperientes demais para namorar. Já tentei explicar isso à Sakura.

Sakura quase quis rolar os olhos, guardando seu riso para seus pensamentos exauridos.

— Bom, o que podemos fazer? Parece que seu castigo será prolongado.

Sakura abriu mais os olhos, encarando a satisfação no rosto da mãe.

— Na verdade… — Hinata chorou, balançando a cabeça. — Eu queria muito que a Sakura me fizesse companhia na minha casa. Meus tios não se importam, eu juro.

— Seus tios? — Kizashi questionou, parecendo interessado no assunto. — Os pais do seu primo, Neji? Eles voltaram para a cidade?

Os olhos de Hinata brilhando junto ao sorriso dócil demais, mentiroso demais.

— Sim, sim… inclusive, ele está me esperando. Vê? — ela apontou para um garoto alto, magro e de cabelos grandes encostado num gipe, balançando a mão num cumprimento educado.

Não pôde deixar de perceber que sua mãe balançou a mão com mais vigor e ânimo que deveria.

— Oh, ele está tão grande. — reparou Mebuki. — Por favor, mande um abraço a ele. E diga que é muito bem-vindo em nossa casa.

— Isso quer dizer que… ela pode vir conosco?

— Ah, não vejo problema algum. Não é, Kizashi? Sendo vocês dois, não nos importamos. 

— Neji é um bom garoto, e você também Hinata. Cuide da nossa filha, por favor.

Sakura quis partir logo, mas ainda ficou parada, recebendo um beijo molhado de sua mãe na bochecha.

Suspirou, sorrindo levemente. Não podia exagerar, quando era um milagre que ela deixasse que sua figura sumisse por algum tempo depois do que fizera.

Com o braço agarrado ao de Hinata, ela sorriu um sorriso congelado.

— O que seu primo faz aqui?

— Sua mãe demonstrou certo… interesse nele. — disse, forçando o mesmo sorriso. — Até parece que eu não ia aproveitar a chance. Eu não gosto de jogar para perder.

— Então a minha situação é um jogo, para você?

— Bem interessante, na verdade. Eu deveria ser atriz. Viu como ela me adora?

— Eles só estão desesperados por qualquer coisa que me faça tirar os olhos de Sasuke. — balançou os ombros, olhando para trás brevemente. Eles ainda estavam lá, parados e acenando.

Obviamente, eles não estavam tão confiantes de que ela não correria em outra direção a qualquer momento.

— Não vai acontecer, é claro.

— Isso só prova o que eu disse: totalmente inocentes. Qualquer pessoa que tenha te visto lá dentro, desistiria de afastar vocês dois. — Hinata suspirou, fazendo uma careta. — Aliás, adorei a música.

— Você canta muito bem, Sakura.

Mal percebeu quando chegaram até o gipe do Hyuuga mais velho. Sakura se lembrava perfeitamente dele, o rosto lívido e o sorriso sorrateiro.

— Obrigada.

— Parece que vou ter a oportunidade de mostrar a você minha casa.

— Não sabia que vocês tinham voltado para a cidade.

— Meus pais nunca se livraram da casa. Queriam que eu tivesse um lugar próximo para ir, caso eu quisesse dar um tempo do campus. — explicou, desinteressado.

Sakura franziu o rosto, encarando o sorriso amarelo de Hinata.

— Então seus pais não estão na cidade?

— Ah, sobre isso... Bem, meus tios, os pais de Neji, não moram, tecnicamente, na cidade.

— Eles não moram, realmente, na cidade. — corrigiu Neji, encarando a prima. — E é por isso que nós daremos uma festa hoje.

Sakura sabia o quão arriscado era uma festa a essa altura do campeonato, numa cidade onde todos sabiam de tudo. No entanto, ela não estava fim de se importar com esse detalhe, quando não estava tendo motivos para não ser impulsiva.

— Quem foi convidado para essa festa? — perguntou, encostado no carro. Os olhos de Neji se apertaram, enquanto um sorriso balançou seus lábios.

O sorriso dele era bonito, mas não era o mesmo sorriso ladino e cretino de Sasuke.

Não, não havia comparações mesmo.

— Quer saber se eu convidei o Sasuke?

— Sim.

— Uh… você não se importa mesmo com os meus sentimentos, não é?

— Você não gosta de mim. — balançou a cabeça, estreitando os olhos para a gargalhada baixa dele. — E eu realmente não estou disponível, então...

— Você é que pensa: para seu primeiro comentário. E para o segundo: quem disse que não? Até onde eu sei, seus pais odeiam o Sasuke.

Sakura tinha uma boa resposta para os comentários ousados de Neji, mas uma vez que ele era a sua ponte indireta para tentar se aproximar de Sasuke, ela preferiu se manter calada.

Não importava, no fim, o que seus pais achavam. Nem o que Neji ou qualquer outra pessoa acreditava, em sua parça informação de sua situação complicada.

Mas não deixou de notar que os olhos tão iguais aos de Hinata, talvez mais atentos e audaciosos, estavam cravados no retrovisor quando entraram no carro, lhe encarando como se fosse sua próxima presa.

Sakura passou a pequena viagem toda olhando para o vidro ao seu lado.


— Ele não vai se materializar se você ficar olhando pra porta, sabe?

Sakura mordeu o copo, só para ter em quem descontar sua frustração. Não encarou Neji, ao seu lado, mesmo que já tivesse reconhecido o perfume. Não era ruim.

Mas não era o de Sasuke.

Tudo estava sendo comparado a ele, no fim. O que era e o que não era de Sasuke.

Rolou os olhos, evitando encarar aquele par de pérolas furtivas, olhando ao redor pela grande sala que começava a lotar de gente conversando, bebendo e dançando ao som de uma música eletrônica. Sakura temia a proporção da festa, mas Neji parecia irredutivelmente tranquilo em relação a isso.

— Só não estou para festas.

— Não está para festas? Que… triste. — ele fingiu estar ofendido, balançando a cabeça.

O cabelo estava preso num rabo de cavalo hoje, algumas mechas soltas na frente do rosto. Sakura não podia negar: Neji Hyuuga teria, com certeza, feito seu coração bater um pouco mais rápido caso tivesse chegado um dia antes dela conhecer Sasuke.

Não era o caso, então, ela só conseguia sentir o mais absoluto e estridente vazio, como se olhasse para seu próprio primo ou mesmo Naruto, namorado de Hinata.

— Eu dediquei essa festa para você, sabe? — ele baixou a voz, num tom leve e descontraído. — Você podia pelo menos fingir.

— Agradeço, mas não. Eu realmente não estou pra festa, e eu até pediria desculpa, se fosse verdade.

— Por que você sempre está na defensiva comigo?

— Porque você está sempre achando que pode me seduzir, ou seja lá o que você está fazendo. — ela o encarou, virando seu corpo totalmente na direção dele. — Olha, teria funcionado, se fosse em outro tempo, mas hoje não. Eu amo o Sasuke, de verdade.

Ele a encarou, profundamente, a expressão séria e quase sombria.

Então, sorriu, fazendo uma sobrancelha fina de Sakura emergir até a testa.

— Teria funcionado? Hmm… talvez eu tenha que me esforçar mais, então.

— Você só escuta o que você quer?

Ele deu uma gargalhada alta, bebendo sua bebida amarela logo em seguida. Sakura queria gritar com ele, já que ele tinha dado um motivo e ela estava precisando desabafar seus sentimentos reprimidos.

Contudo, foi num momento entre seu olhar irritado na direção de Neji e o impulso de xingá-lo de todos os nomes, que ela o viu.

Alto, em sua jaqueta velha de couro e o cabelo molhado parado na porta da entrada — bem, ele podia se materializar sim. O rosto duro, sem expressão... E então ela percebeu, que a expressão sombria de Neji não era nada perto da de Sasuke.

Mas não importava, realmente. Ela não se deteve, dessa vez, avançando rapidamente em sua direção e deixando Neji Hyuuga falando sozinho. Quem era ele, perto de Sasuke?

Ela não conseguia parar de comparar, mas, de fato, sempre chegava a mesma conclusão: não tinha comparação.

— Você… — ela parou, sentindo a garganta fechar quando sentiu o perfume dele.

O perfume dele, percebeu que já não se lembrava tão perfeitamente quanto achou.

Por um momento, ele pareceu simplesmente irritado demais, o que facilmente foi destruído com seus olhos no rosto dele.

O rosto dele, tão perfeito e cheio de detalhes. Já não se lembrava de todos eles, mas ficaria a noite inteira apenas o decorando.

— Você gosta de impressionar, não é? Não quis cantar só para mim, mas impressionou uma igreja inteira com sua voz.

Ela deixou um riso escapar, sentindo os olhos carregados de lágrimas demais para não deixá-las cair.

— Eles com certeza não estavam impressionados. Não no sentido bom da palavra, pelo menos.

— Eu estava. Devo ter sido hipnotizado pelo canto da seria, acredito. — deu de ombros, como se estivesse desinteressado. Sakura sabia que não era o caso. — Não consegui tirar os olhos de você, e aquela letra… você é incrível!

E então, sem se importar com a música alta ou as pessoas ao redor, ela se jogou nos braços deles, enterrando seu rosto no pescoço e esfregando o nariz no cabelo molhado.

Ah, o paraíso. — ouviu ele gemer baixinho, apertando sua cintura. — Eu tinha esquecido que você cheira tão bem, que é tão quente e perfeitamente cabível em meus braços.

Apertou seu corpo pelos ombros, talvez usando mais força do que o necessário. Se o incomodou, ele não disse, e Sakura agradecia. Precisou desse momento, só para ter certeza de que ele não desapareceria de repente, que não ia sumir como em todos os seus sonhos no último mês.

Sasuke Uchiha era como uma brisa fria, num dia quente de Verão, no deserto do Saara. Era sua água, seu manto da sorte, o ursinho que não largou até os doze anos.

Ele era tudo, tudo que mais queria em sua vida.

— Shh… não quer chorar na frente de todas essas pessoas, quer? — ele riu levemente, afagando seu cabelo. — Elas estão começando a olhar.

— Não me importo. — se afastou, apenas o suficiente para olhá-lo nos olhos. — Você não sabe o quanto eu esperei para fazer isso, não tente me censurar agora. Eu já provei da censura mais do que gostaria para a minha vida inteira.

— Acontece que eu sou egoísta demais, até para deixar que você chore na frente desses idiotas. Eu quero até as suas lágrimas, só para mim. — sua mão grande afagou o rosto de Sakura, limpando uma lágrima ainda recente ali. — Vamos embora daqui?

— Claro!

Uma risada baixinha soou da garganta dele, mas Sakura não voltou atrás, encarando seu rosto.

— Bom saber que você está tão desesperada por mim, quanto eu estou por você. — os olhos negros, famintos, caíram nos lábios dela e Sakura teria se inclinado para beijá-lo se ele não tivesse se afastado. — Obrigada por isso. Acho que eu te devo uma.

Sakura franziu as sobrancelhas, com as mãos ao redor do pescoço de Sasuke. Só então, quando um riso baixo soou até eles, que ela fez uma pequena força para se virar na direção da figura sorridente.

— Não me agradeça ainda, mas fique ciente de que eu cobro bem caro. — estreitou os olhos, dando de ombros. Quando olhou para Sakura, o sorriso dócil voltou ao rosto. — Vão logo, pelo amor de Deus. Eu já cuidei de tudo com seus pais, você vai passar a noite comigo. Só garotas.

Sakura riu, recebendo uma piscadela de Hinata. Deixaria para agradecê-la depois, quando tivesse tempo para gastar — agora não, queria dedicar cada segundo que tinha para Sasuke.

Quando estavam lá fora, perto do carro dele — e Sakura percebeu, também, que até disso sentiu falta — eles se beijaram e então ela se corrigiu, pensando que aquilo sim era o ápice da felicidade.

Sentiu os lábios dele, as mãos em sua cintura, subindo e descendo pelas sua costas, fazendo com que ela se esquecesse, por um segundo, como era respirar.

Ficou tonta, e precisou segurar nos ombros dele.

— Uau.

— 'Uau' não parece ser a palavra adequada. — ele sorriu, seu sorriso ladino, tirando alguns fios de seu cabelo do rosto. Mas então, seu rosto ficou sombrio e os lábios se curvaram numa careta. — Você está péssima.

— Ótimo jeito de cortar o clima. E você não está tão melhor que eu.

— Estou, sim. Você está magra, amor. — ele passou o nariz pelo sua mandíbula, fazendo com que ela perdesse o foco por um segundo. — Você precisa comer.

— Hinata te contou, não é?

— Ela pagou por isso, acredite. — ele riu levemente, a voz rouca, mas os olhos com um beijo sombrio nas íris. — Com certeza não estava preparada para o surto que eu tive, e Naruto teve que me segurar para que eu não quebrasse ainda mais o quarto. 

Um arrepio forte assolou o corpo de Sakura, e, ao imaginar a cena, sentiu seu coração se apertar. 

— Eu sinto muito, amor. — ela o abraçou, afagando seu pescoço quente e enterrando os dedos no cabelo molhado. — Só… tudo é tão difícil. A escola, minha casa, meus pais… era tudo fácil antes, mas agora…

— Eu sei. — ele sorriu, mas sem humor. O nariz escorregou pelo pescoço, acariciando sua pele, e então parou tocando o seu. — E eu sei também que disse muita coisa, mas, quer saber? Eu não me importo, sua mãe terá que me aceitar. Não estou disposto a pagar um preço tão alto para não irritá-la.

Sakura sentiu seu peito aquecer e, num piscar de olhos, parecia que aquele um mês tinha sido apenas um sopro do que realmente foi.

— Vem, entra no carro. Eu vou te levar daqui.

— Nosso lugar?

— Hmm… eu tenho ido bastante lá, depois que fui privado de chegar perto de você. — ele sorriu ladino, com certa dificuldade de soltar a mão dela. Sakura o entendia, no fim. — Tenho uma surpresa pra você.

— Uma surpresa? O que é?

— Vai deixar de ser surpresa, se eu contar. — ela fez uma careta, e ele gargalhou. — Vamos lá, o que é alguns minutos para quem enfrentou a eternidade no inferno?

Sakura não sabia se Sasuke se referia a ela ou a ele mesmo. No fim, o comentário servia para ambos. 

Mas decidiu, enquanto entrava no carro, que faria daquelas horas, seu paraíso infinito também.



Notas Finais


HEHEHEHWHWEHH (eu já nem lembro qual risada é essa) O NEGÓCIO VAI ESQUENTAR
AAAAAAAAAA EU VIVI PARA O PRÓXIMO CAPÍTULO

Gente, na moral, obrigada pelos comentários, não sabem o bem que fazem com eles. Eu queria responder todos, mas se eu fizer isso não escrevo e não posto (são muitos, glória a Deux)
Fiquem com toda a luz do mundo pra vocês!

Outra coisa: BT tá quase na reta final (UHULLL) acho que agora as atts não vão demorar, pq eu já tenho noção de como vou chegar até o final.

Música que a Sakura cantou, também em outros capítulos: Heaven, Julia Michaels

Música do capítulo: All I Want, Kodaline


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