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História Before You Go - Marisa e Asriel


Escrita por: goldenbutterfly

Notas do Autor


Boa leitura para vocês. 😉

Capítulo 7 - Marisa e Asriel


Para Marisa, o restante daquele dia foi infinito e veio acompanhado de uma noite sem fim. Ela não dormiu, por mais que sentisse os olhos pesarem de sono. Ficou a andar pela casa, em um momento na sala, em outro na varanda, ou então nos respectivos quartos das filhas, observando-as dormir. Marisa havia lhes contado o que estava acontecendo, mas disse que o Magisterium estava atrás dela e não de Christie. Não quis deixar sua filha com medo ou preocupada mais do que o necessário. E em seu coração, tinha a mais absoluta certeza de que faria qualquer coisa para protegê-la. Era bem cedo quando Asriel chegou, trazendo novidades sobre seu plano para Marisa fugir com suas filhas. Lyra e Christie ainda dormiam, mas a garota de olhos azuis despertou com as vozes vindas da sala de estar e se levantou. Foi até o banheiro para lavar o rosto e escovar os dentes, antes de sair de seu quarto ainda em trajes de dormir, acompanhada por Lily, que voava graciosamente ao redor de sua cabeça.

 

—Mamãe? — Ela pronunciou ao chegar na sala e se deparar com sua mãe e Asriel sentados no sofá, diante de um mapa aberto sobre a mesa de centro.

 

—Acordamos você? — Marisa perguntou ao se levantar e ir até a filha.

 

—Um pouco. — Christie respondeu rindo, o que fez a mulher rir também.

 

—Bom dia, meu amor. — Marisa segurou o rosto da garota delicadamente entre suas mãos e depositou um beijo carinhoso em sua testa. A resposta de Christie foi um doce sorriso.

 

—Lorde Asriel. — Ela o cumprimentou com um aceno de cabeça.

 

—Srta. Coulter. — Ele fez o mesmo e mais uma vez Christie percebeu o olhar de interesse de Stelmaria sobre ela.

 

—O que estão fazendo tão cedo? — A garota perguntou.

 

—Um plano de fuga. — Respondeu Asriel. — Gostaria de ver?

 

—Eu posso?

 

—Claro que pode. — Ele lhe sorriu. — Venha.

 

Curiosa para saber do que se tratava, Christie fez como o homem havia dito. Ela e sua mãe sentaram-se no sofá ao lado de Asriel, a garota entre os dois.

 

—Vê a linha vermelha? — Asriel mostrou-lhe no mapa o risco com curvas. — É o caminho que faremos até o zepelim que nos levará para o Norte.

 

—O senhor tem um zepelim, Lorde Asriel? — Christie perguntou, entusiasmada com a possibilidade de ver um zepelim de perto.

 

—É um dos poucos recursos que ainda tenho, Srta. Coulter.

 

—Meu nome é Christie. — A garota protestou. — Já lhe disse que pode me chamar por ele.

 

—E eu já lhe disse que pode me chamar apenas de Asriel. — Ele argumentou. — Portanto, vou continuar a chamá-la de Srta. Coulter enquanto continuar me chamando de senhor e de lorde.

 

—Justo. — Christie riu, conseguindo o mesmo de Asriel.

 

Apenas observando aquele momento, Marisa sentiu-se incomodada. Era óbvio que, convivendo com as frequentes visitas do pai de Lyra, Christie fosse acabar se aproximando de Asriel aos poucos. Afinal, de certa forma, eram quase uma mesma família e, por mais inacreditável que parecesse, Asriel adorava quando Christie se juntava a ele e Lyra para conversar. Mas Marisa não gostava muito daquela aproximação, por mais inofensiva que fosse.

 

—Não parece seguro. — Marisa falou, segurando o macaco dourado em seu colo. — Vamos ficar expostos demais. Estamos fugindo, não podemos ser vistos por ninguém.

 

—E não vamos ser. Você conhece o lugar onde mora melhor do que eu, Marisa. Sabe que há muitas pessoas nas ruas, mas que elas só importam com suas próprias vidas e nunca enxergam quem está ao lado delas. — Asriel falou e Marisa viu-se obrigada a concordar. Era por tal motivo que havia escolhido aquele lugar para morar com suas filhas: ninguém iria se intrometer em sua vida. — Esse caminho é seguro justamente porque vamos estar em meio às pessoas.

 

—E dessa forma, não vamos levantar suspeitas. — Christie acrescentou.

 

—Exatamente. — Asriel sorriu. — Está vendo? Sua filha entendeu.

 

—É injusto vocês dois contra mim. — A mulher disse, divertida.

 

—Se me deixar acordar Lyra, serão três contra um. — Christie disse, rindo.

 

 

 

Em Londres, o aeronauta Lee Scoresby procurava por pistas do paradeiro de Lyra. Havia sido um grande amigo da menina e participado de alguns momentos de suas aventuras, mas a verdade é que tinha imenso carinho por Lyra e preocupava-se muito com ela. Antes da guerra, ele soube que a menina havia retornado para seu mundo e estava com Lorde Asriel. Mas, depois que o confronto teve início e fim, Lee nada mais soube sobre Lyra. Por isso, vinha procurando por pistas da menina há algum tempo e a última que teve o levou até ali. Sua informação era que Lyra foi vista com sua mãe em Londres e tal informação foi confirmada por uma senhora que morava próximo ao prédio onde a Sra. Coulter vivia. Mas Lee atrasou-se um pouco, pois quando foi até lá soube que a mulher e a menina haviam ido embora alguns meses antes.

 

—Desperdiçamos tempo vindo até aqui, não é? — Indagou Hester, a daemon-coelha do aeronauta.

 

—De forma alguma. — Respondeu Lee. — Agora temos a certeza de que Lyra está com a Sra. Coulter.

 

—O problema é descobrir onde a Sra. Coulter está. — Hester acrescentou. — Como pretende fazer isso?

 

—Usando a inteligência, Hester. Basta pensar para onde uma mulher, que quer viver em paz, iria com suas duas filhas. — Lee disse. — A propósito, não foi uma surpresa saber que a Sra. Coulter tem outra filha? Eu nunca poderia imaginar.

 

—Não seja curioso, Lee. — Hester advertiu, sabendo que seu humano começava a imaginar como a Sra. Coulter teve uma filha e a escondeu de todos.

 

—Se eu não fosse curioso, onde estaria agora?

 

—O que eu quero dizer é que a vida dos outros é assunto dos outros. Seja qual for a história que envolve essa garota, não é da sua conta. — Disse a daemon, com as orelhas bem erguidas e olhos firmes. — Além disso, você está procurando pela Lyra.

 

—Encontrando Lyra, vou encontrar também essa garota. — O homem argumentou. — É inevitável, Hester.

 

—E vai encontrar também a Sra. Coulter. — Falou Hester. — Dizem que é uma mulher muito bonita.

 

—Acredito que de fato seja. Nunca a vi antes, mas consigo imaginar exatamente como ela é apenas com o que ouvi de pessoas descrevendo-a.

 

 

 

Após o café da manhã, Asriel sugeriu um passeio, dizendo que era necessário continuarem suas vidas normalmente para não levantar suspeitas. Marisa concordou e veio de Lyra a ideia que faria daquele um dos melhores dias que no futuro todos eles teriam lembranças: a praia. O apartamento de Marisa ficava a duas horas do litoral e desde que havia se mudado para lá algumas vezes levou as filhas para brincarem na areia, colocarem os pés na água e sentirem o calor do sol em seus rostos. Era um lugar lindo e tranquilo, o que seria perfeito para aliviar um pouco a tensão de estar se preparando para fugir de um inimigo tão poderoso quanto era o Magisterium e sua ameaça contra a vida de Christie. E assim, após preparar todo o necessário, Marisa dirigiu seu carro pela estrada calma, com Christie ao seu lado e Lyra e Asriel no banco de trás, sentindo-se cada vez mais longe de todos os problemas.

 

—O que elas estão fazendo? — Perguntou Asriel, observando Lyra e Marisa a certa distância.

 

—É uma brincadeira que eu aprendi quando pequena, no mundo onde eu vivia, e ensinei à elas. — Christie respondeu, sentada ao lado dele. — Lorde Asriel, eu...

 

Ele a olhou de imediato, com um tom de doce repreensão em seus olhos, e a garota entendeu o que aquilo queria dizer.

 

—Está bem. — Ela riu. — Asriel.

 

—Muito melhor, não acha? — Ele disse, sorrindo para ela. — O que ia dizer?

 

—Eu posso perguntar uma coisa?

 

—Claro.

 

—Além de Lyra, você conhece outras pessoas que lêem aletiômetros? — Perguntou a garota. — Quero dizer, pessoas fora do Magisterium.

 

—Sim. Conheci alguém uma vez, um homem. — Asriel respondeu. — Talvez você não saiba, Christie, mas apenas homens podem estudar e adquirir a habilidade de leitura de aletiômetro. Bem, isso até Lyra aprender a ler o instrumento sozinha e sem estudo algum. Ela é a única mulher a fazer isso.

 

—Do mesmo modo que minha mãe era a única mulher dentro do Magisterium. — A garota acrescentou, com um sorriso de orgulho no rosto. — Acho que quebrar padrões está no sangue.

 

—Você já quebrou algum padrão?

 

—Não saberia dizer. Eu cresci em outro mundo, com padrões um pouco diferentes dos daqui. — Respondeu Christie. — Mas talvez ter um daemon do mesmo sexo seja algo parecido com quebrar padrões. Eu sou uma pessoa rara por ter a Lily.

 

—Sem dúvidas você é. — O homem sorriu mais uma vez. — Mas, por que a pergunta?

 

—Por nada, apenas curiosidade. — Christie disse, mas quando viu o olhar de Stelmaria soube que Asriel sabia que ela estava mentindo. E quando olhou para o rosto dele, entendeu que deveria ser honesta. — Está bem. É por minha causa. Quando você soube sobre mim, disse à minha mãe que poderiam perguntar ao aletiômetro de Lyra quem é o meu pai.

 

—Sim, mas ela não quis. — Asriel falou, sem querer demonstrar ressentimento por isso. — Ela preferiu não saber a verdade e deixar tudo como estava.

 

—Ela fez o que era melhor para nós. — A garota falou, com os olhos fixos no mar diante dela. — O que eu pensei é que talvez você poderia ter perguntado a outro leitor de aletiômetro e então saberia.

 

—Sim, eu poderia. Mas não fiz isso. — Ele olhou para ela. — Sabe por que eu não fiz, Christie?

 

—Não tenho ideia.

 

—Porque eu respeito as decisões de sua mãe. — Disse Asriel, agora olhando para Marisa. — Ela já sofreu muito no passado, não merece mais transtornos em sua vida.

 

—Você ainda a ama? — A pergunta de Christie trouxe a atenção de Asriel inteiramente de volta para ela.

 

—Honestamente, eu não sei. — Ele respondeu, olhando nos olhos azuis da garota. — Tudo o que eu sei é que Marisa é importante para mim. Talvez seja porque ela é mãe da minha filha, ou pela história que tivemos juntos.

 

—Por isso a está ajudando a fugir do Magisterium, não é? Quer protegê-la de alguma forma, como fez antes.

 

—Eu só espero conseguir. — Asriel sorriu mais uma vez e deslizou suavamente sua mão sobre os longos cabelos castanhos de Christie. — Conseguir proteger Marisa, Lyra e também você.

 

O restante do dia se passou e quando a noite caiu, Marisa já estava dirigindo de volta para casa. Por estarem cansadas, Christie e Lyra dormiram durante o caminho e ao chegarem Marisa e Asriel precisaram carrregá-las nos braços até o apartamento. Uma vez dentro, Asriel levou Lyra para seu quarto e Marisa fez o mesmo com Christie. Instantes depois, os dois estavam de pé no meio da sala de estar. Seus daemons próximos a eles, e curiosamente o macaco dourado estava tão perto de Stelmaria que poderia tocá-la com o menor movimento de seu braço.

 

—Há algo errado? — Asriel perguntou ao notar que Marisa parecia aflita.

 

—Foi um dia maravilhoso, é até incoveniente eu estar pensando nisso, mas... — Ela o olhou. — Quando poderemos partir?

 

—Depois de amanhã. — Ele respondeu. — Precisa de mais tempo?

 

—Não, quanto antes melhor. Eu só... — Marisa suspirou. — Estou com medo de algo dê errado.

 

—Nós dois estamos planejando tudo isso juntos, com todo o cuidado possível. — Ele olhou nos olhos dela. — Nada vai dar errado, Marisa. Você e suas filhas vão sair daqui em segurança.

 

Marisa quis questionar se Asriel podia lhe garantir isso, ou lhe garantir que ela não estava cometendo um erro por confiar nele. Mas ela simplesmente não conseguiu. Aqueles olhos presos aos dela a impediram de conseguir formular uma palavra sequer. Marisa viu nos olhos claros de Asriel algo diferente, ou melhor, algo que lhe lembrava o mesmo que ela havia visto muitos anos antes, quando soube que estavam apaixonados um pelo outro. E então, aconteceu. Tão inesperado e ao mesmo tempo tão previsível. Os lábios de Asriel tocaram os de Marisa, que apenas correspondeu ao gesto de maneira gentil e honesta, sentindo-se suave e leve nos braços dele. Ela desejava aquele beijo tanto quanto Asriel. Talvez fosse por seu momento de fragilidade, por estar preocupada em proteger sua filha. Talvez fosse pela convivência que estava tendo com Asriel nos últimos dias e isso trouxe de volta a força da história deles. Talvez fosse porque no mais fundo de seu coração, ela ainda o amasse.

 

—Não... — Marisa se afastou, com receio do que estava sentindo.

 

—Perdão, Marisa. Eu não deveria ter feito isso.

 

—Não é sua culpa, Asriel. — Ela disse, sem olhar nos olhos dele. — Nós temos um passado juntos, uma filha juntos. Eu não quero confundir as coisas.

 

—Você está confusa?

 

—Como não estaria? Eu acabo de ter a mais absoluta certeza de que você ainda sente algo por mim. — Marisa se desvencilhou dos braços dele, que ainda a rodeavam. — Não é o momento para isso, Asriel.

 

—Eu sinto muito pelo que te causei, Marisa. Sei o quanto sofreu e que a culpa disso também é minha. — Asriel tomou coragem e olhou em seus olhos. — Sinto muito por ter tirado Lyra de você e proibido que pudesse vê-la. Espero que um dia possa me perdoar.

 

—Eu não penso mais nisso. É passado, não voltará mais.

 

—Eu ainda amo você, mas sei que não a mereço. — Asriel admitiu com tristeza.

 

E sem dizer mais nenhuma palavra, ele se virou e caminhou em direção a porta. O macaco dourado não escondeu sua tristeza ao ver Stelmaria se afastar, assim como a própria Marisa. Seus tão belos olhos azuis estavam tomados por lágrimas, enquanto ela ouvia os passos de Asriel levando-o embora. Ela quis chamar por ele, quis pedir que ficasse e que a abraçasse, lhe dizendo que ficaria tudo bem. Mas, obviamente, ela não fez isso. E quando o som da porta se fechando penetrou seus ouvidos, Marisa sentia-se mais confusa do que nunca com seus sentimentos.



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