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História BitterSweet - Thunder


Escrita por: VictorStark

Notas do Autor


Not a yes sir, not a follower | Não fazia o que me mandavam, não era um seguidor
Fit the box, fit the mold | Entre na fila, se adeque
Have a seat in the foyer, take a number | Sente-se no corredor, pegue uma senha
I was lightning before the thunder | Eu era o raio antes do trovão

Thunder, thunder | Trovão, trovão

Thunder (Trovão)
Imagine Dragons

Capítulo 20 - Thunder


Os olhos de Derek eram de dor. Mas não uma dor comum e sutil. Era uma dor complexa, não apenas física – essa apenas lhe fazia ter mais atenção a tudo – mas era a real dor de saber tudo que não viveria ao lado Dele.

Sim, o D maiúsculo é merecido. Sentia-se idiota por ter sequer cogitado tê-lo escondido por tanto tempo. Sentia-se idiota e triste, por saber que sua breve estadia em meio a natureza, teria sido em vão, perdida, como o sangue derramada de sua mãe, pai e avô, sobre chão cru de terra.

Apesar das pancadas e de sua falta de reação – reação consciente – já que o corpo se recusava a ficar inerte completamente. Tinha que revidar! (era o que o corpo falava), tinha que ferir aquele homem maldito e sua maldita ninhada. Mas não tinha mais forças. Os cães lhe mordiam, o tio lhe batia com toda a raiva acumulada. Era incapaz de olhar para Stiles.

Sabia que havia lhe falhado. De todas as maneiras possíveis: com seus pais, com seu clã, com seu bando, e podia declarar - de todo seu coração – que havia falhado com Stiles. E isso apenas voltava em sua cabeça como uma velha música em meio à dor. De como Stiles também morreria. E sabia que morreria. Maldito envenenador.

Jamais poderia imaginar, jamais poderia imaginar que o tio iria recorrer a algo assim tão baixo: veneno. Uma maneira tão suja e desonrosa de tentar conquistar outro clã. E todos os lobos pareciam segui-lo nessa sujeira, o que era assim tão asqueroso. O nome de seu clã, os Hale, estava assim reduzido ao que ele seria: um Alpha vindouro de um envenenamento, e toda sua prole seria isso. Todos saberiam que os Hale eram isso.

Stiles se levantou, seu coração quase morreu, preferia, de fato, a morte do que presenciar a morte dele antes da própria. A maneira como a mãe se matara lhe dava um bom e claro exemplo de como era quando sua alma gêmea morria, de como era quando o Alpha perdia seu Beta. Talvez era por isso que a mãe sempre aceitara as fraquezas do pai, porque, no final das contas, era sua alma gêmea.

Era por isso que aceitara as fraquezas de Stiles. Sua humanidade, a fragilidade que agora, indubitavelmente, não iria deixar que ele lhe salvasse como o Beta que fosse. E mesmo assim o amava. Sempre. Mesmo quando seu corpo virasse alimento às larvas, e estas, aos animais maiores, e estes, aos outros lobos que estarão por porvir.

Stiles se sentou. Não conseguia se concentrar no quê eles conversavam. Como lhes eram difíceis as palavras. Era tudo como grunhidos em seus ouvidos. E mais pancadas, e mais mordidas. O corpo não se regenerava. O corpo continuava a sangrar abundantemente e logo sentia a morte lhe indo.

Mas a morte tem seu tempo, e talvez viu uma ponta de esperança. Era aquele seu medalhão, com Scott – o nome lhe soava como uma antiga e esquecida palavra -, se esquecera totalmente do aprendiz, do rapaz que fora retirado da matilha falsa. E o mesmo parecia lhe olhar fixamente.

E o medalhão brilhava.

Ainda existia luz, ainda existia esperança.

O ar pareceu vir de seus pulmões e sair, o ar pareceu ficar mais pesado e lento, enquanto a imagem do medalhão era lançada no ar. Enquanto ele subia e tornava-se a própria lua, enquanto estava no topo do arco. Ele vinha em sua direção. O tio pareceu não notar, ergueu a mão antes de receber outro soco. Conseguia imaginar-se mastigando a garganta do tio.

Mas o medalhão não veio em sua direção, ele dobrou o ar. Ele dobrou o ar e foi em direção ao seu amor, ao seu número irracional. O medalhão voltou ao legítimo dono, como poderia pensar e a luz veio, em forma de raio, não do céu, mas sim do chão.

O brilho estourou a visão de todos, um raio que cortara o silêncio de seus ouvidos e voltava a ouvir lobos rosnando, seu tio gritando com os outros lobos e se transformando em um lobo também.

A enorme mesa estava destruída na metade. Aquela maciça peça de madeira, que seus ancestrais cortaram de uma gigantesca sequoia e moldaram em uma peça maciça... Estava cortada na metade.

Não fora o raio quem destruíra a mesa. Fora Stiles.

Derek caiu para um lado, as dores no corpo sendo revitalizadas, o corpo sendo regenerado. Sentia toda a energia vindoura de Stiles, a energia que fazia seu corpo se reabastecer de vida. A imagem dele era linda.

Stiles não era um humano comum.

Tinha pelo castanho, era enorme e matava dois, três lobos de uma só vez.

Mas também não era um lobo. Riu bobamente, ele não poderia ser “normal”, não ele.

Ele era um Berserker, ou melhor: O Berserker. Apenas existiria um, apenas ele, até que ele morresse e esse fardo passasse a um outro filho, ou neto, ou bisneto, ou quando o destino escolhesse que alguém o fosse.

Stiles era agora um urso, mas não um urso comum. Era singular em todos os aspectos. Um enorme urso pardo, o pelo marrom-acastanhado combinava com os enormes olhos furiosos. O tamanho expressivo – pesaria no mínimo algumas toneladas. Sob as duas patas conseguia matar um, dois, três lobos com uma facilidade estonteante. Nenhum lhe conseguiria arranhar.

Seu bando se transformava aos poucos, a energia de Stiles era demasiada, fazia com que provavelmente todos os lobos do continente se transformassem – E mesmo transformados, sua alcateia preferia enfrentar os lobos mais distantes, ninguém ousava se aproximar do enorme urso que partira aquela enorme mesa como um palito de dentes.

E havia certa irracionalidade nos olhos de Stiles. Não podia julgar o medo dos seus. Sua pelagem tomava então um tom molhado, o sangue dos inimigos lhe banhava quase de forma graciosa, senão mórbida. E mesmo assim Derek ainda não conseguia se levantar. Estava ali preso no chão, com o corpo quebrado demais para conseguir qualquer coisa – e a respiração lhe espremia demasiadamente. Lhe impossibilitava de qualquer movimento. Apenas observava o namorado destruir tudo que estava em seu caminho.

Jamais pensara, jamais imaginara que Stiles poderia ser qualquer coisa além de um humano.

E ali estava ele. Tão feroz e perigoso. E o seu tio estava de quatro, em sua forma de lobo. Derek sabia reconhecer os olhos de um bom estrategista, cinco ou seis lobos começavam a cercar Stiles.

Todos eles conheciam as histórias: todos eles sabiam que apenas havia uma maneira de vencer Stiles: unindo-se.

Mas um deles se aproximou demais. Ao alcance da enorme e pesada pata que fatalmente quebrou um dos lobos ao meio, ossos, sangue e órgãos se expondo no tecido da terra.

Mesmo que pudessem deter Stiles, o bando de seu tio não era completamente uma alcateia. Derek se levantou lentamente então, sentindo a energia que fluía pelo local lhe curar. As roupas se rasgaram e o corpo tomou a forma do lobo negro. Sentia-se bem melhor assim.

Mas não era também de muita ajuda, tudo já acabava e aquele bando inimigo começou um a um a debandar. O tio de Derek olhava a tudo com ira, rosnados e gritos uivosos, até que não teve outra opção se também debandar: apesar de que o grupo dos seus os seguissem. Um ou outro caía, mas a floresta conseguiu encobrir os inimigos que se esvaiam.

Agora, a maior preocupação era Stiles. Stiles não falava. Apenas andava em círculos irracionais, era tão grande que Derek sentia medo que poderia machucar algum dos seus.

– Ninguém... Se aproxima – Falou Derek, andando lentamente em sua forma animal, falando com seu bando.

– Ele...

“É um lobo!”

“É um Berserker!”. “Minha nossa!”. “Sabia que ele não era normal desde o inicio!”. “Ele vai ser nosso alpha agora?”.

Os adolescentes e adultos perguntavam em um zumbido coletivo sobre o que seria desde então.

– Todos fiquem quietos, e dão distância.

O recém-casado amigo estava ao seu lado, lhe ajudando na situação. Derek tinha apenas duas certezas: Agora era o verdadeiro Alpha da sua alcateia. E não tinha ideia do que aconteceria com Stiles.

– Stiles! – Gritou Derek, em sua voz animal, tentando chamar sua atenção. Mas o urso nem mesmo lhe deu bola. Apenas farejava o chão, apenas empurrava os vários cadáveres próximos. Todos mantinham uma distância segura.

Mas um passo em direção a ele. Derek tentava não tremer, não poderia deixar passar outra imagem senão a de ser o líder. Os olhos amendoados vieram em sua direção: tão perigosos e irracionais. Mas, ainda Dele. Eram realmente Stiles quem estava ali.

O urso deu um passo em direção ao lobo negro. Os passos afundaram na terra recém úmida.

– Stiles, sou eu, Derek. – Falou com a voz que os animais racionais entendiam – Eu sei que você está aí. Volte. Volte a sua imagem humana, é fácil!

Derek falava em um tom quase que de exigência, mas uma exigência muito peculiarmente calma. Ele não estava ali para se impor. O urso avançou alguns passos.

Era urso, era Stiles. Não sabia. Sabia apenas que era perigoso. Sabia dos seus antepassados, das suas histórias. De como seu povo enfrentara um, e como sabia que matar o Berserker era a prova da união entre os lobos.

Derek se aproximou em sua forma de lobo. Mas o urso parecia agressivo demais para lhe compreender. Era selvagem demais para querer qualquer conversa. Mais alguns passos do lobo. Não existiam rosnados do urso – apenas grunhidos – animalescos e selvagens.

Perigoso.

O urso erguei a poderosa cabeça. Começou a andar. Seu corpo manchado de sangue dos lobos inimigos agora caídos. As patas, enquanto caminhavam, deixava o rastro avermelhado da morte e se afundava levemente na terra.

“Deixe-o ir...” Avisou Derek aos outros enquanto Stiles começava a ir embora. Parecia não querer mais agressão, mesmo assim, apenas se foi enquanto todos os outros lobos se afastavam o máximo possível.

O líder do clã Hale estava sentado sobre as patas de trás, o clã todo atrás. Era uma cena bela de se observar e, ao mesmo tempo, eles observavam o enorme urso pardo entrar no meio da floresta misteriosa, as árvores e suas aduncas raízes estremecendo pela passagem da criatura mitológica.

Uma a uma as figuras humanas iam voltando ao normal, as enormes feras voltavam a ser frágeis humanos. Até que o último voltou e, este, era um perplexo Derek. Estavam todos nus. Nus como vieram ao mundo e tal como iriam partir dele.

Estavam todos assustados, sem realmente saber o que fazer e o que acontecera.

– Talvez você devesse ir atrás dele – Disse a voz do amigo recém casado.

– É, talvez eu devesse ir – Respondeu Derek, respirando lentamente, observando o caminho que a fera se fora. Não sabia muito bem o que fazer, estava meio perdido.

Olhou ao redor, enquanto todos esperavam que mandasse algo.

“Eu sou o Alpha agora”, disse mentalmente, enquanto observava a mesa dos seus ancestrais partida por Stiles, enquanto via a mãe e o pai mortos no chão, e também a quantidade gigantesca de sangue e alguns corpos dos inimigos.

– Eu devesse ir... – Indagou, como poderia abandonar todos e ir atrás de Stiles?

Mas era Stiles, afinal.

Ele era diferente.

Estava com medo, mas estava feliz. Ele era tudo menos um frágil humano.

Era singular.

– Eu cuido de tudo... Vai – Avisou Wolfgang, enquanto falava com um de seus amigos que viera do mais norte.

– Derek, vamos cuidar de tudo – Disse o braço direito de seu pai, o homem parecia agressivo – Vou mandar as crianças para dentro de casa... E vamos limpar tudo isso... Vá atrás do seu...

Aparentemente não sabia se era muito seguro ou certo chamá-lo de Beta, mas pudera ser bem compreendido.

– Estão todos bem?! – Gritou Derek, olhando ao redor, queria perceber se haviam muitos com algo maior do que leves ferimentos. A nudez ajudava-lhe a reconhecer quem precisava de maiores cuidados.

Apenas acenou e começou a andar lentamente em direção as árvores. Angustia e medo se fundiam em algumas sensações que nunca havia sentido antes.

Nunca sentira definitivamente medo, nunca sentira-se tão incerto do caminho e, naquele momento, como que os caminhos que caminhava pareciam tão desconhecidos. Nem mesmo quando pulou no ar, transformou-se no grande lobo, ainda a sensação passara.

Era estranho, sendo o alfa que era, sentir-se tão inseguro de cada pata que dava na terra que sempre lhe confortara. Sempre quando estivera com a cabeça cheia, sempre quando sentira-se inseguro. Era aquela forma e aquela floresta que sempre fora sua casa.

Mas agora, pairava em si aquele ar de suspeita. Aquele ar de medo.

Andou sem rumo floresta a dentro, sentindo o amargo cheiro de sangue, mesclado ao cheiro doce e singular de Stiles. Era agridoce.

Parou por alguns segundos para ver uma enorme pata afundada, colocou a própria dentro daquela outra pata. Era uma comparação enorme. Sorriu caninamente, ou ao menos imaginou o que seria o próprio sorriso. Era um sorriso interno, de admiração, de felicidade.

Era complicado demais, mas era felicidade.

Por fim, foi se aproximando de um lago que sabia ali por perto ter. Tinha ligeiro medo de encontrar Stiles, ou o urso que ele era, dentro do lago. Não era tão raso e, dado o tamanho do animal, era a grande a possibilidade que ele se afogasse.

Mas seu medo se deu quando o viu.

Era Stiles, não o urso.

Nu

E nunca vira cena tão bela em sua vida.

Lá estava ele, deitado no chão descoberto por relva, próximo ao lago. Estaria consciente?

Não sabia, mas ele estava em meio ao sangue e a lua o iluminava, nunca vira cena mais bela.

O Stiles Urso nascia em meio ao sangue daqueles que derrotara, se isso não fosse poético, Derek não sabia o que era. Se aproximou na forma de lobo, mas enquanto se aproximava, sua forma humana voltava lentamente até estar, não mais focinho com focinho, mas rosto com rosto.

– O que aconteceu?

Ele estava consciente e a voz era de pura incerteza, tinha os olhos brilhantes. Mesmo na noite podia vê-lo a perfeição pela iluminação que a santa lua lhe dava e, ademais, o colar em seu pescoço, aquela pedra, que dele jamais deveria ter saído, igualmente brilhava.

– Você está bem – Disse Derek, beijando sua testa.

– Sua barba me arranha – Resmungou Stiles.

Derek arfou e sorriu de lado.

– Acho que temos preocupações maiores que minha barba... – Respondeu Derek, passando a mão no próprio rosto.

– Mas não tira ela – Continuou Stiles, divagando – Você fica com cara de lobo mau.

– É porque sou um lobo mau – Respondeu Derek, erguendo um pouco a cabeça de Stiles para apoiá-la em seu colo.

– Por que estou pelado e confuso?

– Bem, é complicado.

– Eu só lembro de algo brilhar... E... Foi tudo apagado da minha memória... E eu nem bebi! Juro.

– Eu sei...

– E você quase morrer... E você está aqui... Espera, estamos todos mortos? Estou nu... Em uma floresta... Perto de um belo lago e você está aqui... Estamos mortos, definitivamente. Até que não é tão diferente da vida... Poderia ser melhor... Poderia ter... Comida, sei lá. Mas ainda assim o céu é bom.

Derek esperou Stiles terminar de falar, tinha a testa enrugada.

– Não estamos mortos.

– Ah... Bem... Se é assim... Então o que aconteceu.

– Você se transformou – Explicou Derek, e Stiles olhou as próprias mãos, estavam sujas do vermelho sangue.

– Eu... Isso... É-é... O meu deus. Isso é sangue?!

– É, é sangue.

– E COMO DIABOS VOCÊ FALA ISSO COM TAMANHA NATURALIDADE.

Stiles sentou-se quase de uma vez.

– MEU DEUS, ESTOU BANHADO DE SANGUE.

– Não grite – Falou calmamente Derek, e Stiles olhou novamente para o namorado – É só sangue.

– É só sangue, ele diz – Respondeu Stiles com uma pobre imitação de Derek. O lobo rosnou baixo, muito baixo.

– Sangue dos seus inimigos.

– Meu deus, eu me transformei em um lobo? Você tirou uma foto minha? Aposto que era o lobo mais bonito do lugar.

– Não... Bem, digamos que não tinha muito tempo ou possibilidade de tirar uma foto de você. Estávamos mais preocupados em nos manter todos vivos.

Stiles fechou os olhos e fez uma cara estranha.

– O que... Diabos... Você está fazendo? – Perguntou compassadamente Derek. Estreitando os olhos.

– Quero ver... Se me... Transformo – Soltou a expressão de força e apenas arfou.

– Não é uma boa ideia – Falou nervoso Derek, tentando não parecer apreensivo – E isso... Parece que você está apenas tentando ir ao banheiro.

– É melhor eu não forçar... Não ando bem do estômago – Stiles olhou o lago e se levantou.

Fez uma cara de leve nojo ao ver tanto daquele líquido agora mais gosmento em seu corpo. Enquanto caminhava até as bordas do lago para se lavar Derek disse:

– Você é um urso. Um enorme urso pardo. – Suspirou Derek – Como nas histórias.

Stiles começou a se limpar, ainda de costas para Derek, ouviu o que Derek falara e olhou para baixo, para as próprias mãos, enquanto desgrudava tudo aquilo de si.

– Você é o Berserker – Disse Derek, finalmente, suspirando.

– E isso é... Ruim?

A ausência de resposta de Derek lhe deixou constrangido, então apenas virou o rosto para fita-lo.

– Eu não sei – Derek apenas balançou a cabeça.

– Mas... Teoricamente, nas histórias... Vocês... Mataram o último, não é? A história não terminou muito bem para o último carinha-urso.

– É, mas agora é diferente. Você é meu. E eu sou seu. Não vou deixar ninguém lhe machucar. Não vou deixar que clã algum do mundo lhe machuque. Vou fortalecer meu bando. Vou ser o alfa...

– Você agora é o alfa... – Afirmou Stiles.

Até então tivera real noção de como essas palavras soavam, até Stiles as dizer.

– É, eu sei – Respondeu Derek, com sua costumeira monossilábica conversa.

– E como você se sente?

– Eu... – Não sabia muito bem, teria, tinha que falar com todas suas forças “ótimo, honrado, forte”, mas escolheu a que mais entendia como certa: – Apavorado.

– Faz sentido – Afirmou Stiles, sentindo-se mais limpo por fim. Saiu da água com o corpo nu molhado. Derek se levantou e se aproximou do outro, as mãos sujas foram lavadas antes de tocar em Stiles.

Se beijaram lentamente.

– Ei, não vou deixar nada acontecer com você – Afirmou Stiles, enrugando a testa.

Derek sorriu e cortou o beijo curto e tenro.

– Eu sempre quero que me conte tudo o que sente, viu? – Disse Stiles, olhando nos olhos de Derek.

– Mas então, vamos nos casar mesmo?

– Eu... Bem. Sou um homem de palavra. Um urso, no caso – Falou Stiles, piscando lentamente – Só não disse quando...

– Você e suas maneiras inteligentes de escapar das coisas – Falou Derek, desenhando um meio sorriso. Stiles devolveu o mesmo meio sorriso, porém, o dele, muito malandro. – Mas precisamos conversar sobre a parte urso. Talvez isso é que mais vai me tirar o sono.

O menor acenou, sentia algo de frio agora.

– Preciso de roupas, onde estão os carregadores de roupas quando precisamos deles...

– Não me importo em lhe ver nu – Afirmou Derek.

– É que estou com um pouco de frio, sabe... – Abraçou o próprio corpo.

– Ah, você não sente o calor que nós lobos sentimos? Bem... Vamos, eu lhe guio... – Derek passou o braço por trás de Stiles, mantendo o corpo do outro muito perto de si, aquecendo-o.

– Agora que fico pensando, nós destruímos os ternos milionários, não é? – Falou Stiles, parando lentamente.

– Bem... Se for contar com isso, acabamos quebrando um pouco mais que isso... – Afirmou o lobo, olhando para um confuso Stiles.

Andaram de volta até a clareira, onde todos pareciam se recuperar, e estarem vestidos.

– Ei, eu não, vou, lá! – Falou pausadamente Stiles – Não quero ser visto nu.

– Que bunda branquela – Disse Liz, atrás, parecia carregar algumas pedras em um saco, atrás vinha Scott, Liam e Theo.

– Branquíssima! – Concluiu Theo – Parece muito a de Liam.

– Ei, não tenho a bunda branca! – Respondeu o outro lobo, carregavam todos pedrinhas brancas em sacos.

– Não sejam rudes! – Disse um nervoso e corado Stiles, tentando se esconder atrás de Derek, que tinha um sorriso divertido.

Realmente não estava se importando de ter o namorado nu na frente dos amigos. Aquilo significava apenas uma coisa: agora Stiles fazia realmente parte do clã, agora ele era um deles.

– Bem, sua bunda é branca como... As nuvens do céu. Pronto, fui poética agora – Disse Liz, rindo.

– Meu deus, eles estão realmente caçoando de mim? – Perguntou Stiles à Derek – Eu não sou um urso gigantesco e perigoso?

Os quatro amigos ficaram em silêncio por um tempo, até finalmente Derek quebrar o mesmo:

– É melhor irmos nos trocar.

Stiles foi então se trocar, colocou algumas roupas de Derek. Não que ficassem perfeitamente ajustadas, mas serviram o propósito. Apenas dentro da casa do lobo é que sentiu o que realmente tinha acontecido. O avô, o pai e a mãe de Derek estavam mortos.

– Vamos velar meus parentes mortos, ao entardecer – Afirmou Derek, parecia ter um pesar na voz, mas tentava não demonstrar o quanto queria chorar. O dia amanhecera e eles não dormiram, Stiles parecia não ter sono, não nesse dia.

– Derek... Eu agora me lembro... – Afirmou Stiles, abraçando dentro da casinha o outro.

O silêncio do lugar lhe deixava aflito. Mas ficou ali com o outro.

– Obrigado – Afirmou Derek, ao sentir o abraço de seu Pi.

Não havia beijos, não havia pegada. Existia apenas aquele singelo abraço, forte e firme. Derek desabou nos braços de Stiles e chorou baixo, a lembrança da mãe, a lembrança da mãe morrendo era a pior tortura e juraria matar seu tio, juraria vingar a mãe, o pai e o avô.

– Eu vou ficar aqui com você – Afirmou Stiles – Vou pedir aos meus pais... Ao menos por enquanto, alguns dias. Eles não vão se importar.

Derek suspirou, se afastando um pouco e limpando as lágrimas que ameaçaram cair. Sorriu ao outro, lhe beijando sutilmente.

– Minha barba ainda arranha?

– Sempre – Respondeu Stiles, com um pequeno sorriso.

Saiu da casa e pode ver a enorme mesa partida, imaginando o que poderia ter acontecido. O porquê do tio de Derek tê-la partido ao meio.

Se aproximou da enorme mesa, que alguns dos habitantes pareciam estudar em como poderiam volta-la ao estado original. Provavelmente precisariam de algum macaco hidráulico para levantá-la.

– O que aconteceu? – Perguntou Stiles, observando o objeto.

– B-bem... – Respondeu um homem, o mesmo enrugou a testa, arrumando afoitamente os óculos arredondado que descera ao nariz – Você... Quando se transformou... Em um urso...

Não precisava de muito mais para Stiles entender, arregalara os olhos. Fora ele quem quebrara aquela enorme e maciça mesa ao meio. O Stilinski engoliu em seco e passou os dedos pela madeira rompida e tão logo percebeu que todos lhe olhavam.

Andou lentamente até onde estavam os amigos. Eles pareciam descansar depois de estarem a algum tempo ajudando na limpeza do lugar.

– Então – Falou o novato – Suponho que eu tenha que ser iniciado ou algo assim.

– Garoto, você ganhou uma promoção imediata – Disse Liz, ela tinha um meio sorriso. Liam apoiava-se em Theo, que fumava um cigarro.

– Não acho justo, tem que ser iniciado sim – Respondeu Theo.

– Vai ser estranho, eu ver eu mesmo na fogueira, todo divo e poderoso.

– Só que dessa vez, do lado dos lobos... – Afirmou Scott, respirando lentamente.

– Aliás, obrigado Scott... Acho que se não tivesse sido por você... Estaríamos todos mortos agora.

– É, dez pontos para a grifinória – Falou Liz, batendo palmas de forma sarcástica.

– Ei, eu fui muito corajoso – Falou Scott – Poderia tudo dar errado.

– Mas... Então, você consegue se transformar em urso? Assim, da mesma forma que nós nos transformamos em lobos?

– Não sei, de todas as formas Derek não acha boa ideia – Advertiu Stiles – de todas as formas, o que é que Derek sabe.

Assim que nomeou Derek, os amigos ficaram com expressões mais sérias.

– Ele é o nosso alfa agora – Afirmou Liam, falando o que todo o grupo falara – Antes era o pai dele, agora... É ele. O que ele diz, é lei. E se não obedecermos, podemos ser expulsos do clã... Ou pior.

– Sermos traidores – Completou Theo, com a voz pesada, tinha familiares que tinham se unido ao tio de Derek, por isso o nojo.

– Talvez seja melhor voltarmos ao trabalho – Afirmou Liz, observando o quanto ainda tinha-se para limpar e arrumar.

– Mas vocês nem me contaram como foi tudo, sabe... Como eu me transformei. Não existe nenhuma gravação do casamento, ou algo do tipo?

– Bem, depois que o Negan invadiu a festa e começou a matar e a nos ameaçar... Acredito que não tivemos muito tempo para tirar uma selfie com ele, não é mesmo? – Respondeu sarcasticamente Liz.

– Mas foi bem legal, eu pensei que já íamos morrer, sem poder nos transformar... E tudo... Parecia perdido, sabe, é estranho... Quando o nosso alfa morreu, foi... Bizarro. – Theo falava, puxando de forma quase íntima Liam.

– É, realmente, eu senti também – Afirmou o rapaz nos braços do outro.

– Meu deus, parem com esse grude todo – Disse Liz, revirando os olhos.

– ... Mas então eu lancei o amuleto... – Continuou a história Scott – E ele voltou para você e... Pareceu um raio, vindo do céu, ou do chão. Não sei bem, era um raio... Uma energia incrível.

– E BANG, um grande um urso – Completou Theo, com um estalar de dedos – Aquilo é que foi um grande...

– Isso se chama Plot Twist – Falou Stiles, acenando – E eu... Então sou nascido da tormenta – Falou pensativo, com um enorme sorriso. – Stiles Stilinski, filho da tormenta, o grande urso, primeiro de seu nome... – Falou suntuosamente, com um sorriso besta e um olhar divagante.

– O que diabos... – Perguntou Theo.

– Ele está falando de Game of Thrones, seus idiotas – Falou Liz, rindo – É melhor voltarmos ao trabalho. Stiles pode descansar que é o crush do alfa.

– É, ser paquerado por ele tem seus benefícios – Falou Stiles, coçando a cabeça e olhando ao redor, vendo se conseguia enxergar Derek e, assim que o viu apenas acenou para si mesmo – Bem, vou indo nessa.

Derek ajudava a dar um fim aos corpos dos lobos. Esmagados, cortados em pedaços. Juntavam tudo em uma pilha. Enquanto se aproximava viu que havia um rapaz e quase vomitou ao observá-lo em meio a pilha.

– E-eu fiz isso? – Questionou Stiles, ficando muito esverdeado.

– Ei, você não deveria estar por aqui – Afirmou Derek, praticamente puxando Stiles enquanto a pira começava a ser acendida.

– Derek, isso é assassinato! Eu matei um cara! – Disse Stiles, querendo ver o que estava acontecendo. E pior, aquilo era ocultação de cadáver e... Tanta coisa errada!

– Ele morreu em batalha. Apenas foi idiota o bastante de voltar em forma humana antes de morrer – Explicou Derek, mas Stiles estava inquieto – Stiles, me escute.

Eles chamavam atenção, de forma que Derek apenas puxou Stiles para a casa, tinha que lhe explicar.

– Quando entramos nisso, quando nascemos nisso. Sabemos que a morte em uma batalha é a única e mais digna – Afirmou Derek.

– Eu não quero morrer assim! – Respondeu Stiles, arregalando os olhos. Derek rosnou baixo ao ouvir os gritos do outro.

– E como diabos você acha que vamos morrer? Eu, um alfa de um clã e você, um urso! Os deuses sabem quanto vamos chamar a atenção de outros clãs.

– De preferência, quero morrer em uma idade bem avançada e dormindo! De preferência depois de comer muito e ir deitar de barriga cheia!

Derek abanou a cabeça.

– Nós estamos nisso juntos e tenho que ser mais realista agora. Ser um alpha não é brincadeira, e...

Stiles conseguia desarmar toda aquela postura de Derek em um singelo olhar. O lobo apenas suspirou.

– Por favor... – Pediu Derek – Tente me levar... Apenas um pouco à sério.

– Eu estou! – Respondeu Stiles, olhando firmemente Derek. O rapaz se aproximou do outro. Lhe beijou de leve.

– Você precisa aprender a se controlar... Não sabemos como você ficará... A próxima vez que se transformar.

– Talvez nunca exista uma próxima vez... Talvez tenha sido algo único...

– Podemos ver, podemos ver – Afirmou Derek, com a cabeça fervendo demais para pensar nisso agora. Fechou os olhos.

– Podemos dormir um pouco? – Questionou Stiles, os olhos começavam a lhe pesar terrivelmente. Não sentia sono algum, mas parecia que o cansaço começava a lhe bater com força.

– Eu tenho tanto que fazer... Devo organizar o funeral dos meus pais...

– Por favor...

Derek assentiu levemente. Suspirou e foram ao quarto. O lobo ainda não ousava utilizar o quarto dos pais, mesmo que o mesmo tivesse uma cama mais confortável e um espaço maior.

– Ursinho – Afirmou Derek, enquanto olhava o teto e puxava Stiles para si.

– É engraçado – Riu baixo Stiles – Ursinho, teddy bear, pooh. Tenho tantos nomes agora pelo qual posso ser chamado. Mas ainda quero uma foto minha, quando estiver transformado e tudo mais.

Derek sorriu de lado, e, enquanto ouvia Stiles falar de raios, nascido em tormentas, fora ele, o que menos poderia dormir naquele momento, o que menos aparentava estar com sono, que dormira.

Nos braços do seu urso.


Notas Finais


YOHHHHH, 47 comentários O...O
`Seis são um trovãozinho XD
Obrigado por todos eles, sério, mesmo. =3
E desculpem a demora! Tanta coisa aconteceu!
Foi tipo trovão mesmo! (Tive minhas férias na praia, tipo, sem-quase-nenhuma tecnologia. hausahuas. E também passei em uma faculdade!) Então foi tipo, muitas coisas em tão pouco tempo que me atrasaram de postar...
Mas aqui está!

Como são muitos comentários, quero agradecer aqui, pessoalmente a todos que comentaram! (E claro, vou responder a todos os coments! Saibam que eu sempre leio!) Mas como são já as 3am, e preciso dormir, deixo vocês com o chap antes de eu conseguir respondê-los!

Até o próximo,
chamar-se-a (não sei se usei esse português corretamente) Blowin' in the Wind.


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