O Rei do Gelo caminhou lentamente pelo grande salão de banquetes, ignorando as expressões de medo e horror estampadas nos rostos dos nobres congelados ao seu redor. Estava mais que acostumado a vê-las todos os dias a caminho da sala do trono, uma rotina vazia, repetida todos os dias nos últimos anos. Acostumara-se de forma assustadora àquela paisagem gelada e solitária.
Sua expressão indiferente não mudou quando a ponta de seu longo manto vermelho ficou presa na estátua de um nobre particularmente gordo e excessivamente adornado com joias. Ele puxou o manto para perto de si com um movimento simples, como se estivesse puxando uma toalha de mesa. A estátua caiu e se espatifou em milhões de pedaços no chão. Com passos elegantes, contornou os cacos de gelo e continuou seu caminho.
Com um gesto simples de sua mão, as pesadas portas de gelo se abriram lentamente, como se lutassem contra seu senhor, dando acesso à sala do trono com formato circular. O Rei diminuiu o passo, parando em frente a uma janela. Espiou, olhando para a paisagem infinitamente branca que se estendia pelo horizonte. A neve caía incessantemente, formando enormes montes no chão, nos telhados das casas de vilas próximas, e nas árvores mortas há muito devido ao frio.
De uma forma estranha, era uma paisagem linda.
Continuou a caminhar lentamente, fechando a janela aberta com um baque. Olhou para as paredes interiores do Palácio de Gelo, construção feita inteiramente de vidro que dava nome ao monarca que o governava.
Nas paredes, haviam retratos dos governantes anteriores, enfileirados em ordem cronológica. Nenhum possuía laços sanguíneos com o rei atual. Quem tinha o direito de se sentar naquele enorme trono era apenas quem possuía o poder de controlar o gelo. O poder do monarca atual era forte ao ponto de manter aquela construção inteira congelada mesmo durante os dias mais abrasadores do verão.
O salão estava completamente vazio, e exceto pelo trono, que continha indícios de que alguém sentava nele todos os dias, tinha um aspecto ainda mais abandonado que o restante do palácio. O Rei do Gelo olhou de forma desolada para o trono empoeirado ao lado do seu, e tomou seu lugar no Trono de Gelo, jogando seu manto teatralmente para trás, em um único movimento elegante.
Ave, imperador Victor Nikiforov, as paredes sussurraram.
Muitos usuários deixam de postar por falta de comentários, estimule o trabalho deles, deixando um comentário.
Para comentar e incentivar o autor, Cadastre-se ou Acesse sua Conta.