História Breathless - Eu quero ver outro dia escarlate (parte 1)

Ele estava deitado em sua cama, lendo uma revista qualquer, quando Brian parou na porta aberta do quarto, parecendo nervoso.

“Rev?”

Surpreso, Jimmy ergueu os olhos arregalados para encarar o amigo.

“Oi?”

Foi um pouco estranho quando Haner demorou a responder. Não costumava haver esses silêncios constrangedores entre eles — mas, também, ele não costumava foder coma vida amorosa de seu irmão, costumava? Porém, o clima tenso se dissipou quando Brian ergueu os olhos, tímido.

“O encontro pra hoje à noite ainda está de pé?”

Jimmy sorriu.

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Ao encarar o próprio reflexo no espelho — arrumado e bem sexy, sim, muito obrigado — e ajeitar a jaqueta de couro em seu corpo, Brian teve um momento pra se arrepender daquele absurdo.

No que ele estava pensando? Ele realmente faria aquilo? Zachary talvez nem fosse. É. Baker devia pensar que ele era algum tipo de tarado sexual ou um… Um… Um vadio qualquer! Mesmo que, contrariando todo o bom senso que pessoas como ele pareciam ter, aparecesse, o que Brian faria? Se ele tivesse se aproximado de forma natural, não veria problema nenhum, mas…

Droga.

Convenceu-se de que fazia aquilo para que Jimmy não se sentisse mal, porque uma semana era tempo demais para estarem brigados. Nunca acontecera antes.

Convenceu-se de que encontraria Zachary para desfazer o mal-entendido. E isso o levava de volta à questão inicial: e se Baker não aparecesse?

“Você aproveita a noite!” Jimmy apresentou a solução mais prática, apoiado no batente da porta do banheiro com os braços cruzados, certamente adivinhando as coisas que passavam pela cabeça do amigo.

“Então talvez eu demore um pouco pra voltar.” Brian se animou um pouco, embora continuasse nervoso.

“Você é quem sabe, dude.” Jimmy inclinou o corpo e sorriu de canto. “Se você não...” interrompeu-se no meio da frase, e balançou a cabeça negativamente, como que para afastar as ideias. “Quer saber? Aproveite sua noite. Vou ver com o Shadows se ele tem alguma coisa pra fazer hoje.” sem esperar resposta, Rev abandonou o cômodo, deixando para trás um Brian Haner levemente confuso.

Ok. Era coisa de sua cabeça ou James realmente estava passando tempo demais perto de Matt? Para alguém que reclamava, ele até que aguentava bastante…

Decidido a deixar aquilo de lado pelo menos até voltar para casa, Brian ajeitou mais uma vez sua jaqueta, e pegou as chaves do carro em cima da cômoda.

Ele podia pensar em Jimmy mais tarde.

Bury it

I won’t let you bury it

I won’t let you smother it

I won’t let you murder it¹

O rapaz cantava suavemente, acompanhando a música. A voz melodiosa de Matthew Bellamy, da banda britânica Muse, de alguma forma conseguia acalmá-lo. Estacionando na melhor vaga que pôde encontrar, infelizmente, teve que desligar o rádio. Tirou a chave da ignição com um suspiro cansado, e passou a mão pelos cabelos. Brian lançou um último olhar para o retrovisor, checando rapidamente seu visual, e enfim saiu do carro.

Ainda achava que aquilo era uma loucura absoluta. Mas tudo bem. Já estava ali, não iria voltar atrás.

A passos controlados e aparentemente calmos, Haner pretendia sentar-se à uma mesa qualquer próxima às salas do cinema, e esperar Zachary aparecer.

Não foi necessário.

“Hey! Elwin!” reconhecendo a voz grave, Brian vagou o olhar, até encontrá-lo. Inconscientemente, um sorriso desenhou-se em seu rosto.

Baker estava bonito, com uma camiseta preta de botões e calça jeans escura. Cabelo arrumado, penteado, e cheirando à perfume importado. Parecia um pouco formal, sério, um rapaz saindo da fase irresponsável da puberdade. Até mesmo o tênis que usava — um coturno masculino militar — ajudava a passar essa impressão.

“Hey… Zachary.” Haner o cumprimentou, meio tímido, reprimindo o desejo de sorrir. Não queria passar uma má impressão, não depois do fiasco que fora a conversa de segunda-feira, mas realmente não sabia como agir.

Zachary, por outro lado, parecia absolutamente confortável naquela situação.

“Pode me chamar de Zacky.”

“Eu… Ah… Ok.” estranho. Sim. Era estranho, após tanto tempo pensando nele como “Zachary”, poder chamá-lo por um apelido.

“Então, você está aqui há muito tempo? Estava olhando uma coleção de revistas na HQ Universe e perdi a noção das horas.” então ele gostava de histórias em quadrinhos? Interessante.

“Não… Acabei de chegar, na verdade.” Silêncio. Foi o que houve durante 10 ou 15 segundos, e Brian teve a chance de organizar seus pensamentos.

Não aja como uma garotinha apaixonada, era o que repetia a si mesmo. Não faça nada estúpido.

“Então, você deu uma olhada no cronograma de filmes?” novamente, foi Zachary quem tomou a palavra.

“Hum… Na verdade...” eu não queria vir, apesar de agora não querer ter que ir embora depois “Eu esqueci.”

Baker sorriu de leve, curvando suavemente os lábios.

“Tudo bem. Quer dar uma olhada agora, ou comer alguma coisa antes?” ele era sempre atencioso assim, ou era só o encanto de Brian distorcendo sua visão das cenas todas?

“É… É, pode ser.”

Haner não estava muito otimista no começo do dia. Realmente, não. Ele esperava que tudo quanto é desgraça acontecesse, na verdade. Mas ali, vendo Zacky sorrir doce, e sentindo malditas borboletas dançando em seu estômago, ele podia ter esperanças de que a noite não acabasse tão mal, afinal.

“Nem vem!” Zacky apertou os lábios, convicto e irredutível. “Bruce Wayne é clássico, cara! Ninguém supera o Batman.”

“Ok… Você venceu.” Brian fez uma careta emburrada, cruzando os braços, enquanto o outro jogava a cabeça para trás, gargalhando. “Tenho que concordar… Quer dizer… É o Batman.”

Devia fazer mais de uma hora que estavam ali, na praça de alimentação, conversando sobre os mais diversos assuntos. Brian nem vira o tempo passar, divertindo-se demais para isso. Em algum momento, seu celular despertaria, avisando que era chegada a hora de ir para a fila do cinema. Cidade dos Ossos fora o filme escolhido, por nenhum motivo em especial. Zachary e Brian tinham discutido sobre escolher um filme de terror, mas Invocação do Mal era o único em cartaz, e ambos já haviam assistido. Entre uma animação 3D de classificação livre e um filme adolescente, a decisão foi quase unânime.

“Ela foi uma estúpida!” Brian torceu os lábios em desaprovação. “Se tivesse corrido, Alec não teria sido pego pelo demônio, e toda aquela porcaria que aconteceu não teria dado tão errado.”

“É, mas assim Magnus não teria um motivo para encontrar Lightwood outra vez, e Clary talvez não tivesse descoberto que Luke estava do lado deles.” Zacky observou, divertindo-se com a indignação de Haner.

“No way!!” o outro arregalou os olhos. “Argh! É por isso que eu prefiro filmes de terror!”

“Alguns filmes de terror são tão mal trabalhados, que não há graça alguma na história.” Baker ergueu uma sobrancelha, recebendo um olhar vagamente irritado de Brian.

“Você sente algum tipo de prazer em me contrariar?”

Era uma pergunta teoricamente retórica, mas Zacky não pareceu ter se dado conta disso. Num movimento inesperado que chegou, de fato, a assustar Brian, o rapaz aproximou-se, roçando os lábios em sua orelha.

“Você fica sexy quando está corado desse jeito.” sua respiração fazia cócegas na pele do mais alto, que engoliu em seco, sentindo o rosto queimar e o coração palpitar no peito.

Estavam no shopping. Não podia esquecer. Estavam sentados na praça de alimentação, e todo mundo ali poderia ver. Baker estava meio louco? Aquele suspiro suave, quase uma carícia… Sobre o que ele estava pensando, mesmo?

“E-Eu… Eu… Hã...” Brian amaldiçoou-se mentalmente por gaguejar daquela forma. Zacky sorriu.

“Nós podemos ir pra casa...” murmurou, suave, sensualmente. “Se você quiser.”

E, oh, Inferno, como Brian queria!