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História Broken Home - Young Blood


Escrita por: prozac

Notas do Autor


Boa leitura ;*

Capítulo 9 - Young Blood



We're only young and naive still
We require certain skills
The mood it changes like the wind
Hard to control when it begins
The bittersweet between my teeth
Trying to find the in-betweens
Fall back in love eventually
Yeah yeah yeah yeah
The Naked and Famous

 

 

Salem

Uma semana. A campainha tocava incessantemente, como se tornara frequente nos últimos dias. Eu ouvia o barulho irritante, sem motivações para me levantar do sofá. Já deveria se fazer alguns dias que eu não comia nada, mas não importava, eu não conseguiria digerir ou mastigar. Ou falar. Tudo que conseguia suportar, era a parede descascada e manchada e a persiana caída ao chão. Era tudo que conseguia encarar, fixamente, enquanto bebia um gole de Whiskey, sentindo tudo queimar.

— Spencer, eu já falei pra deixar as garrafas de bebidas e vazar, que merda! Eu não preciso conversar...

Não era revigorante como costumava ser, apenas um pouco anestesiador. Ajudava-me a manter-me no estado de torpor. A campainha continuava, insistente.  Logo viraram batidas.

— Salem, aqui é Judy, a assistente social responsável por seu caso. Eu gostaria de conversar com você sobre o estado geral do processo.

Eu deitei-me no sofá e me encolhi em posição fetal, abraçando a coberta. Não iria atendê-la, não estava com a capacidade de fingir ser uma garota feliz e com um futuro promissor agora. Talvez nunca mais. Sabia que as faltas da última semana à escola e o não comparecimento ao grupo de apoio a jovens com histórico de abuso por meses a fio, me renderiam uma visita nada bem vinda em breve.

Não importava, não tomaria atitude nenhuma agora.  Ela tocou a campainha mais algumas vezes antes de desistir. Ouvi os saltos batendo no piso de linóleo riscado da entrada, enquanto se afastava. Eu suspirei, agradecida. Queria ficar só, só com as lembranças fantasmas, antes que o tempo levasse as feições daquele que as possuíra de minha memória.

 

Luke

 

— E a sua namorada? Não me diga que ela não curte bebidas e esse tipo de coisa. — Gabe caçoou, bebendo do vinho branco, sobre o capô do banheirão.

— Jenny e eu não estamos namorando. — Eu bufei para ela, enquanto analisava a identidade falsa, recém adquirida.

Sally havia sido criativa com os nomes, batizando-me como Felix Hackheart. Ash riu desenfreadamente, dizendo-me que parecia o nome de um herói ecológico, como o capitão planeta, ou algo assim. Mas seu nome falso, Duck Fuckly, não o dava moral para gozar do meu, ele só não entendia isso.

Meu melhor amigo se encontrava sentado em uma pedra, a beira de Vermont Hills. Bebia de sua própria garrafa de vinho, enquanto lia as antigas mensagens de Bailey. Ash não era o cara com atitudes mais construtivas que eu conhecia.

— Que seja. — Gabrielle falou, deitando contra a latoaria, enquanto se apoiava pelos cotovelos.  Ela te passou o número dela, e disse que “Foi bom te encontrar novamente.” É óbvio que gostou de você, seja lá onde tenha a conhecido.

Eu não tinha tanta certeza assim, e de qualquer forma, não era apropriado trazer uma garota para uma espécie de encontro com os amigos, principalmente quando um deles encontra-se apoiado contra um bloco de xisto, chorando e pedindo perdão para um celular.

— Ash, aquela garota era uma vaca, você sabe bem. — Gabe disse, e era meio incontestável.

Bailey foi, desde o primeiro ano, a garota responsável por nosso isolamento social. Não que popularidade fosse algo que visássemos, ou conseguiríamos, com nossas competições no pátio de quem conseguiria tomar o refrigerante mais rápido. Gabe sempre ganhava, e Ash acabava cuspindo coca pelo nariz.

Mesmo assim, nada destruiria mais nossa imagem do que a constante humilhação pela qual a namorada do nosso melhor amigo nos submetia. Não era algo esporádico como acontecia com Clifford, mas constante. Ela achava que Ashton tinha muito potencial para um grupo de losers como nós, afinal, eramos pobretões do subúrbio sem habilidades sociais.

Bailey, por outro lado, era popular e gostava de ostentar o título, com seus  brincos gigantes e  sapatos inadequados para a escola. Ela era bonita, mas a sua total megeridade eclipsava isso. Porém Ash não ligava para suas atitudes, e por vezes não notava o total descaso com o qual ela nos tratava.

Eram um casal improvável, Irwin não fazia o tipo atlético e cafajeste como o namorado dos outras de líderes de torcido de East River, e Bailey desistiu de tentar mudá-lo recentemente, terminando tudo que tinham. Ele ficou arrasado, mas isso não era compartilhado por mim e Gabe. Ash fungou.

— Ela brigava comigo porque eu dormia até tarde, no dia de almoço com os país dela. Também não conseguia não gritar comigo, mesmo quando estava no telefone com as amigas. Ela é meio gostosa, apesar de tudo isso.

Eu e Gabe rimos, dizendo a ele que uma garrafa e alguns goles de vinho já havia deixado-o bêbado o suficiente para admitir parte da cretinice da garota em questão. Talvez fosse disso que ele precisava. Botar pra fora. Desabafar. Extravasar. Sentei-me ereto e disse a ele:

— Então faça como ela.

Ele virou-se pra mim.

— O que?

Levantei-me e peguei meu celular no bolso, alcancei pra ele.

— Ligue pra ela, diga todas as barbaridades que sente vontade. Ela merece. Vamos, Ash. Você vai se sentir melhor.

Ele segurou o celular por um tempo, o encarando enquanto decidia se era mesmo o correto a se fazer. Então determinação tomou conta de suas feições, e ele discou o número que sabia de cor. Esperou.

— Caiu na caixa de mensagens.

Gabe fez sinal para ele continuar. Ouvimos o barulho que anunciava o começo da gravação.

Ash respirou fundo e começou:

— Hey, Bailey, aqui é Ash. Você provavelmente sabe disso, porque não haveria nenhum motivo pra Luke ligar pra você, aliás ele odeia você, e Gabe também. – Ela fez que sim ao meu lado, enquanto fazia uma espécie de dancinha vingativa. Irwin estava em pé, andando de um lado pro outro, encarando a cidade que se estendia abaixo de nós, as luzes ajaranjadas baixas demais, como vagalumes sobre a relva.

—... Ligar pra você parece meio desesperado de minha parte, ainda mais na data que comemoraríamos três anos, não é? Mas eu não quero pedir para voltarmos, embora com certeza ainda te ame. — Ele tomou fôlego. — Quero apenas que saiba a tremenda vaca que você é. Uma vaca tetuda, inclusive. Você despedaçou meu coração, mesmo sendo algo que eu deveria ter evitado, você é uma pessoa malvada e preconceituosa, eu não deveria ter me interessado, você estaciona na vaga de deficientes e idosos quando saímos juntos. Nem o pior tipo de pessoa tira a vaga de velhinhos indefesos.

Ash estava com o tom de voz alterado àquela altura, continuou:

—...E aliás, você não me deixava dirigir, nem o meu próprio carro. Me humilhava constantemente e tentava me mudar com mais frequência ainda. Eu não sei o que vi em você, além do sorriso com clareamento. Sou mesmo um idiota, mas não importa mais, porque não estamos mais juntos e isso é bom. Sabe por que? Porque agora eu vou dormir até as três da tarde e almoçar às cinco, e vai ser pizza de bacon e cheddar. Com muito carboidrato. Você e a sua pizza de rúcula e tomate seco podem ir para o inferno juntos!

Ele terminou a ligação gritando, com energia e parecendo revigorado. Encerrou a ligação e riu, após gritar, aliviado. Todos rimos. Até que ele, movido pela empolgação, arremessar o celular no chão.

Paramos de rir instantaneamente.

— Cara, foi mal. – Ash disse, espantado.

 Recuperei ele do chão e notei que havia um trincado na lateral, quase imperceptível, e que estava funcionando.  Comecei a rir novamente e ambos me seguiram.

Não tivemos grandes prejuízos de qualquer forma, e valeu a pena, pois Bailey finalmente foi colocada no lugar que merecia. Nos aproximamos até podermos formar um abraço triplo, ainda soltando gargalhadas e gritos a respeito da liberdade. Éramos intocáveis ali em cima, semi bêbados, e com as possibilidades que o futuro nos dava agora.

Eu me senti vivo, capaz de coisas inimagináveis, grato por existir. E por isso, foi impossível desviar meus pensamentos do total oposto a isso, a tragédia recente. Fazia duas semanas que Michael havia morrido, em um acidente de carro. As coisas estavam estranhas em East River, ninguém desejava a morte para alguém, era injusto demais. Além disso, o garoto tinha uma personalidade expansora, lotava o corredor com sua presença e fios coloridos quando passava, atraindo olhares.

Agora, era como se algo estivesse faltando constantemente. Maxine estava sozinha, de ombros caídos e rosto abatido, não usava mais as roupas pretas e maquiagem forte, ou maquiagem alguma. Parecia cansada, apagada, apenas metade-viva. Eu não quis sentir pena dela, pois sabia que era horrível, o pior sentimento para se ter por alguém. Mas era impossível. Ela parecia frágil e pequena, no canto do refeitório, revirando sua salada, enquanto evitava os olhares de todos.

E Salem havia desaparecido, como poeira no escuro. Depois que voltei do fliperama, no dia do funeral, observei sua casa, esperando encontrá-la na varanda, chorando com um cigarro sabor canela em mãos. Mas ela não estava lá naquele dia e nem no outro, e nem em todos que se seguiram até aquele momento. Não queria estar preocupado, mas estava. Parecia possível esperar alguma loucura por parte dela.

— Namoradas são um porre. — Ash disse, estava chorando novamente, mas ria, aliviado, enquanto fazia isso. — Luke, terá que nos apresentar sua namorada antes do primeiro beijo.

Eu suspirei e bufei. De novo a mesma história.

— Eu a conheci em uma festa, não quer dizer que estamos namorando. Ela apenas me cumprimentou e deu um meio de entrar em contato com ela, o que não significa que efetiva...

— Espera, você foi a uma festa? – Gabe perguntou, me encarando. Percebi que Ashton indagava o mesmo.

Eu havia falado demais. Tentei dar de ombros e fingir que não era grande coisa, mesmo eu sabendo que era.

— Eu não fui convidado, é complicado. Sally meio que me arrastou, só ofereci uma carona.

— Sally? Salem South Weller? – Ashton perguntou, um pouco incrédulo, não poderia culpá-lo por essa reação. Em seguida sua testa se franziu: —Ela tentou humilhar você ou algo assim?

Eu fiz que não. Ele perguntou quando aconteceu e eu lhe informei.

— Legal. — Gabe disse, estalando a língua, desdenhosa. — A bruxa pressentiu a morte do escravo malvado, e já começou a amansar você. — Falou, virando-se pra mim, parecia irritada, como se andar com Salem fosse uma ofensa pessoal. — Embora não ache que você tenha perfil pra isso.

Eu quis lhe dizer algo, mas não consegui. Estava chocado demais. Gabe havia soado como um das garotas fúteis e mesquinhas da equipe de torcida, ou algo ainda mais inferior.

— O cara está morto, Gabe. Pega leve. — Ash quase sussurrou, ele também parecia um pouco assustado com a reação dela.

Ela riu, um pouco histérica e olhou pra ele. Parecia não acreditar no que ouvia.

— Pegar leve? Qual é, se está tão preocupado com o santo nome de Clifford, porque não compareceu em seu funeral? – Ela parecia uma espécie de animal furioso, seu rosto estava vermelho. Eu não entendia mais o motivo de sua ira. — Vai me dizer que Clifford e você também eram amiguinhos ocultos, Ash? Saíam sozinhos pra festas, e a babaca aqui era a única a passar o sábado a noite jogando Dota?

— Você é péssima em Dota.

Cala a boca, Hemmings.

Eu olhei pro chão, não sabia bem como reagir.  Ash suspirou.

— Gabe tem certa razão. — Ambos olhamos para ele, um pouco chocados. Ele perguntou: — O que? Não! Não estou falando sobre ser amigo de Clifford. Estou falando sobre sair com Salem, Luke... por que não nos disse nada?

Eu não tinha uma boa resposta para aquilo. Não tinha a pretensão de tornar um segredo, mas foi o que fiz. Porque, de algum modo, negava-me a misturar os momentos ótimos que tive, com o incidente que matara Michael, como estava acontecendo agora. Pareceu íntimo demais cada momento no carro, os passos em meio as pessoas. Um mundo novo e particular. Eu me senti... jovem, e invencível.

E agora, meus amigos faziam com que me sentisse culpado por sentir coisas tão maravilhosas. Aquilo me irritou.

— Eu não preciso dar satisfações a vocês.

— Uau, uma única intervenção, e ele já sabe morder. – Gabe caçoou, seus olhos pareciam molhados, mas eu sabia que estava apenas com raiva.

— O que aconteceu com você, Gabrielle? Porque se importa tanto com isso?

Eu simplesmente não entendia. Não imaginei que ela ou Ash teriam a reação que estavam tendo. Eu nunca deveria ter aberto a boca.

— Salem cortou meu cabelo e depois vendeu mechas para aqueles garotos repugnantes, dizendo que eram os pelos pubianos do senhor Taylor.

— Isso foi a muito tempo, Gabe.

— Foi ano passado, droga, Luke! Você sentava atrás dela, e era supostamente para você se vingar, cortando parte do dela também.

Eu me lembrei finalmente, do ocorrido. Havia dito que o faria. Mas não consegui, passava aulas apenas observando Sally de costas, os cabelos escuros caindo em suas costas como cascata. Eu quis cortá-lo, sabia que merecia... mas não consegui. Eu gostava de observar a extensão.

— Eu tenho muitos motivos para odiá-la. Você não pode sair com ela.

A voz dela recuperou minha atenção. Olhei para minha melhor amiga, que bufava a minha frente, como um touro raivoso. Apontava o dedo pra mim.

— Ela não é tão horrível assim.

Eu já fazia a volta no carro, não suportaria mais nada daquilo.

— Ah, claro, ela foi muito generosa ao dar as identidades falsas pra gente. Você fez algum tipo de pagamento sexual?

Eu não queria mais ouvir. Entrei no carro e liguei o motor.

— Espera, Luke, onde você vai?

Ash perguntou. Eu já havia entrado no carro e ligado o motor, iria pra qualquer lugar longe dessa cena. Não achava justo as coisas que diziam, não a conheciam, assim como eu. Acelerei pela via, saindo do estrada de areia e deixando-os atônitos para trás. Desci a montanha, sentindo o vento úmido do inicio da noite, um pouco culpado por deixá-los.

Não, Luke, eles não podem condená-lo por algo que lhe deixa feliz.

Dirigi pela costa até em casa, um bairro suburbano e destruído. Assim que encostei junto ao meio-fio, percebi as garrafas de vinho ainda sobre o banco do carona. Papai odiaria se as encontrasse, e não entenderia. Cogitei jogá-las no lixo, mas então algo me ocorreu. Encarei a casa cálida e aparentemente vazia, e caminhei até lá.



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