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História Broken Home - Homesick


Escrita por: prozac

Notas do Autor


Amo vocês.

Capítulo 10 - Homesick


I said: I'm only looking out for you
She said: It's obvious that's a lie
But I only ever put out for you
You know it's obvious you don't try

I got mistook and took the scent
And it's not as if you didn't notice
That I tried to steer you clear of this place
And wound with nothing to show for it
She said: You never got that from me.

The Catfish and the Bottleman

Sally

Eram onze horas. Porque diabos alguém tocaria minha campainha há essa hora? Não que não costumasse acontecer, até dias atrás, mas que agora parecia outra vida. As pessoas pareciam saber que eu não estava em condições de vê-las, de sair, de ser jovem novamente. Apenas Spencer e Maxine haviam entrado em contato comigo nesse período, as únicas que haviam sido autorizadas a me ver desmoronando.

Eu não entendia. Mais um tocar insistente. Esse era o horário que eu habitualmente usava para sair, ou receber pessoas aqui para alguma festa. Mas não haveria ninguém tão babaca a ponto de achar que era isso que eu gostaria de ter agora, certo? Eu só queria definhar em paz. Mas aquele som me enlouquecia. Abri a porta dos fundos e saí para o quintal, ainda era possível ouvir a campainha, mas não era nada como o barulho da sala.

Sentei-me na escada de madeira que poderia ceder. Seria uma queda de um metro até o chão. Não me mataria, talvez quebrasse alguns dos meus ossos. Eu poderia continuar ali, sentindo a dor, sem procurar por ajuda. Quase desejei que a escada realmente rompesse, quando ouvi passos na grama alta, vindo até mim.

Luke

Os toques eram inúteis, como sempre. Perdera as contas de quantas vezes, nessas duas semanas, eu havia estado ali, em frente a varanda da casa em que nunca adentrei, preocupado com a garota que supostamente estaria ali dentro. Eu não escolhi me preocupar, mas não era algo que eu pudesse evitar. As cenas daquela noite passavam por mim, assombrando-me.

Eu era responsável pela morte de Michael, pelo menos em parte. E me sentia responsável por Salem agora, em parte, também.

Estava prestes a desistir, quando ouvi um som vindo de dentro. Como uma porta se abrindo e em seguida, fechando-se com um estouro. Olhei pela janela, mas não havia um único foco aceso ali dentro. Perguntei-me se ela teria luz, ou se haviam cortado. Decidi que talvez pudesse ver algo do quintal, então comecei a me mover pelo espaço estreito entre o muro a lateral da casa de madeira.

O imóvel já foi charmoso, algum dia. Hoje, apenas vê-lo me deixava triste. Parecia que as paredes eram constituídas de memórias tristes e pálidas, desbotadas como a pintura sobre a superfície.  A noite continuava úmida, mas não tanto aqui, longe das montanhas e da costa.

Então eu a encontrei. Encolhida contra o corrimão corroído e velho. Não era possível ver seu rosto, mas ela se balançava, como uma criança querendo ser ninada. Ela usava uma camisa e uma calcinha e nada mais, imaginei que não se preocupasse em estar apresentável, já que estava isolada.

Eu tentei não encarar suas pernas totalmente expostas. Considerei voltar, mas sabia que seria idiotice. Ela estava destruída, mais do que eu já sabia ser. Era como encarar a sombra de alguém que já existiu. Levantou a cabeça e me encarou, finalmente parecendo me notar, ali, parado a seu lado.

A primeira coisa que notei foi a ausência de qualquer brilho em seus olhos, e os sacos roxos e profundos embaixo de cada um. Ela estava pálida também, como se ela mesma estivesse morta. Os cabelos desgrenhados em uma bagunça desesperada, como se os puxasse com frequência. Os lábios estavam quase carmim, mas não do batom habitual. Sua boca estava maltratada, seca e cortada, com filetes de sangue seco. Ela não deveria ter se alimentado ou bebido nada saudável nos últimos dias.

— O que faz aqui? – A voz dela saiu seca, anunciando os dias que passara sem usá-la. Ela não parecia irritada, parecia vazia enquanto me encarava, como se eu não estivesse realmente ali.

Eu não tinha uma boa resposta, embora tivesse bons motivos. Eu chacoalhei a sacola de vinho, chamando sua atenção para o que eu tinha em mãos.

— Eu adquiri uma identidade falsa recentemente. Tenho alguns contatos.

Tentei ao menos soar bem humorado, mas ela fez uma careta quando me ouviu. Eu suspirei e sentei-me ao meu lado. Ficamos uns instantes assim, olhando para a frente, fitando seu muro pichado com tinta spray. Eu observei as frases pichadas ali.

— Quem é Jack? — Pedi. Depois de observar o coração pichado, onde dentro se encontrava escrito: Jack and Sally.

Eu sabia se tratar da história de Halloween, da lenda antiga que previa a morte de Jack e a maldição que o obrigava a vagar pelo mundo mesmo depois da morte, esperando o dia das bruxas para reencontrar novamente sua amada Sally. Poderia ser uma coincidência e Sally  — Salem — realmente conhecer algum Jack. Mas a lembrança da história, da morte do seu amado, só me faz pensar em Clifford.

 O choro que veio dela confirmou minhas suspeitas.

Eu a observei, impotente. Senti vontade de passar os braços pelos ombros ossudos e a puxar contra meu peito, era meio irracional sentir isso, mas eu sentia. É difícil explicar, mas ela parecia perdida. Frágil. Rompida. Eu precisava reconfortá-la. Tudo que fiz, contudo, foi girar o lacre e tomar um gole de vinho doce e quente.  Ela fungou e pegou a garrafa quando lhe ofereci.

— Como Spencer encontrou você para te entregar as identidades?

Ela pediu, tempos depois. Não parecia realmente curiosa. Parecia apenas querer preencher o silêncio, ou algo assim.

— Temos uma amiga em comum.

Ela apenas levantou uma sobrancelha. Bebeu mais.

— Jenny. —  Eu me senti na obrigação de lhe dizer, mesmo sem saber o motivo. Ela não estava nenhum pouco interessada.

Sally se levantou e começou a andar pra longe, pra fora. Eu levantei-me assustado. Era possível ver muita coisa pelas calças que ela não estava usando. Sally estava muito magra, mas eu continuava a apreciar a forma com que se movimentava, ainda possuía beleza e curvas. Um carro se aproximava pela esquina e me apressei a tirar minha jaqueta jeans e a enlaçar na cintura dela. Isso a fez parar e me olhar.

Eu sentia seus olhos queimando em meu rosto, mas não me permiti encará-la. Tinha que me concentrar em meus dedos, fazendo o nó na manga, em sua cintura. Eu sabia que estava corando furiosamente, estávamos muito próximos, e eu não possuía um osso assertivo e coordenado em meu corpo. Enfim, consegui.

Ela não era muito alta, então o comprimento da jaqueta cobria tudo que precisava. A largura dos meus ombros foi mais do que o suficiente para dar a volta na cintura fina. Coberta. Certo. Melhor assim. Certo?

Me afastei um passo e notei que ainda procurava algo em meu rosto, ela abriu a boca, prestes a dizer algo. Então apenas balançou a cabeça e se virou, continuando a descer a rua. Enfiou a mão em sua calcinha e de lá tirou um maço de cigarros. Eu a olhei um pouco espantado.

— Tem um bolso nela. – Ela explicou, e fez menção a levantar a jaqueta e me mostrar. Eu insisti que não precisava e me pus a encarar o chão. Momentos depois olhei novamente para ela e pensei ter visto algo parecido com humor em seus olhos, finalmente.

Sally

Eu sentia o cansaço, mas sabia que não conseguiria dormir. Andava em uma espécie de insônia desde a morte de Michael. Eu continuei vagando pelas ruas, imaginando que o loiro logo se cansaria de me seguir, dando voltas em nossa quadra. Mas já se fazia quase uma hora e ele não parecia querer ir embora. Dei o gole final da garrafa de vinho rosé, e a coloquei em uma lixeira qualquer.

Acendi o quarto cigarro seguido e então olhei pra ele, uma ideia veio a minha mente. Ele parecia tão corrompível. Sabia que não era certo envolvê-lo mais em minha vida, até porque eu nunca fui mais destrutiva que agora. Mesmo assim, eu puxei mais um do maço e estendi pra ele. Luke diminuiu o passo até parar, encarando o cigarro com certo receio.

Pela primeira vez em dias, eu esbocei algo com um sorriso. Pensei em tentar dizer algo para persuadi-lo, mas não iria insistir para que começasse algo que provavelmente o mataria. Era um convite silencioso, ele poderia ter negado, mas ao invés disso, colocou a nicotina canelada entre seus lábios. Me aproximei dele, e vi que ficou tenso imediatamente. Eu tinha que admitir que achava sua timidez adorável, embora um pouco irritante.

Puxei o isqueiro e acendi o meu, em seguida encostei a ponta acesa em seu cigarro, e o instrui a tragar. Ele imediatamente engasgou e em seguida começou a tossir. Eu me afastei, observando-o. Quando ele enfim se recuperou, tinha os olhos vermelhos por conta da fumaça forte.

— Você não pode ter pressa. Não é um desafio horrível. Pode jogá-lo fora, se não gostou.

Eu disse, tragando suavemente o meu, sentindo a fumaça circular pelo meu corpo, energizando as coisas que sentia. A sensação de fumar é meio poética, e isso era difícil de explicar. Soltei o ar dos meus pulmões, sentindo parte do sufocamento ir junto.

Luke olhou de mim para o Marlboro. Encarou-o por um período e então voltou a traga-lo. Ele teve sucesso dessa vez. Eu quase sorri. Observei-o. Ele ficava bonito fumando. Voltei a andar, e dessa vez não contornei a esquina para que fizéssemos o mesmo caminho pela décima vez consecutiva.

— Onde estamos indo? — Ele pediu, eu não o respondi. Não sabia bem.

Morávamos em Monte Vista, um dos bairros mais violentos da cidade, e eu sabia que era um pouco irresponsável andar por aqui a essa hora. Mas estávamos próximos do limite, poderíamos chegar em algum bairro arborizado, talvez achar um parque.

Então continuamos assim, seguindo. Ele fumava em silêncio ao meu lado, não usava mais os óculos, acho que desistira deles, ou não possuía grana para arrumá-los. Notei que estava pensando em algo, parecia concentrado demais nas esquinas que passavam por nós. Ele quebrou o silêncio:

— Acho que você deveria voltar pra escola. Não faz mais sentido evitar isso.

Eu ouvi isso, e esperei sentir raiva, mas não aconteceu. Ele tinha razão. Eu estava adiando a minha vida, mas não sabia se me sentia triste ou culpada por isso. Não tinha grandes perspectivas. Ao pensar nisso, disse para ele, ultrapassando-o e passando a andar virada de costas, encarando-o:

— O que você quer ser daqui à cinco anos?

A pergunta o pegou de surpresa, mas ele ponderou com seriedade. Eu sempre me surpreendia por isso, ele se preocupava com o que eu acharia do que respondesse. Eu que era um lixo suburbano.

— Um... estudante? Talvez já formado?

Eu ri. Era claro que ele gostaria disso. Era o que todos deveriam.

— E você? — Perguntou.

Fiquei em silêncio, imaginando o que alguém que não tinha nada poderia chegar a se tornar um dia.



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