Certamente era um dia melancólico. Nishikage estava deitado em sua cama, segurando a parte de trás de sua cabeça e cobrindo os ouvidos com os braços, esperando o tempo passar enquanto sentindo o calor dos raios de sol que entravam pela janela do quarto. Tudo estava muito quieto ultimamente.
Desde que o novo conselheiro do Imperador das Táticas havia sido nomeado, Nosaka passava seu tempo com Ichihoshi, discutindo novas estratégias, elaborando novos planos e se encontrando para falar sobre as habilidades do time adversário e como superá-las, e o loiro andava sozinho na maioria nesses dias. Não foi um sentimento muito fácil de lidar no começo, afinal parecia que Nosaka estava abandonando-o para estar com outra pessoa, mas Nishikage logo percebeu que não era assim.
Nosaka nunca o esqueceria assim tão facilmente. Ele era o cavaleiro do imperador, afinal de contas. Só porque ele havia arrumado um novo escudeiro, não significava que ele deixaria de lado seu companheiro mais leal. E acima de tudo, o estrategista se encontrava muito feliz desde que o campeonato internacional havia começado, e Nishikage sabia o quanto o futebol tinha um papel importante em sua vida agora. Muito mais do que ajudá-lo a conquistar suas metas, o goleiro desejava sua felicidade a todo custo e lutaria até o fim por isso. Não havia nada que se comparasse ao valor de seu sorriso quando jogava. Se Ichihoshi também estava sendo parte disso, então Nishikage seria eternamente grato. Não havia nenhuma razão para raiva ou ciúme.
Mas ainda assim, o loiro sentia falta de seu amigo. Principalmente em dias como esse. Como nunca havia muito a fazer, ele já havia andado com vários membros da equipe durante a semana, já havia ido à academia, treinado, e agora ele apenas estava entediado. Talvez seria uma boa ideia ver o que ele estava fazendo, afinal de contas.
De repente, suaves batidas na porta chamaram sua atenção. Imediatamente, reconheceu a voz que falou logo em seguida:
- Sou eu. Posso entrar?
Nishikage rapidamente sentou-se na cama para recebê-lo.
- Por favor.
Nosaka Yuuma gentilmente abriu a porta, aquecendo o peito de seu amigo ao entrar com um sorriso, algo significantemente incomum. Ele carregava uma caixa branca de tamanho médio, impecavelmente amarrada com uma fita vermelha, indicando que ele mesmo havia feito o laço. Juntamente com ela, na outra mão o ruivo carregava três balões de cores diferentes, um azul, um amarelo, e outro branco, as mesmas cores do time.
O menor puxou a cadeira da escrivaninha e se sentou em frente ao goleiro. Estranhamente, ele não havia trazido o seu tablet e estava demasiadamente informal para a ocasião. Nishikage se perguntava sobre o que era tudo aquilo, enquanto observava o ruivo amarrar os balões no braço da cadeira. Mesmo não entendendo, a presença de seu admirado imperador era demasiado reconfortante.
- São bonitos, não são? – A voz de Nosaka chamou sua atenção.
- Sim, muito bonitos. – Nishikage respondeu.
- Eu tentei encontrar outras cores, mas por aqui só tinham essas. Espero que você tenha gostado, mesmo assim.
- Nosaka-san, eu deveria perguntar... o que é tudo isso?
O ruivo olhou perplexo para seu companheiro, e depois soltou risadas.
- Você não sabe? – O estrategista perguntou.
- Não.
- Mesmo?
Resposta negativa. Nosaka manteve o sorriso no rosto enquanto lhe entregava o presente.
- Feliz aniversário, Nishikage.
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.
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Antes de conhecer Nosaka, Nishikage nunca havia comemorado seu aniversário propriamente. Pais negligentes e o fato de que ele passava a maior parte do tempo fora de casa nunca lhe propiciaram tais coisas. Ao entrar no sistema de ensino Ares, foi ensinado que festas de aniversário e outras comemorações não tinham nada de especial. Eram eventos supérfluos e definitivamente coisa de gente medíocre.
Gradualmente, o loiro passou a não se importar com o seu dia. Mas lá estava Nosaka, dando-lhe aquela graciosa caixinha de presente e segurando aqueles balões como se aquela data fosse a coisa mais importante do mundo.
Não havia forma de descrever a surpresa que Nishikage sentiu naquele momento, tomando com as mãos trêmulas o presente que o ruivo havia lhe estendido. Pousando-o em seu colo, engoliu em seco quando seu coração bateu, encarando a bela fita vermelha.
- N-nosaka-san...
Nosaka suspirou.
- Eu devo admitir, eu estava um pouco inquieto sobre isso. Eu nunca fiz nada parecido antes. – Ele olhou para o amigo. – Eu apenas imaginei que você deveria estar se sentido só ultimamente, e pensei que eu poderia...
Ele limpou a garganta e recompôs sua quase perdida compostura. Àquela altura, Nishikage não sabia o que fazer além de prestar atenção em toda palavra que saia de sua boca.
- Existem coisas que eu quero dizer a você. Aniversários são ocasiões importantes, certo? Então eu demorei um tempo para planejar isso. Ainda assim, não é como se eu tivesse experiência no assunto.
O loiro estava inesperadamente quieto, então o imperador continuou.
- Nishikage.
- Sim?
Ele manteve seu olhar sério ao dizer as seguintes palavras:
- Realmente, não é do meu feitio realizar essas coisas, mas eu quero que você saiba que... é um prazer estar com você. Eu sou grato por todo o seu trabalho, e sua companhia é importante para mim. Eu lhe ofereço meus parabéns e lhe desejo felicidade neste dia.
Um largo sorriso se formou no rosto do mais velho. A felicidade lhe corria por todo o corpo ao ouvir as palavras gentis do imperador. Aquele era, sem dúvidas, um dos melhores dias de toda a sua vida, e de novo, tudo graças a aquela pessoa. Enquanto isso, Nosaka sentia como se um peso lhe fosse retirado ao saber que havia conseguido fazê-lo feliz. Ele já havia admitido estar nervoso, e a verdade é que ele não saberia qual seria a reação de Nishikage com algo tão repentino. Existiam coisas que nem o grande Imperador das Táticas poderia prever.
- Você não vai abrir? – O ruivo quebrou o silêncio, tirando-os do transe em que se encontravam, apenas olhando nos olhos um do outro.
- Sim, claro! – Respondeu, sem jeito.
Nosaka observou enquanto o goleiro desfez cuidadosamente o laço e abriu a caixa.
- Chocolate. É o seu favorito, não é? – Apesar do loiro nunca ter lhe dito isso diretamente, Nosaka nunca deixou passar nenhum detalhe. – Eu queria algo para dividirmos juntos e pensei que você ia gostar.
Ele não respondeu.
- Nishikage?
Nishikage não queria se emocionar demais, mas depois de abrir aquela caixa, o maior não conseguiu mais lutar contra as lágrimas, que escorreram grossas pelo seu rosto. Seus olhos brilhavam e seu rosto havia adquirido um tom levemente avermelhado, assustando o ruivo a sua frente.
- O que houve?
O menor se levantou da cadeira e sentou-se ao lado de Nishikage na cama, tentando encontrar o que havia de errado. Nosaka de imediato ficou extremamente surpreso ao ver que a frase escrita com calda vermelha sobre o bolo lindamente decorado com glacê de chocolate era “eu te amo”, ao invés de “feliz aniversário”.
Ele sabia que pedir para Asuto e Ichihoshi fazerem o bolo havia sido uma má ideia.
- N-n-nosaka-san... – Gaguejou, incrédulo.
Foi a vez do imperador ficar vermelho e cobrir parcialmente a boca com os dedos. Enquanto isso, o coração de Nishikage estava descontroladamente acelerado, se perguntando se aquilo era verdade, mas sem coragem para perguntar.
Ainda que não soubesse muito bem o significado de amor, Nosaka ousou dizer:
- Bom, essa não era a minha intenção, mas não há mentira nessas palavras.
Os olhos acinzentados de Nishikage se voltaram para o seu imperador, não acreditando no que acabara de ouvir.
- Pode não parecer, Nishikage, mas eu me importo muito com você.
Hesitantemente, ele colocou sua mão sobre a mão do maior e respirou fundo, coisa que nunca havia feito antes, declarando que havia algo muito importante a ser falado. Ele ergueu os olhos sérios até encontrar os de Nishikage, e disse:
- Ainda que eu não demonstre... Nishikage, você é a pessoa mais importante da minha vida. Você sempre esteve ao meu lado e transformou meu mundo como nunca. Se essas palavras podem lhe dizer isso, Nishikage, eu te...
E o ruivo foi interrompido quando o mais velho lançou seus braços ao redor dele, puxando seu corpo para junto de Nishikage num abraço forte. As lágrimas que já haviam secado retornaram com força total, agora em meio a soluços e risadas que teimavam em sair, totalmente sem saber ou se importar se deveria ou estava autorizado a fazer isso. Desde que o conheceu, Nosaka nunca o havia visto tão feliz, e também nunca havia sido abraçado daquela maneira. E sentir aquele calor era uma sensação boa e inédita. Algo que ele poderia se acostumar daqui para frente.
Se deixando levar, Nosaka pousou suas mãos nas costas de Nishikage e o abraçou de volta, se permitindo até a fechar os olhos e aproveitar a engraçada sensação de estar nos braços de alguém. Não demorou muito para que o ruivo também sorrise.
Ao soltá-lo, Nishikage limpou as lágrimas e admirou mais uma vez o lindo presente que seu amigo havia lhe dado. Nosaka o olhava de canto, tentando compreender a mistura de sentimentos que corria por suas veias naquele momento.
- Nosaka-san... Muito obrigado! – E isso foi tudo o que ele conseguiu dizer, em um amável sorriso.
O imperador pousou a mão no ombro do seu cavaleiro.
- Eu que agradeço. Feliz aniversário.
De fato, Nishikage nunca poderia ter adivinhado a maneira como Nosaka tornaria aquele dia o mais feliz e especial de todos.
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