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História Caminhos de Sangue - O despertar


Escrita por: trishakarin

Notas do Autor


Eu ia postar de manhã, mas por motivos que não foram meus, não deu! Mas aqui está (e vocês vão se acostumando, dessa vez a visão não é só de uma delas, notei que que queriam sempre a visão da outra nas histórias e agora vocês vão ter).
Conheçam Mariana!!!!!

Capítulo 3 - O despertar


Fanfic / Fanfiction Caminhos de Sangue - O despertar

Os passos suaves soavam no piso liso e branco do Hospital Pedro Moreira, a noite estava silenciosa, os pacientes controlados, os funcionários quietos. Não era um dia comum nem mesmo para a cidade de Rios Azuis, que havia amanhecido debaixo de uma densa nuvem negra, que não deixou nem mesmo as gotas de água caírem na terra macia da pequena cidade.

Mariana atravessava os corredores, seguindo até a ala 2, onde atendia os pacientes de sua lista de obrigações. Carregava remédios e fichas em um pequeno carrinho e seguia de acordo com a numeração. Um calafrio diferente percorria por sua espinha ao passar pelo corredor, um batimento alterado em seu coração chamava sua atenção, fazendo-a acelerar o passo sem nem mesmo saber o motivo de estar fazendo aquilo. Não olhou para trás, simplesmente seguiu apressadamente até a porta de número vinte e dois, abrindo-a e entrando em seguida, fechando-a logo atrás de si.

Mariana Castro era uma jovem de apenas 23 anos, que formou-se em enfermagem e agora trabalhava ainda de maneira probatória, antes de uma contratação mais válida. O homem que estava no quarto 22 tinha quase oitenta anos e foi vítima de uma tentativa de assalto. O criminoso não era da cidade, afinal todos se conheciam, mas um visitante que tentou tomar vantagem. Moradores reagiram imediatamente e o homem fugiu do local, não sendo mais visto desde então. Já o senhor Vieira não, ficou caído ao chão e levado urgentemente ao primeiro hospital. A faca foi cravada certeira em seu rim esquerdo, e infelizmente aquele homem havia perdido seu órgão. A enorme perda de sangue resultou em diversos outros problemas, que os médicos ainda tentavam contornar, ainda que soubessem o real andamento daquela situação.

O homem não parecia reagir aos remédios, nem mesmo à alimentação inserida diretamente em seu sistema sanguíneo. Mariana sentava ali sempre, por alguns minutos conversava com o homem que nem mesmo parecia entender o que estava acontecendo, mas era a única forma de pensar que seu coração e seu corpo ainda funcionavam. Era comum sentar e falar como o seu dia estava indo ou quanto o fim do relacionamento de três anos ainda machucava. Era um ouvido que apenas estava ali para ouvir e um sossego, uma paz tomava conta de si, como se o senhor Vieira estivesse ali aconselhando-a. Não demonstrava isso para os colegas, com certeza a chamariam de louca. Conversar com um corpo inerte, que sequer estava ali.

Mas naquele dia, Mariana sentou-se na cadeira de costume e olhou para o rosto enrugado do paciente. Estava diferente, não carregava mais a expressão tranquila que era de costume, de quem apenas descansava. Mas um olhar assustado, amedrontado. Esperava que todas as gotas do antibiótico entrassem em suas veias, percorressem levando uma chance de suportar mais um dia, mas a expressão que ele tinha demonstrava a pouca vontade de continuar.

- Senhor Vieira - disse suavemente - O que aconteceu hoje?

Nenhuma pergunta viria com resposta, ela sabia disso. Não naquela situação. Mas bem distante, dentro do fundo do coração, tinha uma pequena esperança daquele homem acordar.

- Não se preocupe, nós vamos salvar o senhor, se esse for o incômodo. Mas você precisa continuar lutando.

O tempo passou lentamente, quando a pequena bolsa de remédio esvaziou-se, Mariana ergueu-se, inserindo novamente o tubo com o soro e apertando a mão do homem com delicadeza. Ele jamais recebeu visitas, apesar dos familiares morarem na cidade. Era algo que o enfermeiro acabava suprindo, mas sem razão. Muitos não tinham esse cuidado, esse carinho, não davam esse tipo de atenção. A maioria simplesmente realizava suas obrigações e partia sem nem mesmo um olhar de compaixão. A frieza com a qual lidavam com aquele tipo de situação, de um homem que já estava cada dia próximo a morte, era necessária até para a saúde mental dos profissionais. Mas não Mariana, jamais conseguiria olhar com descaso para um paciente, ainda que não falasse ou sequer acordasse.

Mariana fechou a porta e seguiu para o quarto seguinte. Diferente do quarto anterior, o quarto vinte e três era agitado. Assim que abriu, o sorriso amarelo do idoso Nicolas Santos de setenta e oito anos recebeu a presença de sua enfermeira favorita com bastante alegria e animação.

- Mariana, minha menina.

- Como o senhor está hoje, Nicolas?

- Estou daquele mesmo jeito - ele riu enquanto ela apertava-lhe as mãos - No mesmo lugar, a mesma saúde, nem melhor, nem pior.

- Mesma saúde? O senhor é de ferro!

- Ah, minha filha, quem me dera.

- Está fazendo aniversário de um mês aqui – riu.

Mariana colocou um pequeno tubo semelhante a uma torneirinha e inseriu na veia do homem. Ele fez uma careta costumeira, não que o líquido doesse em sua entrada, mas apenas mover a agulha causava desconforto.

- Essa noite foi estranha - Nicolas falou com a voz seca.

Mariana olhou para o senhor, tentando analisar se aquela frase foi dita diante o incômodo do remédio, que quando tomado por muito tempo pode afetar de alguma forma os sentidos, ou se algo realmente aconteceu.

- O que houve?

- A menina Mariana já havia partido, quando as coisas ficaram estranhas.

- Aconteceu alguma coisa depois que saí?

- O ar fica gelado…

- O ar condicionado? Está resfriando demais a noite? Se quiser posso pedir para diminuírem.

- Não é o ar condicionado - os olhos escuros penetraram no azul celeste dos olhos de Mariana e o coração da enfermeira acelerou freneticamente - Alguma coisa acontece quando o sol desaparece, menina.

- Como o que?

A sonolência causada pelo remédio colaborou para que Nicolas caíssem em um sono pesado e deixasse as dúvidas tomarem conta da mente de Mariana. Havia sentido alguma coisa muito estranha, da mesma maneira como ele narrou. Mas isso acontecida as vezes. Tirou a bolsa de remédio e saiu do quarto, indo até o próximo.

Lorenzo já estava prestes a partir. Já havia sido declarado a parentes que ele não conseguiria vencer a doença e acabaria morrendo. Foi feito de tudo até que os seus órgãos começaram a parar de funcionar. Apenas remédios para dor eram dados, para que chegasse sua hora sem muito sofrimento. Mariana sentia o coração entristecer-se quando via cenas como aquela se repetirem com frequência e a tristeza maior é que na ala a qual trabalhava, os filhos e parentes sequer visitavam os idosos. Era ainda mais doloroso quando a última lágrima da solidão deixava os olhos cerrados daquelas pessoas. Lorenzo estava com um rosto sereno, sem grande diferença. Ninguém sabia o que cada um deles passava diariamente ou como era a vida antes de estarem ali.

Puxou suavemente seu braço para que pudesse aplicar a dose de remédio. A pele já estava esfriando, talvez não passasse daquela noite. Antes que conseguisse colocar a agulha, o braço se moveu com força e a mão apertou seu antebraço com violência causando uma dor quase insuportável. Mariana sentiu o coração quase sair da boca e o rosto esfriar, como se o sangue parasse de percorrer suas veias com o medo que lhe tomou conta. Segurou a mão do homem, que agora se contorcia para a frente, com os olhos arregalados e a boca entreaberta, como quem quisesse dizer alguma coisa. Não era algo anormal, algumas pessoas reagiam antes de morrer de diversas formas diferentes. Alguns acordavam, outros simplesmente dormiam, outros ficavam agressivos. Haviam formas completamente diferentes de reações pré-morte.

A enfermeira imediatamente alcançou o botão que convocava a presença de algum profissional da saúde repetidas vezes, em total desespero. O homem ainda apertava seu braço, e em um momento seus olhos encararam os de Mariana. Havia medo por trás deles, muito medo. Algo que jamais poderia explicar.

- A… dama… das… trevas – balbuciou. 



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