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História Capuz Escarlate - Legado do lobo - Capítulo 4


Escrita por: Na-Sama

Capítulo 5 - Capítulo 4


 

Pub do caolho, o nome em si só poderia ser uma brincadeira, ainda mais quando se conhecia o dono do dito pub, um ciclope de nome Caolho. Na verdade, seu nome verdadeiro não era esse, mas como poucos conseguiam pronuncia-lo por se tratar de uma palavra da língua antiga, ficou esse apelido estranho tendo em vista que um ciclope caolho nunca existiria. Caolho detinha o seu único olho em meio a sua testa, apresentava uma íris avermelhada típica de seres da sua raça. Além disso, também era calvo, outro traço comum dos ciclopes, algo que Caolho odiava e por isso usava uma peruca de cabelos negros cujo penteado fazia com que o ciclope parecesse que utilizava uma tigela peluda como capacete. Na opinião de Victor, se Caolho pretendia sair do status encalhado a primeira coisa que deveria fazer era se livrar daquela peruca ridícula.

-Eu não pedi isso...-Reclamou o caçador ao ver o copo de suco que lhe foi servido por Caolho.

-Eu não sirvo a menores de idade, sabes disso.

-Talvez devesse marcar um oftalmologista, seu único olho deve estar com defeito! Se não percebeu, eu já tenho 18 anos!

-A idade física não equivale a mental. –Falou o ciclope com um meio sorriso que deixava momentaneamente a vista seus vários dentes pontiagudos.

-Como é que é? –Victor se levantou do banco em que estava sentado no balcão do bar, queria demonstrar o seu tamanho e o quanto tinha crescido, mas era meio difícil fazer essa comparação, ciclopes tem três a quatro metros de altura de modo que eles veem todos os humanos como baixinhos.

-Deveria ficar feliz que não te dei um copo de leite, dizem que isso ajuda as crianças humanas a crescerem. Pensando bem, vou trocar o suco por leite...

Victor protegeu o seu suco, impedindo que a grande mão do não-humano o pegasse. Já era humilhante demais ter recebido uma bebida sem álcool, pior seria receber leite!

-Você está meio desatualizado sobre como a sociedade humana se organiza, para a sua informação 18 anos já me define como um adulto. –Enfatizou, não iria admitir ser tradado como um garotinho, tinha conquistado sua independência...Pelo menos em parte, seus tutores ainda eram responsáveis por suas finanças até que alcançasse os 21 anos.

-Eu não me importo com o que vocês humanos definem como adulto ou não. Esse é meu pub e são minhas regras, filhote. Além do mais, não quero ter problemas com os seus padrinhos.

-Você andou falando com os Grimm? Eles te proibiriam de me servir bebida?

Caolho deu uma risada, os copos sob o balcão tremeram com o ressoar do som rouco emitido pelo ciclope.

-Eu me lembro de você quando tinha esse tamanho. –Indicou o dito tamanho unindo o dedo polegar e o indicador em uma mão. Victor corou, sabia que Caolho era um dos velhos amigos de seus pais, aliás, fora naquele mesmo pub que seus pais se conheceram e começaram a namorar, ou a brigar, já que sua mãe tentou prender o seu pai por ele estar metido em apostas e jogatinas que ocorriam no pub do Caolho, um caçador não deveria se meter nessas coisas, ainda mais ser organizador e claramente roubar nos jogos. Deste primeiro encontro conturbado surgiu a faísca do amor. Quem diria, não é mesmo? Eles eram totais opostos.- Eu ainda te vejo como um filhote, não importa o quanto argumentes. Nisso eu e os Grimm concordamos.

-No que? Em se negarem em ver a minha maioridade? –Resmungou tomando um trago de seu suco.

Caolho voltou a gargalhar, para o desconforto e irritação de Victor.

“Talvez eu devesse buscar outro Pub...” Pensou decidido, mas relutava em fazê-lo. Aquele ambiente era por demais familiar, quase como um segundo-lar.

-Não o provoque tanto, Caolho. –O sino preso a porta de entrada anunciou a entrada de mais um freguês, o jovem caçador se virou já detendo um sorriso no rosto.

-Malcom! –Exclamou com entusiasmo. O homem ocupava quase toda a porta do pub e deve-se enfatizar que tal porta era larga, tendo em vista que servia de passagem para todo o tipo de criatura incluindo o próprio dono do estabelecimento. Malcom era grande, não como um ciclope, lógico, mas podia se passar tranquilamente por um membro daquela raça, sendo, talvez, um ciclope baixinho. Contudo, só o tamanho era que tinha de semelhança a aquela raça de não-humanos, afinal Malcom, ao contrário de Caolho, tinha dois olhos e bastante cabelo. Era um humano, um caçador aposentado, as velhas cicatrizes estampadas em seu rosto e o braço direito que a muito tempo tinha já perdido sua mobilidade e estava preso a uma tipoia feita com tiras de couro denotavam as consequências de pertencer a ordem dos Capuz Escarlates.

-Garoto! –Disse o ex-caçador –Vejo que está se aproveitando de sua vida adulta, não é mesmo? –Indicou o suco e piscou.

-De acordo com Caolho e meus tutores não são adulto o suficiente para aguentar uma bebida alcoólica.

Malcom se sentou ao seu lado. Seus cabelos negros sempre estavam desalinhados, desta vez, podia-se ver resto de folhas e galhos nele, isso sempre atiçava a curiosidade de Victor, pois sabia que mesmo estando aposentado aquele caçador veterano ainda exercia a sua profissão, muitos, tal como Malcom, ao se afastarem da ordem devido a algum dano –físico ou mental- que o tornava inapto a exercer sua função de caçador com eficiência, ao se jubilarem  se tornavam mercenários,  trabalhavam em empresas privadas de segurança ou até mesmo adentravam para a guarda real. Todavia, até o momento, Victor não sabia ao certo o que aquele caçador veterano se dedicava e toda a vez que perguntava, Malcom habilmente mudava de assunto.

-Eles estão te mimando. –Sorriu o velho caçador e deu um cafuné nos cabelos loiros de Victor que soltou um resmungo indignado, será que todos irão trata-lo como uma criança hoje? –Devia se considerar sortudo!

-Oh...Sim. –Rolou os olhos com o comentário.

-Mas, creio que sua família postiça está exagerando um pouco...- Malcom coçou o seu queixo recoberto por uma barba escura e densa – Quanto a bebida, pelo menos.

Isso parecia chamar a atenção do jovem caçador.

-Que achas de provar um pouco disso? – Retirou uma garrafa de vidro de um bolso do sobretudo que estava usando.

-O que é? – Inqueriu Victor já curioso.

-Outra obra sua? –Caolho levantou a única sobrancelha que possuía – Bebida destilada artesanal... Imagino o que criaste desta vez.

-Está interessado em comercializar minhas criações? –Malcom piscou para não-humano –Podemos negociar um bom preço!

-Duvido muito que algum membro de meu pub tenha coragem o suficiente para...

Caolho subitamente parou de falar, o caçador aposentado o fitou confuso e depois dirigiu o seu olhar para o seu lado, tentando entender o que teria surpreendido o ciclope. Victor tinha pegado a garrafa e a bebia com avidez. Ao fim, pós a garrafa na bancada reproduzindo um tilintar do choque do vidro com a madeira. Limpou os lábios com as costas da mão e exibia um sorriso triunfante.

- E então? –Questionou Malcom.

O rapaz já iria expressar sua opinião quando começou a sentir seu corpo esquentar. Sua garganta ficou incrivelmente seca. Tossiu e arfou. Lágrimas verteram dos seus olhos.

-O q-que...-Nem conseguiu formular uma pergunta.

-Minha mais recente obra-prima, eu a chamei de Inferno. –Disse o velho caçador, orgulhoso, pegando a sua garrafa e bebendo o seu conteúdo, porém, ao contrário de Victor, não expressava nenhum efeito colateral, pelo menos não aparentava.

Caolho emitiu um baixo rosnado e deu um copo de água fria para o humano que agonizava.

-E você ainda quer que eu venda uma coisa desta em meu Pub?

-Ora, o garoto até que aguentou bem, não é mesmo?

Victor ainda ofegava e meio trêmulo, talvez seus tutores estivessem certo, não estava preparado para as bebidas adultas.

Caolho fez um sinal reprovativo com a cabeça.

-Não sei como ainda não foste preso por fabricar esses venenos.

-Não são venenos e sim meus bebes! –Malcom beijou a sua garrafa, agora vazia, com afeição – A culpa é de vocês que não sabem apreciar uma boa bebida.

-Você está bem, Vicky? –O ciclope encarou o rapaz com preocupação.

-Estou bem. –Forçou um sorriso, não queria parecer fraco ainda mais por que isso só resultaria que eles o tratassem ainda mais como um adolescente imaturo.

-Viu? O garoto está bem! Seu pai, Erick, era um dos poucos que apreciavam minhas criações.

-Erick era um louco, assim como você. –Resmungou o ciclope, mas havia um grau de afeição em sua fala, provavelmente causada pela a lembrança do falecido caçador.

-Meu pai... Ele conseguia aguentar esse tipo de bebida? –Perguntou Victor, ansioso para saber mais informações.

Malcom exibiu um grande sorriso, era por isso que o jovem caçador esperava ansioso pelo o retorno daquele estranho homem, fora um antigo companheiro de seus pais, logo tinha muitas histórias para contar sobre as aventuras de Elizabeth Jägered e Erick Lébedev. Desta forma, preenchia o vazio acerca de seus questionamentos sobre como era a vida daqueles grandes caçadores. Infelizmente, os Grimm não podiam ajuda-lo muito em relação a isso, eles não conviveram lado a lado com seus pais, na verdade, Victor não entendia muito bem como sua mãe os conheciam e tão pouco por que os colocou como seus tutores e responsáveis para presidir a ordem dos Capuz Escarlates. Malcom, por outro lado, pareciam ser mais íntimos de seus pais, fora ele que ensinou Victor a atirar, não que precisasse de muita ajuda nisso, como o velho caçador gostava de frisar, Victor era praticamente um autodidata em relação a caça.

-Seu pai gostava de fazer competições de quem bebia mais neste mesmo Pub, lembra-se Caolho?

-Lógico que me lembro... Na verdade, me lembro das brigas depois e dos danos provocados ao meu estabelecimento!

Malcom soltou uma gargalhada.

-Ainda mais, deve-se levar em conta que Erick era um verdadeiro mestre no blefe e na lábia. Quem sabe, ele nunca deve ter provado de suas horríveis bebidas Malcom, podia muito bem estar te enganando o fazendo achar que tinha provado, tendo em vista que fazia algo parecido nestas mesmas competições. –Disse o ciclope em um tom provocador.

O velho caçador se calou, de imediato.

-B-bem... Nunca iremos saber se de fato ele bebeu ou não das minhas criações. –Disse por fim, meio carrancudo e também, igualmente triste.

Victor sentiu um peso tomar conta de seu coração. Sentia um pouco de inveja por Caolho e Malcom, eles tinham memórias sobre seus pais, algo que ambicionava tanto em ter. Suas lembranças do passado se concentravam, praticamente, na noite em que seus progenitores foram assassinados. Antes disso? Era um completo vazio. Jacob uma vez lhe dissera que era provável que tivesse bloqueado as memórias antes do incidente. O seu maior medo era que suas únicas lembranças de seus pais permaneçam sendo a sua horrível morte. Ansiava por conhece-los mais... Queria, de alguma forma, apagar as imagens dos cadáveres cobertos de sangue e praticamente devorados. Eles não tinham rosto... Não tinham nada. Apenas era os restos dos grandes caçadores do século.

Cerrou o punho, a apatia provocada pela a bebida já estava se esvaindo. Tinha vindo ao pub tentando relaxar e esquecer da reunião com os Grimm, não queria ter que pensar na decisão que teria que tomar. Aceitar ou não o seu parceiro. Ao aceitar perpetuaria na ordem, se negasse seria expulso. Ao final, não tinha muita opção de escolha. Ser um caçador era uma condição necessária para que encontrasse os responsáveis pelo o assassinato do seus pais.

-Você está bem, filhote? –Coalho colocou mais um copo de suco para Victor que o aceitou sem reclamar, desta vez.

-Estou ótimo. –Agora exibiu um sorriso verdadeiro.

-Bom, pois eu tenho umas histórias para contar. –Piscou Malcom – Será que tens tempo para ouvi-las?

-Lógico que tenho tempo!

-Perfeito. Acho que essas histórias vão te ajudar em sua jornada rumo a “maioridade”. –Provocou.

-Que histórias pretende contar? –Perguntou o ciclope, desconfiado.

-O dia em que Erick e eu fomos a um bordel! –Disse retirando mais uma garrafa de um dos bolsos e a bebendo – Sem dúvida irá servir de “referências” futuras.

-Er... –Victor nada falou, resolveu beber o seu suco a grandes goles, ignorando o quão embaraçado deveria estar no momento.

-Sei que não gostas muito de grandes peitos e essas coisas, garoto. Mas, a técnica para a fornicação é praticamente o mesmo. Independente se seu parceiro for fêmea ou macho.

-Pelos deuses. –Caolho rolou os olhos –O filhote não precisa saber destas safadezas.

-Sei que também está doido para saber. –Piscou travesso para o ciclope –Afinal, sei que ainda é virgem.

Ciclopes podiam corar? Victor não saberia responder essa pergunta, pelo menos a momentos atrás, agora tinha total certeza que o rubor que dominou o grande rosto de Caolho se classificaria como um corar.

-Maldito Malcom! –Rosnou feroz.

-Shhh! –O velho caçador levou o dedo indicador aos lábios –Quieto, vou contar a história. Vê se aprende. Afinal, sua habilidade de cortejar uma ciclope fêmea é praticamente nula.

Caolho ajeitou a peruca negra, nervosamente. Victor conteve uma risada.

-Aonde eu estava mesmo? Ah! Sim! O bordel! –Pigarreou, assumindo uma postura de “contador de histórias” – Era um lindo dia de primavera...

 

***

 

As batidas constantes a porta pareciam atingir diretamente ao seu cérebro. Victor resmungou, tentou tapar o som com o travesseiro, algo que fora impossível. Quem quer que estivesse batendo era bastante insistente. Abriu os olhos e tentou se levantar, por pouco não caiu. Sua cabeça latejava e seus sentidos estavam lentos. Será o efeito a longo prazo do inferno? Talvez estivesse tendo uma ressaca.

-Perfeito...-Resmungou massageando a testa e se dirigindo, cambaleante a porta. Nem se lembrava a que horas retornara do pub. Foram tantas histórias e sucos que praticamente esquecera de suas aflições.

“Será que é a sindica?” Não fazia sentindo, já que, desta vez, não usara suas armas para anunciar o novo dia.

Finalmente alcançou a porta e a abriu com fúria.

-Quem...-A pergunta morreu em sua garganta.

Klaus estava ali, com sua mão levantada, pronto para dar mais uma batida, algo que evidentemente já não era mais necessário. Victor engoliu em seco, não esperava ver o lobo assim tão sendo e ainda mais...

Os olhos amarelos se centraram no rosto confuso do caçador e logo desceram por seu corpo nu. Se detendo, consideravelmente, na região sul.

Victor conteve uma exclamação e fechou a porta. Pela a primeira vez se sentiu embaraçado por dormir pelado.

-Merda... Isso deve ser um tipo de pesadelo? –Choramingou fechando os olhos. 



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