História Cartas Para Você - Panquecas de Banana

PANQUECAS DE BANANA

 

          Hoje faz exatamente 17 dias que não escuto a sua voz, que não consigo olhar em seus olhos. Sinto que morro a cada dia. Desde o que dia te conheci percorro meus olhos por todo o campo a sua procura. Em minha cabeça tenho nítido o dia que nós conhecemos. Foi em uma festa, você se lembra?

          A festa ocorria em um galpão que até então era abandonado. O lado de fora era assustador, quando cheguei ao local me perguntava “O que estou fazendo aqui?” mas dentro do local, as paredes desgastadas pelo tempo foram cobertas com grandes lençóis pretos. Confesso que fiquei admirado como aquele lugar se parecia com uma boate, uma boate real. O bar era luxuoso e a cabine do DJ ficava no alto. Lembro de ter andar entre a multidão a procura de algum rosto conhecido até que achei um grande amigo meu, estávamos conversando apesar da música alta atrapalhar, o que acarretou a várias risadas. Meu amigo ficou surpreso quando uma mão tocou em seu braço e eu acompanhei com o olhar para ver quem estava chamando a sua atenção. Meu Deus, era a criatura mais bonita que já tinha visto.

          Eu estava sem reação, só conseguindo observar a conversa que os outros dois tinham. Escutei que você estava fugindo de um amigo que já tinha bebido muito e que queria ficar com você, meu anjo. Sua voz – apesar do barulho – era calma e seu sorriso iluminava ainda mais o local, brilhando mais que as luzes coloridas. Explicava que não queria estragar a amizade com o amigo que fugia e que não nutria sentimentos por ele, então resolveu fugir dele com medo de um possível fora que desse estragasse a amizade também. Eu estava viajando observando aqueles lábios se moverem, a forma que eram umedecidos ou que formavam um sorriso até que o nosso amigo em comum me chamou, me acordando daquele sonho perguntando sobre o que eu achava do assunto – que não estava prestando atenção -  e sem saber o que respondi apenas sorri. Poucos instantes depois aquele anjo dos cabelos negros se despediu pois percebeu que o que amigo que estava fugindo estava se aproximando do local. Após a sua partida, perguntei ao meu amigo qual era o seu nome e que curso fazia – da forma mais desinteressada que conseguia mostrar, o que foi muito difícil – e assim ficaram marcados em meu peito. Não vi aquele anjo caído mais durante a festa e temia que tivesse se agarrando ao amigo.

          Mentalmente me perguntava "Como não tinha visto aquele ser tão bonito no campus antes?"

O jovem estudante permanecia a frente de seu computador encarando o seu texto com receio de postar no site. O medo crescia que talvez Sungmin o odiasse ainda mais por expor suas vidas para toda a faculdade – mesmo que sem saber quem eles eram. Ele respirou fundo e apertou o botão enviar. Estava feito. Ele rolou a página do site e visualizou a postagem antiga, correu o mouse até os comentários e clicou.

Tinham comentários de todos os tipos, meninas falando que ele não deveria sofrer e procurar outra pessoa, pessoas que falavam que nunca pensaram que ele poderia amar – o que fez o jovem soltar uma risada pois a forma que escrevia deixava as reportagem parecia que ele era insensível – e o comentário que mais chamou a sua atenção foi um em especial

“Você não acha que esta indo longe demais? Você já parou para pensar que essa pessoa que você supostamente ama pode estar sofrendo ao ver a sua vida intima exposta? Talvez esteja na hora de você deixar de ser egoísta e pensar também na outra pessoa”

A culpa tomou seu corpo.

Kyuhyun levantou-se da cadeira desligando o computador. Seu quarto era pequeno, possuía apenas uma mesa onde ficava o seu computador, uma grande estante de livros e uma cama de solteiro. O jovem estudante deitou-se na cama sem trocar de roupas e encarou o teto branco. Sua mente explodia de informações. “Quem será que mandou eu parar de telefonar? Como o Sungmin está? Ele está lendo as minhas postagens? O ódio dele cresceu?” Continuou se torturando até dormir.

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Ele não conseguia enxergar direito. Seus olhos estavam vermelhos e as lagrimas não cessavam de cair. Os cabelos negros estavam bagunçados. Bolsas escuras estavam formadas embaixo dos olhos negros e intensos após mais uma noite sem dormir – apesar de seu organismo estar acostumado por realizar vários trabalhos em metas curtas – dessa vez seu travesseiro era o principal cúmplice de suas lagrimas. O despertador tocou e rapidamente ele for jogado longe ecoando um grande barulho pelo apartamento. Ele estava cansado de tudo. Levantou-se lentamente e seguiu em direção ao banheiro ignorando “Bom dia” que o seu companheiro de apartamento dizia. Encarou-se a sua face no espelho, não a reconhecendo. “Quando fui que fiquei tão acabado assim?” se perguntava mentalmente. Ao sair do banheiro após a sua higiene, deu de cara com o seu companheiro de apartamento.

- Você está péssimo!

- Cala a boca Ryeowook! – o mais velho entre os dois sentou-se na mesa ignorando o olhar preocupado do menor.

- Sungmin.. – escolhia as palavras com cuidado – Você leu, não leu? – tomou o seu lugar na frente do outro encarando-o apesar do mais velho parecer concentrado em cortar o pão.

- Que diferença faz? – deu os ombros enquanto preparava o pão

- Faz muita – o mais novo pegou na mão do moreno – Você sabe que faz.. Ele está arrependido, você sabe disso. – O maior largou o pão e encarava o outro – Ele também está acabado.. Você devia falar com ele.. 

- Droga Ryeowook! Perdi a fome! – levantou-se da mesa rapidamente – Vou para a droga da faculdade!

O estudante de administração pegou a mochila e saiu rapidamente pela porta.

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O estudante de jornalismo estava sentado no seu lugar de costume, encostado na árvore na frente do prédio da administração. Ele saia todos os dias rapidamente da aula e seguia para o seu local, para poder visualizar Sungmin saindo do prédio com o sorriso que sempre esboçava após o termino da aula. Era cedo e o campus estava vazio, apenas alguns funcionários estavam no local e alguns poucos alunos.

Kyuhyun sentia falta daqueles dias, onde após o termino das aulas ele ia para o apartamento do mais velho ou para o seu junto com ele. A dor invadia o seu peito, fazia vários dias que não via Sungmin, era como se ele estivesse faltando aula ou usando caminhos diferentes para não encontrar com o mais novo. O seu corpo pareceu que ia se desligar quando observou o mais velho andando distraidamente sem ao menos perceber a presença do maknae no local. O coração do futuro jornalista deu indícios que iria falhar, suas pupilas dilataram e suas mãos estavam molhadas. Era a chance que ele tinha de falar com o mais velho.

Caminhou em passos grandes e rápidos em direção ao moreno, que quando percebeu também apertou o passo entrando o mais rápido possível no prédio. O maior correu ao perceber que o outro estava fugindo, ao passar pela porta do prédio não o viu no corredor grande e longo. Entrou em todas as salas do corredor principal, não encontrando o mais velho, ao sair da ultima sala visitada caminhou lentamente até a entrada do prédio, mas no meio do caminho observou a porta grande e larga de chumbo da escada de emergência. Permaneceu encarando-a por um longo momento.

- Kyu, alguém pode encontrar a gente aqui! – disse o mais velho enquanto o maior o apertava contra a parede beijando o seu pescoço. – É sério..

- Minnie, eu estava com saudade, e além do mais está em horário de aula, todos estão nas salas – Selou os lábios do moreno que agora envolvia os braços em seu pescoço.

- Só você para me fazer matar uma aula importante – sorriu ao fim voltando a beijar o mais novo.

O mais novo empurrou lentamente a porta sem fazer barulho, a escada estava escura, então piscou várias vezes até que seus olhos se acostumassem, visualizando um Sungmin frágil sentado embaixo da escada abraçando os joelhos. O maknae se odiava ao ver o mais velho daquela forma, se aproximou lentamente.

- SAI DAQUI! – sua voz era carregada de ódio e raiva – Não bastou o que fez comigo aquele dia? Agora quer me perseguir?

O maknae continuou andando até parar na frente do moreno, sentando ao seu lado.

- Eu estou arrependido. Você sabe que estou. – Ele encarava o mais velho, que continuava olhando os joelhos – Você sabe que eu te am..

- Não ouse terminar essa palavra – levantou-se rapidamente encarando o mais novo – Você não sabe o que é isso! Você nunca soube. Não venha falar que está arrependido, na hora você teve escolha Kyuhyun! Você teve escolha! – os olhos do mais novo estavam levemente marejados e o menor respirou fundo

- V-você.. – tomou fôlego e coragem – ao menos leu o que escrevi sobre você?

Os dois se encaravam, o maior permitia suas lagrimas a caírem e mais velho apertava fortemente o pulso tentando aliviar da vontade de chorar.

- Que diferença faz? – repetiu a resposta de deu a Ryeowook sobre a mesma pergunta.

O mais velho saiu rapidamente da escada de emergência antes que tivesse que responder, quando percebeu que não estava sendo seguido pelo maknae começou a correr sem direção, permitindo agora expor seus sentimentos – deixando as lágrimas caírem.

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Ryeowook encarava receoso a pagina da internet, movendo seus olhos para o microfone a sua frente e Yesung que apresentava um semblante preocupado e nervoso.

Em dentro de 5 minutos ele estaria no ar na rádio da faculdade e o diretor do programa mandou que lesse ao vivo a carta anônima que tinha acabado de ser postada no site MeuPontoDeVista.com. Seu estômago embrulhou ao imaginar a raiva que seu companheiro de apartamento sentiria ao escutar a sua voz falando o que o seu ex-namorado queria falar.

O radialista e estudante de música lia mais um vez a carta – ele um dos poucos que sabiam quem era o autor e para quem era direcionada, estava surpreso dela ser postada durante o período de aula e em menos de 12 horas desde que a ultima foi postada. Yesung depositou um beijo em sua testa e saiu da cabine, o diretor anunciou que estavam no ar e o jovem radialista respirou fundo antes de começar a falar.

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O vento batia fortemente contra o rosto delicado. O sol estava escondido pelas nuvens, o que deixava o tempo um pouco ameno. Ele estava sozinho e reorganizando seus pensamentos, até ser interrompido pela voz que tanto conhecia.

“Boa tarde, agora são 12:05 e começa o nosso programa” a vinheta tocava e junto uma risada foi escutada por Sungmin que acompanhou com os olhos até ver quem a possuía “Amanhã é o ultimo dia para se inscreverem para os testes para o time de futebol..”

O estudante de administração formou em seus lábios um sorriso pequeno ao ver seu amigo, que logo sentou em seu lado.

- Existe vida lá perto do bandejão, sabia? – seus cabelos escuros causavam um grande contraste a pela branca. – Além do mais, o que está aconteceu?

- Hyuk.. Só estou cansado e pensei em ficar aqui. – mentiu, soltado um longo suspiro – E como vai as aulas de dança?

Eunhyuk falava animado, mas Sungmin não prestava atenção, escutando apenas a voz de Ryeowook.

“Bem amigos, hoje de manhã foi postado mais uma ‘carta’ do nosso comentarista favorito e agora irei ler para vocês”

A voz do radialista sumiu e deu lugar a voz que fez o mais velho ter seus pêlos arrepiados. Kyuhyun. Seu cérebro se divertia com a situação.

         Meu amor, aqui estou novamente clamando por sua atenção.. Por seu perdão. Me lembro de como procurava por você pelo campus após o nosso primeiro encontro. Sua imagem ficou cravada em minha cabeça. Meus olhos ficaram encarando o prédio do seu curso, até ver a sua imagem entrando sorrindo enquanto conversava com outros amigos. Fiquei meses te observando de longe, você é tão lindo.

          Mas o nosso primeiro contato de verdade ocorreu em um final de semana, você se lembra? Nosso amigo em comum nós chamou para passar o final de semana em seu sitio. Quando ele me contou que você iria, meu interior estava agitado, apesar demonstrar indiferença. Passei a semana inteira pensando como seria, imaginando na minha cabeça situações onde nós acabaríamos tendo os nossos lábios selados. Engraçado que de todas, o que realmente aconteceu foi muito melhor. Fomos para o sitio na sexta feira, logo quando chegamos separamos os quartos. Bem, nós ‘sobramos’ e ficamos dormindo na sala.

- Yesung, tem certeza que não tem outro quarto? – Sungmin formou um bico em seus lábios - Não quero dormir no chão.

- Desculpe Sungmin, mas aqui só tem apenas 3 quartos.. e Bem, nós somos três casais – ele olhou para todos e voltou a olhar o moreno – Ryeowook vai dormir no meu quarto comigo, Eunhyuk com o Donghae e Heechul com o Hangeng. – formou um sorriso em seus lábios – Não seria justo você dormir em um quarto sozinho.

- Sungmin, você pode dormir no sofá – pela primeira vez o maknae se pronunciava. – Não me importo de dormir no chão.

- Você tem certeza? – o mais novo acenou com a cabeça – Obrigado Kyuhyun – disse sorrindo.

          Nunca achei que ficaria tão feliz em dormir no chão na minha vida. Trocamos apenas um 'Boa noite' antes de dormir, durante a madrugada você dormia tão tranquilo, parecia um anjo. No dia seguinte fomos acordados por um de nossos amigos, as suas feições ao acordar eram extremamente fofas, eu sentia vontade de ir até o sofá e apertar as suas bochechas. O dia seguiu como o planejado, estava sol do lado de fora, e todos nós aproveitamos a piscina do local. Quando o pôr do sol se aproximava, todos nós montamos um fogueira em um local mais afastado da casa principal. 

          Quando a lua iluminou a noite, lá estamos todos nós comendo mashmellows e cantando canções sendo aquecidos pelo fogo, apesar de ser verão. Uma hora você pegou o violão das mãos de um de nossos amigos e começou a tocar Banana Pancakes do Jack Johnson, seus olhos brilhavam, sua voz era tão angelical. Você estava na minha frente, separados apenas pelo fogo, quando percebi estava cantando junto com você e um sorriso se formou em seu rosto quando olhou para mim.

          Quando terminamos a música, percebemos em nossa volta todos estavam se beijando, o que ambos acabamos rindo.

- Sungmin, eu vou entrar – disse o maior entre os dois se levantando – Estou cansado e realmente não quero ficar aqui de vela

- Eu vou com você, realmente não quero ficar aqui de vela.

Os dois estavam caminhando pela estrada de pedras que era iluminada pelos postes, a lua estava bem alta o que fez ambos pararem no meio do caminho para observa-lá. Foi então que os postes se apagaram.

- Droga! – resmungou o maknae olhando para o menor – Sungmin?

Ele estava paralisado.

- Sungmin?- Voltou a chamar, dessa vez segurando nos ombros do outro sacudindo – Me responda, está tudo bem?

- Eu.. – ele hesitava em falar – tenho medo de escuro.

Kyuhyun encarava-o perplexo. Então abriu um sorriso para o mais velho.

- Não precisa ter medo, eu estou aqui. – seu coração palpitava fortemente ao pronunciar aquelas palavras, segurou em sua mão, enlaçando os dedos – eu vou te guiar até a casa. – assim puxou o menor.

O mais velho se manteve em silencio durante todo o trajeto, mas o maknae sentia a respiração dele bater contra o seu pescoço, eriçando todos os seus pelos. As mãos só foram soltas quando chegaram na casa principal. O maior procurou por velas pela cozinha, enquanto o moreno o acompanhava como uma sombra em todos os locais.

          Nossas mãos foram entrelaças pela primeira vez durante uma pane de luz, lembro da sua mão apertando a minha durante todo o trajeto, sua pele macia. Quando estávamos nós dois em suas respectivas camas, você me olhou de uma maneira tão fofa e pediu para que eu segurasse a sua mão até que você dormisse. Puxei o meu colchão para do lado do sofá e estendi a minha mão até que nossos dedos estivessem entrelaçados novamente. 

          Foi nesse dia que escrevi a Primeira Carta. 

Sungmin ao terminar de escutar a carta pelo rádio da faculdade levantou-se rapidamente ignorando Eunhyuk reclamando como Donghae era infantil após o termino dos dois. Correu pela faculdade até finalmente estar no prédio do jornalismo. Ele sabia que todos os alunos estavam em horário de almoço então continuou correndo até finalmente estar parado na porta de uma sala em especial. Abriu a porta sem bater e encontrou sentado na cadeira um rosto familiar, sorrindo como de costume exibindo sua covinha.

- Leeteuk, você tem que mandar ele parar. – sua voz saiu autoritária.