1. Spirit Fanfics >
  2. Cela 132 >
  3. Goddamn it

História Cela 132 - Goddamn it


Escrita por: gucciqeen

Capítulo 29 - Goddamn it


Fanfic / Fanfiction Cela 132 - Goddamn it

Tradução do título do capítulo: Maldito seja.

 




 

Tenciono a mandíbula. Daria de tudo para arrancar aquele sorriso de seu rosto... Pressiono mais meu braço contra seu pescoço.

— Woah... — Balbuciou baixo, por estar com a garganta sendo forçada. — Jeon ficaria orgulhoso em te ver assim... E, provavelmente, ficaria excitado também.

— Te dou cinco segundos para dizer o que está fazendo aqui... — Murmuro entre os dentes.

— Essa também é a minha cela, Jiminie...

— Ei! Vocês dois. Se separem agora! — Ouço a voz grossa e alterada do guarda soar, e solto o pescoço de Taehyung rapidamente, me virando para o homem parado na entrada de minha cela. — Por que não estão posicionados para a contagem?

— Me desculpe, senhor. — Digo baixo, fazendo uma curta reverência para ele, vendo Taehyung repetir o mesmo ato te respeito perante ao oficial. Olho para seu uniforme, vendo o crachá pendurado. Kwon Jiyong. Ele devia ser um dos novos guardas. — Não sei o que ele faz aqui. Essa não é a cela dele.

— Não? — Questionou confuso, e olhou para a prancheta da contagem em suas mãos. —Hm... Você... — Ele apontou para mim. — Você é Park Jimin?

— Sim, senhor. — Assinto com a cabeça.

— E você... É Jeon Jungkook? — Perguntou apontando para o homem ao meu lado, que negou com a cabeça. — Quem é você?

— Eu sou Kim Taehyung, senhor. Cela 521.  — Respondeu colocando as mãos para trás, enquanto o guarda olhava mais uma vez nos papeis da prancheta.

— Eu disse! Essa cela não é dele e...

— Kim Taehyung... Corredor A04? — Questionou alto, me interrompendo, e Taehyung assentiu. — Ele está na cela certa, detento. O corredor A04 foi interditado essa manhã para dedetização por conta de um surto de baratas e roedores. Todos os detentos, das celas 451 a 600, foram remanejados para celas temporárias.

— Mas, isso é ridi...

— Detento. Isso não é um hotel. Acha que pode escolher quem fica ou não em sua cela? — O homem questionou arqueando a sobrancelha, ao me interromper. — E eu acho melhor que não briguem outra vez. — Falou apontando para mim, e então, bufo frustrado, olhando para Taehyung pelo canto dos olhos, que tinha um sorriso irônico nos lábios.

— Não se preocupe, senhor Kwon. Jiminie não costuma ser assim, tão ranzinza... ele só teve um dia ruim... — Kim disse, e então sinto seu braço sendo passado por meu ombro. O encaro pelo canto dos olhos, indignado com seu ato. — Eu vou cuidar bem dele. — O guarda nem ao menos o respondeu. Apenas saiu da cela, a trancando pelo lado de fora. — Viu só? Eu...

Viro meu rosto, e rapidamente, cravo meus dentes em seu braço, fazendo com que o homem se afastasse de uma vez, surpreso pelo meu ato.

— Pelo jeito você gosta de morder... — Disse abrindo um sorriso, acabando por rir baixo.

— Não encoste em mim outra vez. — Murmuro me virando e penduro a toalha, que estava pendurada em meu ombro, nos ganchos da parede.

— Um cachorro bravo... Jeon te treinou bem. — Ouço sua risada baixa, e reviro os olhos. — Vai arrancar a minha orelha com esses dentinhos também, puppy?

Puppy? Ele devia estar brincando com a minha cara...

Paro por um momento, respirando fundo, afim de manter a calma. Referencias sobre aquilo era o que eu mais ouvia desde o ocorrido com Gong Wooyeol.

 

Wooyeol levantou a faca, e de longe consigo ver a expressão surpresa de Jungkook, que deus dois passos largos para trás, desviando-se das facadas que o outro tentou dar contra sua barriga.

Ele não tinha como se defender. Não daria tempo de ele fazer nada...

— Saí daqui, Jimi... Ah... — Ele se interrompeu com o próprio gemido, quando Gong conseguiu atingi-lo na barriga. O corpo dele caiu no chão, e ele tinha uma feição assustada em seu rosto, colocando ambas as mãos contra a faca cravada em seu abdômen.

Meus olhos se arregalaram e foi nesse momento que comecei a correr. Mas, dessa vez, não acatando a ordem de Jeon. Antes que o homem acima do peso pudesse ir para cima de meu companheiro de cela novamente, pulo em suas costas, tentando fazer com que ele se desequilibrasse.

— Sua puta... Acha mesmo que pode me impedir? — Ele falou alto irônico, e então começou a andar para trás, tentando alcançar meu corpo com suas mãos.

Enlaço meu braço no pescoço alheio, numa tentativa eufórica de dar um 'mata leão' no mesmo, mas, ao ver que aquilo não funcionaria, cravo meus dentes na orelha alheia, cortando qualquer tecido ou cartilagem que estivesse entre meus dentes.

— Seu desgraçado! — Ele berrou pela dor.

 

Balanço a cabeça negativamente algumas vezes, afim de espantar aquela memória de minha mente.

— Seria mais conveniente arrancar a sua boca. Você fala demais. — Resmungo baixo, indo até o pequeno armário ao lado do beliche, vendo que não havia sobrado nada de meu jantar na vasilha.

Bufo, percebendo que passaria a noite com fome.

Maldito seja Kim Taehyung.

— Acho melhor eu dormir com os olhos abertos... Dividir a cela com um canibal faminto não me parece muito seguro — O olho indignado, fechando os punhos, tentando controlar meus sentimentos. — Mas, Jiminie... Me responda. Qual gosto tem a carne humana?

— Kim Taehyung...

— Sim, coração? — Questionou em tom inocente, e eu suspiro, sentindo meu corpo esquentar.

— Vamos manter nossos espaços pessoais, para que tenhamos uma boa convivência... E para que possamos garantir a nossa sobrevivência até a dedetização acabar. — Digo tirando minhas botas, as deixando no canto da cela. — Não precisamos conversar enquanto estiver aqui.

— Sabe que isso não vai acontecer... Gosto de conversar com você, Jiminie. — Ele falou se escorando ao beliche, fitando-me dos pés à cabeça. — Bem... acho que vou me deitar agora. — E quando ele estava prestes a se sentar na cama de baixo do beliche, o impeço, segurando seu braço. — Então quer dizer que eu não posso te encostar, mas você pode?

— Você fica na cama de cima. — Respondo o soltando, e então, passo por ele, me sentando na cama de baixo.

— Disso eu não abro mão... quero a parte de baixo. — Cruzou os braços e eu reviro os olhos.

— Por que faz tanta questão? Quer dormir sentindo o cheiro do meu homem? — Arqueio a sobrancelha.

— Oh, então é por isso... — Ele riu, sínico, e então, começou a subir as escadas para a parte de cima da cama. — Tudo bem. Deixo você ficar com ela por cortesia. Mas, em troca, preciso de um favor.

— Não tem que deixar nada, Kim. Essa é a minha cela. Não sua. Tem sorte de eu permitir que você fique na cama de cima... Se eu estivesse mais mal-humorado, você dormiria no chão. — Resmungo, me sentando na cama, e me deitando em seguida. — Não existe favor algum.

— Vai mesmo me negar sua ajuda? — O ignoro, e então, fecho os olhos, insinuando começar a dormir.

O silêncio pairou...

Me aconchego na cama, tentando me concentrar no escuro por de trás de minhas pálpebras, dando até mesmo um leve sorriso por ter "ganhado" tal discussão.

Finalmente ele havia se calado.

— Vamos, puppy...  — Ouço sua voz próxima demais, e imediatamente abro os olhos, dando de cara com o homem pendurado de cabeça para baixo.

— Merda. — Exclamo assustado, colocando a mão contra o peito. — Não me chame assim.

— Por que é tão malvado com o seu colega de cela?

— Não somos colegas de cela. Eu e você seremos apenas dois indivíduos que estão sendo obrigados a conviver num mesmo local. — Murmuro.

— Então... não é porque você vai por baixo e eu por cima que seremos amigos? — Brincou se referindo as posições do beliche. — Você é tão frio... Não liga para os meus sentimentos?

Opto por o ignorar mais uma vez, e então, mudo de posição na cama, ficando de frente para a parede.

— Gong Wooyeol sai da solitária em dois dias. — Ao ouvi-lo, abro meus olhos de imediato, arregalados.

— Como sabe disso?

— Tenho minhas fontes... — Tive certeza de que naquele momento Taehyung sorria. — Sei que quer ele longe... Na verdade, que ele pague. Afinal... Depois de todo o mau que ele te causou... — Ele dizia com a voz calma, lenta. — Agressão física... Assédio sexual. Tortura psicológica... mas, é claro... Isso não é nada quando se comparado a ele quase tirar a vida de seu homem. — A voz dele entrava em minha mente, quase como se ele tentasse me torturar.

 

— Jeon! — Grito alto, fazendo com que minha voz ecoasse no corredor vazio.

Vejo ele se virar, momentos antes de que Gong conseguisse pega-lo por trás. Wooyeol levantou a faca, e de longe consigo ver a expressão surpresa de Jungkook, que deus dois passos largos para trás, desviando-se das facadas que o outro tentou dar contra sua barriga.

Ele não tinha como se defender. Não daria tempo de ele fazer nada...

— Saí daqui, Jimi... Ah... — Ele se interrompeu com o próprio gemido, quando Gong conseguiu atingi-lo na barriga. O corpo dele caiu no chão, e ele tinha uma feição assustada em seu rosto, colocando ambas as mãos contra a faca cravada em seu abdômen.

 

— Você gosta de Shakespeare, não é? — Questionou baixo. — Então conhece a frase... "Cada gota de sangue inocente derramado clama por vingança contra o príncipe queafiou a espada".

— O que você quer de mim, Taehyung? — Balbucio reprimindo as lágrimas e engolindo o choro de uma vez.

— Me ajude a mandar Gong Wooyeol para a área de segurança máxima.

A área de segurança máxima era um setor isolado do restante de Wondong. Era quase como se fosse um outro presídio e ficava completamente afastado do campus onde nós estávamos. Geralmente, pessoas que cometeram homicídio, latrocínio ou então, tráfico de drogas, eram mandadas diretamente para lá assim que chegavam a Wondong. E detentos com mau comportamento e que cometiam crimes dentro do campus, também iam para lá... E raramente voltavam.

As celas eram minúsculas, com capacidade de comportar apenas dois detentos. Nelas haviam vaso sanitário para que o prisioneiro não precisasse sair, até porque, eles ficavam em cárcere 22h horas de seus dias em suas celas, podendo sair apenas 1h para o banho de sol e 30min para tomarem banho no chuveiro, e então, retornavam para o cárcere. Os guardas eram agressivos. Era o inferno em solo humano.

Nenhum detento tinha acesso aquela área...

— Vamos... Não pense muito, Jiminie. Apenas aceite. — Falou manso. — Meu plano só lhe trará benefícios... — Mais uma vez, o ignoro... porém, não com desinteresse, e sim por não saber o que responder naquele momento.

— Por que eu? — Questiono baixo. — Não consigo pensar em motivo algum para você querer a minha ajuda.

— Eu sei o que você tem feito... — Ele cantarolou, sorrindo irônico. — Cobrando os favores de Jeon por ele... Sem o consentimento dele... Que feio, puppy

— Eu só fiz isso duas vezes... Mas, espera, o que isso tem a ver com o assunto? —Arqueio a sobrancelha. — E por que acha que eu confiaria em você? — Me sento na cama, virando-me para ele. — Você é amigo dele.

— Eu nunca fui amigo dele... Eu estava infiltrado. — Respondeu e então desceu do beliche. — Acredite. Eu tenho motivos para querer me vingar dele tanto quanto você... — O olhar do maior foi para o chão. Por um momento, imaginei que em sua mente estivesse passando alguma memória... pois sua feição se fechou. — Ele tirou tudo de mim. — Balbuciou amargo. — Eu ia expor completamente o esquema de contrabando dele aqui. Mas, ele começou a suspeitar... E me expulsou, pouco antes de meter a faca em seu namorado.

Como em um déjà vu, as memórias com Bang Yongguk, o mesmo que havia me agredido com Moon Jongup no banheiro, vieram à minha mente.

 

— Eu não sei se já viu, mas os homens que andam com o Gong, possuem uma tatuagem de dragão no pulso... — Disse sem jeito. Jimin assentiu, já havia visto aquela "marca" antes. Por fim, ele levantou a manga de sua blusa de frio, mostrando um curativo, manchado de sangue, enrolado a seu pulso. — Ele me expulsou e mandou que tirassem a tatuagem de mim depois que eu me neguei a te machucar outra vez ou fazer qualquer coisa que ele me mandasse. — Jimin ficou assustado. Pensou na dor que o maior havia sentido na retirada da tatuagem, e tudo o que ele havia passado todos aqueles anos, ao lado de Gong.

 

Me levanto da cama, e me aproximo de Taehyung, segurando seu braço; ele apenas arqueou a sobrancelha, confuso com minha repentina aproximação, e então, levanto a manga da blusa alheia. Assim que meus olhos se chocaram com o desenho do dragão vermelho, solto uma risada nasal, quase debochada. Inacreditável.

— Eu não sou idiota, Taehyung. — Solto o pulso dele.

— Espera... Não é isso que está pensando.

— Cale a boca. Não me atrapalhe mais a dormir com suas mentiras. — Digo indo em direção a cama.

— Eu não menti para você. Eles realmente me expulsaram... Mas, Gong foi para a solitária no mesmo dia...

— Quer realmente a minha ajuda? — O interrompo, fitando pelo canto dos olhos, ainda de costas para ele. — Tire essa tatuagem.

— Park... como eu...

— Eu não sei, Kim. Dá o seu jeito... Você é esperto. — O interrompo novamente. — Não importo em como vai fazer isso. Se vai esfolar a sua pele até que esse desenho suma ou se vai cortar ela fora... — Ele ficou em silêncio, e então me sento na cama, apoiando minhas mãos no colchão, cruzando as pernas, mantendo um sorriso no rosto enquanto o fitava. — Esse é o preço da minha confiança.

 

...

 

Meus olhos se abrem assim que o a sirene soou pelo corredor. Ouço também o barulho das grades se abrindo, e então, me sento na cama, e fito o chão, me recuperando da ressaca daquela noite de sono intensa...

Mais um dia.

Me levanto, espreguiçando e bocejando, e em seguida olho para a cama de cima do beliche, não encontrando meu temporário companheiro de cela. Me agacho, conferindo se Kim Taehyung não estava em baixo da cama, não o encontrando também.

Mas como ele tinha saído tão rápido?

Não demorei nem mesmo cinco segundos para despertar com o barulho da sirene...

Ele havia desaparecido antes que eu acordasse?

Coço minha nuca, confuso pela situação. Mas, de qualquer forma, não era da minha conta... Na verdade, estava até mesmo aliviado. Os minutos sem ele eram tranquilizantes e dignos de serem apreciados.

Saio de minha cela, e vou direto para o refeitório, sentindo minha barriga roncar, afinal, não havia jantado na noite anterior por culpa de meu companheiro de cela. Pego uma bandeja e vou para a fila, chegando em minha vez rapidamente, logo tendo as repartições da mesma sendo preenchidas pelos detentos responsáveis por servir os alimentos.

— Bom dia, Jimin. — O homem dos aproximados 60 anos, responsável por servir o Kimchi disse. — Como você está?

Park Dohun era o cozinheiro responsável por todas as refeições do dia. Era um homem mais velho, na casa dos 60 anos. Diziam que ele já estava preso antes mesmo de alguns dos guardas nascerem... o que me fazia imaginar o que de tão ruim ele havia feito para ser condenado a tantos anos.

— Bom dia, Dohun. Eu vou bem. — Questiono dando um meio sorriso a ele.

— Fico satisfeito, meu pequeno jovem. Tem notícias de Jeon? — Ele questionou colocando uma colher generosa do macarrão em minha bandeja, e eu nego com a cabeça respondendo a sua pergunta. — Em breve ele estará de volta.

Era rotineiro. Eu entrava na fila, pegava uma bandeja e era servido pelos cantineiros. Nenhum deles conversavam comigo, a não ser Dohun, que me perguntava como eu estava e sobre Jungkook. Ele me recebia sempre com uma energia afetuosa, quase fraterna... como se realmente tentasse me confortar com suas palavras, enquanto seus olhos sumiam num sorriso amistoso.

— Também espero isso. — Forço um meio sorriso e então, faço reverência insinuando estar saindo da fila, porém, sou interrompido por ele. — Oh, você tirou os pontos da testa? — Questiono apontando para seu rosto.

Na manhã do acidente, Dohun havia sido abordado por Jongup na cozinha enquanto cozinhava. A abordagem resultou num ataque, o qual o cozinheiro foi jogado contra a pia, batendo a testa e desmaiando imediatamente. Foi assim que ele e Gong conseguiram as facas. 

— Fui a enfermaria hoje bem cedo tirar. — Contou sorrindo.

— Espero que não fique nenhuma cicatriz. — Respondo dando um meio sorriso.

— Ah, eu não ligo para isso, pequeno jovem. — Ele falou de bom humor, e então apontou para a testa.  — Todos possuem cicatrizes que simbolizam suas lutas para sobreviver.

Espreito os olhos, pensativo sobre aquela frase. Acabo por sorrir novamente para ele, assentindo com a cabeça, numa despedida discreta.

— Espere um segundo. Separei algo para adoçar sua manhã. — Ele tirou de baixo do balcão uma vasilha transparente com algumas fatias de hoddeok*. Pegou um guardanapo, e segurou uma delas, porém, assim que ele colocaria no espaço vago em minha bandeja, o interrompo.

— Eu não posso aceitar... eu não como nada que vai nozes...

— Você ganhou a sorte grande, pequeno. As nozes acabaram ontem. Só tem amêndoas e castanha! — Ele sorriu, e colocou aquele pedaço em minha bandeja.

— Muito obrigado, Dohun. — Acabo por sorrir. — Mas não precisava...

— Não há de quê, Jimin. Precisa ficar saudável... O que Jeon pensaria de mim caso não te alimentasse bem?

Acabo por soltar uma risada baixo e faço mais uma reverência, saindo da fila, e pegando os hashis, porém, antes de me afastar dali, ouço o detento que estava atrás de mim reclamar.

— Por que só ele ganha panquecas? — O homem perguntou franzindo o cenho. — Não ganhei nenhuma.

— E se continuar reclamando vai ter sorte de continuar ganhando comida. Agora caí fora daqui, não vê que está atrapalhando a fila? — Dohun falou apontando para que ele saísse.

Rio novamente, negando com a cabeça e então começo a procurar por Yunhyeong, porém, antes de completar minha busca por ele, vejo uma silhueta familiar sentado na mesa ao canto do refeitório; era impossível não o reconhecer. O uniforme laranja chamativo o deixava completamente visível no meio de todos os outros detentos. Taehyun mexia na comida com os hashis, como se estivesse criando coragem para colocar em sua boca. Suspiro fundo e então me aproximo, parando frente a ele.

— Não é tão ruim quando se experimenta. — Falo colocando a bandeja sobre a mesa, ganhando a atenção do mais novo. Por um minuto, vejo desespero em seus olhos, porém, ao me reconhecer, sorriu aliviado.

— Tem certeza? — Ele questionou baixo.

— Tenho. Você gosta de tofu? — Ele assente com a cabeça. — Pode parecer estranho, mas, eu adoro misturar ele com o ensopado de peixe picante daqui. Combina muito. — E então, Taehyun pegou um pedaço do tofu com os hashis, e mergulhou ao ensopado, levando a mistura próxima do rosto. Cheirou sutilmente e então colocou em sua boca com certo receio. Vejo um sorriso sutil em seu rosto ao mastigar, e então sorrio junto dele. — Viu só?

— É... Não fica nada ruim... Ah, me desculpa, Hyung. Quer se sentar comigo? Prometo não falar tanto...

Fora impossível não ficar incomodado com seu comentário.

Eu havia sido rude demais com ele na noite anterior?

Suspiro e assinto com a cabeça, forçando um meio sorriso, e então me sento com ele.

— Sobre ontem... O que eu quis dizer foi... Bem, só tome cuidado com quem você vai falar sobre sua vida pessoal, ou então, expor a sua opinião.  — Tentava escolher as palavras certas. — Se quer um conselho, não confie em ninguém aqui. Mesmo que pareça valer a pena... Quem muito aposta, acaba ficando sem nada. — Abaixo o olhar, pegando um pouco do arroz. — E você pode pensar que não tem nada a perder, afinal, só temos a roupa do corpo aqui, não é? — Rio baixo, um pouco amargo. — Mas, acredite. Você é precioso demais para perder a si mesmo aqui dentro.

— Eu compreendo o que você quer dizer. Eu vou tomar cuidado com as pessoas... E, obrigado por ontem, hyung.

— Não precisa agradecer. — Ergo o olhar, fitando-o, e então dou um pequeno sorriso.

— Me desculpe por te incomodar ontem. — Falou sem graça, suspirando, porém, antes que eu pudesse repreendê-lo por pensar que havia me incomodado, ele continuou a falar. — Eu queria poder ter me defendido sozinho... Você deve ser bastante respeitado aqui, não é, hyung?

— Eu não chamaria de respeito... Acho que só pararam de me enxergar como uma presa fácil. — Falo baixo, comendo um pouco do Kimchi, e após engolir, volto a falar. — Mas, o mérito não foi meu. Pelo menos, não 100%... Assim como você teve a minha ajuda, eu também fui ajudado por outra pessoa.

Antes de conseguir me responder, vejo o mais novo endurecer o corpo, ao mesmo tempo que fitava algo ou alguém. Logo abaixou o olhar, visivelmente desconfortável. Viro meu tronco sutilmente, procurando o que havia o deixado tenso, e me deparo com Sungmin se aproximando.

— Sungmin... Como vai? — Pergunto sorrindo, e em seguida colocando um bolinho de feijão frito em minha boca e mastigando.

— Vamos encurtar a conversa, Park...

— Acordou com o pé esquerdo hoje? — Sorrio após engolir, e ele revirou os olhos, me ignorando.

Enfiou a mão no bolso tirando de lá um pequeno saquinho, esperando que eu pegasse. Dou um meio sorriso, e então apoio meu rosto em minha mão, fitando-o.

— Não vai pegar? — Questionou irritado e então nego com a cabeça. — Está de brincadeira? Eu gastei metade dos meus créditos da lojinha essas fichas...

— Dê para ele. — O interrompo, apontando com a cabeça para Taehyun, que me encarou confuso. — Aproveite e peça desculpas ao garoto.

— O quê? — Falou indignado.

— Qual a parte você não entendeu? — Arqueio uma das sobrancelhas.

— Não precisa, hyung... — Taehyun tentou dizer, afim de amenizar aquela situação.

— Peça desculpas. — Interrompo o mais novo, falando pausadamente, lento, para que ele entendesse.

O homem suspirou e virou o rosto para Taehyun, que o fitou com um olhar um pouco amedrontado.

— Sinto muito, garoto. — Balbuciou com o maxilar travado, jogando o saquinho com as fichas na mesa.

— Foi difícil? — Indago com um sorriso sínico no rosto, voltando a segurar os hashis.

— Escuta, Park... Você tem brincado bastante com a sua sorte ultimamente...

— Uhum... — Murmuro desinteressado, terminando de comer o resto do Kimchi em minha bandeja, e então, sinto sua mão em meu queixo, segurando firme e virando meu rosto, obrigando-me a o olhar.

— Olha pra mim... — Grunhiu irritado. — Não é só porque devo Jeon que isso me impede de acabar com você... Até porque ele não está aqui agora.

— Quer perder a mão? — Pergunto olhando para seu pulso.

— Maldito garoto atrevido... — Ele rosnou.

— Se afaste, Lee. — Ouço a voz de Yugyeom próxima, e então fito o mesmo pelo canto dos olhos vendo-o ali. — Você não deve gostar muito das suas bolas para estar encostando em Jimin dessa forma... Ainda mais sabendo como Jeon é possessivo com o que é dele. — O homem soltou meu rosto, quase de imediato, consequentemente arrancando um sorriso convencido de meu rosto. — Isso. Agora mete o pé daqui.

— Diga pra esse garoto não procurar confusão comigo outra vez, Kim. — Alertou antes de ir embora dali.

Taehyun suspirou aliviado ao vê-lo saindo, e então segurou o saquinho, confuso com o que havia ali.

— Jimin... — Ouço a voz de Yugyeom me chamar, porém o ignoro.

— São fichas telefônicas. Elas são caras. Precisa trabalhar no mínimo três semanas para conseguir 4 delas. — Explico e vejo uma expressão de surpresa no rosto de Kang, afinal, deveriam ter quase 100 fichas ali. — Cada uma delas equivalem a 5 minutos de ligação.

— Obrigado, hyung... Muito obrigado mesmo. — Falou animado.

— Você também pode trocar elas por créditos na lojinha. Acho que dá pra comprar bastante coisa. Shampoo, condicionador... Lá também tem algumas barrinhas de cereais e salgadinhos. 

— Você realmente está me ignorando, Jimin? — Yugyeom falou indignado e se sentou ao lado de Taehyun, provavelmente tentando ficar em meu campo de visão. — Você pensou mesmo que seria uma boa provocar Lee Sungmin? Ele tem o dobro do seu tamanho... Ele conseguiria te desmontar em um único soco, sabia disso? Você só pode ter perdido o juízo...

Reviro os olhos, me preparado psicologicamente para o enorme sermão que ele começaria a recitar... Entretanto, vejo Yunhyeong se aproximando.

— Ei, bundão. — Ele falou alto, apontando para Yugyeom, que franziu o cenho indignado pelo insulto repentino. — Por que está brigando com ele? — Questionou fechando a cara, e então veio até mim, sentando-se ao meu lado, e abraçando meu rosto. — Vem cá, meu bebê... Essa coisa feia não vai mais te incomodar.

— Inacreditável... — Kim bufou irritado, e acabo por sorrir sacana para ele, me aconchegando aos braços de meu amigo.

— Por que ele está aqui? — Perguntou deixando um selar em minha bochecha, e acariciando minha nuca e rapidamente sinto meu rosto esquentar pela vergonha e timidez.

— Ele...

— Quem te chamou aqui, hein? — Me interrompeu, perguntando diretamente a ele dessa vez.

— Bem, talvez seja porque o seu "bebê" estava se encrencando com Lee Sungmin.

— Pare de inventar mentiras...

— Na verdade... — Tento dizer novamente, porém, sou interrompido por Song que pegou a colher com arroz e encheu minha boca com a mesma.

— Jimin não é encrenqueiro... Muito menos burro. Ele não faria uma besteira tão grande como essa.

— É? — Questionou rindo baixo, e então me fitou. — Por que não conta para o Song que quase levou uma porrada 5 minutos atrás?

— Hm... — Tento dizer com a boca cheia; mastigo rapidamente, engolindo, e olho para Taehyun que observava toda aquela discussão de longe. — Taehyun... Que tal ir dar aqueles telefonemas agora? Eu posso te mostrar onde ficam os telefones... — Digo me levantando, e o mais novo rapidamente fez o mesmo, provavelmente temendo que aquela discussão sobrasse para si.

— Espera... Pra onde pensa que vai? — Yunhyeong perguntou indignado.

— Oh, eu já ia me esquecendo. — Dou um sorriso amarelo, voltando rapidamente e pegando o hoddeok de minha bandeja. — Tenham um bom dia. Eu já vou indo. — Seguro a mão de Kang, puxando-o para longe dali.

— Park Jimin! — Ouço seu chamado alto de longe.

Acelero meus passos, saindo rápido do refeitório e ouço a risada baixa de Taehyun.

— Ficar perto daqueles dois é pedir para ter uma dor de cabeça forte... — Falo baixo, coçando a nuca, acabando por rir também, soltando seu pulso. — Já pensou para quem vai ligar? — Pergunto afim de mudar aquele assunto.

— Quero ligar para a minha mãe... Não a vejo desde meu julgamento, na última sexta-feira. Acho que nunca fiquei tanto tempo sem falar com ela...

— Acha que ela vai te atender? — Indago curioso, virando o corredor.

— E por que ela não atenderia, hyung? Ela é a minha mãe... — Respondeu como se fosse óbvio. — Ela vai atender, mesmo se for para me xingar.

Opto por não o responder... Mordo mais um pedaço do hoddeok em minhas mãos, mastigando devagar, enquanto pensava no que ele havia acabado de dizer.

Ele tinha razão?

— Chegamos. — Dou um meio sorriso a ele após engolir.

O corredor estreito tinha seis telefones parafusados a parede, e por sorte, todos vazios naquele momento, o que não era comum.

— Obrigado, hyung. — Ele fez uma curta reverência, e abriu o saquinho pegando duas fichas daquelas, e estendeu a mão. — Isso é para você. Por estar me ajudando tanto.

— Ah... — Digo pegando a mesma, e por um segundo fico sem graça. — Não precisava...

— Ligue para alguém especial também. — Sorriu e então foi para o último telefone.

Os próximos sessenta segundos após aquela fala, meus olhos ficaram presos àquela ficha. Estava ali a 5 meses e jamais havia ligado para ninguém...

— Omma? — Ouço a voz de Taehyun durante sua ligação. — Omma... Estou me alimentando bem... Eu juro.

O número de minha mãe veio a minha mente naquele exato momento.

Eu deveria ligar para ela também?

Sinto meu corpo tremer em nervosismo apenas por cogitar aquela possibilidade.

Ela nem ao menos veio me visitar... Por que atenderia meu telefonema?

Mas, ela não teria como saber quem estava ligando... Ela atenderia de qualquer forma.

E se, ao ouvir minha voz, ela não dissesse nada?

Me aproximo do telefone, e com as mãos trêmulas seguro o mesmo. Minhas mãos tinham uma leve camada de suor pelo nervosismo intenso.

Eu não deveria estar tão nervoso... Era apenas uma ligação para minha mãe.

Coloco a ficha no telefone e digito devagar os 10 dígitos, sentindo meus batimentos cardíacos acelerados... coloco o telefone contra minha orelha, ouvindo minha própria respiração ofegante.

A cada toque, minhas mãos tremiam mais. Aqueles segundos ali, pareciam mais horas... Longas e dolorosas horas de ansiedade. Por fim, ninguém atendeu e a ligação caiu na caixa postal. Respiro fundo em decepção e coloco o telefone novamente no gancho. Meus olhos foram para o relógio de parede...

Ela devia estar trabalhando.

Olho para Taehyun que tagarelava segurando o telefone contra a orelha, e então aceno para ele, me despedindo. O mais novo sorriu e acenou com a mão também. Ele parecia feliz...

Guardo a ficha que havia sobrado em meu bolso, e suspiro, saindo dali. Após andar alguns minutos, chego a lavanderia que ainda estava vazia. Hoseok devia estar atrasado. Me aproximo da prancheta pendurada a uma das pilastras, e pego a caneta também pendurada ao prego por um barbante, e assino na frente de meu nome anotando também o horário chegado ali para o controle de serviços; ao me virar, coço a nuca ao ver as pilhas de roupas sob o balcão.

É... Seria um longo dia.

 

...

 

— Jimin. — Me viro assim que escuto a voz de Lee Hoseok.

— Sim? —  Murmuro retirando o avental de meu corpo.

— Sei que já está no seu horário de ir, mas eu preciso sair mais cedo. O psicólogo Kim quer falar comigo antes do jantar. Pode fechar a lavanderia para mim?  — O homem disse dando uma risada meiga, quase como se tentasse me convencer com ela.

— Claro. Sem problemas. — Dou um meio sorriso, fazendo uma curta reverência para o mais velho.

— Muito obrigado. Eu te devo uma. — Ele afagou meus cabelos e então saiu dali completamente apressado.

Suspiro e começo a retirar as máquinas das tomadas, secando-as por dentro com um pano seco. Após isso, começo a guardas os produtos de limpezas das roupas, e a empilhar todas as sacolas com os uniformes que seriam entregues aos detentos no dia seguinte, porém, logo sons de passos adentrando ao local tomam minha atenção.

— Esqueceu alguma coisa, hyung? — Questiono me virando, acabando por franzir o cenho não ver Hoseok ali.

— Tão adorável... Me chamando de hyung. — Taehyung falou rindo baixo enquanto me encarava.

— O que faz aqui, Kim?

— "Oi" pra você também, puppy.

Maldito.

Dou um passo para trás, ao vê-lo se aproximar. Ele estava diferente... Ao contrário da noite anterior, ele não tinha uma feição divertida ou atrevida no rosto; características típicas do rapaz, desde a primeira vez que o conheci. Ele carregava um semblante fechado... Quase frio. Kim também estava com os braços para trás, e consequentemente, não conseguia ver o que ele segurava e escondia ali.

— O que você tem aí? — Arqueio uma das sobrancelhas.

— O preço da sua confiança. — Dito isso, ele jogou um pedaço de papel higiênico sobre a mesa a minha frente.

Me aproximo devagar, fitando o papel estava dobrado num espécime de "envelope", mas o que realmente me chamou a atenção foram as gotículas de sangue presentes ali. Ergo o olhar, fitando o homem a minha frente, que agora já não escondia os braços. Seu pulso direito estava enfaixado e também havia certa quantidade de sangue ali.

Ele não era maluco a esse ponto...

Incrédulo, seguro o papel com cuidado, e então o desembrulho, arregalando os olhos em seguida.

Ele era. Completamente maluco. Completamente insano.

O desenho da tatuagem estava ali. Perfeitamente cortada, junto da pele que um dia esteve presente no braço de Kim. Eu até poderia me questionar como ele havia feito aquilo... como ele havia lidado com tamanha dor.

— Acredite, o que ele fez para mim doeu bem mais do que isso. — Ele pareceu ler meus pensamentos naquele momento, e então, mordo o lábio inferior, reprimindo um sorriso. — Espero que honre a sua palavra, Park.

Me aproximo de Taehyung, que acompanhava com o olhar cada um de meus passos, e coloco uma mão em seu ombro. Aproximo meu rosto de sua audição, apertando levemente onde meus dedos estavam, e com a mão livre, coloco o papel em sua mão.

— Cada gota de sangue inocente derramado clama por vingança contra o príncipe que afiou a espada. — Sussurro contra seu ouvido e então me afasto sutilmente, o suficiente para ver um sorriso ladino em seu rosto.


Notas Finais


* Hoddeok: é um tipo de panqueca com recheio crocante feito com nozes e/ou amendoim.

-Use no twitter a hashtag #Cela132fic para que eu acompanhe vocês ♡

Link do trailer da fanfic: https://www.youtube.com/watch?v=oU3jhGHB93E
Link do grupo da fanfic: https://chat.whatsapp.com/LXM20Emablt5eWebCTByGT

Gostaram? Espero que sim!
Deixe seu comentário ^^


Gostou da Fanfic? Compartilhe!

Gostou? Deixe seu Comentário!

Muitos usuários deixam de postar por falta de comentários, estimule o trabalho deles, deixando um comentário.

Para comentar e incentivar o autor, Cadastre-se ou Acesse sua Conta.


Carregando...