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História Clarity - Fourth - Collide


Escrita por: loudestecho

Notas do Autor


Segura esse gif do Leo mozão e se apaixonem (de novo) comigo, bjs

Capítulo 144 - Fourth - Collide


Fanfic / Fanfiction Clarity - Fourth - Collide

O aniversário da Alicia foi absolutamente incrível e sabia o quanto tinha significado pra ela. Passamos apenas ela, o Leo e eu. Nós três sozinhos pela primeira vez desde aquele dia no apartamento dele. Eu sabia que precisava me manter longe depois de saber que ainda estava apaixonada e só falava com ele quando era sobre a Alicia. Saí mais com Brooke, Henry, a namorada do Henry, Peyton, Charles e apenas encontrava o Leo na parte da noite. Alicia tinha se apegado a ele de uma forma surreal e queria ter me sentido traída por ela simplesmente conseguir ficar sem mim quando estava com ele, mas eu gostava de saber que ela nos amava da mesma forma. Ela ainda não conseguia dormir sem mim e ás vezes queria meu colo quando estava sozinha com o Leo, mas ela precisaria se acostumar comigo longe ao ficar apenas com ele, afinal, vamos embora daqui cinco dias. Ainda parecia que o Leo estava se afastando da mesma forma que eu. Pelo menos é isso que eu acho. Bom, todos sabem que é impossível fugir de Leonardo Castanhari... ao não ser que ele esteja fugindo de você também. Cheguei a essa conclusão quando percebi que ele não tinha me puxado em um canto para conversar desde aquela noite. Será que ele percebeu que ainda me amava e por isso se afastou da mesma forma que me afastei? Será que era pelo mesmo motivo?

- Bom dia, mamãe. - estranhei ouvir uma voz masculina me chamando igual a minha filha. 

- Cadê a Alicia? - murmurei ao abrir os olhos. Era o Leo. 

- Ela está brincando com a Brooke. - disse. - Você está péssima. 

- Uau, muito obrigada. - ironizei. - Depois que você saiu ontem com sua noiva, a Alicia não queria dormir e ficou chorando por horas. A Alicia nunca chora, experimenta acalmá-la quando isso acontece. 

E a culpa ficou estampada em seu semblante. 

- Não se sinta culpado. Você tem uma noiva bem insistente e que... bom, não aceita que você tem uma filha. - falei. - E a última vez que você a viu foi naquele dia do jantar desastroso, então não se sinta culpado por querer resolver seu relacionamento. 

- Não vou conseguir ficar longe dela. - ele balançou a cabeça. 

- Da Brianna? 

- Da Alicia. Foi tão estranho não dormir com ela depois dessas três semanas... 

- Imagino. - suspirei. - Você pode me dar licença? 

Seus olhos se perderam por um tempo e ele levantou para sair do quarto. Me olhou por cima do ombro antes e eu dei um sorriso fraco, mas ele nem retribuiu... apenas saiu e fechou a porta. 

Brooke, Joe, Leonardo, Alicia e eu fomos em um parque de diversões um pouco longe do prédio do Leo e a Alicia não tirou o sorriso do rosto em nenhum momento sequer. Fomos em vários brinquedos, ela pulava do meu colo para o colo do Leo e depois saía correndo pelo parque comigo louca correndo atrás. O Leonardo ficou rindo do meu desespero, mas eu realmente tinha medo que ela caísse ou que alguém a roubasse de tão linda que era. Deus me livre! 

- Quem quer ir tomar sorvete?! - Brooke disse e Alicia franziu o cenho talvez tentando lembrar o que "Ice Cream" significava, mas logo ela levantou os braços animada. - Vamos, então. 

- Tchau, mamãe! Tchau, papai! - Alicia acenou do colo da Brooke. 

- Espera aí! - chamei os três, mas o Henry colocou a Alicia nos ombros e eles foram cantando até o carro. 

- Tudo bem, podemos encontrar com eles na sorveteria. - o Leo disse e eu o olhei. 

Assenti e me preparei para ficar presa no mesmo carro que ele por quarenta minutos. Espero que a sorveteria seja mais perto do parque de diversões do que do prédio em que o Leonardo mora. Liguei o som no momento em que entramos no carro e eu quase pulei pra fora quando começou a tocar uma música que eu conhecia muito bem: One. O clima pesou completamente levando em conta que ele também estava prestando atenção e que ele se recordava das lembranças que essa música trazia. Pegue a minha mão, meu coração e minha alma, eu só deixarei que esses olhos vejam você. E você sabe, tudo muda, mas nós seremos como desconhecidos se continuarmos assim. Você pode ficar dentro dessas paredes e sangrar, mas só fique comigo...

- Posso mudar? - o ouvi perguntar e eu apenas assenti ainda olhando pela janela. Não queria que ele visse uma lágrima sequer. Lágrimas de raiva. 

Várias outras músicas tocaram e eu não conseguia engolir o choro. Fiquei o tempo todo olhando pelo vidro da janela, tentando parar e aumentei o som duas vezes para ele não ouvir os soluços. Eu precisava pular desse carro. 

- Mari? 

Ah, droga, ele percebeu! 

- Mari, olha pra mim. 

Balancei a cabeça e comprimi os lábios ainda olhando pela janela. 

- Está tudo bem, só quero chegar logo na sorveteria. - tentei dizer algo para aliviar, mas minha voz soou tão embargada que eu poderia rir. 

Merda, ele parou o carro. Meu Deus, ele parou o carro. 

- Eles não estão na sorveteria. - o Leo apontou. 

- Como você sabe que eles viriam aqui? 

- Eles sempre vem aqui. - respondeu. - Vou tentar ligar para a Brooke. 

Ele ligou para a Brooke e para o Henry, mas deu caixa postal nas duas chamadas. Eu sabia que eles estavam fazendo de propósito e fiquei com tanta raiva. Se eles não tivessem feito isso, eu nem estaria chorando - de raiva disso tudo - e nem estaria nesse situação embaraçosa. 

- Merda. - o Leo murmurou quando começou a chover. 

Sabia que estávamos próximos ao prédio do Leo, mas a chuva causou um engarrafamento. Estávamos parados por, talvez, horas. Respirei fundo e fiquei contando os pingos na janela - trabalho impossível. 

- Por que está chorando, Mari? - pude ouvi-lo perguntar e olhei pra frente pela primeira vez. 

- Eu não sei muito bem o que estou fazendo. - dei de ombros e limpei os olhos. - Acho que é TPM, você sabe como é. - falei em tom de piada e rindo, mas quase congelei quando senti sua mão na parte de trás da minha cabeça, fazendo carinho no meu cabelo. - Desculpa. - olhei pra ele. 

- Pelo que? - ele questionou, ainda acariciando meu cabelo. 

- Por ter escondido a Alicia de você. Tudo isso seria poupado. - balancei a cabeça. - E também por... por não ter pedido pra você ficar. Acho que você teria ficado se eu pedisse, mas eu não podia ser egoísta com você. 

- Você cresceu tanto. - ele sorriu de um jeito quase imperceptível. - E só cresce cada vez como pessoa e como mulher. 

- E por que você não conseguiu lidar com isso? - o olhei e ele franziu o cenho. - Você não estava conseguindo lidar com a forma que eu crescia. 

- Não, eu não... eu não tenho muito o que dizer isso sobre isso. - ele pigarreou e passou a mão na nuca. Sinal de nervosismo. - Só... você não é mais aquela garota de antes. Não é mais a minha garota. Deixou de ser há muito tempo e é com isso que eu não consigo lidar. 

- Não sou mesmo mais a sua garota. - respondi firme e o olhei de relance. - Eu sou minha, Leo. Só minha. Se eu fosse apenas sua, se eu dependesse só de você... eu estaria na merda. 

Minha resposta o pegou tão de surpresa. Ele nunca esperaria que eu dissesse isso e, pra ser sincera, nem eu. Mas é o que sinto agora. 

- Eu preciso sair desse carro. - falei rápido. 

- O que? 

- Posso ir para o seu apartamento agora? 

- Não tem como sairmos daqui. Olha a chuva e olha o congestionamento.

- Você conseguiu estacionar o carro aqui, não vamos conseguir sair tão cedo. - falei. - Posso entrar molhada no seu apartamento? Eu juro que limpo depois. 

- Pode, mas não é...

Abri a porta do carro antes mesmo dele terminar de falar e fechei a porta. Por que a mesma história sempre se repetia? Por que eu sempre terminava pirada por causa dele de novo e de novo? Eu estava ensopada e com muito frio, mas não me abriguei em nenhum lugar. Só saí correndo em direção ao prédio do Leo. 

- Oi! - cumprimentei o porteiro. Ainda bem que eles se lembravam de mim. 

- Cadê o Leonardo? 

- Ah, ele se perdeu por aí. Mas ele...

- Porra, Mariana! - ouvi a voz do Leo e ele estava do lado de fora do prédio todo ensopado também. 

- Tchau, Derek! - acenei para o porteiro e dei pulinhos para tirar o excesso de água antes de entrar no hall do prédio. 

Chamei o elevador rapidamente e torci para que Derek tenha segurado o Leo do lado de fora por bastante tempo. Tempo suficiente para que eu entrasse no banheiro para tomar um banho, mas eu fui pega de surpresa enquanto estava me despindo. 

- Saí daqui, eu estou nua! - gritei virando de costas. 

- Como se eu nunca tivesse visto antes. - a voz do Leo soou séria e senti ele se aproximando. 

Vesti minha blusa de volta e o encarei. Totalmente molhado e sem camisa. Droga, por que ele tirou a camisa?! 

- Por que você saiu daquele jeito do carro? Ficou maluca? 

- Por favor, só me deixa tomar um banho. 

- Eu não vou sair daqui. Nós vamos conversar assim que você sair do banho. 

- Tudo bem. - murmurei e peguei minha toalha. 

Foi o banho mais longo que tomei em toda minha vida. Eu não queria conversar com ele, o que ele queria conversar comigo?! Era sobre a Alicia, né? Como ficaríamos daqui cinco dias? Alicia vai estar em Los Angeles, ele em Londres... meu Deus, eu vou ficar maluca. Ele nem ao menos sabe o quanto isso é muito mais difícil pra mim do que supostamente está sendo pra ele. Tenho tanta raiva dele, tenho tanta raiva por ele ter me deixado de novo, por ele ter colocado uma aliança em outra garota, tenho tanta raiva por ele mostrar que ainda me quer. Ele está noivo. Noivo

Coloquei um moletom quentinho e depois de pentear meu cabelo, saí do quarto. O Leo também já tinha tomado banho, mas ainda estava sem camisa. Por que ele estava só com uma calça de moletom? Por que não vestir uma blusa? Pareceu que ele leu os meus pensamentos porque vestiu uma camiseta antes mesmo de me ver. 

- Será que a energia vai demorar pra voltar? - chamei sua atenção. Essa noite parecia tanto a noite do nosso término. 

- Provavelmente. - disse. - Consegui falar com a Brooke. Alicia está bem, estão na casa da Peyton e do Charles. 

- Ufa. - suspirei aliviada. - Ela não está chorando mesmo? 

- Está bem. Perguntou por você, mas não está chorando. 

- É bem difícil a Alicia chorar. - comentei. 

Ficamos alguns minutos em silêncio e no exato momento em que ele abriu a boca para dizer algo, fomos surpreendidos por Brooke e Alicia entrando no apartamento do Leo. 

- Oi! - Alicia veio correndo até nós e abraçou nós dois ao mesmo tempo.

- E esse cabelo, Alicia? - perguntei vendo que a parte da frente do cabelinho dela estava duro. 

- Caiu sorvete. - Brooke explicou. - Ficou com a cara toda suja. - ela riu. 

- Alicia ama sorvete. - falei rindo e a peguei no colo. - Parece que alguém precisa tomar banho agora mesmo. 

- Vem, papai. - Alicia o puxou pela mão também. 

O Leo me olhou com um pouco de receio. Ele já me viu dando banho nela várias vezes, nunca precisou fazer o trabalho todo e o nervosismo estava estampado em seu rosto. 

- Eu fico de olho em vocês. - falei segurando o braço do Leo para tranquilizá-lo, mas não foi bem isso que aconteceu. Ele só ficou olhando para o meu rosto. 

- Bom, eu acho que já vou indo. - Brooke chamou nossa atenção. 

- Vá enchendo a banheira e tirando as roupas dela. Eu já vou. - falei para o Leo e ele assentiu. 

Fui com a Brooke até a porta e o sorriso dela me fez franzir o cenho. Mas parte de mim sabia o porque desse sorrisinho. 

- O que foi, Brooke? 

- Ele já te contou? 

- Contou o que? - ela ficou séria na mesma hora. - Brooke, o que o Leo precisa me contar? 

- Nada! Ele precisa te contar e não eu. - ela balançou a cabeça. - Não vou me intrometer nisso, mas... vocês ainda se amam e está estampado pra qualquer um que quiser ver. Viu o clima que surgiu quando você segurou o braço dele sem nem perceber? Ele só ficou lá... olhando pra você como se... - ela parou de falar. 

- Como se o que? 

- Você sabe, como se você fosse tudo o que ele quer. Tudo o que ele precisa. E, sinceramente, acho que você ainda tem esse posto na vida dele. 

- Você está certa. Nós ainda nos amamos, mas... ele não está apaixonado por mim. Ele está apaixonado pela Brianna. 

- Ele não... - ela balançou a cabeça rindo irônica. - Mari, por favor, não seja cega. E nem burra. Eu sei que você é bem esperta, só... pegue as coisas no ar e você entenderá tudo. 

E ela simplesmente foi embora. 

Respirei fundo e fui em direção ao banheiro. Encontrei o Leo sentado do lado de fora da banheira - todo molhado - e a Alicia brincando com ele soltando gargalhadas. Sorri com a cena e me aproximei devagar. 

- Oi, mamãe! - Alicia bateu as mãos na água. - Eu molhei o papai. 

- Eu estou vendo! - falei rindo e o Leo fez cara feia. - Molha mais, filha. Acho que o papai ainda precisa de um banho. 

Ela me obedeceu e jogou ainda mais água nele. Comecei a rir quando o Leo a segurou, fazendo cócegas em sua barriga - Alicia tem cócegas em todo lugar - e ela pegou o baldinho, encheu de água e jogou tudo na cabeça da Leo. Ele a encarou indignado e também jogou água na cabeça dela. Minha barriga estava doendo de tanto rir. Até que Alicia sussurrou algo no ouvido do Leo e os dois olharam pra mim com sorrisinhos travessos. Me subiu um arrepio ao perceber o quanto eles eram parecidos. 

- Ah, não! - eu ia sair correndo, mas o Leo me segurou pela cintura e me jogou na banheira.

Na verdade ia jogar, porque me segurou mais forte antes que eu caísse totalmente e nossos rostos ficaram tão próximos que nossos narizes se tocaram. 

-  Beija, papai! - Alicia chamou nossa atenção e acho que o Leo ficou tão surpreso que me deixou cair. Fiquei molhada no segundo seguinte.  

- Beijar, Alicia? O que é beijar? - a encarei séria. Como ela sabia da existência da palavra beijo? 

- É fazer assim, ó. - ela deu um selinho desajeitado no Leo e depois em mim.

Meu Deus, como ela sabe disso?! 

- Amor, só pode fazer isso na mamãe e no papai. Tudo bem? - falei passando a mão em seu cabelo. 

- Tudo bem. - ela assentiu como se fosse gente grande. - Você também só pode dar em mim e no papai. Tudo bem? - ela me imitou séria e agora me subiu um arrepio ao perceber o quanto nós éramos parecidas. Meu Deus. Da forma de falar até o jeito que ela também passou a mão no meu cabelo. 

Olhei para o Leo e ele estava com os olhos meio arregalados e sério. Acho que ele estava pensando o mesmo. 

- Tudo bem. - soltei uma risadinha e beijei sua bochecha. 

- Então, dá no papai. - ela disse e bateu palminhas. 

Ao ver o sorrisinho nos lábios do Leo me dei conta de que ele poderia ter falado para a minha filha dizer isso. 

- O papai tem que dar beijinhos na namorada, filha. Não na mamãe. - Alicia franziu o cenho. 

- Mas se você é minha mamãe e ele é meu papai... não entendi. - ela colocou a mão no queixo. - Você fazia assim no Trev e ele não era meu papai. 

- Só namorados dão beijinhos. E o papai e eu não somos namorados

- Por que não? 

- Por que você está falando tanto hoje, hein? A preguiça foi embora? - ela nunca fala tanto assim. Nunca! 

- Desculpa, mas é que eu não quero viver só com a mamãe ou só com o papai. Quero os dois. - ela encostou em mim e meu olhar se encontrou com o do Leo. Eu estava prestes a chorar e dava pra perceber que estava doendo nele também. 

- Nós vamos ficar juntos, Alicia. - o Leo fez carinho no cabelo dela. 

- Nós três? - ela olhou pra ele. 

- Nós três. - o Leo confirmou. 

- Pra sempre? - ai, Alicia... 

- Pra sempre. - o Leo disse enquanto me olhava e sorriu para a Alicia de um jeito que me fez desmontar inteira. 

- Ótimo! - a Alicia jogou água na cabeça do Leo e eles ficaram fazendo guerra de água por um tempo. Até que o Leonardo jogou água na minha cabeça também. 

- Me ajuda a pegar ele, Alicia! - falei tentando puxar o Leo para água, mas ele era obviamente mais forte que eu. 

A Alicia tentou puxá-lo com toda a força que tinha e o Leo se deixou cair. Bem em cima de mim. E a Alicia ainda subiu no colo dele e ficou gritando "Uhuuuu". Mal ela sabia - e entendia - a tensão que surgia entre seus pais. Mal ela sabia que sua mãe nem conseguia respirar direito com seu pai tão perto. 

- Para, papai! - Alicia disse entre gargalhadas e o Leo parou de fazer cócegas nela, sentando direito ao meu lado na banheira. 

- Você jogou nós dois na banheira com roupa, Alicia! - balancei a cabeça e ela riu. 

- Então, tira roupa. - ela levantou os bracinhos.

Olhei para o Leo com os olhos arregalados e ele tentou segurar a risada, mas não conseguiu. 

- Qual é, ela tem dois anos. - ele disse e eu revirei os olhos. É, ela tem dois anos, mas sabe o que é beijinho! 

- Acho que está na hora de sair, né Alicia? - falei. 

- Ahhhh! - ela pulou no colo do Leo e deitou em seu ombro. - Eu vou fazer xixi no papai. 

- Você o que?! - o Leo a levantou e Alicia riu mais ainda. 

- É blincadeira

- Ela não faz xixi na banheira. - falei rindo. - Pode ficar tranquilo em relação a isso. 

Alicia deitou no peito do Leo com a cabeça virada para o meu lado e percebi que ela ficou me olhando por um tempo. O que será que ela estava pensando? 

- O que foi, amor? - perguntei mexendo no cabelo dela. 

- Você é linda, mamãe. - ela passou a mãozinha pelo rosto. - Sorrindo. 

- Ah, como eu te amo. - beijei sua bochecha e ela passou o braço pelo meu pescoço também, me fazendo encostar a cabeça no ombro do Leo. 

Mas nem deu tempo de aproveitar o momento. 

- O que está acontecendo aqui?! - ouvi uma voz feminina e todos olhamos para a porta. 

Brianna - sempre com suas roupas impecáveis e, desculpa dizer, de velha - estava parada na porta com os braços cruzados e um semblante nada bom. Ela estava furiosa e até Alicia conseguiu perceber isso. 

- Vamos sair, Alicia. - falei baixo e peguei a Alicia do colo do Leo. 

A enrolei na toalha e ia passar pela porta, mas Brianna entrou no meu caminho. 

- Você ao menos ouviu o que eu disse? Fique longe dele. - ela disse entre dentes e baixo o suficiente para que eu ouvisse, mas o Leo não. 

- A mesma coisa que eu te disse antes, vou dizer novamente: você não é dona do Leonardo, Brianna. Eu sou a mãe da filha dele, você querendo ou não. E se não conseguir lidar com isso, nunca vai conseguir se casar com ele. 

- Eu já disse o que você tem que fazer. 

- E eu já disse que não vou obedecer nenhuma ordem sua. Você fique longe de mim e da minha filha. - esbarro no ombro dela enquanto passo pela porta e vou para o quarto. 

Alicia ficou em total silêncio enquanto eu a trocava e penteava seu cabelo. Queria mesmo saber o que se passava pela sua cabecinha.

- Está com sono? - perguntei e ela assentiu. - Seu cabelo ainda está molhado, não é bom você dormir ainda. Vai querer tetê? 

- Sim. 

- Só espera a namorada do papai ir embora, tudo bem? - ela assentiu se encostando mais em mim. 

Fiquei mexendo no cabelo dela e percebi que ele ficava cada vez mais claro ao invés de escurecer. Será que vai ficar loirinho desse jeito até mesmo quando ela crescer? Ficava pensando nisso o tempo todo. Os olhos dela são verde escuro assim como os meus quando eu era pequena e parecia que clareava cada vez mais. Queria saber como ela ficaria adolescente... será que seria parecida comigo? 

- Ai, me corta o coração fazer isso, mas não dorme. - falei e sentei para segurá-la no meu colo. - Vai te fazer mal dormir de cabelo molhado. 

- Quero tetê. 

- Vamos comigo fazer, então? - ela assentiu. 

A peguei no colo e fui em direção a cozinha. Leonardo e Brianna estavam discutindo na porta do apartamento de uma forma inaudível de onde eu estava. 

- Não me peça pra fazer isso, Brianna. - pude ouvir o Leo dizer e percebi o quanto ele estava furioso. - Só vai embora. Agora. 

Parei de olhar quando meu olhar se encontrou com o dela. Se aquela mulher pudesse me matar com o olhar, eu já teria morrido milhões de vezes. 

- Desculpa por isso. - falei assim que Brianna foi embora e o Leo se aproximou, pegando a Alicia no colo. 

- Não é culpa sua. - ele respondeu sem me olhar. - Pode ir tomar banho, eu fico até ela dormir.

- Não, está tudo bem. 

- Não vai fazer bem essas roupas molhadas por muito tempo. - e só porque ele disse, eu espirrei sem querer. 

- Tudo bem. - suspirei. - Boa noite, Alicia. - beijei sua testa. 

- Boa noite, mamãe. Vem logo. 

- Eu vou. - sorri. 

Tomei um banho rápido e quando entrei no quarto, a Alicia já estava dormindo. E o Leo também. O pior é que era ele quem estava no meio da cama e não a Alicia. Respirei fundo e deitei ao seu lado, me preparando para acordá-lo. 

- Leo. - toquei seu braço, mas ele nem se moveu. - Ei... - passei a mão pelo seu cabelo e quando percebi estava admirando seu rosto. Ah, droga. - Você está molhado. É você quem vai ficar resfriado se não for tomar um banho quente agora. - sussurrei. 

Só me dei conta de que estávamos com o rostos próximos quando ele abriu os olhos. Pensei que seu corpo ia reagir e pular da cama, mas ele nem ao menos se moveu. Só ficou ali... me olhando. 

- Você vai ficar resfriado. 

- Isso não seria a pior coisa do momento. - ele sussurrou de volta e seu hálito com aroma de menta bateu no meu rosto. 

- E qual seria a pior coisa do momento? 

- Deixar você ir. 

Suspirei e encostei a cabeça em seu peitoral. 

- O que estamos fazendo, Leo? 

- Tentando nos convencer de que não estamos mais ferrados. - ele sussurrou enquanto fazia carinho no meu cabelo. 

Levantei o olhar para encará-lo e respirei fundo. 

- Acho melhor você ir tomar banho. - levantei rapidamente. - Posso ir no seu quarto pra secar o cabelo? A Alicia vai acordar se for aqui ou no banheiro do lado. 

- Claro. 

- Obrigada. 

Esperei o Leo entrar no banheiro de seu quarto para eu ir e me dei conta de que não tinha entrado aqui nenhuma vez. Quero dizer, entrei umas duas vezes com a Alicia, mas não tive tempo de notar os detalhes. Era bem parecido com o quarto que ele tinha em BH e percebi que nisso ele nunca iria envelhecer. Sua cama de casal ficava no meio do quarto e imaginar quantas vezes Brianna já deitou com ele ali me fez ficar enjoada. Desviei o olhar e minha atenção foi parar na gaveta aberta da escrivaninha. Eu não ia bisbilhotar, mas vi fotos e eu queria tanto saber se eram fotos nossas. Quero dizer, no mural de fotos na parede não continham fotos minhas com ele sozinhos. Apenas nós dois com Priscila, Lucas, Lindsay ou meu irmão, mas nenhuma de nós dois sozinhos. Será que era ali que ele guardava as nossas fotos? E se era... por que estava aberta? Decidi que não iria bisbilhotar - sei o quanto o Leo odeia isso - e apenas liguei o secador, sentando na beirada da cama. Ficou calor de uma hora outra pelo ar quente. 

Tirei o moletom, ficando apenas com a regata branca por baixo e voltei a secar meu cabelo por longos minutos. Até que o Leonardo saiu do banheiro completamente nu. Pensei que eu estava sonhando.

- Aí, meu Deus. - tampei os olhos e escondi o rosto em qualquer coisa que encontrei na cama. O perfume dele estava impregnado no travesseiro.

- Foi mal, eu esqueci a toalha. - ouvi sua voz. 

- Você ouviu o barulho do secador e mesmo assim saiu! - falei indignada, ainda tampando os olhos. 

- Não é nada que você não tenha visto. 

Tirei o travesseiro do rosto e estreitei os olhos pra ele. Graças a Deus, ele já tinha uma cueca e uma calça de moletom no corpo. 

- É, mas eu não estou preparada pra ver isso do nada! Precisa me avisar quando for aparecer pelado na minha frente. - voltei a secar meu cabelo e engoli em seco quando ele fechou a porta do quarto. - Estou quase terminando. 

- Pode ficar a vontade. Sei o quanto demora pra secar um cabelo enorme desse. 

- É, a Brianna tem cabelo comprido também. 

- Não, ela não tem. 

- Ah, é. Esqueci que ela sempre anda com o cabelo em um coque perfeito. - falei e desliguei o secador. Já estava ótimo. - Qual é a dela, afinal? Por que sempre com roupas impecáveis, cabelo em um coque perfeito e a franja reta? Não que ela não seja bonita, porque ela é. Muito bonita. Mas é meio... 

Parei de falar ao ver o jeito que ele me olhava. 

- Desculpa. Não tenho direito algum de ficar falando sobre sua noiva. - falei. - É que... você sabe, eu nunca imaginaria você com alguém igual a ela. 

- E com uma pessoa igual a quem você me imaginaria? - ele encostou as costas na cabeceira com um sorriso de divertimento. - Igual a você? 

- Pra ser sincera... sim. Brianna e eu não temos literalmente nada em comum. 

- Vocês duas sabem ser sistemáticas. 

- Não me compare com ela, Leonardo. - falei séria e ele também ficou sério na mesma hora. - Peguei ódio. Eu sou eu, não sou parecida com ninguém que você já conheceu. Muito menos ela. 

- Ok, foi mal. - ele levantou os braços em forma de rendição. - Você tem razão. Nunca vou conhecer ninguém igual a você. 

- Não use das minhas frases para flertar comigo. - cruzei os braços. - E nem a minha filha! Que história de promessa é aquela? Nós não vamos ficar os três juntos, Leonardo. É um pecado fazer promessas falsas para uma criança de dois anos. É um pecado fazer promessas falsas pra mim também. 

- Quem disse que são falsas? - engoli em seco quando ele levantou da cama e caminhou na minha direção. 

- Vou dormir. Boa noite. - me apressei em sair do quarto, mas ele não deixou. 

- Espera, espera.

- O que foi?

- Sei que você vai dizer não, mas... - ele respirou fundo e ficou parado me encarando. Seus olhos suplicavam algo que eu não soube desvendar.

- Só diz, Leo. 

- Dorme comigo. 

- O que? Você está louco? 

- Sim, mas é com esse abismo entre a gente. - ele se aproximou. Prendi a respiração. - Eu só quero... - ele suspirou cansado e tirou meu cabelo do rosto. 

- Você quer ficar perto de mim, mas não sabe como fazer isso. Eu sei o que é isso, também sinto o mesmo. - falei baixo e me aproximei também. - Não somos desconhecidos, Leo. Sempre seremos amigos, você pode me dizer tudo o que quiser.

Ele colocou a mão no meu rosto e coloquei a minha em seu pulso para afastá-lo, mas não consegui. Queria tanto sentir isso de novo. Suas mãos me tocando, o calor do seu corpo perto do meu e todas as sensações que isso trazia. Quando percebi que ele estava perto demais, desviei o rosto e passei os braços por seu pescoço, o abraçando. 

- Não podemos fazer isso. - sussurrei com a boca encostada em seu pescoço e senti seus braços envolverem minha cintura. - Eu senti tanto a sua falta, Leo. Você não faz ideia do quanto. - ele me abraçou mais forte. Eu não o abraçava há mais de dois anos. 

- Eu faço ideia do quanto, Mari. Não foi nada fácil pra mim também. - ele disse baixo perto do meu ouvido e senti meus pelos se ouriçarem. 

Me afastei para poder olhá-lo, mas nenhum de nós dois tiramos os braços um do outro. 

- Realmente quero dormir com você, mas a Brianna é sua noiva. E não eu. - falei e me afastei completamente. - Boa noite.

Ele nem me respondeu. Ou respondeu e eu nem ouvi, porque praticamente corri para fora do quarto. 

(...)

Alicia e eu partiríamos amanhã cedo e eu não consegui olhar no rosto do Leo para resolver as coisas. Quero dizer, como as coisas vão ficar quando Alicia eu voltarmos? Quando ele irá visitá-la? Quando vou poder trazê-la aqui? Quando será seu casamento com a Brianna? E saber que ele não veio conversar comigo sobre isso quer dizer que ele não vai embora com a gente. Parte de mim ainda acreditava que ele desistiria de tudo e fosse embora conosco. Com a sua real família. Não deveríamos nos torturar daquela maneira, não é saudável para nenhum de nós dois e muito menos para mim. Nosso voo estava previsto para sair ás onze e meia e a Alicia estava toda triste de saber que iria embora. Não sei se ela se deu conta de que o pai dela não viria conosco, se ela achava que ele viria, mas ela não tocou nesse assunto em nenhum momento com o Leo. Ela não perguntou se ele iria com a gente, ela não perguntou quando o veria novamente, ela não perguntou nada. E me doía o coração lembrar que ir embora com a Alicia é o passe verde para Brianna e o Leonardo se casarem. Meu estômago se revirava só de imaginar essa cena. Imaginá-la fazendo os preparativos, ele todo nervoso para entrar na igreja e o momento em que ele a vê entrando... os votos, as alianças, a festa, a viagem de lua de mel. Não suportava nem imaginar. 

Peyton e Charles fizeram um jantar de despedida ontem a noite porque foram viajar hoje cedo e não conseguiriam ir conosco para o aeroporto. Brooke e Henry ficaram em Londres e iam nos levar para sair hoje a noite. O Leo e a Alicia estavam grudados nesses últimos dias por motivos óbvios e meu coração doía ao perceber o quanto o Leo estava arrasado por saber que ela ia embora. Ele ficou com ela o tempo inteiro, dia e noite, e hoje - nosso penúltimo dia - estava ainda mais próximo. 

- Eu não vou deixar vocês dois desse jeito. Não vou deixar você ir embora se você e o Leo ainda não se resolveram. - Brooke dizia e eu suspirei pela milésima vez. 

- Não tem nada que você possa fazer. - falei dando de ombros. - O Leo não vai sair de perto da Alicia. - olhei os dois brincando no tapete da sala. - E não acho bom nós sairmos hoje. Eles não terão privacidade e sei que o Leo vai querer isso. 

- Tudo bem. - ela suspirou. - Mas me prometa que vai tentar falar com ele. 

- Eu prometo. Mas não prometo que vou pedir pra ele ir com a gente, nem para que ele termine tudo com a Brianna... não vou pedir isso. 

- Deveria. Ele ia realizar seu pedido no mesmo segundo. 

- Não diga isso. - balancei a cabeça. - Você vai no aeroporto amanhã, certo? 

- Claro que vou! Henry, Joe e eu. 

- Tudo bem. 

Alicia estava nas costas do Henry e ela tampou os olhos, contando um, dois. Uma pausa dramática da criança que só sabe contar até a sua idade. Ela contou "um, dois" várias vezes seguidas, enquanto o Leo se escondia atrás da sofá. Esconde-esconde. 

- Lá vou eu! - Alicia gritou e abriu os olhos. 

- Onde ele está? - Henry perguntou olhando Alicia por cima do ombro. 

- Ali! - ela desceu das costas do Henry e foi atrás do sofá. - Buuu! - o Leo fingiu ter se assustado e a pegou no colo. 

- Vamos, Henry! - Brooke disse levantando. - São quase oito. 

Percebi que a Alicia estava morrendo de sono. Quase dormindo no ombro do Leo. 

- Tchau, Alicia.

Eles se despediram da Alicia e foram embora. 

- Está com soninho, amor? - perguntei me aproximando. 

- Sim. - ela bocejou. 

- Você dá banho nela enquanto eu faço a mamadeira? - perguntei para o Leo e ele assentiu. - Ei! Não precisa lavar o cabelo dela. - o avisei. 

- Tudo bem. - disse e entrou com ela no banheiro. 

Quando ouvi que eles tinham terminado o banho, levei a mamadeira até o quarto. Alicia estava quase dormindo enquanto o Leo fazia carinho no cabelo dela e a observava. Fiquei com vontade de chorar quando vi essa cena... não ia sair da minha cabeça tão cedo. 

- Quer tetê, Alicia? - me aproximei devagar e deitei do outro lado dela. 

- Sim, mamãe. 

Enquanto Alicia tomava leite, o silêncio se instalou no quarto. Conseguia sentir o olhar do Leo sobre mim, mas não o olhei nenhuma vez sequer. Não sabia o que a Brooke tanto esperava da nossa conversa, mas eu não queria saber. Já sei de toda a realidade, por que me torturar ainda mais? 

- Quero conversar com você. - o Leo disse no momento em que percebeu que a Alicia já tinha dormido. 

- T-tudo bem. Só vou tomar banho. 

- Eu espero. 

Tomei um banho demorado e fiquei observando Alicia dormir enquanto me trocava. Ela ficaria tão arrasada de ficar longe do Leo... não gosto nem de imaginar. Saí do quarto e encontrei o Leo na cozinha. 

Sentei encolhida no canto do sofá e abracei meus joelhos apenas sentindo o Leo se aproximar. Ele sentou na poltrona bem a minha frente.

- Quer conversar em como vai ficar sua relação com a Alicia, né? - comecei a dizer e levantei do sofá. Não dava pra ficar perto dele daquele jeito. - Bom, eu pensei em algumas coisas. Você pode ir visitá-la e eu a trago pra cá um mês sim e um mês não, mas terá que ser apenas final de semana porque não posso ficar uma semana inteira e...

- Não é sobre a Alicia. - ele me interrompeu.

- Não? - indaguei e ele levantou da poltrona também. 

- Não posso me casar com a Brianna. - disse olhando fixamente para baixo. Escondi a minha tatuagem ao me dar conta de que era isso que ele estava olhando. A nossa tatuagem. 

- Não pode mesmo? 

Ele ficou em silêncio. 

- Você se lembra como era no começo? Quando começamos a morar juntos? Não tinham brigas, problemas, apenas dividíamos a nossa vida juntos. Apenas dizíamos boa noite e não adeus. - disparei a falar enquanto dava alguns passos pra trás. Ele não parava de se aproximar e eu estava nervosa. Não conseguia pensar direito. - Mas voltando a falar da Alicia... o que você pretende? - senti minhas costas encostando na parede e engoli em seco. 

Meus olhos arderam ao encará-lo assim tão de perto, mas não poder fazer nada. Ele não ia mais voltar pra mim. 

- Você mentiu pra mim. - falei baixo, com a voz trêmula e magoada. - Você disse que ia voltar, me prometeu que ia voltar e não voltou. 

Era isso que ele queria. Ele queria que eu voltasse a falar de nós a ponto de ficar fragilizada e abrir o jogo sobre meus sentimentos. Ele me conhecia bem a esse ponto. 

- Eu sinto muito. - ele balançou a cabeça e pude notar seus olhos brilhando também. - Eu... aquele anel não era para a Brianna. Era pra você. 

Congelei. 

- O que?!

- Eu estava namorando com ela há um tempo, ela já falava em casamento, mas eu... eu nunca conseguiria me casar com ela. Nunca levei isso em consideração. - ele balançou a cabeça. - Em uma noite eu terminei com ela. Estava arrependido de tudo que tinha feito. Me arrependi de ter escolhido a minha vida profissional ao invés de você, me arrependi de ter vindo embora e... me arrependi de não ter te pedido em casamento. - parecia que ele estava com vergonha de me olhar. - Conversei com o Lucas na mesma noite em que terminei com a Brianna e fiquei nostálgico em relação a nós. Não nostálgico... era mais. - ele suspirou. - Mari, eu não sei o que acontece comigo, mas eu sinto tanto por você e esse sentimento é... caralho, eu não consigo me desfazer dele. Eu sinto tanto a ponto de não querer sentir. É como se eu nem ao menos existisse sem você. 

Limpei a lágrima solitária que escorreu e cruzei os braços para permanecer ouvindo. 

- Eu sei que sempre tento me desfazer dos meus sentimentos por você. Eu sei, mas eu... é como se fosse você tudo que... - ele tentava se explicar, mas nada saía. E isso o deixou frustado. - Como é possível que tenha bilhões de pessoas no mundo e só você, apenas você, me faz sentir isso? Eu... isso me deixa maluco. - e ele quer provar que eu realmente sou a única que o faz se sentir desse jeito. O Leonardo era racional demais, sempre foi. Ele era tão independente a ponto de acreditar que nunca se apaixonaria por ninguém a esse ponto. - Depois de conversar com o Lucas, conversei com a minha mãe, com a Brooke... decidi que voltaria. E pra te pedir em casamento. 

Engoli em seco quando nossos olhares se encontraram e eles permaneceram ali. Presos um no outro. 

- Liguei para a Priscila para contar o que eu estava planejando. - disse desviando o olhar para nossas mãos entrelaçadas. Só ali me dei conta de que estavam entrelaçadas. Quando isso aconteceu? - Foi por bobeira, mas a Pri disse que você tinha chego antes mesmo de eu dizer do que se tratava. Lembro que a Pri perguntou "Onde vocês foram?! Iam passar a noite no motel?!" e...

E eu respondi: Nós passamos em um motel, mas eu não posso passar a noite fora, né Pri. Tchau, Trevor, vejo você amanhã. 

E Trevor disse: Ainda vou me casar com você pra não precisar mais te ouvir dizendo "vejo você amanhã". 

Me lembro exatamente da cara que a Priscila fez e me senti burra por não ter percebido. Trevor e eu tínhamos uma brincadeira entre nós, não era sério! 

- Não sabia que você estaria com outro cara e eu só poderia entender que vocês estavam namorando, né? - o Leo voltou a dizer e me encarou novamente. - Voltei para o apartamento e fiquei brincando com aquela aliança por horas. A campainha tocou, deixei a aliança em cima da mesinha de centro e era a Brianna. Ela queria conversar, não queria ter terminado e quando viu a aliança... pensou que eu tinha me arrependido e ia fazer seus desejos se tornarem realidade. 

- Você... você não disse a ela que foi um mal entendido? 

- Como eu poderia? Como eu ia dizer a ela que ia pedir outra garota em casamento? 

Ah, meu Deus, por que o destino brinca tanto com a gente? Inclinei meu corpo levemente pra trás para firmar os pés no chão, mas ainda sentia o abdômen do Leo tocando o meu. O Leo nunca teria coragem de fazer aquilo com a Brianna ou com qualquer pessoa. Ele nunca conseguiria ver a felicidade estampada no semblante de alguém e depois destruir isso. 

- Precisamos nos libertar de todos os nossos fantasmas, Leo... - sussurro com a voz suave e ao mesmo tempo embargada devido ao choro que subiu em minha garganta. 

Fazia tanto tempo que não encarava seus olhos tão de perto assim, tinha me esquecido de como nossos sentimentos se tornavam transparentes.

- Nós dois sabemos que não somos mais crianças. Não podemos mais ficar brincando com a vida um do outro, temos que nos libertar. 

- E como fazemos isso? - sua voz soou baixa e falhada. 

Respirei fundo e o encarei. Qual seria sua reação ao desejo que eu estava prestes a pedir? 

- Como fazemos isso, Mari? - ele insistiu. 

- Me beija, Leo. - seu olhar queima nos meus olhos. - Uma última vez antes de ir.

Suas mãos em minha cintura foi a resposta para meu pedido. Fechei os olhos ao sentir seus lábios roçando os meus e eu queria que esse momento durasse, queria que não passasse nunca. Coloco as mãos em seu rosto, então ele me beija. Um beijo calmo, suave, ávido e ao mesmo tempo tão intenso e tão desesperado. Nossos sentimentos se misturaram, se enrolaram ainda mais. Como um beijo poderia nos libertar? 

Parei o beijo ainda com os olhos fechados e senti que o Leo se aproximou querendo mais, mas abrimos os olhos ao mesmo tempo. Foi naquele momento que eu percebi que nunca conseguiríamos libertar os nossos fantasmas. Acho que meus sentimentos ficaram estampados em meu semblante, mas antes que ele dissesse algo, me desvincilhei dele e fui em direção ao quarto. Antes de fechar a porta, olhei por cima do ombro e o vi me olhando ir embora. Ele encarou o chão assim que nossos olhares se encontraram. A expressão carregada de tristeza, medo, decepção... não soube distinguir. 

Tranquei a porta do quarto de hóspedes e me joguei na cama, escondendo o rosto no travesseiro para que o meu choro não fosse ouvido até pelos vizinhos. Abafei um grito pelo travesseiro e ia ficar ali pelo resto da noite, mas vi Alicia se movendo. Merda, eu esqueci completamente que ela estava aqui e dormindo. 

- Mamãe? 

- Oi, amor. - limpei os olhos. - Desculpa te acordar. 

- Por que chora? 

- Não é nada. - dei de ombros e a puxei pra perto de mim. - Só dorme abraçadinha comigo, tudo bem? 

- Tudo bem. 

Ela ficou fazendo carinho no meu cabelo e tentei engolir o choro, mas só piorou. Alicia não disse nada, afinal, ela já está acostumada com sua mãe chorando mais do que ela mesma. 

Eu não entendia o Leonardo. Não sabia se poderia confiar nele. Ele me prometeu antes que nunca mais ia sair do meu lado e saiu. Quem garante que não sairia novamente? E o pior de tudo é que agora não é apenas o meu coração que está em jogo, e sim o coração da minha filha. Eu sinto que estou remendada desde a primeira vez que ele me deixou. Eu sinto como se ele realmente sempre tentasse encontrar um jeito de parar de amar. Ele foi embora na primeira vez, estava com a Lívia e ele foi de novo, está com a Brianna e odeio saber que ele tenta encontrar formas de se desfazer de seus sentimentos por mim. O que se passa pela sua cabeça? Por que ele sempre tenta parar de amar? Já que sente tanto... por que não viver comigo? Já tivemos tanto tempo para lidar com isso. Tanto tempo para lidarmos com esses sentimentos malucos e desesperados. 

- Oi, Mari. Está tudo bem? - ouvi a voz da Brooke do outro lado da linha e me certifiquei de que a Alicia já tinha voltado a dormir, então sentei no chão. 

- Não. - sussurrei. - Preciso que você me faça um favor. 

- O que aconteceu? Por que está sussurrando? 

- A Alicia está dormindo aqui. - respondi. - O Leo e eu nos beijamos e foi a pior coisa que eu poderia ter pedido porque eu estou... ah meu Deus, Brooke, eu estou louca. 

- Você pediu pra beijar ele? 

- Sim! - coloquei a mão na testa. - Eu pensei que nós íamos... você sabe, nos libertar. Pensei que se eu tivesse um último beijo conseguiria ir embora em paz, mas eu não vou conseguir, Brooke. Não se eu olhar pra ele novamente. 

- E qual favor você quer que eu faça, Mari? - percebi que ela também estava sussurrando. 

- Eu não posso vê-lo amanhã. Ele ia levar a Alicia para algum lugar bem cedo, eu nem sei pra onde. 

- É um parque. Onde tem várias crianças e atividades maneiras. - Brooke disse. - Mas ainda não entendi o que você quer. 

- Ele ia me levar junto, mas eu não vou. - falei. - Vou, sei lá, deixar um bilhete e você vem me buscar amanhã cedo. Vou levar as minhas coisas e as coisas da Alicia. Vou deixar apenas deixar uma mochila com algumas roupas dela e o resto levo comigo. 

- Como assim, Mariana? 

- Dez e meia você busca a Alicia com o Leo e a leva para o aeroporto. A gente se encontra lá. 

- E você acha mesmo que o Leo não vai para o aeroporto? 

- É aí que você entra. - falei. - Diz que eu levei as coisas pra sua casa porque é mais perto do aeroporto e eu não quero nenhum risco de chegar atrasada. Você diz para o Leo tomar um banho e que você toma conta da Alicia. Diz pra ele abraçá-la direitinho, tá? E você traz a Alicia até mim e nós vamos para o aeroporto. 

- Tudo isso porque você não quer vê-lo? 

- Tudo isso porque eu não posso vê-lo. - falei baixo e limpei os olhos. - Não quero atrapalhar a vida dele, Brooke. Não quero atrapalhar a sua vida profissional. Ele sempre teve em mente que queria ser um engenheiro bem sucedido, se apaixonar nunca esteve nos planos dele. Mesmo depois de me conhecer... ele não sabia que ia durar. Ele não acreditava que ia durar. 

- Ele te disse isso?

- Não, mas eu o conheço. Ele não esperava que isso fosse acontecer... ele não esperava que fosse viver a sua vida comigo. - falei. - Ele não queria, na verdade. Ele só tinha em mente que seria ele e a sua vida profissional. Nada de paixão, nada de amor. Queria que ele tivesse me dito isso desde o começo. 

- Você precisa conversar com ele mais uma vez. 

- Só faz o que eu pedi, Brooke. Por favor. 

- Tudo bem. - ela suspirou. - Mas pense bem no que você vai dizer no tal bilhete. 

- Sim, estou trabalhando nisso. - suspirei. 

- É pra eu te buscar de madrugada ou amanhã cedo? 

- Você vai sair que horas do aniversário da Lisa? - perguntei. 

- Umas duas e meia. 

- Está ótimo. - falei. - Vai dar tempo de arrumar tudo. Só espero que o Leonardo já esteja dormindo.

- Eu te ligo quando estiver aí na frente. 

- Obrigada, eu te amo. 

- Também te amo mesmo você sendo cabeça dura. Beijo. 

Finalizei a ligação e levantei para arrumar as coisas. A minha mala já estava toda arrumada, só faltava as coisas da Alicia. Deixei a roupa que ela vestiria amanhã separada e abri a porta do quarto para pegar os brinquedos espalhados pelo banheiro e pela sala. É claro que o Leo já estava no quarto dele e me aliviei. Seria péssimo dar de cara com ele agora. E eu não estava fazendo nada de errado, ele iria se despedir de sua filha. Não temos nada um com o outro além da Alicia. Por que ele iria querer se despedir de mim também? A Alicia era o suficiente para ele, sabia que era. 


Notas Finais


Viiiiiiish, treta! Mas melhor do que treta é treta com romance, né galera???? Não vou mentir, adoooooro sz


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