História Close Your Eyes • Sterek (reescrevendo) - O Acampamento

A tarde de sábado estava quente e agradável, nenhuma nuvem percorria o azul intenso do céu. O clima parecia oscilar entre os dias e Stiles se perguntou se teria algo a ver com o desequilíbrio causado por Darach. Era no mínimo desconcertante pensar que tudo aquilo estava sendo provocado por uma só criatura. 

— Agora eu entendo por que eu costumava não vir. — Stiles resmungou ao descarregar as barracas desmontadas e as mochilas pesadas através do porta mala do jipe.

— Estou feliz que você veio. — Scott sorriu e enxugou o suor da testa, radiante com a volta de seu melhor amigo para a pack.

Afinal, desde que sua vida tinha virado de cabeça para baixo — quando Peter o transformara em lobo — Stiles havia permanecido do seu lado e o ajudado em momentos difíceis e delicados. Não era algo cobrado, e sim natural e recíproco.

Feito irmãos. 

Stiles soltou a sua imensa mochila no chão com um suspiro pesado, pensando em por que raios havia levado tantas coisas. Arregalou os olhos com a visão da imensa mansão à sua frente, a fachada branca tremeluzindo à luz do sol.

— Eles estão chegando. — Isaac, que havia acabado de sair do jipe, apontou para o camaro preto de Derek que estacionava nas sombras lançadas pelas frondosas e esparsas árvores.

Enquanto se aproximavam do pessoal, Lydia surgiu na varanda com um sorriso tão claro quanto a pintura da parede, o vestido rosa bebê era preso no ombro com um broche. 

— Meus pais costumam vir aqui nos finais de semana, então foi bem difícil de convencê-los a fazer outra coisa. — A ruiva explicou, fitando as barracas com curiosidade contida antes de continuar. — Quem também não quiser acampar pode dormir em alguma das suítes livres.

— Obrigado, Ly. Mas ainda vou convencer você a acampar... — Malia agradeceu por todos, determinada a convencer Lydia a acampar com eles. 

A uns metros de distância deles, o lago reluzia como um imenso espelho refletindo o anil do céu. O píer de carvalho se alongava na margem por alguns metros sobre a água, onde alguns patos nadavam tranquilamente com seus filhotes. 

Em uma atitude impensada, Isaac retirou suas roupas de cima, ficando apenas com sua samba-canção. Ignorando o olhar incrédulo de todos, ele correu até as águas convidativas naquele dia quente de fim de verão. 

— Ei! Espera por mim. — Boyd gritou, correndo atrás do loiro com empolgação e tentando acompanhar o seu ritmo. 

Stiles soltou um riso baixo que acabou por contagiar a todos que assistiam o momento cômico em que os dois betas se engalfinharam, rolando pela grama alta. Logo todos estavam gargalhando, Boyd agarrou Isaac pelos braços e o arremessou na água, feito uma bola de papel de peso pena. Até mesmo Derek havia esboçado um sorriso. 

— Eles vão se matar desse jeito. — Scott murmurou. Stiles podê perceber o mau humor oscilar na voz do McCall por breves segundos.

— Você ainda não viu nada... — Erica revirou os olhos, já acostumada com Isaac e Boyd e cenas como aquela que eles haviam acabado de presenciar. — Isso é algo para o nosso querido alfa se preocupar. 

— Eles vão ficar bem. — Derek rebateu, simplesmente, erguendo os sacos de dormir e evitando olhar para Stiles. — Agora temos que achar um bom lugar para montar as barracas antes que escureça. 

— Eu sei de um ótimo lugar. — Disparou Lydia e todos olharam para ela, desde quando a Martin sabia dessas coisas? — O que foi? Meu pai acampa lá com os seus amigos. Venham, eu mostro o caminho.

E então eles seguiram a pequena trilha entre a mata fechada e úmida que iniciava nos fundos do chalé, até chegarem em uma clareira perfeita para acampar. As copas das árvores ao redor eram altas e densas, cobrindo quase por completo os raios de sol e oferecendo sombras frescas na área aberta. 

Stiles fechou os olhos e permitiu que os outros sentidos assumissem. Desde pequeno, ele amava estar em contato com a natureza, era algo que o acalmava e o ajudava a refletir. Os sons surgiram automaticamente ao seu redor, podia ouvir a brisa remexendo os galhos das árvores e bagunçando o seu cabelo, os pássaros cantando ao longe, a água corrente do pequeno e próximo riacho...

— Pessoal... — Malia lia o imenso manual de instruções com os olhos semicerrados e preocupados, ao mesmo tempo em que procurava algo nas mochilas. — Acho que está faltando algumas peças de duas barracas.

— Mas como isso é possível? Eu pedi para Erica e Isaac conferirem tudo antes de virmos. — Derek passou as mãos pelos cabelos pretos e começou a vasculhar cada uma das barracas, bufando audivelmente. — Faltam algumas varetas, justo as que sustentam as barracas em pé. 

— Acho que teremos que dividi-las, então... — Scott sorriu maliciosamente para Stiles e ele demorou alguns segundos para o entender. Maldito. Derek parecia ter engolido algo de gosto muito ruim e encarava os próprios pés. 

— Todo mundo vai dormir agarradinho, que delícia! — Erica entendeu onde Scott queria chegar e Stiles amaldiçoou os dois mentalmente por estarem fazendo esse joguinho sujo contra ele.

Nem ferrando ele iria dormir com Derek.

— As duplas serão: Isaac e Scott, Boyd e Erica, Stiles e Derek. E claro, eu sozinha e com todo o espaço e conforto de uma só barraca! — Malia contava nos dedos conforme formava as duplas e todos a encaravam com as sobrancelhas erguidas e olhares reprovadores. — Qual é, pessoal? As barracas são espaçosas e cabe perfeitamente duas pessoas.

— Então a ruivinha pode dividir com você, já que tem tanto espaço. — Erica apontou para Lydia, que havia ficado vermelha no mesmo tom de seus cabelos. — Pensei que quisesse que ela acampasse também... 

— Bem, eu duvido muito que Lydia vá aceitar dormir no meio do mato... — A coiote afundou seu rosto no manual e fingiu ler fervorosamente as instruções, sem perceber que o papel estava de ponta cabeça. Stiles não via Malia ficar tão nervosa daquele jeito desde o dia em que eles a resgataram da reserva.

— Sobre isso, Deaton disse que seria mais seguro se ficássemos todos juntos durante a noite. Mais uma pessoa desapareceu, aparentemente outro professor da escola. — Derek começou a montar a primeira barraca, tão expressivo quanto um bloco de cimento. 

— Espera... Então vocês realmente aceitaram o que Malia disse? Ninguém vai mudar ou argumentar? Que tipo de democracia é essa? — Stiles encarava embasbacado os seus amigos que montavam as barracas. O fato de ter que dividir uma barraca com Derek Hale, por mais espaçosa que fosse, o deixava sem ar e provocava formigamentos em sua nuca. 

Por um momento, o menino ficou perdido nos olhos esmeralda do alfa. Era a primeira vez que o via naquelas roupas tão casuais e desleixadas, o short de corrida de moletom e a regata branca e larga lhe davam um ar despreocupado. O Hale percebeu o olhar intenso e o retribuíu por breves segundos antes de os dois desviarem para o chão novamente. 

— O único que está reclamando ao invés de ajudar é você, Stiles. Ou acha que não dá conta de participar da pack? — O sorriso de Erica era cretino e o Stilinski bufou em resposta. 

Ele soube que não era o único que estava desconfortável com a escolha das duplas ao perceber o estado de Scott, que lembrava mais um robô desorganizado nas suas tentativas falhas de encaixar as varetas umas nas outras, as bochechas levemente avermelhadas. 

Que dia completamente doido.

—

STILES

Senti as gotas de suor escorrerem lentamente pela testa e revirei os olhos ao perceber que a minha camiseta estava encharcada e suja de terra e folhas secas. Os tornozelos ardiam a cada passo que eu dava em direção ao beta. 

— De novo. — Scott repetiu, os fios de cabelo grudados na testa com o suor, mas as roupas ainda intactas. Parti para cima dele, jogando todo o peso do meu corpo em um golpe um tanto quanto desengonçado.

Com apenas um empurrão, o beta me derrubou contra o chão duro e empoeirado e eu gemi baixinho quando a dor se fez presente em minhas costelas, o ar sumindo de meus pulmões. Nós estávamos treinando horas a fio e meu corpo estava no seu limite, cada célula parecendo entrar em combustão a qualquer momento. 

— Sti? — Aceitei a ajuda de Scott para me levantar e ignorei o seu olhar de pena. — Está sentindo dor? Eu posso tentar aliviar para você, o Derek me ensinou como fazer...

— Estou bem, Scott. — Estava farto dessa preocupação exagerada. Eu só estava enferrujado, fazia muito tempo que não me exercitava desse jeito. Sem os treinos periódicos de lacrosse, passei as férias inteiras sendo sedentário. — Apenas cansado. 

Supus que não era o único exausto, e minhas suspeitas foram confirmadas no momento em que avistei o restante do pessoal jogado na grama com os braços rendidos. Derek havia organizado um treino “leve” em duplas e quando chegou a minha vez de enfrentar ele, o Hale simplesmente disse que não lutaria comigo e que não estava aberto à discussões.  

Depois de eu, obviamente, ter discutido e dito que isso era errado e que ele continuava sendo um lobo ranzinza, Derek simplesmente ignorou o que eu dizia e decidiu pegar lenhas para fazermos a fogueira mais tarde.

Vai entender.

Os últimos raios de sol poente lançavam uma claridade sangrenta sobre os imensos campos da propriedade Martin, pintando de escarlate as águas cristalinas do tranquilo lago. Apesar da exaustão, eu me sentia renovado com tudo aquilo ao meu redor. 

— O último que pular no lago fica com a barraca menor! — O momento de calmaria foi quebrado com o grito de Isaac, que correu em direção à margem e sumiu em um salto, jogando água para todos os lados. 

— Ele sempre faz isso? — Pergunto, mas antes que alguém possa sequer ouvir o que estou dizendo, todos já estão correndo feito doidos e tirando suas roupas no caminho. E então começo a correr também. 

Estou quase alcançando Malia quando me lembro que não possuo agilidade sobrenatural e que estou sedentário, então com toda a certeza eu perderia. E foi o que aconteceu, todos já haviam pulado e pequenas ondas se chocavam contra a margem. 

Merda. 

— E temos um perdedor! — Boyd brinca, jogando água para cima de mim enquanto eu termino de tirar as minhas roupas. Saltei sem pensar duas vezes.

A água gelada e escura arrepiou todos os pelos do meu corpo e me fez arfar. Mergulhei mais fundo com o impulso do pulo e as vozes se abafaram, apenas o som da massa líquida em meus ouvidos. E assim permaneci submerso, protegido de tudo e de todos, até a necessidade de ar se fazer presente.

— Isso não vale! Vocês são muito mais rápidos do que eu. — Reclamei, afastando os fios de cabelo do rosto e acabando por rir com Isaac pendurado feito um coala nas costas de Boyd. 

—Você que demorou para reagir, faísca atrasada, até mesmo Lydia que não é um ser sobrenatural chegou antes que Scott. — Erica argumentou, um sorriso vitorioso e satisfeito se formando em seu rosto. 

O que diabos ela estava aprontando? 

— Para com isso, todas as barracas tem praticamente o mesmo tamanho... — Malia percebeu a minha careta e jogou uma imensa lufada de água contra mim, iniciando uma guerra com todos quando eu fui me vingar e acabei por acertar Lydia no processo. Uma verdadeira anarquia.

De alguma maneira, o tempo havia passado extremamente depressa conforme nos divertíamos e o sol já estava quase sumindo no horizonte, trazendo a noite fria consigo.

— Vamos. Não vai ser tão fácil achar a trilha quando estiver completamente escuro... — Derek surgiu na margem assim que nós saímos do lago, seu olhar passeando pelo meu corpo por mais tempo do que pareceu necessário. E então eu lembrei que estava somente com a cueca encharcada e senti meu rosto esquentar involuntariamente. 

Por que ele sempre aparece do nada quando estou com poucas roupas? 

— Considere-se morto quem pisar no carpete sem estar totalmente seco, por isso deixei toalhas e roupões na varanda. — A voz passiva-agressiva de Lydia quebrou o silêncio desconfortável, aparentemente todos estavam esperando Derek terminar de dizer o que havia começado. Mas ele apenas deu de ombros e o caminho até a mansão foi silencioso.

Mais tarde, naquela noite, estávamos reunidos ao redor da pequena fogueira feita por Derek e Boyd no meio da clareira. Eu sentia o calor na minha pele, afastando o frio e servindo para assar deliciosos marshmallows. 

Após tomar um longo e merecido banho e caminhar pela trilha até o acampamento, eu havia percebido o quão cansado estava. Mas ao mesmo tempo uma sensação gostosa tomava conta de mim e me fazia refletir. Por que eu estava ignorando tudo isso e por tanto tempo? 

Eu estava feliz e não conseguia me ver em outro lugar e muito menos com outras pessoas, sem ser com eles... E Derek. Pensar nele era como mergulhar em algo muito profundo e desconhecido, mas que me fazia sentir vivo. Como as chamas refletidas em seus olhos verdes, a fraca luz delineando suas expressões e linhas faciais. 

Ele era tão lindo.

— Pensamos que isso poderia animar um pouquinho as coisas... — Malia saiu de uma das barracas segurando duas garrafas de vidro em suas mãos. A coiote trocou olhares e risadinhas baixas com Lydia antes de se sentar.

— Sabe que álcool não faz efeito em lobos, né? — Isaac ergueu as sobrancelhas em interrogação, e a encarou com os olhos azuis.

— Somente álcool, não. — Erica pegou uma das garrafas da mão de Malia e bebeu um longo gole direto do gargalo, arfando com a queimação. — Álcool e Wolfsbane.

Parte de mim perguntava se aquilo era seguro, e a outra ainda tentava descobrir se era real. Wolfsbane, o veneno produzido através da planta acônito, pode ser usado por caçadores para enfraquecer e até mesmo matar lobos.

— Eu e as meninas descobrimos como preparar com a ajuda de Deaton, o teor da toxina é muito baixo e apenas... bem, pode embebedar um lobisomem e não causar nenhum efeito em humanos além do normal. — Como se lesse meus pensamentos, Malia explicou animadamente. Deaton havia ajudado nisso? 

— Vocês enganaram ele, Deaton nunca faria isso. — Derek observou enquanto nós enchíamos os copos com o líquido transparente, incrédulo. — Já avisando que não vou cuidar de ninguém bêbado, então peguem leve.

O que poderia dar de errado, não é mesmo? 

— Pare de enrolar e pegue o copo. — Foi a voz de Lydia que respondeu. Ela parecia diferente, até mesmo mais leve e natural comparado as vezes em que agia de forma arrogante e ensaiada na escola, onde vestia a máscara de popularidade que com o tempo estava se desfazendo. — Aposto que nem os deuses sabem o que você e Peter devem ter aprontado no ensino médio.

Derek ponderou algum tempo antes de aceitar o copo. Minha garganta queimou assim que ingeri em um só gole todo o conteúdo do copo, tossindo e provocando um ataque de riso em Malia.

Após o terceiro, eu já sentia o rosto esquentando e a leveza provocada pelo álcool em meu organismo. Scott puxou o seu violão da capa e começou a dedilhar nas cordas desleixadamente, o som tranquilo e agradável aos nossos ouvidos. 

— Precisamos fazer um brinde! — O McCall exclamou com a voz levemente alterada. Uma gargalhada espontânea e pura saiu pela minha garganta, de forma que iniciou uma crise de riso incontrolável na roda inteira. 

— Um brinde ao que? — Isaac perguntou. De repente, qualquer coisa dita era motivo para nós rirmos, como se tudo fosse uma grande piada. Era isso que significava estar bêbado? 

— Stiles e Lydia. — Scott respondeu, parando de tocar o violão subitamente e virando-se para mim com um sorriso nos lábios. — Os mais novos membros da pack. 

—

Nuvens escuras cobriam a acizentada lua crescente no céu noturno e todos já estavam dormindo em suas barracas. Exceto pelo alfa, que abriu os olhos lentamente e segurou o fôlego com a visão que teve. 

Stiles dormia completamente esparramado pelo colchão inflável de casal, um dos braços jazia em cima do peito de Derek em um abraço desajeitado, o rosto tão próximo que dava pra sentir a calma respiração no pescoço do Hale.

O Stilinski parecia estar pesadelando e gemidos baixinhos e angustiantes escapavam pela sua boca. Derek não sabia descrever o que estava sentindo, seu coração ameaçava sair pela boca ao pensar no que ele poderia estar sonhando e no quão próximo eles estavam. Talvez fosse a bebida misturada com wolfsbane brincando com a sua mente.

Sem ao menos pensar no que estava fazendo, afagou os cabelos macios e cheirosos de Stiles enquanto observava sua respiração se acalmar quase instantaneamente. As pintinhas espalhadas pelo rosto visíveis em meio à luz fraca. 

E, naquele momento, observando as pintinhas espalhadas pelo rosto de um Stiles adormecido e agarrando-se nele feito um urso de pelúcia, Derek não tinha certeza de absolutamente nada. Apenas sabia que gostava dessa sensação e de estar perto do Stilinski, e seu lobo parecia pular de felicidade com isso.

E então adormeceu.