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História Code Noir: Fichiers - Omma


Escrita por: VenusNoir

Capítulo 15 - Omma


“Seu filho está fazendo coisas feias com o meu filho”

 

Sua voz sai rouca e falhada, um clarão de luz surgindo súbito na semipenumbra do quarto, só para se extinguir instantes depois. Cho Hana hesita; é como se tivesse recobrado o juízo – agora deseja engolir aquelas palavras, mas, felizmente, é tarde demais. Porque, na verdade, ela não quer engolir nada. Quer cuspir. Vomitar. Exorcizar de si coisas que a estão envenenando há tanto tempo que a haviam deixado doente, moribunda, e em breve também morta. Mama Zhou comprime os lábios e nada fala; sua expressão é taciturna e insondável. Mas, mesmo que pudesse enxergá-la, Cho Hana não saberia como interpretar aquele silêncio. Ele tem o peso de toda a dor e mágoa que carregou até hoje, e amarga no peito até mais do que a humilhação e a opressão sofrida durante aqueles anos. Se seu sofrimento tivesse prevenido Kyuhyun de sofrer também, se aquela família tivesse marcado apenas a ela, ela poderia tolerar. Mas o que faziam com seu menino era imoral – desumano – monstruoso.

 

Mama Zhou está sentada numa cadeira de balanço. Geralmente, Cho Hana passa as noites sozinhas. As enfermeiras a visitam ocasionalmente para checar o soro, seus sinais vitais e garantir que ela ainda vive. Naquela noite, porém, sua sogra resolveu lhe acompanhar madrugada adentro. E é claro que ela, agora que não tem nada a perder, se dá ao luxo de falar – um dos últimos e um dos únicos com os quais pode arcar. É curioso como, segundo sua percepção, a cada dia que passava, aquele segredo ameaçava lhe matar de uma morte horrenda. Havia noites em que despertava em agonia profunda, como se tivesse acabado de emergir de um lago turvo após ter passado um bom tempo submersa, sufocando, se debatendo no fundo da água. Ela desperta respirando com sofreguidão, se acostumando ao ambiente novo que não tinha nada a ver com o de seus pesadelos. Ainda assim, era traumático. Não era o câncer que a estava matando. Eram aquelas pessoas. Não era o segredo, eram os donos desses.

 

“Volte a dormir, garota”, Mama Zhou respondeu, por fim, no seu inglês trôpego e carregado de sotaque. “Você está delirando”

 

No escuro, Cho Hana balançou a cabeça com veemência, se negando pela primeira vez a fazer o que Mama Zhou lhe mandava.

 

“É verdade”, ela insistiu. “Seu filho não é um bom homem”

 

“E o seu é?”, devolveu Mama Zhou, ironicamente. Cho Hana tinha certeza de que ela abria um daqueles seus sorrisos característicos, o canto de seus lábios se curvando presunçosamente. Conhecia aquela velha bem demais; há anos estava sob o domínio dela, e um servo naturalmente observa seu mestre, conhece-lhe os maneirismos e hábitos.

 

“Eu vou morrer”

 

Parecia uma súplica. E era. Mama Zhou, todavia, não se comoveu.

 

“E não vamos todos, garota tola? A morte não é um privilégio seu”

 

“Mas e meu filho?”

 

“É também meu neto”

 

Cho Hana se impacientou.

 

“Você vai deixar... Vai deixar que Zhou Mi continue fazendo coisas feias com ele?”

 

Mama Zhou parou de se balançar na cadeira, esta dando um último rangido fantasmagórico antes de se calar na noite. O mundo de repente parecia absurdamente quieto.

 

“Me diga você, mulher. Você pôde impedir? A resposta obviamente é não. Então por que eu poderia fazê-lo, se seu filho quer que continue?”

 

Um soluço se fez ouvir de um lado e, bem em seguida, um bufar impaciente o acompanhou. Mama Zhou não tinha nenhuma tolerância para sentimentalismo. Nem mesmo de uma moribunda.

 

“Você subestima Kui Xian. Ele vai se virar. Ele vai ficar bem”

 

Tentar consolá-la era em vão, e Mama Zhou sabia disso. Só disse aquilo para descarrego de consciência. Era uma última tentativa de aquietar aquela mulher fraca e de pouca fibra. Sempre soubera que ela era assim, frágil demais, uma vítima nata. Tentara avisar seu filho, mas de nada adiantara. Por sua vontade, seu primogênito teria se casado com uma boa garota chinesa, vinda do campo, com mãos calejadas e experimentada na labuta. Aquela ali não era aguentava o rojão. Não à toa estava morrendo. Entretanto, o mais velho tinha morrido bem antes e nenhuma boa garota chinesa jamais o teria aceitado como consorte. Não se fosse aconselhado por uma casamenteira decente.

 

“Volte a dormir. Já chega por hoje”

 

Cho Hana se deitou, e dela não se ouviu mais nem uma palavra durante o resto da noite. Estava acostumada a obedecer sua Mama: só conseguia se rebelar até certo ponto. Deitada ali, ela se perguntou qual seria o limite de Kyuhyun. Se ele poderia aguentar mais que a mãe. E o quanto de índole e carma ele tinha herdado dos Zhou? Não parecia justo. Se Kyuhyun estivesse ali e pudesse argumentar, porém, ele diria que nada era. Esse nunca foi o mundo dos justos.



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