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História Como cães e gatos - Você não tem o menor dos escrúpulos.


Escrita por: jofanfiqueira

Capítulo 27 - Você não tem o menor dos escrúpulos.


[POV Juliana]

Manuela entra em casa flutuando. Encaro minha irmã caçula com curiosidade, mas não pergunto nada, o mesmo não acontece com meu pai e Bárbara que estão na sala de jantar discutindo algo referente aos negócios da família.

-Manuela, posso saber onde você estava? – Ele pergunta. O rosto de Manuela está vermelho, principalmente a boca, sei exatamente onde ela estava. Sua pele clarinha não ajuda em seu caso. – Manuela, estou falando com você. É uma terça-feira, você só tem quinze anos e tem aula amanhã, não pode chegar em casa a hora que bem entender. Encaro meu relógio de pulso, não apenas dez e meia da noite, nada que eu ou Bárbara não tenhamos superado na idade de Manuela. Mas com Manu é diferente, quando Bárbara tinha quinze anos minha mãe estava viva e meu pai ausente, quando eu tinha quinze anos, minha mãe tinha morrido há pouco tempo e meu não se importava com nada nem com ninguém. Agora, ele tenta compensar sendo extremamente rigoroso com todas nós - embora não tenha a menor noção do que acontece em nossas vidas - principalmente com Manuela.

-Eu estava na casa da Isabela. – Ela responde sem jeito. Percebo que minha irmã foi pega com a guarda baixa. Manuela é forte e sempre tem uma resposta na ponta da língua, mas agora sinto que preciso intervir. Ela tem feito tanto por mim, é o mínimo que posso fazer.

-E você não pensou em avisar. A Isabela mora no Leblon, você voltou de lá até aqui sozinha, provavelmente com um taxista. Você sabe o que pode acontecer com uma garota da sua idade sozinha dentro de um táxi?

-Vamos com calma! – Falo intervindo. – A Manuela não é idiota. Eu mesma a ensinei a sempre chamar táxi pela cooperativa ou pelo aplicativo, assim existe um registro da corrida e os taxistas são mais confiáveis. Além disso, são apenas dez e meia da noite, não é como se ela estivesse entrando em casa com os sapatos na mão e bêbada às duas da manhã. – Relembro propositalmente um episódio que acontecerá com Bárbara.

-Me tira desse meio tá Juliana? – Bárbara avisa. – Agora a Juliana tem razão, pelo menos essa daí anda com gente descente, gente que morra no Leblon. Melhor que fazer amizade suburbana com adolescente grávida. – Aquilo é como um tapa de mão aberta no meio do meu rosto.

-Que adolescente grávida? – Meu pai pergunta espantado.

-A Juliana não te falou não? A Martinha tá grávida.

-A Marta? Meu Deus! Que irresponsabilidade.

-Mas você também não pode falar nada né pai? Teve uma filha com a amante. É ainda mais burro que adolescente que esquece de usar camisinha. – Bárbara diz. – E eu que tenho que engolir a retirante na minha vida. Amanhã tenho que subir na passarela do Garota Carioca e lidar com o fato de que a aquela... que ela é minha irmã, todos estão dizendo isso “um contraste familiar”, como se ela chegasse aos meus pés. A garota nem mesmo é carioca e vai participar do concurso.

-Talvez ela seja melhor que você! Já considerou isso? – Manuela questiona.

-Eu deveria fazer você engolir cada palavra dessa. – Bárbara grita.

Uma grande discussão se forma e eu respiro fundo tentando me conter. Manuela discute com Bárbara, meu pai tenta acalmar os ânimos. Eu começo a sentir minha cabeça gelar, meu estômago gelar e então meu coração acelera, é isso, estou morrendo penso. Tenho uma vontade enorme de vomitar.

-Pessoal.... – começo a fala com a voz fraca. – Pessoal... – Manuela é a primeira a me notar, em seguida meu pai corre na minha direção. – Eu não estou me sentindo bem. – Afirmo. Posso ouvir a voz de Bárbara falando algo, mas não consigo entender. Então desmaio.

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[MANUELA]

Minha irmã do meio cai no chão e corremos para ampará-la.

-Depois a dramática sou eu. – Bárbara afirma antes de notar que a coisa a séria. Segundos depois, ela mesma está ajoelhada ao lado de Juliana, com o telefone na mão ligando para a emergência. Meu pai checa Juliana.

– Não vamos esperar pela ambulância. – Ele pega Juliana nos braços e saímos todos correndo. -Documentos. Peguem a carteira dela. – Ele grita. Volto correndo para o quarto e faço o que ele pede. Encontro-os tirando o carro da garagem e pulo no banco da frente. Bárbara está atrás com a cabeça de Juliana em seu colo.

-Deve ser fraqueza por causa da virose. – Bárbara afirma. Ela parece bem, apenas desacordada. – Juliana, Juliana. – Minha irmã mais velha fala sacudindo-a. Não funciona.

Levamos cerca de quinze minutos para chegar a urgência mais próxima de nossa casa. Rapidamente, Juliana foi atendida. O médico seguiu com ela, Bárbara foi como acompanhante, eu e meu pai ficamos no saguão de atendimento, ele apresentando a documentação e convênio de Juliana, eu me sentei para esperar, estava extremamente nervosa. Meu celular vibra e eu o tiro do bolso, é Lucas querendo checar Juliana, novamente, ele tem feito isso pelo menos uma vez por dia, dessa vez não respondo. Não precisamos de mais uma pessoa preocupada. Meu pai senta ao meu lado com um formulário na mão.

-Aqui pergunta se a sua irmã tem alergia a alguma coisa. E eu não sei, eu não sei se ela tem uma alergia. Que tipo de pai eu sou? – Ele questiona passando a mão no rosto. Percebo que meu pai está com os olhos cheios de lágrimas.

-Ela não tem. – Respondo. - Eu tenho alergia a picada de mosquitos, e a Bárbara a proteína do ovo, mas não a Juliana não tem alergia alguma. – Afirmo.

-Eu não sabia de nada disso. – Ele responde. Uma lágrima escorre pelo canto do olho do meu pai.

-Ela vai ficar bem. – Afirmo segurando a mão do meu pai. – Vai ficar tudo bem.

-Quando foi que você cresceu tanto? – Ele questiona. – Outra coisa na qual eu provavelmente não prestei atenção. Sua irmã tem razão sabia, a Bárbara tem razão, eu sou um idiota.

-Você não vai ganhar o troféu de melhor pai do mundo. Mas você não é ruim, você está aqui com a gente quando precisamos, você tenta. Acho que isso conta para alguma coisa. – Afirmo.

Antes que meu pai possa me dizer mais alguma coisa o médico retorna para nos dar notícia.

-Doutor, como ela está? – Meu pai questiona.

-A Juliana teve um ataque de pânico. Isso pode acontecer devido a situações de estresse extremo, pode ser um evento isolado ou ser uma síndrome, isso é algo que vamos descobrir conversando com ela. Agora ela está no soro com um pouco de calmante, mas não se preocupe ela vai ficar bem. Estamos levando ela para um quarto, assim que ela for transferida peço para que sejam avisando e vocês podem entrar para ficar com ela. – Ele afirma. Meu pai agradece e o médico retorna.

 (...)

Juliana sai do hospital em menos de uma hora. Voltamos todos para casa em silêncio. A repentina visita à uma emergência realmente acalmou os ânimos. No dia seguinte, depois da escola, segui com Juliana para a Forma assistir o concurso Garota Carioca. Ela parecia consideravelmente melhor, então aproveitei para escapar com Fábio depois das primeiras etapas do concurso. Nos deitamos lado a lado no tatame de uma das salas de luta - escolhi a mais afastada de todas, perto do vestiário – nossas mãos dadas, olho no olho, e conversamos. Contei sobre Juliana, sobre a discussão com Bárbara, Fábio me apoiou e foi carinhoso, como sempre. Em momentos assim, eu me sinto mal por ser tão inexperiente e não saber agir da mesma forma com ele, não me sinto uma boa namorada.

-Que tal fazermos algo que te anime? – Ele pergunta sorrindo.

-Tipo o que? – Pergunto curiosa.

-Não sei. Qualquer coisa que você queria.

-A coisa que mais me anima é lutar. – Digo sorrindo. – Você topa?

-Uma luta? Ok, mas o que aconteceu se eu te vencer? O que eu ganho? – Ele questiona ficando de pé. Fábio me oferece a mão e me ajuda a levantar.

-Eu mudo meu nome. – Respondo encarando-o.

Nos posicionamos e Fábio tentar me derrubar, a primeira investida é fracassada. Lembro-o novamente os movimentos e, na terceira tentativa Fábio me pega com a guarda baixa e consegue me levar ao chão. Ele senta por cima de mim, um joelho de cada lado dos meus quadris, me encarando.

-Já pensou num nome novo? – Questiona sorrindo. Eu poderia desarmá-lo com facilidade, mas gosto do modo como ele me olha, me perco naquilo. Fábio desliza suas mãos pelo meu braço e depois se inclina para me beijar. Correspondo-o segurando em sua nuca, trazendo seu corpo para mais perto do meu. Fábio beija meu pescoço e eu sinto meu corpo vibrar, alternamos nossas posições e eu fico por cima. – Alguém pode aparecer.

-Ninguém vai entrar aqui Fábio. A academia está fechada para o concurso. Dá para você calar a boca e me beijar? – Provoco olhando-o de forma desafiadora. Fábio me encara, ele parece tentar decidir entre continuar ou não. Incentivo-o passando minha mão pelo seu tórax. Ele recomeça a me beijar e avança pela minha blusa, então ouvimos um barulho e levantamos sobressaltados.

-O que é isso? -Fábio questiona. Avanço pela porta e ele me alcança. – Aonde você vai?

Ouvimos novamente um barulho, como se objetos estivessem sendo lançados.

-Está vindo do vestiário. – Afirmo. Saio andando de mãos dadas com Fábio que insiste em não me soltar e encontro a amiga de Joana parada na frente o banheiro, é de lá que vêm os gritos. E é a voz da Bárbara.

-Sula, o que está acontecendo aqui? – Fábio pergunta.

-Uma pequena conversinha entre irmãs. – Ela responde. – Vocês podem voltar a fazer o que estavam fazendo.

-De jeito nenhum! – Solto a mão de Fábio e avanço para a porta.

-Está trancada por dentro. – Ela avisa. Tento abrir e descubro que a garota tem razão.

-E você não pensou em chamar ninguém? – Questiono irritada.

-Não. A nojenta loira merece isso. A Joana merece esse acerto de contas.

Saio correndo deixando Fábio e Sula sozinhos e procuro meu pai na multidão. Ele está conversando com algumas pessoas e não me dá atenção de imediato. Então avanço até ele e bato no seu ombro.

-Manuela, querida, isso não modos? Eu estou conversando.

-É melhor você vir comigo. – Digo tentando enfatizar a frase.

Meu pai pede desculpas e se afasta.

-O que está acontecendo? É a Juliana? Porque ela estava bem, pedi para que o Lucas que estava com ela não a deixasse sozinha.

-É a Bárbara. Ela e a Joana estão trancadas no banheiro e eu acho que ela precisa de ajuda.

Meu pai corre em direção ao vestiário e eu sigo ao seu encalço. Chegando lá, ele chama pelas duas. “Pai, socorro” Bárbara grita, sua voz tem uma perfeita mistura de choro e raiva. Meu pai chama novamente e nada. Então ele decide chutar a porta.

A cena é assustadora. Joana está por cima de Bárbara. Ambas descabeladas, o rosto da minha irmã mais velha está vermelho. Meu pai entra no vestiário e afasta Joana de Bárbara, Fábio tenta acalmar Joana junto com ele enquanto Bárbara continua caída no chão, me aproximo da minha irmã e tento ajuda-la, mas Bárbara me afasta segurando o rosto.

-Você tá vendo isso? – Ela questiona mostrando as marcas no seu rosto ao meu pai. Podemos ver marcas das mãos de Joana no rosto da minha irmã.

-Isso é pouco perto do que você merecia. – Joana grita. Ela também está machucada, mas Bárbara, claramente, saiu perdendo da briga.

-Calada! – Ele grita encarando Joana. – Você não podia ter feito isso. Eu não me importo que tipo de provocação tenha sido feita.

-Não importa? Vamos ver, sua filha me acusou de ser prostituta, pagou ao meu irmão de consideração para vir até o Rio de Janeiro e espalhar aquela história, ela constantemente tenta me sabotar, inclusive, hoje, ela cortou todo o meu vestido para que eu não entrasse naquela passarela....  -

-Eu não quero ouvir... – Meu pai explode. Estou com ódio de Joana por ter batido na minha irmã, mas também sinto pena dela, pena por tudo que ela tem passado, pelo que Bárbara tem a feito passar.

-Não, claro que não quer. Porque eu sou só a bastarda que você não quis criar e ela é sua filha legítima, não é isso?

-Joana, vamos embora! – Fábio diz puxando-a pela mão. Ela o escuta, parece mais calma, embora algumas lágrimas molhem seu rosto.

Assim que ela saí meu pai se aproxima de Bárbara.

-Agora você viu quem ela é! – Bárbara diz. A expressão da minha irmã muda, ela tem um ar de vitória. – Um animal, uma retirante que não devia nem estar...

-Isso é verdade? – Meu pai questiona gritando. – É verdade o que a Joana acabou de dizer?

-Você vai acreditar nela? Depois de tudo que aconteceu aqui hoje? Pai, eu preciso prestar queixas...ela é violenta, mentirosa e...

-É verdade! – Disparo. – A Bárbara pagou a hospedagem do Toninho no Rio, foi ela quem trouxe ele.

Bárbara me encara com ódio nos olhos.

– Enlouqueceu, é isso? Isso é coisa do filho da recepcionista, não é?

-O que o Fábio tem com isso? – Meu pai pergunta.

-Eles estão amiguinhos. – Bárbara diz com uma expressão de nojo. Essa família tem um dedo podre, você com a vadia da Carmem, a Juliana e os amigos problemáticos dela, essa daí e...

-Cala a boca! – Grito irritada. – Você não presta!

-Eu não presto? Eu praticamente te criei! EU, eu cuidei de você quando você tinha febre, te ajudei a aprender a ler, te ensinei andar de bicicleta. E agora você me acusa dessa forma? Você é uma idiota que acha que se aliando a Joana vai sobrar alguma migalha de pai para você, não vai! Esse daí jogou na minha cara que a mãe da Joana era o amor da vida dele. Eu sou a primeira filha, a Juliana é a filha que chama mais atenção, a problemática, você já nasceu sobrando. E agora vai sobrar ainda mais. Como é que pode competir com a filha do amor da vida de alguém?

Começo a chorar e meu pai avança em direção à Bárbara e grita “Não fale assim com a sua irmã, entendeu?”. Pergunta sacolejando-a. Bárbara não sede, Enxugo as lágrimas e a encaro, uma. fúria toma conta de mim.

-Você se acha tão superior a Joana, a mim, a todo mundo, mas não passa de uma mentirosa. Eu sei que foi você quem pagou a vinda do Toninho para o Rio, eu sei que foi você quem apagou as mensagens do telefone da Joana para que eu não a encontrasse no dia que eu fui atropelada. Eu sei que você faria qualquer coisa para tirá-la das nossas vidas, qualquer coisa mesmo. Você não tem o menor dos escrúpulos.


Notas Finais


E ai, o que acharam? Quis criar um tom um pouco diferente para a briga mais esperada de Malhação. Essa briga, diferente da novela, será um divisor de águas para a fanfictions, é a partir daqui que a Manuela vai começar a se desprender mais, ousar mais. Experimentei esse POV com a Juliana porque, talvez, eu precise disso para desenvolver JUCAS, ainda não sei se vou mesmo usar, talvez eu narre em terceira pessoa, não quero perder o foco de Fabiela, mas também quero muito falar um pouco de Jucas.


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