No momento em que seu coração bater mais rápido ao ouvir a voz dele, no momento em que pensar em não o ver mais lhe cause tanta dor a ponto de você achar que não pode suportar, no momento em que o cheiro dele for o único que você quer sentir e os olhos dele, os únicos que você quiser ver, corra. Controle as batidas do seu coração e corra, porque depois disso não tem mais volta.
E eu nunca pude controlar meus batimentos.
Minhas pernas se mexiam de um lado para o outro denunciando minha tensão. Não que ela não pudesse ser vista no meu rosto inchado de tanto chorar ou nas lágrimas que tinha no canto dos olhos. Porque, sim, era bem evidente meu estado.
Hoseok logo ia chegar, ele e Tae estavam viajando por dois dias para aproveitar a folga de Hoseok, já que Taehyung havia insistido muito. Mas agora tudo estava pra depois. Não só para eles.
Eu estava pra depois. As ligações do meu pai, sua insistência e toda a raiva que isso me provocava estavam para depois. Se eu iria desmaiar de tão nervoso, estava pra depois. Se minha cabeça estava tão cheia que eu sentia que explodiria, estava pra depois. Nada importava, nada além de Jimin.
Quando minha mente não vagava em toda a culpa que eu sentia e em possíveis problemas futuros, ela vagava naquela mesma lembrança. Meus olhos abrindo, pessoas falando alto, uma criança chorando, um carro que havia sido parado de súbito, um motorista nervoso e logo mais a frente, Jimin caído. O machucado em sua testa, o sangue dele no chão. Seus óculos caídos e quebrados. Eu pensei no quanto ele cuidava e gostava daqueles óculos, e agora estavam destruídos.
Lembro do meu coração ter parado, nem sei por quanto tempo. Eu corri e me ajoelhei ao lado dele, peguei seu rosto e olhei sua face desacordada. Tudo tinha parado, tudo. Eu lembro das lágrimas grossas escorrendo pelo meu rosto sem o meu consentimento e caindo nas bochechas, agora, sujas de sangue de Jimin. Lembro de ter passado minha mão em seu rosto, limpando aquele líquido vermelho que deixava sua pele tão linda, algo doloroso de se ver. E me lembro das minhas palavras exatas quando abracei seu corpo junto ao meu, deixando minhas lágrimas molharem seu pescoço.
"Por favor, fique bem... Por favor, eu não posso ficar sem você... Por favor...".
A ambulância chegou e Jimin não demorou a estar dentro do veículo sendo cuidado, eu subi como acompanhante, mas estava tão tenso que desmaiei e os médicos tiveram que me atender também. Eu acordei alguns momentos depois e pude ver Jimin com os olhos levemente abertos. Eu nunca tinha sentido um alívio tão grande antes. Meu coração que antes tinha parado, batia tão rápido que achei que todos no veículo pudessem ouvir.
Jimin olhou pra mim, e eu, ainda tonto pelo desmaio, me movi até ficar ao lado dele, no chão. Ele mexeu sua mão um pouco, eu a segurei, tentando passar um pouco de segurança e mostrar que estava ali. Eu estava ali, ele tinha que saber, eu não iria embora. Ele tinha que saber. Jimin sorriu minimamente, os remédios o deixaram desnorteado. Ele disse: "Anjo... Meu anjo está bem...".
Depois disso entramos no hospital e eu fui separado dele. Quando perguntei para os médicos o que Jimin tinha, disseram que aparentemente não era nada grave. Uma fratura na perna, nada para se alarmar. Mas como ele tinha um pequeno machucado na cabeça, não sabiam se tinha uma lesão interna. Essa era a maior preocupação: Jimin ter batido a cabeça com tanta força que algo foi machucado por dentro. Porém ele acordou na ambulância, falou e estava reagindo aos estímulos, isso era bom sinal. Ele tinha desmaiado pela batida que sua cabeça teve com o chão quando o carro o acertou. Por isso o machucado na testa que sangrava.
Eu tinha alguns arranhões nos braços mas isso não importava. Me mandaram cuidar daqueles machucados, todavia eu estava nervoso demais. Quase bati nos enfermeiros que me separaram de Jimin. Apenas me acalmei quando disseram que como eu era o único ali devia ajudar e se ficasse surtando eles teriam que me hospitalizar. A última coisa que eu queria era ficar ainda mais longe de Jimin. Deixei que cuidassem dos arranhões em meus braços enquanto faziam exames em Jimin.
As enfermeiras que cuidaram de mim estavam chorando por minha causa. Porque eu estava chorando, chorando demais, eu mal podia falar e isso as deixou mal também. Na verdade, qualquer um que me visse ia começar a chorar; meu estado era péssimo. Mesmo depois de saber que Jimin não tinha sofrido nada grave e que depois daqueles exames teria essa certeza, que ele não tinha nenhuma lesão, eu ainda estava desesperado.
Pela culpa; por saber que se eu não tivesse corrido daquele jeito e sido tão idiota, não teria acontecido, e também por ter dito o que disse.
Pelo medo; o medo que senti de que Jimin não abrisse os olhos, ou tivesse algum problema grave, e as últimas coisas que ele tivesse ouvido de mim fossem aquelas palavras que eu queria apagar da minha mente e da dele. "Eu gosto de você, Jimin, mas às vezes eu não te suporto!". Não era verdade. Era o que eu queria dizer a ele. Não era verdade, não era mais verdade há tempos. Não era mais verdade desde que tornei todas aquelas regras que antes me chateavam em parte do meu dia-a-dia. Parte essa que eu aprendi a apreciar. Porque eu via o sorriso de Jimin, eu via sua gratidão, e isso já me bastava. Queria que ele soubesse disso.
E também chorava porque eu sentia... Eu nem sabia o que era. Era uma dor no peito por pensar que estava longe de Jimin. Era a vontade de invadir a sala de exames e tirar da minha frente quem nos separava. Era vontade de me colar a ele.
Estar ali impotente ao lado das enfermeiras me causava uma tristeza enorme, um tipo que nunca tinha sentido antes.
Um médico se aproximou de mim, me tirando de meus devaneios. Me levantei rápido, secando as lágrimas que escorriam pelo meu rosto.
ㅡ Você estava com Jimin quando ele chegou, certo? ㅡ o doutor, já velho, me perguntou.
ㅡ Sim, sim, eu estava. Ele vai ficar bem? Ele teve alguma lesão? Algum problema? Ele...
ㅡ Ei, ei ㅡ riu ㅡ, se acalme. Ele está bem, está acordado e bem consciente. Fizemos os exames e ele não teve nenhuma lesão interna, além da perna esquerda quebrada ele está ótimo. ㅡ Sorriu. Foi como se um peso gigantesco fosse tirado das minhas costas. Eu suspirei tão alto em alívio que o doutor riu novamente. Meu coração estava mais calmo e eu tinha voltado a chorar, agora de alívio.
ㅡ Eu posso vê-lo? ㅡ Funguei e sorri largo.
ㅡ Claro, mas antes quero conversar com você, sim? ㅡ Assenti. ㅡ Mesmo sendo uma fratura não muito grave, exige cuidados. E pelo modo com que o Sr. Park rejeitou ajuda até para ajeitar o travesseiro, suponho que ele seja muito independente e possa ser negligente com sua saúde e cuidados.
ㅡ Ah, isso é bem ele mesmo. ㅡ Funguei de novo. ㅡ Ele gosta de fazer tudo sozinho e do jeito dele, nem me deixa cortar as batatas sozinho, fazer ele relaxar e se preocupar com ele é difícil. ㅡ Ri ao lembrar dele tirando a faca afiada da minha mão para que eu não me machucasse cortando batatas.
ㅡ Oh, vocês moram juntos? ㅡ Concordei. ㅡ Ótimo! Assim vai poder garantir que ele tome os medicamentos e não faça nada que possa comprometer sua recuperação. Ou você não pode? Tem mais alguém pra cuidar dele?
ㅡ Não, não, não, não. Eu posso, eu cuido dele, sim. Ele tem um irmão, mas trabalha e não pode ficar com Jimin durante toda a recuperação. Mas ele pode ajudar também.
ㅡ Ótimo. A propósito, você é namorado dele? Os enfermeiros perguntaram a você seu nível de parentesco quando chegou, para que pudessem pedir informações, mas você não respondeu.
ㅡ Eu estava tão tenso que não ouvia ninguém, desculpe por toda a confusão que causei. E não, eu e Jimin somos amigos.
ㅡ Mesmo? ㅡ Assenti. ㅡ Ah, desculpe. É que pela forma que ele perguntava de você achei que tivessem algo a mais. Mas, vamos, vou te levar até ele. ㅡ Começamos a andar pelo corredor.
ㅡ Ele perguntou de mim?
ㅡ Ah, sim, ele não parava de perguntar se você estava bem, se estava recebendo cuidados. Ele quase bateu em um enfermeiro que se recusou a comprar um chocolate pra você. Podia ter machucado ainda mais a perna fraturada. ㅡ Riu, lembrando do momento.
ㅡ Ele ameaçou bater em um enfermeiro que não quis comprar um chocolate pra mim? ㅡ Eu estava em choque. Pensar em Jimin batendo em alguém já era estranho, mas por não comprar um chocolate?
ㅡ Sim. Ele disse que chocolate te deixava calmo e mandou um enfermeiro ir comprar. Quando ele se recusou, Jimin tentou lhe dar tapas. Foi bem cômico.
Imaginei a cena e meu peito ficou quente. Jimin se preocupava comigo, então ele não me culpava, o que me aliviava, contudo não diminuía minha culpa.
ㅡ Bom, acho que vão querer conversar sozinhos. Eu voltarei mais tarde para receitar os medicamentos e cuidados que ele deve ter ㅡ o doutor disse ao me deixar na porta do quarto de Jimin.
ㅡ Muito obrigado, senhor.
Após agradecer, suspirei e segurei a maçaneta. Ao mesmo tempo em que queria abrir e correr até Jimin, eu estava assustado. O que eu diria a ele? Ignorei esses pensamentos antes de ficar ainda mais tenso e apenas abri a porta. Assim que coloquei o primeiro pé ali, meus olhos e os de Jimin se encontraram. Nos olhamos por uns seis segundos sem dizer nada, eu ainda parado segurando a maçaneta. Então Jimin sorriu e eu sorri também, sentindo meus olhos marejarem. Fechei a porta e corri até ele, me ajoelhei ao lado da cama e peguei sua mão. A segurei forte, deitei minha cabeça em seu peito, sentindo algumas poucas lágrimas me escaparem.
ㅡ Jimin, me perdoa. É tudo culpa minha, desculpe, desculpe...
ㅡ Ei, tudo bem, não foi sua culpa. Eu estou bem ㅡ ele dizia com calma e passava as mãos no meu cabelo.
ㅡ Mas podia não estar, podia ter se machucado mais. Me perdoe por isso, por tudo o que eu disse, me perdoe, por favor... ㅡ falava baixo, tentava não chorar ainda mais.
ㅡ Está tudo bem, não se preocupe com nada. E você está bem? Se machucou?
ㅡ Jimin, eu só arranhei o braço, como pode se preocupar comigo? Mesmo que você não ache, é minha culpa você estar assim! ㅡ O observei com atenção. ㅡ Por favor, não se preocupe, você que precisa de cuidados, eu não. ㅡ Ele suspirou e sorriu pra mim.
ㅡ Ok, vamos deixar isso pra lá. Você avisou alguém que eu estava aqui?
ㅡ Liguei para Hoseok, do jeito que eu estava desesperado acho que deixei ele maluco.
ㅡ Ah, ele deve ter ficado louco mesmo. ㅡ Achou graça e riu baixinho. ㅡ Mesmo que você não queira, eu me importo. Tem certeza que está bem? ㅡ Podia ver a preocupação em seu rosto, fechei os olhos novamente, suspirando.
ㅡ Eu estou bem, mas se você quer me deixar calmo, apenas me diga que me perdoa.
ㅡ Meu anjo, eu não tenho o que perdoar. Você estar bem é tudo que me importa.
ㅡ O que eu faria aqui sem você, Jimin? ㅡ Ele sorriu e desceu sua mão de meu cabelo até meu queixo; fez um carinho ali.
ㅡ Eu não me importaria de morrer por você, Jungkook.
Antes que eu pudesse pensar no que responder, o Doutor entrou trazendo alguns papéis dos exames e nomes dos remédios que Jimin devia tomar. Após ele explicar sobre os analgésicos, anti-inflamatórios e antibióticos, e reiterar com detalhes a Jimin e a mim suas limitações até poder tirar o gesso, Jimin ficou apenas mais um tempo no hospital. Ele não tinha nada grave para ficar em observação, e além de ter que usar muletas ele estava ótimo. O Doutor me disse que ele teve sorte, com a força que o carro o acertou, podia ter se machucado muito mais.
{...}
ㅡ Certeza que vão ficar bem? Eu e Tae somos ocupados, mas podemos dar um jeito de estar presentes. E esses meus dias de férias também...
ㅡ Hoseok, eu vou ficar bem. É só uma perna quebrada, não estou morrendo ㅡ Jimin disse enquanto eu ajeitava a almofada atrás dele no sofá. ㅡ Volte pra casa, curta suas férias com Tae e não se preocupe.
ㅡ Aff, como quer que eu não me preocupe quando Jungkook me liga aos prantos falando que você foi atropelado? E vocês dois sozinhos aqui com você assim... Jungkook mal cuida dele, imagina de você! ㅡ Bufou e passou as mãos pelo rosto.
ㅡ Eu posso não ser a pessoa mais responsável do mundo, Hoseok, mas eu vou fazer tudo o que puder pra cuidar de Jimin. Quanto a isso, não duvide. ㅡ Hoseok me encarou e suspirou, concordando com a cabeça.
ㅡ Certo, certo. Mas me avisem se precisarem de algo. Não hesitem.
ㅡ Pronto, deixei todos os remédios onde você pediu, Jungkook. Posso ajudar mais? ㅡ Tae perguntou, voltando da cozinha.
ㅡ Não, tudo bem. Obrigado ㅡ agradeci.
ㅡ Eu e Tae vamos agora, mas não se esqueçam que podem nos chamar. ㅡ Hoseok reiterou, nos apontando o dedo.
ㅡ Sim, Hoseok, nós sabemos. ㅡ Jimin disse ao acenar para ele, que estava na porta.
Nossos irmãos logo saíram, e eu me sentei ao lado de Jimin no sofá. Suspirei e fechei os olhos, me afundando no estofado. Eu me sentia acabado por dentro, tantas emoções me deixaram exausto. Porém tinha que estar operante para Jimin, então espantei esses pensamentos e me ajeitei no sofá, o olhando.
ㅡ Então, quer o que para o jantar?
ㅡ Acho que se eu colocar uma cadeira ao lado da pia, eu consigo fazer uma...
ㅡ O que? Não! Eu cozinho, Jimin. Apenas me diga como fazer e eu faço. Ou eu improviso um macarrão com molho de carne. ㅡ Me levantei e fui em direção à cozinha, depois de ajeitar a almofada de Jimin e arrumar ele deitadinho em uma posição confortável. E dar a ele seu par reserva de óculos. E conferir a temperatura dele, porque vai que ele pegou uma infecção quando caiu? Calma... Isso é possível, não é?
ㅡ Jungkook, eu não estou morrendo! ㅡ Riu. ㅡ Você tá até parecendo eu!
ㅡ Ah, verdade... ㅡ Ri também.
ㅡ Pare com isso antes que vire um hipocondríaco. Contanto que tudo aqui esteja arrumado e limpo, eu vou me manter calmo.
ㅡ Está mandando eu me preocupar com o apartamento e não com você? ㅡ Ele concordou. ㅡ Mas nem dando um tiro no meu cu! ㅡ Jimin me repreendeu com o olhar. ㅡ Digo, nem baleando meu ânus!
ㅡ Jungkook!
ㅡ Desculpa, mas agora você está machucado e quem está mandando aqui sou eu. Então tudo o que você pode e tem que fazer é ficar aí parado. No máximo ir ao banheiro ou fazer uma caminhada rápida. Mas nada de esforço e nada de ficar se tratando como se fosse um ser sem importância! Entendeu?
ㅡ Entendi, general. ㅡ Mostrou a língua pra mim.
ㅡ Tão maduro, Jimin. Tão maduro.
ㅡ Vai logo fazer o jantar se não quer que eu faça.
Deixei-o assistindo televisão e comecei a fazer o jantar, que seria macarrão com molho de carne mesmo. Era a melhor coisa que eu sabia fazer. Enquanto cozinhava, dividia meu tempo entre: olhar a comida; limpar algo da casa ㅡ já que todas as tarefas que Jimin normalmente fazia estavam por minha conta ㅡ; cuidar o horário para dar os remédios a Jimin e perguntar a ele de três em três minutos se precisava de algo.
Achei que tudo isso iria me distrair, deixar minha mente menos conturbada. E funcionou, em partes, com exceção de algumas mensagens incessantes que eram enviadas a mim às vezes. Mas eu as ignorava, tinha trabalho a fazer. Enquanto limpava uma das portas do armário percebi que tinha esquecido do macarrão, que quase queimou.
ㅡ Aish! Eu nem sei fazer uma droga de macarrão! ㅡ ralhei comigo mesmo e tirei a panela do fogão.
ㅡ Jungkook, você está tentando fazer muitas coisas, tenha calma ㅡ Jimin falou, me olhando preocupado do sofá da sala.
ㅡ Você faz essas coisas todos os dias, eu consigo. ㅡ Tentei sorrir, mas estava tão exausto que devo ter falhado.
ㅡ Sim, mas não faço tudo ao mesmo tempo, e você me ajuda. Sinto muito por você ter que fazer tudo isso. ㅡ Suspirou.
ㅡ Não, não, tudo bem. Eu só tenho que prestar mais atenção, não se preocupe com nada. Vai querer jantar aí no sofá?
ㅡ O que? Não! Não é porque estou machucado que as regras do apartamento não existem mais.
ㅡ Certo, certo.
Continuei com tudo o que tinha pra fazer, logo eu já tinha servido meu prato e o de Jimin e eles estavam na mesa, esfriando. Ele podia fazer isso sozinho? Sim, porém eu não ia deixar. De certa forma, queria compensar Jimin por tê-lo posto naquela situação. E mesmo que eu soubesse que isso não ia tirar nem metade da minha culpa, ainda queria tentar.
ㅡ Está muito bom ㅡ ele elogiou minha comida.
ㅡ Não é tão bom quanto sua comida, mas é, tá gostoso.
ㅡ Eu posso lavar a louça, não é assim tão...
ㅡ Jimin, por favor, me deixe cuidar de você. Mesmo que eu ajude você aqui normalmente, a maior parte do trabalho é sua. Eu quero fazer isso por você, Jimin. Me deixe cuidar de você.
Ele me olhou por alguns segundos, então suspirou e assentiu.
ㅡ Eu vou tentar ficar de repouso, mas não prometo que não vou tentar fazer alguma coisa.
ㅡ Não me faça ter que te vigiar! ㅡ O apontei o garfo.
ㅡ Vigiar? Você faria isso?
ㅡ Sinceramente? Se for pro seu bem, sim. ㅡ Jimin riu e balançou a cabeça em sinal de negação.
Eu sabia que as semanas com Jimin sem poder fazer muita coisa seriam difíceis no início, contudo eu estava disposto a aprender o que não sabia e cuidar dele da melhor forma possível.
Ele comia o macarrão com cuidado para que não sujasse a roupa ou mesmo o queixo com molho, e eu nunca tinha reparado no biquinho que seus lábios formavam quando ele fazia isso. Isso me fez sorrir meio bobo. Jimin era tão... Jimin.
Pensar que algo pior podia ter acontecido com ele já me trazia vontade de chorar. O que eu faria sem nunca mais poder ver Jimin comendo macarrão? Se antes tudo o que eu queria era me mudar logo e me ver livre de Jimin, agora tudo o que eu desejava era estar perto dele até ele cansar de mim.
Porque eu nunca me cansaria dele.
{...}
Eram duas da manhã quando eu acordei, os pesadelos não me deixavam dormir. Eu sonhava com Jimin se machucando, chorando, ou com meu pai. Todos sonhos ruins.
Levantei da cama e fui até a cozinha, tomei um remédio para dor de cabeça e me sentei no sofá. Eu precisava beber. Eu queria ir pra um bar e beber, beber até não lembrar de mais nada, depois cair na cama e dormir até o dia seguinte. Minha única preocupação era Jimin precisar de algo. E se ele se machucasse ou algo do tipo? Eu não podia arriscar. Depois de andar de um lado pro outro, percebi que eu tinha que sair. Eu sentia que ia explodir. Mas e Jimin? O bar mais próximo era no outro bairro, talvez se eu fosse e voltasse correndo… desse tempo.
Deixei um bilhete para Jimin na mesa da cozinha falando que logo voltava, caso ele despertasse. Peguei uma jaqueta e saí. Meu medo ainda era maior, por isso bati na porta do vizinho.
ㅡ Oi, desculpa incomodar, mas me faz um favor?
Ele sempre foi muito gentil comigo, mesmo que a gente falasse poucas vezes. Jimin também gostava dele, ele sempre nos cumprimentava e Jimin disse que ele até o deu presente no Natal. Eu só esperava que ele pudesse me ajudar naquele momento. Pedi que prestasse atenção em barulhos, e caso ele ouvisse Jimin me chamando ou qualquer coisa, que me ligasse logo e tentasse ajudá-lo. Saí rápido dali, com o celular no ouvido.
ㅡ Oi, me empresta a sua moto?
{...}
ㅡ Mais uma dose ㅡ pedi.
Olhei a hora, reparei que estava no bar fazia 15 minutos. Meu limite de tempo era 20, foi a meta que coloquei. Eu brincava com a chave da moto de Yoongi na minha mão, me distraindo. Ri sem humor ao ver que o adesivo de gatinho que eu havia colado ali permanecia intacto. Yoongi nunca foi muito de deixar as coisas pra lá, eu devia saber.
Olhei a hora no celular mais uma vez enquanto virava o pequeno copo com a bebida que acabara de receber. Minha tela de início era uma foto minha que tirei na sala, no fundo era possível ver Jimin cozinhando. Eu tinha um carinho enorme por aquela foto.
ㅡ Me dá mais uma e eu já vou.
Eu já estava muito nervoso por deixar Jimin sozinho, e no fim beber não me acalmou como achei que ia acalmar. Após virar o último copo, mandei uma mensagem para Yoongi, dizendo que no dia seguinte lhe devolveria a moto, ou que ele podia buscar. Senti o vento frio quando saí do estabelecimento e logo eu já estava na rua. Pensei em chamar Yoongi para me levar, já que eu estava meio bêbado, mas sabia que ele transformaria isso num motivo para trazer à tona coisas do passado, por isso deixei a ideia de lado e foquei em me manter atento.
Queria chegar rápido em casa, pensar em estar logo no apartamento me acalmava. Tudo estaria bem se um carro não tivesse aparecido do nada e me feito desviar. Bati com a moto em uma droga de poste, por sorte não me machuquei.
ㅡ Bela noite, bela ideia, Jungkook! Você é tão idiota!
Yoongi ama essa moto. Ele vai me matar, era o que eu pensava.
ㅡ Cara, você é cego? Tava dirigindo do lado errado da rua! ㅡ reclamei com o motorista que quase me acertou e tinha parado o carro um pouco atrás de mim.
ㅡ Eu não te vi, cara! ㅡ exclamou, com as mãos na cabeça.
ㅡ Eu percebi!
Como se não pudesse piorar, a polícia apareceu. Eu quis me matar.
Que bela ideia, Jungkook. Sair de casa no meio da madrugada pra ir beber, bater a moto do Yoongi e agora ter problema com a polícia.
{...}
ㅡ Achei que sem o carro você evitaria coisas assim.
O olhei e me controlei para não explodir. A última pessoa que eu queria ver era ele, no entanto eu lá tinha escolha? Bufei.
ㅡ Você pode só pagar a fiança? Eu te devolvo o dinheiro.
Ele ainda usava a mesma gravata vermelha. Depois de anos ele ainda não a tinha colocado no lixo? Aquele terno bem arrumado me dava ânsia de vômito, e aquele olhar me fazia ter vontade de chorar.
ㅡ Jungkook, a moto não é sua. É de Yoongi, não é? ㅡ Desviou do assunto.
ㅡ É, é dele. E não se preocupe com isso, que eu também vou dar um jeito de ajudar ele no conserto da moto.
ㅡ Me surpreende que depois de tudo ele ainda confie em você.
ㅡ Olha, você pode só pagar a droga da fiança? ㅡ Bufei.
ㅡ Eu não vou pagar.
ㅡ O quê? Então por que veio até aqui?!
ㅡ Pra avisar que não vou mais pagar pelas suas irresponsabilidades, filho.
ㅡ O quê? ㅡ Ri, mas ri de raiva. ㅡ Não vai mais? Quando foi que você pagou por uma coisa errada que eu fiz? Ou melhor, quando eu fiz? Que eu me lembre, eu nunca fiz nada pelo que você tivesse que pagar!
ㅡ Será que você pode falar comigo sem gritar?
ㅡ Não. Não tem como! Ver você já me irrita! ㅡ Respirei fundo. Estava tudo uma droga. ㅡ Eu não te ligaria se não precisasse mesmo. Então se você puder, por favor, pagar a fiança, eu agradeço. E se não, pode sair. Mas pode pelo menos avisar o Tae? Ou alguém?
ㅡ Eu já avisei aquele seu amigo, já fiz minha parte. ㅡ Suspirou, passando a mão no rosto.
ㅡ Então por que você ainda está aqui?
ㅡ Eu sou seu pai. Será que você não tem mais nenhum tipo de apreço por mim?
ㅡ Sinceramente? Eu tenho. Mas eu não acho que você mereça que eu demonstre.
Nos olhamos profundamente por alguns segundos ㅡ cada um com seus julgamentos bem guardados ㅡ, até que uma voz conhecida, vinda um pouco de longe, despertou minha atenção.
ㅡ Jimin? ㅡ murmurei. ㅡ Eu falei pra você avisar ele que eu demoraria pra voltar, não pedir que ele viesse aqui! ㅡ ralhei com meu pai. Agora Jimin estava ali. Meu Deus, Jimin não deveria nem sair da cama!
ㅡ E foi o que eu fiz, se ele veio foi porque quis.
Em questão de segundos Jimin passou pela porta usando suas muletas, acompanhado de um policial.
ㅡ Jimin, o que está fazendo aqui? Por favor, volte pra casa... Eu estou solto? ㅡ perguntei ao ver o policial me deixar sair.
ㅡ Seu amigo pagou a fiança ㅡ o policial avisou, sem interesse.
ㅡ Jimin? Você pa...
Antes que eu pudesse acabar a frase, ele me abraçou forte, muito forte. Eu senti o cheiro dele, o cheiro que eu tanto gostava. O que eu descobri ser o que mais gostava. O abracei forte também. Esperava broncas da parte dele quando me soltou, mas tudo o que ele fez foi me olhar nos olhos e beijar minha testa.
ㅡ Você está bem? Se machucou? Caralho, eu estava tão preocupado! ㅡ Arregalei os olhos. Jimin nunca xingava. ㅡ Se machucou? ㅡ perguntou, segurando meu rosto.
ㅡ Não, não, eu estou bem. Por que veio, Jimin? Eu ia dar um jeito de sair, você tinha que estar em casa! Eu... ㅡ Suspirei pesado, sem saber como prosseguir.
ㅡ Não, nem comece com isso. Assim como você se importa, eu me importo com você, Jungkook. Pensei que tinha entendido quando te tirei do caminho daquele carro.
ㅡ Eu… eu só não queria que você tivesse que se preocupar comigo.
ㅡ Então pare de sair de perto de mim! Pare de ficar onde eu não possa te ver! Para de fugir dos meus braços, Jungkook, quando tudo o que quero é te puxar. ㅡ Seu olhar era de pura súplica. Somente assenti e saímos de lá.
Jimin nem olhou para meu pai, acho que a presença dele ali lhe era irrelevante. Eu o olhei uma última vez antes de sair, sabendo que aquele assunto não estava acabado. Jimin pagou um táxi para nos levar até em casa, o caminho até o apartamento foi silencioso. Eu não tinha coragem de dizer algo.
Eu tinha feito uma grande merda, e não sabia como lidar com isso.
{...}
Assim que chegamos no apartamento eu apenas garanti a Jimin que estava bem, pedi que fosse se deitar e entrei no meu quarto, tirei minha jaqueta, já sentindo as lágrimas rolarem pelas minhas bochechas, e me deitei, tentando abafar meus soluços com as cobertas.
Que droga de pessoa eu era? Eu fiz Jimin ser atropelado, deixei ele sozinho em casa pra ir beber, bati a moto do Yoongi, e Jimin saiu de casa para pagar a merda da fiança! Eu me sentia um lixo. Jimin não devia se preocupar, ele devia estar bem! Devia estar sem aquele maldito gesso, devia estar limpando qualquer coisa enquanto canta uma música brega! Ele não devia estar se estressando tanto comigo.
Ouvi a porta ser aberta, e a silhueta de Jimin se fez presente no escuro do quarto. Tentei conter meus soluços para disfarçar meu choro e o fazer ir embora, mas falhei. Jimin se aproximou de mim e deitou ao meu lado na cama, se ajeitou e me puxou, colocando minha cabeça em seu peito.
Eu queria parar de chorar e mandá-lo ir dormir, todavia não consegui. Quando ele começou a fazer carinho no meu cabelo, eu desabei. Me permiti chorar, deixar que tudo aquilo saísse de mim. Deixei que Jimin fosse meu amparo.
ㅡ Tudo bem. Eu não sei o que aconteceu ou o que você está sentindo, mas vai ficar tudo bem... ㅡ Jimin falava com seu tom calmo, fazendo carinho no meu cabelo.
Eu gostava de tê-lo tão perto, de poder ouvir o coração dele batendo. Mesmo aos soluços saber que ele estava ali me acalmava. Eu sentia meu mundo ir desabando aos poucos a cada lágrima que caía e se reconstruir a cada passada de mão de Jimin em meu cabelo.
ㅡ Vai ficar tudo bem, eu prometo...
Assim que ouvi a voz de Jimin falhar, levantei minha cabeça para ver seu rosto. Algumas lágrimas escorriam, e aquilo me alarmou. Me sentei para olhá-lo bem.
ㅡ Por que você está chorando? ㅡ perguntei, ainda soluçando.
ㅡ Porque você tá chorando.
ㅡ Mas eu não quero que você chore!
Dito isso, comecei a chorar ainda mais, e ele limpou as bochechas, tentando conter as lágrimas, sem sucesso.
ㅡ Suas lágrimas... me machucam... ㅡ explicou, seus olhos já estavam vermelhos.
Meu rosto estava molhado e o dele também, estávamos ambos aos prantos, demais, mas eu só me importava com aqueles olhos tão lindos com lágrimas caindo por minha causa. Sem pensar bem, eu só o abracei o mais forte que podia enquanto ouvia seu coração batendo.
ㅡ Por favor, não chora. ㅡ Ele me abraçou também, voltando a passar a mão no meu cabelo. ㅡ Eu tive tanto medo, Jimin, tanto medo...
ㅡ Eu sei, eu sei. Mas está tudo bem, eu estou aqui.
ㅡ Mas um dia pode não estar mais...
ㅡ Não posso. Nem que eu queira, Jungkook. Eu não consigo me afastar.
Nos olhamos por alguns segundos. Jimin sorriu e beijou minha testa. Esse ato simples me fez sorrir em meio às lágrimas.
ㅡ Eu vou estar sempre aqui, Jungkook.
ㅡ Você promete?
ㅡ Prometo.
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