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História Como (Não) Viver Com Park Jimin - Conte Para Ele


Escrita por: vanelope-stars

Notas do Autor


OI!!
Eu demorei um pouco, eu sei. Mas estou aqui!!
Quero agradecer por todo o apoio que venho recebendo, de verdade, muito obrigada. Agradeço pelos favoritos e cada comentário. Eu realmente sou muito grata a vocês.
Nos vemos nas notas finais! Espero que gostem do capítulo🌠💌

Capítulo 20 - Conte Para Ele


Eu tive momentos ruins em minha vida, momentos em que não vi mais razão pra continuar. Acredito que todo mundo passa por um momento assim um dia. Nesses momentos faz muita diferença ter alguém ao seu lado. Ao menos, pra mim fez. E ao longo do tempo não é incomum que mudem as pessoas que oferecem amparo. Pelo menos, não pra mim.

Meu primeiro amparo foi minha mãe.

Meu segundo amparo foi Taehyung.

Meu terceiro amparo foi Hoseok.

Meu quarto amparo foi Jimin.

Todos me fazem um bem enorme até hoje.

Quase todos, na verdade. O primeiro deles foi tirado de mim sem aviso e sem volta. Precisei de todos os outros para lidar com a dor.



Me mexi novamente na cama. A posição anterior estava desconfortável. Não estava deixando Jimin dormir, eu sabia. Isso me incomodava e me deixava ainda mais inquieto. 

Hotel Rose Palace, 23:45 de uma sexta-feira, 17 de Janeiro de 2014. 

Me sentei na cama, suspirei e fui até a cozinha. Bebi um copo d'água e respirei fundo. Voltei ao quarto.

18 de Janeiro de 2014, 07:06 da manhã. Mansão dos Jeon. 

Já tinha me sentado na cama, estava ajeitando as cobertas quando Jimin se sentou também. O quarto estava escuro, tinha a luz do poste da rua que entrava pela janela. Eu podia ver apenas a silhueta de Jimin, mas sabia que ele estava tenso. Seu corpo parecia inquieto, mas também travado. Ele suspirou.

ㅡ Não consegue dormir? ㅡ Neguei com a cabeça e passei as mãos no rosto.

ㅡ Sempre acontece uma noite antes. Não consigo dormir nem ficar parado. Às vezes tenho dor de cabeça e vomito. Mas passa no fim do dia.

ㅡ Você toma algo pra ficar mais calmo? Um chá, remédio? Alguma atividade?

ㅡ Eu parei com remédios há uns dois anos. E normalmente eu passo essas noites sozinho, então eu fico acordado assistindo tv ou lendo, qualquer coisa. ㅡ Me deitei, encarei o teto. Jimin se levantou e acendeu a luz do quarto. 

ㅡ Você aceita tomar um remédio? É só um calmante, faz dormir. Não tem efeitos colaterais ㅡ sugeriu; assenti. Jimin foi à cozinha e voltou com água, pegou uma caixa de remédio da gaveta de sua cômoda. Se aproximou de mim com o comprimido e a água. Me sentei e tomei em um gole. ㅡ Se ajeite bem na cama. Daqui uns minutos você dorme.

Ele levou o copo vazio até a pia. Me deitei de lado, me cobri bem e esperei Jimin voltar. Estava frio. 

19 de Janeiro de 2014, 09:00, cemitério.

Jimin apagou a luz do quarto, se deitou ao meu lado e me puxou para perto, de frente pra ele. Encaixou minha cabeça em seu peito, sua mão esquerda segurou minhas costas em um abraço e seu queixo descansou na minha cabeça. O calor dele fez eu me sentir melhor, seu carinho em minhas costas me relaxava.

ㅡ Durma, meu anjo. Vai ficar tudo bem. Descanse.

ㅡ Eu te amo, Jimin.

ㅡ Eu também te amo, Jungkook. 


{...}


Acordei e Jimin não estava na cama. Não sabia que horas eram nem se Jimin já havia saído. Peguei meu celular e olhei o relógio. Era 09:34. Limpei os olhos e sentei na cama. Meus óculos estavam na mesinha de cabeceira e tinha um bilhete do lado. Coloquei os óculos para enxergar o recado escrito à mão.

"Fui trabalhar sem você. Não se preocupe, não teremos problemas. Já falei com Taehyung e Hoseok, eles passarão aqui e vamos todos juntos ao cemitério quando eu sair do trabalho. Não sabia que hora você ia acordar, então deixei café da manhã e almoço pronto na geladeira, é só esquentar. Me mande mensagem quando acordar, quero saber como está. Coma bem e tente se distrair. Eu tenho uma gaveta cheia de HQs e uma prateleira com vários livros aí no quarto, pode mexer neles se quiser.
Fique bem. Te amo ♡

Ps: achei seus óculos dentro da gaveta de cuecas, tente não perder eles até eu voltar."


A letra de Jimin era perfeita e o coração que ele desenhou era fofo. Sorri e deixei o bilhete onde estava. Guardaria depois.

Me levantei e me espreguicei. Peguei algumas roupas e fui tomar banho; escovei os dentes antes. Olhei meu reflexo no espelho.

Fazem 6 anos, hoje, mãe.

O remédio que Jimin havia me dado noite passada era eficiente, mas também leve. Não tive um sono pesado e acordei mais disposto. Sorri ao imaginar Jimin escrevendo um bilhete pra mim e me senti mal por não ter ido trabalhar com ele. Mesmo que ele fosse meu chefe, então se ele não me queria lá, ninguém mais poderia opinar. Gostaria de ter ido. Gostava de ajudar Jimin e trabalhar me trazia uma sensação boa de satisfação.

O que ele havia cozinhado? Ele acordou mais cedo pra fazer comida pra mim? Não gostava que ele tivesse tanto trabalho.

Me sequei e vesti, ajeitei meu cabelo e saí do banheiro. Peguei meus óculos no quarto, guardei o bilhete de Jimin em uma gaveta minha e fui checar minhas mensagens. Tinham avisos de Tae e Hoseok dizendo que tinham falado com Jimin e que iríamos juntos ao cemitério e uma mensagem de Jimin, escrito: "Não esqueça da mensagem".

Achei que ele se referiu à mensagem que pediu, no bilhete, que eu enviasse. 

Eu: 

Acordei agora, tomei banho e vou comer. Obrigado por ter feito comida e tudo mais. Não vai precisar da minha ajuda aí? Eu ainda posso ir. É meu trabalho, Jimin. É minha responsabilidade. - 09:49

Eu: 

Te amo - 09:49

Abri a geladeira e encontrei duas vasilhas, tampadas, com post-its escrito: "Café da manhã" e "Almoço", tinha um coração ao lado dos avisos. Abri a vasilha de café da manhã e dentro tinha: 3 sanduíches, 3 bananas, 1 iogurte e 2 barras de cereais. Tinha um post-it no iogurte também. "Não tome rápido demais, pode engasgar."

Peguei aquele iogurte e beijei o post-it, depois o abracei. Jimin era tão atencioso. Eu amava tanto tudo que vinha dele.

Não me sentei pra comer antes de ver o que tinha na vasilha do almoço. Lá dentro havia: salada, arroz, coxas de frango, batata assada e maionese.

Deus, Jimin acordou que horas pra cozinhar tudo aquilo?!

Eu: 

Jimin, tem muita comida aqui! Que horas você acordou pra cozinhar tudo isso?! - 09:51

Eu: 

A batata parece ótima, obrigado. - 09:51

Eu: 

Mas isso não me deixa mais aliviado! Não precisava, Jimin! - 09:51

Eu: 

Parece muito gostoso. Te amo. - 09:51

Eu: 

❤❤❤❤❤❤❤❤❤❤💌💌💌💌💌💌💌💌💌💌💌❤❤❤❤❤❤❤❤❤🌈🌈🌈🌈🌈🌈🌈🌈💜💜💜💜💜💜💜💜💜💜💜💜 - 09:51

Me sentei e comi meu café da manhã, que estava mesmo ótimo. Jimin respondeu minhas mensagens quando eu estava acabando o iogurte.

Amor💗💗💗🌠🌠🌠: 

Não tinha tanto trabalho hoje, eu dou conta. Eu não te deixaria em casa se não fosse necessário. Você não faltou um só dia. Eu sou seu chefe e lhe concedo folga. Não aparece aqui, eu te expulso na base do soco, viu? Trate de descansar. - 10:02

Amor💗💗💗🌠🌠🌠: 

Não importa que hora eu acordei, não fiquei cansado nem nada. Eu quis fazer. Que bom que você gostou! 💕 - 10:02

Amor💗💗💗🌠🌠🌠: 

Eu gosto de cuidar de você. Sei que já falamos sobre eu ser protetor demais, mas juro que não foi isso dessa vez! Eu só queria deixar tudo prontinho, mesmo. Não estou arrancando os cabelos como antes. Coma bem e me avise se precisar de algo. Te amo também 💕 - 10:03

Respondi com uma figurinha de um cara fantasiado de olho, escrito: "Tô de olho" e uma outra figurinha que tinha uma menina de mangá segurando um coração com os peitos. Uma das minhas favoritas.

Depois de comer e lavar a vasilha, eu não tinha muito o que fazer e não duvidava que Jimin me expulsasse mesmo da empresa. Tae trabalhava lá também, devia saber dos planos do Jimin. Acho que os dois já tinham combinado isso, na verdade. Hoseok estava trabalhando também e eu não queria ver mais ninguém, por isso, decidi limpar a casa. Passaria meu tempo e ajudaria Jimin também. 


{...}


Me distraí limpando o apartamento, porém não conseguia parar de desviar às vezes. Faziam seis anos. Nunca me acostumei com o tempo passando, com tudo seguindo. Parte de mim ainda esperava por ela. Quanto mais os anos passavam, mais estranho ficava. Seis anos e eu ainda não havia me acostumado.

Não queria pensar nisso, mas era inevitável, e eu até que estava sob controle. Os primeiros 2 anos foram os piores, desde então era mais fácil passar por aquele dia. Mais fácil, mas ainda doloroso.

Por que você me deixou, mamãe? Foi algo que eu fiz? Algo que eu disse? Eu nem pude te dizer tchau, mamãe.


{...}


Jimin ficava muito nervoso quando alguém mexia nas coisas dele. Ele me deixar ler seus livros e HQs era um ato cheio de significado. Eu me sentia muito lisonjeado quando Jimin fazia essas coisas comigo. Sabia que ele estava tentando, estava tentando muito. Jimin sempre tentava muito, isso me preocupava também. Ele tinha medo que eu me machucasse com tarefas do dia a dia, que as pessoas me magoassem, que eu saísse sozinho, que eu demorasse. O que doía mais era saber que isso tudo que ele sentia era uma parte, uma parte pra mim. Na cabeça dele era assim o tempo todo. Já havíamos falado sobre isso, eu falei que ele podia relaxar, que eu ficaria bem. 

Jimin não queria me sufocar, mas era difícil pra ele porque ele passava o tempo todo sufocado. Ele passava o tempo todo com essas coisas na cabeça. Seria insensível demais dizer que ele estava me incomodando, que ele devia parar, que isso era chato. Ele tentava tanto, tentava o tempo todo. Ele estava falando mais sobre como se sentia, sobre o que tinha medo, e isso já era um passo tão grande pra nós. Ele já controlava melhor seus impulsos e não me enchia de perguntas quando eu queria sair. Era mais flexível com horários e não temia os meus amigos. Jimin achava que tudo era uma ameaça em potencial, pois durante a vida toda dele foi assim. Ele cresceu se esquivando de tudo que mostrasse perigo, de tudo que pudesse se aproximar dele. Ele abriu e abria uma grande exceção pra mim todo dia. O mínimo que podia fazer era ajudar e ser paciente. 

Jimin não precisava que ninguém apontasse o dedo pra ele, Jimin precisava de ajuda.


{...}


Jimin tinha livros incríveis! Clássicos, ficção, romance, algumas biografias, aventura, e levei um grande susto ao encontrar um exemplar de Kama Sutra. E mais um susto ao ver que ele tinha o livro do Jin! Foi então que descobri que os três últimos espaços da prateleira eram só de livros eróticos. Meu queixo caiu. Um livro tinha alguns marca-páginas espalhados e não contive minha curiosidade. 

Havia vários desenhos de posições sexuais, os marcadores as indicavam. Mas não dizia mais nada, pensei que fossem suas posições favoritas ou algo assim. Pensei até ver meu nome escrito no marcador.

Jimin tinha um livro erótico e marcou todas as posições que queria fazer comigo.

Passei uma hora lendo aquele livro e pensando que tipo de pervertido era o meu namorado.

ㅡ Meu Deus, que tipo de beijo grego é esse? 

Algumas posições eram estranhas e eu esperava me lembrar de perguntar a Jimin como elas eram feitas. Coloquei seus livros novamente no lugar e tirei o pouco pó que tinha na prateleira. Já era 12:30, olhei no relógio. 

ㅡ Ah, as margaridas! 

Coloquei meus tênis e saí correndo do apartamento.


{...}


ㅡ Aqui está! ㅡ A moça me entregou as margaridas, havia um laço em volta delas.

ㅡ Obrigado, moça! ㅡ agradeci e saí da floricultura.

Mamãe adorava margaridas, eram bonitas como ela. Eu costumava colocar as flores no cabelo dela quando a gente saía. Ela ficava tão bonita, tão bonita. Mamãe era uma flor. Suspirei e saí andando até em casa.

O hotel ainda era naquela rua e eu fiz de tudo pra não cruzar os olhos com ele.


{...}


ㅡ Amor, chegamos! ㅡ Jimin anunciou ao abrir a porta do apartamento.

Eu estava pronto para recebê-lo com um abraço e um beijo, todavia Tae foi mais rápido. Logo ele já estava me rodeando em seus braços e eu sentia o cheiro bom do perfume dele. Ele fez carinho na minha nuca e eu deitei a cabeça no ombro dele.

ㅡ Você sabe que eu te amo, não sabe? ㅡ ele perguntou. Murmurei em resposta. ㅡ Eu te amo. Eu te amo muito, dongsaeng. Por favor, não esqueça disso.

ㅡ Não vou, hyung. Eu prometo.

Taehyung me soltou e beijou meu rosto, depois perguntou como eu estava e como tinha passado o dia. Dei um resumo breve e disse que já tinha comprado as margaridas. Ele também tinha um buquê, assim como Hoseok. Até Jimin tinha um pequeno ramo de rosas.

ㅡ Não sabia de quais flores ela gostava, então comprei uma que gosto muito  ㅡ ele disse, um tanto preocupado. Sorri.

ㅡ Mamãe achava que coisas feitas de coração eram os melhores presentes. Ela gostaria. 

Jimin deixou o ramo de flores no sofá e veio me abraçar. Beijou o canto da minha boca e todos saímos.

Hoseok segurou minha mão.


{...}


Eu nunca perderia o frio na espinha ao entrar no cemitério. Entrar ali era lembrar que não tinha mais volta pra mamãe, pra mim. Meu pai não apareceu e fiquei aliviado por isso. A presença dele nunca ajudava em nada, principalmente quando se tratava de mamãe. Não sabia como ela se sentia em relação a ele antes de morrer. Não sabia muito sobre isso, na verdade. Talvez se eu soubesse as coisas teriam acontecido de outra forma.

Andamos até o túmulo dela, Tae foi o primeiro a se abaixar e dizer algo. A lápide me fez entrar em transe.

Jeon Sohui 

18 de Junho de 1975 - 17 de Janeiro de 2014

ㅡ Oi, mãe. Sou eu, o Tae. Não acredito que já faz seis anos. ㅡ Ele sorriu; lágrimas escorriam pelas bochechas. Hoseok estava tocando o ombro dele. ㅡ As coisas estão indo bem, muito bem, na verdade. Gostaria tanto que você pudesse ver, mãe. Teria tanto orgulho do Jungkook. Eu ainda cuido dele como você me pedia. ㅡ Passou a manga do casaco nos olhos. ㅡ Hoseok veio mais uma vez. Ainda acho que você teria gostado muito dele. Sentimos sua falta, mãe. Ainda te amamos muito. Muito mesmo. ㅡ Deixou as flores ao lado da lápide e se levantou. Eu imitei a posição anterior dele, me ajoelhando.

Hotel Rose Palace, 23:45 de uma sexta-feira, 17 de Janeiro de 2014. 

"Uma mulher pulou do oitavo andar do Hotel Rose Palace, às 23:45 de ontem, sexta-feira. O porteiro e alguns pedestres viram a cena e tentaram impedir, mas não houve sucesso. A mulher era Jeon Sohui, a esposa do dono do Cassino Jeon's, Jeon Chungho. Ainda estão averiguando tudo o que aconteceu até…"

ㅡ Ainda lembro da notícia no jornal, cada palavra. Gostaria de não lembrar, de poder esquecer esses detalhes. Eu acho que ainda não aceitei, mamãe. ㅡ Minha voz embargou e senti uma bola se formar na minha garganta. Fechei os olhos e respirei fundo. ㅡ Eu sinto vontade de te ver todo dia. Mas eu nunca mais vou te ver, mãe. Eu sinto tanto a sua falta! Tem situações que sei que você entenderia, saberia exatamente o que dizer e fazer! Sinto tanto a sua falta... ㅡ Solucei. Hoseok se agachou atrás de mim e me abraçou. Funguei e tentei achar as palavras certas, que mostrariam o que eu sentia, ainda que ela nem pudesse ouvir. ㅡ  Eu… Eu estou tentando, mamãe! Tentando seguir sem você e fazer todas as coisas que falei pra você que faria, mas ainda é tão difícil… Um dia fica mais fácil? ㅡ Ri baixo e limpei minhas lágrimas. Respirei fundo mais uma vez. Deixei minhas margaridas ao lado das de Taehyung. ㅡ Trouxe suas flores. Ah, sim! ㅡ Funguei. ㅡ Trouxe outra pessoa comigo hoje também… ㅡ Segurei a mão de Jimin e peguei suas rosas, as colocando ao lado das minhas margaridas. ㅡ O nome dele é Jimin. Ele é meu namorado, mãe. Ele é o tipo de pessoa que você chamava de anjo. Sei que ele teria adorado conhecer você! E… e ㅡ sorri ㅡ ele me faz feliz, mãe. Muito, muito mesmo. Gostaria tanto de ter conhecido ele anos atrás, você teria me ajudado a conquistar ele. ㅡ Ri e todos me acompanharam. Jimin sentou ao meu lado e beijou minha mão direita. ㅡ Eu sempre, sempre, sempre vou amar você, mamãe. Nunca vou esquecer de nada que me disse nem me fez. Você era e sempre vai ser a flor mais bonita do mundo pra mim. Espero um dia poder te encontrar e fazer tranças no seu cabelo mais uma vez. Eu te amo.

O luto é uma dor estranha. Parte de você se vai e não volta mais, você tem que reconstruir isso, se conseguir. Uma mistura de saudade com tristeza, uma sensação de injustiça e raiva. Às vezes arrependimentos. Eu não pude salvar minha mãe e não sabia se um dia iria superar isso. Foi tão de repente, eu jamais esperaria. Mas depois que aconteceu eu só me perguntava como nunca tinha reparado nos remédios no banheiro do quarto dela. Como nunca reparei que ela estava infeliz? Como nunca reparei no que papai fazia com ela? Como deixei isso acontecer? Eu gostaria de poder ter dito que a amava uma última vez.

Passei os dois anos seguintes pensando nesse "Eu te amo" não dito. Tudo ficou pior e pior, até eu nem saber mais o que estava fazendo. Até Tae não saber mais o que fazer e eu saber que todos tinham desistido. Mas eu não pude desistir também. Eu tinha prometido à mamãe que escreveria um livro pra ela. Eu não gostaria de encontrar com ela sem ter honrado minha palavra. Tudo estava ruim, mas começou a melhorar no final do segundo ano. Foi na época em que reli todos os livros que ela guardava em seu quarto. Ela sublinhava o que achava importante, e eu pude conhecer outros lados dela e matar parte da minha saudade nas frases pintadas com marca texto amarelo. Foi como sentir ela me dar um último abraço.

Me lembrava dela sentada, na poltrona perto da janela, usando seus óculos de armação vermelha, lendo, com um marca texto na mão. Quando eu era bem pequeno, eu costumava sentar na frente dela e brincar, ler algum livro infantil, desenhar, o que fosse, e a observava. Ela lia até o sol sumir da janela e me chamava para jantar quando acabava.

Mamãe morreu muito jovem, tinha apenas dois livros publicados de todos os que escrevia no tempo livre. Mamãe era poeta. Eu a admirava como nunca iria admirar outra pessoa em minha vida. Eu não era bom com poemas, mas inventava histórias pra ela. Queria ser como ela, queria amar as coisas como ela amava, pensar como ela pensava, ver como ela via.

Se Jeon Sohui tinha algum defeito ou mania desagradável, eu não cheguei a conhecer.

Acho que isso contribuiu pra ser tão inacreditável. Sempre achei que mamãe era feliz mesmo com todos os problemas que tinha, que ela gostava da vida que tinha, ainda que às vezes fosse difícil. 

Eu não sabia o que havia se passado na mente dela quando subiu na sacada do quarto do hotel, mas para tê-la feito deixar seus livros inacabados deveria ser uma dor sem tamanho.

Mamãe sempre me disse que vivia para três coisas: cuidar de mim e Tae, escrever e proteger as flores do jardim. Eram as coisas que ela mais amava no mundo e ela deixou todas elas.


{...}


ㅡ Você quer refrigerante?

Por que não me chamaram naquela manhã? Tae e todos estavam lá. Taehyung hyung disse que quis me poupar enquanto podia. Quem o poupou? Por que apenas eu deveria ser poupado? Por que durante toda a vida sempre fui eu o mais fraco? 

ㅡ Jungkook? Você quer refrigerante?

Aquela manhã no cemitério em que eu não consegui nem chorar. A foto dela, a foto dela na lápide… Meu Deus, ela era tão bonita. Era. Por quê? Por que mamãe não podia ser? Ainda ser? Ser minha mãe? Por que ela não podia mais ser minha mãe?

ㅡ Meu amor, Jungkook, você está bem?

Eu tinha 15 anos. Eu só tive 15 anos com ela. Quantos seriam o bastante pra que eu sentisse menos a falta dela? Ou quanto mais tempo passasse com ela, mais sentiria falta quando ela fosse? Quando eu entenderia que ela não voltaria mais? Eu achava que entendia, mas por que doía tanto ainda?

ㅡ Jungkook? Olhe pra mim. ㅡ Jimin estava ajoelhado na minha frente, segurou meu rosto. Eu não conseguia responder nada. Estava imóvel no sofá. ㅡ Jungkook, por favor, diga alguma coisa.

Será que se minhas notas fossem melhores, se eu precisasse de menos ajuda, se eu não passasse tanto tempo seguindo ela pra lá e pra cá, ela ainda estaria ali? Havia algo que eu poderia mudar no passado?

ㅡ Jungkook… ㅡ Mordeu o lábio e levou meus cabelos pra trás, os soltando quando iam para trás das orelhas. ㅡ Meu anjo, fale comigo.

ㅡ Eu matei ela.

Soluço, silêncio, soluço. Visão turva, meu rosto molhado e as mãos trêmulas de Jimin.

ㅡ Amor… amor, o que está dizendo? Está se ouvindo? ㅡ Passou os dedos pelas minhas bochechas, tentando secar minhas lágrimas.

ㅡ Eu… Eu matei ela, Jimin. Foi minha culpa, foi… foi minha culpa… 

Foi só depois de dizer em voz alta que pude mudar minha expressão vazia. Fechei meus olhos e solucei ainda mais. Jimin se sentou ao meu lado no sofá e segurou meu rosto novamente. Eu queria dizer algumas coisas pra ele, no entanto não conseguia. Só conseguia contar sobre lembranças misturadas.

ㅡ Meu amor… Meu amor, você não matou ninguém. Eu… Eu sei que não. Eu juro que não. Por que está pensando assim? Nada disso foi sua culpa, eu juro, juro que não foi.

Eu não enxergava nada, Jimin me abraçou. Eu consegui segurar suas costas também e dizer algumas palavras misturadas com minha falta de ar e voz embargada.

ㅡ Eu acordei de manhã e… e tinha uma marca de beijo no meu rosto. Eu achei que ela tinha ido me dar bom dia ou algo assim… Eu… Eu cheguei na sala e Tae estava chorando ao lado do meu pai e todos os empregados da casa… alguns advogados da família e um médico… ㅡ Meu peito doía e eu sentia que meus sentidos estavam se perdendo. O aperto de Jimin em minhas costas foi maior. ㅡ Eu perguntei o que tinha acontecido… ninguém disse nada. Eu perguntei onde ela estava, ninguém disse nada! Depois de segundos… depois de segundos Tae me puxou pela mão e murmurou "Mamãe morreu".

Eu sentia meu corpo tremer, estava quente e não conseguia abrir os olhos. Tudo doía, tudo, tudo. Doía a cada palavra e doía no silêncio também.

ㅡ Eu não disse nada, eu não sabia o que dizer… Eu fiquei paralisado e então Tae disse que no dia seguinte seria o velório. Ele estava chorando, mas eu não conseguia nem falar. Eu só corri de volta pro meu quarto e me sentei na cama. Fiquei parado, sentado, não estava entendendo nada e chamei por ela… Teve mais silêncio e aí Tae bateu na porta. Eu não abri, mas ele entrou. Ele tentou falar comigo, mas eu não disse nada. Eu só perguntei como. "Mamãe pulou. Mamãe pulou da sacada de um hotel. Ela se suicidou." ele disse. Nada mais fez sentido. Mamãe pulou? Por que mamãe pulou? Ela era feliz, ela amava Tae, amava seus livros e flores, mamãe me amava! Não era? Não amava? 

Funguei e senti vontade de beber. Vontade de misturar algumas bebidas em um copo grande e apagar. Eu não podia. Jimin estava ali.

Jimin estava me segurando. Eu não podia mais.

ㅡ A notícia no jornal o dia todo… O dia seguinte, no cemitério. Até a noite eu não disse uma palavra. Era tarde da noite quando vi a luz do abajur acesa. Por que estava acesa? Mamãe sempre vinha apagar. Por que mamãe não veio apagar? Foi quando eu percebi que estava esperando ela vir apagar. Foi quando percebi que ela não apagaria mais. Foi quando consegui chorar, quando disse alguma coisa. Eu gritei. Eu gritei por ela por quase uma hora. Tae veio falar comigo e me abraçar, as empregadas me trouxeram chá, meu pai pediu que eu me acalmasse. Eu gritei e chorei até minha garganta doer e algum daqueles chás, que deviam ter remédios, que me forçaram a engolir, fazer efeito. 

Eu sentia meu peito rasgar. Estava queimando, sendo puxado pouco a pouco, ardendo conforme se dividia. Jimin mexeu no meu cabelo e foi como se a ferida se juntasse novamente. Parou de arder. Parou de arder quando lembrei que ele estava ali o tempo todo. Abri os olhos e vi minhas mãos apertando Jimin. Eu ainda chorava e ainda tinha muito a dizer, todavia voltei a ter noção das coisas ao meu redor. 

ㅡ Depois eu achei os remédios dela. Como nunca vi? Se mamãe era tão infeliz assim, por que nunca me disse? Ela nem se despediu de mim. Ela me beijou enquanto eu dormia, mas eu não pude beijar de volta. Por que ela não me disse? Ela estava cansada? Será que era de mim? Eu sentia tanto, eu queria tanto me desculpar. Tae e papai sabiam dos remédios. Todo mundo sabia, menos eu. Todo mundo sabia de tudo, menos eu. Por quê? Por que eu fui tão idiota? Por que eu tinha que ser tão fraco? Ela não me achava maduro o bastante? Não tinha algo que eu pudesse fazer? Fui apenas um fardo que ela teve que carregar junto com tudo aquilo que a fez pular da sacada.

Parei de chorar tanto, apenas fungava e sentia a calma voltando aos poucos. Eu já estava mais conformado novamente. Teve mais silêncio. Teve mais silêncio até Jimin falar.

ㅡ Acho que ela nunca te disse porque sabia que você se sentiria como se sente agora. Ela não queria que você sofresse também. Ela queria que… você estivesse bem. E pra isso ela tinha que parecer bem.

ㅡ Então por que Tae sabia? Por que ele podia sofrer e eu não? ㅡ Minha voz saiu baixa e rouca.

ㅡ Porque ele não iria sofrer assim. Ela queria te proteger, te poupar. Mas não acho que porque te achava imaturo, ela só… Ela só devia saber que você se culparia, que tentaria ajudar. Às vezes ninguém pode ajudar, Jungkook. Às vezes tudo o que as pessoas podem fazer por nós é estar ao nosso lado e nos fazer sorrir. Acho que ela não queria que você pensasse que podia fazer mais, porque você já fazia tudo. Você já fazia ela sorrir, você já estava lá. Acho que ela não queria nada além da sua felicidade. 

ㅡ Então por que ela pulou?

ㅡ Devia doer demais. E isso não tem a ver com você. Ela te beijou, não beijou? ㅡ Concordei com um murmúrio. ㅡ Ela fez isso enquanto você dormia porque não conseguiria pular se você a beijasse também. Ela queria dizer tchau, mas não iria de verdade se você se despedisse também. Seu irmão sabia porque ela precisava de apoio, mas você não sabia porque prendia ela aqui. Seu irmão deve saber, talvez. Acho que ela podia dizer adeus pra todo mundo, mas nunca poderia dizer pra você. ㅡ Jimin suspirou e mexeu no meu cabelo de novo. ㅡ Eu não conhecia ela, eu não tenho certeza de como ela se sentia. Mas sei que ela te amava. Sei que ela te amava muito mais do que eu te amo. E se eu, que te conheço há alguns meses, repensaria tudo por sua causa, como deveria ser pra ela? Ela não te culpava, eu tenho certeza disso. E ela não queria que você se culpasse também. Deve ter sido mais fácil pra ela desse jeito.

Eu me soltei do abraço de Jimin e limpei meu rosto. Ele estava hesitante, com medo. Não queria me soltar, segurava a manga da minha blusa. Eu sorri grande e o abracei de novo.

ㅡ Obrigado, Jimin. Você é um dos anjos de quem mamãe falava.

Tivemos uma noite calma depois disso. Conversamos e demos um beijo, fomos lavar a louça e não falamos muito. Assistimos a um filme qualquer, uma comédia romântica, e deitamos. Já era onze da noite, Jimin estava deitado ao meu lado; ambos calados, fazendo carinho na mão um do outro. Achei que fôssemos dormir, mas Jimin queria falar.

ㅡ Eu não sei onde minha mãe está ㅡ ele disse, quebrando o silêncio. Virei a cabeça para olhá-lo melhor. Acariciei sua mão para que ele soubesse que eu prestava atenção. ㅡ Eu não vejo ela desde os meus 17 anos. Foi quando saí de casa. Morei por um tempo com Hoseok e uma tia dele por parte de pai, Jung Eun. Me mudei para o apartamento depois disso. Nunca mais vi ela.

Hoseok me disse uma vez que Jimin tinha passado um tempo com sua tia Jung, porém não sabia que ele morou lá. Tinha dificuldade para pensar em Jimin como uma pessoa que um dia já dependeu de alguém. Parecia que ele sempre fez tudo o que podia, sozinho.

ㅡ Vocês não se falaram mais?

ㅡ Ela esperou a vida toda pra que eu fosse embora, Jungkook. Ela não queria mais contato comigo. Se mudou para algum outro lugar que não contou, mudou seu número de celular e todo o resto também. Não sei onde ela está, nem como, nem com quem. 

ㅡ Por que ela não te queria por perto? ㅡ Jimin suspirou e eu segurei a mão dele. Queria que ele ficasse confortável, aquele era um assunto que ele nem mencionava. 

ㅡ Minha mãe… ㅡ Suspirou. ㅡ Minha mãe não me queria, Jungkook. Ela só não tinha condições nem apoio pra… abortar. 

Não disse nada. Não sabia o que devia dizer. Ele passou as mãos pelo rosto e bufou antes de continuar.

ㅡ Minha mãe casou muito jovem com o pai de Hoseok, eles se separaram antes de ele ter um ano. Um tempo depois, ela se envolveu com outro homem, mas eles terminaram tudo antes de ela saber que estava grávida. Esse homem era o meu pai. Por isso eu e Hoseok temos sobrenomes diferentes. Ele tem o do pai dele, e eu, só o da minha mãe. Ela já não estava bem, trabalhando e cuidando de Hoseok sozinha, mesmo que a irmã do pai dele, a Eun, tenha feito parte de toda a vida de Hoseok. Quando ela ficou grávida de mim tudo piorou. Ela começou a beber muito. Tenho pouquíssimas memórias dela sem uma garrafa de bebida na mão. Teve depressão pós-parto e… bom, ela me odiava. ㅡ Riu triste e continuou. ㅡ Ela não me queria, tinha muitos problemas, e pude ver o alívio ir voltando ao rosto dela quando eu estava perto de me mudar.

Jimin me olhou nos olhos, segurou minha mão e fungou. "Eu sinto muito", foi o que eu disse a ele, que sorriu e soltou minha mão.

ㅡ Eu só posso imaginar como se sente com a morte da sua mãe. Vocês tinham um vínculo forte, e sei que deve doer. Eu não tive nenhum vínculo com a minha mãe. Não sei nem se ela está viva. Mas eu quero ajudar, quero te apoiar. Só me perdoe se eu não fizer certo. Eu nunca entendi muito de família quando a família era mais que Hoseok.

Me aproximei de Jimin e quase colei nossos rostos. Olhei para ele, iluminado pela luz da janela. Passei os dedos por sua bochecha.

ㅡ Eu sinto muito, Jimin. Mesmo. Também quero que me perdoe se eu não te entender de primeira, e saiba que estou tentando. Eu quero te conhecer, Jimin. Entender o que te dói e o que te faz feliz. Eu quero te apoiar também.

ㅡ Sei que me abro devagar, sinto muito. Eu nem sei como contar algumas coisas. Mas eu gosto de… Eu gosto de contar elas pra você. ㅡ Sorriu e tocou minha mão em sua bochecha. ㅡ Você já sabe de muitas coisas que me machucam, e vai saber mais com a passagem do tempo, mas não tem que se esforçar tanto pra saber o que me faz feliz.

ㅡ Por que não?

ㅡ Porque essa coisa é você.



Notas Finais


[ Capítulo revisado em 26/10/2021 ]

Espero que tenham gostado e aprendido mais sobre o Jungkook e todos os motivos dele, o passado dele. Eu gostei de escrever.
A fanfic tem uma # agora caso queiram usar no Twitter. É #aiminhatetinha
Espero que tenham gostado. Amo vocês, obrigada por tudo, até 💌💕


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