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História Como Surgiram as Estações - Especial


Escrita por: nuwahours

Notas do Autor


depois do jisung dar o ar da graça com uma música maravilhosa, decidi que eu também posso aparecer por aqui e postar mais um capítulo

boa leitura ~~

Capítulo 10 - Especial


― Imagino que esteja sendo difícil para você admitir que você não consegue desvendar um mistério sozinho ― Jeongin se vangloriou ao sentir a presença de Minho às suas costas. ― Você consegue ser pior do que Hyunjin, mas é mais sutil em demonstrar quando está irritado. É divertido.

― Você é o pior aprendiz de oráculo que eu já conheci ― Minho exasperou ao se postar ao lado dele.

Eles estavam sobre a ponta de um penhasco, muito longe da Floresta, mas ainda do lado mágico da barreira. O horizonte era infinito, vasto e com uma pradaria a perder de vista. O céu estava metade nublado e metade limpo, as nuvens escorregando de um lado para o outro enquanto aspergiam água por onde passavam. 

― Então quer dizer que você veio aqui pedir ajuda ― Jeongin sorriu. ― Estou orgulhoso de você. Meu mestre disse que ia demorar para que eu conhecesse esse dia. 

― Eu achei que os Oráculos não errassem em suas previsões.

― E isso não te soa confortador? Eu mesmo sempre acho que é um alívio ter o benefício da dúvida. 

― Eu gostaria de ter uma visão clara do futuro. 

― Mas se ela fosse uma certeza, eu não acho que seríamos capazes de fazer alguma coisa a respeito. Nós só teríamos uma rota a seguir. Não faria qualquer diferença qualquer movimento que fizéssemos. 

― Mesmo assim…

― Acho que você está sendo um pouco pessimista aqui. Quer me contar alguma coisa, Minho?

― Alguma coisa que você já não saiba? ― cruzou os braços.

― Eu sou um aprendiz. Me surpreenda. 

Minho se aventurou mais pela borda e olhou lá para baixo antes de recuar alguns passos, enjoado.

― Ainda com medo de altura?

― Sempre com medo de altura ―  reiterou. ― Como funciona exatamente? As suas visões?

― Meu mentor disse que eu sou um Oráculo do tipo que depende dos demais para prever. Então eu sempre sou influenciado por vocês. Minhas visões são momentâneas e não sou capaz de visualizar um futuro tão distante. Sou capaz de ver um futuro quase imediato ― gesticulou. ― Vocês vão sendo influenciados pelos acontecimentos e isso cria novos pensamentos, novos sentimentos. E de acordo com eles, vou pressentindo a rota. Acabo com uma imagem quase completa do que vai acontecer, mas ela é incerta, uma vez que vocês podem mudar de uma hora para outra. Eu sabia, por exemplo, que você iria abrir aquela garrafa em outra dimensão.  Soube no instante em que você decidiu fazer isso. Sabia que você não conseguiria lidar com a forma assustadora daquele poder maligno no instante em que você desistiu. E então a imagem de você vindo até aqui me ocorreu. E agora estamos aqui.

― Não me parece uma previsão muito útil então ― observou. ― Não dá muita margem de antecipação.

― Numa luta é útil. Agora em grandes cenários, vou deixar a desejar. Eu precisaria ser um estrategista muito habilidoso para aprimorar a minha capacidade de enxergar o futuro sem temer as possíveis variações. 

― É por isso que você está mantendo o príncipe por perto. Porque não sabe se deixá-lo ir será benéfico.

― No momento, sei as consequências que virão caso ele se vá antes da hora. Não entendo os motivos por trás disso. Em todas as possibilidades, ele sai daqui e é aniquilado pelas sombras. Não sei o que ou como isso acontece, mas o resultado é sempre o mesmo. Por isso estou sempre em busca de entender o quê vai fazê-lo permanecer. Porque dependo de mais informações.

― Deve ser angustiante saber que precisa de algo, mas não exatamente o quê.

― Eu confio no processo. Sei que as respostas virão no tempo certo. 

Minho suspirou insatisfeito. Ele nunca foi fã de vidência justamente por não dominar o assunto como gostaria. 

― Está certo. 

― Hyunjin está voltando ― Jeongin comenta e seus olhos brilham brancos uma vez.

― Vai compartilhar alguma coisa comigo?

― Ele veio com uma nova habilidade… mas eu não tenho tanta certeza assim se ela vai trazer a solução para nossos problemas… hm… ― murmurou e vislumbrou as nuvens se dissipando e desaparecendo. ― Ainda não depende dele. 

― Já acabou o papo completamente vazio de informação? ― Minho perguntou impaciente. 

― Tudo bem, já posso dizer que você veio aqui à toa. Não tenho a resposta de que precisa. Vá atrás de Hyunjin amanhã. Você e ele precisam conversar. Juntos vocês podem desvendar o que há na garrafa. Quanto ao príncipe, paciência.

Minho fez que sim com a cabeça e se desmaterializou no ar.

 

 

― Tento imaginar… o que acontecerá no dia em que você ficar bravo comigo.

Jisung e Chan estão unidos sob lençóis, deitados um de frente para o outro enquanto se olham e trocam carinhos. Eles tinham voltado para o chalé há algumas horas, molhados da cabeça aos pés. 

A chuva tinha cessado durante o caminho da volta, e por incrível que pareça, as nuvens tinham se dissipado depressa, descortinando o sol que parecia bastante ansioso para se livrar delas e retornar à ativa. O dia demorou a findar, parecendo mais longo do que o de costume, mas assim que a noite se fez presente, a temperatura ficou mais agradável. Eles se lavaram para se livrarem da lama, depois jantaram e decidiram se refugiar no quarto do mago quando o cansaço bateu, saboreando uma calmaria, escutando o coaxar de sapos e o canto de grilos ao longe. 

― Está ansioso para descobrir? ― Jisung sorriu.

― Estou curioso. Não estou com muita vontade de ter sua ira na minha direção. Se você já é capaz de me prender no chão sem querer, imagine só o que vai fazer quando quiser de verdade. 

Jisung riu e enfiou a cara no travesseiro.

― Jisung, tem uma coisa que eu queria te perguntar. Naquele dia, quando você me levou para andar pela floresta pela primeira vez. Quando estávamos descansando perto dos alecrins, você teve uma reação estranha. 

― Eu me lembro.

― Você disse que sentiu cócegas. Mas você não me contou mais nada depois disso.

― É que… eu sou o único que consegue, ou era o único que conseguia, tocar alguém através da natureza. Eu tenho um vaso de oxalis que eu uso para alcançar meus amigos quando quero saber o que eles estão fazendo. Minho e Hyunjin me disseram uma vez que eu causo cócegas cada vez que eu toco nas pétalas. Eles nunca conseguiram fazer o mesmo comigo quando tocam alguma flor, mas, por algum motivo, você conseguiu ao cheirar os alecrins. E foi por isso que eu disse que era a primeira vez que eu sentia aquilo. 

― Será que tenho algum dom escondido?

― Talvez você seja muito mais especial do que imagina.

Chan ficou em silêncio, pensativo. Estava se lembrando da vez em que sua mãe o encontrou escondido em uma das salas abandonadas no lado mais deserto do palácio. Ele sempre ia parar lá quando queria fugir de alguma obrigação real enfadonha. Quando ele ainda era uma criança, ele não via muito sentido em cumprir tantas formalidades e preferia ficar ao lado dos móveis velhos e empoeirados, inventando versos de uma canção ao dedilhar nas cordas de uma harpa desafinada.

Naquela época, quando sua mãe descobriu para onde tinha fugido, ela o coagiu a sair do seu esconderijo dizendo que ele era especial e que por essa razão ele não devia ficar isolado. As pessoas precisavam conhecê-lo. 

― Mas por que eu sou especial? ― Chan perguntara a ela no auge dos seus nove anos.

― Porque você é o príncipe ― ela lhe respondera calmamente, como se fosse óbvio e suficiente.

Mas Chan não queria ser especial só porque era um príncipe. Ter um título não podia torná-lo diferente dos demais. Se ele era especial, ele queria ser por razões que verdadeiramente fariam-no alguém fora do comum. Ser apenas o filho do rei não parecia ser importante do seu ponto de vista. E em nada o beneficiava no que se referia a se sentir uma pessoa que era parte de algo.

E agora ali ele estava, diante da criatura mágica mais surpreendente que teve o prazer de conhecer e escutou da boca dela que ele era especial pela segunda vez naquele dia. Isso o fazia se sentir flutuando cheio de alegria, como se tivesse descoberto um grande segredo. De repente, foi como se algo dentro dele tivesse despertado e o vazio deu lugar a um sentimento muito sublime. 

― Eu gosto muito de você, Jisung ― sussurrou, a emoção grande vindo à boca. ― Queria tê-lo conhecido antes. Há muito tempo.

― Por que você diz isso? ― perguntou e tocou o rosto de Chan com a palma da mão aberta.

― Não sei, acho que… não teria me sentido sozinho por tanto tempo se eu tivesse você desde o começo para me fazer companhia. 

― Mas estamos aqui agora. Você não precisa mais se sentir sozinho.

― Gostaria que você pudesse conhecer o palácio um dia.

Jisung apertou os lábios numa linha e respirou fundo. Era de partir o coração receber aquele olhar esperançoso do príncipe, como se ele ainda esperasse receber uma resposta diferente da que ambos já tinham conhecimento.

― Você sabe que eu não posso sair daqui. Eu queria muito, Chan, adoraria conhecer seu lar, sua família, seus amigos… adoraria conhecer seu reino. Mas eu não posso, eu sinto muito. 

― Tudo bem ― pegou o pulso da mão que o acolhia e beijou-o uma vez. ― Espero que algum dia você possa. Nem que seja só um pouco.

Jisung assentiu mesmo sabendo que não seria possível. Ele tinha de permanecer por causa do seu vínculo com a Floresta. Se atravessasse a barreira, sofreria danos irreversíveis e estaria violando um importante elo com sua magia. Não poderia se permitir tamanha infração. 

― Me conte mais sobre onde você veio ― Jisung pediu e se aconchegou a fim de ouvir a voz de Chan.

O príncipe contou suas histórias de infância, tentou descrever como era seu quarto no castelo e deu nome às pessoas que eram próximas de sua família. Enquanto narrava, as lembranças vinham fáceis, jorrando cenários brilhantes em sua mente. E só porque ultimamente estava interessado em aprender sobre a natureza, descreveu o máximo que conseguiu dos jardins ao redor do palácio, tentando dar nome às flores a Jisung que se orgulhou de seu esforço. 

― Vocês usam as rosas ― Jisung disse. ― Brancas e vermelhas. 

― O que elas querem dizer?

― Tantas coisas! ― exclamou. ― Mas acredito que a presença das duas signifique união. Vocês do reino são unidos?

― Eu acredito que sim. Durante a Época das Flores isso fica bem evidente.

― O que é a Época das Flores? 

― Você tem o seu Florescimento. Nós do reino temos a Época das Flores ― sorriu. ― É quando festejamos por vários dias e celebramos a união de muitos casais. Mais ou menos como acontece aqui na Floresta. Ao mesmo tempo em que você faz as flores desabrocharem aqui, lá as roseiras enfeitam arranjos aos montes. É bem bonito. Os salões de festa ficam decorados com as duas cores de uma forma diferente a cada ano. E os pretendentes igualmente obedecem uma etiqueta para demonstrarem a que tipo de relações estão disponíveis. Branco aqueles inclinados às uniões duradouras. Vermelho aqueles que procuram encontros efêmeros. Mas não são muitos os que optam por se vestir da cabeça aos pés com uma cor só. A maioria mistura, o que é interessante.

― Unir a serenidade à paixão ― Jisung complementa encantado. ― O que mais vocês fazem nessas festas? 

― Pintamos os rostos. Artistas do reino fazem desenhos de máscaras, de flores e de animais em toda a população. Algumas pessoas montam trajes completos para comparecer aos bailes. E todo ano acontece algo diferente, como um espetáculo preparado. Ano passado foi sobre a história de amantes apaixonados que tinham intenções diferentes. Um deles todo branco. A outra totalmente vermelha. Tento imaginar o que planejaram desta vez. Se bem que não sei se eles vão realizar os bailes…

― Por causa do seu desaparecimento?

― Sim. E também porque… ― Chan deixa a voz sumir, envergonhado de repente.

― Por quê?

― Porque o baile principal tem a intenção de encontrar um par para mim. 

― Ah…

Jisung perde a animação e Chan o observa curioso, esperando por uma reação nova, mas o mago não prossegue com mais perguntas, apesar de estar ansioso por absorver mais detalhes. 

― Já faz alguns anos que meus pais realizam um baile só para que eu conheça pessoas que possam chamar a minha atenção. 

― E teve alguém que chamou sua atenção? ― perguntou ao baixar os olhos para o espaço entre eles.

― Ninguém que estivesse lá.

Jisung murmura baixinho e Chan acha graça. O príncipe então se mexe e ergue o queixo do mago usando a lateral de seu indicador. Seus olhares se encontram e é impossível desfazer a conexão uma vez que ela é feita. 

― Porque o único que chamou minha atenção está bem aqui. 

― Não é possível que eu seja o único ― Jisung resmunga, o rosto corado protegido pela penumbra. 

― Imagino que seja. Atravessei todo esse caminho até aqui. Não deve ser por acaso.

― Você deve ser muito exigente se teve que vir tão longe.

― Eu diria que estava procurando por algo destinado a mim. Alguém especial. Como eu poderia me contentar com outra coisa sabendo que você estaria aqui?

― Você não sabia da minha existência até me encontrar ― argumentou.

― Devia saber em meu coração.

Jisung soltou outro resmungo inconformado. Estava lisonjeado, mas ao tempo enfurecido. Era tão confuso ter sentimentos contraditórios morando em seu peito.

― Por que está tão bravo de repente? ― Chan pergunta com um riso nos lábios, procurando alcançar o mago com as mãos. 

― Culpa sua. Você queria me ver com raiva. Está conseguindo!

― E o que foi que eu fiz para despertar sua ira? ― espantou-se.

Jisung mordeu a bochecha. Não estava irritado com Chan em si, mas com o novo choque de realidade que veio após a revelação sobre o baile. Por mais que estivesse alegre com tantas declarações de afeto, era impossível esconder o inevitável: quando o príncipe retornasse ao mundo dele, ele teria de se unir a outra pessoa. Alguém que não seria Jisung. 

― Nada. Esqueça ― o mago pediu, pois não queria ficar pensando mais naquilo. 

― Me diga, Jisung. Não fique tentando fingir que não sente nada quando posso perceber o quanto você está chateado. 

― Não é nada que você possa fazer algo a respeito. Você e eu não poderemos ficar juntos. Quando você voltar para o seu mundo, você terá que se casar. E a vida vai ter de continuar.

― Eu não vou me casar com mais ninguém, Jisung. Estarei unido a você para sempre.

― Não pode me prometer isso.

― Posso, sim.

― Então não me prometa. 

― Você quer que eu me case com outra pessoa? ― chateou-se.

― Não quero que você fique amarrado a mim para sempre. Não é certo.

― Então… quando eu for embora, você e eu nunca mais nos veremos? É isso o que você está me dizendo?

― Não sabemos o que pode acontecer. Você sabe muito bem disso.

― Você não pode me dizer para aceitar um casamento arranjado. 

― Não precisa ser arranjado. Você vai encontrar alguém bom. Alguém de quem você goste.

― Tanto quanto gosto de você? Impossível.

― Então encontre uma pessoa que você goste um pouco menos. E se case com ela.

― Não vou prometer uma coisa dessas. 

― Vai viver infeliz por minha causa? ― perguntou com lágrimas nos olhos.

― Vou viver feliz sabendo que um dia te conheci. E que só preciso deixar sua lembrança viva no meu coração. Não preciso estar com ninguém além de você.

― Maluco. Completamente fora de si ― fungou.

― Apaixonado por você ― o corrigiu ao beijá-lo na bochecha. ― Você fará o mesmo por mim?

― Não! ― chiou.

― Mentiroso ― riu. ― Vai deixar de gostar de mim quando eu me for?

― Vou pedir a Hyunjin para apagar a minha memória. 

― Você faria isso? ― horrorizou-se.

Jisung ficou em silêncio, incapaz de confirmar. Chan interpretou mal a ausência de resposta, pois se ergueu sentado na cama, puxando o mago para que fizesse o mesmo. A luz prateada da lua era intensa e jorrava através da janela, iluminando apenas o perfil de ambos. Quando ela incidia sobre os olhos do mago, denunciava as lágrimas ainda por vir que se acumulavam nos cantos. 

― Você fará isso? ― o príncipe insistiu, aflito.

E por que não? Acontecerá o mesmo com você!, Jisung quis berrar, mas se conteve porque não tinha coragem de dizer a Chan que no momento em que ele cruzasse a barreira ao partir, ele teria todos aqueles momentos vividos na Floresta tirados dele. Se para os magos sair do lado mágico poderia matá-los, para os humanos a barreira oferecia uma amnésia para que eles jamais compartilhassem os segredos da vida “do outro lado”. Uma precaução bastante astuta dos Anciões.

― Você vai querer se esquecer de mim? Vai ser como se eu nem tivesse existido?

Jisung negou com a cabeça baixa, a força da emoção de Chan sendo sufocante por um instante. Estava odiando o rumo daquela discussão. Como o príncipe podia se sentir chateado? Jisung sofreria o dobro quando eles se separassem. Não era nem justo que ele ficasse daquele jeito. 

― Por que a gente está brigando por causa disso? ― o mago expressa sua tristeza e confusão com as mãos no colo. ― Nós dois sabemos que vai ser difícil.

― Será mesmo. Mas você pretende me apagar da sua vida assim que eu me for? Diga que não fará isso, Jisung. Por favor.

― Você é tolo ou somente incapaz de ver? Não vou conseguir esquecer mesmo que eu queira. Vai ser ainda pior para mim.

― Não diga isso. Não quero significar sofrimento pra você.

― Você não significará sofrimento. A distância sim.

Chan tomou as mãos do mago nas suas e apoiou a testa na dele.

― Não há mesmo nenhum jeito?

Não é como se fosse adiantar, o mago suspira mentalmente.

Uma quietude pesa. Uma melancolia ameaça sobressair, mas o príncipe está determinado a não permiti-la.

― Quer ouvir mais histórias sobre o palácio?

Jisung faz que sim, embora sua vontade fosse a de gritar por quê? Por que a Floresta daria algo tão precioso para depois arrancar fora feito erva daninha? Por que ela seria tão cruel? Por que esse príncipe tinha de aparecer e deixar uma marca tão profunda antes de partir para nunca mais voltar?

― Se você estivesse lá, eu te tiraria para dançar. 

― Como vocês dançam nesses bailes?

― Quer que eu te mostre?

― Não.

Chan riu e se colocou de pé. Colocou um braço nas costas e se inclinou para frente, estendendo uma mão.

― Dance comigo.

― Não quero dançar.

― Quer sim. 

― Por que quer dançar comigo? ― cruzou os braços.

― Porque você é o mais bonito deste salão.

Jisung corou.

― Só uma música. E te deixo em paz. Eu prometo.

― Você não sabe ser persuasivo ― Jisung diz e se deixa ser guiado para o espaço no meio do quarto.

― Eu estava disposto a te convencer a noite toda. E você aceitou na segunda tentativa. Acho que você não é muito bom em me resistir.

Chan sorriu ao amparar a cintura de Jisung enquanto recebia as mãos dele em seus ombros. Quando tentou beijá-lo, sua boca encontrou o ar.

― Você beija a pessoa com quem você está dançando? ― surpreendeu-se.

― Só aquele que chamou minha atenção.

Jisung revirou os olhos e inflou as bochechas, inconformado com aquilo.

― Isso não está me parecendo uma dança.

Eles estavam apenas balançando enquanto abraçados, embalados pelos sons da noite que sequer pareciam música.

― E o que te parece?

― Parece que você está se aproveitando.

― Está bem. Me dê esta mão ― puxou uma delas para unir a sua. ― Agora me deixe te conduzir.

Chan era um bom dançarino. Seu movimento era suave, cadenciado, a postura régia perfeita. Apesar da pouca luz, Jisung conseguiu imaginá-lo vestindo roupas formais, um daqueles uniformes cheio de bordados dourados que já viu nas imagens dos livros. Se fechasse os olhos, seria transportado para um grande salão de piso de mármore, cercado de rosas, e preenchido por vozes de uma centena de pessoas. Seria assim o baile dos humanos? A imagem que Chan tinha criado fazia sua mente expandir a fantasia. E isso só aumentou a vontade que tinha de conhecer o palácio e o mundo dos humanos. Seriam eles tão impressionantes quanto o príncipe? 

― Você aprende rápido ― Chan elogiou.

― Não é tão difícil.

Chan faz Jisung girar antes de finalizar o passo.

― O que achou?

― Acho que durante os Florescimentos irei organizar uma grande festa também. Estou pensando que devo fazer um ainda este ano. Quero fazer algo grandioso. Quero fazer como vocês humanos e celebrar a união de todos.

Jisung abraçou Chan, grato pela companhia dele e pela ideia mágica. Chan afagou os cabelos macios e perfumados do mago e os carregou de volta à cama. Lá Jisung permaneceu inquieto, a mente funcionando cheia de novas invenções. Compartilhou todas com o príncipe, querendo a opinião dele em relação a tudo que queria fazer acontecer. Chan ficou impressionado com a capacidade do outro em ser tão criativo.

― Podemos deixar isso para amanhã? ― Chan pediu num riso. ― Já está bem tarde e deveríamos estar dormindo.

― Você está com sono?

― Para falar a verdade, não. 

― Então venha. Vamos registrar tudo enquanto ainda está fresco e vivo em nossas mentes ― o apressou a se levantar, tomando o caminho da sala de estar.

 

 

Hyunjin soube que tinha algo de diferente no ar logo que a Floresta passou a se comportar diferente. A princípio tinha ignorado os sinais, pois não era uma mudança perigosa que indicava uma necessidade de alerta, mas assim que seus sentidos se deram conta das transformações, sentiu o corpo inteiro arrepiar.

O caminho de volta para casa foi surpreendente. Ele se sentia fazendo um percurso totalmente diferente daquele que fez quando partiu. Fez questão de ir caminhando naturalmente com os olhos bem abertos para examinar cada trecho deformado, cada espécie nova e todos os detalhes que nasceram na sua ausência. Não estava com medo porque não havia ameaça, mas ficou apreensivo diante do novo e do incompreensível, sem entender como tinha de reagir.

Suas íris cintilam e migram para o violeta. Prende os cabelos longos e loiros quando o calor incomoda e faz o suor escorrer de sua nuca. Se livra da capa quando percorre um matagal fechado e exuberante, além de se sentar perto de um regato para encher o cantil de água. Estava ficando cada vez mais quente conforme se aproximava de seu destino e sua sede chegava a níveis extraordinários. 

As chuvas frequentes eram outra novidade. Elas vinham sem aviso, pegando o mago buscador de surpresa quando caíam. Também eram rápidas e refrescavam o ambiente por um mísero período antes que a umidade se acumulasse novamente e abafassem o entorno. Hyunjin nunca se sentiu tão atordoado por um clima tão fora do comum. E estava cem por cento certo de que seu amigo, Jisung, o mago da floresta, estava envolvido nisso.

O que será que elas significavam? As lágrimas do céu em nada tinham relação com tristeza e amargura, disso o buscador tinha certeza. Elas não eram frias nem cortantes, como normalmente eram quando Jisung se sentia cabisbaixo. E também não eram simples e sem sabor, como eram quando o mago da floresta se dedicava a fabricá-las. Essas que o atingiam eram poderosas, grossas, insistentes. Elas jorravam impacientes, como se tivessem um propósito de ensopar quem se atrevesse a estar sob ela. Hyunjin quase não conseguia escapar dos pingos uma vez que eles começavam, pois a chuva não tinha um princípio lento. Ela vinha de súbito, como se a nuvem estivesse despejando de uma vez só o que vinha carregando.

Que curioso, o buscador pensava cada vez que se refugiava na sombra de rochas. E como o estudioso que era, tratou de engarrafar aquela água para investigar mais tarde as características daquele fenômeno.

A Floresta tinha migrado espontaneamente para uma versão mais estonteante de si mesma. O Florescimento, que tinha acontecido há semanas, parecia desbotado em comparação ao vivaz irrompimento daquela transformação. As flores ainda estavam lá, mas tinham reduzido em número. Por outro lado, a mata verde estava vigorosa, densa e contribuía para que o calor se acumulasse abaixo da copa das árvores.

Hyunjin notou depois de uma análise que a vegetação apresentava um comportamento selvagem. Não havia mais o equilíbrio na paisagem, como era de se esperar. Havia plantas em abundância, algumas mais gigantes em comparação a outras que estavam perto de ser extinguidas por conta de seus formatos delicados impróprios para se adequarem ao novo ambiente. Os troncos retorcidos em direção ao céu evidenciavam o interesse das plantas em se sobressaírem na busca por luz solar e tinha uma animosidade pairando no ar quente. 

A percepção da disputa incomodou o mago que mais de uma vez parou para verificar a textura das folhas. Não era do feitio da Floresta competir consigo mesma por nada.  A natureza vivia em harmonia e havia recurso para todos, por isso não havia qualquer necessidade de brigar com ninguém para conseguir sobreviver. Contudo, ali estava ela, gananciosa, querendo absorver mais do que era realmente necessário e crescendo forte, verdejante, intensa, sobrepujando os demais para saciar um desejo desconhecido.

Hyunjin se sentia pressionado por todos os lados por essa intensidade sufocante. A vibração das vontades dos seres vivos tremiam em sua pele e faziam-no tonto com tantas exigências. Ele não conseguia se acalmar por tanto tempo antes de ser novamente persuadido pela agitação ao redor. E era impossível resistir, seu corpo ansiando por dançar sem qualquer razão.

Era engraçado como às vezes sentia vontade de rir. O riso brotava involuntariamente de seu peito e se pegou várias vezes sorrindo para nada em particular. Apesar da exaustão, sentia-se alegre. O clima sem dúvidas estava afetando seu humor de um jeito bizarro.

Aos pés da colina, Hyunjin viu várias criaturas se movimentando em direção ao sul. Ficou intrigado pela massa organizada indistinta e pelos barulhos familiares, e se aproximou o suficiente para identificar certas espécies de animais e seres mágicos.  

Quando parou um deles, ouviu em seus pensamentos que eles estavam migrando para um lugar com clima mais ameno. O calor estava afugentando aqueles que não conseguiam se adaptar ao novo ambiente. E o surgimento de novos seres que eram um tanto briguentos, territorialistas, muito semelhantes à nova vegetação, também estavam perturbando a paz coletiva.

―  Isso está passando dos limites ― Hyunjin concluiu por fim.

O buscador já estava bem perto da casa de seu amigo e resolveu ir até o chalé primeiro antes de ir para casa. Quando estava prestes a bater na porta, reconheceu o som de risadas abafadas. Elas eram tão bonitas e contagiantes que emanavam uma onda de calor que irradiava suavemente em direção ao restante da Floresta. Hyunjin não teve dificuldade nenhuma em chegar à descoberta de que era ali o epicentro de toda a transformação que presenciou durante o retorno.

Sem querer interromper o que acontecia dentro da casa do mago, decidiu espiar pela janela. E o que encontrou amoleceu ainda mais seu coração: Jisung e Chan faziam uma bagunça na cozinha enquanto discutiam alguma coisa aparentemente não muito séria a julgar pelos risos. O mago se alterava ao gesticular expansivamente, o olhar brilhante que Hyunjin sempre via quando ele falava a respeito de alguma ideia fantástica que teve. Chan o observava intrigado a uma curta distância e, por que não dizer admirado, para a expressão que deixava qualquer um interessado em saber mais sobre o raciocínio da mente fértil de Jisung. 

O buscador por fim desistiu da visita, incapaz de ser aquele que desmancharia aquela cena tão acolhedora. O que quer que fosse que precisasse esclarecer a respeito das mudanças da Floresta podia esperar até a manhã seguinte.

 


Notas Finais


mais alguém aí com muita saudade do hyunjin? porque eu só to esperando ele dizer que esteve o tempo todo escondido nas performances do kingdom sudfhaushdfuasdf

por falar em kingdom... rapaz, quantas performances maravilhosas
estou apaixonada por todas! esses meninos têm talento demais

boa sexta-feira para vocês, meus queridos
espero que tenham gostado do capítulo! <3


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