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História Confusions Of A Girl In Crisis - Tears, promise and blood


Escrita por: JessieNatyB

Notas do Autor


Olá.
Esta aqui o tão esperado capítulo oito.
Eu sinceramente espero que gostem e que comentem.
OBS.: Não deixem de ler as notas finais, é muito importante.
Boa leitura e até lá em baixo :)

Capítulo 8 - Tears, promise and blood


Meu despertador toca às sete da manhã, avisando que está na hora de levantar e me arrumar para o colégio, mesmo que minha vontade seja a de faltar.

            Me arrasto pra fora da cama com dificuldade, pois ultimamente tenho me sentido fraca demais e talvez isso tenha a ver com meu peso, que baixou consideravelmente para 36 kg. Ficar de pé está difícil, é como se meus ossos fossem feitos de gelatina e eu mal me aguento de dor nos músculos pela tentativa falha dos exercícios na noite passada.

            Ando devagar até o closet e me enfio em uma calça jeans skinny azul, uma blusa de manga comprida branca e sapatilha salmão. Coloco algumas pulseiras, penteio o cabelo e passo um pouco de maquiagem para disfarçar a cara de morta.

            Mudo rapidamente minhas coisas de bolsa; coloco meu caderno, uma agenda e meu penal, além do celular e algumas outras coisas das quais posso precisar.

            Saio do apartamento trancando a porta e jogando a chave dentro da bolsa. Ando até o elevador e aperto o botão para chamá-lo, eu bem que poderia ir pelas escadas se eu não estivesse tão fraca como estou.

            As portas se abrem e eu entro no elevador com mais cinco pessoas desconhecidas. E durante o trajeto até o primeiro andar eu me sinto incomodada por ser observada.

            Agradeço mentalmente quando as portas se abrem, e saio para a rua, em direção ao colégio.

 

            - Achei que você não fosse vir hoje também. – Emma me avista de longe e grita, correndo em minha direção.

            - Hey, tudo bem? – pergunto.

            - Eu to bem. – ela me olha da cabeça aos pés. – Você está linda, está mais magra.

            - Obrigada. – sorrio fracamente. Durante um momento fico feliz

            - Você parece estar pra baixo... Você está bem?

- Sim, estou bem. – sorrio. – Alguma novidade?

- Perdi alguns quilos também. – Emma sorri de orelha à orelha. – Eu me pesei no outro dia e a balança mostrou quarenta e oito quilos. Estou muito feliz.

- Parabéns.

Nós entramos no colégio e a primeira coisa que vejo é Pamella se esfregando com Dougie, mas isso não é mais novidade. Ele pareceu sentir meu olhar sobre eles e seus olhos procuraram os meus, sua expressão se modificando.

- Ela é nojenta. – Emma bufa.

- E ele é um babaca. – suspiro. – Vamos! Não estou aguentando de dor nos músculos... Sabe me dizer se perdi muita coisa?

- não muito, eu te passo depois. – Emma me olha. – Vamos pra aula então, começar o dia com a entediante aula de Geografia.

Seguimos pelo corredor até a sala de aula e entramos. Ela está quase cheia e os únicos lugares vazios são as carteiras do fundo, o que eu prefiro. Ando até uma das carteiras e sento-me, começando a tirar as coisas de dentro da bolsa.

- Jessie. – Emma me chama. Paro de tirar as coisas da bolsa e olho para ela. – O que está acontecendo?

- Nada...

- Sei... Olha, se não quiser contar pelo menos não minta pra mim. – falando isso ela se vira para frente e afunda a cabeça por entre os braços jogados na mesa.

Droga!

- Bom dia classe! – a professora chega na sala, já se preparando para fechar a porta mas é impedida.

- Desculpa o atraso. – Pamella entra na sala e caminha para a única carteira livre. Bem na frente de Emma.

- Dessa vez deixarei a senhorita entrar, mas na próxima irá para a orientação.

Cutuco Emma com a ponta de um lápis, mas ela me evita. Tento mais uma vez e ela levanta a cabeça, se deparando com Pamella à sua frente.

- Emma. – chamo-a. – Desculpe-me.

Ela aperta seus  olhos em minha direção, mas logo em seguida abre um sorriso e concorda com a cabeça.

- O que está piranha está fazendo aqui? – ela faz uma pergunta muda.

- Não sei...

- Senhorita Batiuk! – a professora chama minha atenção.

Olho para frente e presto atenção nela durante o restante da aula.

 

 

A aula passa incrivelmente rápido. As pessoas saem da sala apressadas. Emma, que já guardou suas coisas, me espera enquanto guardo as minhas coisas demoradamente, já que estou ficando cada vez mais fraca.

- Estou ansiosa pro sinal do intervalo bater logo. – Emma me assusta.

- Hum... Por quê?

- Um amigo meu vai vir aqui. Você vai gostar dele. Ele é bem gatinho.

Saímos da sala, calmamente, e seguimos para o final do corredor. Para a aula de História, a matéria de Daniel ou Danny.

- Eu simplesmente adoro as aulas dele. – Emma fala enquanto olha para o professor, que está em sua mesa. – Com licença, professor, podemos entrar?

- Claro. – ele sorri animado.

Emma e eu entramos e nos sentamos nas carteiras da frente, o que é um milagre estarem vazias, e deixamos nossas coisas.

- Bom pessoal, agora que terminei a chamada e todos estão aqui, nós vamos começar a falar da Primeira Guerra Mundial.

Danny começa a andar pela sala. Explicando sua matéria e fazendo pausas para anotar algumas coisas no quadro. Numa dessas pausas Emma me cutuca e sussurra:

- Eu adoro está visão. A bunda dele é tão gostosa. – sorrio com seu comentário.

- Vamos ver se estão prestando atenção na aula... – Danny olha de Emma para mim e volta a olhar para ela. – Cite um dos motivos da Primeira Guerra, Emma.

- Hum... Eu... Imperialismo?!

- Certo. – Danny sorri e volta sua atenção para outro aluno, fazendo a mesma pergunta.

- Com licença, professores. Gostaria de passar um recado à todos os alunos do terceiro ano. – a voz da diretora, Lorena, soa na pequena caixa de som instalada em cima da porta de entrada da sala. – Quero pedir a vocês que compareçam no Ginásio após o intervalo. Levem suas bolsas, serão dispensados das ultimas aulas. Obrigada.

Com o termino do recado os alunos começaram a se alvoroçar e conversar.

- Pessoal, ainda não terminamos a aula. Por favor, silencio.

Aos poucos a bagunça diminui e todos voltam a prestar atenção na aula, uma das minhas preferidas e não só pelo professor, mas , também, pela matéria em si. Eu sempre gostei de história.

- Hey, Jessica! Adoro quando você fica no mundo da lua e me deixa falando sozinha.

- O que?! Desculpa. Eu estava pensando e...

- Já bateu o sinal. Tá na hora de ir pra aula do Sr. Poynter Pé no Saco;

- Eu ouvi isso! – Danny ri se aproximando.

- Caramba! Ele nos descobriu. – Emma ri junto com ele, eu apenas sorrio.

Jogo meu caderno com as anotações da aula dentro da bolsa.

- Vamos, Emma.

- Ah, claro.

- Tchau professor. – me despeço de Danny.

- Tchau prof. – Emma acena.

- Tchau meninas. E... Boa corte com o Doug hoje, vocês vão precisar.

Nos entreolhamos e saímos apressadas para entrar na sala, é bem obvio que se nos atrasarmos ele não vai deixar a gente entrar.

- Bem que poderíamos ficar pra fora dessa aula né! – Emma tenta me convencer.

- Não posso me dar esse luxo. Já perdi algumas aulas e química é importante.

- Se eu não soubesse que você é uma nerd eu desconfiaria que você está querendo ver o Poynter.

- O que te eu, Goulard? – a voz dele soa forte atrás de nós.

- Ah, eu só estava falando para a Jessie o quão nojento você é. – ela sorri para ele, e saí me puxando, o deixando para trás com uma cara de chocado.

Ele entra na sala irritado; nós nos sentamos no meio da sala.

- Vou dar quinze minutos para copiarem o que está no quadro enquanto faço a chamada. – ele resmunga e senta-se na cadeira atrás de sua mesa.

Tiro o caderno da bolsa e me apresso em copiar as anotações do quadro. Minhas mãos não estão firmes e minha letra começa a sair esquisita.

Sinto que sou observada, ergo minha cabeça para procurar a pessoa e dou de cara com Dougie me olhando, ou melhor, olhando para meu pulso onde as cicatrizes são visíveis e a blusa deixou à mostra. Minhas bochechas ficam vermelhas, puxo as mangas para baixo ao mesmo tempo eu seus olhos se encontram com os meus. Desvio meus olhos e baixo a cabeça.

- Hey. – Emma me cutuca e sussurra. – Ele não para de te olhar.

- Ele quem? – me faço de desentendida.

- Silencio. – Dougie fala alto.

Todos na sala olham para nós. Me encolho na cadeira e volto a olhar para frente. Meus olhos se encontram com os de Dougie novamente e posso jurar que vejo-o tentando formular perguntas e respostas para o que viu em meu pulso.

- Quinze minutos! – Dougie fala e quebra nosso contato visual, levantando. – Quero que todos guardem suas coisas e prestem atenção em mim.

Enquanto guardo minhas coisas escuto o barulho de cadernos sendo fechados e bolsas sendo abertas.

- Como vocês podem ver o assunto de hoje é uma revisão de algo que já estudaram. Vamos falar das ligações químicas...

Assim que Dougie começou a falar eu me desliguei de sua matéria, não que eu não goste de química mas minha cabeça simplesmente viajou e eu começo a reparar em quão bonito ele é com seus cabelos loiros na altura dos ombros, jogados para trás, seus olhos azuis, seus lábios finos, a barba por fazer. Seu rosto angular de um jeito sexy.

Dougie está usando hoje uma camiseta branca de manga curta que é colada em seu corpo, deixando seus ombros largos e peitoral marcados pela academia à mostra. Sua calça jeans escura meio colada, me deixando saber que apesar de magro ele tem uma bunda redondinha e pernas malhadas. E está calçando um tênis de cano alto.

Seria ótimo poder fotografa-lo, ele tem um ótimo perfil.

- Você vai continuar parada aí ou vai sair pro intervalo? – a voz de Emma me puxa para a realidade.

Olho ao redor e vejo todos juntando seus materiais e saindo da sala.

- Vou sair pro intervalo.

-Ótimo. Apure. Chris já deve estar esperando.

- Pode ir na frente. Eu encontro você depois.

- Certo. Até daqui a pouco. – ela saí correndo.

Termino de guardar minhas coisas e só então levanto a cabeça para olhar em volta, vendo que só restou eu e Dougie na sala. Ele parece entretido enquanto mexe nas folhas sobre sua mesa.

Começo a caminhar até a porta, desviando das mesas. Abaixo a cabeça quando passo por ele e sinto uma vontade estranha de chorar.

- Jessica... – ouço a voz de Dougie me chamar. Para quando estou passando pela porta e viro para ele.

- Dougie! – Pamella passa por mim e eu me desequilibro e por pouco não caio.

Ela se joga em cima dele, agarrando-o pelo pescoço.

- Eu vou poder ir com você...

- Pamella. – ele solta-se dela e olha para mim.

- Viu! Ele prefere ela porquê ela é magra e você não é. Olha quanta gordura em sua barriga. E nas suas pernas, olha quanta celulite.

Viro as costas para a cena e saio para o corredor, indo para o refeitório que não esta muito longe.

Procuro uma mesa afastada e me sento. Estou sem vontade de procurar Emma e seu amigo, prefiro ficar sozinha nesse momento. Ficar sozinha e tentar esquecer essa fome que à dias me atormenta.

Eu quero que a fome desapareça para que eu possa seguir em frente. Eu quero que a fome desapareça para que eu possa ter outros pensamentos em minha cabeça. Eu quero que a fome desapareça para que eu possa, finalmente, viver. Eu quero que a fome desapareça sem que eu precise comer. Por quê sem a comida e sem a fome não haveria a Ana, não haveria o drama e não haveria a doença.

Minha garganta dói, da mesma forma que meus olhos, ossos e estômago. O cheiro das comidas no local tem um efeito alucinógeno sobre mim, sobre os meus sentidos. Eu me imagino rodeada pelos melhores doces, pelas melhores frutas, por hambúrgueres e batatas fritas. Eu sinto, inclusive, a textura de todos eles se desfazendo e tornando-me mais suja. Eu sinto nojo de desejar qualquer coisa que me alimente.

Da mesma forma, eu sinto nojo do que eu vejo no meu corpo; quilos de gorduras escondendo o meu verdadeiro eu. Quilos de gordura esmagando os meus ossos. Quilos de gordura afogando a minha vontade de viver.

No entanto, o meu peso torna-se cada vez mais contraditório em relação ao que os meus olhos podem enxergar. A conquista dos 36 kg não trouxe a satisfação esperada. Trouxe-me apenas olhos mais abertos, mais atentos às imperfeições do meu corpo. Trouxe-me o senso de urgência e o medo de que cada caloria torna-se mais um quilo dentro de mim.

Eu estou cansada. Eu estou com fome. Mas eu não vou desistir.

O sinal bate, me tirando do devaneio. Levanto devagar da cadeira para não passar mal e sigo para o ginásio, já louca para ir para casa.

O local está tumultuado, todos estão ocupando os lugares na arquibancada. Passo um olhar rápido procurando Emma, mas ela não se encontra aqui. Que ótimo! Ficarei sozinha com meus pensamentos um pouco mais.

- Por favor, alunos, silencio. – a voz da diretora Lorena faz todos se calarem. – Eu convoquei todos vocês aqui para algo importante. Como vocês bem sabem, o governo pede para os colégios, todo ano, fazerem a pesagem de seus alunos. Esses números vão para um órgão que faz o levantamento da taxa de obesidade infantil e juvenil no país. Para isso preciso que todos vocês colaborem e acho que devo lembrar-lhes, a pesagem é obrigatória, portanto ninguém sairá sem se pesar.

Oh Meu Deus! Isso só pode ser um pesadelo. Ter que me pesar na frente de todos é terrível. E agora? O que vou fazer para me livrar disso? São duas aulas para a pesagem e tenho certeza que vai dar tempo de todos se pesarem. Todo o tempo que vim escondendo minha doença pode ser que não valha nada agora, afinal eles vão ver meu peso e ligar os pontos.

- Para me ajudar com isso pedi aos professores que, gentilmente, cedessem suas aulas e fizessem isso. – Lorena fala enquanto olha para Harry, Daniel, Thomas e Dougie. – Obrigada professores. Agora deixarei vocês fazerem o trabalho.

- Okay pessoal, faremos o seguinte: Enquanto eu e o Danny medimos a altura de vocês, Dougie e Tom vão pesa-los. – Harry toma o controle. – Quero que formem uma fila única e que deixem os casacos nas bolsas.

- E não se esqueçam de esvaziarem os bolsos. – Tom complementa.

Uma grande muvuca se forma com os alunos tentando formar uma fila. Fico parada no lugar, não adianta ir na fila agora pois vai demorar um bom tempo para todos ele se medirem e se pesarem. Então tiro um caderno da bolsa e começo a rabiscar um desenho qualquer, tentando esquecer que um momento de terror se aproxima cada vez que a fila diminui.

- Hei! Cadê sua amiguinha? – a voz de Pamella me chama à atenção.

- Eu não sei.

- Ela deve ter ficado com mede de quebrar a balança. – Pamella fala maldosamente e da risada junto com suas amigas.

- Por que não vai encher o saco de outro, Pamella? Ninguém liga para o que você diz, muito menos Emma. – solto irritada.

- Que bonitinho! O saco de gordura defendendo a tonelada de banha. – Pamella me olha e vê que sua frase ridícula fez efeito pois sinto um nó se formar em minha garganta. – Ah, ficou sem palavras. Que bom.

E com isso Pamella saí e me deixa com aquele incomodo nó na garganta e com uma vontade incontrolável de me machucar por sentir meu estomago urrando de fome. E a única coisa que poderia me consolar agora me é proibida

“Eu vejo meus ossos, mas isso não é o suficiente. Minhas calças estão largas e as blusas não servem mais, mas isso também não é suficiente. Nada do que faço é, pois eu ainda não atingi o meu peso ideal.

No fundo eu sei que nunca serei o suficiente, que são tudo desculpas para esconder o meu verdadeiro eu. Eu nunca serei completa, eu nunca serei a melhor. Eu não sou a mais bonita, a mais interessante, a mais inteligente, a mais magra. Sempre tem alguém melhor, é só olhar ao redor.

As pessoas estão sempre se superando e eu continuo na mesma, dizendo que não aguento mais sem nem ao menos chegar ao limite. Acho que meu medo de atingir minhas metas é tão grande quanto o medo de que nada mude. Eu sei, vou sofrer. Assim que meu peso diminuir, as forças irão embora. Será difícil levantar da cama – mais do que já é. Eu tenho medo de perder as pessoas ao meu redor – mesmo que sejam poucas. -; eu tenho medo de perder o que me resta de saúde, mas principalmente, eu tenho medo de me encontrar. Tenho medo de, finalmente, ser boa o suficiente. E morrer por isso.”

As palavras me fazem relaxar. Já tenho algo para escrever no blog, depois de tantos dias. Então eu fecho o caderno e guardo minhas coisas. A fila está pequena, faltam cinco pessoas... quatro... três... duas... e então, uma. E minha vez chega.

- Jessica. – a voz de Harry me chama e, lentamente, ergo a cabeça para olhar em seus olhos. – Sua vez.

- Eu preciso mesmo ir? – minha voz soa fraca.

- Precisa. – Harry pisca para mim, tentando me encorajar.

- Certo.

- Vamos lá, garota. Vamos ver sua altura. – Danny sorri pra mim. – Fique descalço e suba aqui, de costas.

Tiro a sapatilha e subo onde ele indica. Me viro de costas e tento, em vão, me acalmar e dizer que é só uma balança, mas eu sei que não é; a balança é meu pesadelo e não há um dia sequer que eu não chore olhando para ela.

- Um meia cinco, Harry. – Danny fala e Harry anota. – Certo, agora é com eles.

- E aí? – Tom sorri. – Tem alguma coisa que pese nos bolsos?

- Não. – começo a tremer, minhas pernas estão bambas.

- Beleza, então pode subir. – ele fala empolgado mas fica serio ao ver meus olhos já marejados. – Hei. Não fique assim.

- Jessica. – Dougie me chama e eu viro em sua direção. – Isso é só uma balança e ela não diz nada a respeito de você, são só números. Eles não definem seu caráter.

Tento dar um sorriso, mas nem isso eu consigo. Respiro fundo e subo na balança e a única coisa que consigo sentir é medo. M-E-D-O. Um medo enorme.

- Harry, acho que a balança desregulou. – Tom chama.

- Por que? Quanto deu? – Harry se aproxima e olha. – Caramba.

- O que foi? – Danny da uma espiada sobre o ombro de Harry e assobia. – O que vocês acham?

- Jessica, você pode descer. Eu vou ter que regular a balança. – Harry me olha serio.

Desço da balança e involuntariamente um sorriso sobe ao meu rosto. O numero 36 kg me faz sorrir por um pequeno tempo. Não emagreci mas pelo menos não engordei.

- Não sei porquê esse sorriso em seu rosto. Você ainda continua enorme. Olhe a grossura da sua coxa, o tamanho do seu quadril. Vocês está longe de ser perfeita ainda...Ainda.

E a voz da Ana em minha cabeça é o suficiente para fazer meu sorriso morrer.

- Pode subir agora.

- Eu subo novamente na balança e eles voltam a olhar o numero. Sinto o olhar de Harry, Tom e Danny sobre mim, pesando em meu ombro.

- Trinta e seis e cem, Doug. – Tom fala ainda me olhando.

- Como é? – Dougie faz uma cara de confuso.

- Isso mesmo que ouviu.

Desço mais uma vez da balança, agora me calçando ainda em silencio e com medo de olhar para eles e ver a decepção em seus rostos. Sinto ter falhado, mesmo que não haja alguma confirmação, para com eles. Mas o que não sabem é que o meu corpo é um templo abandonado pelos sentimentos bons e seus enfeites consistem na podridão da comida fixada no meu interior; restos e mais restos de mim mesma, toneladas de decepção.

- Será que você pode ficar um pouco mais quando bater o sinal? – Harry pergunta.

- Ah... Tudo bem.

O sinal para ir embora bate e todos os alunos saem em disparada para suas casas. Eu me pergunto porquê mesmo que eu não dei uma desculpa e fui embora também.

- Muito bem. Por onde começar? – Harry cruza os braços e me olha.

- Antes de tirarem qualquer conclusão precipitada eu quero explicar aquele numero. – Vamos Jessica, pense rápido. Você precisa sair dessa! – Eu... tenho anemia.

- É só isso? Quer dizer, não tem algo mais? – Dougie se mete na conversa.

- O que Doug está tentando dizer é: se quiser falar algo você pode dizer sem medo. Não vamos te julgar. – Tom me dá um sorriso.

- Caras, vocês estão fazendo muita pressão nela. – Danny põem a mão em meu ombro. – vamos sentar.

- Aham...

Nós nos sentamos na arquibancada.

- Como vocês está? – Danny pergunta paciente.

- Eu estou bem – essas palavras soam vazias em minha boca.

- Serio?

- Sim.

- Por que aquele numero?

- Eu já falei, eu tenho anemia... Por isso.

- Entendo. É só isso?

- Sim, e eu... Eu preciso ir. – pego minha bolsa e levanto; sinto minhas pernas moles.

- Jessica. – Dougie tenta me apoiar.

- Não me toca. – peço em pânico, dando passos para trás. – Eu... Tchau.

E em passos rápidos eu saio do ginásio, evitando olhar para trás. Os corredores estão vazios agora e eu agradeço por não ter que me fazer de forte; lagrimas começam a inundar meus olhos.

- Jessica, espera. – a voz de Dougie faz com que eu tenha mais vontade de chorar. – Você é uma péssima mentirosa. Você pode ter enganados eles, mas não vai me enganar tão fácil assim.

- Não sei do que está falando.

- Você não esta nada bem... Por que não deixa a gente te ajudar? Por que não me deixa te ajudar?

- Eu não preciso de ajuda, já disse que estou bem. – eu minto, novamente.

- não, não está. – Dougie se aproxima e seca meus olhos com seus polegares, segurando meu rosto em suas mãos. – Não tente mentir pra mim.

- Tudo bem.

- Por que você mentiu?

- Alguém disse uma vez que uma mentira repetida mil vezes se torna verdade.

- Será mesmo? – seus olhos fixam-se nos meus. – Não acho que isso seja verdade. Por que você faz isso?

- Porque é mais fácil dizer que está tudo bem, são só palavras, já estou acostumada a pronunciá-las, são desculpas automáticas.

- Você pode mentir para os outros, mas não minta mais para mim.

- Ta.

- Você quer uma carona? Quer que eu te leve para casa?

- Certo, até amanhã então... -  Dougie me vira as costas e quando está à uma distancia considerável de mim, se vira para me olhar. – E... Jessica, aquilo em seu pulso... Não o faça mais. Me prometa que não fará novamente.

- Eu prometo.

- Eu não senti firmeza nessa promessa. Posso confiar?

- É provável que não.

- Eu imaginei. – ele balança a cabeça negativamente. – Até amanhã, Jessie.

- Até amanhã, Dougie...

 

Chegar em casa foi a coisa mais difícil do dia, depois de subir na balança. Minhas pernas estavam moles.Minha pressão sanguínea estava igual de uma cobra, gelada. Meu coração estava cansado e meus pulmões queriam tirar uma soneca. A caminhada levou mais tempo que o habitual já que tive que fazer varias paradas para recuperar o ar. Meu corpo estava exigindo demais de mim, mais do que eu tinha a oferecer, mais do que eu poderia dar.

Então, assim que cheguei em casa nem me incomodei em ir até o quarto me deitar; me joguei no sofá mesmo e caí no sono.

 

 

“Bones are beutiful, my drug of choice, striving for perfection...”* - meu celular toca no bolso de minha calça e eu o puxo para atende-lo.

- Alô... – minha voz soa grogue de sono.

- Oi... Quem fala?

- Hum... É a Jessica. – coço os olhos e olho para o numero no visor; é o numero de Emma.

- Jessica... Sou a Silvia, mão de Emma.

- Oh, olá senhora Goulard.

- Jessica quero saber se minha filha esta com você. Ela deixou o celular em casa e saiu dizendo que ia te encontrar.

- Desculpa senhora, mas Emma não está comigo.

- Você tem ideia  de onde ela possa estar?

- Não, sinto muito, mas não sei onde ela possa estar. Eu só vi Emma antes do... – a mãe de Emma desliga o telefone na minha cara. – intervalo.

Onde será que Emma se meteu?! Me sento no sofá e olho para a janela da sala, já está de noite. Não acredito que dormir tanto assim.

Meu celular vibra em minha mão; uma mensagem:

“Não esqueça da festa hoje. Passo te buscar às 21:30. Michael.”

Droga! Eu tinha esquecido totalmente dessa maldita festa.

Olho o horário, vinte horas; estou com pouco tempo. Tenho que tomar banho e eu ainda nem escolhi minha roupa. Maldita hora para uma festa...

Levanto do sofá e vou correndo pro banho. O banheiro está frio mas mesmo assim tiro a roupa rapidamente, já ligando o chuveiro e entrando debaixo do mesmo. Mal me molho vou pegando o shampooh e preparando a esponja com sabonete.

Assim que termino,me enxugo e me enrolo na toalha. Jogo a roupa que tirei no cesto e vou me vestir.

Pego um conjunto de lingerie bege e visto-o. Reviro o closet em busca do primeiro vestido preto que vejo pela frente e coloco-o. Saio em busca de uma meia calça para esconder os cortes em minhas pernas; nesse meio tempo agarra sandálias nude e uma bolsa carteira de oncinha.

Enquanto vou me vestindo tento pensar em um penteado e numa maquiagem para esconder as olheiras profundas. Acabo optando por deixar o cabelo meio preso e fazer uma maquiagem básica com gloss incolor e rímel carregado.

Meu celular vibra de novo:

“Já estou aqui. Está pronta?”

Digito uma mensagem dizendo que estou descendo. Pego meu cigarro, um trident, minha carteira, o celular e as chaves e coloco-os na bolsa; saindo de casa.

Chamo o elevador e enquanto aguardo-o uma ansiedade toma conta de mim. Será que minha aparência está boa? Será que não vou passar vergonha com um vestido tão curto estando gorda? E se eu encontrar com Seth? E se ele for um babaca comigo?

Ainda com mil pensamentos borbulhando eu entro no elevador e saio no térreo minutos depois. Ando rápido até a porta e saio para a rua.

- Uau! Você está linda. – uma voz masculina faz com que eu me vire para ver quem é o dono dela. – E, pela primeira vez, estou vendo suas pernas.

- Boa noite, Michael. – cumprimento-o timidamente.

- Boa noite, Jessica. – Michael sorri. – Vamos?

- Aham.

Michael abre a porta do passageiro para mim e eu entro. Vejo-o dar a volta e entrar no carro, sentando-se ao meu lado. Ele está lindo em seu smoking azul escuro, todo comportado exceto pelo sorriso brincalhão em sua boca.

- Acho que você vai gostar da festa. Tenho alguns amigos que quero que conheça.

- Hum...

- Quanta animação! – Michael ironiza. – Aconteceu algo?

- Não... É que eu não sou boa em lidar com pessoas. E-eu fico um pouco nervosa e... não sei como agir.

- Relaxe, tudo vai dar certo. Eu posso ficar perto se quiser.

- Tá. – sorrio sem graça.

Michael vai diminuindo a velocidade do carro até chegar a uma multidão de pessoas. Reparei em repórteres e fotógrafos na entrada, se acotovelando para conseguirem materiais que valham algum dinheiro.

- Chegamos. – Michael sorri. – Não se esqueça de sorrir para as fotos.

- Como é?

Antes que Michael pudesse responder minha porta é aberta e sou retirada de dentro do carro. Flash e mais flash viram em minha direção. Uma mão toca meu braço e instintivamente a agarro.

- Calma. – Michael sussurra em ouvido, me arrepiando. – Eu vou te tirar dessa.

Michael segura minha mão firmemente e nó adentramos o edifício da empresa. Há um monte de gente no saguão; pessoas que eu volta e meia vejo nos dias que trabalho e, outras que nunca vi.

- Você me deve uma.

- Michael ainda bem que você chegou. Eu... – Seth aparece na nossa frente. Junto com ele está uma morena, muito bonita. – Olá, Jessica. – Ele me cumprimenta e em seguida olha para minha mão junta da de Michael.

Michael e eu soltamos nossas mãos rapidamente.

- Oi Seth. – respondo.

- Não vai me apresentar amor? – a morena fala.

- Oh, desculpe. – Seth me olha nos olhos. – Jessica, essa é Erin minha namorada. Erin, essa é a Jessica nossa fotografa.

- É um prazer conhecer você, querida. Will pergunta bastante de você – ela me olha da cabeça aos pés e sorri, falsa.

- Bom, eu e Jessie vamos dar uma volta por aí, quero apresentar alguns amigos a ela. – Michael põe sua mão em minha cintura e me guia na direção contraria de Seth e Erin. – Que clima chato entre vocês, hein!

- Pois é...

- Mas vamos esquecer isso. – Michael olha ao redor e sorri. – Achei! Vou te apresentar alguns amigos e meu primo.

- Nós andamos até um grupo com quatro homens e duas mulheres, uma delas me parecia familiar. Não dava para ver muito por que estão de costas.

- Hey! E aí, caras? – Michael cumprimenta e todos se viram par olhar. – Estão curtindo a festa?

- Sim.

- Eu quero apresentar pra vocês minha amiga, Jessie. – todos me olharam, inclusive a mulher, ou melhor dizendo garota que reconheci sendo Pamella.

- Nós já nos conhecemos. – Tom sorri para mim.

- Ah é? De onde? – Michael pergunta.

Um garçom que está perto de nós para oferecendo bebidas; Michael pega duas taças e me entrega uma.

- Do colégio.

Identifico o liquido da taça como champanhe; eu não preciso de 110 calorias. Eu quero ser limpa disso, mas como me livrar do copo?!

Enquanto eles conversam sobre qualquer assunto deixo meu copo na mesa que esta perto. Olho ao redor e vejo Pamella me encarando. Não posso negar que ela está linda com um vestido vermelho colado ao corpo.

- Hey, Jessie, eu preciso ir ver umas coisas com Seth e já volto. – Michael sorri par mim e olha para os amigos. – Não deixem ela ir embora, está cedo e deu o que ver para trazer ela a essa festa.

- Claro. – Danny se aproxima de mim. – Não vamos deixar ela ir.

Michael saiu me deixando com eles. Reparo que eles estão todos lindos; especialmente Dougie, com um smoking preto, o cabelo penteado para trás e a franja ameaçando cair em seus olhos.

- Gente vamos arranjar uma mesa para sentar, meus pés estão doendo. – a mulher ao lado de Harry pede.

E só então me toco que não havia reparado nela antes. Ela é alta e magra, do tipo que está em forma. Seus cabelos são castanhos e seus olhos azuis.

- Certo. – Harry sorri para ela e eles saem juntos.

Dougie e Pamella vão logo atrás.

- Vamos lá. – Tom me oferece o braço; sorrio tímida e aceito.

- Hey! E eu aqui? – Danny ri e põem minha outra mão em seu braço. – Hoje a senhorita vai ter dois cavalheiros à sua disposição.

Nós três saímos atrás dos outros para nos sentarmos. Avistamos Harry, sua acompanhante, Dougie e Pamella sentados. Dougie parecia me evitar, não me olhava nos olhos.

Tom senta-se ao lado de Harry. Danny puxa a cadeira para mim ao lado de Tom e senta-se ao meu lado.

- Jessica. – Harry me chama. – Essa é Izzy, minha noiva. Lembra que te falei dela?

- Lembro. – sorrio para ela. – É um prazer conhecê-la.

- O prazer é meu. – Izzy sorri.

- Então, Jessie, como conheceu Michael? – Danny pergunta.

- Seth me apresentou. – respondo olhando para minhas mãos.

- E como conheceu Seth? – Tom pergunta.

- No avião, quando eu estava embarcando.

- Você trabalha aqui, não é? – Izzy puxa assunto.

- Sim.

- E o que você faz?

- Sou fotografa.

- Legal.

Novamente um garçom passa por nó e para pra oferecer bebidas. Todos pediram alguma coisa com álcool.

- A senhorita aceita algo? Temos Champanhe, Conhaque, Marguerita, Uísque, Refrigerante e água.

Eu não quero champanhe ( 110 Kcal). Não quero o conhaque ( 125 Kcal). Nem a marguerita (131 Kcal) ou o uísque (120 Kcal). E muito menos refrigerante (100 Kcal).

- Eu aceito uma água.

- Qual é, Jessie?! Nenhuma bebida? – Danny provoca.

- Não. Eu não posso. Estou tomando remédio.

- Ah, certo.

- Remédio pra quê? – Dougie pergunta. É a primeira vez na noite que ele se dirige a mim.

- Anemia – olho em seus olhos ao responder.

Dougie desvia seus olhos dos meus e entra numa conversa com os amigos e Izzy, sobre qualquer coisa que não prestei atenção.

A festa está boa; a música alta e as pessoas se divertindo. Me pego observando todos eles e me pergunto o porquê de eu não poder ser uma garota normal. Por que não posso, simplesmente, não me importar com meu peso ou com meu reflexo no espelho?

Uma dor de cabeça me atinge. Fecho os olhos e suspiro. O ar se torna sufocante para mim, preciso respirar.

- com licença. – levanto-me e saio.

Atravesso o saguão cheio de pessoas conversando e sigo para uma parte reservada do prédio, onde há um jardim de inverno ao qual poderei relaxar um pouco.

O lugar é cheio de plantas bem cuidadas e bancos de madeiras; escolho um banco aleatório e me sento, apoiando os cotovelos nas pernas e olhando para meus pés.

Às vezes eu penso em desistir da Ana e tentar ser uma garota normal. Mas ela insiste e repetir suas frases maldosas de controle, prometendo-me realizar meus sonhos. Mas me pergunto se esses sonhos são mesmo meus ou se são somente projeções dela em minha cabeça.

Eu estou perdida, de modo que eu não sei mais como ser eu sozinha. Ambas sabemos que sem ela eu não sei ser eu, que sem ela eu não sei ser nada.

- Eu posso me sentar aqui com você? – eu olho para cima e vejo Dougie com as mãos nos bolsos.

- Claro. – demoro a responder.

- Obrigado. – ele me olha. – Você está muito bonita...

- Obrigada... – fico sem graça e desvio o olhar para o chão. – Você também.

- Eu não sabia que você conhecia meu primo... Parece que vocês são bem próximos.

- Não... Eu e Michael somos apenas amigos.

- Hum. – Dougie murmura e deixa o silencio cair sobre nós.

Meu celular vibra dentro da bolsa e me apresso em pegá-lo. Há uma mensagem de Emma.

“Obrigada por me acobertar. Estou de castigo o resto do mês por sua culpa!”

Digito rapidamente uma resposta e guardo o celular. Levanto do banco e olho para Dougie.

- Eu... Hum... Vou voltar para a festa. – viro as costas e começo a andar.

- Jessica, espera. – Dougie se levanta e vem atrás de mim com passos rápidos.

Ele chega perto, muito perto, de mim e suas mãos envolvem minha cintura e sua boca se aproxima da minha. Uma sensação esquisita ocorre em meu estomago. Minhas mãos começam a tremer um pouco e para esconder isso às coloco no peito de Dougie.

Parece ter passado uma eternidade até que sinto seus lábios pressionando com cuidados os meus.

Instantaneamente minha respiração se acelera e meu coração dá saltos, espalhando vida por mim.

Dougie empurra seu corpo de encontro ao meu e pede acesso para sua língua em minha boca. Enquanto isso minhas mãos puxam-no para mais perto de mim como se qualquer espaço pudesse atrapalhar.

De repente, sinto o corpo de Dougie ficar tenso e, então, surge uma grande distancia entre nós.

- Eu preciso ir. – e sem falar mais nada ele me vira às costas e saí a passos rápidos para a festa.

Um pouco atordoada com o que ocorreu sigo por um corredor até achar um banheiro feminino. Empurro a porta e entro indo direto para a pia.

- Sua vadia! – a voz de Pamella me assusta. – Eu vi você e Dougie. O meu Dougie.

Ela se aproxima de mim.

- Você é a diversão enquanto ainda é a novidade. Mas se quer saber, ele é meu. Sempre fica comigo. Ele pode até te dar alguns beijos e até transar com você, mas você não vai passar de uma transa descartável. Além disso, olhe pra você! Por que ele me trocaria por algo tão nojento quanto você. Você é um poço de gordura ambulante. Como é que você aguenta se olhar no espelho? Nem sua doença pode te ajudar.

- Como... Como você sabe? – lagrimas escorrem por meu rosto e eu posso sentir o gosto salgado delas.

- Esta na cara que você é uma anoréxica ridícula. Ta escrito na sua testa que você é uma doente, é só olhar pra você e qualquer um vê. Ou você acha que ninguém percebe que você não come nada e fica fazendo ceninha só pra chamar atenção.

Até este pontos as lagrimas já escorriam livremente pelo meu rosto. Pego minha bolsa apertando-a de encontro ao meu peito, tentando me acalmar. Eu já não consigo ouvir o que Pamella diz e mal consigo enxergá-la. Num súbito de desespero viro-lhe as costas e saio o mais rápido que posso pelo.

Seco as lagrimas para que eu possa andar para longe dali. Procurando desesperada a saída, mas assim que corro os olhos pelo local encontro com Dougie me encarando.

Imediatamente seu sorriso morre e uma preocupação se estampa em seu rosto. Ele faz um movimento para vir em minha direção, mas Pamella se põem em sua frente.

Sentindo-me um lixo por ser humilhada e por ninguém se importar comigo; juntando todo o resto de dignidade que sobrou, recolho meus sentimentos em cacos e saio do local para ir procurar o sossego da minha casa e o conforto da lamina guardada na gaveta do banheiro.

♠♠♠

P.O.V. Dougie.

Minha cabeça começou a latejar de preocupação assim que pus meus olhos em Jessica e a vi chorando. Seus olhos estavam vermelhos, sua maquiagem um pouco borrada e ela estava visivelmente transtornada. Querendo confortá-la peço um minuto a Tom, com quem estava conversando, e me viro em direção a ela.

- Aonde vai, Dougie? – Pamella aparece em minha frente, me impedindo de ir até Jessica.

- Pamella, agora não tá! Eu já volto. – falo me desviando dela para procurar Jessica, mas ela não está mais lá.

Droga! Ela deve ter ido embora. Eu sei que ela mora no mesmo lugar que Harry, mas não sei o numero do seu apartamento. E eu não vou perguntar isso a ele.

Vamos lá, Dougie. Pense... Pense.

- Hei cara, nós vamos continuar nossa festa num pub aqui perto. – Danny passa seu braço por meus ombros e os aperta. – Quer ir junto?

- Não, obrigado. – respondo. – Pamella, vamos.

Pego a chave do meu carro e me deixo esquecer de Jessica, não há nada que eu possa fazer em relação a ela. Guio Pamella para a saída e vamos para o carro.

- Vamos pra sua casa? – a voz de Pamella soa pegajosa.

- Não.

- Aonde então?

- Eu vou te levar para casa.

- Mas...?

- Eu quero ficar sozinho hoje.

♠♠♠

 

P.O.V. Jessica

            Depois que eu saí da festa fui cambaleando para casa o mais rápido que podia e meu corpo reclamava por um descanso que recusei dar até chegar em casa. Faço todo o trajeto rápido, me concentrando em não errar o caminho e ficar perdida.

Quando chego ao meu edifício à recepção está vazia. Entro quase correndo no elevador. Subo nervosamente até meu andar; as coisas que Pamella falou retornam a minha mente e eu me seguro por mais alguns minutos.

Minutos suficientes para que o elevador pare, eu saia e abra a porta de casa. Entrando para meu conforto, meu mundo, minha obcessão.

Imediatamente me desfaço dos saltos e da bolsa. Entro no quarto tirando a roupa rapidamente. Minha cabeça está girando rápido e eu só posso pensar na sensação da lamina em minha pele, deixando toda a podridão escorrer de mim.

Sigo para meu banheiro e procuro a lamina na gaveta da pia. Assim que a toco um arrepio percorre meu corpo, talvez eu não devesse fazer isso.

- É claro que você deve. – a Ana fala comigo.

- Eu prometi para Dougie que não faria... – olho para as inúmeras cicatrizes em meus braços, pernas e barriga.

- Querida, não é a ele que está te ajudando a ser perfeita. Não é a ele que você deve ouvir, é a mim. Além do mais ele não se preocupa com você. Ele está com Pamella.

Pensando em todas as palavras que Pamella disse, o beijo de Dougie e o apoio da Ana tomo minha decisão; apoio meu braço sob a pia e deslizo a lamina. Três vezes. E eu observo enquanto meu sangue flui e se mistura com minhas lagrimas.

Eu, realmente, não sou boa o suficiente para Dougie. Eu não sou boa o suficiente para ninguém. Por que eu fiz aquilo de novo. Machuquei a mim mesma de novo e, a pior parte é que não há ninguém para culpar por que quem usou a lamina foi eu... E, com isso, quem se perde mais um pouco sou eu, também.


Notas Finais


Oi de novo. :)
Então, quero pedir desculpas pela demora; o capítulo estava pronto mas o que atrasou a postagem foi a edição.
Ah, e aquele assunto do grupo da fic no face ainda está de pé, deixem sua opinião sobre o que acham. Se devo ou não fazer o grupo. Isso é muito importante para mim.
E é isso por hoje.
Beijos e até o proximo capítulo.


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