Passei o final de semana em casa, deitada, pensando no que aconteceu na festa de sexta-feira. Pensando no beijo de Dougie e nas palavras de Pamela.
Minha vontade de viver está quase perto do zero agora com tudo isso. A única coisa que me motiva a continuar é a Ana; ela tem sido um ótima companheira esses dias e por causa dela consegui os 33Kg que até então eram minha meta, mas que não me satisfazem mais.
Segunda-feira chega sem que eu consiga fechar os olhos por alguns minutos. E eu já não tenho vontade nenhuma de sair da cama, eu sinto como seu eu já fizesse parte dela.
Levanto-me e paro para respirar; minha visão escurece e sinto que a sensação de morte está próxima. Sei o quanto esse peso está me fazendo mal, me trazendo a destruição. Sinto meu corpo fraco, meus dentes sensíveis e o pior de tudo, vejo meu cabelo cair de punhados em punhados. Mas ainda assim, isso não é o suficiente para me fazer parar.
Ando até o closet, visto-me com qualquer coisa e pego minha bolsa. Prendo os cabelos em um rabo de cavalo e vou escovar os dentes no banheiro.
Saio de casa me arrastando, com uma vontade imensa de voltar para a cama e nunca mais sair dela. O elevador para no meu andar e eu embarco, me espremendo com mais seis pessoas ali dentro. E eu tenho a sensação de que todos me encaram. Sei que minha aparência não é das melhores então puxo o capuz da blusa sobre a cabeça.
Quando saio na recepção observo cada pessoa fazer seu caminho despreocupados e só então saio para a escola.
Avistei Emma de longe, sentada em um banco, sozinha e de cabeça baixa. Sinto-me receosa de me aproximar, afinal ela estava brava comigo por causa do que eu disse a sua mãe, mas mesmo assim me aproximo.
- Oi... Eu quero me desculpar. - sussurro.
- Só ouça, não vou demorar muito. - ela me encara. - Desde que você chegou, minha vida está um inferno. Você é uma influência negativa pra mim. Então eu quero que você se afaste. Eu não quer mais ser sua amiga.
- Você só pode estar brincando - suspiro. - Eu não acredito...
- Vai ser melhor assim.
Emma me vira as costas e saí. Sem reação alguma volto a andar. Eu, no fundo, já esperava por isso; acho que não sirvo como amiga pra ninguém.
Vagando pelo corredor de cabeça baixa, sinto que esbarro em várias pessoas, até que alguém se põem a minha frete, bloqueando meu caminho.
- Hey! Assim você vai levar todo mundo junto. - a voz de Harry soa brincalhona.
- Eu sei... Eu já pedi desculpas. - sussurro, evitando olhar para cima e deixá-lo ver meu estado.
- Algo está errado? - ele pergunta gentilmente e eu nego com a cabeça. - Se você não quiser falar comigo, tudo bem. Pode falar com Danny, com o Tom... ou com o Doug.
- Não é preciso, mas obrigado.
- Certo, então até depois.
- Até...
Continuo meu caminho até a sala; minha primeira aula é com Dougie. Eu adoraria furar essa aula, mas se faltar mais corro o risco de reprovar e não é isso que quero.
Estou quase lá quando escuto vozes discutindo.
- Você não tem o direito de me chutar dessa maneira. Não pode terminar comigo assim!
- Nós nunca tivemos nada, Pamela. Eu posso te chutar a hora que eu quiser, sim. Você não serve pra mim. Foi só um passatempo.
- Você não pode falar assim comigo. Eu...
- Você o quê? Se apaixonou? Problema seu. Eu não quero mais você; eu nunca quis, aliás. Eu só te suportava porque precisava de uma diversão.
- Você está falando isso por causa dela, não é? - Pamela parecia estar chorando.
- Dela quem? Não tem ninguém. Eu só cansei de você.
- Não minta, Dougie. Eu vi quando você beijou a Jessica. É por ela que está fazendo isso, não é?
- Não sei do que você está falando.
- Eu vi vocês na festa.
- E daí? Ela não tem nada a ver com isso.
- Você não sabe no que está se metendo, Dougie. Ela é doente.
- Pamela. Chega! Saia daqui. - E depois disso não ouço mais o que ele fala.
Pamela saí da sala, com os olhos vermelhos e passa por mim com um olhar mortal. Suspiro cansadamente e retomo o caminho para a sala de Dougie.
- Com licença. - dou leves batias na porta para chamar a atenção de Dougie. - Eu posso entrar?
- Claro. - sua voz soa mal humorada.
Começo a caminhar para o fundo da sala, o mais afastado possível.
- Não aí. - ele fala e eu paro.
- Mas...?
- Eu quero você aqui na frente. - olho pra onde Dougie aponta, bem na sua frente.
- Eu não quero...
- Não importa o que você quer. - ele me olha eu abaixo a cabeça. - Eu quero você aqui.
- Certo.
Ando até a carteira de frente com a mesa dele. Coloco minha coisas ali, mas não faço menção de sentar.
- Sente-se. - sua voz é firme e eu não êxito em obedecer. - Eu quero conversar com você.
- Eu não quero conversar. - coloco as mãos sob a mesa, contornando um desenho qualquer com a ponta do dedo indicador.
- Jessica. - Dougie chama.
- Hum?
- O que houve?
- Como assim?
- O que houve com você? Digo, você não parece estar nada bem. Parece cansada.
- Eu estou cansada, é só isso. Nada demais.
- Lembra o que eu falei sobre não mentir pra mim?
- Lembro...
Dougie pega minhas mãos e as vira, com os pulsos para cima. Novos cortes estão ali, e Dougie os vê.
- Você tinha me prometido. - ele busca meus olhos, mas não tenho coragem para encará-lo - Olhe para mim.
Dougie levanta meu rosto para que eu o olhe. Sua expressão é triste e preocupada.
- O que aconteceu? Por que você fez isso? - ele indica os cortes.
- Eu estou confusa. As coisas se acumularam e... eu precisava escapar de algum jeito.
- Você está confusa com o quê?
- Eu... é difícil explicar. - olho em seus olhos azuis. - É o que aconteceu na festa... mexeu comigo.
- Você diz isso do beijo? - ele desvia o olhar e fica sem graça.
- Também... - tento soltar minhas mãos, mas Dougie não deixa.
- Hey! É um assunto delicado mas...
- Ah. Desculpa atrapalhar vocês. - Emma fala entrando na sala.
- Tudo bem. - Dougie solta minhas mãos. - Nós conversamos depois, okay? As pessoas vão começar a chegar.
- Uhum. - resmungo e olho para Emma; ela evita me olhar e segue para o fundo da sala.
Dougie olha dela para mim com uma expressão de pergunta e eu apenas dou de ombros. Vejo ele se encostar em sua cadeira, e sua camiseta cinza se ajusta em seus braços quando ele os cruza. Seu olhar está sobre mim, eu posso senti-lo, então abaixo a cabeça para que ele não me veja corar de vergonha.
Minutos depois as pessoas começam a lotar a sala e, então, Dougie começa com sua aula.
♠♠♠
As aulas do dia passaram rápidas e quando menos eu esperava a hora de ir embora se aproximou. Arrumo minhas coisas no armário, mas antes de sair sou parada.
- Será que podemos conversar? - Emma surge à minha frente.
- Claro...
- Mas não aqui. Vamos no banheiro do Ginásio, lá vai estar mais vazio.
- Tá bom.
Emma e eu começamos a andar em direção ao banheiro. E eu me ponho a pensar sobre o que será que Emma que me falar agora... Será que ela vai se desculpar? Dizer que aquilo foi um mal entendido e que voltaremos a ser amigas?
Ao chegarmos na porta do banheiro Emma hesita um pouco, mas logo dá espaço para que eu entre e ela entra em seguida, trancando a porta.
- Por que trancou a porta? - questiono; Emma parece muito nervosa.
- Bom trabalho, Emma. - a voz de Pamela ecoa nas paredes e ela surge na minha frente, junto com sua amiga que segura uma sacola.
- O que significa isso? - olho para Emma.
- Emma só me ajudou. Eu precisava falar com você a sós.
- Por que?
- Eu avisei você que o Dougie é meu e você está se jogando em cima dele.
- Mas...
- Emma, Jheny... façam o favor de segurá-la.
Emma e a tal Jheny vem segurar-me, cada uma em um braço; tente me soltar delas, mas as duas são mais fortes e eu estou fraca.
- Você vai aprender que não se deve mexer comigo, sua doente nojenta. - Pamela abre a sacola e tira de dentro dela um pote de comida, e o abre.
Há macarrão dentro do pote e eu começo a e desesperar.
- Hum... É uma pena desperdiçar comida, esse é meu molho favorito. - Pamela enrola o macarrão no garfo e se aproxima. - Eu espero que você goste.
Pamela força com que eu abra a boca e tenta enfiar a comida e por mais que eu resista estão segurando minhas mãos e eu sou forçada a engolir aquela comida nojenta. Eu começo a chorar desesperada e à me debater, mas nada adianta. Pamela continua enchendo seu garfo e me fazendo engolir.
- Me solta. - começo a gritar.
Sinto a comida pesando em meu estômago, fazendo-me querer morrer.
- Pamela eu acho que já está bom. Já chega. - Emma fala.
Pamela se afasta, sorrindo. Emma e Jheny soltam meus braços. Até que enfim eu estou livre e com uma sensação enorme de enjoo.
Vou para o reservado mais próximo e me deixo cair de joelhos na frente do vaso. Sinto-me em pânico em saber que meu estômago está cheio. Eu preciso que a comida saia, eu preciso ficar limpa por dentro novamente.
♠♠♠
P.O.V. Dougie.
Quando o sinal de saída tocou, me apressei em sair da sala. Eu queria encontrar Jessica antes que ela fosse embora; eu preciso terminar aquela conversa.
Os corredores lotam e eu procuro por ela com dificuldade até que à avisto perto de seu armário. Começo a andar até lá mas vejo que Emma se aproxima dela, o jeito é esperar que ela fique sozinha. As duas saem, lado a lado, para o ginásio. Sinto vontade de segui-las mas não faço isso. Ao contrário, saio para esperá-la em meu carro, assim poderei vê-la sair sem ser visto esperando-a.
O tempo começa a passar demoradamente, na minha opinião. Jessica e Emma estão demorando demais. A escola já está vazia e nada delas.
De longe, avisto Pamela e Jheny saindo do ginásio. Emma vem logo atrás. Estranho. Pamela e Emma nunca foram amigas.. Mas, e cadê a Jessica?
Preocupado eu desço do carro e sigo para o ginásio. Está tudo quieto, mas tenho uma pista de onde posso encontrar Jessica. Sigo para o banheiro feminino, e chamo:
- Jessica?
Nada em resposta.
Entreabro a porta e olho dentro do local. Parece vazio.
Quando vou fechar a porta ouço um soluço.
- Jessica, sei que está aqui. - entro e fecho a porta do banheiro.
- Vai embora, por favor.
- Me deixe ajudá-la, por favor.
Vejo ela abrir a porta de um reservado. Ela está pálida e está se apoiando na parede. Vou para seu lado, apoiá-la.
- Onde está sua bolsa? - pergunto.
- Ali dentro.
Deixo-a se apoiar na pia e vou atrás de sua bolsa. Algo deve ter acontecido, mas o quê?
♠♠♠
P.O.V. Jessica.
Uma vontade imensa de chorar toma conta de mim. Eu não acredito que Emma foi capaz de ajudar Pamela contra mim.
Abro a torneira da pia e enxaguou a boca; jogo um pouco de água no rosto e pego papel para me enxugar. Respiro fundo para recobrar o juízo e quando faço isso sinto meu estômago pesar em resposta.
Dougie aparece do meu lado, segurando minha mochila com uma mão enquanto me puxa para si com a outra, me abraçando. Esse gesto faz com que surjam lágrimas em meus olhos e ele me aperta mais à si.
- Shhi... Não chore. Eu não sei o que fazer com você assim. - ele faz carinho em meu cabelo.
Tento para de chorar para gradecer o que ele está fazendo por mim, mas não consigo. Minha garganta está dolorida.
- Você quer me contar o que aconteceu? - ele pergunta pacientemente e eu nego com a cabeça. - Tudo bem, então... Eu posso te levar para casa?
Eu faço que sim com a cabeça.
- Você consegue andar? - novamente faço que sim.
Relutante, Dougie se afasta de mim, mas me segura pelo cotovelo. Tento dar um passo. Minha visão escurece, meus pulmões gritam por ar e meu corpo me puxa para baixo. Mas antes que eu caia, Dougie me segura.
- Eu vou te levar. - Dougie me pega no colo, apoiando-me em seu peito.
Passo minhas mãos por seu pescoço e deito minha cabeça em seu ombro; respiro tão perto dele que sinto seu cheiro.
- Isso faz cocegas... - Dougie diz baixinho, e eu vejo sua pele arrepiar.
Como se eu não pesasse nada, Dougie saí do banheiro, se atrapalhando ao abrir a porta, e segue até seu carro. Ele me coloca de pé para que possa abrir a porta e me ajuda a entrar. Ele dá a volta no carro, senta-se e dá a partida.
- Obrigada. - sussurro.
Dougie me olha de canto de olho e dá um pequeno sorriso. E seguimos em silencio até minha casa.
♠♠♠
P.O.V. Dougie.
Faz quase uma semana que deixei Jessica em casa e ela não vem mais para as aulas. Eu, Harry, Tom e Danny comunicamos à direção sobre suas excessivas faltas. Tentaram entrar em contato com ela, mas ela não atendeu aos telefonemas. Conversei com Seth e Michael, também, mas eles não tiveram notícias dela desde a festa. Estou preocupado com ela, não há um só momento em que eu a tire da cabeça. Não sei o que há comigo.
- Professor!
Acordo do meu devaneio.
- Hum?
- Quando o senhor vai recolher a prova?
Confiro meu relógio. Onze e quarenta. Minha última aula do dia está acabando.
- Agora. Passem as provas para frente. Acabou o tempo para resolver as questões.
Assim que as provas chegam às primeiras carteiras começo recolhe-las.
- Vocês já podem sair, estão liberados. - todos juntam suas coisas para sair da sala. - Goulard, espere, você fica um pouco mais.
Praguejando ela retorna para o seu lugar.
- Venha aqui.
- Minha mãe está me esperando, não posso demorar.
- Será rápido. - guardo as provas em minha pasta para levá-las para casa. - Você tem tido notícias da Jessie?
- Não.
- Nenhuma? Ela está perdendo muitas aulas, ela irá reprovar.
- Isso é problema dela, não meu.
- Qual o problema entre vocês?
- Nada demais. Não somos mais amigas e ponto final.
- Como é?
- Se for só para falar dela então está perdendo seu tempo. Não somos mais amigas e não tenho nada a ver com ela.
- Certo. Pode ir.
Emma me encara por alguns segundos e saí da sala me deixando sozinho. Eu não posso acreditar que Emma e Jessica estão brigadas.
Pego minha mochila e saio da sala, trancando-a distraidamente.
- Hey, cara. - Harry passa por mim. - Até amanhã.
- Harry.
- Sim?
- Estou preocupado com a Jessica.
- Mesmo? - ele franze o cenho.
- Sim.
- Você já viu se a direção ligou para ela?
- Já. Eles ligaram, mas não conseguiram contato.
- Isso é mal.
- Eu falei com Seth e com Michael, eles não a viram também.
- Já tentou falar com Emma? Elas são bem amigas.
- Acabei de fazer isso. Mas Emma acaba de me dizer que elas não são mais amigas.
- Estranho.
- Sim. Mas... Harry, eu quero saber se pode descobrir pra mim qual o número do apartamento dela.
- Eu levo você lá. Por acaso, Danny e eu acabamos ajudando-a, uns dias atrás, a carregar algumas compras.
- Obrigado.
Harry e eu vamos para nossos carros e seguimos para seu edifício. E durante todo o trajeto penso em como Jessica vai estar. Será que está tudo bem com ela? Ou será que ela fez algo estúpido como se cortar, novamente?
Independente de qual for a resposta das minhas perguntas, ficarei feliz em vê-la.
Enquanto Harry entra com seu carro na garagem, estaciona meu carro um pouco mais há frente do edifício. Saio do carro e ando até o lugar.
Avisto Harry está no balcão, conversando com um homem.
- E ai?
- Ele não sabe se tem alguém em casa.
- Por favor, precisamos entrar lá. - peço ao homem.
- Me desculpe senhor, mas não sei como posso ajudá-lo. Já disse que não sei se há alguém no apartamento.
- Eu te dou cinquenta libras pela chave do apartamento. - ofereço.
- Eu não sei...
- Por favor, é algo importante. - Harry insiste.
- Tudo bem... Apartamento quinze, não é?
- Sim.
O homem pega uma chave. Tiro cinquenta libras da carteira, entrego ao homem e pego a chave.
Harry e eu entramos no elevador, e ele aperta o botão do oitavo andar.
- Eu não sei se isso é uma boa ideia, Dougie.... - Harry suspira.
- Não vejo o porquê de não ser. - retruco nervoso.
- Certo, cara, relaxe. - Harry me olha. - O que há com você?
- Não há nada... - desconverso.
As portas do elevador se abrem.
- Deixa pra lá. - Harry suspira.
- Eu a beijei, na festa.
- Você sabe que está se metendo em uma confusão, né?
- Coincidentemente você não é a primeira pessoa que me fala isso.
- Não?
- Não... Pamela também falou.
- Como...?
- Longa história... Depois eu conto.
Coloco a chave na fechadura e abro a porta do apartamento. Harry e eu nos entreolhamos, e eu empurro a porta.
- Jessica?
Nada. Nenhuma resposta.
Com isso entro no apartamento.
-Vou olhar no quarto, veja no resto da casa. - falo para Harry, que acena positivamente.
Sigo pelo corredor, procurando o quarto. E o encontro.
- Jessica?
Olho para o cômodo vazio; a cama está desarrumada.
Vejo uma porta no canto me encaminho para ela.
Ao ficar de frente para a porta tenho um pressentimento ruim, coloco a mão no trinco e giro. Não abre. Está trancada por dentro.
- Harry! - chamo - Harry!
Ele aparece na porta.
- Está trancada por dentro. - aponto para a porta, aflito. - O que vamos fazer?
- Vamos arrombar...
Eu e Harry nos posicionamos de lado e damos um impulso na porta. Ela resistiu a nossa investida. Fazemos isso mais três vezes e conseguimos abrir a porta.
A cena que vimos seria, possivelmente, o meu pior pesadelo. Jessica estava caída no chão, semi nua, numa poça de sangue. Ela está pálida e muito sangue saía de seus vários cortes em seu corpo.
- Meu deus! - Harry exclama.
Me aproximo dela, receoso. Coloco dois dedos em seu pescoço e sinto leves batimentos cardíacos.
- Ela está viva, Harry. Ligue para a emergência.
Mal termino de falar e ele está com seu celular no ouvido.
Olho ao redor a procura de qualquer coisa que eu pudesse usar para cobri-la. Pego um roupão branco e enrolo-a nele, erguendo-a em meus braços.
- Harry! Rápido!
- Eles vão demorar, Doug!.
- Vamos levá-la no meu carro. - Passo por ele com Jessica no colo.
Desajeitadamente entrego a chave do carro á Harry e sigo com Jessica para fora, no elevador. Ela está sangrando tanto que manchas vermelhas aparecem no roupão.
O elevador chega e nós embarcamos. A descida parece demorar uma eternidade; mas quando chega, Harry saí na frente para abrir o carro.
- O que aconteceu? - o homem na recepção pergunta, curioso.
- Ela está machucada!
Harry traz meu carro na portaria e abre a porta traseira. Entro com Jessica no colo. Harry fecha a porta e dirige.
♠♠♠
P.O.V. Jessica.
Eu escutava uma voz ao longe; como se fosse um sussurro à distância.
- Jessica, abra os olhos... Acorde.
Eu queria abrir meus olhos como a voz me pediu, mas eles estavam tão pesados.
- Você vai ficar bem.
Eu queria acreditar no que a voz falou, queria ficar bem. Mas eu me sinto tão cansada.
♠♠♠
P.O.V. Dougie.
Nós chegamos rápido no hospital.
Harry abre a porta e eu saio correndo com Jessica nos braços. A recepção está quase vazia.
- Por favor, um médico. - chamo no balcão.
- Angelina, chame o Dr. Peterson. - Uma senhora saí de trás do balcão. - Emergência!
Vários enfermeiros entram com uma maca. Coloco Jessica ali e faço movimento para segui-la, mas sou parado.
- Senhor. O senhor não pode ir lá. O senhor precisa preencher a ficha dela. - a senhora pede. - O senhor tem os documentos em mãos?
- Documentos? - fico perdido.
- Sim, senhor. Os documentos dela.
- Não.
- Eu preciso dos documentos.
- A senhora pede documentos numa hora dessas?! Eu não estou com os documentos agora.
- Dougie! - Harry intervém. - Desculpe, ele está muito nervoso. Eu vou providenciar os documentos. Há mais alguma coisa que será necessário?
- Se possível traga coisas de higiene pessoal e roupas para ela.
- Claro.
- Eu quero notícias dela, como ela está? - me desespero.
- Desculpe, senhor. Ela foi para a emergência, o médico virá falar com vocês mais tarde.
- Dougie, temos que esperar.
- Não quero esperar! - começo a chorar.
- Doug, não há nada que possamos fazer agora.
- Ela não pode morrer, Harry...
- Ela não vai morrer, Doug. - Harry me conforta. - Vamos buscar os documentos dela.
- Não vou sair daqui.
- Dougie, por favor. Você precisa tomar um banho e precisamos dos documentos dela.
- Eu não quero sair daqui.
- Nós iremos voltar. É só por alguns minutos.
Deixo Harry me guiar para fora do hospital. Embarcamos no carro e vamos direto para a casa de Jessica. Reviramos seu quarto à procura de seus documentos e bagunçamos seu guarda-roupa à procura de roupas para levar ao hospital.
Assim que pegamos tudo, subimos para o apartamento de Harry. Ele me oferece seu banheiro e roupas limpas e eu aceito de bom grado.
Marcho automaticamente para o banheiro. Tiro minhas roupas, ligo o chuveiro e deixo-me molhar. No momento em que a água me toca vejo-a cair avermelhada pelo chão branco. Tomo um banho rápido e visto-me mais rápido ainda. As roupas de Harry ficam um pouco largas, mas não me incomodo com isso. Meu pensamento está em Jessica, preciso ir para o hospital logo.
- Harry, vamos. - apareço na cozinha.
- Eu pedi comida pra nós.
- Não estou com fome.
- Mas você tem que comer. Você não vai sair daqui se não comer um pouco, Dougie.
- Mas...?
- Sente-se. - Harry indica a cadeira a frente dele.
A contra gosto eu me sento e faço um prato para mim, e como o mais rápido que posso.
- Eu liguei para Tom e o Danny e contei o que aconteceu.
- Hum...
- Eles vão aparecer por lá.
- Uhum. - engulo às pressas a comida. - Rápido Harry.
- Eu não vou poder voltar com você. Desculpe.
- Tudo bem.
- Você vai ficar a tarde lá?
- Vou dormir lá
- E o trabalho amanhã?
- Vou avisar a Lorena que não irei trabalhar.
Harry suspira, mas concorda.
Termino meu almoço e saio às pressas da casa de Harry. Vou o mais rápido que posso para o hospital.
♠♠♠
- Olá, eu gostaria de informações sobre a paciente que deu entrada na emergência, hoje.
- Uma garota?
- Sim.
- O que o senhor é dela?
- Estou responsável por ela. Trouxe os documentos. - entrego para ela.
A moça digita algumas coisas no computador e me entrega os documentos de Jessica.
- A ficha dela está pronta.
- Eu gostaria de falar com o médico.
- Certo. O Dr. Peterson logo virá para conversar com você.
- Obrigado.
Ando para lá e pra cá enquanto espero o médico.
- Senhor Poynter? - um homem loiro me para.
- Sim?
- Sou o Dr. Peterson. - ele me estende a mão. - Imagino que esteja preocupado com a paciente. Nós costuramos seus cortes e fizemos uma transfusão sanguínea, embora houve algumas complicações. A paciente está muito fraca e teve duas paradas cardíacas, conseguimos reverter isso e agora ela está em observação na UTI. Se ela estiver melhor iremos transferi-la para um quarto ainda está noite. Eu vou providenciar os papeis para a transferência.
- Eu gostaria de vê-la.
- Sinto muito, mas não permitimos visitas na UTI. Irei providenciar os papeis e você poderá esperar por ela no quarto.
- Tudo bem... - suspiro.
- O senhor pretende passar a noite? - aceno positivamente. - Então, sugiro que o senhor traga algumas coisas para si.
- Obrigado, doutor.
O médico fala algo para a recepcionista.
- Senhor Poynter, aqui está o cartão. - ela me estende um cartão de acompanhante. - É para sua identificação. O quarto é o de número oitocentos, na enfermaria cinco. No segundo andar.
- Obrigado.
Aproveitando meu tempo de espera até que Jessica vá para o quarto dou um pulo em casa e arrumo uma bolsa com roupas, algumas esteiras para comer, um travesseiro e um cobertor. E retorno para esperar por ela.
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