História Conie e o Mundo Secreto - Coraline

“Nem tudo é um conto de fadas...”

A réplica da minha mãe me contou que esse mundo pertencia apenas à mim, mas o ratinho pareceu querer me avisar alguma coisa. Ela me levou para o quintal da minha casa, onde tinha um jardim maravilhoso. Eu adorava flores, mas não tinha jeito nenhum para cuidar delas. Não importava o que eu fazia, as pobrezinhas sempre morriam.

A mulher me serviu belíssimas panquecas e depois me deixou brincar no jardim. Eu achei pedras brilhantes e cristais, foi muito divertido. Mas ainda faltava alguma coisa.

- Mãe? – Pergunto com a boca cheia de bolachas. Ela me pediu para chamá-la assim ao invés de usar o apelido “réplica”.  – Está faltando alguém. – Ela me olha curiosa enquanto limpa as mãos na blusa preta. – Armin. Está faltando apenas o Armin para o meu mundo ser realmente perfeito!

- Ah, querida. Providenciarei isto. Agora você precisa ir dormir, está bem? – A mulher me puxa delicadamente pelos ombros e pega-me no colo, fazendo-me gargalhar. Ela me leva até meu quarto bonito e deposita-me em minha cama. Logo mais um beijo molhado é dado em minha bochecha e ela sai, fechando a porta com delicadeza. Essa mãe é tudo o que a minha não é. Ela é perfeita!

- Conie, pegue isto. – O ratinho sobe na minha cama com uma boneca de pano nas patinhas. Só então reparo que seus olhos também são de botões. Eu seguro a garotinha de tecido e abro um sorriso fraco. Ela tinha cabelos curtos azuis e usava casacos e botas de chuva amarelos. Os olhos também eram de botões. – Leve isto para a sua casa e não deixe que a mulher veja. – Ele sussurra e vai embora pela janela, deixando-me com um ar confuso. O que ele quis dizer?

Dou de ombros e coloco a boneca ao meu lado, deitando-me e fechando os olhos para poder descansar. Esse mundo era tudo que eu sempre desejei...

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No dia seguinte, eu acordo com um sorriso enorme no rosto. Me levanto em um pulo, mas então percebo que eu estava no meu antigo quarto. Bufo, cruzando os braços. Acabou tão rápido assim? Bom, foi legal enquanto durou.

Eu corro as escadas, pulando em cima da mesa e me sentando. Minha mãe estava na cozinha, fritando ovos. Ela olha para mim, sorrindo. Ela nunca perdia o otimismo.

- Mãe, você não vai acreditar no que aconteceu nessa madrugada! – Começo animada. – Eu dormi e acordei em um mundo mágico! Era, bom...era igual a nossa casa, mas tudo diferente! Tinha candelabros, e quadros, e... – Eu abaixo o tom de voz assim que a vejo revirar de leve os olhos. A minha mãe nunca gostou muito de me ouvir falar das minhas aventuras. – Hã, bom, eu vou me arrumar para ir na casa do Armin.

- Não, você vai para a escola.

- Hoje é domingo. – Dito isso, desço da mesa e subo para o meu quarto, batendo com força a porta atrás de mim. Meu pai ainda não havia chego do trabalho, e minha mãe já não me aguentava mais tagarelando sobre minhas explorações. Eu queria alguém que pudesse me entender. Isso é difícil?

Coloco um vestido simples de florzinhas e calço meus chinelos de ursinhos, descendo para a cozinha e passando correndo pela minha mãe até chegar no quintal. Ela nunca se importava muito para os lugares que eu ia ou com as amizades que eu tinha. Sou uma criança presa em um corpo de adolescente, eu definitivamente não faria bobagens do tipo fumar ou beber.

Passo pela cerquinha torta e caminho devagar até a entrada da floresta, desviando de pedras pontiagudas que enfeitavam o caminho.

Bato na porta dele três vezes, e o mesmo a abre com velocidade e com um belíssimo sorriso no rosto branquelo. Seus dentes branquinhos mordem seu lábio inferior assim que me vê.

- O que foi? – Pergunto levantando uma sobrancelha.

- Pensei que fosse o Lysandre. Sabe, Castiel está aqui.

Castiel, o garoto mais insuportável de toda a escola. Com aqueles cabelos vermelhos, aquelas roupas de punk e aquela guitarra o tornavam o tipo de cara que mais atraía olhares. Eu o odiava, e Armin sabia disso.

- O que ele está fazendo aqui? – Suspiro pesadamente, e logo sinto uma mão fria tocar o meu ombro desnudo. Dou um pulo para trás, rolando os olhos ao ver Lysandre. Tudo bem, ele não era uma pessoa chata, mas era amigo de Castiel e o defendia sempre que podia

- Ah, hã, nada! Entra, Conie. E seja bem-vindo, Lysandre. – No momento em que coloquei os pés na casa, entendi o porquê dos dois estarem lá. Armin estava tentando fazer mais amigos.

A sala tinha refrigerantes, salgadinhos e muita cerveja. Tinha também vários games espalhados e muito lixo pelo chão. Castiel estava sentado no sofá, com aquela cara de tédio que nunca abandonava seu rosto nem se ele estivesse em momentos felizes.

Lysandre entra e se direciona até seu amigo com um sorriso tímido nos lábios rosados e finos. Os olhos de cores diferentes analisavam cada porcaria jogada no chão e os cabelos platinados eram jogados para os lados de cinco em cinco segundos. Castiel o cumprimentou com um tapinha nas costas, e logo Armin se juntou à dupla. Eles estavam rindo e contando piadas como se já se conhecessem há anos. E isso me deixou muito irritada. Eu sentia ciúmes dele, mas não conseguia demonstrar e nem achava justo colocá-lo em uma situação para escolher a mim ou aos novos amigos.

Eles iniciam um jogo, mas Lysandre prefere não participar da jogatina. É, isso não fazia o estilo dele.

Eu saio da casa, fechando com delicadeza a porta. Não queria que Armin me visse indo embora e se sentisse abalado logo no início da diversão.

Eu viro de costas, caminhando enquanto encaro a casinha na floresta. Logo então eu giro para frente com os calcanhares, franzindo o cenho ao me deparar com um ratinho. Seria ele Simon, a pequena criatura que me levou até o meu mundo mágico?

Ele começa a correr, e eu vou atrás. Pulo de um pé só nas pedras e continuo o seguindo, gargalhando quando aquele gato preto quase o pega assim que ele passa pela cerca.

Entro em casa, ignorando minha mãe e correndo até meu quarto, mas sem sinais do pequeno rato. Estranho...Eu juro que...

- Por aqui, menina. – Eu olho para a parede na frente da minha cama, onde uma pequena portinha é aberta. Uau! O portal era bem no meu quarto!

Sem pensar duas vezes, me agacho e entro, sentindo meus pelos se arrepiarem quando vejo um corredor extenso e nas cores azul, roxo e lilás. Era muito bonito e também meio amedrontador.

No fim do corredor, outra portinha se abre e eu entro em um pulo, suspirando aliviada quando vejo o meu quarto luxuoso. Céus, como era bonito!

- Conie! Bem-vinda de volta, sentimos sua falta. Venha, a sua mãe lhe preparou uma bela surpresa. – Ele exclama dançando exageradamente sob as patas dianteiras. Solto uma risada abafada e o sigo até a cozinha, cobrindo a boca quando vejo Armin com olhos de botões. Era igualzinho!

- Armin! – Grito enquanto corro até ele e o abraço com força. O rapaz enlaça seus braços fortes em volta de minha cintura, gargalhando ao estilo Armin bobalhão.

- Você gostou, querida? – Minha mãe falsa pergunta enquanto coloca suas mãos finas em meus ombros.

- Eu adorei!

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Eu passei a tarde todinha lá, e a mamãe não me deixou ficar até a janta. Ela disse que eu precisaria ir para casa porque ela estava preparando uma surpresa para mim, mas que eu poderia voltar amanhã bem cedo. O problema são as aulas, mas posso voltar assim que sair da escola. Mal posso esperar para ver a surpresa!

Deitada na minha cama de luxo, eu abro um sorriso fraco. Esse seria o meu refúgio. Quando tudo estivesse ruim no mundo real, eu poderia vir para cá.

- Ei, garotinha! – O ratinho sobe na minha cama, se aninhando perto do meu braço. – Preciso lhe contar algo. Este mundo não é apenas seu, garotinha. Outra menina esteve aqui há dois anos. Seu nome era Coraline e... – De repente tudo começa a girar. Eu grito, colocando as mãos nos ouvidos enquanto tudo desaparecia lentamente. Sem ao menos esperar, eu já estava no meu quarto chato e sem graça.

- Quem era Coraline?

"Porque seus desejos podem ser usados para manipular-te..."