História Copy Girl - Chocolate Milk

Mamãe dormiu comigo.

Eu sei, um tanto infantil para uma garota de quase dezoito anos. Mas eu não posso acreditar que Ian entrou em meu quarto me vendo vestida daquele jeito. Ele deve estar rindo de mim.

Eu jurei a mim mesmo antes de dormir que nunca mais me trocaria fora do banheiro, e que conferiria mais vezes se a porta estava fechada.

Acordei com muito frio, e pude notar que minha mãe não havia trancado a janela direito, fazendo o quarto todo parecer o Polo norte. Maria estava animada essa manhã, dizendo que como já era sexta-feira, ela iria ir para sua cidade natal no final de semana para ver seus netos.

- E como foi o jantar ontem querida? Sua mãe me dispensou mais cedo, ela mesma queria preparar - Maria passou as mãos pelo meus cabelos e eu forcei um sorriso para ela enquanto tomava meu achocolatado.

- Meus pais gostaram - Disse e logo a campainha tocou. Ian...

- Deixa que eu vou lá e atendo, termine seu café.

- Não, eu vou. Já terminei - Me levantei rapidamente e corri para porta com meus materiais, e um casaco mais pesado já que faríamos outro passeio hoje.

Abri a porta vendo Ian já pronto para tocar a campainha novamente, e um sorriso apareceu em seus lábios quando nossos olhos se chocaram.

- Bom dia, baby - Ele cantarolou e eu não pude esconder como aquele apelido me atingiu. Idiota.

- Você está chegando muito cedo, eu mal consigo tomar o meu café - Disse ríspida, e ele pareceu um tanto assustado com minhas palavras.

- Você quer que eu passe em uma cafeteria antes de irmos? - Ele perguntou ajeitando sua jaqueta de couro, que tomava o lugar da jaqueta do time.

Não, Ian. Eu quero que pare de fingir estar preocupado comigo!

- Eu já estou satisfeita - Virei o rosto encarando as ruas cheias de neve e úmidas.

- Eu estou vendo - Ele riu baixinho, puxando meu rosto para que o olhasse - Você deixou vestígios aqui.

Ian apontou para os meus lábios e eu olhei rapidamente na tela do meu celular, vendo aquele tipico bigodinho de achocolatado. Minhas bochechas coraram no mesmo instante e eu tentei limpa-lo no meu moletom.

- Se quer saber, você fica uma gracinha assim - Murmurou e eu suspirei - O quê? Na verdade você estava uma gracinha ontem, quando entrei em seu quarto e...

- Não termine! - Gritei para ele e atravessei meu jardim rapidamente - Não toque nesse assunto, eu não quero sequer uma palavra ou brincadeirinha, eu já estou farta de saber sobre o meu corpo.

Ian se calou no mesmo instante, e pareceu abrir e fechar a boca varias vezes, como se procurasse o que falar. Mas o olhar que eu lancei a ele pareceu faze-lo entender que eu não queria nenhum de seus comentários.

O silêncio foi curto, Ian logo ligou o rádio.

- Eu adoro essa música - ele disse apontando para o rádio - De certa forma me lembra você.

- Está dizendo que eu sou uma boa garota? - Perguntei apertando os olhos, escutando free fallin tocar no rádio. A melodia inundava o carro e Ian sussurrava a música sorrindo.

- Uma bom garota, eu diria - Ian olhou para mim e continuou - "Ela é uma boa garota, ama sua mãe, Ama Jesus e a América também..."

Abaixei o rosto olhando para os meus dedos. Ian cantava enquanto seus cabelos negros ficavam bagunçados pelo vento.

-"E eu sou um cara mau porque nem mesmo sinto a falta dela"- ele cantou - "Eu sou um cara mau por partir o coração dela".

Essa música realmente lembra a mim.

Quando a música acabou e alguns comerciais sobre novas lojas de discos começou a ser ouvido, eu me permiti respirar aliviada. Levei um pequeno susto quando Ian me chamou, apontando para uma loja do outro lado da avenida, enquanto estávamos parados no semáforo.

- Que tal comprarmos nossas roupas do baile ali? - Perguntou sorrindo e eu desviei o olhar, corando por ele estar falando sobre o baile.

Eu sei, eu deveria estar com raiva, ódio e mil e outras coisas. Mas como odiar Ian Somerhalder, enquanto ele aponta animado para uma loja, se preparando para um baile no qual iriamos juntos.

Por isso eu sempre odiei mentiras. É uma felicidade passageira, que sempre deixa um ferimento maior do que se tinha antes.

- Não sei - Dei de ombros - Acho que minha mãe é quem vai comprar ou alugar um.

- Ah, Nina - ele reclamou - Vamos vir aqui juntos.

Revirei os olhos tentando não sorrir quando ele fez um barulho tristonho.

- Eu quero que você esteja combinando comigo - Ele murmurou - E espero que a garota que ganhe também esteja, fala sério, eu não quero sair mal nas fotos.

Meu sorriso falhou rapidamente, e eu olhei para fora da janela.

Ian é um idiota, mas isso é ótimo. Ele nunca me deixa esquecer do porquê realmente estávamos aqui.

O resto do caminho foi silencioso, eu estava a ponto de descer do carro em movimento e pegar um táxi para voltar para casa. Pois ouvir Ian falar sobre o baile e essas coisas estavam me irritando e uma forma inimaginável. Mas por que eu estou me preocupando com isso? Eu estarei muito ocupado ajudando minhas crianças nesse baile, Ian é apenas um babaca.

- Esse final de semana é a festa da Kat - ele tentou puxar assunto novamente - Nós vamos não é?

Nós.

- Eu vou - ressaltei.

- E semana que vem tem uma festa também de uns dos garotos do time, deve ser a última antes de baile.

- Eu não posso ir, eu preciso ir ao hospital para ver como as coisas estão indo - Expliquei bufando. Será que Ian nunca tirava um tempo para a família?

- Hospital é? - Ele perguntou - Bom, espero que você saia bem cedo, ai você pode dar uma passadinha.

- As crianças vão me deixar exausta, eu já disse que não vou - Disse vendo que já entravamos no estacionamento do colégio.

- Okay - Ele disse receoso - Nem uma passadinha?

- Ian... - Minha irritação pareceu maior e o mesmo bufou - Você não entende a palavra "não"?

- Talvez - Ele sorriu, mas eu não o correspondi - Ah, qual é Nina? Você já está de mal humor novamente?

- Ah, vá se ferrar, Ian! - Disse brava abrindo a porta do carro, e o mesmo pareceu sair em um pulo só parando em minha frente.

- Calma aí - Ele segurou em meu braço - Por que ficou tão brava?

- Por que você só pensa em festas e essas coisas, eu não penso assim - Soltei sua mão do meu braço - Pare de achar que eu sou assim, igual a você, porque eu não sou.

Ian me olhava sem entender assim como outros alunos curiosos que passavam por ali naquele momento.

- Eu só queria que você fosse a festa comigo, Nina - ele disse em um tom calmo - Mas se você não pode ir, então tudo bem.

Olhei espantada para ele, e tentei dizer algo mas as palavras não saiam.

- A gente precisa ir - Apontei para a entrada do colégio - A excursão para o outro museu da cidade...

Ian concordou, em seguida suspirou.

- Já é segundo museu que a gente visita, sem falar na biblioteca - Ele revirou os olhos.

- Você não gosta de ler? - Perguntei o obvio e ele deu de ombros.

- Não muito - Logo que entramos no colégio, sinto seus dedos se entrelaçarem com os meus.

Eu nunca vou me acostumar com essa sensação de borboletas no estômago?

- Você deixou sua jaqueta mais grossa no carro? - Ian perguntou e eu me bati mentalmente já que realmente havia esquecido.

- Deixa pra lá, não vai fazer tanto frio assim - Arrumei minha franja colocando-a atrás da orelha.

- E se fizer, Nina? Vamos lá pegar - Ele começou a dar meia volta, mas eu segurei sua mão.

- Pare - Pedi. Ele estava novamente fingindo se preocupar comigo - Eu já disse que não preciso.

Ian suspirou e acariciou uma de minhas bochechas, me fazendo abaixar a cabeça.

- Se você ficar com muito frio eu te dou minha jaqueta, é isso que todos esperam de um bom namorado, não é? - Ele riu bobo e eu não respondi.

- Você não está com fome mesmo? Eu não te deixei terminar o café da manhã.

Minha vontade era de gritar para Ian parar de fingir preocupação. De gritar com todos naquele corredor que observavam a demostração de carinho e principalmente, de gritar comigo mesmo de achar a preocupação de Ian bonita.

- Eu não estou com fome, Ian - Murmurei - Pare de se preocupar com essas coisas.

- Tudo bem - Ele sorriu. Pare de sorrir!

- Vamos logo encontrar os outros - Falei apressada.

O passeio em si foi muito bom, eu adorava como a professora de história explicava cada quadro, escultura e como tinha uma paciência para aguentar as brincadeirinhas infantis de Ian e Paul.

Joseph não havia ido, o que me fez agradecer aos céus pois Candice ficou ao meu lado o tempo todo, me dando um pouco de liberdade do aberto das mãos de Ian

- Amanhã é a festa - Ela murmurou - Você ligou para Chris?

Oh, meu Deus.

- Eu esqueci completamente - Massageei minha nuca - Eu preciso ligar mesmo? Ele vai estar lá.

- Mas você precisa confirmar isso - Ela insistiu e me olhou de canto - As vezes me parece que você se esquece o verdadeiro motivo disso tudo, Nina.

- Como assim? - Apontei para ela continuar andando, já que no momento estávamos em um grande corredor de pinturas.

- Esquecendo do porquê Ian está fazendo isso - Candice  apontou para os dois, Paul e Ian, que estavam mais a frente - Uma aposta.

- Eu não esqueci - Olhei incrédula para ela, que deu de ombros.

- Então prove - Candice me parou por um estante - Ian não é essa pessoa boa que está mostrando a você, a semanas ele ria da nossa cara.

- Eu sei, okay? - Suspirei - Ele me chamou pra comprar os roupas do baile.

- Compre um vestido vermelho sangue - Candice caçoou - Vou preparar o sangue de porco para jogarmos quando ele ganhar a coroa.

- Candy! - Comecei a rir baixinho.

A professora nos lançou um olhar reprovador e Candice se desculpou rapidamente.

- O fato é que eu não quero que você se esqueça, ele só quer te levar para cama.

Concordei e ergui o rosto, vendo Ian piscar para uma garota do meu grupo de química.

- Eu vou ligar para Chris - Disse a Candice que sorriu grande.

- É assim que se fala.

-x-

Mamãe estava em casa quando eu cheguei esgotada. Tínhamos andado bastante naquele passeio, e na hora do almoço Candice inventou que queria comer as batatas fritas que vendiam ali em frente, o que nos fez ficar quase vinte minutos de pé em uma fila gigantesca.

Dei um beijo em minha mãe e a abracei rapidamente.

- Eu só vim para buscar uns documentos do hospital, eu vou amanhã ver as crianças e como estão as coisas, você quer ir?

- Na verdade - Mordi o lábio em nervosismo - Eu vou semana que vem, se não tiver problema é claro.

- Claro que não, querida - ela sorriu, bagunçando meus cabelos - Tem planos pro final de semana? Vai sair com Ian?

- Eu vou - Abaixei o rosto - É uma festa, tudo bem eu ir?

- Neens - Mamãe sorriu - Eu fico feliz que ainda me peça permissão, mas seu aniversário e depois do baile, você sabe que depois que fizer dezoito não precisa mais disso.

- Eu gosto de te deixar avisada, não quero que se preocupe comigo.

- Tudo bem, e obrigada - Ela apontou para a porta - Eu já vou, não quero me atrasar.

Mamãe saiu pela porta, e vi Lucy  descer as escadas apressada.

- Vou ao shopping, Minha mãe está com o Koll - Foi tudo tão rápido que duvido que ela me ouviu dizer "até logo".

Quando me deitei, cansada e com uma barriga roncando, não pude deixar de lembrar de Ian me roubando um beijo atrás de uma estátua de quase dois metros. Ele me puxou para lá enquanto todos estavam prestando atenção na explicação, colou nossos lábios e me beijou até me deixar ofegante e eu o empurrar para poder respirar. Não pude deixar de lembrar de como meu corpo se arrepiou quando ele escondeu a risada em meu pescoço, pois eu havia lhe dito que dois senhores nos encaravam boquiabertos por terem nos visto.

Eu odiava gostar de seus beijos e de suas demonstrações de carinho.

Suspirei pegando meu celular e rolando minha lista de chamadas. Quando cheguei no "C" prendi a respiração e clique no botão para ligar.

Dois toques depois, e eu sinto meu coração disparar quando escuto uma voz.

- Alô?

Fiquei tão paralisada que a voz, possivelmente de Chris, se irritou.

- Alô? Olha, eu não tenho tempo para brincadeirinhas...

- N-não - Limpei minha garganta rapidamente - Oi, é a Nina, você provavelmente não deve se lembrar de mim, m-mas eu sou aquela garota que v-você beijou...

- Ah - Ouvi Chris dizer.

- Eu sei que você já deve ter esquecido, mas...

- Seria impossível esquecer de você, Nina.

Minhas bochechas coraram de imediato, e eu olhei para os lados para ter a certeza que estava sozinha em meu quarto.

- Ahn, é que eu gostaria de saber, se... - Puxei uma lufada de ar - Se você vai a festa da Kat, eu não sei se você foi convidado. Você não estuda conosco então..

- Eu vou - Chris me interrompeu - E seu namorado sabe dessa ligação?

Meus olhos se arregalaram de imediato e eu fiquei sem saber o que dizer. E agora?

- E-ele não sabe, mas é que...

- Hey, calminha - Chris riu e eu mordi o lábio inferior - Olha, eu acho Ian Somerhalder o maior babaca, e eu vou nessa festa pra te ver, okay.

Eu odiava o fato de estar mentindo para Chris. Mas talvez eu pudesse gostar dele. Talvez ele gostasse de mim desse jeitinho.

- Okay - Concordei olhando para os meus ursos de pelúcia - E me desculpe se eu te interrompi com essa ligação.

- Nina - Chris começou soltando um risinho - Você pode me interromper quando quiser.

- Certo, ahn, então até amanhã? - Perguntei incerta.

- Vou estar louco para te ver, até Nina.

Desliguei o celular rapidamente e mordi meu dedão, segurando minha vontade de gritar de felicidade por conseguir ter sido tão corajosa, e de gritar por estar me metendo em uma grande roubada.

Mas Ian merecia,  e muito.