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História Crônicas de Althunrain - Rei Lich - A Chave de Runas


Escrita por: Tulyan

Notas do Autor


U..U

Capítulo 39 - A Chave de Runas


Fanfic / Fanfiction Crônicas de Althunrain - Rei Lich - A Chave de Runas

O garoto é devoto de Avony? Que interessante... Talvez um dia o leve a um Mestre Templário que o ensine o Caminho da Paz, eu adoraria acompanhá-lo principalmente na nona oração. Tomo o vinho como se fosse água, saboreio levemente e só, amanhã será um dia sombrio, posso sentir, no entanto, vou aproveitar a noite, o céu estrelado, esta bebida fria e saborosa, na companhia de dois bons amigos, e na iminência de matar um Rei.

Passa horas, Klyce já havia terminado de comer e guardava sua caixinha, junto a de Cixoam com esmero, os talheres, deixados dentro delas, ficavam seguros na bolsa grande e volumosa, seguindo a instrução de Thereza, fiquei quieto ali, sentado com as pernas jogadas na ribanceira íngreme. – Boa Noite Aryn. – Cix fala levando as pernas para dentro de seu saco de dormir, este que era feito de couro de veado e pele de Artral, combinação perfeita para aquecer e proteger do frio. – Boa noite Klyce. – ouvir esta segunda parte me fez sorrir de canto.

— Boa noite. – respondo quase ao mesmo tempo do Nanci, que, em falar nele, está a algum tempo sentado perto do fogo, olhando alguma coisa que não sei por estar de costas. – Vá dormir lobo, amanhã será um dia exaustivo.

— Como desejar mestre Aryn. – volto a olhar a imensidão negra a minha frente e acima de mim, iluminada pelas Siemaras, a caveira gigante tem um tom ainda mais maquiavélico do que antes, Thereza passou o tempo todo cantarolando uma canção em minha mente, esta que me dava tranquilidade, e quando digo tranquilidade, quero dizer sono...

Mas não preciso dormir, mesmo que se quiser, o faria sem problemas, porém eu prefiro ficar acordado e vigiar por eles, me sinto mais seguro deixando os outros seguros. Logo me pego tentando cantar junto a Thereza, a língua que ela fala é tão diferente que só posso tentar imitar o som, algo muito divergente claro, mas a divirto assim mesmo. – Muito bem meu amor, está pronto, nossa magia está completamente carregada.

— Excelente, meu amor. – retribuo a palavra de afeto. – Está preparada? – pergunto a ela no momento que a sinto sair de mim, seu corpo lindo e azulado fica a minha direita e se senta junto a mim.

Ela segura meu braço e me olha. – É claro que estou, tu está também?

Digo, preparada não só para purifica-lo, mas, temos dois amigos, pessoas a proteger.

— Sim eu sei, um deles me preocupa.

— O Nanci correto?

— Sim, sei que o ama, sei que ele é querido a ti, mas não sei se sábio leva-lo até lá conosco, se ele infortuitamente... Morrer... Como isso te afetará? – esta pergunta me intriga, e me deixa calado, não pensei sobre isso muito bem, fui precipitado, admito... Felizmente ele ficará seguro aqui mesmo, fiz sua vontade o trazendo para cá.

Espero que Klyce veja no que se meteu, e ele mesmo tenha juízo, este servo que trouxe, este amigo que trouxe me lembra Oktor, Mah, Aaron, parceiros de sua raça, porém, este em especial... – Ele despertou algo que poucas pessoas conseguiram, eu realmente o quero como um amigo de fé, quero vê-lo livre da escravidão, quando voltarmos a Vrett, farei questão de oficializar a posse dele e alforriá-lo, tê-lo livre daquela coleira por sua vontade, não só pela minha, poder contar com ele como conto com você Thereza, é um ideal que eu valorizo, um dia vou ensiná-lo a lutar, posso até mesmo ajudá-lo a aprender magias e...

— Nancis não usam magia Aryn, achei que soubesse disso...

— Porque não? – pergunto conseguindo mudar de assunto, como queria.

— Não faço ideia meu amor, mas eu não vejo o arcano interagindo em seu corpo, nenhuma vez. – tal palavra dela me fez relembrar, quando tinha nossos olhos de Lich não sentia ou via magia emanar dele, sendo que até mesmo um rato o faça. – Nem mesmo a coleira dele impregna arcano no Nanci... Isso é preocupante...

— Talvez eles não sejam seres de magia. – jogo a questão na mesa, um talvez, mas nada sério. – Se fosse Avony quem criasse o ancestral deles, seria melhor.

— Talvez... – a espectro se apoia em mim e deita a cabeça em meu ombro. – Até o acho fofinho, um bom serviçal, mas, como tu mesmo disse, temos que ensiná-lo a se garantir, sem nós ele é um filhote indefeso.

— É, espero o mesmo, porém, agora é hora de nos focarmos no Rei, vamos nos preparar para o que der e vier... – passo a mão direita ao redor dela e a puxo para mim, em resposta, Thereza segura meu maxilar e me faz olhar para ela.

Para o que der e vier... – repete, sorrio e, dessa vez, será minha vez.

A beijo sem cerimônia, seus lábios não eram frios como imaginava, nosso primeiro foi em minha mente, este agora, é... Bom, ainda não é carnal. Mas é tão quente, intenso, tão macio que mal parece vir de um espectro e um morto-vivo, levei a mão esquerda a sua nuca e com a outra a firmei mais perto de mim, mas, com um zumbido leve, ela desaparece e volta a mim, rio sozinho ao ouvi-la de volta e sentir um pouco dela.

— Eu te amo... – falo a Rainha que parece se assentar em minha mente. E me responde com uma vibração gentil que me conforta.

Cruzo os pés e jogo a cabeça para trás, suspiro pesado recapitulando o que conversamos, olho sobre meu ombro direito, procuro o Nanci e em poucos segundos os vejo deitado encolhido perto do fogo, ao virar o rosto a esquerda, Cixoam já dormia a bastante tempo, uma vantagem de ter conversas mentais com a Rainha é a descrição.

Me levanto devagar, as sombras da noite azulada me silenciam, o branco Nanci me deixa estranhamente triste em vê-lo tão... Pequeno, suas pernas juntas a barriga são a única parte de si com alguma roupa, fora, claro, a coleira negra em seu pescoço, me abaixo afrente dele e com cuidado o pego para mim, passo as mãos em suas costas e em suas pernas, suas patas raspam pelo meu peito quando ele se vira em meus braços, suas mãos caem e o mantenho tão confortável que não acorda, ou finge muito bem.

Faço novamente aqueles braços de sombras, iguais o que usei para matar Almirat em Cenkedoz, com ele, arrumo um saco de dormir, o que deveria ser meu. O preparo de lado ao fogo, e com cuidado, enfio o lobo nele como uma flecha numa aljava, o deixo coberto até o peito e arrumo seu pêlo da barriga e do pescoço para não embaraçar com o forro interno, por fim, toco sua coleira e mexo no anel, poderia tirá-la sem que percebesse, mas, isso é função dele, em falar nisso... Uma das mãos de quatro longos dedos retorna debaixo do saco de dormir com a chave dela, a peça azul é entregue a mim e a coloco na bolsa em minha cintura, ficará mais segura comigo, por fim, o cubro até a base do pescoço e o deixo com o focinho caído a direita.

— Durma bem... – passo a mão em sua cabeça, tomara que os deuses permitam que ele fique comigo, vou ajudá-lo ao máximo que puder, sempre... Meu Nanci...

Me levanto e passo ambas as mãos em minha testa, levo-os até a nuca e só ai sinto o quão grande meu cabelo está, deve chegar quase a metade de minhas costas, me surpreende ver o quão devagar está crescendo, e isso é muito bom, nunca gostei de cortá-lo mesmo. Chamo Ehras de minhas sombras, pela primeira vez em muito tempo sua lâmina azul cintila a luz das Siemaras, mesmo que se especule que elas apenas refletem a luz de Avony, ainda são uma beleza estonteante e rara em minha terra. Vê-las tão nitidamente me faz sentir algo renovador, não sei explicar, mas é quase tão bom quanto vinho, e menos intenso que Thereza. Pouso a base da foice no chão duro e esfarelado, por hora, farei algo que imaginei a algum tempo, ao meu redor, em uns trinta metros, uma linha negra se forma, tão pequena quanto um fio de cabelo, se algo passar por ela, eu saberei, e este será um ser morto. Felizmente, por ser noite, isso custa menos do que recupero naturalmente, então ouso até me sentar novamente na ribanceira e esperar, amanhã será o dia que mais um Rei irá cair, diferente dos mortais que já enfrentamos até hoje, ele está a nossa altura.

 

Acordo meio perdido, quando foi que entrei neste saco de dormir, ele não é para meu mestre Aryn? O que faço nele? Uso meus braços para sair o mais rápido possível, me sento na ponta e puxo minhas pernas, eu não posso usar algo que não me permitiram, e, meu senhor... Mesmo dizendo ficar de vigia, ainda poderia querer dormir aqui e eu o impedi, como fiz isso? Seu imbecil! E... Espera... Sinto algo faltando, bato a mão direita no bolso deste mesmo lado do braie que uso, onde foi a chave da minha coleira? Droga, como fui perder algo tão precioso assim!

Minha respiração acelera, se Aryn descobrir, como ele... Tenho que achá-la de imediato! Desesperado, saio a procurar, em qualquer lugar que me lembro ter passado, mesmo que as pedras pequeninas machuquem minhas patas, eu as vejo como punição extra por perder algo confiado a mim, mereço ficar de joelhos nelas pelo resto do dia!

— Klyce. – a melhor e pior voz possível fala a mim.

— Senhor Aryn. – me viro para encarar o homem que sirvo, parece muito bem para quem deve ter passado a noite em claro. – Me perdoe, não sei como fui parar ali. – aponto ao saco de dormir e me curvo. – Ele não é meu, não devia, me perdoe.

— Eu o coloquei lá Klyce, não se preocupe. – meu mestre toca meu ombro, o medo de que ele descubra o sumiço da chave me faz gelar o estômago, em falar nele...

— Aryn, senhor eu... Preciso tirar a água do joelho. – como diria os mercadores Caalim. – Com sua licença.

— Claro, só não vá muito longe, Cix já começou a sobrevoar os limites das cinzas, talvez as coisas fiquem perigosas. – me curvo levemente outra vez.

— Entendo meu senhor, serei o mais breve possível. – o fato era, além de apertado, estava com muito receio que ele descobrisse, o que será de mim? Como posso contar a ele? Aryn confiou ela a mim e eu falhei, isso me dói muito... Não me permito falhar com meu mestre, nem mesmo uma vez.

Caminho a passos vacilantes, cada um é uma dor incomoda, as vezes não firmo as patas direito, os caminhos não feitos são cercados de amontoados de rochas variadas e fendas longas e profundas, escolho uma que me permita um pouco de privacidade, um luxo para um escravo doméstico como eu, um luxo muito bem-vindo...

 

Klyce parece muito preocupado, será que caiu a ficha para ele? Pensou bem no que está imerso e agora criou juízo? Não, é algo diferente, parece medo... Suas orelhas estão inquietas, e sua cauda mal se move enquanto anda, será que foi Thereza? Ou seria algo mais tolo, e ele está assim só porque o deixei no meu saco de dormir? Klyce é um pouco difícil de ler as vezes, o que deve passar naquela cabeça confusa?

Em falar em mentes confusas, Thereza fala a mim. – Aryn, ei de aguçar nossos sentidos assim que formos para o crânio gigante, será útil, mas pode ser confuso em voo.

— Certo, eu... Vamos esperar Cixoam e ver o que ele observou, vamos discutir isso juntos e planejar um ataque, o possível exército lá embaixo me preocupa especialmente.

— Cixoam pode cuidar deles com exatidão, não vejo porque se preocupas.

— O pico de poder dele deve ser ao meio-dia, mas, mesmo assim, números superam poder Rainha, mesmo sabendo do que ele pode, não podemos subestimar o Rei, de forma nenhuma.

— Estou ciente... Tens razão, no entanto...

Sua voz é cortada por um grito e sons de luta, meus ouvidos captam isso, mas meus olhos não, apenas um nome vem em meus lábios. – Klyce. – com um arrepio forte subindo em minhas costas chamo a foice e nos envolvo em sombras de uma só vez.

Salto muitos metros de uma vez e fico acima de uma das pedras mais altas a minha frente, por sorte, a sombra da montanha encobre tudo, algo realmente útil. Dali vejo uma cena preocupante, Klyce estava no chão, as mãos a cada lado de si, rendido, seus olhos arregalados encaravam uma flecha que estava pronta em um arco bem talhado de madeira escura, sem pensar duas vezes, ataco. Salto com vontade, as sombras saem por mim como fumaça e o silêncio que produzo é igual a de uma coruja, a distância entre nós encurta, e ainda voando faço um outro eu, este fica no meu lugar enquanto surjo entre o Nanci e o agressor.

A surpresa de minha chegada o assusta, seu capuz e capa negra o encobre junto a uma máscara e roupas dignas de um ladrão, pelo espanto, sua flecha é solta, atinge meu peito em cheio.

— ARYN! – o Nanci grita abaixo de minhas pernas.

Meus olhos vão a aquele homem, vejo medo em seus olhos, e pela primeira vez, vejo os meus pelo reflexo, eles ficam vermelhos quando me transformo, afim de distrai-lo mais um pouco, abro um sorriso, e vejo mais uma vez por seus olhos castanhos, minha boca se abre sobrenaturalmente, revelando uma escuridão assustadora, antes de pensar em outra coisa, o clone que fiz o atinge com os dois joelhos, ele perde o ar e cai em minha direção, mas encontra meu punho esquerdo que afunda em seu abdômen, sua consciência se esvai, sinto seu corpo amolecer e apagar.

— Aryn?! – o lobo me chama, aflito, jogo o homem para o lado como se fosse lixo e me viro ao meu Nanci, levo a foice para a mão esquerda e ofereço a outra. – Pelos deuses, seu peito. – Klyce pega minha mão e o levanto. – Meu senhor, se feriu? Está doendo eu... Me perdoe o fiz se machucar por mim eu...

Tento negar o que ele fala. – Não se preocupe. – pego a flecha e a tiro de mim como se meu corpo fosse metal maciço. – O mais importante é, você está bem? – toco seu ombro.

— Uhum. – assentindo, o Nanci baixa as orelhas e treme seu corpo branco, agora sujo de terra. – Me desculpe por te causar problemas, por ser fraco... – esta última parte falou mais baixo. Retiro as sombras de mim e levanto seu maxilar que baixava-se lentamente.

— Me conte o que houve...

— Eu, eu estava voltando eu juro, mas, do nada ele surgiu por ali. – o jovem aponta a sua esquerda, havia um caminho junto a uma fenda. – Me derrubou e ficou me perguntando o que fazia por aqui, mas eu... – teve medo? – Não contei nada, se o senhor não me permitir eu jamais vou dizer sobre o que fazemos.

Baixei os ombros, havia verdade em seus olhos azuis, inegável é que este homem ia matá-lo, mas por qual motivo, deve estar protegendo algo, o que faz um guardião em um lugar como esse? – Volte para o acampamento Klyce. – o lobo abaixa as orelhas e a cabeça como se eu estivesse repreendendo-o, o que não é realidade, ele saberá quando eu o fizer.

O Nanci passa por mim e volta por onde veio, mas eu fico ali mesmo, meus olhos acendem com nosso poder e uso as sombras juntamente, assim vejo as pegadas de todos eles, as de Klyce são como as de um Artral filhote, consigo ver de onde veio e para onde foi agora, assim como sinto o cheiro de urina no ar, junto a ela, algo diferente, castanha... Mas quando chegamos até aqui, não vi árvore alguma, olho o homem que apaguei, o cheiro vem dele, dois braços negros surgem e viram o corpo com certa violência, apesar de longos e intimidadores, os dedos são muito eficazes para tirar os botões do colete preto e enterro eles em seus bolsos e esmiúço qualquer possível compartimento que ele possa guardar algo perigoso. Deixo duas adagas curvas, o arco, a aljava e uma espada curta ao lado, com a ponta de Ehras tiro sua máscara e vejo, não era um homem, os lábios finos estavam com uma linha de sangue, mas, não vou pegar leve só por ela ser mulher, inimiga ou não, atacou Klyce, e isso eu não esquecerei...

 

Voltei ao acampamento arrastando a mulher com descaso, a trazia segurando seus pulsos, não precisaria amarrar ela nem nada, suas armas estão comigo, seguras em minha sombra, e ela jamais fugirá de mim, nem de Cix. O dragão voava de volta, seu corpo imenso iluminava o horizonte, e a cada curva que fazia, as membranas douradas de suas asas refletiam a luz avermelhada do Sol que subia a minha frente, as grandes sombras que as montanhas faziam encobriam todo o terreno negro, Cixoam abria as asas gigantes e desacelerava, suas patas enormes o deixaram na ribanceira que passei a noite, seu pescoço longo trouxe seus olhos amarelos, jogo nosso cativo de lado e puxo o capuz junto ao cabelo negro, faço seu rosto sem expressão ser visto pelo dragão.

— Conhece? – pergunto para ele, negando Cix usa os braços para se trazer mais acima do acampamento, seu corpo começa a se transformar outra vez, largo ela e vejo a fogueira ainda acesa. – Vamos... – não tiro os olhos das chamas e suspiro, meio estressado. – Vamos esperar um pouco.

Minha atenção só é movida ao ver o Nanci sentado numa pedra, parecia um pouco deprimido, brincava quieto com um galho verde de alguma planta que não vi a origem, deixo o corpo desacordado de lado e me movo rumo a Klyce, seus olhos ficam baixos, mesmo com minha aproximação. Me sento ao seu lado com casualidade, e toco meu ombro no dele o chamando a atenção, Ehras, por ficar em minhas sombras desde que fiz menção de voltar, não é ameaça para o lobo. – Você está bem? – pergunto vendo Cix terminando sua transformação.

— Eu não queria... Foi culpa minha. – levo a mão esquerda ao meu joelho a fim de apoiar meu corpo que ir para frente, e o olhei meio não acreditando que ouvia isso de novo.

— Ela te atacou, você não tem culpa alguma.

O jovem fica parado um pouco, talvez não soubesse que se tratasse de uma mulher. – Mesmo assim, como eu posso te seguir se mal posso me defender. – o lobo me olha, os olhos marejados tinham um azul mais fraco. – Não sou digno de me dizer ser seu servo, se mal posso ficar seguro sem o senhor... – me responde mais baixo, envergonhado.

Com abruptidade seguro o anel metálico de sua coleira, o susto dele é evidente, puxo-o para mais perto preso em meu indicador, minha mão direita livre vai a seu maxilar, o faço se calar por segurar todo seu focinho, e agora noto, há um corte em sua bochecha esquerda, o sangue suja e destaca-se em seu pêlo branco, apesar de seco, é preocupante. – Porque não me contou sobre isso? – o Nanci fecha os olhos, sem como encolher-se, eu o deixo sem saída.

— Desculpe senhor Aryn, não achei que fosse problema, isso nem mesmo dói.

— Não esconda coisas de mim, eu não o fiz isso com você Klyce. – solto sua boca, mas continuo segurando o anel de sua coleira. – Eu farei você ser forte, mas precisa confiar em mim, sem reservas.

— Eu confio, peço seu perdão mestre Aryn, não pensei bem, nunca mais vou esconder nada do senhor, nada, mas, me permite te pedir uma coisa. – dou um solavanco em sua coleira o permitindo. – Qualquer coisa, eu, posso ser aberto com o senhor, sem restrições? Sei que posso estar pedindo muito eu entend...

— Claro, eu até prefiro assim meu amigo, é ai que quero chegar contigo. – solto o anel metálico. – Como somos parceiros, temos que confiar um no outro, se não, a dúvida matará um de nós.

— Eu jamais faria mal ao senhor! – responde muito aflito.

— No sentido figurado Klyce, pode falar e me pedir o que quiser, eu o ajudarei no que puder, eu sou um lich, um mago, que seja. Mas, primeiro, eu sou Aryn, e portanto, meus amigos vêm em primeiro lugar. – toco seu peito o dando conforto.

— Estou... Um pouco envergonhado por ter feito isso mestre, por favor, me puna por isso, minha consciência não vai se acalmar.

— Quer um chicote? – Cix entra na conversa, o olho diferente do esperado, tenho curiosidade, e não cólera.

O lobo encolhe os ombros, embaraçado com o que responder. – Meu mestre é o único que tem pujança sobre mim senhor Cixoam. – mudo a visão entre os dois, o humano meio dragão volta-se a mulher caída no chão.

— Foi ela que o atacou? – assentindo eu o respondo, bato a mão direita no ombro do lobo branco e me levanto. – O que ela...

— Provavelmente é uma guardiã, pelo que Klyce me contou, contudo, pelas armas que achei com ela. – levando o braço esquerdo e dele cai todas as lâminas e o arco que deixei comigo. – Julgo ser uma caçadora...

Pela periferia de minha visão, vejo ela se mover, sua mão direita vai devagar até seu rosto sujo, com uma velocidade incrível, trago uma adaga do chão com auxílio das sombras e lanço-a entre seus dedos e seu nariz, o susto a faz dar um pulo, uma reação muscular talvez, como um caçador achando uma presa fujona me movo até ela com os olhos fixos nos seus, antes que tentasse se levantar chego perto o suficiente, minha bota esquerda encontra seu ombro direito, a viro de barriga para cima e ela sofre de dor, faço questão de deixar meu peso em seus ossos, só para vê-la aflita.

— Quem é você? – pergunto com raiva na voz.

— O monstro! – ela estava catatônica. – Onde está? – sua falta de atenção a mim me faz morder os dentes.

— O monstro? – tiro o pé de seu ombro e ao toca-lo o chão, me cubro de sombras e me abaixo acima dela o suficiente para bater meu punho esquerdo neste mesmo lado de seu rosto. – EU SOU O MONSTRO AQUI! – falo bem perto de seu rosto branco, seus olhos arregalados perdem a cor.

E tenho outra vez tenho um corpo desacordado. – Porque fez isso? – Cix pergunta meio indignado.

— Era isso ou cortar a mão dela fora. – aponto a região descrita enquanto me levanto. – Ninguém faz mal a um amigo e fica tranquilo. – saio de cima dela e olho o Nanci que me observa, engole seco, teve mais uma prova de minha força, e de que cumpro minha palavra, meus amigos vêm em primeiro lugar. – Você ficará encarregado dela. Serei o cara mal, e você é o bonzinho...

Cruzo os braços e vejo, a luz do Sol vence as montanhas altas e traz sua luz até nós, sinto seu calor que me acalma, seu brilho reflete em mim, minha pele e meus cabelos brancos se destacam bem, junto com Cix e Klyce.

Se pensar bem, somos todos brancos, três seres brancos, isso até daria uma história muito interessante. Caminho rumo a borda do acampamento e me sento ali, iriamos esperar até o meio dia mesmo. – O que viu Cixoam, durante teu sobrevoo.

— É um lugar imenso Aryn, se existe um exército abaixo como suspeita, nem mesmo Vrett conseguiria superá-lo, a estrutura central tem algo diferente. – vou ouvindo o homem atrás de mim, gosto de falar olhando nos olhos da pessoa, mas, nesse caso, não. – Há algo brilhante na caveira, os olhos dos crânios que a compõe exibem uma luz roxeada, como se algo os mantivesse em alerta.

— Então sabem que estamos aqui, a dúvida agora é, como entraremos? Creio que o Rei não vá se expor, não há motivo para sair de sua fortaleza. Há alguma fraqueza, alguma coisa diferente?

— Infelizmente não... Talvez, se jogássemos o lobo lá... – sugeriu com humor.

— Eh, talvez dê certo. – firmo a brincadeira.

— Se for necessário, o farei meu senhor. – a seriedade de Klyce corta nossa curtidura.

O olho sob meu ombro direito, ainda estava no mesmo lugar, mas, com um gesto simples de cabeça e mão o chamo, depressa, o Nanci fica ao meu lado e quando bato a palma no chão o faço se sentar, ele joga as pernas como eu e deixa as mãos afrente de si, sua postura é treinada, bonita de se ver, como uma estátua de um herói. – Vou te fazer uma pergunta simples, como sempre, quero que responda com sinceridade.

— Mas é claro meu senhor. – seu olhar vem a mim por alguns segundos.

— Você quer morrer por mim, ou comigo? – seu focinho baixo se levanta, ele inspira muito, parece confuso demais.

— Não sei como responder senhor eu... – com a mão esquerda o faço de calar.

— Me responda quando quiser, pense bem nisso... – agora é minha vez de suspirar pesado. – Sabe, eu quero saber, quando era escravo. – dei ênfase no, era. – O que fazia especificamente? – perguntar isso a qualquer um deveria trazer más memórias, raiva, ódio.

— Ah sim. – porém ele fica eufórico e feliz em falar nisso, uma reação tão diferente, mas tão comum que não me surpreendo. – Desde pequeno levava recados, estudava e recebia minha disciplina diária. – disciplina diária? Não pude deixar de relacionar isso ao chicote que Cix mencionou, nossa brincadeira talvez não fosse tão engraçada assim. – Com meu segundo mestre aprendi a gerenciar uma casa e a calcular, aprendi como me comportar em qualquer lugar, a ter etiqueta, cozinhar e recebia minha disciplina semanal. Já com meu terceiro mestre, coloquei em prática tudo que aprendi, o servia como ajudante em seus negócios e ainda recebia disciplina mensal. Cheguei até a cuidar da casa por um mês, foi uma honra. – seu tom tem orgulho, orgulho de ser confiável, orgulho de ser reconhecido.

Estalo a língua para falar, mas, hesito um pouco. – O que seria essa disciplina diária que citou? – Klyce sorri e toca sua coleira com apresso.

— É.

Sua fala é interrompida por Cixoam. – Aryn, ela acordou. – com um olhar meu o Nanci sabe o que quero, me levantaria, assim como o lobo que me imitava, mas paro a mim mesmo e volto a me sentar, tudo parece somente que eu me ajeitava no lugar. – O que quer fazer?

— Fale com ela. – observo minhas mãos largadas afrente de mim. – A interrogue... – olho para Klyce e falo o encarando. – Se ela tentar qualquer coisa, quebre seus ossos, tem minha permissão para matá-la caso necessário.

— Muito bem então Aryn... – Cix responde, volto a encarar a vastidão negra, Klyce sabe a ordem oculta, faremos silêncio agora...

— Quem é você? – Cix pergunta a mulher com um tom firme.

— Dasnok. Meu nome é Dasnok.

— O que faz aqui?

— Eu vigio esse lugar profanado, os mestres de Allantra me incumbiram, eu e meus parceiros. – não preciso ver para saber, Cixoam conhece esse lugar, sei disso por sua respiração, uma bufada forte seguido de confusão.

— Conhece este lugar Cixoam? – sei a resposta, mas quero que ela saiba o nome dele, e que Cix me informe.

— Conheço sim, é um Colégio Arcano, mas ele é da parte leste do clã, Ehiet. – sinto o clima ficando mais ameno, e isso é confirmado pela mulher.

— Espere, você é Cixoam? Filho de Velenfour? – a curiosidade dela pode ser fortuita. – Ouvi muito sobre o senhor, voltou a Vrett junto a um homem misterioso, depois de se revelar um homem audaz. – não resisto e olho por cima de meu ombro e vejo o olhar de Cix em mim.

— Porque atacou o Nanci? – o tom do meio dragão fica mais calmo. – Ele não parece oferecer perigo a nada.

— Eu peço desculpas, a ele e ao senhor, mas, vi tantas coisas horrendas saindo dessas cinzas, que não consigo baixar a guarda mais, e... – a vejo se deixar sentada. – Um Nanci sozinho assim, achei que fosse um escravo fugitivo, é crime em Ehiet. – afirma, por mais que pareça maldoso, eles têm razão, não vi até hoje um Nanci fugitivo, ai tenho duas suposições, ou são capturados muito eficientemente, ou não sobrevivem.

Tenho tendências a acreditar na segunda opção depois que conheci Klyce, aos seis anos sabia como me cuidar melhor do que este lobo. Talvez ele tenha instintos naturais, sabe, por ser o que é... – Pois ele pertence a Aryn. – me levanto. – E eu quero saber uma coisa de você... – olho para Klyce que para de se erguer, levo a mão esquerda a seu ombro e o faço ficar onde está. – Viemos acabar com essa corrupção horrenda.

Ela vira-se e recua o corpo. – Você é o...

— A criatura? Sim.

— Não, falaram sobre o senhor, livrou Cenkedoz e as vilas Triunta, Diunta e Quartunta. Peço seu perdão por machucar seu escravo, não sabia. – ela baixa sua cabeça, os cabelos negros e levemente ondulados contrastam com a pele branca.

— Ele é meu amigo, não meu escravo.

— Ah, claro senhor.

— Levante-se... – a mulher tem a altura parecida com a de Cix que se afasta. – Peço desculpas também por te assustar. – não me desculparei por pará-la, foi necessário, e sempre vou proteger quem me importo. – Agora, vou pedir sua ajuda e informação, sabe como chegar ao crânio gigante?

— Meu senhor, sabemos muito pouco sobre o que é aquilo, mas, os mestres dizem que é um ser tão antigo que nem mesmo tem nome.

— Admont, é um Rei Antigo, não me surpreende que não saibam... – coloco as mãos para trás de mim e levo a cabeça para trás a fim de tirar meus cabelos de cima dos ombros.

— Rei Admont... – ela diz a si mesma. – O que ele é?

— Um monstro a ser purificado e destruído. – respondo sem precisar de pensar, esse é nossa índole.

— Eu, eu vou pegar uma coisa que tenho para o senhor. Posso? – apesar de respeito, ela tem medo de mim, não a culpo.

— Cix irá acompanhá-la. – permito, assentindo Cixoam suspira e se deixa de lado para a mulher saber seu caminho.

— Muito obrigado. Vamos senhor Cixoam? 

 

Passo mais de dez minutos onde meu mestre mandou, não me importo em esperar aqui, mesmo que haja uma queda de mais de vinte metros a minha frente, não tenho medo, jamais vou ter medo outra vez, não com Aryn, sempre me lembro dele quando engulo saliva, sinto a coleira, mesmo que sem propósito, ela me conforta muito. Agora, sozinho com ele, gostaria de conversar, porém sei que Thereza fala com meu senhor a todo momento e não devo atrapalhá-los, Aryn fica de pé a minha esquerda, olhando para aquela coisa negra enquanto o Sol bate diretamente em seu corpo. Fiquei o tempo todo esperando que ele falasse comigo, mas, isso não acontece, não tenho o que fazer, nenhuma ordem a seguir, assim só fico calado e quieto...

Então sinto uma dor forte na orelha direita, era Aryn, havia me dado um peteleco. – Sempre quis fazer isso. – não ousaria olhá-lo com raiva, nem havia, apenas confusão e felicidade por interagir com ele. Meu mestre coloca as mãos em cada ombro meu, e simula algo parecido com uma massagem. – Ansioso? Vamos para um lugar muito perigoso...

— Não, confio no senhor, minha vida é sua até o fim. – represento em voz o que meu coração sente.

— Tenho dois tipos de magia Klyce, sombra e gelo, me pergunto se elas podem defender tão bem quando matam. – duas... Então aquela tempestade fria em Cenkedoz... A surpresa enche meu corpo, meu senhor é mais fantástico do que posso imaginar, magos com duas magias são difíceis de encontrar.

— Fico muito grato em ser digno de tal proteção. – queria me curvar a ele, mas isso significa minha morte agora.

— Bom, quase meio dia... Quer comer alguma coisa, se aliviar, sei lá, quando formos, não saberei quando vamos voltar. – estou tão cheio pelos últimos dias que não sei se vou precisar comer outra vez, sempre me fizeram ter uma dieta fixa, me deixar em forma.

— Não é necessário senhor, estou, hunf...

Com sua força Aryn tira-me dali e me levanta, fico de pé e sinto suas mãos saindo de mim, bate em minhas costas e faz com que eu vá até as mochilas que organizei ontem, se me manda comer, fico feliz e emocionado em obedecê-lo.

 

O Nanci abre outra caixa ao momento que ouço passos, fico observando o lobo, querendo saber quando vai notar também, julgo estarem a uns cinquenta metros, mas, as pedras ajudam muito, mais ou menos com quarenta vejo as orelhas dele se movendo em sincronia, alertado Klyce abre a boca suja de molho de carne para falar, mas o atropelo. – Sim, eles estão voltando... Só agora desfaço minha vigia, havia deixado um clone meu seguindo os dois o tempo todo e o desfiz agora que vejo estarem bem.

Cix lidera a fila, atrás dele, há apenas a mulher contrariando o que eu esperava, a surpresa é que não há outro humano como imaginei, mas sim uma bolsa de couro que desenterraram de debaixo de uma pedra, o olhar da mulher a mim agora exprime alegria, no entanto, não consigo fazer o mesmo, ela começou mal nosso relacionamento.

— Aryn, tenho uma boa notícia. – os dois chegam neste lugar mais reto, sem cerimônias Dasnok tira o que seja do oculto, Cixoam não faz menção de atacá-la ou me defender, então fico tranquilo, isso até ver o que era trazia...

Era um crânio humano, extremamente talhado por toda parte com uma perfeição medonha, a mulher traz aquilo em suas mãos com um apreço notável. – Os mestres de Allantra usaram muita magia, até mesmo abriram a tesouraria dos pergaminhos anciões para isso.

— E o que é? – pergunto novamente levando as mãos para trás de mim.

— É uma chave. – afirma Cix. – Dasnok o explicará melhor. – movo minha visão a ela.

— Os mestres conseguiram pesquisar bem sobre, a necromancia daquela estrutura é simples, não é tão poderosa, apesar de devorar qualquer magia que entre em contato, é feita para assustar apenas, mas, este crânio em especial tem um conjunto de runas específico, foram feitos vários testes e descobrimos um padrão para a abertura, este aqui é um protótipo, porém, posso seguramente afirmar que funcionará. – a confiança dela é interessante, pensei mais além também, o Nanci não pode mais ficar, nem mesmo se quisesse, é um risco deixá-lo com uma mulher assim, desconhecida. – Basta tocar este nos outros crânios de lá, o efeito será breve, mas vai resolver.

No entanto, como um voto de fé, vamos ver se isso é verdade. – O que esperamos então? Prepare-se Cixoam, vamos sobrevoar aquela coisa. Klyce, se apronte, você vem comigo, e Dasnok, agradeço sua ajuda, portanto, pode retomar sua vigia, se quiser, pode usar o que tiver nesta mochila, como recompensa.

— Muito gentil de sua parte senhor Aryn, vou rezar para que todos os deuses os protejam. – ela entendeu sua exclusão, fico feliz que seja compreensiva.

Me viro para ver o Nanci guardando a caixa da qual retirava seu alimento, limpa a boca com o antebraço e fica em prontidão, já Cixoam começa sua transformação medonha inicialmente. – Klyce, vamos literalmente para a boca da fera, tome todo cuidado do mundo e nunca saia de perto de mim, nem toque em nada, apenas observe certo?

— Sim meu senhor, eu entendo. – curvando-se, o lobo confirma toda a instrução, pois, Thereza tem razão, o que faria se ele morresse? Por minha culpa?

 

Não demorou muito para chegarmos naquela estrutura nefasta, as poderosas asas de Cixoam brilhavam muito e eram muito rápidas, trazia aquele crânio em mãos, e Klyce nas costas, era hora de saber, aquela mulher não fugirá de nós caso mentir...

Espero o momento exato e a largo como uma pedra qualquer, a vejo cair e noto os olhos roxeados que Cix havia relatado, a caveira branca vai sumindo enquanto o dragão circula aquela gigantesca estrutura, e então, com um som ruidoso e monstruoso algo acontece, o brilho dos olhos acentua-se, e a boca negra se abre com uma velocidade baixa, o que acontecerá agora depende apenas de duas coisas.

— É ali Aryn, tenho total certeza. – apenas uma coisa. – Vamos destruí-lo! – agora não falta mais nada...

Bato a mão aberta no pescoço de Cixoam. – Desça! Nossa chance é agora! – com um rugido alto e confiante, o enorme dragão branco mira a cabeça para a boca aberta da criatura, seu corpo o segue, um arrepio sobe em mim ao momento que nos aproximamos, os dentes negros passam por nós, e abaixo, há algo ainda mais diabólico do que imaginaria em dez pesadelos, no entanto, era hora...


Notas Finais


Parece q eu fiz o combinado não é mesmo?


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