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História Crônicas de Althunrain - Rei Lich - A Justiça Congelada


Escrita por: Tulyan

Capítulo 11 - A Justiça Congelada


Fanfic / Fanfiction Crônicas de Althunrain - Rei Lich - A Justiça Congelada

As folhas negras das árvores se mexeram com um leve vento, um arrepio de batalha subiu por minha espinha com força. Mexi a foice e me coloquei afrente de Aaron por sua proteção, apertei a Joia das Sombras em minha mão ao pedido de Thereza, eu não entendia bem como ela usa-la, mas ao menos o básico me foi ensinado. Sentia sua energia estranha, algo quieto e ácido, eu diria. – As sombras Aryn... – ela falou, com poderio na voz.

— Terei de matar... – falei rangendo os dentes, Ehras baixou a minha direita e vi, dentre a leve escuridão, observei formas humanas saindo com armas em mãos, arcos de madeira e espadas prateadas se apontavam, portados por homens diversos, destes, quatro estavam encapuzados com peles de animais, assim como seus trajes volumosos, outros quatro trajavam metal no corpo, este acima de algumas camadas de pano enegrecido pelo tempo.

Suas vozes eu tentava discernir, pois gritavam algo agressivo, violento e tumultuado. Olhei-os vendo a maioria jovens, um ódio fluía deles, um ódio assassino. – Ladrões de estrada!? – perguntou o Nanci atrás de mim.

— Não. – estavam bem dispostos demais, tinham organização, pelo que já vi, ladrões comuns são um bando de homens destreinados e fracassados, sem honra em quase todos os casos.

Salvo aqueles sem escolhas, é honorável dar a eles punição ou outro meio de vida, mas nesse caso... Os quatro de armadura vieram num só movimento com espadas prontas e ora, escudos de bronze e madeira, os outros se agruparam fora de minha visão. Mas bem, vieram em boa hora, poderei ver o quão forte é a Joia das Sombras, mas antes, tentarei evitar sangria.

— Vão embora eu aviso! – disse encarando os quatro que vinham. – Não vou repetir! – arqueei as pernas preparando um salto.

— Olha só, ele tem coragem! – disse o mais à direita. – Não ache que pode conosco, nosso Mestre Gerem foi claro! – elevou a voz para todos. – Ninguém fica fora! Todos... Ainda mais esse escravo ai! – seu olhar oculto por um elmo fechado como o de todos na linha de frente, passou por mim, pude senti-lo enojado pela presença do Nanci.

Não sabia onde exatamente Aaron estava, mas o sentia a poucos metros de mim.

— Cale a boca Frin, vamos acabar esse negócio, essa foice... E essas botas, me parecem caras demais pra um só carregar! – outro falou com ganância, meus olhos vidraram nele, esperei apenas um pedido de Thereza.

— Mostre nosso poder, afugente-os para que encontremos Slayn. Sem restrições, criminosos não merecem piedade Aryn. – concordei e fiz o primeiro ataque.

Girei a foice sobre mim deslizando a mão por seu cabo, de modo a ficar com a lâmina mais próxima de meu punho, bati a base no solo com força e dele, puro e azul gelo se espalhou em meia lua, violentamente lançando espinhos desordenados a todo canto, o susto faz três darem um passo vacilante para trás, salto com força girando o corpo, minha mão agora vai perto da base, e o cabo é quem atinge os ladrões em cheio. O metal de seus frágeis escudos e suas armaduras se contorceram, e posso jurar que ouvi ossos quebrando no primeiro a atingir.

Bronze não é bom contra ataques esmagadores, isso é obvio. O primeiro a levar meu golpe não se levantará por algumas semanas. Não dei chances, com o movimento forte continuei o ataque girando as pernas num salto giratório e aéreo, com essa força lancei dois ao chão sutilmente coberto de neve.

Mas havia um que se safou, Frin, ele mostrou bons reflexos posso dizer, o primeiro a levar meu ataque estava desacordado, os outros dois de armadura que lancei ao chão não se levantavam, independente do esforço, pois o gelo das botas os consumia.

— O que é isso? Ele é um mago!? – gritou um daqueles mais atrás com espanto ao ver os dois corpos sendo tomados por azul frígido.

— Não importa! – gritou Frin. – Lancem! – ordenou, e vi, aqueles quatro estavam conjugando uma magia forte pelo tempo que tiveram. – Lancem!!! – disse mais uma vez quase em desespero.

Eu causo isso nele? Ótimo...

Apenas três pousaram as mãos nas costas de um, que agora noto portar um amuleto esverdeado com algo negro encrustado em seu meio. Vi desenhos breves se aprumando em seu corpo como tatuagens luminosas sob o couro e pêlos das roupas, de cores azuladas via uma rajada arcana se projetar dele, suas mãos estavam erguidas em minha direção. Não havia nada entre nós, um disparo certeiro, e então num urro. – Rhaaa!!! – ele a liberou.

Mal tive tempo de me proteger, não sei se eu sair daqui Aaron não será atingido. Me mantive firme, Thereza não falou nada quanto a isso, aquela luz chegou em mim rapidamente, preparei-me para dor e queimação, mas não, quando o clarão se extinguiu segundos depois olhei a mim mesmo, não havia sequer saído do lugar.

Pousei os olhos nos feiticeiros, não são magos nem de perto, eles tinham uma cara de susto e medo paralisante. – Impossível! – cuspiram em raiva. – Como!

Sem falar nada olhei para trás, havia uma árvore a minhas costas que queimava, tudo no caminho fora o que eu defendi, virou cinzas ou brasa. Temi por Aaron, mas ele estava longe, a minha esquerda onde se escondia por trás de uma pedra alta, pelo ombro observei sua orelha esquerda.

— Quem é você! – Frin perguntou tarde demais.

— Seu inimigo! – respondi voltando ao ataque, ele não é problema algum, mas os feiticeiros em segunda opção pegaram arcos ocultos por detrás das costas, ao meu ver, essa magia era para caso de emergência, mas eu causo tanto medo assim?

 Preparavam flechas de ferro trazidas de alfavas de couro nas costas, mas meus passos são rápidos demais para eles, dois e mais três, estava perto, perto demais, levei a mão esquerda fechada a um deles, em defesa usou seu arco como escuro, este era o plano, a madeira se partiu facilmente, a força que usei foi tamanha que isso não fui parado, o atingi no rosto, ele tombou logo em seguida. Os outros recuaram de costas, mirando em mim, chegou a hora de usar a Joia...

A apertei no puno e desejei, corri para a esquerda e como falou Thereza, saltei dentro da sombra de um pinheiro. Em suma, a Rainha me disse que a Joia permite o controle das sombras, tal como saltar nela, como fiz, e dela, posso surgir onde possa haver escuridão mesmo que rala, só preciso que seja grande o suficiente para que meu corpo passe.

Emergi como um monstro atrás de um dos bandidos, em silêncio toquei a mão em sua nuca e com um impulso de emergir levei sua face ao chão com força, ouvi seu nariz quebrar e sangue brotar em meio ao solo e neve vaga. Em desnorteação os bandidos mal entendiam o que ocorreu, segurei Ehras perto e mirei num deles, fiz um corte em pleno ar, uma linha branca se formou como em Nuatzel, mas bem mais fraca, tal ataque bateu no homem e o cortou levemente, mas o lançou alguns metros. Voltei a saltar nas sombras, pois estava exposto ali dentre os inimigos, via meio escurecido tudo a minha volta e apenas por vontade me projetava a cada árvore como um vulto negro. Com curiosidade tentei fazer isso nos pés de um daqueles homens, consegui felizmente emergindo a sua frente, seus olhos se arregalaram por me ver de perto, ele soltou um grito covarde e mesmo com esse clima o via suar, em rendição ele largou seu arco no chão, mas num movimento rápido bati as costas de minha mão esquerda em seu rosto, um estralo e ele caiu desacordado.

— Ei! – gritou alguém, olhei ao longe surpreso do quão longe me desloquei.

Aos pés do humano, Aaron, ajoelhado com as mãos na nuca, três arqueiros estavam em suas costas com as flechas prontas para matá-lo, eu não os vi? Malditos ratos sorrateiros...

— O que acha de matarmos esse lixo aqui? Ele não deve ser importante pra você eu acho? – seus olhos tinham fúria, fúria que mascarava desespero.

— Sinceramente... Eu não me importo, ele não é conhecido meu. – minha fala fez Aaron me olhar. Confuso, desolado, triste? Não sei. Estava a dez metros deles, teria de tentar algo arriscado. Muito arriscado.

— Ei! Não mova um dedo! – alertou me mostrando sua espada no pescoço do Nanci. – De qualquer forma, ele deve ser de alguém, um prejuízo muito grande...

— Eu não matei ninguém até agora. – apertei a mão no cabo de Ehras sentindo seu poder vibrar. – Vou ter de matar Thereza. – falei a ela em pensamento.

— Certo, mas por que tanto? Por um mortal?

— Eu gostei dele... – respondi sinceramente.

— Largue sua arma! – mandou Frin.

Olhei Ehras, dei um passo para trás e ia largá-la, mas outro ladrão de armadura se levantou, um problema... Devia ter ficado deitado como os outros...

Finquei-a nas sombras de uma Faia, com a ponta da azul lâmina apontada a ela. Me virei devagar, queria notar tudo com a visão, os arqueiros estavam de olho em mim, mas com as mãos firmes aos arcos apontados ao Nanci.

— Isso, agora, Erik, tome cuidado com ele, é algum tipo de mago... Nem o feixe arcano fez efeito nele... – com surpresa os dois se entreolharam, nesse momento observei o Nanci e levei meus olhos ao chão que ele se ajoelhava, entendendo bem o lobo se curvou para frente com leveza.

— Eu não quero matar vocês... – falei calmamente.

— Darei dez segundos pra se render! – gritou Frin.

— Darei dois. – retruquei. – Vocês só têm feridos até agora...

— Cale a boc-

Antes que fechasse a palavra desapareço nas sombras, como se mergulhasse de costas num rio negro, surjo afrente de Aaron, usando sua sombra como ponto de ressurgimento.

Em resposta os três soltaram as fechas. – AAahh! – urro furioso, levei as mãos de meus lados a minha frente, de mim, como se tempo ficasse lento, sentia energia fluir desde a cintura até a palma aberta, com vontade lancei uma rajada de gelo cortante que uivando fez camadas sobre a pele dos arqueiros.

Os projéteis letais ficaram estáticos no ar com uma linha de gelo partindo deles até os arcos, todos foram congelados numa velocidade absurda, as expressões de horror foram fixadas em gelo translúcido. Durou apenas três segundos, mas uma área cônica de nove metros foi afetada.

Olhei o Nanci afrente de mim. Seus olhos estavam em meu rosto lacrimejando em susto e admiração, diria. – Aryn! Cuidado. – falou em alerta tentando se levantar.

Erik aproveitou minha distração para atacar-me pelas costas. Mas havia dado a ele uma morte a tempos, sua espada caiu rumo ao meu pescoço, nem me virei, uma breve olhada e pude pegar sua espada com a mão direita nua.

Agora sim o encarei... Sua espada se congelava rapidamente e por precaução a soltou, dando atenção a Frin, que como pensei, já fugia, lancei a espada em seu braço esquerdo o atravessando e o fazendo gritar, a força foi tamanha que ele voou brevemente e caiu rolando de lado no chão, nem precisei olhar, apenas deduzi com o som de seus passos.

Meu olhar constante fez Erik encolher em medo. Minha voz o fez se mijar. – Vai morrer como um covarde... – pessoalmente eu o usaria para um teste.

Com velocidade e certa violência agarrei seu pescoço e sem fala o lancei a uma árvore mais perto. Cronometradamente a Joia cintilou seu negro belo sob minha mão e de imediato a usei. Por meu desejo ele foi sugado pela sombra e saiu naquela Faia em alta velocidade. E já pronta a foice enterrou-se em seu peito saindo em suas costas manchada de sangue, ainda não entendendo o que houve, ele engasgava com seu sangue e logo faleceu.

Suspirei pesado aliviando a tensão de meu corpo, apenas quatro... Não cinco mortos, parece que enterrei a cara daquele homem com muita força. – Aryn... – o lobo falou me trazendo de volta. Levei minha pele a sentir a Gema de Samuel, a deixei na minha bota direita para que não a perdesse, e estava lá, junto a minha panturrilha. – Desculpe ter sido inútil... Eu, eu acho que te devo mais uma não? – falou com certo receio, a Joia parecia menor do que me lembrava, se antes era do tamanho de um melão, agora era uma maçã, estranho...

— Você é meu amigo Aaron... – sorri para ele. – Se levante e vamos procurar Slayn... - Olhei Frin que gemia de dor. Quase me esqueci. – Pegue a armadura dele, não vai precisar...

— Mas esse humano ia me matar! Eu vou sangrá-lo! – olhei o Nanci com reprovação.

— Ele vai ser de tua responsabilidade, pois será nosso prisioneiro... Os outros vão morrer congelados, aqui... – ele abriu a boca, mas intervi. – Faça o que peço Aaron.

Com minha frase ele olhou a mim e assentiu. Fui buscar minha foice confiando que ele não faria nada errado, o lobo parecia ter muito respeito por mim, isso é bom, pois estou criando o mesmo por ele. Retirei o corpo da lâmina e peguei Ehras, a balancei para limpá-la com um par de movimentos secos. Me virei para encarar a cena em que Aaron terminava de afivelar as calças de ferro de Frin que estava encolhido usando pelas os trapos de peles, sem nada em defesa. A espada de ferro foi puxada por Aaron com ira de seu braço e os gritos de dor soaram. – Amarre as mãos dele nas costas... Use... Aquilo ali. – apontei ao homem que esmaguei a face, em suas costas haviam fibras de couro que passavam por seu ombro e prendiam a aljava, agora sem flechas, pois estas foram espalhadas sobre ele.

O Nanci foi guardando a espada num pedaço de couro grosso em sua cintura com o formato de laço e pegou o que queria ignorando o cadáver, parecia ter raiva daquilo, sob meu olhar, o homem, Frin, não se movia, deixei a foice ser abraçada por mim e sua lâmina cair em minha nuca descontraída. Aaron voltou e empurrou o ladrão a terra, pisou em suas costas, cruzou seus pulsos e os amarrou com força. – Está feito Aryn. – disse, mexi a cabeça levemente e fiquei de lado.

— Eu nem precisei usar minha foice contra vocês humanos... A sua laia não merece tal honra. O Nanci o levantou para que fossemos.

— Tire as mãos de mim imundo! – rugiu com raiva da derrota. O lobo me olhou e apontei ao prisioneiro com um leve sorriso.

Um soco bem dado veio veloz, Frin cuspiu sangue, o Nanci levou a mão ao alto mais uma vez. – Já acabou Aaron, vamos levá-lo com menos danos... – o lobo me olhou pelo ombro, seus olhos esmeralda ficaram amenos.

— Está bem. – ele puxou o homem pelo braço e o empurrou para meu rumo, seu sangramento foi longe do osso, apenas cortou o músculo, não vai morrer... Eu acho...

— Ele trata você como um escravo. – falei, as orelhas do lobo se aprumaram. – Por que não leva esse porco pela coleira Aaron? – disse rindo da ironia. Tal sorriso apareceu na boca do Nanci, ele fez um laço com a corda restante e passou no pescoço do Frin com firmeza.

Eu deveria repudiar isso, mas eu não me importo com ele sinceramente, isso que passa a minha frente iria matar um ser vivo sem hesitar. Não merece minha piedade... Sentia a felicidade do lobo estampada em seu rosto branco, vingança talvez? Não importa, Frin não vai falar onde está seu Mestre, então vamos pelo cheiro de Slayn, o plano original.

(Duas horas e meia depois)

Já via um Sol raro de onde vim, meu passo era rápido pelas árvores densas, Aaron conseguia me seguir na maioria do tempo, mas o prisioneiro precisava parar as vezes, o Nanci agradecia uma parada também, eu e ele conseguíamos sentir o cheiro de Slayn, mas estava distante, e nesse passo não sei se conseguiríamos alcançá-lo.

— Água... – disse Frin com a voz seca. – Por favor... – ele estava sentado na neve com Aaron vigilante ao seu lado, o Nanci parecia soberano sob uma caça, afinal como seria ele caçando um Artral? Estranho de pensar...

— Ficou manso? – levei meus olhos a ele. Aaron o encarou. – Quer água Aaron? – perguntei.

— Não se preocupe senhor, mas não negaria se tivéssemos. – falou cordial.

— Mas existe água aqui, nas árvores, no chão, e abaixo dele. – expliquei, mexi a mandíbula enquanto perguntava a Thereza. – Bom, eu posso criar gelo, e portanto, água... – andei em seu rumo, estendi a mão esquerda para frente e dela uma cuia de gelo se formou, neve surgiu em seu centro e logo virou água, cristalina e gélida.

Entreguei ao meu companheiro, o lobo tentou pegar aquilo o mais breve possível, mas parecia difícil, mesmo que agora usasse luvas de couro reforçadas por ferro. Às vezes esqueço de minha imunidade... Mas ele tomou vários goles rápidos e apertou os olhos. – Gelado! – falou com um sorriso, olhei o mortal brevemente. – Obrigado.

— Dê um pouco a ele, mas tenha cuidado, esse tipo é traiçoeiro... – olhei ao redor para conferir qualquer coisa, o lobo se abaixou afrente do prisioneiro e lhe fez beber dois pares de goles, eu estava curioso quanto ao meu limite agora, conversei pouco com Thereza desde que acordei, segundo ela, estamos regenerando nossa magia ainda, e isso faz quase um dia todo...

Senti mais um vento suave vir do Norte, lançou cabelos brancos em meus olhos brevemente, e sorri com essa beleza, tão polar essa minha terra.

Aaron puxou a corda no pescoço do ladrão e o fez se levantar, apontei com a foice para uma direção. – Sinto o cheiro dele por ai, e você? – perguntei ao Nanci, ele fungou o ar e assentiu.

— Sim, fraco, mas está naquela direção Aryn. – ia andar, mas parei, me virei aos dois.

— Confira as amarras dele... – disse do nada, uma dúvida minha.

Tomei a corda do lobo branco e fiquei encarando Frin, ele parecia tenso, minha foice pousou suavemente em seu pescoço como ameaça, observava seu rosto bem melhor agora, os olhos castanhos como os cabelos quase me lembravam o humano Bosi. – Estão firmes senhor. – falou mais uma vez o lobo.

— Então vamos. – eu realmente não sei o motivo desse ataque, mas haverá retaliação, severa retaliação, ainda me pergunto o que eles são, ladrões não fazem magia daquela forma.

— Aryn. – falou Thereza. – Sente agora nosso poder? Acabo de regenerar nossa mana, bom, antes de ganharmos o novo fragmento...

Isso demora demais não? – retruquei amigável enquanto desviava de um aglomerado de pedras.

— Pense assim, tens um cálice, este cheio é nosso máximo, se esgotar acabou, mas um mínimo pode regenerar cada vez mais rapidamente, assim que pegamos o fragmento, como posso dizer, nosso cálice aumentou de tamanho em todos os sentidos, então é o dobro de tempo para conseguirmos tudo, fiz o máximo para chegarmos a metade.

— Ah sim... Entendo... Mas e aquelas sombras? Foi fantástico... – disse com entusiasmo.

— Vi tua performance Aryn, fantástico... Teu domínio é nato, não me veio à mente perguntar antes, mas, tu conhecias magia antes de nós? – perguntou e neguei sem a voz, percebendo que estaria falando sozinho, me limitei a disfarçar. – Entendo, tu és um tipo Mundial...

— O que? – perguntei estranhado o nome.

— Aqueles que tem habilidade de nascimento, explica por que tu consegues realizar tais façanhas... Tem esta proficiência arcana excelente... Bom, se não se importa, ei de voltar ao meu descanso, vou procurar-lhe quando acabar certo?

— Está bem... – movia a mão para afastar alguns galhos baixos, com um suspiro senti um cheiro mais suave, não sabia bem o quanto andamos, ou perto de onde estávamos. Mas o cheiro de Slayn estava próximo, junto com fumaça, olhei para o alto a fim de percebê-la, esta não era visível...

 

O Sol já havia passado de seu pico e as nuvens o cobriram dando a natural cobertura prateada que amo, sentia o vento fresco em meus pulmões e uma estranha sensação de bem estar, será é pela mana restaurada?

Aaron puxava o humano como se fosse um cavalo desobediente, este estava aflito com algo, seria por estarmos perto de seu esconderijo, ou de inimigos dele... Bom isso eu não perguntaria, pois haveria mentiras na sua voz. As árvores comuns nessa região, tinham seu tom agora mais esbranquiçado, não sei se estava mais frio pelo tempo, ou pela região, mas sei que estava perto de algum lugar perigoso, o som de água estava caótico e alto, uma cachoeira? Afastei alguns galhos de um abeto cheio de neve e vi, naquele horizonte, um precipício se erguer a minha frente, vasto e longínquo, a minha esquerda a algumas dezenas de metros, estava uma cachoeira larga e volumosa, de águas brancas e espumadas. Mais ao fundo, grandes montanhas brancas eram o berço deste rio, seus picos escarpados pelo vento eram prova das violentas tempestades glaciais que passavam por aqui.

Seu topo estava congelado, mas a água abaixo do gelo era veloz, mortal nem preciso dizer. Olhei o Nanci pelo ombro e o vi parado a pouco de mim, o humano exausto tremia enquanto respirava pesado. – Eles estão lá embaixo? – perguntei a ele, apontando ao fundo do relevo. – O silêncio dele me respondeu.

— Aaron, consegue ver alguma decida?

— Não senhor... É muito íngreme... – falou confirmando minha expectativa, era uma queda de trinta á quarenta metros, em pedras negras e água fria...

— Certo, o cheiro de Slayn está lá, isso é um problema... Façamos o seguinte, Aaron, tire a corda do pescoço dele. – disse sério e me virei, caminhei rumo aos dois a tempo do lobo livrar o homem do laço. – Você vem comigo... – segurei a gola de sua roupa com a ponta de Ehras e o puxei a mim. – Tem medo de altura?

Olhos arregalados e tremedeira o caracterizavam, medo e pavor dominavam-no em minha proximidade. O levei a minha frente, soltei-o da lâmina e chutei seus joelhos na parte de trás a modo que se ajoelhou.

Ainda não sei explicar se foi azar, ou apenas o destino, mas quando ia saltar dali junto ao humano senti o chão tremer, e um barulho alto, antes mascarado pelas águas, agora eram passos de gigantes em fúria, sons de árvores quebrando eram audíveis, preparei minha foice para o que viesse. – São trolls? – Aaron gritou pegando sua espada de ferro, aquilo vinha rápido de nossas costas, rápido demais.

Sua voz era pequena e fraca comparada aos estrondos, meus pensamentos foram a Thereza. Ela respondeu-me e adrenalina veio de imediato. – Pior! Avalanche! – disse mais alto que podia.

Corri ao Nanci desavisado e vi aquela imensidão branca chegar cada vez mais rápido, mas tinha tempo, segurei a gola de sua armadura por trás, o puxei com força e o joguei perto do ladrão. – Confia em mim Aaron? – perguntei rápido. Confuso ele atropelou os pensamentos. – Confia em mim! – disse agora mais forte.

— S... Sim! – respondeu com medo aparente.

— Quero que pule! – disse entendendo a loucura do pedido.

— O quê? Ficou maluco? – o olhei sério.

— Não confia em mim Nanci? – o fitei com um sorriso. Engolindo seco o lobo segurou o braço do humano.

— Eu te confio minha vida Aryn! – gritou antes de pular. Meio incrédulo de tal ato fiquei olhando o par de gritos acontecer e ficar mais baixo.

Ergui a foice, num comando a água da cachoeira vibrou como se um escudo enorme e invisível batesse contra ela, com a arma igual a um cajado, controlava uma monstruosidade líquida no ar, branco e inconstante. Trazendo aquilo do local de arrebentação, onde fica o caos branco, a coisa se alargou e tornou-se uma grande bolha d’água, ela recebeu dois corpos velozes e sua forma os amorteceu com sucesso, mirei a arma até uma das margens e com a urgência do que vinha atrás de mim os soltei de uma vez, nem tive tempo de saber se estavam bem.

Me virei para encarar a avalanche, meu punho apertou-se em Ehras e chamei. – Vamos lá Thereza! Me dê sua benção! – gritei com um fogo interior vívido, se falhasse, meu amigo morreria, este é um medo atormentador.

A foice cintilou, sua lâmina ganhou uma cor homogênea, lisa, poderosa e negra...



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