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História Crônicas de Heróis - Limites da Vida


Escrita por: UchihaAika

Notas do Autor


Oi galerinha :D

Capítulo 14 - Limites da Vida


Tsunade

 

 

 

Finalmente, aquilo pelo que ela temia desde o ato mais extremo de sua vida estava por acontecer. A guerra que ela havia causado demorou certo tempo para eclodir, mas ainda assim, eclodiu, e agora o exército do reino de Konoha organizava suas últimas configurações.

Tsunade era a herdeira do rei, e por isso, partiria para a guerra juntamente com aquele exército. Na última vez em que os reinos de Letoria haviam batalhado entre si, Tsunade tinha apenas quatro anos, e seu pai falecera naquele último combate. Mas ela sabia que havia também outro motivo para a sua partida junto com o exército de seu avô, algo que ele não tinha revelado: a culpa era especialmente dela, de estarem naquela situação. Ninguém precisava dizer nada para que ela tivesse certeza daquilo.

Seu corcel negro era calmo, e não era treinado para batalha. Aquilo fazia com que Tsunade tivesse certeza de que não participaria daquela batalha, apenas os acompanharia até o momento em que seu avô ainda julgasse seguro. Entretanto, Dan estava sobre um corcel de batalha experiente e alto. Aquilo a fazia temer, pois não imaginava como ele poderia entrar em uma batalha, sendo ainda tão jovem. Talvez fosse apenas o último cavalo que restasse.

–  Tome cuidado, Tsunade. Você precisa ser extremamente cuidadosa, sabe bem disso, não sabe?  –  Perguntou sua avó, Mito. Tsunade sorriu para ela, e segurou sua mão.

–  Eu sei. Tomarei cuidado.

Mito dirigiu seus olhos cansados a Dan, ao lado de Tsunade.

–  Sempre confiei que você a manteria a salvo. Fará isso, não fará?

–  Pode ter certeza.  –  Dan respondeu, mas há muito tempo não olhava para Tsunade, nem lhe dirigia a palavra. Ela acreditava que ele estava dizendo aquilo apenas para aliviar o coração da rainha.

Mito sorriu.

–  E tome conta de você mesmo também. É um garoto valioso, Dan.

–  Obrigado, vossa graça.

O rei iniciou seu discurso, e Tsunade tentou ao máximo não olhar para Dan, muito menos pensar nele. Havia muito tempo desde sua última discussão, mas ele ainda nutria uma mágoa excessiva. As palavras de Tsunade haviam saído em um momento de raiva e descontrole, mas Dan as escutara de tal forma que até agora guardava mágoas. Eu apenas queria que sobrevivesse, idiota. Prezo por sua vida mais do que você mesmo.

Todos os Lordes Protetores e seus vassalos gritaram, unidos em um coro que poderia ser ouvido pela cidade inteira e talvez até além do mar. O avô de Tsunade permanecia sobre seu cavalo com a espada erguida, e acompanhando o grito de guerra de seus subordinados.

Finalmente havia chegado a hora da partida. Mito deu um último beijo na mão de Tsunade, e ela pensou, naquele instante, sobre como seria ter uma mãe de verdade, que a apoiasse naquele momento crucial e dissesse que tudo ficaria bem, que ela não era culpada. Ao invés disso tenho aquela mulher que sequer sai do próprio quarto.

A coluna começou a andar e Tsunade estava ao lado de seu avô, guarnecida por ele, seu tio-avô, Dan, e todos os cavaleiros integrantes da guarda real, com suas armaduras douradas e seus mantos vermelhos reluzindo em meio àquela paisagem cheia de tantas pessoas.

Por dias e mais dias eles marcharam.

Tsunade tinha a companhia das curandeiras que acompanhavam o exército, vez ou outra de bardos, cantores e contadores de histórias, e até mesmo aspirantes a bobos que faziam asneiras sem graça a fim de chamar sua atenção. Dan não conversava com ela, sequer lhe dirigia o olhar, e aquilo era excruciante. Ele era tão estúpido e irritante! Mas Tsunade não pediria desculpas. Não havia motivos claros para aquilo. Suas palavras haviam sido da boca para fora, e Dan sabia muito bem daquilo, pois a conhecia desde sempre. Já haviam passado por diversos momentos como aqueles, e nunca antes ele tinha ficado tão aborrecido.

Os caçadores que acompanhavam o exército traziam as melhores caças para a honra da futura rainha, a fim de mantê-la forte e saudável. Fome Tsunade não passava, tampouco sede. Havia inúmeros homens que faziam para ela tudo o que precisasse e ainda mais, pois estes tinham esperanças de um dia serem chamados para ter a honra de ser marido da futura rainha. Tsunade apenas os desprezava, mas gostava que fizessem tudo por ela, sem que se esforçasse para nada.

Em uma noite, enquanto dormia, Tsunade sonhou que a guerra chegava até eles, com o exército de seu avô completamente despreparado, os soldados em suas camas, incapazes de lutarem por si mesmos e por seu reino. Um homem de cabelos e olhos negros, muito parecido com aquele que ela havia assassinado, atravessava uma espada em sua barriga, e a dor era excruciante, terrível, insuportável.

Acordou-se no meio da noite temendo ter sido assassinada, a dor em sua barriga continuou mesmo quando estava com olhos abertos, era como se algo estivesse sendo retorcido dentro de seu corpo. Ao levantar-se para tomar água e tentar acalmar os nervos que estavam à flor da pele pela iminência de uma batalha sangrenta, afastou as peles que a cobriam, e enxergou sangue entre suas pernas, manchando sua roupa de dormir e a cama desconfortável que era facilmente desmontada e montada para que ela descansasse.

Tsunade gritou, e levou a mão até a barriga, temendo que houvesse algo de real em seu sonho, afinal a barriga ainda doía muito.

–  Tsunade?!  –  Seu avô a chamou, assustado. Eles dividiam o pavilhão, pela segurança de Tsunade.

–  Vô! Vô!! Tem sangue!!

Não estava chorando, pois não permitia aquilo a si mesma. Ainda assim, temia que estivesse morrendo.

Hashirama correu até ela, mas quando enxergou sua situação, pareceu não ficar tão assustado quanto ela estava. Acariciou seus cabelos.

–  Sua avó falou sobre isso com você, não falou?

Tsunade não entendeu sobre o que seu avô falava em primeiro instante. Estava nervosa demais, mal tinha clareza sobre os próprios pensamentos. Mas logo entendeu de quê se tratava aquilo. Então, chegou a hora.

–  Sim, ela falou.  –  Respondeu, sentido-se mais calma.

Sua avó dizia que a hora chegaria em breve, que estava demorando mais para ela do que usualmente demorava às garotas. Mas dizia que estava se aproximando, pois Tsunade já havia ganhado corpo de mulher. A queda de seu sangue apenas simbolizava que agora ela realmente havia se tornado uma mulher, capaz de encontrar um marido e carregar seu filho no ventre.

–  Agora você já é uma mulher completa. O que significa também que podemos encontrar seu marido em breve.

Ela não queria um marido, não naquele momento, com as possibilidades que lhe eram oferecidas.

–  Não quero me casar agora. Por favor, vô! Não com esses homens aqui!

Hashirama sorriu.

–  Fique calma, Tsunade. Ainda teremos muito tempo para decidir isso. Agora, suas aias a auxiliarão com os novos problemas. Volte a dormir, antes que fique muito cansada.

Seu avô não podia saber que, mesmo limpa, não dormiria durante o restante daquela noite. Sua barriga continuava se retorcendo, e as aias tinham colocado montes de panos entre suas pernas para impedir que o sangramento se espalhasse. O desconforto era extremo, e intensificado pelo medo de vir a se casar com alguém que não desejasse, apenas para casar de acordo com a grande rainha que viria a ser um dia.

Estava muito bem acordada quando os primeiros raios de luz do dia invadiram o pavilhão que dividia com seu avô, e começou a ouvir os sons do acampamento intensificarem-se aos poucos, além dos cheiros das mais diversas comidas.

Levantou-se e lavou o rosto com a água morna trazida pelas aias, trocou a roupa de dormir por um vestido mais fechado, nas cores vermelho e dourado de sua Casa. Quando saiu da tenda, a mesa de madeira estava posta diante dela, com as mais diversas comidas. Os pretendentes, como todos os dias, traziam os agrados. Naquele momento, Tsunade sentiu-se ainda mais incomodada com a presença deles do que em qualquer outra vez.

Ignorou-os ao máximo, alimentando-se apenas do que já estava colocado na mesa. O tio Tobirama chegou, para seu alívio, e ao percebê-la incomodada com aquelas presenças, mandou-os embora dali. Dan também chegou, mas como em todos os dias desde que haviam deixado a capital, sequer olhou em seu rosto. Tsunade sentiu ainda mais raiva dele naquele momento, e quase não conseguiu segurar ao impulso de gritar para ele que deixasse de ser idiota.

Hashirama apareceu para o desjejum um pouco mais tarde que os demais, mas parecia sempre tão tranquilo que sequer demonstrava estar prestes a entrar em uma guerra.

A tranquilidade do rei apenas deixou de existir quando os batedores chegaram com rapidez ao centro do acampamento, sem desmontar dos cavalos, como se tivessem realmente muita pressa. Tsunade sentiu seu coração gelar naquele momento.

–  Vossa graça! Vossa graça!  –  Um deles gritava, alarmado.  –  Os Uchihas chegam pelo sudeste, em grande número, a aproximadamente quatro horas!

–  Quatro horas.  –  Hashirama repetiu. Levantou-se rapidamente da mesa.  –  Preparar para a partida!

O acampamento, antes pacífico, virou uma confusão de escudeiros e cavaleiros correndo de um lado para o outro. Mesas eram derrubadas, comidas e bebidas desperdiçadas, pois todos precisavam ficar prontos o mais rápido possível.

–  Venha, Tsunade. Dan.

Ela seguiu o avô para dentro da tenda, onde um grande mapa estava estendido sobre uma mesa com as peças postas sobre ele. Os principais generais do exército dos Senju começaram a chegar, com os escudeiros ainda auxiliando-os a colocar as armaduras. Tsunade lembrou-se de quando Dan ainda era escudeiro de seu avô, há um ano, e pensou sobre como ele nunca tinha tido um trabalho tão árduo como aquele que era desenvolvido durante uma guerra.

Os batedores apontaram no mapa o local onde tinham encontrado o exército Uchiha.

–  Eles contam com aproximadamente vinte mil homens.  –  Disse um deles.

–  Vinte mil é basicamente a mesma quantia que temos. Não existe desvantagem numérica, teremos apenas uma batalha direta.

Não havia como existir desvantagens numéricas, pois os dois reinos possuíam quase o mesmo tamanho, e há muitos anos não se envolviam em guerras. Seus soldados estavam muito bem vivos, com tanto tempo distante de batalhas perigosas. E agora grande parte deles morrerá, e a culpa será minha… sua futura rainha.

O avô de Tsunade traçou poucos planos para a batalha. O principal seria o combate frontal, afinal aquele parecia ser o objetivo dos Uchihas também, segundo o relato dos batedores. Eles diziam que os Uchihas não traziam qualquer grande arma, apenas sua infantaria e sua cavalaria, com espadas, lanças, arcos e todas as armas individuais. Os estandartes da fênix esvoaçavam em todos os cantos, assim como o dragão vermelho em fundo dourado dos Senju agora esvoaçava em seus estandartes.

Após todos ouvirem os planos do Rei, deixaram seu pavilhão às pressas para organizar as tropas que partiriam para a batalha. Tsunade estava confusa, não sabia se devia vestir alguma armadura ou montar seu cavalo utilizando um vestido mesmo, e consequentemente, sendo quase uma completa inútil na batalha. Além de tudo, havia o monte de panos entre suas pernas que a incomodava em excesso.

–  Vossa graça!  –  Tsunade deixou de pensar sobre si mesma quando ouviu Dan falar com seu avô.  –  Faço questão de ir à batalha, ao vosso lado, protegê-lo do que for necessário.

O avô de Tsunade nada respondeu em primeiro instante, mas ela tinha certeza de que ele não permitiria aquilo. Dan era ainda muito jovem, havia sido nomeado cavaleiro há muito pouco tempo, e não tinha nenhuma experiência em combates diretos como aquele que estava por vir. Hashirama jamais permitiria que seu protegido marchasse ao suicídio, especialmente quando a Casa Kato estava toda ali, observando o modo como o rei tomava conta de um de seus integrantes.

–  Prepare sua armadura e seu cavalo. Talvez já seja hora de arrumar um escudeiro também, caso a guerra se prolongue muito.

Tsunade quase não pôde acreditar no que ouvia.

–  Permitirá que Dan vá à batalha?!  –  Perguntou, de maneira impulsiva, esquecendo-se por poucos segundos que há muito tempo não falava com Dan.

–  Sim, ele já está preparado para isso. Já você, ficará aqui no acampamento sob a proteção de alguns guardas. É arriscado demais para você ir até lá.

–  Levará Dan e me deixará aqui?! Eu serei rainha! Eu devo, mais do que qualquer um, estar lá!

Hashirama estreitou as sobrancelhas.

–  Você deve, mais que qualquer um sobreviver, e apenas isso, Tsunade. Fará como eu ordeno, pois sou o rei e seu avô!

Nunca tinha visto Hashirama ser tão enérgico em suas determinações. A guerra o deixava nervoso, mas ela não podia lembrar daquilo já que na última vez em que seu avô fora à batalha ela tinha apenas quatro anos.

Dan continuou sem respondê-la, e saiu do pavilhão do rei para preparar-se para a batalha. Tsunade estava incomodada com seu avô, mas estava ainda mais preocupada com Dan. Tudo o que conseguia pensar, era que Hashirama o tinha enviado para a morte, e aquilo a deixava extremamente preocupada. Necessitava que ele voltasse, e mais ainda, necessitava que ele soubesse que desejava a sua volta.

Sem responder seu avô e sem ouvir qualquer outra coisa que ele dissesse, deixou seu pavilhão com ligeireza, a caminho da tenda de Dan, que ficava logo ao lado. Quando chegou lá, entrou sem pedir permissão, e o encontrou lutando com a placa de peito que tentava vestir sem êxito. Quando a enxergou, pareceu incomodado.

–  O que quer aqui?  –  Perguntou. Tsunade sentiu um nervosismo estranho, e quase se arrependeu de estar ali. Mas o motivo que a trazia até ele era forte, e fez com que não desejasse recuar.

–  Dan, me desculpe. Você sabe que quando estou com raiva falo coisas sem sentido, então, por favor… Perdoe-me.

–  Por que está falando isso agora, Tsunade? Por acaso acha que eu vou morrer?!  –  Dan ficou extremamente irritado, e de alguma forma, conseguiu fechar um lado da placa de peito.  –  Você nunca acredita que eu possa voltar vivo, acredita?!

Então, aquele era o problema. Ela era estúpida o suficiente para não perceber antes, certamente, mas agora entendia. Sempre havia falado coisas rudes, e Dan sempre entendia que era da boca para fora. Mas ela tinha verdadeiras dificuldades em acreditar que ele pudesse voltar vivo de qualquer aventura que se empenhasse, e aquilo tudo era porque tinha medo de perdê-lo, ou de nunca mais ter sua atenção. Eu apenas queria ter você por perto, sempre.

Dan não conseguia fechar o outro lado da placa de peito de maneira alguma, enquanto Tsunade tentava pensar alguma maneira de falar aquilo que desejava sem ser constrangedora. Aproximou-se dele e fechou sua placa de peito, definitivamente. Dan olhou em seu rosto, e ela enxergou profundamente o que havia em seus olhos. Havia raiva, mas também havia algo a mais.

–  Eu tenho medo que você nunca volte… Ou que nunca mais fale comigo novamente. Sempre quando está com meu avô trata a mim como se não existisse, e isso incomoda… Se você se tornar um cavaleiro da guarda real tudo será sempre desse jeito, e você nunca mais será… você.  –  Disse. Talvez devesse ter dito aquilo há muito tempo, antes de ter falado as palavras horríveis que pensava terem feito Dan odiá-la. Tudo teria ficado mais claro, e eles não precisariam ter ficado distantes por tanto tempo.

Esperou que ele dissesse qualquer coisa, mas ele não diria nada, acabou percebendo isso em seus olhos verdes, agora profundamente alterados. Não havia mais raiva ali, apenas o sentimento estranho que Tsunade não sabia do quê se tratava. Quando seus olhos miraram os lábios dele, sem intenção prévia, sentiu uma estranha vontade de beijá-lo. A única ver em que alguém havia tocado em seus lábios, havia sido de uma maneira imunda que nunca sairia de sua memória, e aquela lembrança quase fez com que recuasse. Contudo, sentia algo por Dan há muito tempo, e naquele momento tudo ficava mais evidente para ela.

Beijou Dan nos lábios, e ele a beijou também. Era tudo diferente do que imaginava. Não havia como comparar aquele momento com o toque repugnante daquele homem Uchiha, era outra coisa, completamente diferente, tão cheia de consequências agradáveis que parecia mágica.

Quando parou de beijá-lo e olhou em seus olhos, viu o mundo de uma maneira diferente. Repentinamente entendeu o que sentia por Dan, e por que a ideia de perdê-lo e tê-lo distante a incomodava tanto.

–  Volte, Dan. Por favor, volte.

Ele segurou seu rosto entre as mãos, e manteve o contato entre seus olhares, que parecia para ela agora algo vital.

–  Voltarei. Eu prometo.

Ela o abraçou, e sentiu vontade de chorar. Permaneceu em seus braços por um tempo relativamente longo, sentindo a segurança que ele estava passando, aos poucos, para que não tivesse medo de perdê-lo. Agora ainda menos conseguia imaginar como seguiria sua vida caso ele não voltasse.

Quando saiu da tenda de Dan para deixá-lo terminar de vestir sua armadura, encontrou o avô já no lado de fora, completamente vestido por sua armadura dourada acompanhada por um elmo ornamentado com chifres e esporões de dragão. Sentiu medo que ele não voltasse também, e desejou estar ao seu lado, mas sabia que ele jamais permitiria.

Hashirama tirou o elmo e veio até Tsunade. Mesmo com as manoplas a atrapalhar, bagunçou seus cabelos.

–  Me desculpe por ter falado com você daquela maneira, apenas quero protegê-la, como não fiz com seu pai.

Aquela desculpa de seu avô cortou o coração dela em mil pedaços. Abraçou-o, mesmo que estivesse envolto pela gélida armadura, e sentiu uma vontade quase incontrolável de chorar.

–  Eu entendo.  –  Disse.  –  Tome cuidado, avô.

Ele beijou o topo de sua cabeça.

–  Esqueceu que eu sempre volto, pequenina?

A nostalgia tomou conta de suas memórias naquele instante. Lembrou-se de seu pai dizendo aquelas palavras quando ela era extremamente nova, e esperava sempre que ele voltasse vivo. As lembranças eram enevoadas, e talvez até tivessem algo de mentira, mas existiam e eram tristes. Eu o esperei por muito tempo, entretanto ele nunca voltou.

–  Promete que voltará? Você sabe, eu e a vovó precisamos que volte.

–  Voltarei, prometo. E sua mãe também precisa disso, afinal.

Após ele beijar seu rosto, deu as costas e partiu. Naquele instante, Tsunade deixou que as lágrimas que segurou por muito tempo escapassem. Não entendia por que estava tão sensível, mas sentia que precisava chorar como poucas vezes em sua vida chorava. E quando se deitou na cama em seu pavilhão para chorar, acabou dormindo, e tendo sonhos bonitos com seu falecido pai abraçando-a e prometendo voltar.

 

 

 

 

Kakashi

 

 

 

–  Eles se aproximam!  –  Kakashi ouviu os batedores avisarem o Regente. Madara Uchiha pôs um sorriso pequeno nos lábios, que poucos perceberiam.  –  Possuem a mesma quantidade de homens que nós, como o esperado.

–  Sim. E todos já sabem o nosso plano de batalha: é busca por vingança. A vingança por meus dois irmãos que foram tirados de nós, e nada além! Vamos à batalha!

A formação do exército já estava completa, tudo o que precisavam era marchar. Kakashi estava na vanguarda e, ao contrário do usual, Madara Uchiha também encontrava-se à frente da formação. Inicialmente Kakashi tinha achado estranho o fato de o Regente pôr a vida tão em risco, já que reis dificilmente faziam aquilo, mas entendia que ele tinha desejo de vingança pelos irmãos. Ainda assim, era estranho pensar que aquele homem, aparentemente tão indiferente à vida dos irmãos, agora carregava ódio suficiente dos que julgava culpados a ponto de estar literalmente á frente uma batalha que seria, sem dúvidas, a mais sangrenta que Kakashi já havia presenciado.

O exército Senju finalmente surgiu em seu campo de visão, e Madara Uchiha ergueu a grande espada que carregava consigo. A armadura de Madara contrastava entre as demais, negra com adornos de ouro, tão rica como jamais qualquer outra havia sido.

–  AVANTE AUSTERIN!  –  Gritou ele, e toda a cavalaria esporeou os cavalos adiante. A cavalaria vinha na vanguarda, e a infantaria na retaguarda, mesma formação que vinha o exército Senju. Entretanto, foi perceptível mesmo à distância, que o rei deles não estava na vanguarda assim como o Regente Uchiha estava. Aquilo certamente poderia ser motivo de vergonha para Hashirama Senju, o suficiente para fazê-lo batalhar diretamente com Madara quando fosse possível.

Durante todos aqueles dias de viagem que tinham tido desde a capital de Austerin até a fronteira com Konoha, Kakashi tinha desejado tudo, menos estar ali. Lembrava-se das viagens com Izuna, dos lugares que conheciam, e até mesmo de sua infância nos limites do vilarejo, e de seu casamento. Sonhava com a morte dos filhos que a esposa carregou consigo sem que ele soubesse, e desejava morrer quando acordava, de tão terrível que era a sensação de pegar suas crianças nos braços e perceber que elas não respiravam, e jamais chorariam ou ao menos cresceriam para sorrir.

Mas naquele momento, enquanto seu cavalo galopava com toda a velocidade que a vida lhe permitia, e ele sentia o vento entrar pelo visor do elmo e bater contra o rosto, sua vida parecia renovada. Sabia que entraria em uma batalha de onde talvez não saísse vivo, mas o sangue pulsava fervente por todo o seu corpo, e ele gostava da sensação… gostava de estar no limite. Em momentos como aquele, Kakashi entendia ainda melhor por que, desde pequeno, sonhava ser um cavaleiro.

Conforme enxergava com maior nitidez os cavaleiros que vinham no outro lado e os estandartes que carregavam, quase podia sentir seu corpo inerte. Os sentidos desapareciam pouco a pouco, dando espaço para uma pessoa com apenas um objetivo: vencer qualquer batalha em que entrasse.

Kakashi se esqueceu do mundo ao redor quando a primeira espada inimiga veio em sua direção. Defendeu o golpe a meia altura com a sua, e o som que a espada fez mal foi perceptível, pois logo ele devolveu o golpe com toda a ligeireza que possuía. A agilidade era uma das características principais de Kakashi, a que mais havia chamado à atenção de Izuna. O inimigo defendeu o primeiro golpe desferido, mas Kakashi moveu rapidamente a espada para o outro lado e abriu a armadura dele na altura da costela, ultrapassando também a cota de malha e alcançando a carne. Retirou a espada com a metade suja de sangue, e os cavalos sob eles agitaram-se de maneira desconfortável. Talvez seu inimigo tivesse urrado pela dor, mas ele não conseguia ouvir muita coisa ao redor. Apenas reparou que ele levou uma das mãos até a área ferida, e rapidamente desferiu um golpe em seu gorjal mal colocado. Aquilo foi mais que suficiente para matá-lo.

Um cavaleiro que vem com um gorjal mal colocado para a batalha merece a morte antes de qualquer outro.

Kakashi esporeou novamente seu cavalo, mas não andou por muito tempo. Uma lança foi arremessada em sua direção, mas ele desviou abaixando-se. Entretanto, ela ainda roçou em seu elmo, abrindo-o no topo. Logo a seguir, Kakashi encontrou outro inimigo, que desferiu contra si golpes ainda mais fortes que o primeiro que havia enfrentado, além de possuir uma espada com o dobro do tamanho da sua. Um fidalgo, certamente. Kakashi percebeu o pássaro anil sobre o fundo cinza pertencente aos Hyuugas, e logo entendeu por que o homem possuía uma arma tão majestosa. Contudo, aquilo nunca antes o intimidara, e agora intimidaria menos ainda.

Kakashi fez seu cavalo girar, seguindo os movimentos do animal de seu inimigo, enquanto trocavam golpes de espada em todas as maneiras possíveis. Ele tinha uma força incrível nos golpes, o que dificultava a defesa de Kakashi, e não permitia que seu tempo de reação fosse rápido o suficiente para contra-atacar. Em certo momento, o inimigo acertou um golpe em seu braço, Kakashi não foi rápido para defender-se por completo. Ainda assim, o pouco que conseguiu defender daquela espada, que possuía uma incrível lâmina que certamente era fatal caso o encontrasse diretamente, foi suficiente para fazer com que ela apenas afundasse o metal de sua armadura, e não o transpassasse. Entretanto, seu braço ficou espremido pelo ferro, e a dor foi forte a ponto de ele acreditar que havia sido cortado de alguma maneira, sem que soubesse como.

Naquele momento, Kakashi percebeu que não podia mais ficar sobre seu cavalo, pois estava mais atrapalhando do que ajudando. Ele havia nascido para infantaria, mas a insistência de Madara em mantê-lo na vanguarda fez com que se dissesse um cavaleiro de múltiplas funções. Não o era, assim como não devia estar naquela guerra… mas ali estava, e dali sairia vivo.

O Hyuuga continuou sobre o cavalo, e seus golpes, vindos de tão alto, eram ainda mais pesados… Mas agora a distância os tornava mais lento, e Kakashi podia acertar suas pernas com liberdade. O cavaleiro Hyuuga desceu a grande espada sobre sua cabeça, e Kakashi defendeu o golpe, lançando-a para o lado. Foi quando teve acesso livre às pernas do cavaleiro e fez com que sua lâmina atravessasse o aço que protegia a coxa do inimigo, abrindo ali um corte profundo. Pôde ouvir o grito dele, talvez mais de raiva do que dor. Mas seu braço ainda latejava, e ele sentia que precisava sair dali caso desejasse sobreviver. E ser reconhecido como um covarde por isso… mas o que pode ser mais importante?

Não tinha dúvidas de que tinha nascido para ser cavaleiro, mas tinha dúvidas de que nascera para lutar em guerras. Estava mais para um cavaleiro andante, capaz de conhecer o mundo inteiro… Era livre que deveria estar, e não vinculado a um rei ou um fidalgo qualquer que permanecesse apenas no mesmo lugar, sempre fazendo as mesmas coisas.

Kakashi quase não sentiu a aproximação de seu próximo oponente, mas quando percebeu, talvez já fosse tarde. O martelo de guerra bateu contra seu peito, e a tentativa de desviar do golpe certamente o havia salvado da fatalidade, mas o ar escapou de seus pulmões e por um longo momento pareceu não querer voltar. Enxergou o inimigo com o martelo aproximar-se novamente, e temeu que fosse tarde demais para pensar sobre desistir. Afinal, aquela era sua vida. O limite de tudo, e nunca a calmaria.

Ainda em tempo, Kakashi sentiu o ar penetrar seus pulmões, como se rasgasse os tecidos que o constituíam. Rolou para o lado, fugindo do segundo golpe do martelo, e com toda a agilidade que deus o havia presenteado conseguiu utilizar sua espada para acertar o cabo do martelo e fazer com que o peso deste fosse para o lado, desequilibrando o oponente. Com sua espada, rasgou a barriga dele, de um lado ao outro, abrindo a armadura como se fosse feita de papiro. O sangue dele jorrou em seu elmo e gotículas penetraram pelo visor, acertando seu rosto e seus olhos.

Kakashi respirou ainda mais forte naquele instante, e permaneceu de joelhos no chão, observando a confusão que a batalha havia se tornado. Homens eram agora pouco menos que animais selvagens, sedentos pelo sangue de sua caça, e o sangue… este havia em abundância, banhava o chão antes verde com sua cor fúnebre e seu cheiro sepulcral.

Entretanto, a batalha estava, aos poucos, paralisando. Todos os cavaleiros estavam largando seus oponentes para observar qualquer coisa, o que despertou a curiosidade de Kakashi ligeiramente, pois ele bem sabia que para fazer com que aqueles homens primitivos largassem seus oponentes era necessário algo extremamente grandioso.

Pôs-se em pé e caminhou alguns passos até compreender o porquê de a batalha ter se tornado tão silenciosa: o regente Madara Uchiha e o rei Hashirama Senju travavam uma batalha que certamente estaria nos livros de história futuramente. Vários reis Uchihas e Senjus já haviam estado naquela situação, mas a batalha que os dois travavam era especial por duas características: podia determinar a definitiva quebra de uma duradoura paz que nunca antes havia existido, e ambos eram os maiores espadachins de seus respectivos reinos. Izuna costumava comentar sobre como Madara havia nascido como se a espada fosse parte de seu braço, mesmo que o rei fosse Fugaku, quem realmente possuía o talento para a esgrima era Madara. E Hashirama era, desde muito jovem, portador da mesma fama em seu reino. Quem poderia ser o melhor de Letoria? A luta orgulhosa por aquele título certamente possuía um peso ainda maior naquele momento.

Observou o modo como ambos giravam co suas espadas e lançavam golpes precisos, ao mesmo tempo em que se defendiam com maestria. A batalha era quase como uma dança entre reis, uma dança tão bela e sincronizada que Kakashi não conseguia enxergar um fim. Ambos eram incríveis e empenhavam-se de igual maneira para ganhar o duelo, que custaria a vida do perdedor. Madara está aqui para derramar sangue Senju, e esta é sua oportunidade mais clara. Mas aqui… o primeiro que errar será aquele que morrerá.

Não sabia quanto tempo de batalha havia passado entre o regente e o rei, e também não se importava com aquilo. Era incrível observar seus movimentos precisos, e tentar pensar sobre como aquilo acabaria parecia loucura. Era como se nunca fosse acabar, pois nenhum dos dois estava disposto a errar.

Repentinamente, Kakashi percebeu algo tão rápido que talvez ninguém mais além dele tivesse percebido. Hashirama Senju paralisou por um segundo, como se seu corpo tivesse perdido o funcionamento. E certamente, aquele um segundo foi o suficiente para o astuto Madara Uchiha. A grande espada do príncipe Uchiha, com uma bela e reluzente lâmina prateada tão clara quanto as águas límpidas de um rio, atravessou o corpo do rei Senju tão facilmente que Kakahi teve a breve impressão de que não se tratava mais da mesma batalha acirrada que assistia há alguns segundos.

O que veio em breve foi rápido o suficiente para que Kakashi não tivesse um tempo de reação. Hashirama Senju foi ao chão, talvez morto, e outro homem com armadura nas cores Senju, que ele imaginou tratar-se do príncipe Tobirama, partiu para cima de Madara. Havia outro cavaleiro ainda menor próximo a eles, que foi até o corpo do rei Senju caído ao chão. Entretanto, grande parte do exército Senju começou a recuar diante dos comandos de seus principais capitães. Tobirama não desejava recuar, mas sua voz não tinha autoridade sobre todas aquelas pessoas em um momento tão fatídico quanto aquele.

Por fim, o exército Senju recuou por completo, mesmo que Tobirama tivesse saído dali completamente contra a própria vontade. Madara comemorou de maneira enérgica a vitória naquela batalha, e após ganhar o apoio de seus principais generais, chamou o exército para voltar ao acampamento, enquanto os responsáveis recolhiam os corpos que pertenciam ao exército Uchiha.

Kakashi demorou em encontrar seu cavalo novamente, mas enquanto voltava para o acampamento, não conseguia deixar de pensar sobre como aquela batalha entre reis havia sido estranha. Hashirama havia paralisado completamente naquele segundo, e Kakashi sabia o suficiente sobre esgrima para ter certeza de que simplesmente paralisar não era algo comum entre uma batalha. Talvez o rei estivesse doente, mas daquilo ninguém tinha ouvido falar sobre. Mas o que mais poderia explicar um apagão, senão uma doença? … Bem, de nada me adianta ficar pensando nisso. Respostas alguém como eu não encontrará.


Notas Finais


Cheguei com a tal batalha e... suposições sobre o que aconteceu????
O próximo capítulo provavelmente será bem grande, aviso desde já. Até lá!


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