1. Spirit Fanfics >
  2. Crônicas de Heróis >
  3. O início de seu desmoronamento

História Crônicas de Heróis - O início de seu desmoronamento


Escrita por: UchihaAika

Notas do Autor


Olá!

Capítulo 69 - O início de seu desmoronamento


Konan

 

 

 

 

Um dos principais motivos para que ela fosse apaixonada por Yahiko era saber que ele sempre retornava. Por mais que vez ou outra tivesse suas recaídas, ele já havia aprendido que Konan jamais deixaria seu lugar seguro em Ninho do Gavião, e sempre reconhecia seus erros antes mesmo que ela criasse a coragem necessária para deixar o orgulho de lado e tentar se desculpar.

Naquele momento, ele movia-se em seu interior com voracidade, de uma maneira que apenas ele conseguia. Konan já tinha estado com alguns outros, mas nenhum era capaz de fazer com que seu corpo inteiro explodisse da maneira que Yahiko fazia. E aquele era outro motivo pelo qual era perdidamente apaixonada por ele.

Um grito irrompeu sua garganta quando as ondas explosivas tomaram conta de seu corpo, e ela apertou-o dentro dela com tanta força que logo ele derramou-se em seu interior. Exaustos, apenas deitaram na grande cama, e Konan olhou em seus belos olhos castanhos.

–  Você é perfeito.  –  Disse, e beijou seus lábios.

–  Você é que é, eu sempre te disse isso.

Viviam juntos desde o começo da juventude, e ele havia entrado para a guarda do Ninho apenas para não ficar sem ela. E o melhor de tudo era que, com Yahiko, nunca havia precisado utilizar os truques de sua ametista. Ele estava ali porque sentia por ela a mesma coisa que ela sentia por ele. Bem, talvez ele sinta de maneira mais intensa, mas é porque ele não tem filhos.

O amor que Konan sentia pelos filhos ofuscava qualquer outro que pudesse vir a ter. E eles precisam retornar logo. Retornar seguros. É tudo o que mais desejo nessa vida.

Ter Yahiko por perto era, além de agradável por si só, algo que a ajudava a dormir. O cansaço que atingia seu corpo após o sexo não permitia que resistisse ao sono, e a presença dele a confortava o suficiente para que ela não sentisse medo. Pois havia descoberto nos últimos tempos que tinha certo medo de dormir sozinha.

–  Preciso tentar dormir. Na noite passada, não dormi nem um pouco pensando nos meninos.

–  Feche os olhos e tente descansar.

Com aquelas palavras, Yahiko passou a acariciar suas costas, e pouco a pouco Konan permitiu-se pegar no sono por completo. Havia tanto tempo que não se permitia àquilo, que pareceu que estava perdida em um outro mundo, bastante mais leve do que aquele no qual vivia, sem tantas responsabilidades, sem tantas preocupações…

–  Konan.  –  A voz suave chamou-a, e ela mal acreditou quando a viu, diante de seus olhos.

–  Mãe.

Estavam em uma rua do segundo anel da muralha, onde Konan costumava morar antes de se tornar Senhora do Ninho, mas distante de sua casa. Eu me recordo… Era a parede lateral de sua casa, em um pequeno beco onde ela costumava se esconder quando queria ficar sozinha. A mãe não aparecia há tanto tempo… tinha quase esquecido de sua fisionomia. Pareciam-se tanto uma com a outra. Todos diziam que Konan era a filha mais parecida com a mãe que já tinham visto.

–  Minha querida, como sinto saudades.

Seus olhos encheram de lágrimas que escaparam quentes por suas bochechas.

–  Eu também, mamãe. Leve-me com você, ou volte para casa.

–  Não posso, querida. Não posso voltar, nem mesmo levá-la comigo.

A mãe abaixou-se diante dela, mas não precisava se abaixar muito. Konan já tinha doze anos, estava quase com a altura de uma adulta. Ela estendeu a mão pálida de longos dedos, e abriu-os. Havia um cordão ali, com um imenso e belo pingente de ametista, em um lilás que parecia pulsar diante de seus olhos. Desejou tocar aquela bela pedra.

–  Ela pertence a você. Posso ter demorado a perceber isso, mas é você, Konan, a minha herdeira. Não sua irmã.

–  Por que eu?

Lembrava-se da devastadora sensação de incapacidade que a atingira naquele momento. O doce sorriso de sua mãe, então, desapareceu. O dia ensolarado ficou nublado, e os doces olhos castanho-amarelados de sua mãe foram tomados por pavor.

–  Você é a herdeira de Dreiya e da vontade das bruxas, e as bruxas exigem que você não permita que nosso nome seja ainda mais difamado!

–  Mãe…

Ela segurou seus braços com força, e havia algum tipo de desespero em seu rosto escurecido.

–  Escute a mim, Konan. A mim! As herdeiras de Dórya…  –  Sua mãe pareceu não conseguir falar mais nada.  –  As herdeiras de Dórya…  –  novamente nada. Era como se ela se engasgasse com as palavras.

–  O que está acontecendo?

Sua mãe sumiu, e foi sua irmã Kirara quem apareceu diante dela, com aquele sorriso detestável.

–  As herdeiras de Dórya são as únicas que detêm poder na atualidade, é isso o que ela quer dizer, é isso que você deve entender. E você descobrirá isso da pior forma, Konan, já te falei. Tudo será tirado de você.

–  Não.  –  Konan disse.

–  A morte levará algumas pessoas,  –  continuou a irmã, ignorando-a  –   mas aquilo que a morte não levar lhe será tomado por outra Senhora, mais jovem e mais bela, e ainda mais esperta.

–  Não! Não!

–  Ela tomará também sua tranquilidade e sanidade, e fará com que você sinta o arrependimento de seus erros penetrando nos ossos até seu último suspiro.

–  NÃO! NÃÃÃÃOOO!

Acordou-se gritando a plenos pulmões, para que o castelo inteiro escutasse. Transpirava tanto, que sentia-se como se tivesse acabado de sair da tina sem secar o corpo. Chorava, mas não entendia muito bem o porquê.

–  Maldita seja, maldita seja!

Há muito tempo não tinha sonhos como aquele. Nunca conseguia entender o que eles significavam, mas imaginava que não eram nada além de devaneios trazidos pelo temor descabido que por vezes tinha em relação à irmã mais velha. Kirara nunca mais apareceu em minha vida, e eu preciso entender de uma vez por todas que ela é apenas uma louca. Eu sou herdeira de Dreiya… segurou a ametista, que não tirava mais do pescoço, entre os dedos, e suspirou.

Procurou em sua memória o que a mãe havia dito sobre Dreiya e Dórya. Eram irmãs, ela havia dito, filhas de uma poderosa bruxa que havia sido uma das últimas líderes do clã. Na época, o clã já havia se dissolvido, mas ainda havia muitas bruxas que seguiam os ideais de Malayala, a mãe das duas irmãs. Entretanto, Malayala acabou tomando algumas decisões que haviam feito o grupo de bruxas se dividir, sendo que pouquíssimas ficaram em seu apoio. Quando Malayala morreu, suas duas filhas entraram em um grande desacordo sobre quem seria a nova líder do clã, aquela que herdaria a pedra ametista. Havia sido naquele instante que a pedra começara a escolher, por conta própria, a sua herdeira, e então escolhera Dreiya. Dórya teve dificuldades para aceitar aquilo, e acabou reunindo um grupo de bruxas interessadas em seguir o empreendimento que a mãe anteriormente planejava. A mãe de Konan, contudo, nunca havia compartilhado com ela o que de fato significava aquele empreendimento.

Com um suspiro, Konan levantou-se da cama, e abriu as janelas de seu quarto para permitir que o ar entrasse naquele forno que era o espaço em que se encontrava. Surpresa, constatou que o dia já havia amanhecido, e que o sol até mesmo encontrava-se em um nível alto. Após tanto tempo sem conseguir, dormi uma noite inteira, e ainda tive esse sonho… o que isso poderia significar?

Um arrepio desconfortável subiu pela sua espinha. O que quer que fosse, talvez não descobrisse tão cedo.

Konan solicitou as servas, pedindo para que trouxessem água morna para sua tina. Após acordar com o corpo encharcado de suor, não poderia permanecer sem um bom banho.

–  Troquem as roupas de cama também.  –  Ordenou, após as duas terminarem de encher sua tina.

Ficou um bom tempo mergulhada ali, tentando esquecer o péssimo sonho que havia tido naquela noite. Perguntava-se, ininterruptamente, se a irmã tinha influenciado em seu sonho de maneira intencional. Para que Kirara conseguisse fazer aquilo, ela precisaria estar próxima, e sua proximidade aterrorizava Konan de tal forma que não poderia descrever. Deve ter sido tudo coisa da minha cabeça, apenas sonhos de uma mãe que teme por seus filhos.

Após banhar-se, suas aias ajudaram-na a secar o corpo e vestir um vestido de seda suave, verde claro e liso, que escorria por seu corpo caindo em perfeição, com uma saia de fina renda branca por cima. O vestido finalizava-se nos ombros, em alças finas bordadas ricamente com uma linha também branca. Sua ametista estava devidamente perto dela, contra a sua pele, como sempre diva estar. Quando sentiu a energia dela emanar contra a sua pele, sentiu uma tranquilidade, mas pela primeira vez, a pedra não estava sendo capaz de sanar sua angústia.

Pediu o desjejum no quarto, pois não desejava a companhia da esposa de Inewin. Desde que seus filhos haviam partido, Konan procurava fazer suas refeições sempre no quarto. Inoren e Yurin eram as únicas pessoas naquele castelo que ela realmente desejava ter por perto, os demais eram apenas suportáveis. A esposa de Inewin, entretanto, não estava nem mesmo entre os suportáveis. O único que consegue ser pior que ela é Inoichi.

Uma bandeja de prata foi trazida com uma caneca de cerveja preta, acompanhada de uma fatia de pão de azeitona, queijo fresco, ovo cozido, bacon, e alguns mirtilos. Enquanto Konan saboreava o delicioso pão, foi surpreendida pelo som do berrante, vindo do alto da muralha do castelo. Aquilo significava apenas uma coisa: alguém estava chegando, alguém para o qual os portões estavam sendo abertos com certa honraria. Seu coração veio à boca, em batidas frenéticas, e toda a fome desapareceu. Meus meninos retornaram?

Olhou pela janela, do alto de seu quarto, mas as pessoas estavam escondidas pela muralha lá embaixo, não conseguia identificá-las. Então, correu escadaria abaixo, apressando-se ao máximo entre os corredores, atropelando qualquer pessoa que surgisse em sua frente.

Quando chegou na porta principal, enxergou Yurin, e sentiu seu coração se aquecer. Ele retornou… ele voltou para mim!

Sentiu os olhos arderem, e choraria, de tão emocionada que estava com o retorno de seu precioso menino. Entretanto, ele não sorriu quando a viu. Mesmo que seu relacionamento não estivesse na melhor fase, o filho de Konan sempre sorria ao vê-la, especialmente após passar tanto tempo distante.

Com a confusão tomando conta de seu ser, procurou Inoren com os olhos. Inoren não a odiava, seu relacionamento estava sempre o melhor possível, e ele certamente sorriria para ela, e abraçá-la-ia com os braços musculosos do homem que agora era. Entretanto, seu amado filho mais velho não estava ali.

–  Inoren ficou?  –  Perguntou, para qualquer que fosse a pessoa ao seu lado. Percebeu depois ser Toya, quando, ao invés de respondê-la qualquer coisa, a estúpida esposa de Inewin apenas permaneceu olhando para ela, como se visse algo de traumático estampado em seu rosto.

Então, Inoichi surgiu diante de seus olhos. E entre ele e seu filho mais novo, havia um abismo, onde uma carroça puxada por dois cavalos movia-se serenamente em sua direção. Inoichi estava triste, e Konan nunca havia visto tristeza nos olhos daquele homem perverso. Sentiu seu estômago girar, em voltas, voltas e mais voltas, que logo espalharam-se pelos demais órgãos e chegaram à sua cabeça, fazendo com que perdesse o equilíbrio.

–  Minha senhora…  –  alguém disse, com a voz carregada de pesar, provavelmente a mesma pessoa que havia segurado seu braço para que não caísse.

–  Onde está? Onde está Inoren?

Desejava a resposta, mas ao mesmo tempo, desejava fechar os ouvidos para ela. Desejava que todas aquelas pessoas desaparecessem, que todo o mundo desaparecesse, mas que Inoren surgisse diante de seus olhos com o amável sorriso e com todo o amor que apenas ele conseguia carregar. Meu doce e amado menino…

–  Mãe…  –  Yurin disse, e havia dor em sua voz. Ele estava diante dela, mas ela não conseguia mover um dedo para abraçá-lo.

–  Onde está seu irmão?

–  Ele… ele estava protegendo a mim…

Os olhos de Yurin, que eram iguais aos seus, encheram-se de lágrimas, e Konan sentiu, repentinamente, um sentimento estranho, que parecia estar dilacerando seus órgãos até alcançar sua garganta e ficar preso ali, sufocando-a.

–  Não.  –  Disse, mas soou como um sussurro que apenas ela podia compreender. Sentiu as lágrimas escorrerem por seu rosto como inúmeros pequenos vermes rastejantes.

A carroça parou, e Konan acabou caminhando até lá, como se existisse algo ali chamando por ela. A voz de sua mãe, ou a voz de sua irmã.

O estandarte do gavião, azul e carmesim, escondia o que quer que estivesse dentro daquela carroça. E ela não seria capaz de retirar aquele pano para enxergar ali a própria desgraça, o início de seu desmoronamento. Não seria capaz de cavar tão fundo em busca da própria dor. Não mesmo.

Mas alguém fez o trabalho por ela.

O estandarte manchado de sangue foi erguido, e então ela enxergou seu próprio futuro. Um belo corpo pálido e sem vida, perdido em qualquer lugar do mundo onde não podia mais ser alcançado. Os vermes voltaram a rastejar por seu rosto em maiores números, e o sufocar preso em sua garganta que jamais saía, ela tentou libertar com um grito. Não adiantou.

Seu belo e doce filho. O primogênito. O mais forte, de sorrisos fáceis e gargalhadas deleitosas. Konan nunca havia notado, até aquele instante, o quanto Inoren se parecia com ela. Era como sua versão de traços mais rústicos masculinos. E ali estava ele, e ali estava ela. Ele nunca devia ter ido antes dela.

–  Meu menino… meu menino… apenas volte…

Seus cabelos azuis estavam secos ao toque, e sua pele fria como a de um cadáver.

Um cadáver…

Seu precioso Inoren era agora um cadáver.

Um cadáver…

Ele estava morto.

Morto…

Inoren havia morrido tentando proteger Yurin, que havia sido levado para a batalha à força pelo pai. Então, havia apenas um culpado pela morte de seu primogênito.

–  Tiraram meu herdeiro de mim, malditos sejam. Tiraram meu herdeiro…  –  Dizia a voz dele, sua voz horrenda e macabra, a voz de um assassino.

–  Você!  –  Konan gritou. Sua mão trêmula apontava apenas na direção dele, pois ele merecia ser acusado diante de todos.

–  Você tirou seu próprio herdeiro! A culpa disso tudo é sua!

–  Pare com isso…

Konan não deixou ele terminar de falar, nunca deixaria. A cada palavra dele, a cada inspirar e expirar, era mais uma prova de que aquele maldito estava vivo e seu filho, o seu Inoren, estava morto, por culpa de Inoichi, por culpa daquele homem. Maldita seja a hora em que acreditei que me casar com alguém como você seria uma boa ideia. Maldita seja!

–  Eu não paro! Porque é verdade! Meu filho está morto e a culpa é sua! É sua! É SUA!

Konan correu para cima dele e acertou um soco em seu rosto, com toda a força que possuía. Inoichi parecia apenas assustado demais para reagir, e acabou aceitando aquilo, sem chance de defesa. O impacto fez com que ele quase caísse, mas cuspiu um pouco de sangue. O sangue que você derrama agora é insignificante perto do sangue que meu filho derramou. O meu menino…

Konan chorou novamente, e chorou, e chorou até não conseguir mais se manter em pé. Estava no chão, sobre os joelhos, e abraçando o próprio corpo para tentar conter a dor que sentia. Dói. Dói tanto… Como faço para que pare de doer?

Alguém conteve Inoichi para que ele não a atacasse, e alguém a carregou para longe dali, de alguma maneira que ela não sabia como. Estava completamente anestesiada pela dor que havia sido deixada como rastro do buraco aberto em seu peito. Não sentia mais seu coração bater, sentia apenas um infinito pulsar de uma dor terrível.

Dói tanto…

Com os olhos fechados, enxergou Inoren diante dela, ainda bebê, sugando seu peito vorazmente. Ele costumava ter uma ama de leite, mas por vezes Konan fazia questão de tomá-lo em seu peito, apenas para olhar dentro de seus pequenos olhos e enxergar ali a doçura de uma nova vida recém-formada, e formada por ela… nunca antes tinha se sentido tão importante, até que aquele menino nascera. E não conseguia parar de olhar para ele em momento algum. Dormia com ele ao seu lado na cama, mas sempre acordava apenas para sentir sua suave respiração.

Quando sentirei sua respiração novamente? Quando poderei olhar seus olhos mais uma vez?

A resposta “nunca” a aterrorizava. Não queria que aquela fosse a resposta. Queria vê-lo agora, e para sempre, até que ela morresse. Eu devia ter morrido antes, e não você… não você…

Inoichi pagaria por ter levado seu menino para longe. Um dia, mais cedo ou mais tarde, ele pagaria.

De alguma forma, estava em seu quarto, solitária e há muito tempo. Mas não desejava sair dali para encarar mais uma vez a nova realidade em que vivia.

–  Mãe?

Alarmada, ela olhou na direção da porta, mas era Yurin quem estava ali, e não Inoren. Seu coração havia voltado a bater com a possibilidade de que tudo tivesse sido um terrível pesadelo, mas os olhos tristes de seu filho mais novo denunciavam o quanto tudo havia sido real.

–  O quê?  –  Perguntou. Não conseguia falar muita coisa.

–  Ele será cremado agora mesmo. Meu pai não pode demorar para retornar à fronteira sul, portanto precisa fazer tudo com ligeireza… e acredito que você desejará estar lá.

Era óbvio que ela estaria lá. Embora não desejasse encarar nada daquilo, jamais deixaria que seu primogênito ficasse sozinho, em seus últimos minutos de liberdade, ao lado de Inoichi, o grande culpado pela sua morte.

–  Estarei.  –  Respondeu, levantando-se com certa dificuldade do canto no qual havia se encolhido.

Entretanto, Yurin continuou ali.

–  Espero que me perdoe, mãe. Eu pedi para que ele não ficasse tentando me proteger mas ele… eu… eu não sabia batalhar direito. Eu nunca devia ter ido.

Uma lágrima solitária escorreu pelo rosto de Yurin, e Konan foi até ele, abraçá-lo.

–  Não tenho nada pelo que perdoar você, você não tem culpa de nada. O único culpado é aquele maldito Inoichi.

–  Mãe…

–  Não tente defendê-lo. Você sabe muito bem que falo a verdade. Inoren não estaria morto se Inoichi não tivesse insistido em levar você à guerra, sem necessidade nenhuma. Um dia ele há de pagar.

Konan então deu as costas ao filho mais novo, e arrancou o vestido verde de seu corpo, chegando a rasgar algumas partes dele no processo. Trocou-o por uma seda negra que cobria até mesmo seu pescoço. Não importava se estava calor, era aquilo que usaria para a última despedida de seu primogênito.

Mas tudo será tirado de você. A morte levará algumas pessoas, mas aquilo que a morte não levar lhe será tomado por outra Senhora, mais jovem e mais bela, e ainda mais esperta. Ela tomará também sua tranquilidade e sanidade, e fará com que você sinta o arrependimento de seus erros penetrando nos ossos até seu último suspiro.

Continuou com o colar de ametista ao redor do pescoço, a única coisa que contrastava entre suas vestes completamente negras. E então partiu para a câmara de cremação do castelo, onde ela nunca havia entrado. Inoichi estava lá, com uma mancha roxa ao redor do canto da boca e a bochecha levemente inchada. Isso não foi nada perto do que você ainda passará um dia.

Houve um último minuto para as despedidas antes que seu filho se tornasse cinzas. Konan chorou, mas não conseguiu dizer qualquer coisa. Não conseguiu deixar claro para seu menino, pela última vez, o quanto o amava, e o quanto seria difícil viver sem sua presença radiante. Mas ele devia saber daquilo, de alguma forma.

Após o corpo de Inoren ser cremado, parte de suas cinzas foram guardadas em uma lápide que mais tarde seria moldada especialmente para ele, no pátio do castelo. Sua lápide ainda não estava moldada pois ele era tão jovem, e ninguém jamais esperaria… ninguém jamais esperaria…

Mais uma vez, ela não foi capaz de conter as lágrimas, e nem mesmo a dor que avassalava seu coração. Não conseguia acreditar, e não conseguia aceitar. A guerra era mesmo impiedosa com todos.

O restante das cinzas devia ser carregado até o topo da montanha, onde seriam lançadas pelo ar, como forma de garantir que seu espírito sempre viveria a trazer paz àquelas terras. E assim fizeram. A escalada não era longa, porém era bastante difícil, por estradas íngremes e por vezes tão estreitas que apenas uma pessoa conseguia passar por vez. Subiram, um por um, ela, Inoichi, Yurin, Inewin e Toya, sendo que esta última não tinha qualquer motivo para estar ali. Mas não tenho direito de dizer nada, já que o próprio culpado pela morte de meu filho está aqui, e carregando suas cinzas.

Quando estavam tão altos que sua visão parecia não mais ter limites, Inoichi largou o restante das cinzas do filho de Konan, que sobrevoaram graciosamente, enchendo o mundo com sua paz. Mas eu não queria sua paz para o mundo. Eu queria sua paz para mim, aqui, meu filho. Você não podia ter me deixado.

Desceram todo o caminho de volta, o que talvez fosse a parte mais difícil. Quando retornaram para o castelo, muitas pessoas reuniam-se ao redor do portão, com choros e lamentações, trazendo flores e condolências. Contudo, entre toda a multidão ali reunida, Konan foi capaz de distingui-la com clareza. Ela estava distante, mas tinha um sorriso perverso nos lábios, e olhava certeiramente em sua direção. Konan segurou a pedra de seu colar com força entre a mão, e sentiu a concentração de energia se acumulando, acumulando…

Entretanto, Kirara virou as costas, sem deixar de sorrir, e partiu. E tudo o que Konan foi capaz de fazer, foi voltar a chorar, e sentir em si um medo crescente e aparentemente infinito. Não pode ser… não pode ser…

–  Yurin!  –  Chamou, quando já estavam dentro do castelo.  –  Avise seu maldito pai que você não retornará com ele para a batalha.

Inoichi estava ali, e seu olhar furioso denunciou que ele havia escutado.

–  Eu não seria louco de levar esse moleque novamente comigo. Meu herdeiro está morto, e a culpa é dele!

Konan sentiu seu peito ferver, um fogo misturado à dor que sentia pelo seu filho mais velho.

–  Já falei que a culpa é sua! E Yurin também é seu herdeiro.

–  Não se depender de mim.  –  Ele retrucou, e partiu.

Naquele momento, o mundo de Konan pareceu desmoronar mais um bocado. Parecia que, enfim, tudo o que ela havia conquistado estava sendo tirado dela. Entretanto, segurou-se em Yurin, seu amado filho mais novo, e o único amor que lhe restava naquele mundo perdido. Ele era o herdeiro do Ninho, e ninguém poderia mudar aquele fato. Além disso, ele era também seu filho, e ela não permitiria que nenhuma pessoa tirasse-o de sua proteção e amor.


Notas Finais


No capítulo passado agradeci pelo número de favoritos, agora agradeço novamente pelos quase 700!
Mas estou com uma dúvida sincera sobre o quão positivo é esse número todo de favoritos, uma vez que entre mais de 670 pessoas, apenas uma tinha algo a dizer sobre o capítulo passado, que foi bastante importante. Quem me acompanha há um tempo já, sabe que para mim o quantitativo não tem grande significado.
Bem, no geral é isso. Próximo capítulo será da Tsunade!
E outra: como consegui dar uma adiantada na escrita, vou publicar de 15 em 15 dias.
Alguém aí assistiu a série Westworld da HBO? :o


Gostou da Fanfic? Compartilhe!

Gostou? Deixe seu Comentário!

Muitos usuários deixam de postar por falta de comentários, estimule o trabalho deles, deixando um comentário.

Para comentar e incentivar o autor, Cadastre-se ou Acesse sua Conta.


Carregando...