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História Crônicas de Heróis - Uma nova oportunidade


Escrita por: UchihaAika

Notas do Autor


Olá!

Capítulo 78 - Uma nova oportunidade


Kakashi

 

 

 

 

Sua mão havia desaparecido e, ao mesmo tempo, parecia continuar ali, retorcendo-se de dor. Mas havia uma ruptura, ele bem sabia, a dor excruciante e a constante queimação faziam com que não esquecesse daquele detalhe importante. Ele sentia, um pouco abaixo do cotovelo, pontadas e ardências infinitas, que intensificavam-se a cada pequeno movimento que fizesse.

Tentou trocar de posição na cama, mas não conseguiu se mover minimamente sem soltar um pequeno som de dor, que iniciava em um pequeno ponto e então corria por toda a extensão de seu braço até o ombro.

Aos poucos, Kakashi abriu os olhos para o mundo, por mais difícil que aquilo parecesse. Tudo estava muito branco e bastante embaçado diante dele, mal podia diferenciar os borrões que enxergava, não sabia se eram pessoas, objetos, ou o que fossem. Sequer podia ter certeza de que estava vivo.

–  Naruto?  –  Sua língua parecia grudada à boca, e a voz não queria sair.  –  Sasuke?

–  Deite-se, sor.

A voz suave feminina parecia-se com a de Hinata, mas não devia ser ela…

–  Hinata, é você?

–  Hinata foi buscar água, Ino e Sakura foram com ela.

–  Então quem…?

Kakashi levou ambas as mãos aos olhos, mas somente então recordou-se que sua mão direita não existia mais. Irritado, esfregou-os com a esquerda mesmo, e lentamente algumas coisas foram voltando à sua memória, conforme os olhos se adaptavam. Em um canto do local em que estava, ao lado da cama que ele ocupava, estavam todas as armas que Kakashi e seu grupo traziam consigo, até mesmo as espadas de pau que utilizava para treinar com Ino. Lembrou-se  então da companhia vermelha, dos mercenários que se recordavam de seu nome, de Ribeirinho… de Elissara.

Parou de esfregar os olhos e piscou diversas vezes, até que sua visão se adaptasse ao local onde estava. Era uma casa de taipa pequena, com apenas algumas camas velhas com colchões de palha, um caldeirão suspenso sobre um fogo de chão… e Elissara.

–  Elissara, você…? Como…?

Ela continuava jovem, como naquele dia. Kakashi ainda não via com total clareza para poder analisar seus belos traços, mas tinha o mesmo rosto, ele tinha certeza.

–  Não sou Elissara. De onde conhece esse nome, Sor?

–  Como não é? Estou em Ribeirinho, e você… Tem de ser você! Por que me mentiu sobre sua morte?

–  Já disse que não sou Elissara!  –  A voz dela tornou-se mais intensa. Kakashi tentou resgatar, no fundo da memória, a voz de Elissara, mas percebeu que não lembrava com exatidão. Para ele, a voz dela era mais intensa e firme, pronta para dar ordens, e não aquela voz suave. Mas como poderia existir alguém igual a ela?

Seus olhos adaptavam-se ao ambiente, e ele via com clareza Elissara, idêntica ao dia em que a tinha deixado. Os espessos cabelos negros bagunçados, o rosto em formato de coração, a pele morena e os olhos de íris quase vermelha… era ela. Só podia ser ela.

–  Então quem é?

–  Sou Surya.

Naquele momento, a mãe de Elissara entrou na casa. Ela podia estar muito velha, mas ele a reconheceria de qualquer forma. Havia engordado alguns quilos, e os cabelos que antes eram iguais aos de Elissara agora estavam brancos. Mas sua pele morena ainda demonstrava algum vigor.

–  Então você retornou, Kakashi.

–  Senhora Fyona.

Correu os olhos entre ambas.

–  Como é possível…? O que Elissara faz aqui? E tão jovem?

–  Já disse que não sou…  –  A mulher mais velha interrompeu a mais jovem:  –  Quieta, Surya. Deixe que ele tente resolver as coisas por si próprio. O que acha disso, Kakashi? Gostaria de envergonhar ainda mais minha pobre filha?

Novamente, Kakashi olhou entre as duas, e as coisas começaram a fazer algum sentido. Não era possível que aquela moça, tão jovem, com a idade de Naruto e Sasuke fosse Elissara. Caso sua esposa estivesse viva, ela estaria velha como ele.

–  Como está o cavaleiro?

Quando o rapaz entrou, descuidado, fazendo perguntas ao vento, Kakashi subitamente sentiu um arrepio. Ele tinha o rosto de Elissara também, sua bela pele dourada, muito parecido com a jovem moça… mas os cabelos dele eram prateados, e seus olhos eram negros.

Sua mão inexistente formigou e formigou, enquanto seu ferimento ardeu mil vezes mais intensamente. Mas seu coração batia de maneira tão inquieta, que ele resolveu apenas ignorar aquelas dores e infelicidades, e focou naquilo que estava acontecendo ali, naquele momento. Eles são… meus filhos… meus pequenos filhos…

Kakashi soluçou, e então as lágrimas escaparam de seus olhos em torrentes.

–  Sor?  –  Disse a jovem Surya, a sua filha. Kakashi não conseguia dizer nada, apenas era capaz de soluçar. Encontrou a mão de Surya perto da sua única e segurou-a, com força. Devo abraçá-la?

Entretanto, a jovem parecia não entender o que estava acontecendo, tal como o rapaz.

–  O que está acontecendo?  –  Ouviu o rapaz perguntar.

–  O cavaleiro está descobrindo coisas que não devia descobrir. Mas a vida prega peças em todos.

–  Por quê? Por que esconderam?  –  Kakashi conseguiu questionar, em meio a soluços.

–  O que está acontecendo, avó?  –  Surya perguntou.

–  Crianças, esse é Kakashi Hatake. Vocês não o conheceram porque não lhes foi dada a oportunidade. Este homem é vosso pai.

Nenhum dos dois pareceu capaz de agir, da mesma forma que Kakashi. Houve um prolongado silêncio, onde tudo o que se escutava eram os sons do lado de fora da casa, e o soluçar de Kakashi, que ainda parecia demorar a deixá-lo.

–  Deixe-me ver se entendi… fomos escondidos dele?  –  Questionou o rapaz. Parecia tão obstinado quanto Kakashi era em sua juventude, e aquilo, ele bem sabia, podia resultar em problemas. Engoliu o choro, o soluço, e retomou seu orgulho, que era apenas dele.

–  Foram escondidos a pedido de sua mãe, sim.

Aquilo doeu em seu coração, tão profundamente que ele quase voltou a chorar. Por que Elissara pediria algo como isso?

–  O que quer dizer?  –  Kakashi questionou.

–  Minha pobre filha… sofreu tanto quando você resolveu partir, Kakashi. Ela mais tarde descobriu que estava grávida, mas estava profundamente magoada com você. Não desejava vê-lo nunca mais, mas especialmente, temia que você quisesse levar o filho dela. Quando dois nasceram, ela sangrava tanto que percebeu que morreria, mas o último pedido dela foi para que não deixasse que você soubesse da existência das crianças. Não queria que eles fossem criados longe de casa, e com Izuna Uchiha.

Havia aquele mito entre algumas famílias da aldeia, que ficava na fronteira, de que os Uchihas eram malditos. Podiam ser seus reis, mas eram malditos. Kakashi acreditava que o fato de viverem na fronteira favorecia que não tivessem um lado completamente definido. Elissara, entretanto, costumava acreditar naquilo com muita convicção, Kakashi bem se lembrava.

Não vá, Kakashi. Ele não é boa pessoa, nenhum dos Uchihas é. Que Vhitrian me perdoe por dizer isso, mas eles o levarão para um caminho infeliz sem volta… não vá!

Aquelas haviam sido as últimas palavras de sua esposa. Pensou, naquele instante, sobre quão diferentes as coisas seriam hoje se ele tivesse dado ouvidos aos apelos da doce e amada Elissara.

Entretanto, positiva ou negativamente, havia escolhido um caminho, e hoje vivia as consequências dele. Sua mão da espada não mais existia, e toda a base sobre a qual outrora Kakashi Hatake havia sido construído parecia estar, de uma hora para outra, ruindo, esfarelando-se e escapando entre os vãos de seus dedos. Quem sou agora?

A morte de Izuna havia sido um ponto marcante em sua vida, que finalizara um ciclo e iniciara outro. Agora, dois pontos marcantes chocavam-se, ao mesmo tempo, no mesmo lugar, na mesma época. Qual poderia ser seu caminho dali em diante?

–  Então… este é o meu pai.

Surya parecia, de alguma forma, gostar da novidade, enquanto o filho de Kakashi não demonstrava qualquer coisa.

–  Deus é realmente inexplicável. Enviou uma boa alma para proteger minha vida, mas não qualquer alma. Enviou meu pai.  –  Surya apertou sua mão esquerda.  –  Sinto muito que tenha perdido sua mão, meu pai. Juro que se pudesse compensar isso de alguma forma…

Kakashi calou sua filha com um abraço. Ela parecia-se tanto com Elissara, possuía até mesmo alguns trejeitos da mãe. A filha o abraçou de volta, e ele percebeu que havia alguma diferença naquele abraço, uma energia especial, que nunca havia sentido com qualquer outra pessoa. Percebeu que adorava aquele aconchego.

–  Não há razão para pensar em compensar coisa alguma.

Então, Kakashi olhou para o rapaz, ainda parado no mesmo lugar, próximo à porta. Ele tinha algo de Kakashi que Surya não tinha, mas mesmo assim, parecia o mais receoso. Kakashi podia compreendê-lo.

–  Minha mãe não tinha esse direito.  –  O filho de Kakashi falou.

–  Como se chama, rapaz?  –  Perguntou. O rapaz pareceu não gostar da pergunta, a julgar por seu estreitar de olhos.

–  Seyren.  –  Respondeu.

–  Bem… eu não me sinto feliz por saber que a existência de meus filhos foi escondida de mim. Mas existe uma verdade que você não deve esquecer, Seyren. Sua mãe nunca faria algo que pensasse ser ruim para os filhos, isso eu tenho certeza.

Seyren cruzou os braços em frente ao peito.

–  Você está certo. Ela tinha todo o direito de fazer o que quisesse. Era você quem não a devia ter abandonado.

Antes que Kakashi pudesse responder, o rapaz saiu dali. Fyona não reagiu diante daquilo, apenas pôs um sorriso triste no rosto.

–  O rapaz tem mais de você do que de Elissara, é bastante difícil de lidar. Você terá trabalho caso queira conquistá-lo para o seu lado.

–  Não! Ele é apenas um idiota, e injusto! Sou eu quem conversará com ele!

Surya também foi bastante rápida em sair dali antes que Kakashi pudesse falar qualquer coisa. Com a única mão que restava, Kakashi coçou a cabeça

–  Será que estou em um sonho ainda?

Eram constantes os sonhos envolvendo Elissara e os filhos… talvez aquele fosse apenas mais algum.

–  Não é sonho qualquer, garanto. Sou bem real. E estou satisfeita em ver os seus olhos o quanto se arrepende de ter deixado minha filha para trás.

Kakashi não podia negar aquilo.

–  Eu vivi o resto de minha vida com aquela culpa. Mas muitas coisas boas aconteceram no caminho.

–  E os Uchihas devolveram-no para seus filhos sem uma mão.

–  Os Uchihas não têm nada a ver com isso.

–  Será que não?

Sasuke tinha, em alguma proporção. Mas Kakashi havia matado aqueles homens, e apenas ele. Havia sido para proteger Sasuke, certamente, mas faria tudo de novo. Sasuke e Naruto também eram como seus filhos. Aliás, onde andam esses dois?

–  Sasuke e Naruto, onde estão? E as meninas?

–  Estão ali, no lado de fora. Não permiti que entrassem antes que eu tivesse tudo esclarecido.

–  Acho que agora eles já podem entrar, então.

Fyona assentiu, e foi até o lado de fora chamar os dois rapazes. Naruto entrou apressado, até meio afobado, e logo abraçou Kakashi. Sasuke era sempre mais reservado, de certa forma mais frio, e sempre chegava com Kirin ao seu lado, embora ela fosse umas tantas vezes mais calorosa. Ele não chegou a abraçar Kakashi, mas seu olhar dizia o suficiente sobre seus sentimentos.

–  É bom que esteja acordado.  –  Disse o príncipe.

–  E é bom vê-los novamente. Onde estão as meninas?

Kirin pulou no colo de Kakashi, que a abraçou e acariciou. Sentia falta de sua presença dócil.

–  Estão pelo vilarejo… Ino está com alguns problemas a serem resolvidos.

–  Ino?

Kakashi preocupava-se com Ino tanto quanto se preocupava com Naruto e Sasuke, era sua pupila, e bastante querida.

–  O que houve com ela?

–  Bem, para simplificar, ela descobriu que o pai dela é Inoichi Yamanaka, e ele está aqui na aldeia.  –  Naruto explicou. Kakashi não evitou um sorriso.

–  Parece que todos os pais resolveram vir para Ribeirinho, então… eu acabei de descobrir que meus filhos com Elissara estão vivos. São aqueles dois, que acabaram de sair daqui.

Houve um estranho silêncio após aquela revelação, que Kakashi rapidamente foi capaz de compreender. Nenhum deles sabia o que dizer, pois eram, os três, uma família. E nenhum deles podia saber com certeza, naquele momento, qual seria o destino daquela família dali em diante, com tantas novas descobertas.

–  E você…  –  Naruto começou, mas limpou a garganta antes de continuar.  –  Vai ficar aqui com eles?

Percebeu que Naruto não estava feliz com aquela possibilidade. Mas podia compreendê-lo, de certa forma. Outrora também não estaria nada feliz em pensar aquilo. Mas de uma hora para outra, parecia que as coisas tinham mudado de maneira bastante drástica. Agora ele não era mais o cavaleiro que um dia havia sido, era incapaz de proteger uma mosca sem sua mão da espada. Além disso, um pilar que sempre havia sido essencial para determinar os caminhos de sua vida acabava de ruir: a morte de seus filhos havia sido uma farsa. Eles estavam vivos, e Kakashi tinha a oportunidade de fazer por eles aquilo que não havia feito pela mãe deles.

Mas e quanto aos seus outros filhos? Naruto, Sasuke, Kirin, e até mesmo Ino… como poderia ser capaz de deixá-los após tanto tempo, tantos momentos, e tantas lembranças?

–  Eu ainda não sei, Naruto…  –  Kakashi suspirou, e fechou os olhos. Kirin lambeu seus dedos, como se tentasse confortá-lo.  –  Eu ainda não sei.


Notas Finais


Feliz páscoa a todos! Comam muitos chocolates <3
Próximo capítulo será da Ino. Até lá!


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