História Cross Roads -- OtaYuri - Crush

Durante uma das manhãs nas quais Yuri acabava aparecendo na casa de Mila, em vez de ficar até a última aula, eles tiveram uma conversa sobre Otabek.

Com um arrepio na espinha Yuri terminou de amarrar suas botas e ainda sem vestir uma camiseta atirou-se na cama. Enquanto arrumava-se ele não conseguia deixar de pensar na conversa que havia tido com mila na semana passada.

Depois de fugir do assunto por dias Yuri acabara sendo colocado contra a parede. Enquanto a namorada de Mila estava cuidando de algumas plantas perto da janela, ela tentava convencer Yuri a chamar Otabek para a festa de aniversário que as duas estavam organizando. A data dos aniversários das duas eram separadas por apenas 3 dias e elas decidiram comemorar juntas.

Após algumas semanas tendo aulas com o menino mais velho tornou-se impossível esconder das duas. Principalmente por que as maiores novidades na vida de Yuri agora envolviam o garoto moreno. Durante uma das inúmeras vezes que ele mostrava uma das bandas que Otabek havia apresentado a inevitável questão foi levantada. E depois de algumas semanas respondendo que o cara que dava aulas pra ele havia dito isso, falado desse filme, mostrado essa música, as duas meninas perguntaram se eles estavam saindo.

Quando Yuri ouviu a pergunta não teve certeza se havia entendido o que elas estavam querendo saber. Olhando de uma para a outra respondeu:

_Ah... Sim. Nós saímos algumas vezes, nem sempre dá pra estudar na casa daqueles velhos, então nós vamos a alguma biblioteca ou parque. Teve aquela vez que fomos na biblioteca da universidade del-

_Não, não... Acho que você não entendeu Yuri. Você já disse pra ele... Como você se sente?

Pela primeira vez as duas meninas viram um Yuri sem palavras. Por alguns segundos ele apenas olhou para as duas, como se pensasse "como eu me sinto?". Quando seu cérebro fez o "click" suas bochechas ficaram vermelhas e ele levantou imediatamente do sofá onde estava jogado.

_VOCÊS SÓ PODEM ESTAR DROGADAS! O QUE EU TERIA PRA DISER PRA ELE! EU,  NÓS NÃO.ELE NÃO É ASSIM. SÓ EU QUE..

E então, depois de ter andado por toda a sala e parado de costas para as duas, parou de falar. Sem virar para encarar a expressão no rosto delas sentou-se no chão com o rosto nas mãos.

_Nós não falamos sobre isso... Vamos só continuar da última parte? Ok?!

Com os olhos fechados e a cabeça baixa ele não viu as duas se levantarem e caminharem até o lugar onde estava sentado. Apenas quando sentiu quatro braços apertando a parte superior do seu corpo que ele percebeu que estava sendo abraçado.

_Querido, não se preocupe. Você pode nos contar qualquer coisa, nós vamos te apoiar não importa o que. - Sara estava com a voz calma, Yuri sentia sua respiração em sua bochecha. Fazia cócegas.

_Talvez você Sara - Ali entre os braços delas Yuri segurou a respiração. Algo dentro dele não queria ouvir a menina de cabelos curtos repreendê-lo - Eu não ligo com quem ele anda de mãos dadas, mas se ele decidir que vai voltar a usar aqueles perfumes horríveis, eu não sei do que eu sou capas. Você sabe que foi uma luta pra ele parar de misturar tantos difer-

_Eles eram todos bons, eu só não queria escolher só um, idiota. Você não sab-

Com um sorriso no rosto Sara olhou para as duas pessoas em seus braços e começou a apertar os dois com toda a força que tinha.

_Já chega. Como eu estava dizendo... Yuri, você pode falar qualquer coisa prá nós. E mesmo se você ainda não quiser falar sobre esse menino, nós entendemos. Só... Você sabe. Você pode confiar em nós.

_Eu  não tenho nada pra falar sobre Otabek com vocês. Eu posso até não gostar de meninas. Mas ele é meu amigo. Ele não sabe sobre mim, e duvido que se souber ele possa pensar em mim como algo mais do que o que somos agora...

As duas meninas se entreolharam e com um acordo silencioso levantaram e jogaram Yuri novamente no sofá.

Com a súbita movimentação ele começou a reclamar, quando viu o olhar suspeito das duas parou e olhou para a porta.

Olha Yuri.  Não estou falando que você deveria chamar o garoto como se fosse um encontro. Só pergunta se ele gostaria de vir na minha festa com você. Qual a dificuldade nisso?

Mila estava com as mãos na cintura, seu olhar dizia que ela sabia que ele queria fugir e que era melhor não tentar.

_Nós queremos que você venha, mas você quase não fala com nenhum dos outros convidados. Talvez se trouxer seu amigo, você se divirta mais.

Sara foi sentar-se do lado de um Yuri irritado.

_Eu já disse que vou na sua maldita festa. Por que vocês estão tão fixadas nesse assunto agora?

_Você só fala desse menino desde que começou a ter essas aulas. Faz mais de dois meses que eu tenho que ouvir todas as músicas que ele te indica. Você está a toda hora tirando foto de alguma coisa pra mandar pra ele e vocês não param de trocar mensagens.  Mesmo que você não queira falar sobre seu óbvio crush nesse menino, e nem me olhe com essa cara, eu te conheço Kitten, qual o problema de trazer ele pra nós conhecermos?

_Primeiro. Já falei pra não me chamar desses nomes ridículos. Segundo. Eu já disse, ele é só meu amigo e justamente por isso não vou deixar vocês se conhecerem. Vocês acabariam sendo desnecessárias e falando algo ridículo.

Antes que uma das duas pudesse responder ele levantou e foi embora. Depois de mais alguns dias falando no assunto elas aceitaram parar de pressionar.

Alguns meses antes, quando Yuri comentou com as duas sobre ser gay, ficou duas semanas sem aparecer na casa delas. Não por medo de ser julgado, mas por vergonha de sí mesmo. A afirmação não havia sido feita de maneira intencional. Ele havia deixado escapar que "claro que eu não ligo pras meninas do colégio. Se eu fosse ligar pra alguém lá, não seria pras meninas". Ele considerar ser gay era uma coisa que já o deixava irritado e confuso, mas ter outras pessoas sabendo disso o assustava.

Ele não queria ser meloso e super grudado em outro cara, como o casal com o qual morava. Mas não se imaginava com uma mulher. Depois de pensar muito no assunto ele voltou a falar com as duas meninas. Mila disse orgulhosamente que já suspeitava. Só estava na dúvida se Yuri não se interessava pelas meninas que davam mole pra ele por ser homossexual ou arromântico.

No fim Yuri esclareceu não ser arromantico. Ele não se sentia atraído, romântica ou sexualmente, por meninas. Mas meninos eram um outro caso.

Yuri nunca pensou que ter seu vergonhoso segredo, como ele costumava pensar no assunto, revelado iria fazer tão bem pra ele. Poder falar sobre suas dúvidas e inseguranças com outra pessoa, sem ser alguém dentro de seu celular ou em páginas no Google, era realmente libertador.

Claro que ter que lidar com uma menina lésbica e outra pansexual, extremamente animadas com o novo tópico, não era fácil. As vezes Yuri apenas queria se esconder em um buraco. As duas não tinham vergonha sobre falar de sexo e acabavam dando informações que Yuri não queria saber. Enviavam vídeos que ele tinha muita vergonha para abrir no começo. Mas depois ele percebeu que esse era o jeito delas de mostrar apoio. E bem, os vídeos não eram completamente inúteis. Pornô bom é difícil de achar.

A primeira vez que elas perguntaram se ele gostaria de conhecer um amigo delas foi durante o intervalo de um dos ensaios da banda. Quando Yuri cuspiu o energético que estava tentando beber, todos da banda olhara na direção dos três. As duas ajudaram-no a desengasgar e começaram a gargalhar da reação do menino.

_Na sua idade e com vergonha de conhecer os boy? Acho que nós adotamos o adolescente errado, Sara.

_Querida, acho que o problema talvez não tenha sido o assunto. Mas chegar no meio do nada e perguntar isso... Realmente não foi sua aproximação mais sutil.

Antes que Yuri respondesse qualquer coisa as duas voltaram para o ensaio.

No dia que elas haviam falado sobre ele estar gostando de Otabek, ele não pensou muito no assunto. Claro que elas estavam implicando, o primeiro amigo que ele comentava com elas e isso as deixara eufóricas. Mas, quanto mais perto do dia da festa, mais Yuri sentia vontade de chamar o outro menino.

No final ele só não queria dar o braço a torcer para aquelas duas.

Levantando da cama ele foi em direção a pilha de roupas que estava jogada sobre uma cadeira, pegou debaixo da pilha uma das suas camisetas estampadas com um tigre. Depois de jogar uma jaqueta de couro por cima dela tirou uma foto e postou no Instagram.

O casal estava sentado na sala de estar quando Yuri tentou sorrateiramente se esgueirar para fora da casa.

Quando estava quase saindo olhou para trás, se ele contasse onde estava indo eles não teriam muitas objeções. Com um suspiro voltou para a sala e avisou que estava saindo.

_Ah, claro Yurio. Que essa situação é inusitada é, mas você quase não sai durante  noite... Estando em casa antes da uma hora da manhã tudo bem. - Yuri estava deitado sobre o peito de Victor e apenas abriu os olhos para acompanhar o sorriso que direcionou ao mais novo.

_Acho uma hora muito tarde... Mas se ele já te deu essa colher de chá, tudo bem. Se comporte! - Yuri sabia que Victor estava tentando parecer bravo, mas mesmo que sua tez estivesse enrugada, seus olhos permaneciam calmos. Talvez por estar mexendo no cabelo do homem deitado sobre si ou por estar feliz por ver Yuri se importando o suficiente com o aniversário de alguém para ir a festa...

Ele não gostava de admitir, mas em vez de sentir apenas desgosto ao assistir esse tipo de cena, ele sentia algo esquentar em seu peito. Aqueles dois estavam tão calmos e serenos, ele podia sentir o afeto fluindo entre eles. Além de darem um teto para ele, eles realmente pareciam se preocupar com Yuri. Isso era como ter uma família.

Antes que seu súbito desejo de abraçar aqueles dois no sofá ficasse muito forte, saiu da casa.