História Crossfire - Antes da Guerra

Eren olhava para o vazio enquanto a noite era a sua única companheira quando todo o mundo descansava.

O dono dos belos olhos verdes estava sentado na cozinha, bebendo um pouco de chá e contemplando a noite, pensando nas coisas que havia vivido e que agora iria viver. Tudo estava confuso, tudo parecia uma névoa intensa na mente de Jaeger.

Primeiro era Ikarof o vilão, mas acabaram descobrindo que era Maky que usava o homem como marionete.

Segundo Maky havia declarado guerra por ciúmes de Camila ser bem sucedida na vida.

Terceiro pessoas inocentes foram apanhadas numa guerra de família.

Isso fazia sentido?

Não!

Porém, para Maky fazia e era ela que tinha toda a razão.

Qual era o problema dela? Bastava apenas resolverem tudo conversando e ponto final, certo? Não era o caso.

Pelo pouco que vira de Maky, Eren entendeu que a jovem era louca, insana por um assunto mínimo. Contudo, ele sabia que o mundo era feito de pessoas insanas, capazes das maiores atrocidades para conseguirem o que querem. Aprendera isso ao longo dos anos como membro das Tropas de Expedição e de Exploração.

O rapaz também perguntava-se era se algum dia seria possível viver pacificamente com Levi, sem ter que pegar naquela vestimenta, no equipamento e partir para um dia incerto e que podia ditar a sua morte.

Uma lágrima escapara do olhar do jovem, ao recordar-se dos poucos momentos que vivera com Levi, momentos de ternura e paixão. Haveriam mais deles algum dia? Podia ele dormir e no dia seguinte acordar feliz de verdade, sem guerras e permitir-se de usufruir do amor e carinho que Levi Ackerman lhe oferecia? Ele ansiava que sim. Era algo que ele queria imenso, necessitava daquilo.

Entretanto, Levi estava de pé, encostado à ombreira da porta fitando cada detalhe do rosto do namorado. Ele não sabia o que Eren pensava, o que sentia mas sentia uma enorme tristeza tocá-lo. Queria abraçá-lo, acalmá-lo e dizer que haveriam de dar a volta por cima. Era uma sintonia de sentimentos inexplicável, maioria das vezes Levi e Eren não trocavam um olhar nem uma palavra mas sabiam como se sentiam.

Eren sentiu a presença de Levi, olhando para trás e vendo o capitão de esquadrão fitá-lo com ternura e carinho.

O Ackerman aproximou-se de Eren, fazendo um leve carinho no cabelo longo e castanho do jovem mas dando de imediato um beijo lento e caloroso. Era como se aquele beijo transpossesse​ a companhia e a proteção do maior.

Levi acabou por se sentar em frente ao namorado, bebendo um pouco de chá enquanto observava o céu noturno. Era bela aquela noite estrelada apesar do pequeno frio que se fazia sentir.

-Por quanto tempo nós vamos ter que lutar, guerrear pela causa de outra pessoa? Acabou um pesadelo e começou logo outro...-Murmurou Eren vendo Levi fitá-lo seriamente mas com calma. O Ackerman sabia o que o namorado sentia e queria dizer mas não sabia de outra forma para o ajudar já que também ele se sentia imponente.

-Na verdade, eu não sei mas...sei que nós sempre arranjamos forma de passar por cima.-Disse Levi bebendo um pouco de chá.

Os olhares de ambos encontraram-se.

Era o calor e o frio, o dia e a noite, a calma e a tempestade.

Sempre que olhava bem fundo nos olhos de Levi, Eren sentiam se seguro e, ao mesmo tempo, intrigado. Sentia-se intrigado pois sempre que olhava para os olhos do namorado era como se Levi lhe escondesse algo importante, algo do seu passado ou até mesmo pequenas coisas sobre si. Contudo, Eren nunca iria forçar o Ackerman a contar algo ou outra coisa do género contra a sua vontade. Eles tinham a sua privacidade, cada um o seu espaço, cada um as suas coisas e entendiam-se assim.

Já na prespectiva de Levi em relação a Eren, o homem sabia que Jaeger ainda se recordava da morte da mãe, de tudo o que vivera depois disso. Sentia que Eren não tinha segredos para ele, uma vez que o jovem fazia questão de contar algumas situações do passado a ele. Levi sabia cada mania, cada tique, cada coisa de Eren por algumas vezes que o observava de longe com os amigos. Nunca fora do género de namorado obsessivo, psicopata e outras coisas do género. Somente gostava de ver Eren a sorrir, ser jovem sem pensar nas guerras e sem ser o soldado que era. Sabia que Eren fazia o mesmo, Hanji fazia questão de lhe dizer e já chegou a apanhar o namorado a fazê-lo. Era natural e ambos sentíamos e bem.

Agora, sentados na cozinha, olhando para a noite, Levi e Eren estavam de mãos dadas. O Ackerman sentiu Eren encostar a cabeça no seu ombro e apreciar a noite enquanto Levi lhe falava sobre as constelações, uma vez que o melhor amigo de Armin se mostrou curioso.

E ali ficaram eles.

Somente contemplando as estrelas, esquecendo as guerras e tudo mais. Tanto um como o outro não sabia o que o destino lhes reservava mas nada disso lhes interessou naquela noite porque apenas se amaram mais e isso bastou para que apenas eles se entendessem.

No dia seguinte, Levi acordou primeiro e, aproveitando que ainda estavam todos a dormir e o tempo estava bom, o Ackerman saiu para um treino. Ele precisava de pensar, de sair nem que fosse um pouco daquela realidade mortífera.

Caminhando pelos campos verdes e pacíficos que existiam perto da Vila das Bênçãos, Levi via as estrelas que ainda efeitavam o céu que começava a aclarear. O céu exibia lindas cores mas, na mente de Levi, tudo isso parecia um cenário falso da verdadeira realidade.

Já em relação a Eren, o jovem havia acordado lentamente e vendo que o namorado não estava a seu lado. Provavelmente ele teria ido treinar como sempre faz quando estão em casa. Indo em direção ao banheiro e fazendo a sua higiene, Eren decidiu fazer algo em casa. Prendendo o seu longo cabelo castanho chocolate, Eren vestiu uma roupa que ele usava para fazer algumas lidas da casa.

-Bom dia.

Eren pulou de susto ao ouvir a voz do namorado bem atrás de si. Sentia o calor do corpo dele contra o seu, a respiração forte contra a pele exposta do seu pescoço.

Sempre amara o facto de estar assim com ele, a sós podendo trocar carinho sem que o julgassem.

-B-Bom dia, L-Levi. - Gaguejou Eren, sentindo Levi entrelaçar os dedos nos do mais novo. -Tiveste um bom treino?

-Sim. -Falou Levi indo beber um pouco de água enquanto Eren o admirava.

Cada detalhe do corpo do Ackerman, cada músculo, a tonalidade da pele, os cabelos negros curtos e lançados para trás. Tudo isso fascinava Eren a cada dia que passava pois, a cada dia, ele descobria algo novo e apaixonava-se sempre pelo melhor soldado da Humanidade.

Levi sentiu o olhar de Eren sobre si, por isso, não se admirou quando deparou-se com o jovem imóvel à sua frente.

Encostando-se à banca, Levi fitava também Eren. Como ele havia crescido imenso durante todos aqueles anos, não somente a nível físico mas mental.

-Cada dia que passa...eu...eu apaixono-me mais por ti. - Confessou Eren levemente ruborizado.

-A cada dia que passa, eu admiro-te mais. - Dissera Levi, fitando cada traço do rosto do Jaeger. 

-Bom diaaaaaaa!

Eren e Levi viram a casa ser invadida por Laurent, Larry e mais dois rapazes da Fortaleza.

-Acho que interrompemos algo, meu irmão. - Disse Larry vendo um aura negra crescer ao redor de Levi. - Corram pelas vossas vidas!

Eren ainda tentava assimilar o que se tinha passado, apenas vendo Levi suspirar e fechar a porta.

-Vem, precisamos de tomar um banho e de ir para a Casa Forte. - Informou o homem dos olhos azuis acinzentados, aproximando-se de Eren.

Alguns minutos mais tarde, Levi e Eren encontravam-se com a restante tropa até verem Camila, Patrícia e os gémeos caminhar até ao pequeno degrau.

-Bom dia a todos. Eu sei que é tarde porém recebemos uma carta de Ikarof.

-E o que temos a haver com isso?

-Ikarof fez uma proposta já que o objetivo é como tanto para o nosso lado como para o dele: deter Maky.

-Isso cheira a traição. - Falou o mesmo soldado. - Quem nos garante que ele não nos trairá?!

-Eu sei que estão todos receosos mas nem mesmo eu, a Patrícia, ou seja quem for, confia nele totalmente. - Disse Camila encostando-se na mesa e olhando para os soldados. -Oiçam, eu sei que isto pode acabar de diversas maneiras mas é a nossa sobrevivência e liberdade que estão em risco. Já se passou imensa coisa, porém eu acredito na força que cada um possui. Acreditemos uns nos outros.

Aos poucos os soldados foram acreditando no que Camila havia dito mas, para Levi havia algo mais tenebroso a aproximar-se.