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História Crow's Flight - Quebra


Escrita por: erikastybrien

Notas do Autor


Oii amores!! Mais uma vez quero conversar com vocês, mas tentarei ser breve agora. Primeiro de tudo, quero agradecer imensamente o carinho que recebi de todos vocês quando confessei que não estava muito bem de saúde nos últimos capítulos. Como isso afetou diretamente na minha escrita, me fez mais mal psicológico do que físico, principalmente porque também entrei numa fase clássica e ruim de criação (é normal mas péssimo). Estou sentindo uma conexão e proximidade com vocês que não sentia há algum tempo em relação à fanfic, e isso não diz respeito à números mas sim a real entrega de vocês para a história. Eu provavelmente já disse isso várias vezes e no último capitulo vou reforçar ainda mais, mas mais uma vez obrigada!! Cada comentário sempre é uma faísca nova de motivação para mim, eu dou o meu melhor sempre porque vocês merecem isso. <3
Agoraaa, sobre o capítulo de hoje, as minhas considerações precisam ser gerais. Não posso falar muito porque não quero dar spoiler, apenas saibam que vocês são livres para cogitarem o que quiserem nessa fase. Como já comentei, estamos perto do ponto alto da história e eu espero que possa ser uma experiência única para todos. Quero me resumir apenas nisso :)
Boa leitura!!!

Capítulo 49 - Quebra


Fanfic / Fanfiction Crow's Flight - Quebra

Lydia Martin

O celular despencou dos meus dedos.

Eu arfei. Uma. Duas. Três vezes.

Os gritos ainda estavam soando, agonizantes, rondando a mesa em que estávamos. Silêncio, exceto pelos gemidos e apelos que vinham dele enquanto uma lâmina atravessava seu peito. Meu corpo pareceu afundar na cadeira como se eu estivesse mergulhando em ácido.

Levantei, arrastando o assento e ganhando espaço na sala. Cobri meus ouvidos com as mãos trêmulas, apertei meus olhos e implorei para que quando os abrisse, nada daquilo estivesse realmente acontecendo.

Alguém faça parar... alguém faça parar!

Eu estava doendo por todos os lados. Doendo, com medo, a culpa queimando em minha garganta que trancava os soluços do choro que eu reprimia. Passos ansiosos me alcançaram, mas eu não me mexi. Eu não queria fazer nada além de me convencer que estava vendo coisas, que estava enlouquecendo. E se eu realmente estivesse?

– Lydia. – Chamou Mitch, baixinho, tocando-me nos braços.

Eu balancei a cabeça de forma incoerente, sem saber o que fazer, os gritos cortando minhas veias em culpa e mais culpa. Eu era culpada.

– Olhe para mim, linda, por favor.

A entonação que vibrava muito além de sua boca alcançou – mesmo sem eu saber como – meu coração. Um tsunami aterrador de afeto me atingiu, quase sendo demais para que eu suportasse me manter em pé. Eu ainda estava embolada em meu cárcere quando meus pés viraram para ele. Os sons sôfregos criaram raízes em meus pensamentos, soando em um maldito looping infinito enquanto eu era torturada por dor.

Os olhos de Theo... seu sorriso... como eu pude... como?!

Aquele foi o exato momento em que eu descobri que o mataria. Eu verdadeiramente o mataria. Minha alma já estava perdida de qualquer forma.

Eu nunca a verei de novo, mamãe.

De cabeça baixa, com as mãos nas orelhas, não olhei para Mitch. O medo de que ele enxergasse minha alma distorcida ou minha sentença fodida de ter a vida de meu amigo em minhas mãos poderia me destruir resumida apenas em uma possibilidade. Deus... estava doendo. Meu corpo inteiro estava sangrando ao contrário. O que eu me tornei?

– Desligue essa merda. – Rugiu Mitch, olhando para trás.

Meus olhos levantaram por impulso.

Sophie, Allison e Irene estavam em volta do celular, encarando a gravação que havia quebrado minhas entranhas segundos atrás. Nenhuma delas olhou para nós, mas alguém acatou seu pedido/ordem. Os sons pararam de entoar pela sala, mas isso não importava por que eles ainda estavam em cada ponto de meu corpo, doendo e doendo. Lágrimas ardidas caíram de meus olhos.

– Lydia...

– Vão matá-lo.

Foi tudo que eu consegui dizer em meio a um sussurro.

Mais sangue em minhas mãos, mais cicatrizes em minhas memórias, mais culpa em meu passado... Theo destruiu minha vida. Porra, ele fez isso.

Eu balancei minha cabeça, apertando minhas mãos trêmulas em punho e drenando o tsunami de lágrimas nos olhos. Pressionei minha mandíbula, meu queixo ameaçando tremer enquanto eu me concentrava em ficar em pé.

Mãos macias subiram ao meu rosto. Mitch me acariciou, fazendo-me olhá-lo. Agonia. Medo. Carinho. Parecia que nada que vinha dele podia me alcançar.

– Não vão matá-lo. – Disse ele, sua voz firme mesmo quando eu sabia que estava longe de ser carregada de certeza concreta. – Foster sabe se cuidar, Lydia.

– Isso não depende dele.

Mitch sabia disso também, ele só estava tentando ser forte por mim como já fizera várias outras vezes. Era uma pena que nem sua compaixão e promessas motivacionais fossem me confortar. Promessas haviam transformado minha vida no que ela era agora. Meus olhos arderam tanto, tanto... e Mitch... eu podia enxergá-lo segurando com força cada um de seus sufocantes sentimentos. Ele engoliu, lágrimas rasas e de diferentes razões – pensava eu – apareceram em seus olhos.

Eu queria arrancar o que quer que estivesse doendo nele e colocar em mim. Talvez eu estivesse mais acostumada com isso tudo do que ele, eu merecia mais aquele fardo de ter o coração e sangue de Foster nas mãos do que qualquer um dentro daquela sala.

– Theo mandou um recado.

Eu e Mitch disparamos nossos olhos para Sophie. Seu rosto era somente uma destruição nivelada de medo. Ela se aproximou de nós, estendendo o celular para mim, e eu o peguei quase como se não tivesse controle de minhas mãos. Meu impulso e meu medo estavam conectados pelo mesmo fio de desespero.

O volume mínimo atingiu meus ouvidos como uma serpente. Era apenas um chiado do começo da gravação, enquanto Theo ajustava a câmera no que poderia ser um tripé improvisado. Mitch se colocou ao meu lado, pousando uma mão em minha cintura e apertando como se quisesse me encorajar.

Nós esperamos alguns segundos, até que Raeken saiu do alcance da lente e sumiu da gravação. A sala era revestida por cimento, assim como o piso, ambos marcados por algumas rachaduras. Parecia abafado, ausente de janelas. No centro da gravação, um corpo jogado em uma cadeira, com as mãos para trás, sem camisa e com calças jeans desbotadas.

Foster observou ao redor, seus olhos arregalando em pavor enquanto debatia os braços que deveriam estar amarrados. Sua boca estava amordaçada por um pedaço de pano. Ele resmungou algo como um grito, balançando a cabeça enquanto os olhos focavam em um dos cantos da sala.

Logo depois, Theo entrou em foco outra vez. Ele se aproximou da câmera, inclinando-se ao apoiar as mãos nos joelhos e, com o rosto relaxado, dar um sorriso. Um sorriso que ele sabia que um dia seria para mim. Porra, de quando era esse vídeo?!

Eu iria lançar essa questão ao grupo quando fui atingida por sua voz.

– Eis aqui o acordo, minha pequena. – Disse ele, tornando meu estômago apenas um buraco gélido. – Eu quero o que é meu de volta, você sabe do que se trata. Traga-o para mim, você também sabe onde me encontrar. Enquanto isso, vou me divertir com seu amigo. Ele me disse que se chama “eu nunca vou te dizer a porra do meu nome”.

Theo riu baixinho, ausente de qualquer tipo de calor. Ele lançou um olhar para trás, encarando Foster ainda com os lábios curvados. Quando voltou para a frente, suas pupilas foram banhadas de antipatia. Eu me lembro de ter me questionado o quanto de Henry ainda existia nele, quando nos encontramos recentemente. A resposta agora era óbvia e apenas uma: nada.

Eu nunca seria capaz de amar alguém com aquele olhar.

– Você foi esperta em ter me espionado, então use isso ao seu favor se quiser vê-lo outra vez. Não se esqueça que cada segundo conta.

Uma vertigem ameaçou me atingir. Eu exalei, meus olhos arregalando em terror enquanto o último sorriso de Raeken era estampado.

– E aliás... – Cochichou, parecendo... ansioso, talvez. – Eu amei nosso aniversário de nove meses.

Nove meses... meus neurônios congestionaram em ardência, tentando recuperar memórias enquanto eu me perdia em pavor ao vê-lo caminhar até Foster e puxar uma faca do cós da calça. Theo estava com uma camiseta preta, os braços sadicamente limpos... diferentes de como eu sabia que se transformaria nos restantes dois minutos da gravação.

Donnavan arregalou os olhos, mas não fez barulho. Era perceptível que ele tentou se conter, seu queixo rígido tentando mostrar desavença mesmo diante da premissa de minutos sofridos. Meu coração parou na garganta.

Em silêncio, Theo contornou a cadeira em que Foster estava imobilizado. Seus lábios se moveram mas a câmera não captou o áudio. E então, a lâmina brincou com o ombro de Foster e um gemido agoniado escapou dele.

Eu contei cinco novas fissuras até Donnavan se render e começar a gritar enquanto o sangue escorria por sua pele. Eu não podia ver outra vez. Empurrei o telefone para Mitch e me afastei, minhas pernas rangendo de ansiedade.

Nove meses.

– Ele me deu uma dica. – Eu me virei para o grupo, pegando todos os olhos em cima de mim. – Nove meses... acho que foi quando fomos a uma confraternização da empresa que ele trabalhava. Faz muito tempo, não me lembro ao certo. Também apaguei as fotos do meu celular.

– Podemos recuperar, Martin. – Disse Irene, concreta em certeza.

– Tudo bem, então façam isso.

– O que você ganhou dele nesse aniversário? – Mitch se aproximou de mim, passando meu celular para Sophie que se apressou em negociar com Irene a inspeção de Norman ou algum outro hacker em meu telefone.

Eu não me atentei na conversa das duas, presa em minha cabeça.

Raeken me deu roupas, joias, livros... ele era esperto. Seu plano era me deixar com o protótipo desde o início?

– Precisamos pensar no pen drive. – Eu citei, por que era nosso ponto de partida.

– Ele disse que estava acoplado, então precisa ser algo grande.

– Não necessariamente. – Interrompeu Allison, atraindo nossos olhos. – Ele só precisaria do disco rígido.

– Então, indo por esse lado, deve ser algo simples.

Um telefone tocou entre nós.

Irene pescou o aparelho em cima da mesa e o atendeu, se afastando do grupo.

Minhas têmporas latejaram em estresse. Eu cruzei meus braços, trazendo uma mão à boca, alisando meu lábio.

Pen drive. Disco rígido, se ele for esperto. Nove meses.

Deus, minha cabeça parece a merda de um deserto. Fechei meus olhos, tentando me lembrar. Nossas lembranças correram por meu corpo como um veneno entorpecente. Passamos por tanta coisa juntos, fomos à várias festas, era praticamente impossível selecionar uma memória e trazê-la à tona.

– Eu preciso das fotos. Com certeza nós tiramos alguma.

Como se o destino estivesse colaborando comigo, Irene se reaproximou.

– Norman está no prédio. – Avisou ela.

Sophie me deu um olhar e eu assenti, fazendo-a caminhar para a saída com meu celular. Allison se colocou atrás dela, acompanhando seus passos ansiosos mesmo com alguma dificuldade de caminhar.

– Norman disse que irá direto no mês que bate com a informação, mas talvez leve algumas horas. – Disse a diretora.

Horas. Cortes, gritos, dor...

– Donnavan não pode perder muito tempo.

– Eu sei, Martin. Mas é o podemos fazer por agora.

Espinhos subiram em minha língua. Eu queria retrucá-la, exigir que se empenhasse mais mesmo sem saber como, ou ainda, puxar do fundo de meu íntimo aquela acusação que estava batendo em minha carne sem cessar.

Talvez eu não fosse a única culpada da sala, no final das contas.

Entretanto, eu não soltei as palavras rancorosas. Engoli meu impulso e senti meus órgãos despencando. O rosto lindo e amigável de Foster ainda estava no fundo de minha cabeça, queimando e recebendo mais gasolina todas as vezes que meu coração ameaçava parar. Meus dedos ainda estavam tremendo... eu precisava bater em algo. Eu preciso descarregar.

Mitch se aproximou de mim, estudando meus olhos. Eu provavelmente estava com minhas emoções escancaradas já que não conseguia me lembrar de segurá-las, sugada demais pelo choque dos sons. A única pessoa ali dentro que eu desejaria mascarar meus sentimentos era Irene, mas de repente ela já não tinha importância.

Ele tocou minhas bochechas e me puxou para um abraço, beijando o topo de minha cabeça. Seu corpo forte ao redor do meu não era exatamente a forma como eu imaginava que descarregaria, mas foi o que aconteceu.

Eu queria suar, gastar energia, dissipar meu ódio, mas Mitch mudou os planos. Quando me vi ouvindo seu calmo coração no peito, seu cheiro delicioso escapando da camiseta, seus lábios me dizendo que tudo ficaria bem... eu descarreguei. Chorando.

As lágrimas drenaram sem permissão, descendo e descendo. Eu soltei um baixo soluço, passando as mãos pela cintura dele. Eu queria conforto e mesmo que não pudesse tê-lo agora, algum lado obscuro e desesperado dentro de mim me fez fantasia-lo me puxando para qualquer lugar – desde seu carro até uma sala qualquer – e me dando o que eu tanto queria. Eu queria ele. Puro. Cru. Faminto. Eu queria ele daquela forma. Estou desesperada, confusa, perdida, sendo cortada em vários pedaços de nada enquanto os sentimentos colidem em minha cabeça.

– Enquanto as meninas ajudam Norman, vocês podem vasculhar as coisas antigas de Lydia. – A voz de Irene soou, mas eu não me afastei de Mitch.

Eu o senti olhando para ela, murmurando um “certo”, mas ele também não me largou.

– Vou designar outra equipe para a missão em Virgínia, com licença.

Rapp não disse mais nada. Quando a porta bateu, eu soube que estávamos sozinhos. Continuei chorando, quieta, precisando somente dele para tentar esquecer o que estava acontecendo.

**

Nós começamos bem. Eu contei, no máximo, dez meros minutos até não suportar mais a coceira que roía em cada poro de meu corpo. Desespero já não poderia ser usado para definir.

Eu não sabia o por quê, não entendia como, mas era o que eu queria. Eu passei tanto tempo sofrendo sozinha quando Katherine e mamãe morreram que passei a acreditar – quando me vi nessa situação com Foster – que já não podia mais suportar outra situação como essa.

Sofri calada e sozinha na Resguarda, me reerguendo enquanto meu luto minava aos poucos. Sofri sozinha quando fugi da CIA para respirar e tentar, longe dali, cogitar uma nova vida para mim. Sofri sozinha quando quis ouvir a voz de Mitch, mas ele estava com outra mulher. Mas, quando me vi apaixonada por ele, nada disso fazia mais sentido. Eu não queria mais sofrer sozinha.

Eu queria descarregar, queria que alguém arrancasse isso de mim da mesma forma que eu faria por esse outro alguém. Foi exatamente o que eu pedi a ele quando disse, há poucos minutos, que precisava dele. Seus olhos relutaram, exibindo o conflito que seu corpo e mente provavelmente travaram, mas Mitch cedeu. Ele sempre cedia e eu amava isso.

Era mais do que desespero. Era uma camada muito mais do que apenas ansiosa. Ansiosa e faminta e aflita. Era como uma criação de tudo isso, agora no oxigênio que eu engolia, nas três palavras que raspavam em minha garganta, na fome em minha carne, na dor em meu interior, no medo em minhas veias, no amor em meus pensamentos... eu era tantas coisas, que talvez me reduzisse a um bolo de nada.

Eu sentia que, talvez, fosse mais por mim do que por ele. Mitch queria me agradar e eu sabia disso, mas bastou meu primeiro gemido deslizar para ele esquecer seu confronto pessoal e deleitar-se no que fazíamos de melhor. Nosso sexo era magnético de uma maneira que parecia ser impossível suportar. Na verdade, eu não suportava.

Eu estava gritando, gemendo, ofegando, minhas costas pressionadas contra a parede e meus dedos inúteis em seus ombros fortes. Ele me enchia de calor e mais desespero todas as vezes que saia e entrava. Nós estávamos quentes um contra o outro, suados, o desespero entre nós parecendo ser tocável enquanto eu só me concentrava em respirar.

– Mitch...

Todas as minhas células estavam clamando por ele. Ele não gemia, mas eu já conhecia aquela característica nele. Mitch só costumava gemer ou ofegar alto quando provava o primeiro centímetro apertado e quente dentro de mim, ou quando estava perto do limite que fazia seus lábios despencarem. Eu amava a forma que suas sobrancelhas franziam enquanto ele gozava.

Ele continuou se movendo, mais lento do que eu verdadeiramente ansiava, batendo em meu quadril com as mãos firmes ao meu redor, nossos peitorais próximos e ferventes.

Minhas pernas nuas ao seu redor apertaram com uma saudade irrelevante enquanto os sons brotavam em minha garganta sem cessar. Ele me devorava com os olhos, com o corpo, com tudo que podia. Isso, é disso que eu preciso.

Descarregando. Descarregando. Descarregando a cada novo segundo.

Isso provavelmente não era o que a Lydia de antes de Henry faria. Meu eu do passado estaria, em uma situação como essa, tremendo e chorando encolhida em cima de uma cama, sem saber o que fazer.

Agora, eu também não sabia o que fazer, mas eu não cogitava segurar nada para mim. Eu vinha suportando muito há tempo demais. Então, eu estava descontando em Mitch. Selvagem, desesperado, agoniante de tão gostoso... A Lydia de agora estava descarregando suas emoções em sexo.

Eu me assustava com o quanto não existia nada de Henry no Theo que havia se revelado para mim desde que cheguei a CIA, mas a verdade é que também não existia nada de mim daquela Lydia no passado agora. Talvez ele também tivesse ficado surpreso.

O que aconteceu comigo?

Em partes, culpada, confusa, impura. Em outras, satisfeita, apaixonada e faminta. Foda-se.

Mitch parou de se mexer por um momento, e um olhar para seu semblante me avisou que ele derramaria dentro de mim antes mesmo que eu sentisse. Seus lábios caíram um pouco mais e suas sobrancelhas formaram a familiar curva do ápice. Eu mordi meu lábio, puxando-o para mais perto com tudo que podia enquanto me esfregava em seu abdômen. Ele me pressionou contra a parede, mas minha blusa era uma boa camada contra lesões.

Ele arfou baixinho, suado, seu pescoço e rosto tomados por rosa enquanto engolia e respirava. Deus... ele era realmente dolorido de tão lindo. Eu relaxei contra a parede, firme com as mãos em seus ombros e minhas pernas escorregadias em seu quadril. Poucos segundos se arrastaram até ele me colocar no chão e fechar o zíper da calça que nunca saiu de seu corpo.

De calcinha, eu firmei meus pés no chão, sentindo minhas veias puxarem enquanto me readaptava. O vasto de saudade que existia entre nós deixou de existir quando ele se aproximou, segurando meu pescoço suado. Ele tirou alguns fios de meu cabelo e os jogos para trás.

Eu enxerguei culpa em seus olhos antes mesmo que ele falasse.

– Isso não foi certo.

– E por que não?

Ele balançou a cabeça, atordoado, e tirou as mãos de mim.

– Eu me aproveitei de você.

Ah, Mitch...

Esse homem tinha o coração maior do que eu poderia já ter mensurado um dia. Suas palavras não chegavam a ser verdade nem por um único segundo.

Se algum de nós havia se aproveitado do momento de fraqueza do outro, era eu. Por que eu pedi, por que eu teria o agarrado se não tivesse dito nada, por que eu passei a resolver as coisas assim em algum momento: com adrenalina.

A culpa ainda estava por todo o seu rosto. Ele era uma pessoa melhor do que eu.

– Não é verdade. – Eu disse a ele, me aproximando.

Toquei em sua camisa suada, desejando senti-lo sem ela. Porra, não fazia nem cinco minutos desde a última vez.

– Eu precisava disso, Mitch. Acredite em mim.

Eu verdadeiramente precisava.

– Você está culpado?

– É só que... – Sussurrou, olhando para outra direção. Seu cabelo escuro e grande também estava suado, e fodidamente charmoso. – Pareceu errado quando terminou.

E para mim, tão certo...

– Você é uma pessoa melhor do que eu, Mitch.

Ele piscou com confusão, fazendo-me perguntas em silêncio. Mãos quentes me tocaram na cintura, tornando respirar de repente uma tarefa regrada.

– Sabe o que estou pensando agora? – Perguntei, e ele agitou a cabeça. – Estou preocupada com Foster, com medo, mas ao mesmo tempo, eu sabia que precisava me distrair um pouco por que não podemos fazer nada sem Norman resolver a questão do meu celular. Então – eu suspirei, meus olhos caindo dos dele. – Eu decidi gastar energia com você, por que eu queria transar, por que eu me tornei egoísta nesse ponto de fazer de tudo para ficar bem mesmo quando talvez eu não mereça.

– Seus impulsos são primitivos, Lydia. – Ele sussurrou, me fazendo erguer os olhos. Seu semblante era indecifrável. – Você faz tudo pela sobrevivência, mas isso é humano. Eu decidi te dar o que você queria, não foi como um sacrífico para mim. O problema é que... eu tenho medo de que você se arrependa de suas escolhas comigo o tempo todo, por que eu sei que suas escolhas com Theo ainda a assombram.

Deus... quando eu disse isso a ele? Eu cheguei a dizer?

Meu coração aqueceu tanto que reverberou calor até a ponta de minha língua.

– Você... – Sussurrei. – Descobriu isso me observando?

Mitch soltou um de seus sorrisos que eu amava.

– Mais ou menos isso. E sobre o que você disse, não é verdade. – Seu rosto voltou a seriedade habitual. – Seu coração sempre foi bom demais para tudo isso, eu soube disso desde o primeiro momento que entendia que você entraria para a CIA, Lydia. Eu soube que você era melhor do que eu desde que nos conhecemos.

Não, eu não era. Eu sabia que não era por várias razões. Não me importava o quanto ele já tivesse matado ou pensado coisas ruins um dia, aquela dor quase calma em seus olhos era diferente da minha. Eu acho que comecei a me perder de mim mesma em algum momento, e fui tão arrastada por toda essa perca de luto e mágoa que agora eu estava desesperadamente tentando voltar até mim, mesmo quando eu não sabia se ainda havia tempo para isso. Eu já não conhecia todos os lados dentro de mim, não sabiam se eram novos ou se estiveram adormecidos por todo esse tempo.

Mas, agora, eu sabia que existiam sombras cicatrizadas em meu peito e não sabia até que ponto Mitch poderia curá-las.

De repente, eu não queria mais falar sobre aquilo. Eu preferi, como a boa e antiga Lydia, fugir do problema. O puxei para perto e o abracei, respirando seu cheiro e sentindo que sua boa alma estava enlaçando em meus dedos. Ele era bom de todas as formas.

Não existe salvação para mim, Mitch.

**

Em algum momento daquela tarde, um vestido roxo se fixou em minha cabeça. Eu pensava naquela peça o tempo inteiro e não consegui esquecê-la até encontra-la perdida em minhas coisas. Algo me dizia – eu esperava que fosse instinto – que aquela roupa era importante.

Quando a encontrei, vasculhei a costura e todo o possível que pudesse armazenar um disco rígido. Mitch estava exausto, fuçando em minhas coisas quase com raiva. Eu não o julgaria.

Rapp e eu nos vestimos, prontos para irmos para a CIA a qualquer momento, principalmente por que Sophie havia ligado, alegando estarem com problemas na intervenção dos arquivos apagados em meu celular e que talvez Irene cogitasse uma operação de emergência. Eu estava com minha jaqueta de couro fino e o comum coldre com lâminas nos ombros, enquanto Mitch sequer tirou a roupa que chegou até aqui, mas eu o entreguei uma pistola.

Frustrada, não encontrei nada no vestido, embora tivesse certeza que Theo havia me presenteado com ele. Joguei a peça em cima de minha cama bagunçada e me aproximei de Mitch, oferecendo-o uma ajuda silenciosa. Eu o dei um beijo no ombro, envolvida em seu calor mesmo em tão pouco tempo.

– Eu nunca vi você com nada disso.

Observei ele passando os dedos por minhas joias, me colocando ao seu lado. O dei um triste sorriso.

– Eu usava muito antes dele e na faculdade eu tinha muita aula prática, então acabei perdendo o gosto por anéis. – Dei de ombros, pescando um cordão dourado.

– Tudo bem.

Nós começamos a examinar as joias em silêncio, entediados e ao mesmo tempo consumidos por uma ansiedade sorrateira. A boca de meu estômago estava ardendo. Quando me empenhei de vez no trabalho, os gritos de Foster penetraram meus ouvidos outra vez, recordando-me do por quê eu estive tão desesperada para descarregar emoções naquele dia. Ele já estava lá há um dia inteiro... eu jurei a mim mesma que marcaria o corpo de Raeken o dobro de cortes que encontrasse em Donnavan.

Somente quando o sol já estava caindo no horizonte em Virgínia, nós recebemos uma ligação da sede da CIA. Mitch atendeu seu celular e colocou no viva voz.

– E então?

– É uma esmeralda. Um cordão dourado com uma esmeralda. – Disse Sophie, a voz carregada de ansiedade. – Encontramos no celular de Lydia uma foto deles no evento. Se ela estiver certa quanto a dica, é a única coisa que seria certo. Ela estava com um vestido preto.

Eu fechei meus olhos e as memórias inundaram tudo.

Jantar com meu chefe em comemoração ao aniversário da empresa, e também é nosso aniversário. Eu quero você lá, comigo.

– Merda. – Sussurrei, sentindo-me estúpida.

A lembrança parecia fácil, agora que estava aqui. Eu comecei a mexer nas joias, procurando pelo colar.

– Irene quer o protótipo aqui para tomar uma decisão. – A voz de Sophie entoou outra vez.

O quê?

Meus dedos vacilaram e eu olhei para Mitch como se o perguntasse em silêncio se eu estava ouvindo direito. Ele engoliu, algum nervosismo em seus olhos escuros, tentando decifrar meu rosto. Por fim, ele assentiu e murmurou para o telefone.

– Tudo bem.

Tudo bem?

Confusa, eu voltei a mexer nas joias, até que a pedra verde apareceu diante de meus olhos. Meus dedos trêmulos pescaram o cordão, e eu encarei a pedra, tentando enxergar o disco rígido do pen drive. Deveria estar dentro da pedra...

– Lydia, precisamos voltar para a CIA. Me dê o protótipo.

– O quê?

Ergui meus olhos para ele e, por alguma razão, meus pés retrocederam alguns passos. Mitch franziu o cenho para mim.

– Você ouviu, Irene quer o protótipo lá.

– Você entende que Foster pode estar morto agora mesmo?

Por que Irene precisava disso lá, quando sabia o que deveríamos fazer? Atacar era a única saída possível. Meus músculos arderam em raiva e descrença e vingança, dominados pelo sentimento mais comum que eu vinha sentindo: desespero.

Eu precisava salvá-lo.

Mitch assentiu, mas seu rosto não parecia tão angustiado quanto eu gostaria que fosse. Ele parecia nervoso, mas ainda era calmo como sempre.

– Lydia... – Sussurrou, balançando a cabeça. – Você sabe que só precisamos seguir ordens, tudo bem? Vamos resgatar Foster assim que Irene nos disser o que fazer.

– Por que você está defendendo ela? – Perguntei agarrando a esmeralda com minha mão.

Aquela minha dúvida era antiga, e só precisei de impulso para torná-la um pensamento alto.

– Você não se opôs quando ela demitiu Foster injustamente, você parou de a contradizer como costumava fazer. Agora mesmo, eu sei que você está preocupado com Foster, mas também está preocupado em obedecê-la.

– É isso que nós fazemos, Lydia, nós obedecemos a Irene.

Sim, é isso.

As conclusões se arrastaram por minha cabeça como raios. Eu estreitei meus olhos, observando-o segurar os sentimentos em seu semblante enquanto eu o observava. As últimas semanas de repente se tornaram um novo fantasma para mim. Meu coração, ameaçado, se encolheu e choramingou de medo.

– Você está defendendo eles, então?

– Do que... – Começou ele, avançando um passo.

Eu fiz a última coisa que achei ser possível. Peguei uma lâmina do coldre e a reservei na mão vazia, espremendo a esmeralda na outra. Os olhos de Mitch apagaram em dor. Ah, Deus... Meu Mitch...

– Lydia...

Lágrimas arderam em meus olhos. Eu poderia estar errada, eu queria estar, mas eu odiava que os últimos dias parecessem fazer sentido. E então, olhando em seu lindo rosto com sentimentos feridos, observando a maneira que suas mãos ergueram em rendição, eu contive minhas lágrimas de ruptura. Escutei minhas veias tilintarem em quebra

Minha quebra. 

Por esse homem. 

Por nosso amor.


Notas Finais


Oook, quero falar mais algumas coisas sobre a história daqui para o final. Tudo o que vou falar aqui sou eu como autora, ok?
Primeiro, a Lydia sempre foi por mim uma personagem pensada com calma. Eu queria uma mocinha que fosse doce mas que também tivesse seus momentos insanos, só que logicamente isso precisou ir mudando cada vez mais desde que ela entrou na CIA. Hoje em especial, eu quis mostrar um pouco desse conflito para vocês. Como ela se sente percebendo que não é a mais a mesma, o quão bom isso pode ser ou não. Aquele capítulo em que ela encontra o Theo, "Silhueta", eu fiz o esconderijo da CIA ser em uma igreja abandonada propositalmente. Foi apenas um detalhe, mas gostaria de explicar que era para soar como uma espécie de referência religiosa em relação a alma da Lydia. O ponto forte da fanfic são emoções e erros humanos, tenham isso em mente daqui para o final, okay? Não vamos nenhum tipo de moral da história ou algo assim kkk mas essas seriam as minhas palavras chaves para os últimos capítulos.
Hoje também quis mostrar como mapp (de uma forma ou de outra) sente que não merece o outro. Eles sempre tiveram alguma insegurança em relação ao outro, mas isso está ficando mais forte agora porque os fatos estão se agravando (como a dúvida entre eles sobre os documentos e o sentimento da lydia pelo ex) e esse momento é o ponto alto deles e de tudo isso ao redor, inclusive como a lydia pensou "os últimos meses"...
Sobre o protótipo: eu vi que alguns de vocês falaram que poderia estar na lydia. A primeira ideia que eu tive foi sim de ser implantado no corpo dela e eu cogitei fazer assim, bolei até um contexto, porém, eu não queria que fosse óbvio então achei melhor tentar fazer de uma forma diferente e foi assim que eu consegui :)
E, agoraaa.... temos aí muitas coisas do nosso casal né. Esse momento tenso entre eles... vocês tiraram conclusões? rs, como sempre eu quero saber.
O próximo capítulo é sem dúvida um dos mais difíceis que já escrevi, mas eu AMO a narração dele!!
Beijosss <3


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