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História Crow's Flight - Distração


Escrita por: erikastybrien

Notas do Autor


Oi amores! Última atualização antes das férias terminarem e confesso que estou bem tranquila por ter bastante capítulos armazenados. Capítulo de hoje com bastante interação mapp, dentro da cabeça da Lydia. Adoro escrever com ela, e gostei particularmente bastante desse capítulo. Boa leitura <3

Capítulo 6 - Distração


Fanfic / Fanfiction Crow's Flight - Distração

Lydia Martin  

Ele encarou meus olhos quando minhas mãos pousaram em seu peitoral e eu sorri, aninhada a ele. Seu corpo despido em cima de minha cama era como ter um paraíso pessoal, e eu o amava por aquilo. Por seu corpo, sua mente, seu cheiro... Amava-o por tudo... 

Henry moldou um sorriso curto, e uma mão encontrou meu cabelo ruivo em uma carícia afetuosa. Aquele toque me assombrava repetidas vezes sempre que ele partia, deixando-me esperando pelo momento em que retornaria para perto de mim. As vezes longas e longas semanas, dias que pareciam uma eternidade decretada.  

– Não demore para voltar. – Pedi baixinho. 

Ele ainda estava comigo e eu já começava a sofrer pelo momento que sairia por minha porta. Seu rosto leve despencou em uma realidade séria e sua voz, carregada de pesar e afeto, respondeu: 

– Eu abandonaria toda aquela empresa por você, Lydia. Ainda acho que farei isso um dia. 

O tom de sua voz, baixa, verdadeira e real, arrepiou minha pele. Seus olhos claros permaneceram em meu semblante, atentos em uma possível resposta. Mas eu não queria falar. Sorri, meu corpo aquecendo conforme suas mãos desciam por minha coluna e me puxavam para cima dele, desfrutando cada segundo que ainda tínhamos um do lado do outro. 

Esfreguei meus olhos pela manhã, me embolando ainda mais nos lençóis quentes da cama ao revirar pela milésima vez no colchão com a voz de Henry sussurrando em meus ouvidos. 

Estava exausta de precisar recordar-me dele. Lembrar de nossos momentos era como envenenar meu próprio cérebro que precisava, urgentemente, tanto quanto meu coração, esquecê-lo. Suspirei, meu sentei no colchão e pesquei meu celular. Deslizei o dedo pela tela, irritada ao enxergar os números “Seis e quarenta e dois” em branco. 

Até o maldito Bobby estaria dormindo, e eu, por um coração partido, estava acordada. Caminhei para o banheiro, enxergando a mensagem de Bruce Sanders brilhando em uma das notificações de meus últimos stories. 

"O quê aconteceu com seu clichê barato em um cruzeiro trágico em alto mar?"

** 

Enquanto a cafeteira produzia meu café, eu encarei a mensagem em que Bruce me provocava ao insistir no argumento de que eu era uma péssima cinéfila. Meus dedos apertaram em respondê-lo, e apenas a ideia de me comunicar com ele fez adrenalina cortarem minhas veias.  

Eu estava em um grande mar aberto onde em apesar de apaixonada pelo meu ex-namorado que havia definitivamente sumido de minha vida sem muitas explicações, homens como Bruce ainda faziam meu corpo se retorcer de vontades que eu desconhecia. 

Sanders era educado, simpático, bonito e intimidante, o tipo de cara que antes de Henry, eu perderia quantas horas me fossem permitidas dentro de meu quarto. Mas, considerando que minha cabeça não conseguia pensar em quase nada que não envolvesse meu antigo amor, eu estava condenada a não me aventurar com ninguém. 

Bruce poderia fácil se tornar uma exceção, ainda que eu soubesse que iria me arrepender quando seus braços me abraçassem e eu ouvisse minha cabeça cochichar: “Preferia que fosse o Henry.” Assim como Josh, que além de bonito, era um dos homens mais gentis que eu já havia conhecido. E descarado.  

Não sei se por conta de meu rancor pelo antigo relacionamento ou talvez alguma carência, mas as mensagens sacanas de puro cunho sexual que Josh arriscava mandar vez ou outra me instigavam.  

Me agitei em pé, apertando o coque em meu cabelo com uma mão ansiosa. Digitei, bem humorada, respondendo: “Meus clichês baratos estão esperando o dia que o convencerei a se tornar um apreciador.” 

Larguei meu telefone na mesa e me concentrei na cafeteria. Se me esforçasse, conseguiria ouvi-lo rindo com escárnio ao ler a mensagem. Longos minutos se estenderam enquanto eu me alimentava, até meu telefone vibrar contra a madeira. Meus olhos correram ansiosos pelo o que podia ver da mensagem de meu vizinho. 

“Você tem grande chance de ser a única pessoa no mundo que me faria perder tempo com esse tipo de filme.” 

Eu sorri enquanto meus olhos reviravam.  

** 

A semana se estendeu como uma eternidade perpétua. Eu mal sai do apartamento nos últimos dias, estava a maior parte do tempo enfiada no notebook estudando para as provas finais.  

Meu corpo despejava a corrente de ansiedade que sentia ao subir e descer o pé incansavelmente, em uma tentativa inútil de descarregar a sensação sufocante. Minha cabeça estava prestes a doer e meu sono parecia cada vez mais escasso. 

Ficava pouco mais de meia hora na academia e retornava, exausta dos exercícios físicos e de tantas pessoas em minha volta. Ignorava minha irmã no celular, que insistia em perguntar como as coisas estavam quando na verdade nós duas sabíamos que ela não precisava se esforçar para saber a resposta. 

Além disso, ignorava também as mensagens de Josh. Embora quisesse vê-lo, alguma coisa dentro de mim só almejava estudar e dormir. Me considerava entediada no nível extremo com a ideia de sair do apartamento para algo que não fosse crucial. 

Bufei sozinha, me concentrando no que copiava do computador para o caderno quando alguém bateu na porta. Me levantei a contragosto, caminhando até lá. Ao abri-la, tive a impressão de que até minha última célula se remexeu. 

Bruce estava escorado na parede, no lado de fora de meu apartamento, logo ao lado da porta. Com as pernas cruzadas e mãos escondidas nos bolsos frontais da calça, seus olhos escuros encararam os meus e conforme ele me olhava, eu quis me retorcer por alguma razão. 

Ele me analisou com discrição, o que me fez odiar minhas roupas amassadas e meu estado deplorável de acadêmica.  

Alisei meus lábios um no outro, nervosa, sentindo rubor cobrir-me nas bochechas. 

– Bruce? – Surpresa, foi o que desprendeu de minha boca. 

O homem se arqueou em um suspiro. 

– Oi, Lydia. – Cumprimentou. – Eu... – Ele corou sem graça. Sanders ficou bonitinho com os olhos tímidos. – É que você não respondeu minha última mensagem e eu preciso de uma resposta. 

Pisquei confusa, captando o jeito que ele procurou atordoado por algo nos pés. Soltei um suspiro exausto. 

– Meu Deus... – Sussurrei, cobrindo um olho com uma mão. 

Parabéns, Lydia.  

Eu estava com a vergonha queimando nas têmporas. Estive conversando com ele pela semana inteira, respondendo mensagens já que mal o via porque quase não saia de casa. E mesmo que tivesse motivo para não ter pegado no celular nos últimos dias, podia tê-lo respondido, qualquer que fosse a pergunta. 

– Me desculpe... – Pedi. 

Seus olhos pareceram suavizar. 

– Está tudo bem... Na verdade, eu não queria incomodar. – Ele agitou o cabelo curto ao passar uma mão pelos fios negros. – É só que, como disse, se você não quiser ir... 

– Você não está incomodando. – Confortei. – Meu celular está perdido em algum lugar do apartamento. – Confessei e engoli uma risada nervosa. – Mas a mensagem era sobre o que? 

Bruce engoliu seco, deu de ombros de leve e novamente corou. Eu ainda não tinha percebido como era adorável quando estava sem jeito. 

– Bom... Eu tinha te chamado para sair na verdade, e a falta de resposta foi um baita esporro... 

Eu ri, mais nervosa do que tímida. Merda... Eu joguei um puta balde de água fria na cabeça dele... e sem querer. Bruce me pareceu simpático desde que apareceu e eu mesma já sabia que não conseguiria me envolver com ninguém nem se quisesse, estava magoada demais para isso. 

Mas o cara era educado, gentil... Será que eu precisaria lidar com alguma investida? Queria saber. Se soubesse de qualquer cunho possível de romantismo nessa suposta saída, me privaria do encontro.  

– Você quer me levar para sair, Sanders? – Questionei, minha voz soando cômica e ao mesmo tempo, quente. 

No fundo, eu gostava de provocá-lo e fingir que Bruce era um completo pé no saco, estava desfrutando disso desde que Amber o chamou para sair conosco na semana passada. 

Ele moldou um sorriso como quem jogava meu jogo, me provocando com o brilho que surgiu em seus olhos. 

– Se sair significar alguma distração, sim, ruiva. 

Eu contive um sorriso. A entonação rouca atingiu diretamente meus músculos íntimos, dando-me a sensação de calor. Bruce me pareceu, contraditoriamente ao meu coração partido, uma boa distração. Passar tempo com ele era fácil, leve, e considerando que nossas conversas da semana pelo celular foram despretensiosas, talvez fosse uma boa me distrair com um colega.  

Observei seu rosto relaxado ao ponto de me dar a segurança de que se por acaso um “não” pulasse para fora de minha boca, sua confiança ainda estaria na eterna linha estável de sempre. Bruce era o tipo de cara que me parecia acostumado a ser paparicado por qualquer mulher. 

No fundo, eu sabia que não era para menos. Ele era inteiramente um sex-appeal. E meus hormônios traiçoeiros aqueceram por essa razão. 

Que tipo de distração Bruce Sanders poderia me oferecer? Eu não conseguia decifrar nada em seu rosto tranquilo. A pulga atrás de minha orelha pinicou, e repensei na ideia milhares de vezes. 

– Me desculpe, eu não sei se seria uma boa... 

Eu tinha medo de acabar vendo-o de outra forma e não podia ousar enfiar mais uma questão em meu emocional dilacerado agora. Caso começasse a me atrair por ele, como eu lidaria com o fato de ainda estar apaixonada por Henry? 

Embora... Com tudo que enxergava em meu vizinho tentador, ainda sabia que meu corpo estava condicionado inteiramente a meu ex-namorado. 

Porra, eu odiava que Bruce fosse tão estabilizado! Seus olhos relaxaram com tranquilidade. 

– Tudo bem. 

Ele fez menção de afastar, mas minha mão pescou seu braço, o bloqueando. Por dentro, meu corpo estava esperneando. Ao voltar-se para mim, esperou que eu falasse, embora que não tivesse nenhuma palavra na boca. 

A única coisa que me sussurrava ansiosa na cabeça era: Ele não vai insistir?! 

Mesmo que eu negasse novamente, será que era tão... indiferente dessa forma para que nem tentasse me convencer? Eu era orgulhosa demais para ignorar meu peito que ardia com algum rancor. 

E aliás, talvez, no fundo, eu precisasse de algo a mais além de enfiar a cara nos livros e permitir que a faculdade sugasse até meu último fio de sanidade. 

– Embora... – Eu não conseguia pensar olhando para ele. Lambi a boca, nervosa, segurando seu braço. – Eu ache que valha a pena arriscar. 

Seus olhos semicerraram. 

– Você tem certeza? Não quero forçá-la. Já disse, se te importunei... 

– Sim, eu tenho. Relaxe. 

Ele, inteiro, suavizou nitidamente. Seus ombros em especiais, pareceram flutuar de repente. 

– Passo aqui as oito, tudo bem? 

– Sim.  

Ele se afastou, piscando para mim enquanto sorria. Minhas pernas fraquejaram contra a minha vontade. Bruce caminhou para o elevador, sumindo de minha vista quando as portas de metal fecharam. Suspirei, fechando a porta do apartamento enquanto encarava meu computador na mesa. 

Não sabia se tinha tomado a escolha certa, mas iria descobrir. 

** 

Faltavam cinco minutos para o horário marcar oito horas da noite e eu ainda penteava meu cabelo, distraída em como as ondas ocasionadas pelo babyliss deslizavam pela escova. Ao ouvir batidas na porta, me dei uma última olhada no espelho. 

Estava grata por uma leve maquiagem e um vestido preto conseguir transformar a imagem da mulher exausta que havia aberto a porta para Bruce mais cedo. Caminhei até a porta, e com um discreto suspiro, puxei a maçaneta. 

Do outro lado, Sanders me esperava com os olhos atentos e a postura relaxada de sempre. Seu maxilar agora estava pálido, livre de qualquer rastro da barba bem cuidada que eu estava acostumada a ver, dando destaque para as pintinhas em seu rosto. 

Ele corou com alguma vergonha, seus olhos correram discretamente por minhas curvas enquanto eu continha um sorriso de cumprimento. Bruce estava bonito. 

Uma camiseta preta, lisa, adornava seu peitoral forte que preenchia o tecido.  A calça jeans escuras e o tênis preto pareciam rotineiros e ao mesmo tempo, casual. 

Eu odiei que ficasse bonito com tão pouco. Ele deu um sorriso pequeno, seguro, os ombros pareceram se arquear mais do que eu já era acostumada a ver. 

– Oi. – Cumprimentou. – Me atrasei? 

Sai do apartamento e tranquei a porta.  

– Não. Na verdade, você é assustadoramente pontual para um homem. 

Ele riu baixinho. Começamos a caminhar pelo corredor, entrando no elevador que passou a descer com o comando no painel. 

Ficamos quietos, mais uma vez cercados pelo silêncio que eu julgava elétrico. Mesmo que eu não tivesse laço afetivo com ele, de alguma forma, meu corpo ainda insistia em me trair. 

E, em momentos como aquele, eu agradecia por meu coração machucado se calar diante do calor de meu corpo, fazendo-me esquecer de Henry. As vezes a ideia de poder focar toda minha energia sexual em alguém simplesmente para que meus sentimentos por Henry se anulassem era uma ideia que eu fielmente considerava útil. 

– Você me parece cansada. – Bruce me tirou dos pensamentos, a voz preenchendo o espaço do elevador.  

– Provas finais. – Murmurei.  

As malditas provas finais que estavam acabando com meu bem-estar e fisicalidade saudável. 

As portas do elevador abriram, e nós seguimos pelo hall do prédio. Eu o espiei pelo canto do olho, discreta, e ele continha um sorriso travesso na boca fina. Daria tudo para saber o que pensava. 

– Uma boa comida japonesa pode te distrair. 

Estava andando para a saída principal quando ele me puxou pela mão, guiando-me para o estacionamento com um olhar auto explicativo. Bruce deu sorte, ele iria me alimentar com minha comida favorita. 

– Talvez isso funcione. – Foi minha única resposta, mais desanimada do que eu esperava. 

Quando chegamos ao local lotado de veículos, esperei que ele tomasse a frente, seguindo-o. Nós entramos em seu carro e ele dirigiu até o centro da movimentada Nova Iorque, conduzindo-me ao restaurante chinês de uma das avenidas principais da cidade.  

A mão que ele depositou em minha cintura como um indicativo para andarmos permaneceu queimando a região o tempo inteiro em que estive perto dele. Em meio aos nossos assuntos, quando uma brecha surgiu depois que o garçom sumiu da mesa, Bruce perguntou: 

– Você fala francês?  

Cerrei os olhos para ele.  

– Não.  

– Mas esteve na França, ou eu vi uma montagem? 

– Deus, não! – Abafei uma risada, negando com a cabeça enquanto ele parecia de alguma forma, aliviado. – Encontrou a foto em meu Instagram? 

Foi assim então que descobriu meu sobrenome... 

Durante a semana em que conversamos casualmente, Bruce havia curtido algumas postagens de minha rede social, mas minha foto na Torre Eiffel não estava entre elas. O que significaria que ele olhou muito mais do que deu e entender...  

Não poderia julgá-lo. Eu também tinha olhado – por curiosidade – suas postagens que incluíam por sua vez, muito sobre documentários e algumas viagens para a Europa que geralmente eram paisagens. Ele tinha poucas fotos de si mesmo, praticamente nenhuma, o que era uma pena.  

Bruce era fotogênico. Meu pai – apaixonado pela profissão de fotógrafo antes de morrer – com certeza ficaria louco se batesse os olhos nesse maxilar bem desenhado. 

– Vi um porta retrato no seu apartamento, o dia que me entregou o carregador. 

Meu Deus, Lydia! Minha consciência gemeu de vergonha. É óbvio, merda... Eu mesma revelei a foto. Aparentemente ele não tinha fuçado tanto assim sobre mim...   

Beberiquei minha água gelada, fugindo de seus olhos castanhos que tinham um contraste perfeito com a luz avermelhada do restaurante chinês.  

– Você só visitou Paris? – Tornou a perguntar, interessado. 

Eu assenti, recordando-me da sensação do vento tipicamente francês contra meu rosto. Paris era sem dúvida um de meus lugares favoritos no mundo, mesmo que eu não tivesse tantos. 

– Sim. – Sorri, fascinada ao me recordar da viagem. – É lindo, e embora meu francês não chegue nem perto de intermediário, consigo me virar.  

– Acredito que Bordeaux a agradaria.  

Meu cenho se uniu, observando-o. 

– Você já foi para a França? 

Ele assentiu e minha testa franziu em surpresa. Me remexi na cadeira, puxando o ar escasso do ambiente, me concentrando nele e ao mesmo tempo, tentando não o fazer para que pudesse me distrair da sensação de vulnerabilidade que ameaçava me atingir. 

– O trabalho me leva a muitos lugares. – Ele explicou. 

– Imagino que isso seja bom.  

– Não exatamente. – Ele deu um sorriso mórbido. – Às vezes é difícil largar algo ou alguém...  

Encarei seus olhos profundos, enxergando pela primeira vez desde que havia o conhecido, sensibilidade. Quis perguntar algo a mais, mas tive receio. Não sabia nada sobre o passado dele e muito menos se existia algum assunto delicado demais para que tratássemos naquele ambiente. 

Engoli minhas perguntas ao dar um gole na água gelada, grata ao ver que um homem de olhos puxados e roupa amarrotada se aproximava de nós com nosso pedido.  

Comemos em silêncio, distraídos, conversando só o necessário. Confesso que estava completamente envolvida no sushi em meu prato que parecia feito em outro planeta de tão saboroso. Eu o observava na maior parte do tempo, ainda que mastigando. 

Bruce conseguia ser formal e ao mesmo tempo tranquilo, eu imaginava que era consequência de sua carreira como contador. Ele era gentil, simpático, era como se nunca errasse as palavras e sempre de alguma maneira, suas ações mexiam com meus hormônios.  

Não conseguia me imaginar com ninguém, Henry ainda ocupava – infelizmente – um enorme espaço em meu peito doído, mas ainda assim, enquanto eu o observava comer, mais uma vez a dúvida que havia me atormentado mais cedo quando bateu à minha porta tornou a sussurrar em minha cabeça: Bruce Sanders pode ser uma distração? 

** 

Voltávamos para o prédio quando o relógio marcava quase onze horas da noite. Ele perguntou se eu queria dar uma volta no Central Park ou qualquer outro lugar, mas recusei. O que eu realmente queria era me enfiar de baixo das cobertas e ser consumida por meu cansaço. 

Bruce não tornou a falar comigo o caminho inteiro, atento nas ruas. Ele parecia tranquilo, lançando-me alguns olhares sutis e atentos ora ou outra. Após estacionar o carro, seguimos para o prédio, passando pelo hall vazio rumo ao elevador. Entramos e as portas se fecharam. 

– Foi uma noite ótima. – Sanders comentou. 

Eu encostei na parede fria do elevador, suspirando baixinho com algum alívio reconfortante que acendeu meu peito. Meus olhos fecharam, e por um único segundo em meio a todas as últimas semanas em que havia sido assombrada por Henry, senti paz. 

Leve, solúvel e imperturbada. 

– Foi sim. – Murmurei, e meus olhos bateram nos dele. 

Ele me analisava, minucioso, atento, como se esperasse que eu dissesse algo mais.  

Deus... Ele era bonito. 

Meu coração se encolheu ao considerar dividir algum espaço entre Bruce e Henry. Embora a noite tivesse sido ótima, meus pensamentos ainda eram excessivamente consumidos por meu ex-namorado. Tudo dele estava gravado em mim. 

Suas mãos, cheiro, como sorria, como os dedos deslizavam por meu cabelo... Lembranças.  

Nós caminhamos para fora quando as portas abriram, e ele parou diante de mim em frente ao meu apartamento.  

– Obrigado pela companhia.  

– Até que perder tempo com você foi divertido, Sanders. – O provoquei, sentindo as bochechas queimarem quando sorrimos juntos. 

Ele pescou minha mão e suave, trouxe aos lábios. Beijou minha pele e tornou a soltar-me, mas eu quis que ele estivesse mais perto. Não importava como poderia chorar por Henry pela manhã. De noite, minha cama merecia ser ocupada por quem quisesse preenchê-la. 

Embora as vezes Bruce me parecesse... bom demais. Mesmo em meio ao jeito que me intimidava, algo me dava a sensação de que era o tipo de cara romântico. Se ele fosse vulnerável quanto a sentimentos, eu não arriscaria ter uma noite que fosse com ele.  

Não conseguiria magoá-lo e sabia que não poderia em envolver, então, de certa forma, me conectar a Bruce de alguma forma me pareceu uma corda muito bamba, que eu não estava disposta a drenar força para me equilibrar. 

Ele era um homem bem sucedido, solteiro e bonito, era natural que me desconcertasse e acho que fundo, era porque me lembrava Henry. Mas talvez eu e meu vizinho tendo um caso fosse uma verdadeira bomba atômica cronometrada a explodir.  

– Boa noite, Lydia. – Ele se despediu, lançando-me um último sorriso ao me dar as costas e seguir para seu apartamento.  

E eu, o vendo se afastar, pensei se poderia dar razão aos meus pensamentos carentes e impulsivos.


Notas Finais


Estou bem empolgada para o próximo capítulo, é só o que queria dizer haha. Gostei particularmente desse capítulo porque é divertido como a Lydia sente algo mas não consegue fazer nada com esse sentimento por ainda gostar do ex. Inclusive, o Henry vai parar de ser um personagem tão misterioso um pouquinho mais para a frente, como disse, estou empolgada por isso.
Beijos, até <3


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