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História Crush - Único.


Escrita por: jeonhurts

Notas do Autor


OI Ê

"yasmin vc n deveria estar postando o último cap de alone?" deveria porem estou aqui
há algumas semanas essa shot me veio na cabeça ai eu "pq n?" escrevi
ficou ENORME mas eu realmente não to afim de dividir em dois caps pq sei que vou esquecer de postar o segundo
queria esperar até a vkook week começar, porém, não consigo
ficou bem amorzinho e tal, ainda mais pra quem gosta de ver jeon jungkook todo apaixonadinho


pq eu gosto


então, é, boa leitura p/ vcs <3





Plágio é crime.

Capítulo 1 - Único.


Fanfic / Fanfiction Crush - Único.

– Pare de comê-lo com os olhos, é assustador. – ouvi a voz zombeteira de Jimin. Rapidamente me virei, dando de cara com seu sorriso maroto e ao mesmo tempo malicioso. – Não é mas fácil simplesmente ir lá e iniciar uma conversa, sabe, como uma pessoa normal? – indagou, e eu revirei meus olhos ao notar o leve tom de sarcasmo em suas palavras.

– Você sabe que eu não consigo. – resmunguei.

– Mas já faz dois anos! – o ruivo exclamou, sentando-se ao meu lado na arquibancada. – Dois anos que você sofre em silêncio por um amor não correspondido porque simplesmente tem medo de se aproximar e ao menos tentar ser amigo dele. – falou, por fim. Deixei que um suspiro cansado escapasse da minha garganta e continuei com os olhos focados na quadra de futebol á minha frente, onde um amistoso entre escolas acontecia.

– Ele já tem muitos amigos, Jimin, tenho certeza que não precisa de mais um. – dei ombros.

– Jeon, qual é, ao menos tente! – seu tom de voz agora tinha uma pitada de encorajamento. Ao invés de responder meu melhor amigo, sorri abertamente ao perceber que o time da casa havia marcado o quinto gol contra o adversário. Vi-o correr pela quadra, junto aos seus companheiros de equipe, gargalhando e berrando algumas provocações para os jogadores da outra escola. – Taehyung é a pessoa mais alegre, espontânea e sociável que eu já conheci, sério, o assunto simplesmente surge.

– Ele é o cara mais popular da escola, Jimin-ah, e eu não quero ser amigo dele. – suspirei. O ruivo riu e acompanhou meu olhar, observando sem muito interesse a partida de futebol que já estava chegando ao fim do segundo tempo. – Além de ser capitão da equipe de natação, fazer parte do time de futebol e tirar as melhores notas nas aulas de música, todas as meninas querem ter alguma coisa com ele.

Mas ele não gosta exatamente de meninas, não é? – Jimin retrucou, sorrindo insinuador.

Eu ri e abaixei o olhar, assentindo. Para a minha felicidade – e azar de noventa e um por cento de todas as garotas daquela escola –, Kim Taehyung era assumidamente gay. Tudo começou quando ele pediu a transferência para a nossa instituição de ensino, na metade do primeiro ano do ensino médio. Assim que o garoto pôs os pés para dentro do colégio, uma chuva de baba-ovos brotou ao seu lado. Os garotos do time de futebol já sabiam das suas habilidades e conquistas, então, com certeza o queriam na equipe; já as meninas, completamente encantadas pela perfeita aparência de Taehyung, o bajulavam e distribuíam elogios desnecessários ao acastanhado.

Uma semana depois, quando Min Hee declarou seus sentimentos ao Kim, ele a negou no meio do pátio da escola. Quando ela – em meio às lágrimas e uma expressão de chateação – o perguntou do porque, Taehyung a respondeu com um simples e curto “simplesmente porque eu sou gay, então, não me leve à mal”. No começo, pensei ter ouvido errado. Mas aí eu percebi que todos os estudantes daquele colégio, sem exceção, só comentavam sobre a verdadeira sexualidade de Kim Taehyung. E foi somente naquele instante que eu percebi que as minhas chances de ser retribuído haviam aumentado em 2%.

Porém, depois daquele episódio, o garoto conseguiu ficar ainda mais popular – se é que possível. Devo admitir que os caras do time de futebol agiram de modo receoso com o Kim durante os dias seguintes, mas, no final, acabaram convidando-o para entrar na equipe. Taehyung era, acima de tudo, um cara de sorriso fácil e personalidade dócil. As únicas pessoas que falavam mal dele eram as que sentiam inveja, ou então as homofóbicas. Entretanto, quando ele se assumiu gay na frente da escola toda, foi como um leve empurrãozinho para que outras pessoas fizessem o mesmo.

Inclusive eu.

– Ele está indo embora. – Jimin murmurou, tirando-me dos meus devaneios.

Assim que vi para onde ele olhava – ou melhor, quem ele olhava – meu coração saltou. Os cabelos de cor acastanhada pareciam um pouco úmidos por causa do suor, assim como o uniforme que ele usava. O sorriso animado e provocador brincava em seus lábios enquanto os jogadores da outra escola iam em direção ao vestiário que ficava do lado oposto da quadra. Seus amigos lhe davam leves empurrõezinhos e riam alto, claramente comemorando a vitória de um jogo quase que sem importância. A feição exausta que Taehyung carregava no rosto não combinava com o brilho indescritível dos seus olhos.

Passei a mão pelos cabelos, soltando um mínimo suspiro.

– Acho que está na hora de agir.

Jimin encarou-me.

– Como é?

– Se eu realmente quero alguma coisa com ele, não vou conseguir ficando parado.

O ruivo ao meu lado soltou uma risada animada e ansiosa.

– Está falando sério?! – perguntou.

– Sim. – respondi, soltando um suspiro logo em seguida. – Não deve ser tão difícil, não é? Certo, ele é o garoto mais bonito e charmoso da escola, mas, pff, isso não quer dizer que vou ser rejeitado na mesma hora. Me declarar vai ser moleza. – tentei me convencer com as minhas próprias palavras, entretanto, a minha consciência já me avisava que aquilo não iria dar certo.

– Talvez fique mais fácil se vocês já forem íntimos. – Jimin coçou o queixo. – Eu vou te ajudar nisso.

Arqueei as sobrancelhas.

– Como é que você...

– Taehyung! – o ruivo ao meu lado berrou, para quem quisesse ouvir. Arregalei os meus olhos, pedindo silenciosamente para que um raio acertasse a cabeça do meu melhor amigo, pois só assim ele pararia com aquele escândalo todo. – Kim Taehyung! – gritou novamente, mas desta vez com alguns assobios de brinde. Felizmente, o dito cujo que estava sendo chamado caminhava para fora da quadra, e parecia não ter escutado o fuzuê que Jimin estava fazendo.

Bem, isso até um de seus amigos cutucar seu ombro e o fazer olhar para trás.

Merda.

– Jimin, por tudo oque é mais sagrado, para com isso! – pedi, completamente desesperado.

– Estou te dando uma mãozinha, Kook-ah, apenas aproveite essa oportunidade única.

Acontece que, por terem um amor em comum por esportes e música, Jimin e Taehyung rapidamente se tornaram colegas. Isso aconteceu quando a mãe do meu melhor amigo decidiu transferi-lo para a minha escola, ou seja, bem no final do primeiro ano. Eles participavam da mesma turma de composição, e, por serem pessoas extremamente falantes, logo descobriram que tinham vários gostos parecidos. Após um tempo, Taehyung convidou Jimin para jogar basquete com ele e alguns outros amigos no sábado, e isso logo virou uma tradição deles. Quando o ruivo descobriu minha pequena – talvez enorme – queda pelo acastanhado, me obrigou a ir assistir um de seus jogos na quadra central.

Eu consegui fugir na metade do segundo tempo e fui correndo pra casa.

– Podem ir na frente, eu encontro vocês lá! – uma voz grossa e inconfundível gritou. Quando olhei para frente, pude jurar que meu coração ia sair pela boca de tão rápido que batia. Taehyung estava vindo em minha direção, com um sorriso fofo e amigável em seus lábios rosados. Sua atenção estava claramente focada em Jimin, como se não me notasse bem ao lado. Tremi de nervoso quando o vi subir as escadas da arquibancada com calma, aproximando-se ainda mais de mim. – E aí, cara, quanto tempo!

– Nos vimos sábado passado, Kim. – o ruivo ao meu lado brincou, os dois riram e se cumprimentaram com um toque de mãos esquisito. – Queria te dar parabéns pelo jogo de hoje. Vocês melhoraram muito esse trimestre, não vão nem ter que suar a camisa para ganhar o título. – esbanjou elogios, pude ver um sorriso agradecido surgindo no rosto do acastanhado.

Ok, meu coração definitivamente parou.

– Obrigado, Jimin-ssi. – coçou a nuca, parecendo envergonhado pela pequena bajulação. – Espero que estejamos aptos para trazer a vitória para o nosso colégio. – Taehyung curvou-se um pouco, claramente feliz por ter seu trabalho reconhecido. Um sorriso bobo e apaixonado surgiu em meu rosto, mas acabou dando espaço á uma expressão assustada assim que seus olhos escuros me fitaram de modo curioso e, de certa forma, tímido. – Desculpe-me pela falta de educação, não tinha te visto aí. – riu contido. – Kim Taehyung, ao seu dispor.

Eu vou ter um treco!

Jesus, não me deixa gaguejar!

Faz qualquer coisa, Jeon Jungkook! Sorri, abraça, sei lá, beija ele! Mas faz alguma coisa!

Não gagueja, criatura!

Mantenha a calma.

– Oi. – sorri amarelo, comemorando internamente por ter conseguido dizer alguma coisa. – Meu nome é Jeon Jungkook, e o prazer é todo meu. – assim que finalizei, quase me dei os parabéns ali mesmo. Não havia gaguejado nenhuma palavra sequer e ainda tinha dito algo coerente além do meu próprio nome. A fase de mais importância, ou seja, tentar ser simpático e passar uma boa primeira impressão, tinha sido concluída com êxito.

– Nós não temos aulas juntos. – aquilo não foi uma pergunta. – Eu me lembraria do seu rosto.

Santo Deus!

Alguém, por favor, dá pra chamar a ambulância?

– Ah... – eu murmurei, sem absolutamente nada em mente para responder.

– Jungkook não tem nenhuma aula com você, muito menos comigo. – Jimin tomou à frente, visto que eu ainda estava sem reação. – Além do mais, ele prefere ter pontos extras em matemática e física, mesmo que leve muito jeito com composição e qualquer coisa relacionada à música. – elogiou-me indiretamente e ergueu as sobrancelhas de modo sugestivo. Quase engasguei ao perceber que ele estava claramente me jogando para cima do garoto de madeixas acastanhadas à minha frente.

Jimin sempre faz um bom trabalho como cupido, mas ser discreto não é o seu forte.

– Sério? – Taehyung perguntou, parecendo surpreso.

– Sim! – meu amigo exclamou sorrindo. Eu podia não saber tudo sobre Kim Taehyung, mas se eu tinha certeza de alguma coisa, essa coisa era a sua paixão pela música. Algumas das meninas que cursavam as aulas de química comigo viviam comentando o quão bom ele era tocando piano e violão, e que a sua voz poderia ser facilmente comparada á risadas de um anjo. Para o meu azar – e também o de todas as pessoas que não faziam aula de música – Taehyung só tinha a oportunidade de se apresentar para toda a escola durante o Festival de Primavera, festa que era organizada pelos próprios alunos e a direção do colégio, e que acontecia uma vez a cada ano.

Na primeira vez em que ele se cantou no festival, justamente alguns meses após a sua transferência, eu quase chorei ao ouvir minha música favorita sendo executada com maestria por aquela voz magnífica. E foi naquele mesmo instante que eu me vi perdidamente apaixonado por Kim Taehyung. Porque, sabe, a sua beleza e o seu talento para esportes eram importantes sim; mas oque realmente me atraiu naquele garoto de cabelos castanhos, olhos determinados e risada contagiante foi justamente a emoção que ele passava a cada verso, a cada palavra cantada.

– Seria legal se você aparecesse por lá. – Taehyung sorriu em minha direção e, juro, me segurei demais para não desmaiar ali mesmo. Eu podia ver o seu sorriso milhões de vezes, mas com certeza nunca iria conseguir me acostumar á uma visão tão bonita. Os lábios dele se esticavam até assumirem a forma de um estranho, porém, gracioso, quadrado. Por ser tão puro, tão simples e tão contagiante, fazia com que as pessoas em volta – como eu, por exemplo – sorrissem junto sem ao menos perceber.

Ele vai. – Jimin afirmou por mim. O acastanhado à minha frente riu e assentiu com a cabeça. – Certo, hm, eu te chamei aqui justamente para falar sobre o trabalho da aula de composição. Estou tendo vários e vários problemas com a melodia da música, preciso da sua ajuda. – pediu. Desviei meu olhar para ele, um pouco confuso. Jimin já havia terminado seu projeto, inclusive, estava realmente muito bom. O ruivo até tinha pedido a minha opinião para a escolha do título da canção, e isso é algo extremamente raro de acontecer. É, ele deveria estar fazendo um enorme esforço para engolir o seu orgulho e falar que estava tendo dificuldades logo em sua matéria favorita.

– Jura? – Taehyung perguntou, tão confuso quanto eu. – Geralmente você sempre termina primeiro.

– Não desta vez. – deu ombros. – É uma música romântica, sabe, a batida tem que ser lenta. Eu sempre sou muito crítico com as minhas canções, e essa realmente não está ficando boa. Daí eu lembrei que o melhor aluno daquela classe é um dos meus colegas mais próximos, então, resolvi pedir ajuda. – sorriu e coçou a nuca, fingindo estar envergonhado. Ah, Park Jimin, oque você está aprontando?

– Eu não sou o melhor aluno, esse posto é ocupado pelo Namjoon-hyung. – o Kim disse, as bochechas ficando num tom rosado.

– Não é oque as pessoas dizem. – tomei coragem para falar. O acastanhado olhou para mim, confuso e curioso ao mesmo tempo. Não parecia saber da admiração que os alunos daquele colégio sentiam por ele, muito menos estar acostumado á elogios voltados para as suas composições. Acredito que, além do professor de música, as pessoas não se aproximavam de Taehyung para elogiar seus talentos ou coisa assim. Apenas viam a sua beleza, e era nela em que se focavam. Porém, para mim, Kim Taehyung era muito mais do que um rostinho bonito. – Você realmente tem talento.

– Obrigado. – ele sorriu. Senti meu coração voltar a disparar com aquele simples e tão bobo gesto.

– E então, vai poder me ajudar? – Jimin voltou a se pronunciar.

– Tudo bem, Jimin-ssi. – o acastanhado respondeu. – Mas vamos ter que nos encontrar nos intervalos, é o único horário que tenho livre. – e por fim deu ombros, esperando a confirmação do ruivo. Jimin, por sua vez, pareceu mais do que satisfeito e assentiu com rapidez, deixando uma expressão de animação tomar conta do seu rosto.

– Nos vemos no intervalo de amanhã, então. – o Park disse.

– Certo. – Taehyung falou, dando pequenos passos para trás. – Eu preciso ir agora, estou atrasado pra me encontrar com o pessoal do time. – ajeitou a mochila em seu ombro e se curvou rapidamente. – Nos vemos amanhã, Jimin. – acenou com vigor, para logo depois olhar para mim. Eu poderia passar a vida toda contemplando aqueles olhos castanhos que viviam atormentando os meus sonhos. – Foi realmente muito bom te conhecer, Jungkook. Te vejo por aí. – piscou.

Sabe o meu autocontrole?

Então, não existe mais.

Kim Taehyung piscou pra mim! Ele p-i-s-c-o-u pra mim!

Eu vou desmaiar. Ou vomitar. Ou os dois.

E eu sei que não foi a intenção dele me seduzir, mas, porra, conseguiu mesmo assim.

– Tchau, Kim. – Jimin acenou enquanto a minha paixão caminhava para fora da quadra.

Assim que a silhueta dele saiu do meu campo de visão, soltei o ar que até então não percebi segurar em meus pulmões. Meu coração estava disparado e meu cérebro parecia ter dado pane, eu ainda tentava conciliar tudo oque havia acontecido há alguns minutos atrás. Uma parte de mim estava orgulhosa por eu não ter gaguejado ou vomitado na frente de Taehyung – porque apenas pensar em ficar perto dele já me dava enjoos, mas do tipo bons, daqueles que você gosta de sentir –, mas a outra queria me dar uns tabefes por não ter aproveitado a oportunidade e agarrado o garoto ali mesmo.

Eu estava feliz do mesmo jeito.

Kim Taehyung agora sabia o meu nome.

Ele havia dado não apenas um, mas sim três sorrisos para mim.

E o melhor de tudo isso?

Porque, sim, havia algo de melhor em tudo isso.

Taehyung simplesmente havia me convidado para ir assistir uma de suas aulas de música.

Deus, por favor, se isso for um sonho, que eu esteja em coma.

– Kook-ah?

Certo, não é um sonho. Park Jimin está me cutucando e, porra, isso dói.

– Aish, não me cutuque desse jeito. – resmunguei, dando um tapa em sua mão. Ele se afastou de mim e riu brevemente, bagunçando ainda mais os cabelos ruivos. Suspirei, sabendo que deveria agradecê-lo por ter me obrigado a dar o primeiro passo em relação à minha não tão pequena paixão escolar. Nunca fui acostumado a ser educado com Jimin, tudo isso pelo simples fato de ele ser quase da minha idade e também porque o ruivo nunca fazia nada para me beneficiar. Mas, é, agora era uma situação totalmente diferente, então valia o esforço. – Eu, hm, obrigado, hyung.

– Quê? – ele indagou, com os olhos arregalados e a boca escancarada.

– Eu disse “obrigado”.

– Não, você disse “obrigado, hyung”! – Jimin exclamou, ainda parecendo incrédulo. Revirei meus olhos pelo seu exagero, mas ele estava realmente muito contente para se importar com qualquer outra coisa além do fato de que eu havia acabado de chamá-lo de hyung. – Eu deveria ter gravado isso, merda, dá pra repetir? – perguntou, eu apenas neguei com a cabeça. – Jeon, qual é, você nunca me chama assim, me deixa ter uma recordação desse momento pra depois não me chamarem de mentiroso.

– Para de ser idiota, Jimin. – resmunguei. – Não vai se acostumando com esse meu lado educado, não. Só agradeci porque você me fez dar um passo que eu achei que nunca seria capaz de dar. – fui sincero em minhas palavras. – Porra, você não tem noção do quanto eu tô feliz nesse momento! Taehyung sabe o meu nome, sorriu e piscou para mim e ainda me convidou para ir assisti-lo na aula de música!

– Eu te disse que ele é uma pessoa fácil de lidar, Kook-ah. – ele riu. – E não precisa me agradecer por isso, você sabe, eu sou seu melhor amigo. É óbvio que vou te dar uma forcinha pra conquistar o seu tão amado crush, mesmo que ele seja um dos caras mais desejados da escola. – Jimin murmurou a última parte e fez um bico esquisito, como se já estivesse bolando um plano em sua mente maquiavélica.

– Você já me deu uma “forcinha”. – fiz aspas. – E oque diabos é crush?

– Jungkook, você é sonso assim mesmo ou fez curso pra virar profissional? – indagou. Eu lhe estapeei no braço, me sentindo um pouco ofendido. – Pensei que já tivesse sacado que todo aquele papo sobre eu precisar de ajuda no trabalho foi só pra tentar aproximar um pouco mais vocês dois. – respondeu-me como se fosse óbvio. – E “crush” significa a pessoa que você gosta, a sua paixão, o seu muso, a razão do seu viver, a...

– Tá, tá, tá, já chega. – abanei as mãos, e ele finalmente calou a boca. – Só não entendi como é que o seu plano para me aproximar do Taehyung vai funcionar, porque, sabe, o único sortudo que vai ter aulas de composição com o meu, hm, crush – fiz uma careta ao pronunciar aquela palavra –, é você, não eu.

Jimin respirou fundo.

– Me responda, Jeon. Quando é que Taehyung-ssi e eu vamos nos encontrar para “terminar” a música e também a melodia? – perguntou pacientemente.

– No intervalo.

– Muito bem. – sorriu. – Agora, me diga, quem é que sempre me acompanha nos intervalos?

– Oras, sou eu. – respondi, entediado. Não estava entendendo aonde Jimin queria chegar, mas ao ligar os pontos e botar a cabeça para funcionar, saquei toda a sua jogada. Meus olhos se arregalaram, assim como a minha boca, que agora tinha um formato de “o” perfeito. O ruivo ao meu lado gargalhou e jogou a cabeça para trás, claramente se divertindo com o meu raciocínio lento. – Você é um gênio do mau! Eu preciso morrer seu amigo, de verdade.

– Eu sei. – Jimin cruzou as pernas, sentando em posição de índio. – E aí, você topa?

– Não.

– Oque? – gritou, exasperado. – Por quê?!

– Eu não tô preparado pra encontrar ele outra vez, tá legal? – falei no mesmo tom. – Você não reparou naqueles olhos castanhos perfeitos? Ou naquele sorriso abençoado por Satã? Nem mesmo no jeito que ele passa a mão pelos cabelos? – perguntei, gesticulando exageradamente com as mãos. Jimin abriu a boca para responder, mas eu interrompi antes mesmo que ele começasse a falar. – Porque eu reparei, e percebi que não vou conseguir ficar meia hora ao lado de Kim Taehyung sem acabar agarrando ele, ou, sei lá, desmaiando de nervosismo!

– Você mesmo me disse que estava na hora de agir! Que não ia conseguir nada ficando parado!

– Os seres humanos tendem a mudar de opinião muito facilmente, não sabia disso?

– Qual é, Jungkook! – Jimin exclamou, parecendo realmente incrédulo. – Eu simplesmente acabei com a minha moral de compositor pra te dar uma ajuda a mais e agora você decide que quer desistir? Que tipo de amigo você é? – não pude deixar de revirar os olhos com o seu pequeno drama, mas o ruivo á minha frente não ligou para o meu gesto de impaciência, afinal, ele esperava por uma resposta.

– Você não acabou com sua moral de compositor, Park, todo mundo sabe o quão bom você é com esse tipo de coisa. Acho que foi exatamente por isso que Taehyung não acreditou muito quando você afirmou ter problemas pra finalizar o trabalho. – suspirei fundo. – Tenta entender o meu lado, Jimin. Eu não vou conseguir ter ele perto de mim durante trinta minutos sem acabar fazendo alguma besteira.

Jimin bagunçou os cabelos.

– Você realmente gosta dele, não é?

Eu ri fraco. – Não faz ideia do quanto.

Já no dia seguinte, me senti extremamente ridículo ao perceber que passei praticamente todas as aulas planejando como fugir de Jimin no intervalo. Alguns professores chamaram a minha atenção e acharam que eu estava doente por passar o tempo inteiro com a cabeça escorada na carteira ao invés de ir até o quadro e responder as questões de química e matemática que lá estavam escritas. Ponderei dizer que a minha saúde não estava das melhores, assim poderia ir para casa e não precisaria sumir do mapa para me esconder de Taehyung e Jimin no intervalo.

Mas eu perderia as aulas que viriam depois.

Então, decidi que passaria o meu horário de almoço inteiro no terraço da escola.

E foi oque eu fiz.

Não foi muito legal pelo simples fato de: lá estava cheio de cocô de pombo. O pessoal da limpeza tinha que dar uma passada lá, porque, olha, o cheiro estava terrível. Era pior do que a época em que a minha tia começou a imprimir algumas receitas estrangeiras na internet e tentava cozinhá-las. Perdi as contas de quantas vezes tive de usar o extintor de incêndio para apagar o fogo que ela colocava nos panos de prato, nas cortinas e também nas vasilhas de plástico. Foram as piores férias da minha vida.

E o cheiro de fumaça, comida queimada e sopa de morcego que ficava depois era insuportável.

Fiz uma careta ao lembrar das vezes em que minha tia me obrigou a provar seus pratos. Eu colocava na boca, sorria de boca cheia e fazia um gesto de “beleza” com a mão, mas assim que via seu corpo magro e esguio saindo da cozinha, cuspia tudo no lixo. Ser sincero nunca foi o meu forte, mas eu também não era obrigado a comer aquela gororoba. Ainda bem que Pam, o gato que minha tia considerava um filho, gostava de fuxicar e lamber os restos de comida que eram jogados no chão ou na lixeira.

– Jeon!

Virei-me, assustado. Ainda estava no terceiro andar da escola, o qual era terminantemente proibido para os alunos enquanto o intervalo estivesse acontecendo. Se um inspetor ou, por um azar infinito, o diretor me pegasse ali, eu provavelmente levaria uma suspensão de três dias. Porém, assim que consegui abrir os olhos para encarar quem me chamava, não soube se seria melhor comemorar ou começar a chorar. Talvez levar uma bronca e ter meus pais na escola não fosse tão ruim, certo?

Eu teria coragem para encarar minha mãe brava.

Mas não tinha coragem para ficar com Kim Taehyung, sozinho, num corredor deserto.

– Oque tá fazendo aqui? – o acastanhado perguntou, se aproximando de mim. Minhas pernas tremeram e eu deixei um suspiro escapar da minha garganta ao vê-lo passando a mão pelos cabelos. Droga, seja homem e se controle, Jungkook! – Está querendo levar uma suspensão ou oque? O intervalo ainda não acabou, mocinho. – falou. Percebi que uma de suas mãos segurava com firmeza algo que parecia muito ser uma caderneta, enquanto a outra estava apoiada em sua cintura, como se ele estivesse pronto para me dar uma bronca.

– Eu não estava... – perdi a fala, de repente. – Só vim ver o...  Lá no... É. Isso aí.

Taehyung arqueou as sobrancelhas, confuso, e soltou uma risada leve.

– Jimin estava te procurando feito um maluco.

– Jura?

– Aham. Confesso que fiquei animado quando ele me disse que vocês dois costumam passar o intervalo juntos, mas me decepcionei quando percebi que você não ia aparecer. – deu ombros. Senti o meu rosto esquentar e os meus olhos se arregalarem. Por mais que fossem palavras inocentes na concepção dele, na minha mente elas soaram muito mais maliciosas e insinuantes do que deveriam.

– Jura? – perguntei, de novo. E, mais uma vez, lá estava Kim Taehyung dando risada de mim.

Jungkook, você precisa parar de pagar mico.

– Você parecia muito mais falante ontem. – comentou.

– Pode não parecer, mas eu sou tímido. – respondi num tom de voz tão baixo que achei impossível ele ter conseguido me escutar. Eram sensações que eu não conseguia controlar. Por mais que eu sentisse receio em conversar com desconhecidos e fosse naturalmente envergonhado, Taehyung conseguia me fazer ficar mil vezes mais nervoso sem nem mesmo ter a intenção. Era como se o meu cérebro travasse e o resto do meu corpo não soubesse mais oque fazer. Os olhos castanhos dele me fitavam como se eu fosse a presa e ele, obviamente, o predador.

– Pessoas tímidas são fofas. – sorriu e piscou. Quase me engasguei com o ar, mas consegui controlar a minha respiração a tempo. Minha mente estava me pregando uma peça ou Kim Taehyung realmente me elogiou? E, por mais que eu odeie que uma pessoa se refira a mim com o termo “fofo”, “adorável” ou até mesmo “bonitinho”, ouvir aquilo saindo da boca dele me pareceu a melhor das bajulações.

– Obrigado? – falei, mais perguntando do que afirmando.

– De nada. – ele franziu o nariz, um ato que deixou meu coração extremamente mole. – Bom, acho que é melhor eu descer antes de soar o sinal. – falou. – Ah, antes que eu me esqueça, já fui até o professor de música para perguntar se você poderia assistir à aula de hoje. Em resposta, ele disse que a sala e os alunos estarão de portas e corações abertos para receber todos que quiserem observar, ou até mesmo mostrar seus dotes musicais. – Taehyung sorriu de modo insinuante, me fazendo arregalar os olhos ao pensar na hipótese de Jimin ter lhe contado alguma coisa.

– Porque tá sorrindo desse jeito? – me atrevi a indagar.

– Porque um certo ruivo de um metro e meio me disse que você, Jeon Jungkook, seria um ótimo cantor se não fosse tão tímido e ignorasse qualquer talento musical que mora dentro do seu coração. – mordeu o lábio inferior ao terminar, para a minha alegria e desespero. Tentei ignorar as batidas fortes que o meu coração dava, mas acho que elas poderiam ser ouvidas do outro lado da escola.

– Jimin te disse isso? – perguntei. Eu poderia parecer calmo por fora, mas um tsunami de sentimentos e emoções se alastrava pelo meu peito. Toda a confiança e coragem que eu tinha iam se despedaçando aos poucos, parecia que o controle do meu corpo já não pertencia mais a mim, mas sim ao acastanhado que insistia em brincar com a minha sanidade. Céus, como eu queria poder beijá-lo.

– Não nessas palavras. Ele disse algo como “Jungkook é um grande idiota, sabia que ele tem uma voz linda e mesmo assim se recusa a participar das aulas de música? Ele seria um cantor muito rico e aí me tornaria uma pessoa rica, porque, qual é, eu sou o melhor amigo dele”. – ele gargalhou. Sorri como um bobo apaixonado ao perceber que seus lábios realmente tomavam um formato quadrado quando ele ria. Era estranhamente fofo. – Jimin também me disse que a sua próxima aula é de educação física, e que a sua professora pega no seu pé por nunca participar de nenhum dos jogos que ela propõe.

– Aquela mulher é maluca. – resmunguei.

– Eu sei. – ele riu. – Se a turma dava três voltas ao redor da quadra, eu tinha que dar cinco. E correndo. Acho que ela se importa mais com o time de futebol do que o nosso próprio técnico. “Um atleta deve ter a obrigação de manter seu corpo sempre em forma.” – Taehyung a imitou, fazendo uma careta. Um riso escapou da minha garganta ao ouvir sua voz levemente esganiçada e mandona, exatamente como a da nossa professora de educação física. Ele parecia não gostar dela tanto quanto eu.

– Não gosto de esportes. – dei ombros, sendo sincero. Jimin me dissera uma vez que, para conquistar uma pessoa, o primeiro passo era não mentir sobre nenhuma qualidade ou defeito seu. Por mais que eu soubesse do amor que Kim Taehyung sentia por esportes, não podia ser falso ao ponto de dizer que um dos meus passatempos favoritos era ficar correndo pra lá e pra cá numa quadra e disputando uma bola com mais meia dúzia de homens. Ficar deitado no sofá comendo Pretz Tomato¹ sempre foi uma melhor ideia do que tentar praticar qualquer atividade física.

– É, eu sei.

Hm?

Como assim “sabe”?

Isso me cheira á Park Jimin, o fofoqueiro número um desta escola.

– Por favor, me diga que o babaca do Jimin não te disse nada constrangedor ao meu respeito. – pedi.

– Não se preocupe com isso. – ele riu. – Ele só me contou que você é um bom cantor. Eu sei que você não é de praticar esportes porque sempre te vejo tentando escapar da professora e se escondendo bem debaixo da arquibancada. É, a janela da sala de música tem vista para a quadra inteira. – assim que sua fala terminou, meus olhos se arregalaram. Eu deveria ter reparado se alguma das janelas do segundo e terceiro andar permitiam que me vissem cabulando a aula de educação física. Durante todo esse tempo eu poderia ter sido pego pelo diretor ou por algum dos inspetores, e aí sim eu estaria ferrado.

– Então eu dei muita sorte. – murmurei.

– Com certeza. – Taehyung passou a mão pelos fios acastanhados. – E aí, oque me diz sobre assistir a aula de hoje? E não se preocupe com o fato de que terão alunos desconhecidos lá, tudo bem? Prometo que não vou te deixar sozinho. – sorriu, fazendo seus olhos sumirem quase que por completo. – Além do mais, acredito que Jimin também apareça por lá, por mais que ele adore se enfiar no armário daquele zelador esquisito para tirar uma soneca depois do intervalo.

 Caralho.

Puta que pariu.

E todos os outros palavrões existentes.

“Prometo que não vou te deixar sozinho.”

Como diabos eu ainda estou respirando?

– C-Claro. – gaguejei, me xingando mentalmente por, provavelmente, parecer nervoso.

Taehyung ergueu a sobrancelha, parecendo ligeiramente preocupado.

– Você tá bem? – indagou. – O seu rosto está muito vermelho.

Apalpei a minha face, ato que fez o acastanhado rir novamente da minha cara. Não queria, de maneira alguma, passar a impressão de um menininho bobo e envergonhado; entretanto, para o meu azar, era exatamente isso oque eu estava fazendo. Taehyung era um cara descolado e animado, sempre fazendo todos rirem. O ambiente parecia ficar descontraído quanto ele entrava, tudo isso por conta do seu bom humor e também do seu carisma. Eu precisava deixar a minha timidez de lado, sabe, nem que fosse só para conseguir iniciar uma simples conversa sem ficar gaguejando.

– Eu estou bem. Ótimo. Melhor do que nunca. – tentei, de algum modo, sorrir abertamente.

– Certo. – Taehyung tinha um sorriso divertido nos lábios. – Te vejo na próxima aula, então. Sabe aonde é sala de música, não é? – perguntou. Quase tive um ataque de euforia ao perceber seu modo dedicado e cuidadoso de ser. As meninas da minha sala de física viviam comentando o quão amoroso o Kim era com as pessoas ao seu redor, mesmo que não as conhecesse. – Precisa de alguma ajuda?

– Não. – por mais tentador que seja. – Eu sei o caminho, não precisa se preocupar.

E então, para o meu desespero e felicidade ao mesmo tempo, o sinal indicando o fim do intervalo soou.

– Até daqui a pouco, Jungkook. – sorriu e acenou, virando-se e caminhando para longe de mim.

Ah, Deus.

Não sei se é pra rir ou chorar.

A sala de música era realmente maior do que eu imaginava. Haviam diversos instrumentos espalhados por todo o recinto; desde guitarras e violões até violinos e saxofones. Sorri ao perceber que, ao invés de mesas e cadeiras, o ambiente estava repleto de pufes coloridos e confortáveis. Alguns alunos tiravam os sapatos antes de entrar no local, pareciam mais à vontade ao andar apenas de meias pelo piso coberto de tapetes grossos e felpudos, com notas musicais e letras de músicas desenhadas.

Taehyung estava lá, sentado um pouco mais á minha frente, junto á alguns dos seus amigos. Os alunos haviam se concentrado bem no meio da sala, onde o professor conversava e fazia com que alguns dos mais reservados tentassem interagir mais. “Música é comunicação”, o homem de cabelos negros e olhar profundo argumentava com os seus pupilos. Seu modo animado e contagiante de ser fez com que duas ou três pessoas que estavam ali só para assistir a aula acabassem se juntando aos alunos.

Ajeitei-me no pufe cor-de-rosa, sentindo minhas mãos trêmulas e meu coração acelerado. Jimin havia me mandado uma mensagem na noite anterior, e nela estavam escritas algumas dicas para saber como lidar com Taehyung. De começo, ignorei. Meu melhor amigo sempre teve tendência a piorar situações, não melhorá-las. Porém, após o episódio no corredor do terceiro andar, decidi que talvez aquelas dicas pudessem me ajudar ao menos um pouco.

Era meio óbvio que, vindo de Jimin, a maioria dos conselhos tinham segundas intenções. Achei que ele estivesse brincando com a minha cara quando li “ofereça um boquete”. Entretanto, após chegar a breve conclusão de que esse era o jeito dele se ser – atirado e um pouco malicioso demais –, optei por apenas ignorar aquela dica e passar para as outras.

“Seja gentil”, “sorria como uma pessoa normal, não o seu sorriso de pinguim”, “tente não tremer como um senhor idoso na frente dele, muito menos gagueje”, eram algumas das frases escritas. Não podia ser tão difícil assim, não é? Eu só tinha que deixar de agir como um babaca apaixonado, porque, cá entre nós, tremer na base por causa de um garoto é algo extremamente gay – não que eu não seja gay, mas, argh, você me entendeu. Jimin adorava me ver abalado e suando frio por causa de Taehyung. Ele disse que, para conquistar o acastanhado, eu só deveria mostrar o meu verdadeiro “eu”.

Tratar Taehyung como trato Jimin; sem gaguejos, sem vergonha, sem barreiras.

Mas substituindo o “meu melhor amigo” por “amor da minha vida”.

E sem os tapas e pontapés que, de vez em quando, o ruivo recebia de mim.

– É uma composição minha.

– Uau! – o berro animado do professor chamou a minha atenção. Percebi que todos já estavam em seus devidos lugares, em silêncio. Taehyung era o único de pé, ao lado do homem de cabelos negros, sendo acompanhado pelos olhares atenciosos do resto da turma. – Vai cantar algo próprio para nós hoje? Mas que grande honra. – bajulou-o, sem medir esforços. Pude jurar que alguns garotos reviraram os olhos e as meninas, parecendo ser admiradoras do acastanhado, concordaram com o professor.

– Não exagere, Minseo. – falou o Kim, as bochechas vermelhas e o tom de voz acanhado.

O professor riu.

– Maldita a hora em que resolvi deixar você me chamar pelo nome. Não é porque temos intimidade que o respeito tem que ser esquecido. – resmungou, fingindo irritação. – É Minseo-hyung para você, menino insolente. – e, por fim, depositou um tapa na nuca de Taehyung, que segurou a risada e tentou manter o olhar sério para o professor baixinho ao seu lado. – Agora, ande com essa apresentação.

Eu sabia que Kim Taehyung cantava bem.

Afinal, eu já o tinha visto cantar, e todo mundo vivia falando isso.

Só não não me lembrava que ele cantava feito um anjo.

Já era a segunda música que eu tinha o prazer de ouvir na voz daquele ser maravilhoso, mas isso não queria dizer que eu conseguia fazer alguma coisa além de deixar a boca aberta num “o” perfeito. O meu corpo simplesmente não atendia às exigências do meu cérebro, parecia uma pane geral. Era uma nova parada cardíaca a cada vez que Taehyung olhava para mim. Sorria, fechava os olhos, mordia o lábio de maneira despreocupada – me fazendo pensar mil e uma besteiras –, e fazia pequenas caretas quando sua voz ficava mais fina e alcançava as notas mais altas da canção.

Eu não sabia oque havia feito com que eu me apaixonasse por ele. Talvez o seu jeito bondoso e alegre de ser, sempre cercado de amigos e fazendo as pessoas rirem. Talvez o modo como ele odiava o termo “popularidade”, e como detestava que o chamassem assim – Jimin havia me contado isso. Talvez fosse o jeito como ele passava a mão pelos cabelos castanhos, ou então o seu sorriso contagiante e fofo. Me pergunto todos os dias como fui capaz de me apaixonar por uma pessoa que, durante tanto tempo, pude apenas observar de longe.

– É por isso que é meu aluno favorito, Taehyung.

– Pensei que fosse pelos bolinhos que roubo da cantina e te trago todos os dias.

A sala riu e, num ato ligeiro, desviei meu olhar para a janela. Arregalei os olhos quando vi Jimin bem no corredor, fazendo gestos com ambas as mãos. Tudo bem que ele não estava na sala quando eu entrei e nem deu as caras nesse meio tempo, mas pensei que meu amigo fosse mais inteligente. Quem diabos é burro o bastante pra matar aula no corredor? Até a arquibancada me parecia um melhor esconderijo.

Jimin continuava sinalizando pra mim, e eu sem entender. Ele bufou, respirou fundo e pareceu tentar se acalmar. Depois, apontou para um violão de cor preta que estava jogado no chão, apontou para a minha pessoa e então apontou para o banquinho posto no meio da sala, à disposição de quem quisesse cantar ou tocar alguma coisa. Entendendo oque ele queria dizer, neguei com a cabeça várias e várias vezes. O ruivo não pareceu convencido, pois continuou fazendo gestos desesperados para mim.

Olhei para Taehyung, ele conversava com o professor enquanto segurava seu violão.

Suspirei fundo e tomei fôlego.

“Música é comunicação.”

Olhei para Jimin, ele parecia me xingar e me incentivar ao mesmo tempo.

Eu não acredito que vou fazer isso.

Ergui a mão. – Professor? Eu gostaria de cantar algo.

Depois de afinar o violão, respirar fundo algumas vezes – juro, estava prestes a ter um ataque de asma ali mesmo –, e me ajeitar no banquinho de madeira, decidi que já estava na hora de começar. Taehyung estava sentado bem na minha frente, as pernas cruzadas em posição de índio e um sorriso incentivador brincando nos lábios finos e bem desenhados. Os alunos pareciam concentrados no meu próximo passo – talvez estivessem cansados de esperar a minha boa vontade para começar a cantar –, então fechei os olhos, tomei o fôlego que precisava e abri a boca.

“Forever is a long time

But I wouldn't mind spending it by your side […]”

Eu esperava, de todo o meu coração, que Taehyung entendesse aquelas palavras.

Era o único jeito de dizer oque eu realmente sentia.

Não me importava os outros vinte e poucos alunos daquela turma, muito menos Jimin do lado de fora da sala. Toda a minha atenção pertencia à apenas uma pessoa. O acastanhado me encarava de um modo estranho, parecia surpreso e encantado ao mesmo tempo. Meu coração batia rápido e nervoso, o medo de errar alguma nota me consumia aos poucos. Eu simplesmente não podia amarelar agora. Minha voz não era das melhores, mas também não era tão ruim. Acho que eu conseguiria executar aquela canção com perfeição se aqueles olhos acastanhados não me fitassem com tanta precisão.

“Carefully we're placed for our destiny

You came and you took this heart and set it free […]”

As coisas estavam indo rápido demais. Eu não sabia se isso era bom ruim, no final das contas. Durante dois anos eu nutri um amor platônico pelo garoto mais popular da escola. Não que isso me impedisse de certa forma, até porque Taehyung conversava com todos que se aproximassem dele. Eu achava incrível o modo como ele havia conseguido conquistar o respeito e admiração dos alunos daquele colégio. Acho que essa foi a primeira coisa na qual reparei no acastanhado.

Todo mundo gostava dele.

Tudo bem que, sei lá, noventa por cento das meninas eram apaixonadas pela beleza do atacante, mas a equipe de natação, o time de futebol e a turma de música adoravam Taehyung pelo simples motivo de: o garoto nunca ficava de mau humor. Não existia tempo ruim, apenas o sol. Com o passar do tempo eu fui percebendo que ele era a fonte da minha alegria ao acordar cedo para ir pra escola. Jimin havia me dito que, mesmo sem me conhecer, Taehyung conseguia despertar o meu lado mais doce.

Eu sei, extremamente gay.

Mas era a verdade.

“Tell me everyday I'd get to wake up to that smile

I wouldn't mind it at all.” ²

Assim que escutei palmas ecoando por todo ambiente, acordei num clique.

As pessoas sorriam pra mim, assim como o professor.

Taehyung não estava ali.

Eu não devia ter fechado os olhos.

Senti um misto de medo e decepção me dominando, e de cabeça baixa me levantei do banquinho. Tudo oque eu queria naquele momento era sair daquela sala. Coloquei o violão no chão com extremo cuidado – as minhas mãos estavam trêmulas e era provável que eu deixasse o instrumento cair e se espatifar –, peguei a alça da minha mochila e dei um sorriso fraco para Minseo, que agora tentava me convencer a me matricular em suas aulas. Eu não estava com cabeça para mais nada. Tinha medo de olhar para os outros lados da sala e ter a confirmação de que Taehyung não estava ali.

– Prometo que vou pensar. – murmurei.

– Ótimo! – o professor comemorou, assim como alguns outros alunos. – Você é talentoso, garoto.

Agradeci com um acenar, apenas. Bufei, pronto para sair dali, mas fui impedido por dois braços que me envolveram num abraço apertado e aconchegante. Meu coração ficou acelerado e as minhas pernas já não pareciam aguentar o peso do meu corpo de tão bambas que estavam; o desespero e o nervosismo estavam tomando conta de mim e eu não pude fazer nada além de arfar como um porco. Taehyung não pareceu ter percebido os meus pequenos espasmos, pois se separou de mim com um enorme sorriso e uma feição de extrema animação em seu rosto.

– Você foi incrível, Jungkook! – ele exclamou. Um misto de alívio e felicidade tomou conta de mim.

Ele não tinha ido embora.

E ainda por cima me deu um abraço, puta que pariu!

– Jura? – perguntei. – Você realmente gostou?

– Gostar é pouco! Eu adorei, de verdade. – respondeu-me. Sorri, feliz. – Porque não participa das aulas de música? Posso te garantir que são bem mais divertidas do que números e cálculos. – piscou. Eu nem precisei pensar duas vezes naquela oferta. Taehyung e eu seríamos colegas de turma e eu sempre teria a oportunidade de ouvi-lo cantando ou ajudar em alguma das suas composições. Além do que, se Jimin soubesse que eu recusei aquela proposta, com certeza esfregaria o meu rosto na calçada da escola.

É...

Acho que alguém precisa tirar o violão do armário.

Alguns meses haviam se passado desde que comecei a frequentar a aula de música. Boa parte do meu medo de socializar e interagir com as pessoas havia ido embora quando aquela turma animada decidiu me acolher como seu mais novo membro. Eles eram simpáticos e sempre me ajudavam quando algum problema com os instrumentos surgia. Nosso professor, Minseo, se mostrou um homem bondoso, gentil e também muito encorajador. Em pouco tempo ele havia conquistado a minha confiança, assim como eu conquistei a dele – palavras do próprio, não minhas.

Jimin e eu ainda éramos inseparáveis. Ele continuava me ajudando com Taehyung, mas agora também dedicava o seu tempo a paquerar uma menina do segundo ano, Min Hee. A novata havia dado um nó na cabeça e no coração do meu melhor amigo, e eles até que formavam um belo casal. Eu estava ansioso para retribuir o “empurrãozinho” que ele havia me dado, além de querer logo começar o meu importante trabalho como cupido. Até o fim do ano os dois estariam namorando, sério, pode apostar.

E, por fim, havia Taehyung.

Nos tornamos amigos num passe de mágica. Tínhamos muita coisa em comum, como preferência para alguns videogames, um grande amor pela Marvel e também um estoque de doces na gaveta de meias e cuecas. Descobri que, assim como eu, ele adorava música americana, mas era péssimo em inglês. Não pude conter a gargalhada quando ele tentou falar “the book is on the table”, simplesmente porque a sua pronúncia era tão ruim que parecia ser uma mistura de russo com árabe. Taehyung passava quase todo o intervalo ao lado dos seus amigos, mas sempre arranjava um tempo para se sentar ao lado de Jimin e eu. As pessoas conheciam o meu melhor amigo, nem que fosse de vista – era quase impossível ignorar os cabelos ruivos chamativos de Park Jimin –, mas começaram a perguntar sobre mim.

Em pouco tempo já sabiam quem eu era. “Gênio em matemática e o mais novo participante da lista dos queridinhos de Minseo”, eles comentavam pelos corredores afora. Tentei não ficar incomodado ao saber que o meu nome circulava de boca em boca, mas isso era quase impossível. Eles pareciam me avaliar e me medir durante o tempo todo; eu podia sentir os olhares minuciosos queimando as minhas costas, os murmúrios que, com toda certeza, eram sobre mim. Aquilo me deixava extremamente desconfortável.

– A última coisa que você deve fazer é se importar com oque eles dizem. – Jimin me aconselhou.

Eu segui a sua dica. Continuei vivendo a minha vida como sempre, e, com o tempo, pararam de querer saber cada detalhe da minha vida. Agora eu só atraía a atenção deles quando passeava pela escola ao lado de Taehyung, coisa que não acontecia muito por não sermos da mesma sala. Porém, como o bom amigo que era, o acastanhado sempre dava um jeito de me tirar da aula de educação física e então nós íamos para a sala de música, onde nos encontrávamos com os outros alunos. O tempo passava rápido quando eu estava rindo e papeando com eles.

“Ah, Jungkook, não se importa em chamar Taehyung apenas de amigo?”

Não, não me importo. Até algum tempo atrás eu não passava de um desconhecido para ele.

“Isso quer dizer que você desistiu de se confessar?”.

É mais ou menos por aí.

Jimin me chamava de frouxo e a minha mãe me chamava de lerdo, mas não tinha outra: eu nunca teria coragem para confessar os meus sentimentos à Taehyung.  Sempre que eu cogitava a hipótese de fazer isso, quase acabava tendo uma convulsão. Eu tinha medo de que ele me negasse, porque, sabe, essa era uma opção. E, se isso acontecesse, toda a minha amizade com ele iria para o ralo e eu voltaria a ser apenas uma das que observa Kim Taehyung de longe.

Só que o sentimento dentro do meu peito só crescia cada vez mais.

Taehyung era uma pessoa incrível. Tudo oque eu imaginava e um pouco mais. Ele era sempre amoroso e gentil, ajudava quem precisasse e nunca reclamava. Descobri que alguns intelectuais – “nerds” é um termo ofensivo –, da minha sala só conseguiam médias altas em francês porque o Kim lhes dava aulas extras na biblioteca nos dias de terça e quinta. O único momento em que vi Kim Taehyung ser grosso e dar as costas para alguém foi quando duas alunas do primeiro ano confessaram seus sentimentos para o acastanhado ao mesmo tempo e depois pediram para que ele escolhesse apenas uma para ser a sua namorada.

Até aí tudo bem.

Mas depois elas começaram a brigar no meio do refeitório.

Foi meio... Aterrorizante.

Eu já estava ficando desesperado quando elas começaram a gritar uma com a outra, mas a situação só piorou quando Taehyung se levantou e disse – com toda a calma e paciência do mundo – que era gay. Quase entrei em pânico ao ver que as duas se debulhavam em lágrimas, pedindo, em meio a soluços e fungadas, que o Kim aceitasse os sentimentos delas. O acastanhado pareceu ficar irritado com todo o escândalo que as meninas estavam fazendo, então, simplesmente deu as costas e saiu marchando dali. As duas malucas o seguiram desesperadas, berrando e se descabelando.

Enquanto Jimin ria, eu ia, aos poucos, sentindo o ciúme me dominar.

Tudo bem que Taehyung é gay, mas, ugh...

Vocês devem saber do que eu tô falando. Ciúmes não tem fundamento, apenas é sentido.

– Jungkook?

– Hm? – respondi, piscando freneticamente. Por alguns breves momentos me esqueci de onde estava, e provavelmente não tinha escutado oque Taehyung estava me falando há dez minutos. Jimin e ele diziam que era fofo o modo como eu divagava de uma hora para outra, e o acastanhado sempre me indagava o motivo de tantos pensamentos presos na minha cabeça. Eu dava um jeito de desconversar e mudar de assunto, porque, no final das contas, o único culpado dos meus devaneios era ele mesmo.

– Você tem que parar com isso, sério. – o Kim sorriu em minha direção. Ainda meio perdido, arqueei as sobrancelhas. – A aula já terminou e Minseo disse que na próxima vez que você começar a dormir com os olhos abertos, ele vai te acordar com um copo d’água bem no meio da cara. – riu. Bufei ao perceber que havia perdido quase metade da aula e também, provavelmente, a apresentação da nova letra que Taehyung estivera compondo. Ele ficou ocupado durante toda a semana, se preocupando apenas com a sua nova canção. – Porque essa cara azeda, hm?

– Você cantou a música que compôs essa semana? – perguntei, o acastanhado assentiu. Acho que não consegui disfarçar a minha expressão decepcionada, pois ouvi sua risada no mesmo instante.

Ele me fitou, atencioso.

Minhas bochechas coraram e eu desviei o olhar.

Droga.

– Quer que eu toque pra você?

– Quê?

– A música, quer que eu toque ela pra você? – indagou.

Arfei.

– Quero.

Taehyung sorriu e andou até o outro canto da sala, onde seu violão estava em cima do banquinho de madeira usado pelos alunos para se apresentarem. Apesar de estar acostumado a ficar sozinho com ele em momentos como esse, quando Jimin sumia e não dava satisfações, era sempre aterrorizante e, de certa forma, desesperador. Eu ainda não sabia como me controlar perto do Kim, muito menos como dar um jeito de acalmar os meus sentimentos.

Vi-o arrastar uma cadeira até que a mesma ficasse bem na minha frente. Ele se sentou, fazendo nossos joelhos se chocarem, e rapidamente ajeitou o violão em seu colo. As batidas do meu coração estavam tão rápidas e fortes que poderiam ser ouvidas da cidade vizinha, assim como a minha respiração falha e descompassada indicava que eu estava prestes a ter um infarto. Não parecendo perceber o estado em que eu me encontrava, Taehyung começou a cantar.

Eu já queria morrer na primeira palavra.

“Na ojik neo bakken anboyeo

Bwa gongjeonghaji gongpyeonghaji […]”

Seu timbre rouco me deixava desconexo, sem chão. Eu não conseguia olhar para qualquer outra coisa que não fosse a sua boca. Ela se mexia de acordo com as palavras que saíam, e ás vezes seus dentes mordiam o lábio inferior com fraqueza. Queria gritar, queria correr, mas, acima de tudo, queria muito ser corajoso o suficiente para beijá-lo. Aquele sentimento só crescia em mim a cada vez mais, eu já estava sem saída e sem recursos para escapar dele. Taehyung havia fisgado o meu coração sem sequer ter a intenção.

“Kkwak jabajwo nal anajwo

Can you trust me, can you trust me, can you trust me

Kkwak kkeureoanajwo [...]”

A letra entrava por um ouvido e saía pelo outro. Eu compreendia tudo oque ele dizia, mas era como se o meu cérebro não quisesse, de fato, se concentrar na música, apenas em quem estava cantando-a. Meu coração palpitava e as minhas pernas estavam trêmulas; agradeci por estar devidamente sentado e não de pé, correndo o risco de desabar no chão a qualquer momento.

“Neoreul neukkil su issge nareul kkeureoanajwo

Neo eopsin sumeul swil su eopseo nan […]”

Taehyung me encarou, e num reflexo eu desviei o olhar. Minhas bochechas esquentaram e eu preferi encarar o chão ao invés de seu rosto sereno. Os acordes no violão foram diminuindo e a sua voz foi se dissipando junto à letra da música. Assustado, ansioso, confuso e extremamente apaixonado, era como eu estava me sentindo. Um misto de sentimentos inundava o meu coração, me deixando em êxtase. Ao mesmo tempo em que eu queria sair correndo dali, meu corpo e minha mente pediam para aproveitar o momento estranho, porém, revelador que estava acontecendo.

“Ije nareul mideojwo dasi nareul jabajwo

Neoreul neukkil su issge nareul kkeureoanajwo.” ³

Aquilo era uma indireta?

Deus, eu juro que vou desmaiar.

Meu cérebro só parou de inventar hipóteses e teorias quando o acastanhado à minha frente sorriu e, de modo cuidadoso, colocou seu violão no chão. Suas mãos se esfregaram na calça jeans que ele usava, e então sua atenção se voltou para mim.

– Gostou?

Assenti, ainda fora de órbita.

– Muito.

O Kim riu baixinho e olhou para o chão, mordendo o lábio.

– É pra você.

Eu juro por tudo que tentei não escancarar a boca e começar a encará-lo igual a um imbecil.

Mas é claro que não deu certo.

– Já faz um tempinho que eu venho querendo te dizer isso. – Taehyung bagunçou os cabelos. – É, eu meio que tenho uma quedinha por você. – deu ombros, seus olhos fixados em mim como se estivesse pronto para fugir caso a minha resposta fosse negativa. Ele parecia assustado. Não tanto quanto eu, é claro, até porque a minha situação estava caótica. Aquele momento havia sido imaginado muitas, mas muitas vezes. Eu mal podia acreditar que finalmente estava acontecendo. – Achei que já estava na hora de perguntar se os seus sentimentos por mim são recíprocos, porque, se não forem...

– Não! – interrompi-o, num berro.

Ok, Jungkook, esse é o momento no qual você esperou por mais de dois anos.

Vê se não faz merda, pelo amor de Deus.

Não gagueja.

Por favor, não gagueja.

Isso tá mesmo acontecendo?!

– Eu gosto de você. – murmurei. Minhas bochechas estavam queimando e um sorriso tímido brotava em meus lábios. Meu coração estava batendo mais rápido do que nunca, minha boca seca e os meus olhos vidrados na feição surpresa que Taehyung carregava em seu rosto. De modo receoso e acanhado, ele levou a sua mão até a minha, segurando a mesma com cuidado e proteção. Eu acompanhei aquele fofo gesto com o olhar, tendo a plena consciência de que, se acabasse tendo um ataque cardíaco, morreria com um grande sorriso no rosto.

– Jungkook, eu... – ele murmurou. – Eu posso beijar você?

Você ainda pergunta? Caralho!

Por favor, que isso não seja um sonho ou uma pegadinha.

Abri a boca e a fechei, sem saber oque dizer.

Responde logo, inferno! E, de preferência, que seja um “sim”.

– Sim.

O Kim sorriu e se aproximou de mim lentamente. Sua mão não havia desgrudado da minha, e acho que eu nunca mais a soltaria. Era uma sensação tão boa, como se um peso enorme tivesse sido tirado das minhas costas e do meu coração. Eu tinha esperado tanto por aquilo. Há dois anos meu coração sofria e amava em silêncio um garoto que eu julgava ser impossível de conquistar. Mas, é, o mundo realmente dá voltas. E, quando a gente menos espera, todo o nosso esforço é recompensado.

Eu tentava gravar cada momento. Sua mão esquerda na base do meu rosto enquanto a outra, bem aos poucos, ia se entrelaçando aos meus dedos. Os olhos castanhos fitavam a minha boca com intensidade e ansiedade, sua respiração cada vez mais próxima da minha, corações batendo rápido e forte. Eram muitos sentimentos vindo de uma só vez, mas eu mentiria se dissesse que não estava adorando aquela situação. Taehyung mordeu o lábio inferior e, antes que eu pudesse tomar fôlego, o espaço entre nós se dissipou.

Começou devagar, um simples selar. Eu sentia que ia explodir de tanta felicidade, mas me concentrei e tentei dar o melhor beijo de toda a minha vida. Minha mão livre, ainda tímida, foi até a maçã rosada do rosto alheio e ali depositou um leve e carinhoso afago. Aos poucos os nossos gestos foram deixando de ser acanhados e pularam para um novo nível. Nós parecíamos conectados, de certa forma – por mais que seja clichê dizer isso, não consigo achar outras palavras que descrevam o tamanho da sintonia que os nossos lábios tinham.

Ele estava sentindo tudo oque eu sentia.

Eu sabia.

Era muito mais do que uma simples quedinha, ou um simples gostar.

Havia muito mais coisa ali.

Quando as nossas bocas se separaram – não porque eu quis, já deixo bem claro, mas sim porque sou humano e preciso de ar –, nenhum de nós dois se afastou. Eu ainda sentia a respiração dele chocando-se contra o meu rosto, e segurei a risada ao ver seus lábios ainda mais vermelhos que o seu rosto. Sem acreditar no que tinha acabado de acontecer, fechei meus olhos com força e reprimi um sorriso bobo. As batidas do meu coração, muito ao contrário do que eu tinha pensado, não queriam diminuir.

Eu continuava sendo um idiota apaixonado perto de Kim Taehyung

Seria sempre assim.

– Eu não sei oque eu sinto por você. – ele murmurou, sua mão fazendo um leve carinho na minha. Os seus dedos gélidos passearam pelo meu rosto até chegarem ao meu queixo, e ali se fixaram. – Mas não é fraco, muito menos passageiro. Confesso que estou com medo, porque, sabe, eu nunca senti isso por outra pessoa antes. – soltou uma risadinha acanhada e fofa. – Ainda não sei qual é o nome dessa coisa que tá crescendo no meu peito, mas eu realmente quero descobrir. – Taehyung murmurava aquilo como se fosse um segredo, e que apenas eu tinha o direito de saber.

Abri os olhos, me deparando com aquela imensidão castanha que me encarava de modo apreensivo.

Suspirei.

– Não quebre o meu coração. Você está nele faz tanto tempo que nem sei de mim.

Ele sorriu e apertou a minha mão.

– Eu nunca seria capaz de fazer isso.

E foi naquele momento, enquanto Kim Taehyung – o garoto mais bonito, talentoso e simpático de toda aquela escola, devo ressaltar – puxava o meu rosto para mais um beijo, que eu percebi. Percebi que as minhas inseguranças e os meus medos, de certa forma, me ajudaram a conquistar oque eu queria. Por tanto tempo eu quis mudar, ser outra pessoa, tudo isso para ter ao menos uma chance com o garoto de cabelos castanhos e sorriso fácil que havia roubado o meu coração.

Sabe o mais engraçado de tudo isso? Eu só consegui a sua atenção quando decidi ser eu mesmo. É, eu deveria saber. Taehyung nunca fez o tipo de pessoa que só se aproxima de alguém por causa das suas qualidades, muito pelo contrário. Acho que foi exatamente por isso que meu coração pediu por ele assim que o viu pela primeira vez em cima daquele palanque no Festival de Primavera. O Kim sabia que oque fazia uma pessoa ser única não eram apenas as suas qualidades, não. Os defeitos – apesar de serem a parte que sempre queremos esconder – também têm um papel muito importante.

Eu desisti de tentar ser uma pessoa perfeita para que Kim Taehyung gostasse de mim.

Ele se interessou pelas minhas qualidades.

E conheceu todos os meus defeitos.

Ele gostou do que viu.

Sorri em meio ao beijo, trazendo o rosto do acastanhado para ainda mais perto do meu.

É...

Acho que finalmente conquistei o meu crush.


Notas Finais


Pretz Tomato¹ - é um salgadinho coreano que parece ser mto gostoso pqp quero
² - a música é I Wouldn't Mind - He Is We
³ - vcs já devem saber mas enfim né, Hold Me Tight - BTS (<3)


espero q tenham gostado
GNT EU N SIRVO PRA FAZER OS OLHA O TAMANHO DISSO
até mais


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