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História Dandelion - Ciclame


Escrita por: KakaLeda

Notas do Autor


OIEIEIEIEIEIEIEIEIEIEIEI SEUS GOSTOSOSSSSSSSSS
Quem tá curtindo o Trá Trá Trá????? Meu Chesus eu não aguento mais essa música, moro perto de um espaço para eventos e tipo - Trá Trá Trá Trá diretooooooooooooooooooo T.T
Pessoas do meu coração eterno, vocês sabem que eu os amo não é? *--------* Cada comentário que me deixa no chão facinho, vocês me emocionam bastante seus perfeitos!!!!!!!! Obrigada por não me abandonarem depois dessa mudança nos dias de postar a fic ( é porque realmente tá puxado - cada um dos meus professores deram uma lista de doze páginas, pode isso produção?)
Enfim, espero que Enjoy muitoooooooooooooo ( sorry pela bíblia novamente, mas é que estou tentando colocar tudo o que eu colocaria numa semana .u. )
~Ciclame: significa pedido de desculpas ;)

Capítulo 23 - Ciclame


Fanfic / Fanfiction Dandelion - Ciclame

POV.Alexy

 

                Depois de nos despedirmos das crianças, eu e Zack decidimos ir a um restaurante próximo para almoçar pois nenhum dos dois não havia comido nada, e minha barriga já estava um colapso de roncos insistentes.

                Em nenhum momento consegui tirar as crianças da cabeça, pois eu já havia vivido naquelas condições antes, sem família e apenas os meus “irmãos” do orfanato. Armin era a única família de verdade que eu tinha.

                James e Bianca me marcaram um pouco, a fragilidade unida à força da garotinha só a deixavam mais linda, e aquela maturidade do garoto... Eu realmente gostaria de voltar a vê-los novamente.

                -Você está bem distraído. – a voz de Zack me tirou do devaneio. Ele me encarava enquanto sorria, pela primeira vez olhei diretamente em seus olhos.

                -Você usa óculos? – perguntei meio atônito, ele achou graça.

                -Sim, mas não enquanto estamos no clube, já que quase não nos vimos fora dele... – Zack respondeu – Deve ser por isso que nunca me viu assim. Então, você pode responder à minha pergunta?

                -Que pergunta...?

                -Se você prefere filé com batatas fritas ou frango assado – ele encarou o cardápio do restaurante. Pela primeira vez reparei que um garçom nos aguardava, impaciente. Me apressei em responder.

                -Filé com batatas fritas.

                -Ok. Filé com batatas fritas e acompanhamento, por favor. – Zack entregou o cardápio para o garçom enquanto este anotava o pedido. Depois que o fez, o homem de uniforme se retirou.

                -Então... Por que está tão distraído? – Zack perguntou, logo em seguida acrescentou – Você não fala nada desde que deixamos o orfanato...

                -Não é nada... Apenas me lembrei de algumas coisas – respondi encarando as mãos apoiadas na mesa.

                -Aquela história que você contou é verdade?

                -Sim, mas já faz bastante tempo – fiquei pensativo – Mas acho que hoje fez algumas lembranças voltarem.

                -Alexy... – Zack ganhou uma expressão culpada e triste – Me desculpe, se eu soubesse...

                -Zack, está tudo bem – sorri para ele – Não é uma coisa que eu queira esquecer. Muito pelo contrário, eu gosto de saber que eu e Armin fomos escolhidos por aquelas pessoas que amamos. Na verdade eu queria agradecer por ter me trago aqui...

                Zack relaxou a postura e encarou a janela do restaurante, ele parecia sério.

                -Eu queria contar isso para alguém – Zack falou com a voz rouca, seus olhos estavam distantes e tristes – O orfanato está precisando urgentemente de ajuda financeira, se não conseguirem isso... É capaz de mandarem uma parcela das crianças para outro lugar. Eu estou com medo de levarem a Bianca – ele me encarou, por um momento pensei que ele fosse chorar – Eu sei que eu sou apenas um cara de dezenove anos sem emprego, mas eu queria, um dia, adotar ela.

                -Zack...

                -É idiotice, né? Mas é que sou apegado a ela desde que Bianca era apenas uma bebê de um ano – ele apoiou a cabeça na mão.

                -Não é idiotice, Zack! O que você quer fazer é... – sorri e abri os braços – Foi o que os meus pais fizeram comigo. Me deram uma família! – inconscientemente apertei a mão de Zack que repousava na mesa – Não pode desistir disso. Vamos tentar arrumar dinheiro de alguma forma!

                Zack esbanjou um sorriso radiante para mim.

                -Você vai me ajudar? – ele perguntou baixinho.

                -Claro que vou! – revirei os olhos sorrindo – E para o seu governo, eu gostei muito daquele garotinho, o James.

                Zack prosseguiu sorrindo. Mas então encarou nossas mãos enlaçadas e olhou ao redor. Segui seu olhar e percebi que as pessoas estavam nos encarando. Eu e Zack nos afastamos imediatamente.

                Zack limpou a garganta e encarou o cardápio. Eu não conseguia controlar o calor no meu rosto. Ficamos assim até a comida chegar e meu celular tocar.

                Uma mensagem.

                -É algo importante? – Zack perguntou enquanto colocava comida no garfo. Eu balancei a cabeça em negação.

                -Mais ou menos – respondi encarando a tela do celular – É o meu irmão me avisando que mais tarde iremos provar nossos smokings.

                -É alguma festa? Casamento?

                -Uma festa de uma empresa, nesse sábado– respondi. Zack ergueu as sobrancelhas.

                -Nossa. Parece que alguém vai se divertir bastante nesse final de semana – Zack sorriu. Eu revirei os olhos com brincadeira.

                -Se eu pudesse te levaria...

                -Nada não, Al – ele comeu uma batata – Não é nada comparado a uma festa como a que você vai, mas eu tenho meus hobbies...

                -O que seriam?

                -Como você deve saber: Correr – ele sorriu.

                -Aos sábados durante a noite? – perguntei surpreso – Não é perigoso andar sozinho na rua nessas horas...?

                -Eu uso a pista da escola – ele deu de ombros – É melhor do que ficar sozinho em casa.

                -Você não mora com seus pais?

                -Não. Eles moram no Canadá. Na verdade eu nasci lá, mas decidi fazer intercâmbio há dois anos. E agora estou aqui – ele respondeu.

                Balancei a cabeça em compreensão e voltamos a comer.

                Depois de esvaziarmos nossos pratos e pagarmos a conta, nos despedimos e cada um foi para um lado.

                No caminho para a loja onde Armin me esperava para a prova da roupa da festa, pensei no que Zack havia dito para mim sobre a situação do orfanato. Eu realmente queria resolver aquilo, ajudá-lo a ajudar aquelas crianças... Mas como?

                Mas então uma ideia me ocorreu.

 

                POV.Sophie

 

                -Tem certeza que você vai experimentar isso tudo? – minha voz estava ofegante. Já fazia uma hora que Kim me carregava de um lado para outro numa loja extremamente cara de vestido de festas colocando, sem pensar duas vezes, modelos e mais modelos em cima de mim para eu carregar.

                Eu já devia estar segurando uns quinze.

                -É claro que não. Foi pra isso que te trouxe aqui, você vai ser minha modelo – ela respondeu enquanto encarava um vestido azul escuro.

                -Como assim?!

                -Isso mesmo, fofinha, você vai experimentar cada um, desfilar para mim e eu irei decidir qual o melhor.

                -Mas estamos comprando o vestido para você... Você quem deveria experimentá-los – falei, minha voz era abafada pelos panos dos vestidos no meu rosto – Além do mais, como vai saber se ficarão bons em você se só vai vê-los em mim?

                Kim pegou meu queixo e o ergueu. Ela sorria maliciosamente para mim – Eu sei o que estou fazendo, fofinha. Vamos, acho que já é o suficiente.

                Ela me carregou para o provador e me esperou sentada no sofá.

                Quinze vestidos, cada um com uma cor diferente, um modelo diferente. Um mais lindo que o outro. A minha parte criançona e infantil estavam aos pulos e feliz por estar vestindo-os, como se fosse uma princesa.

                Devemos ter demorado umas duas ou três horas dentro daquela loja, as vendedoras iam e vinham e nos cercavam. Imaginei se toda aquela atenção que eu e Kim estávamos recebendo era por causa dos nossos anéis. Kim também usava um anel com uma águia, mas era bem mais discreto que o que Castiel deu para mim.

                Kim literalmente me usou como modelo, me mandava desfilar de um lado a outro da loja, me obrigava a fazer algumas poses e usar salto quinze. No fim, quando ela finalmente escolheu o vestido, meu pé estava só o entulho.

                Fizemos uma parada para tomar milk-shake na sorveteria do shopping.

                -Então, por acaso já tem um vestido – ela perguntou.

                -S-sim... Eu tenho – desviei o olhar enquanto mentia.

                -Hmmm, você é péssima mentirosa – ela prosseguiu tomando o milk-shake – Por que não pede para o Castiel comprar um para você?

                -Eu não quero o dinheiro dele! – soltei, mas depois me encolhi – Desculpe. É só que acho que ele já fez demais, não gosto de ser sustentada por ninguém, me virei sozinha durante quase a vida toda...

                -Mas ele é seu namorado – ela me encarou. Eu corei.

                -N-não é! Quer dizer... Ai, eu não sei. De qualquer forma não aceito o dinheiro alheio desse jeito – abracei o tronco – Eu posso arranjar um vestido.

                Kim sorriu – Garota você está fazendo meu trabalho valer a pena. Estou de saco cheio de ser guarda costas daquelas mimadas filhas de mafiosos – ela revirou os olhos – Por mim deixava cada uma por si.

                -Mas se você não gostava, porque as protegia então?

                -O dinheiro, fofinha. Preciso de grana para viver – ela roçou os dedos polegar e indicador.

                -Mas se quer dinheiro para viver, por que trabalha arriscando a própria vida? – perguntei erguendo a sobrancelha.

                Ela esbanjou um sorriso afiado e me olhou com olhos em chamas – Sophie, o que você acha que eu sou? O que acha que nós somos? – ela mostrou o anel no dedo – Para uma pessoa comum como você, somos assassinos. Guarda costas é apenas um título bonitinho para o que eu sou – ela inclinou a cabeça e encarou o milk shake – É só isso que eu sei ser. E eu gosto.

                Engoli em seco. Desde o princípio não parei para pensar no tipo de gente que estou me envolvendo. Aquilo que eu vi naquela noite em que fui salva fora apenas uma parcela pequena do mundo de Castiel. “Assassinos e Criminosos”. Eu deveria estar correndo com medo, me refugiando na polícia, expondo-os para a mídia. Mas estou aqui, sentada e calma escutando Kim.

                A morena encarou o celular – Está na hora de te devolver para o Don Juan. Vamos – ela se levantou.

                -Don Juan...? – perguntei enquanto a seguia.

                -Aquele babaca com menstruação no cabelo – ela apontou para frente.

Eu o observei se aproximar lentamente, seus cabelos já estavam um pouco maiores e reluziam num rubro sutil, o maxilar contraído e com uma leve barba a fazer, os olhos cinzentos me devorando viva. Tudo isso junto a uma calça skinny preta combinada a sapatos mocassim, uma blusa vermelha com colarinho arrebentado e uma jaqueta cinzenta. Quase ouvi todas as garotas ao meu redor suspirarem ao mesmo tempo. Talvez eu também tenha o feito.

-Já terminaram? – Castiel perguntou para kim, mas seus olhos não saiam de cima de mim, e seu sorriso... Eu gostaria de beijá-lo naquele momento.

-Já, Cast – Kim respondeu – Então, vocês querem que eu fique ou...

-Pode deixar que eu cuido a partir daqui – ele se aproximou de mim e envolveu minha cintura com o braço. Kim revirou os olhos, acenou em despedida e foi embora – Então, como foi passar a tarde com a maluca da Kim?

-Bem fora do normal, para falar a verdade – cruzei os braços, sorrindo – Se bem que já não sei direito o que pode ser considerado normal na minha vida a partir de agora...

Ele sorriu de canto – Imagino que sim...

-Mas está tudo bem mesmo? – perguntei preocupada – Digo... Ficarmos sem um guarda costas... Você mesmo disse que é perigoso.

-Sophie, quando eu disse isso falei sério – ele me encarou – Mas esse anel que está usando é um símbolo que diz que está sob os meus cuidados. Você pensa que não estamos sendo vigiados, mas é muito o contrário disso. Observe melhor.

Fiz o que ele sugeriu. Encarei cada pessoa atentamente, então finalmente percebi.

Eles eram discretos, não olhavam para nós descaradamente, mas apenas de soslaio. Usavam roupas comuns que os misturavam com a multidão e tinham ações comuns. Mas as tatuagens, as letras sérvias, o símbolo, os colares, as pulseiras e os anéis...

-Entendi – falei atônita. Castiel me abraçou.

-Ei... Não fica assustada – ele parecia preocupado de verdade com o que eu achava daquilo.

-Castiel... O que exatamente nós somos? – perguntei. Percebi que ele engoliu em seco.

-Bem... – ele coçou a nuca e desviou o olhar – Na... Organização, os homens entregam esses anéis às garotas apenas quando estas viram suas esposas – Meu rosto incendiou, Castiel, ao perceber minha reação, acrescentou rapidamente – M-mas não se preocupe! Você é livre, eu não vou te obrigar a ser isso ou fazer qualquer coisa, Sophie. O anel é apenas uma forma que eu achei pra te manter segura...

-Mas você fica me chamando de sua garota... – minha voz era um sussurro constrangido. Eu não conseguia encará-lo.

Castiel pegou o meu queixo e se inclinou para me beijar. Foi um beijo sem língua, apenas para sentir a pressão dos lábios. Quando ele se afastou, o ruivo me encarou e sorriu.

-Porque você é minha garota – foi o que disse. Eu poderia ter sido confundida com um tomate naquele exato momento – Eu queria ficar um pouco com você, assistir um filme no cinema... Mas, se quiser, posso levá-la para casa.

-N-não... – engoli em seco e desviei o olhar – Também quero ver um filme com você...

O sorriso de Castiel foi radiante – Muito bem, eu pago – ele falou logo depois de pegar minha mão.

-Não mesmo! Eu vou pagar a minha parte – retruquei.

-Então eu pago ao menos a comida – Castiel revirou os olhos sorrindo – Para de ser chata e deixa isso ser um encontro de verdade.

 

POV.Kentin

 

De longe vimos que a casa estava movimentada, as luzes das janelas iluminavam a rua escura na noite sem Lua. A música e as vozes transmitiam festa e alegria. Eu estava nervoso e um pouco ansioso, mas esses sentimentos sessavam toda vez quando me lembrava de que Lucius havia aceitado o convite e agora se dirigia à casa ao meu lado.

Tentei ignorar os seguranças desnecessários que nos seguiam

Eu juro que queria ter vindo sozinho na minha moto sem chamar atenção desnecessária.

-Só não seja o fresco que sempre foi – pedi. Lucius me olhou, quase acreditei que ele estava triste.

-Kentin... Eu não sou mais...

Nesse momento a porta se abriu, o cheiro de comida invadiu minhas narinas, minha barriga roncou. A música estava alta – Acredito que era Bob Marley tocando ao fundo – e as gargalhadas e vozes inundavam todo o ambiente iluminado.

Quem nos atendeu foi uma garotinha de cabelos castanhos trançados, ela devia ter entre cinco ou sete anos. A garota me encarou com olhos esbugalhados e saiu correndo para dentro.

-Titia!! Tem um menino bonito na porta!! – a voz fina da menina ecoou pela casa.

Rapidamente vários rostos estranhos e sorridentes nos deram boas vindas. Eles cumprimentavam a mim e ao meu avô com uma hospitalidade carinhosa e acolhedora. Não consegui reprimir um sorriso.

-Querido Kentin, é bom vê-lo novamente – a senhora Catarina me abraçou amigavelmente e depois se virou para Lucius – E o senhor é...?

-O avô dele, minha cara, meu nome é Lucius – ele apertou a mão da mulher.

-Então também seja muito bem vindo! – ela o abraçou também, deixando-o surpreso. Na verdade tudo naquele lugar era estranho para nós dois, aquela recepção não era algo que tínhamos nas festas de negócios, onde os apertos de mãos e os elogios calculados eram suficientes. Não, aquilo era muito melhor.

Logo em seguida Robert, o pai de Melissa, nos cumprimentou e nos guiou pela casa lotada de gente. Vários rostos, cores e cheiros misturados. Percebi que, inconscientemente, eu procurava aqueles cachos ruivos em meio a tanta coisa. Onde estaria ela?

Chegamos ao jardim dos fundos, o lugar estava decorado de forma rústica, a música e as vozes se misturando. Havia uma mesa enorme lotada de pessoas. Avistei a garotinha da porta brincando com mais quatro outras crianças e dois cães, mais ao fundo um churrasco era preparado e ao meu lado havia uma mesa só com comidas e sobremesas.

Catarina nos levou para a mesa e nos colocou no meio das pessoas e as atenções se voltaram para nós.

-Pessoal, esse é o Kentin e o avô dele, Lucius – Catarina nos apresentou – Kentin é o colega de escola da minha filha. A propósito – ela se virou para mim – Ela logo vai descer. Não se preocupe.

-A, certo... – respondi um tanto tímido.

Uma enxurrada de perguntas nos atingiram, todos estavam curiosos em saber o que eu e meu avô estávamos fazendo alí. Na verdade até eu queria saber, fui apenas convidado pela Melissa.

Passaram minutos e nada dela aparecer. Eu estava gostando da família dela e tudo mais, na verdade eles eram bastante engraçados e contavam umas histórias muito incríveis, mas ver um rosto conhecido como o de Melissa seria bom. E eu queria saber se estava tudo bem mesmo.

De certa forma, desde aquele dia na minha casa eu venho me sentindo estranho quanto ao que aconteceu.

Então a música parou. Todos na mesa se viraram ao mesmo tempo em direção a casa, como se aguardassem alguma coisa. Demorou pouco até umas cinco garotas saírem lá de dentro, pareciam um grupo de escocesas, todas tinham os cabelos cacheados e trançados num estilo medieval, até os vestidos eram medievais.

E Melissa as liderava.

-Essa é uma tradição da nossa família que foi passada por gerações – Robert começou a falar – Nossas garotas irão dançar “Jiga”.

Uma melodia celta começou a tocar, as garotas iniciaram movimentos rítmicos circulatórios e saltitantes, movimentavam os braços e pernas e voltavam para a roda. Era rápido e leve, alegre e melódico. Por um momento pensei estar na Europa nórdica ou num filme da idade média.

Admito que achei muito bonito.

Todos começaram a bater palmas no ritmo da música, eu decidi fazer o mesmo. Meus olhos seguiam os movimentos da ruiva, o bater de pernas, a saia do vestido verde balançando de um lado para o outro... Nossos olhares se fixaram bem naquele momento, eu não desviei e nem ela o fez, então prosseguimos assim até a música acabar e todos aplaudirem de pé.

-Então... – Melissa se aproximou, ela estava um pouco ofegante – Gostou do show?

-Eu mentiria se dissesse que não... – respondi desviando o olhar, Melissa ergueu uma sobrancelha ao escutar isso.

-Você está doente, Kentin? Nunca me elogiou antes – ela falou sorrindo maliciosamente. Eu bufei e cruzei os braços.

-Pois aproveite, porque essa vai ser a última vez que vai escutar esse tipo de coisa.

Melissa sorriu e revirou os olhos.

-Pessoal! Está na hora de jantar! – ouvi a mãe de Catarina elevar a voz para todos. As pessoas se levantaram de suas cadeiras e se dirigiram para a mesa cheia de comida. Melissa e eu trocamos olhares e fomos até lá. Parece que eu não era o único morto de fome.

Observei Lucius de soslaio, ele não parecia enojado com a simplicidade do lugar, o que me assustava, pois riqueza de um lugar sempre fora crucial para o seu julgamento.

A comida estava cheirosa e farta, enchi meu prato e corri para comer. Meu estômago agradeceu quando experimentei os sabores deliciosos.

-Parece até que você nunca comeu antes – Melissa comentou enquanto me encarava. Ela estava sentada ao meu lado na grande mesa, só assim para eu ter conseguido ouví-la, já que todos conversavam alto – Não precisa exagerar na expressão, eu sei que isso não deve nem chegar perto da comida dos seus restaurantes cinco estrelas...

-Não, com certeza isso é bem melhor do que aquelas comidas – falei e logo em seguida engoli mais um pedaço de carne – Foi a sua mãe quem fez? Meu Deus, isso tá muito bom...

Melissa me encarou por uns segundos em silêncio, então começou a gargalhar.

-Kentin, você é muito estranho! – ela comeu mais um pouco antes de acrescentar – Todos fizeram um pouco de cada coisa. Mas é verdade que minha mãe assumiu o comando da cozinha – ela se vangloriou.

Revirei os olhos e prossegui com a comida. As conversas iam e vinham, de vários assuntos diferentes, fiquei surpreso quando vi que meu avô compartilhava algumas histórias com os homens e mulheres mais experientes da mesa. Ele parecia estar... Se divertindo?

Tudo corria muito bem, até mais do que pensei que fosse possível, mas então o assunto da mesa virou: “Como cada casal se conheceu”.

Era uma graça só, uns falavam em pontos de ônibus, outros de festas cheias de tequila e muita farra.

-Então, Kentin – um dos presentes à mesa me chamou, devia ser o tio de Melissa – Como foi que seus pais se conheceram?

Congelei. Melissa engoliu em seco ao meu lado e me encarou num pedido silencioso de desculpas. Ninguém, além de nós dois e Lucius, estava entendendo a situação.

-E-eu não sei... Eles morreram antes que eu perguntar isso – respondi baixo. As pessoas da mesa se entreolharam preocupados e com expressões de culpa, como se se envergonhassem e me pedissem desculpas silenciosamente.

-Kentin... – Melissa pôs a mão no meu ombro e me olhou tristemente. “Não preciso da sua pena”.

-Eu posso contar essa história para vocês – a voz de Lúcius quebrou o silêncio tenso, eu o encarei – Antes do Kentin nascer, eu e o meu filho Giles morávamos em outro Estado. Eu decidi mandá-lo para cá para que cuidasse da nossa companhia aqui. Ele foi o diretor geral – Lucius respirou fundo e encarou as mãos – A mãe do Kentin, Manon, era uma estagiária e logo se tornaria sua secretária.

Lucius pegou um guardanapo e limpou a testa, sua mão estava levemente trêmula.

-Meu filho... Sofria de depressão. Uma vez ele tentou... Se suicidar no escritório, mas a Manon conseguiu impedi-lo, foi assim que eles se conheceram – ele soltou o ar pesadamente – Anos depois eles tiveram o meu neto, mas depois de quatro anos depois de Kentin nascer a Manon teve uma grave pneumonia e faleceu – ele engoliu em seco antes de prosseguir – O Giles sempre foi um garoto que precisava de um apoio, e a Manon tinha esse papel. Ele não suportou a perda e... – ele passou o lenço nas bordas dos olhos, a mão estava mais trêmula. Lucius me encarou com os olhos marejados – Sinto muito, Ken.

Eu sentia os olhos sobre mim, mas isso não era o que me afetava. Aquela história jamais foi contada para mim antes, eu estava em choque, meu coração doía, meu corpo tremia. Eu queria chorar, mas não podia fazê-lo na frente daquelas pessoas. Não quero parecer fraco. Não quero pena!

-Com licença – Me levantei da mesa e fui para dentro da casa. Atravessei todos os cômodos até finalmente alcançar a porta de saída. Eu queria mais do que tudo ir embora.

-Espera! – Melissa puxou o meu braço antes que eu atravessasse a porta, eu puxei – Espera! – continuei puxando. Eu não iria olhar para ela, tinha que sair rápido dalí, não iria chorar na frente de Melissa. Não poderia – Por favor, Kentin, espera! – ela continuava tentando me impedir de avançar, mas eu era bem mais forte que a ruiva.

Então Melissa se pôs entre a porta e eu e puxou meu rosto, nossos olhos fixos uns nos outros.

-Olha pra mim e espera! – ela falou firmemente – Você precisa se acalmar.

-Me acalmar?! – puxei as suas mãos, soltando o meu rosto e a encarei com raiva – Sabe o que é pior do que saber que meu próprio avô negou a minha mãe de todas as formas e ainda não permitiu que meu pai usasse o dinheiro que tem de sobra para ajudar no tratamento da doença?! É acabar de saber que o meu pai era um suicida fraco que preferiu morrer pra se livrar da vida de merda que tinha a cuidar do próprio filho! – abaixei a cabeça, os soluços já não podiam ser mais controlados, as lágrimas já se tornavam rios no meu rosto – Ele me deixou com aquela droga de avô...

-Kentin... – a boca de Melissa era uma linha fina, ela me olhava com tristeza – As pessoas às vezes podem se tornar os piores tipos de monstros do mundo, mas em sua maioria elas nem entendem o que estão fazendo. Não sabem das consequências, nunca sentiram na pele, a dor e sofrimento, e é por isso que fazem o que fazem – ela colocou a mão nos meus ombros – Mas sabe o que eu vi naquela mesa? Um monstro absolutamente arrependido.

-Fingimento...

-Ou talvez não. – ela sorriu de leve – Você só vai saber se é verdade se quiser ver, mas só está afastando-o.

-Por que eu deveria? – perguntei amargamente.

-Porque família é uma coisa preciosa, ele só tem você e você só tem ele. Não desperdice o tempo que vocês têm com ódio e ressentimento... – Melissa abaixou os olhos e eu a observei atentamente.

-Como consegue? – perguntei baixinho. Ela olhou para mim – Tem sempre uma fala pronta, uma resposta. Sempre sabe o que dizer para mim.

-Eu só digo o que penso – ela respondeu dando de ombros.

-Você pensa um pouco demais – dei um peteleco com os dedos em sua cabeça, ela se inclinou de dor e fez uma careta. Então, inconscientemente meu corpo se inclinou e aproximei meu rosto. Meus lábios se aproximaram dos dela e se encontraram num selinho rápido.

Me afastei imediatamente depois de ter percebido o que tinha acabado de acontecer. Melissa estava tão vermelha quanto os cabelos, ela me olhava com os olhos esbugalhados e mantinha as mãos na boca. Assustada.

-O que você fez? – ela perguntou aturdida.

-Eu não sei... – franzi a testa. “Por que eu a beijei?” – Não faço a mínima ideia.

-V-você, amanhã, vai pagar vinte flexões extras por desrespeito ao professor! – ela apontava o dedo para o meu rosto.

-O quê?! Eu não...

-A-agora vai ser trinta! Se reclamar aumento para quarenta! – ela saiu em disparada para dentro da casa.

Ei coloquei as mãos nos bolsos da calça e sorri. Até que eu tinha gostado de ter beijado-a. E o que ela havia dito para mim... Talvez eu deva dar algum tipo de chance.

 

POV.Sophie

 

Depois de ter ameaçado de nunca mais ir para a escola com Castiel, ele finalmente optou por me levar na moto que era bem mais discreta que aquele Lamborghini.

Naquela manhã o alvoroço não foi tão grande – agradeci muito por isso – Mas vez ou outra ainda me deparava com pessoas encarando o braço de Castiel ao redor do meu pescoço.

-Eu vou falar com o Lysandre e com o Kentin, se quiser ir para a sala... – Castiel falou, balancei a cabeça em confirmação e segui para a minha sala de aula. O anel de ouro pesou no meu dedo, eu pedia aos céus constantemente para que ninguém reparasse naquela coisa brilhante no meu dedo. Mas acho que isso era impossível.

Me sentei silenciosamente na minha carteira e abri um dos meus romances preferidos: A trágica história de Diarmuid O'dyna e Graine, uma lenda pouco conhecida no ocidente, mas tão perfeita quando Romeu e Julieta na minha opinião.

Mas então senti uma aproximação, olhei de soslaio e percebi aquelas três garotas insuportáveis. Ambre, Charlotte e Li. Ambre parecia querer me esfolar viva. A loira se aproximou devagar do meu rosto e me encarou maliciosamente.

-Vai aproveitando seus dias de rainha, Sophie. O problema é que o Cast se cansa fácil das coisas, é só ele te levar para cama que isso tudo vai acabar. E para alguém fácil como você acho que não vai demorar muito – ela sorriu como uma cobra para mim.

-Ambre, você ainda guarda ressentimentos por eu ter te deixado em menos de uma semana? – A voz de Castiel assustou as garotas. Ambre o encarou atônita.

-Vamos lá, Cast – Ambre se agarrou nele – Esse garota não presta para nada... Você só vai ficar entediado com ela – a loira puxou o maxilar do ruivo e passou o dedo nos lábios dele. Castiel apenas observou quieto, sem demonstrar nenhuma reação – Eu posso te divertir muito mais.

Castiel soltou o ar e se desprendeu dela sem delicadeza nenhuma – Em menos de uma semana com você eu cheguei a pesquisar formas de morrer na internet de tão horrível que era tê-la tagarelando idiotices no meu ouvido – ele a encarou de soslaio e sorriu igual a uma naja. Ambre ficou perplexa – Não compare minha Sophie com garotas fúteis, por favor – ele balançou a mão como se pedisse a um cachorro para que fosse embora.

Ambre me fuzilou com os olhos e foi para a própria carteira, junto com as amigas. Eu sabia que isso não iria ficar barato para mim depois... Mas mesmo assim fiquei feliz no meu íntimo por Castiel ter feito o que fez.

Quando a aula começou, ele se sentou na carteira ao meu lado e me encarou de soslaio, sorrindo de canto.

 

Na hora do intervalo fomos até o clube de Dança contemporânea comer com os outros. Todos se encontravam lá, no entanto Kentin faziam flexões desesperadamente no fundo da sala, Melissa estava do lado dele com os braços cruzados e batendo os pés, como se o monitorasse. “Ele deve tê-la chamado de algum apelido bem forte...”, concluí no pensamento.

Nos sentamos em roda: Armin, Alexy, Rafaela, Lysandre, Kim, Castiel e eu, e, depois das flexões, Kentin e Melissa se juntaram.

-Meu clube se reuniu... Eles querem fazer uma peça diferente – Rafaela comentou enquanto esfregava a testa.

-Como assim diferente? – Armin perguntou enquanto jogava no tablete, seus olhos vidrados na tela.

-Diferente... Algo marcante, eu não sei. Ainda não decidimos muita coisa – ela suspirou fundo.

-Gente... Eu queria mudar de assunto rapidinho – Alexy interveio – Preciso da ajuda de vocês numa coisa muito importante.

Alexy começou contando a história sobre um orfanato e sobre as dificuldades e problemas que ele estava enfrentando. Ele falou das crianças de forma tão apaixonada que até fiquei emocionada, percebi que não era a única. Em segui ele falou sobre uma ideia que teve, mas que precisaria da ajudar de todos nós para ajudar.

-Uma pequena feira! – Alexy falou entusiasmado – Com música, apresentação de peças e dança com as crianças. E comida para ser vendida! O que vocês acham?

Ele nos encarou ansioso. Fiquei pensativa, eu queria ajudar de alguma forma. Mas antes de mim, Melissa elevou a voz.

-Eu posso ensaiar com as crianças! – ela olhou ao redor e fixou os olhos em mim – Quero duas ajudantes, você pode ser uma delas, Sophie?

-C-claro – respondi sorrindo. Melissa sorriu de volta e depois encarou Rafaela.

-Nem vem, Mel, você sabe muito bem que eu não consigo dançar – Rafaela ergueu as mãos em defesa – Posso ajudar com qualquer outra coisa se precisarem...

-Que tal uma peça? – Armin sugeriu.

-E você vai atuar? – Castiel perguntou sarcástico.

-Não, vou cuidar das músicas. Vão precisar de alguém cuidando disso – Armin respondeu e sorriu sarcástico – Mas você pode atuar.

-Imaginemos uma história onde o vilão é um tipo de demônio... – Lysandre sugeriu pensativo – Imagino que seria a sua cara, Castiel.

Todos começaram a rir.

-Certo... – Alexy falou sorridente – Obrigado mesmo, pessoal. Não precisamos decidir isso imediatamente, ainda quero falar com a Rosalya e a Violette. Mas de novo, muito obrigado...

 

POV.Rafaela

 

Já estava dando meia-noite, olhei para a brecha na porta e constatei que todas as luzes da casa estavam apagadas, indicando que minha mãe já havia ido dormir. Coloquei uma roupa simples e uma bolsa de lado e esperei a mensagem.

“Estou aqui”

Olhei pela janela e avistei o carro parado na frente da casa vizinha, com as luzes desligadas como eu havia pedido. “Estou parecendo aquelas garotas rebeldes de filmes” “Talvez eu realmente seja uma”, tentei afastar esses pensamentos e me concentrei em sair de casa sem ser percebida.

Abri a porta do meu quarto devagar e andei como se estivesse pisando em ovo, fui tão cuidadosa que até tirei os sapatos. Atravessei a sala rápido, peguei as chaves da porta e saí em disparada para fora da casa. Cheguei ofegante dentro do carro.

-Você está me transformando em uma pessoa muito ruim – falei entre uma respiração e outra.

-Por que não falou para a sua mãe? Não vamos fazer nada demais mesmo... – Lysandre perguntou enquanto dirigia.

-Você não tem noção do que está sugerindo – respondi e virei a cabeça para a janela – Ela não é do tipo que dialoga muito. Uma ordem é uma ordem.

-Entendi... Mas você vai voltar depois que o Sol nascer, e se ela te ver chegando em casa?

-Na volta vou comprar uns pães, aí digo para ela que foi por isso que saí – dei de ombros. Lysandre ergueu uma sobrancelha e sorriu.

-Você tem estratégias bem rebeldes – ele segurou um riso – Então, está afim de passar naquela lanchonete?

Balancei a cabeça em confirmação.

Demorou poucos minutos para chegarmos. Sentamos numa mesa próxima ao palco e pedimos sanduíches e batatas fritas com refrigerante para comermos enquanto assistíamos ao karaokê. Havia alguns corajosos que subiam ao palco e arrasavam, já outros eram aplaudidos apenas pela coragem mesmo. No fim tudo era divertido.

-Vamos agora? – Lysandre perguntou quando o palco esvaziou. Eu o encarei.

-A não... Lys, naquele dia foi apenas... Naquele dia.

-Pode ser apenas hoje também – ele se levantou da cadeira, estendeu a mão para mim e esbanjou um sorriso branco para mim – Vamos, dessa vez vou também.

-Você quer cantar? – perguntei incrédula.

-Esqueceu que eu fazia parte de uma banda? – ele revirou os olhos e sorriu – Quem você acha que era o vocalista?

Engoli em seco e aceitei a mão. “Você já fez isso antes. Semana passada. Tudo deu muito certo. Relaxa”, fiquei repetindo isso para mim mesma enquanto caminhávamos até o palco. As pessoas nos aplaudiram quando nos posicionamos na frente dos microfones. Escolhemos a música Flaws & Ceilings pois era um dueto.

Então a música começou a tocar. Os primeiros segundos só com melodia, até que Lysandre soltou a voz calculadamente no tempo certo e com o ritmo perfeito. A voz dele era muito bonita e penetrava nos ouvidos de um jeito leve e ao mesmo tempo avassalador. Então chegou a minha vez, soltei a minha voz como pude, no tempo e com ritmo certo.

Quando chegou a hora de nossas vozes se juntarem foi como se completassem, o tom e a melodia... Fiquei surpresa com o resultado.

A música acabou e todos da lanchonete aplaudiram, senti meu rosto corar. Olhei para Lysandre e ele olhava para mim – Viu? Nossas vozes deram certo.

-Parece que sim... – desviei o olhar – Vamos, temos que chegar antes do nascer do Sol.

Entramos no carro.

-O que você anda escutando? – dei uma de intrometida e vasculhei as músicas no painel do aparelho de som do automóvel. Parei numa pasta – Florence? Você gosta do estilo Indie?

-Bastante, a Florence é a melhor para mim – ele falava enquanto dirigia.

-Então você não vai se importar se eu colocar Shake it Out no volume máximo, não é? – sorri maliciosamente para ele.

-Nem um pouco – ele sorriu de canto para mim.

Passamos o caminho todo cantando Florence o mais alto que conseguíamos. No fim nossas cordas vocais estavam acabadas.

-Acho que vou ficar muda... – falei quando saímos do carro. Lysandre apenas concordou com a cabeça, imagino se ele não está nem conseguindo falar.

Lysandre preparou a tela e seus instrumentos de pintura. Em nenhum momento ele me deixou olhar.

-Se quiser dormir, poderia ficar naquele banco como ficou semana passada? – ele perguntou baixinho.

-Você por acaso me desenhou dormindo? – perguntei, mas não esperava que fosse realmente verdade. Lys sorriu maliciosamente.

-Mais ou menos.

Eu peguei um cobertor que o platinado havia trago no carro, me enrolei nele e sentei no banco indicado. Ele tinha vista para a cidade iluminada e para um amplo céu estrelado. Era uma vista incrível, mas eu sabia que aquilo nem se comparava ao que viria quando rompesse aurora. Eu gostaria de ter conseguido ver o espetáculo natural, mas o sono falou mais forte e eu fechei meus olhos profundamente.

 

POV.Lysandre

 

O Sol apareceu no horizonte e novamente fomos agraciados com o show de cores, a luz do enorme astro disputava lugar com as pequenas estrelas restantes no céu, tentei conseguir captar tudo ao máximo, cada traço, sombra e cor e os coloquei na tela rapidamente.

Então parei.

Se eu continuasse naquele ritmo terminaria a tela naquela mesma manhã, então não teria mais motivos de Rafaela vir comigo. Deixei o pincel de lado e peguei meu novo bloco de notas. Andei até o banco em que ela dormia profundamente e comecei a rabiscar os traços.

Tentei captar tudo em outro ângulo, o formato do rosto, os olhos serenos, os lábios rosados... Seus cachos loiros refletiam o Sol e pareciam ouro. Logo passei para o pescoço, as mechas de cabelo caindo em cascatas sobre o busto. O busto... Senti meu rosto esquentar. “Para com isso!”, fechei o bloco de notas e o guardei no bolso da calça, depois me aproximei mais da garota adormecida.

Eu queria sentir os cachos, então ergui a mão, hesitante, e peguei uma mecha loira. Depois minha mão passou para o rosto da forma mais sutil que consegui.

Então o mar se abriu e me puxou para dentro. Ela me encarou surpresa e sem compreensão. Já eu só tinha olhos para aquele mar e para aquela boca. Seria tão macia quanto parecia ser?

Eu aproximei o rosto e comecei uma série de beijos rápidos e sutis. Primeiro na bochecha, depois parti para o canto dos lábios e no fim eu me encontrava em sua boca, aventurando-me de forma cautelosa, como um animal recém-chegado ao zoológico, ele sabe que ficará preso para sempre, então explorar sempre será algo necessário.

Me afastei a contragosto e baixei o olhar.

-Esse é o momento em que você usa aquele seu spray – falei num sussurro.

Ela permaneceu calada, apenas me encarando, me decifrando com os olhos. Talvez aqueles olhos decidam me afogar imediatamente. Esperei mais alguns segundos, dando chances a ela de revidar, de me empurrar, de brigar comigo ou de usar o spray, eu queria isso já que havia acabado de invadir o espaço dela e me sentia mal por isso. Talvez agora ela pense que sou algum tipo de assediador.

-V-você terminou a tela? – ela perguntou baixinho.

-Não... Ainda falta algumas coisas – respondi surpreso. Rafaela desviou o olhar para o horizonte.

-Então acho que vamos ter que vir para este lugar novamente... – ela falou sorrindo discretamente.

-É, parece que sim.

-A que horas você vai me pegar para irmos à festa hoje à noite? – Rafaela perguntou.

Eu sorri.

 

POV.Sophie

 

Depois de ter estudado algumas matérias da escola, decidi começar a me arrumar. Preparei a banheira e afundei na água quente, e, enquanto limpava cada parte do meu corpo, pensei no que faria no meu cabelo. “Ele cresceu bastante desde quando o cortei pela última vez, mas ainda não é grande o suficiente para uma trança bonita ou um coque bem feito”, suspirei, talvez só o deixaria solto. Encarei as unhas das mãos e dos pés, decadentes... E o vestido?! Abracei os joelhos em desespero. “Vai dar tudo certo, Sophie...”.

Saí da banheira, enxuguei o corpo e tirei o excesso de água do cabelo. Escovei os dentes e saí para o quarto enrolada no roupão. Quase gritei de susto quando me deparei com quatro mulheres, todas vestidas num uniforme rosa e segurando ferramentas de cabelo e unhas. Elas sorriram para mim e me obrigaram a sentar numa cadeira que não estava no meu quarto antes de eu ir banhar.

-Quem são vocês? – perguntei atônita.

-Vamos deixar você linda para esta noite, minha jovem – a mais velha falou – Cada uma de nós tem um papel.

-Mas quem contratou vocês... Minha nossa! – pus as mãos no rosto – Me desculpem, mas não vou aceitar isso.

-Vai sim! – Kim entrou no quarto – E vai ficar bem relaxada enquanto elas fazem o trabalho delas. A propósito, acabei de trazer o vestido! – Kim foi até o closet e trouxe um vestido. O vestido, aquele vermelho que ela havia escolhido no shopping enquanto me fazia de modelo.

-Ei! Isso é para você! – choraminguei.

-Amiga, não gosto de vestidos. E não é meu, quem comprou isso foi o Cast – ela sorriu maliciosamente para mim – E você vai usar.

-Me obrigue – desafiei e me joguei na cama – Por favor saiam, eu mesma vou me arrumar, obrigada!

-Sophie... – Kim se sentou ao meu lado na cama – Você tem um orgulho a zelar, eu entendo e acho que Castiel não quer abalar isso. Ele apenas quer que você se sinta bem... Olha, eu nunca vi aquele cara cuidar tanto de uma garota antes.

-Então eu tenho que aceitar tudo que ele me dá? – perguntei, a voz abafada pelo travesseiro.

-E se eu te dissesse que a mãe dele vai estar nessa festa, você aceitaria tudo isso?

Congelei. A mãe de quem?! De repente fiquei extremamente nervosa. Ergui minha cabeça e encarei Kim.

-Você está falando sério?! – minha voz era puro horror. “Eu vou me encontrar com uma mulher da máfia. Socorro”. Kim franziu a testa e balançou a cabeça em confirmação. Coloquei as mãos no rosto – Ai meu Senhor...

-Vem logo garota! – Kim me puxou e me sentou na cadeira. Permiti que as mulheres me transformassem, uma no meu cabelo, outra nas mãos, outra nos pés e outra na maquiagem.

Quando terminaram, Kim trouxe o vestido e eu fui me vestir no closet. A renda vermelha cobria os pontos estratégicos, as costas completamente nuas me deixavam incomodada, a saia rubra no modelo princesa ocupava boa parte do cômodo estreito. Calcei o salto scarpin preto e fui para o quarto. As quatro mulheres abriram as bocas surpresas, Kim sorriu em aprovação.

-Vamos, So, acho que aquele imbecil vai ter um orgasmo – ela falou enquanto ia em direção à porta. Eu corei.

-Kim! – eu a censurei, constrangida, mas ela apenas achou graça.

Descer as escadas naquele salto foi o problema da minha vida, o vestido rodado não ajudava de forma alguma, tive que me apoiar no ombro de Kim. Foi quando reparei que ela usava um blazer formal e vermelho com um decote generoso. Se eu fosse lésbica acho que me apaixonaria.

Olhei para a sala enquanto descia os degraus, Tom dava os últimos ajustes no smoking de Castiel, era preto com detalhes em renda, a gravata na mais pura seda, os cabelos vermelhos estavam presos no rabo de cavalo bem discreto. Então seus olhos se focaram em mim, as órbitas cinzas viraram uma supernova. Ele começou a se aproximar quando eu já chegava ao pé da escada.

-Agora estou com uma pontada de ciúmes – Castiel falou sorrindo de canto.

-P-por que? – perguntei.

-Porque todos os caras daquela festa vão se apaixonar por você. Está linda demais.

-Quero meu nome nos créditos – Kim interveio – O vestido foi escolha minha – ela se vangloriou. Castiel revirou os olhos.

-Obrigado, Kim, foi uma escolha excelente – Castiel falou sinceramente. Depois ele inclinou o braço para mim – Vamos?

Enlacei meu braço no dele e balancei a cabeça com se dizendo sim. Kim foi na frente no próprio carro, percebi que, além do de Castiel e o de Kim, havia mais outros dois automóveis, cada um sendo ocupado por homens de terno. Alguns nos aguardavam fora dos carros.

Apenas eu e Castiel entramos no lamborghini, o que achei reconfortante já que aqueles homens me davam medo. Se bem que ficar sozinha com Castiel num carro não é muito seguro.

                Chegamos ao local da festa, estava lotado de gente e de automóveis. A música e as luzes dos lustres dentro do salão atravessavam as janelas. Observei as pessoas, várias tinham guardas costas, praticamente todos usavam roupas dignas de tapete vermelho.

                -É verdade que a sua mãe está aqui? – perguntei quando estacionamos. Castiel me encarou sem ação – A Kim me falou para me convencer a usar este vestido.

                O ruivo achou graça – Entendi... Sim, ela está aqui – ele ganhou uma expressão séria – Se ela começar a conversar com você seja cautelosa e não fale muito da sua vida, certo? É só por precaução...

                Engoli em seco. Que tipo de mulher é a mãe de Castiel?

                -Certo – respondi hesitante.

                Os homens de preto abriram nossas portas. Castiel foi até mim e me ofereceu o braço, eu o aceitei.

Entramos no grande salão de festa – o lugar era dourado e bege, tinha detalhes na madeira dos cantos das paredes e nos pilares espalhados por todo lado, garçons andavam de um lado para outro servindo todo tipo de comida e bebida, mais ao fundo um grupo de músicos tocavam uma melodia de valsa – Tentei achar alguém conhecido no meio da multidão, mas era muita gente.

Foi Castiel quem os avistou primeiro.

Enquanto avançávamos, o ruivo ora ou outra parava para cumprimentar um conhecido, e ele tinha muitos. Me perguntei se mais alguém neste salão fazia parte da “organização” de Castiel...

-Sophie! Castiel! Vocês estão muito perfeitos! – Rosalya se aproximou com a animação de sempre.

-Rosa, você está muito linda! – encarei o vestido dourado, ela havia feito uma trança nos longos cabelos platinados que caía sobre o busto. Ela corou e agradeceu o elogio – Onde estão os outros?

-Estão numa mesa por aqui – ela nos guiou até eles. Armin  e Alexy estavam sentados e no meio deles Violette se encontrava comendo um salgadinho. Ela deu um sorriso quando me viu e veio me abraçar.

Seu vestido era lilás com detalhes brancos e brilhantes, super a cara da garota. Ela ficou mais fofa do que já era. Acenei para os garotos e recebi elogios. Nunca pensei que conseguiria corar mais de quatro vezes por dia.

-Lys! – Rasalya correu para abraçar o recém-chegado, ao seu lado estava Rafaela, vestida num delicado vestido branco com rendas discretas e brilhantes nos pontos certos de forma a ressaltar o brilho azul dos olhos e o ouro dos cabelos. Reparei também que os dois estavam de mãos dadas! Rosa percebeu isso, ela ergueu uma sobrancelha e sorriu maliciosamente – Perdi alguma coisa...?

Rafaela corou – N-não é nada! Apenas... Aff!

Lysandre estava se divertindo com a situação.

Por fim o par mais complicado chegou. Eles não estavam de mãos dadas, mas seus corpos estavam próximos o bastante para entender que estavam juntos. Os cachos de Melissa se encontravam mais volumosos e presos no alto da cabeça de forma que as mechas ruivas caíssem pelas costas em círculos. Ela vestia um vestido no modelo princesa na cor azul celeste com renda da mesma cor. Percebi que Kentin não conseguia tirar os olhos dela.

-Parece que estamos todos aqui! – Rosalya concluiu sorridente depois de encarar nossa mesa.

-Vocês vieram! – Leigh surgiu da multidão, ele estava tão elegante quanto os garotos da nossa mesa. Leigh apertou as mãos dos rapazes e cumprimentou as garotas.

-Você chegou... – Rosalya falou. Leigh a encarou por longos segundos e sorriu.

-Rosa você está... – ele limpou a garganta – Muito bonita – Rosalya corou de leve. Leigh arrumou a gravata e se virou para nós – Com licença, eu devo cumprimentar os outros convidados, mas daqui a pouco eu volto. Espero que gostem da festa tanto quanto eu estou gostando – ele encarou Rosa de soslaio e fez uma discreta mensura para ela antes de sumir no salão.

Os garçons chegaram com bebidas e comida. Comi um pouco e escolhi tomar um Martini, quando peguei a taça com a bebida, Castiel olhou para mim e sorriu de canto.

-Não vai exagerar como naquele dia. Você voltou igual a uma defunta para casa – ele lembrou e nós dois sorrimos.

-Então foi sua mãe que arrumou tudo isso, Rosa? – Lysandre perguntou.

-Foi sim – Rosalya respondeu orgulhosa – Eu quero todos vocês no centro do salão daqui a pouco para dançarem!

Todos nos entreolhamos, Rafaela parecia aflita, Kentin obviamente não gostou da ideia e Castiel não tirava os olhos de mim.

-Vamos? – Lysandre chamou Rafaela, a garota ficou branca que nem papel.

-E-eu não sei dançar, é sério – ela falou.

-Eu aguento umas duas ou três pisadas no pé sem reclamar, juro – Lysandre retrucou segurando um riso – Vem comigo, deixa que eu te guio...

Rafaela engoliu em seco e se levantou hesitante. Eles seguraram a mão um do outro até o centro do salão que estava lotado de casais dançando a valsa.

-É a minha vez de te chamar para dançar – Castiel sussurrou no meu ouvido, o hálito quente fez todos os pelos do meu corpo se arrepiarem. Ele pegou na minha mão e sorriu para mim, os cinzentos olhos me devorando novamente.

-E-eu não prometo que não vou pisar no seu pé – falei baixinho e mordi o lábio inferior. Castiel sorriu.

-Nada do que vier de você vai conseguir me surpreender mais – ele desafiou. Eu sorri e ergui uma sobrancelha.

-Não duvide disso – falei. Nos levantamos e seguimos para o salão.

 

POV.Violette

 

Comer a comida que nos era oferecida pelos garçons foi a solução que achei para conseguir me distrair por estar bem ao lado de Armin. Ele também perecia estar um tanto incomodado e desde que cheguei ele não olhou para mim. Isso me deixou um pouco triste...

Suspirei fundo e deixei a comida de lado, já estava mais do que cheia. Engoli um pouco de vinho – o calor da bebida me relaxou um pouco – e afundei na cadeira.

Eu nunca dei a resposta para Armin, na verdade nem sabia o que dizer. Aquele beijo me deixou completamente desequilibrada, eu já não mais sabia o que sentia pelo garoto. A pouco tempo atrás eu só o via como um amigo muito importante. Agora não consigo mais vê-lo dessa forma.

No entanto não faço a mínima ideia do que fazer em seguida.

-Eu preciso procurar um banheiro – menti para sair da mesa. As paredes laterais do salão eram cheias de janelas e portas gigantes de vidro, atravessei uma das portas para chegar ao jardim. A grama verde e cuidadosamente aparada e as árvores recheadas de flores coloridas se uniam às luzes espalhadas pelo lugar, dando um ar de luau ao local. Flagrei alguns casais aos beijos, desviei de todos eles até achar um banco de frente para um chafariz pequeno com uma estatua de peixe que espirrava água.

-Eu acho que o banheiro não é por aqui – a voz de Alexy quase me fez pular de susto.

-Alexy?! – o garoto se sentou ao meu lado no banco e sorriu.

-Então...? Não vai contar para mim o que está te incomodando? – o garoto de cabelos azuis perguntou.

Encarei o chafariz e suspirei fundo, realmente não tinha como esconder nada do que acontecia comigo para aqueles gêmeos – Eu não sei o que fazer, o Armin... Ele...

-Te beijou, ele me contou – congelei. Alexy tomou um ar sério – Vio, você nunca me contou sobre o que sentia por mim, não é?

Eu não tinha mais voz – E-eu... – meu rosto ficou completamente vermelho – Me desculpe.

-Por que está se desculpando? – Alexy sorriu – Sabe Vio, uma vez eu tentei ser quem não sou... Imaginei se eu conseguiria ser “normal”, então tentei me apaixonar por você. Eu quem deveria pedir desculpas.

-Alexy, v-você é normal! Não importa o que os outros digam, e sim se você está feliz sendo quem é de verdade! – falei firmemente enquanto encarava seus olhos com convicção. Então um choque de vergonha, senti meu rosto queimar e desviei o olhar – E-eu só quero que você saiba que sempre vai poder contar comigo...

De repente Alexy me abraçou forte e carinhosamente – Muito obrigado, Violette, de verdade – eu o abracei de volta e ficamos daquele jeito por longos segundos, até que ele se soltou – Então, o que você sente pelo Armin?

-E-eu não sei... – desviei o olhar – Foi tão de repente...

-Sabia que ele está absolutamente arrependido por ter feito o que fez? – ele afastou uma mecha do meu cabelo e beijou minha testa – Às vezes começamos a amar as pessoas sem saber. Quem sabe isso não pode acabar acontecendo com você?

Alexy se levantou e arrumou o smoking – Vou voltar para a mesa, você vem? – Balancei a cabeça em confirmação e o acompanhei.

Quando voltamos, me sentei no mesmo lugar ao lado de Armin, ele parecia estar concentrado num escondido de carne ao mesmo tempo em que jogava no celular. “Sempre um jogo à mão, não é?”, pensar nisso me trouxe boas recordações.

Além de nós três, a mesa ainda estava sendo ocupada por Melissa e Kentin, os dois pareciam discutir.

-Eu já disse que não vou dançar! – Kentin cruzou os braços e bufou.

-Vai sim! – Melissa começou a puxá-lo – Senão eu vou gritar aquilo que eu sei.

-Você não chegou a esse ponto de loucura...

-A não? – ela desafiou – Observe – Melissa ergueu a voz – Kentin faz parte da Ma... – Kentin se lançou em cima dela e tampou sua boca com a mão.

-Está bem! Agora cala a boca sua maluca! – ele olhou em volta tenso. O que seria esse segredo? A ruiva e o moreno se levantaram e seguiram para o centro do salão, Kentin mantinha a cara amarrada, Melissa estava se divertindo. Eles começaram a dançar e eu fiquei observando-os, até a voz de Armin ecoar nos meus ouvidos.

                -Me desculpe, Vio... – ele falou baixinho, seus olhos encaravam o chão e suas mãos estavam em punho – Eu não deveria ter feito aquilo... Será que podemos voltar a ser amigos?

                -N-não precisa se desculpar, eu... Só preciso que você tenha um pouco de paciência – meu rosto esquentou quando ele me encarou atônito – Preciso entender o que sinto por você...

                -Entendi... – Armin sorriu discretamente.

 

                POV.Sophie

 

                -Até que você dança bem – Castiel comentou. Eu revirei os olhos.

                -Sem sarcasmo, Castiel, eu já pisei no seu pé duas vezes – falei.

                A música agora era “Still loving you” dos Scorpions, sorri ao reconhecê-la.

                -Finalmente algo que eu possa chamar de música de verdade – Castiel falou. Ele agarrou minha cintura mais firmemente e começamos a dançar no ritmo da melodia. A canção era mais sensual do que as outras, então nossos passos ficaram mais lentos e a mão dele começou a explorar cada centímetro das minhas costas e dos meus braços. Ele me girou e depois me agarrou novamente. Meu busto ficou prensado no tórax forte de Castiel, minha mão no seu peitoral. Aqueles olhos em incêndio encarando minhas órbitas negras, aquele sorriso maroto chamando a minha boca.

                -Eu gostaria de beijá-la bem lentamente nesse exato instante – a voz do ruivo estava rouca. Ele começou a se aproximar devagar, já sentia o calor do seu rosto, sua respiração sobre a minha pele... Então ele parou. Seus olhos estavam distantes e sua boca era uma linha fina, ele firmou o maxilar e franziu a testa. Parecia preocupado – Sophie, eu preciso resolver uma coisa. Já volto, não vou demorar muito – ele deu um rápido beijo na minha testa e sumiu na multidão do outro lado do enorme salão. Tentei acompanha-lo para saber o teria o deixado daquele jeito, ele atravessou as pessoas e subiu no pódio onde supostamente ficavam apenas os convidados VIP, aqueles sócios da empresa dos pais do Lysandre. Avistei Leigh sentado numa mesa lotada lá em cima, Castiel se dirigiu a ela, cumprimentou a todos e começou a conversar com uma mulher de meia idade. Ela estava elegante, os cabelos tingidos em um vermelho sutil estavam presos num coque complicado. Percebi que Castiel se parecia com ela. “Será que é a mãe dele?”.

                De soslaio reparei que um homem, com mais ou menos a idade de Castiel, me encarava descaradamente enquanto tomava vinho ao lado de duas garotas, uma delas estava agarrada a ele e tinha os cabelos castanhos escuros num penteado complicado e os olhos azuis, a outra parecia que queria ir embora, ela tinha os cabelos da cor de sangue, num tom bem mais reluzente que o do cabelo de Castiel, com olhos da cor turquesa. Era muito bonita.

                O homem se separou da garota que o estava agarrando e começou a andar na minha direção. Os cabelos loiros eram quase tão longos quanto os de Castiel, os olhos dourados estavam fixos em mim. Recuei institivamente.

                -Pelo que vi você é a acompanhante do meu amigo Castiel – ele falou quando se aproximou de mim. Amigo? Ele estendeu a mão para mim – Meu nome é Nathaniel Bertrand, prazer conhecê-la, senhorita...

                -Sophie. Apenas Sophie – apertei a sua mão de forma hesitante, mas para minha surpresa ele a puxou e deu um sutil beijo nas costas da mão e sorriu para mim.

                -Minha cara, devo dizer que Castiel é um homem de sorte por ter uma beldade como você como acompanhante – ele soltou a minha mão.

                -O senhor também parece estar muito bem acompanhado – olhei para as garotas que a pouco estavam ao lado dele. A garota de cabelos castanhos escuros e olhos azuis me fuzilava com os olhos.

                -Isso é verdade – ele concluiu ao observá-las. Tive a impressão que Nathaniel encarava principalmente a garota de cabelos vermelhos. Por fim, ele se virou para mim e sorriu – Me concederia uma dança?

                -M-mas você tem suas próprias acompanhantes... E o Castiel...

                -Minha cara Sophie, é apenas uma simples e pura dança. Quero me tornar amigo da amiga de Castiel – ele sorriu e estendeu o braço – Por favor...

                Engoli o ar e aceitei. Nathaniel manteve uma distancia respeitável entre nossos corpos, o que agradeci, ele dançava sem pressa e isso me ajudava a não pisar no pé dele ou errar um passo.

                -Por que não chamou as garotas que estavam com você para dançar? – perguntei curiosa.

                Ele achou graça – Porque uma não passa disso: acompanhante, uma fachada. Ela não é exatamente a melhor companhia de todas, e eu atravessei o Atlântico para me divertir nesta festa – imaginei se ele estava se referindo a garota que o agarrava.

                -Então você não é deste país... – concluí. Eu já pude perceber com o leve sotaque que ele carregava.

                -Sou de vários lugares – ele explicou enquanto me girava.

                -Mas ainda havia outra garota, a de cabelos vermelhos...

                Ele me encarou e franziu a testa – Como pode saber se eu não estava me referindo à ruiva?

                -Apenas presumi – sorri de canto – Então, não vai me responder?

                Ele ficou tenso por um instante, os olhos nublados, a expressão levemente sombria. Mas tudo isso sumiu com um sorriso charmoso – Ela não passa de algo que preciso vigiar.

                -Então é sua prisioneira? – ai que merda, perguntei demais.

                -Pode se dizer que sim – ele sorriu como uma cobra. Reprimi um tremor.

                -O-o que ela fez para você?

                Antes de responder, ele me girou – Digamos que uma pessoa próxima a ela fez algo muito ruim. Agora ela está pagando por esta pessoa – reprimi outro tremor.

                -Mas se ela não fez nada então por que não pune a outra pessoa?

                O sorriso dele se desfez por completo, seus olhos dourados não mais reluziam como ouro, ele estava bem sério. Por uma fração de segundo captei tristeza em seu olhar.

                -Porque a pessoa está morta – ele respondeu.

                Engoli em seco. Eu com certeza estou falando com uma pessoa perigosa. Encarei o símbolo do broche no seu blazer, era um castelo. De certa forma associei aquilo à águia quer Castiel usava.

                -Eu gostaria que você tirasse as mãos dela – Castiel segurou o ombro de Nathaniel. Eles começaram a se encarar como se brigassem silenciosamente.

                Por fim o loiro se afastou de mim – Foi apenas uma dança, Cassy, eu não tinha intenções de roubar a sua acompanhante... Perdão... – ele encarou o anel no meu dedo e ergueu as sobrancelhas – Sua mulher, acredito eu. Eu apenas gostaria de conhecer a garota que encantou meu amigo de longa data.

                Castiel pressionou o maxilar – Acredito que você já a conheceu mais do que o suficiente – o ruivo sorriu como uma serpente para o loiro.

                -Ora Cassy... É assim que você trata seus amigos de infância? – Nathaniel pareceu triste – Onde estão Lys e Ken?

                -Estão por aqui, basta procura-los. Vamos Sophie – Castiel colocou o braço ao redor da minha cintura e começou a andar.

                -Espera, Castiel – a voz de Nathaniel estava séria – Então os boatos são verdadeiros. Você realmente decidiu fazer aquilo?

                Castiel se soltou de mim, ele avançou para cima do loiro, emanando fúria.

                -Nunca mais abra a boca para falar desse assunto, as consequências serão altas se o fizer – Castiel ameaçou. Nathaniel sorriu maliciosamente.

                -Também fiquei sabendo dessas consequências... Eu só queria ter a certeza, por isso aproveitei esta festa para vir – Nathaniel olhou para mim – Imagino que ela já saiba de muita coisa... Isso é muito perigoso.

                -Não preciso de você me avisando isso – Castiel pressionou os punhos nas laterais do corpo.

                -Acredito que seja verdade – Nathaniel achou graça – De qualquer forma cuide muito bem dela... – o loiro tomou a minha mão e deu um lento beijo nela, depois me encarou malicioso – Essa garota é extremamente perspicaz – ele se afastou, deu um leve tapa no ombro de Castiel e acrescentou antes de ir embora – Quem sabe não nos veremos em breve?

                Castiel bufou.

                -Então ele também faz parte... – falei.

                -Sim, e é um dos mais perigosos – Castiel respondeu, seus olhos estavam distantes de mim – Eu não deveria ter vindo como seu acompanhante... Isso foi perigoso demais.

                -Por causa dele?

                -Não, por incrível que possa parecer, eu confio no Nathaniel, o problema são todos os outros...

                -Tem tantos assim aqui? – perguntei assustada. Eles aparecem de forma tão descarada e em tanta quantidade assim? Não é atoa que uma vez li que as máfias chegavam a mandar até na política.

                -Sophie, muitos desses grandes empresários cresceram às custas de dinheiro sujo, é muita coisa envolvida, tanto na área do crime quanto da política. É por isso que existem tantos mafiosos donos de multinacionais, e é por isso que tantos estão aqui – ele olhou para mim, algo no seu olhar indicava que ele temia por algo – Você deveria me odiar por ter te envolvido nisso.

                -Eu não consigo te odiar... – desviei o olhar e sussurrei – O que sinto por você é o oposto do ódio...

                -Sophie... – a mão dele começou a massagear minha bochecha. Eu não sabia dizer se ele estava sorrindo ou se estava com raiva pois meus olhos não conseguiam encará-lo.

                Então a música parou. Os garçons se apressaram para organizar as mesas e para deixa-las limpas, no pódio dos VIPs ouve uma agitação. Haveria um pronunciamento.

               

                POV.Rosalya

               

                Leigh estava me ignorando de propósito e a todo custo.

                Tentei o meu máximo para não me sentir afetada por aquilo, sentei-me na mesa onde meus pais e os pais de Leigh e ele se encontravam, pois minha mãe havia me chamado, e participei da conversa com os demais sócios da empresa. Mas ora ou outra eu tentava conversar com Leigh de forma amigável, mas ele sempre recuava ou falava alguma coisa que cortava a conversa.

                Era como se ele estivesse com medo de falar comigo.

                Fiquei irritada com aquela atitude, o suficiente para puxá-lo para fora do pódio.

                -Será que dá pra parar com isso? – cruzei os braços e o encarei – O que custa conversar comigo? Qual é o problema?

                -Rosa... Você não deveria ter me tirado de lá – ele olhava para tudo menos para mim.

                -Me responde, por favor, o que aconteceu? Por que está agindo assim comigo? – abaixei o tom de voz. Ele finalmente olhou para mim, seus olhos estavam tristes e sua boca era uma linha fina.

                -Eu não consigo fazer isso... – ele suspirou fundo e se virou para voltar. Eu agarrei o seu braço impedindo-o de prosseguir.

                -Então vai ser assim? Nunca mais vai falar comigo direito?

                -Eu duvido que você queira... – ele sussurrou e se soltou da minha mão. Eu observei voltar para a mesa, me apoiei num dos pilares decorativos do salão enquanto olhava Leigh cumprimentar as pessoas da mesa do lado, ele sorria e parecia feliz, mas os anos de convivência com ele me permitiam saber quando o garoto estava fingindo e quando estava sendo verdadeiro. Obviamente ele estava fingindo.

                Engoli em seco quando ele cumprimentou uma garota que devia ter a sua idade, ela tinha os cabelos castanhos ondulados e era muito bonita. Eles começaram a conversar como se já o tivessem feito várias vezes antes, pareciam velhos amigos. A garota encarava Leigh profundamente, claramente apaixonada. E eu sabia disso porque eu tinha aquele olhar.

                Então a música parou. Os casais pararam de dançar e todos do salão se viraram para o palco. Vários aplausos ecoaram quando minha mãe subiu e ficou de frente do microfone.

                -Eu, Crystal Campbell, sócia e gerente de grande empresa Adamant, gostaria de agradecer a presença de todos nesta grande noite – Mais aplausos. Eu admiro minha mãe, ela sabe chamar a atenção, tanto com seus discursos fortes quanto no seu visual, e nesta noite ela não estava menos do que deslumbrante no vestido sereia azul escuro. Minha mãe prosseguiu depois que os aplausos cessaram – Obrigada. Nesta noite reunimos nossas famílias para um grande encontro de paz, amizade e, é claro, negócios – ela sorriu e logo foi acompanhada pela plateia – Quero chamar atenção também para um dos nossos grandes convidados, Meredith Raven, representante da famosa revista francesa de moda. A revista ELLE!

                Dezenas de aplausos, uma alta e linda mulher negra com cabelos trançados elegantemente no alto da cabeça se levantou e foi saudada.

                Minha mãe prosseguiu – Antes de começarmos o jantar da noite, vou chamar ao palco os verdadeiros senhores desta festa, senhor e senhora Adamanto, por favor.

                Aplausos. Minha mãe abraçou os pais de Leigh e Lysandre e depois entregou o microfone a eles.

                -Obrigada, Crystal, minha sócia e amiga de longa data – a senhora Josiane Adamanto pegou o microfone – Isso já foi dito, mas vou novamente agradecer a presença de todos, pois esta noite foi e será uma noite que decidirá muitas histórias – imaginei se ela estava se referindo aos empresários fechando negócios pelo salão – Meu papel aqui, de estar de frente para vocês, é anunciar que a Adamanto e a nossa recém-chegada à indústria da moda, a empresa Althea, irão se unir – os aplausos foram mais fortes, várias pessoas se puseram de pé para saudar a notícia. Josiane teve que interromper para conseguir terminar de falar – Mas a união será muito mais do que no papel. Nossas famílias se juntarão numa só e prosseguiremos fortes como um. Meu primogênito Leigh Adamanto e a jovem Carlota Althea, futura sucessora, selarão matrimônio. Vamos aplaudir os noivos!

                Foi como receber um soco no meio do estômago. Me sentei na cadeira mais próxima e encarei o palco atônita.

                Leigh subiu ao lado de Carlota, ao chegarem ao centro, Leigh puxou uma caixinha preta e abriu para a garota. Ela sorriu ao ver o conteúdo, um anel de diamante que brilhava mais que as estrelas. Leigh colocou o anel no dedo da garota e ela mostrou ao público. Praticamente todos no salão se levantaram e aplaudiram avidamente. Eu queria sair daquele lugar.

                Leigh encarou a multidão com um meio sorriso, seus olhos vagaram até se fixarem nos meus. Ele ergueu as sobrancelhas e um assombro tomou conta da sua expressão. Eu me levantei devagar da cadeira e saí pra fora do salão. Queria distância de todos, queria chorar sozinha.

                Agradeci por o jardim estar vazio. Corri desesperadamente até não haver mais jardim e me sentei num banco ao lado de uma árvore com folhas amarelas. E chorei. Lágrimas formaram oceanos no meu rosto, cheguei a soluçar, mas consegui me controlar.

                -Rosa... – a voz dele. Ele!

                -Vá embora – pedi num sussurro – Me deixe sozinha.

                -Eu... Sinto muito... – ele falou baixinho.

                -Sente muito? – zombei. Me levantei do banco num salto e o encarei, não ligava mais se estava chorando – O que você acha que eu sou, Leigh?! Uma criancinha que perdeu a boneca? Eu não preciso dessas suas desculpas. Uma criança não teria suportado tudo até agora, uma criança não vai engolir essas lágrimas e voltar para aquele maldito salão com um sorriso no rosto! Uma garotinha se apaixonaria pelo príncipe perfeito, e não por um idiota como você!

                -Rosa, me escute... – ele segurou o meu pulso. Eu comecei a puxá-lo para que me soltasse, mas Leigh usou toda a sua força para me impedir. Ele agarrou o outro pulso e me abraçou – Eu não sei mais de nada... Só sei que você jamais foi uma criança.

                Eu derramei minhas últimas lágrimas no seu ombro e respirei fundo – Só me responda uma coisa – solucei – Me diga que não está fazendo isso somente pela empresa dos seus pais... Diga-me que também está fazendo para ser feliz...

                Logo silêncio, até que ele se afastou e baixou a cabeça – A empresa será minha responsabilidade a partir do final desse semestre. Minha felicidade não vai importar quando tudo ficar em jogo.

                -Certo... De uma forma ou de outra espero que consiga ser feliz com aquela garota – enxuguei as lágrimas da bochecha e dei as costas para Leigh – Pois eu também vou ser feliz quando você for embora para sempre – depois de ter dito isso, comecei a me afastar de Leigh e rumei para o estacionamento, pedi para que meu guarda costas avisasse à minha mãe que eu estava voltando para casa.

                Durante todo o percurso não demonstrei nada do que eu estava sentindo para o meu motorista. Só desabei quando cheguei em casa.

               

                POV.Alexy

               

                Eu peguei uma moto para sair mais cedo da festa. Depois do pronunciamento ninguém parecia com muito ânimo para se divertir, pois todas as garotas sabiam sobre Rosalya. Lysandre era uma mistura de lamento, tristeza e raiva pelo irmão. O ar estava tenso demais, por isso decidi ir para casa antes de todos.

                Foi quando passei ao lado de uma pista de cooper e vi algumas poucas pessoas correndo – extremamente corajosas por estarem fazendo isso a essa hora da noite – Que me lembrei dele.

                “Você ainda está correndo?”, pensei. Decidi passar na escola.

                Quando cheguei me deparei com um lugar escuro e deserto, ir para a escola durante a noite é muito sinistro. Estacionei a moto e entrei silenciosamente no lugar com a minha lanterna. Era extremamente sinistro, me senti dentro de um filme de terror.

                Segui rapidamente para a pista de corrida, se eu iria encontrar Zack com certeza seria lá. As luzes do lado de fora estavam acesas, mas ninguém corria. “Ele já deve ter ido embora, já passa das duas da manhã”.

                -A festa estava ruim? – a voz dele ecoou pela noite. Me virei e o encontrei vestido normalmente, e não com roupas de correr, até usava os óculos. Os cabelos molhados indicavam que ele havia acabado de sair do banho.

                Eu sorri e balancei a cabeça – Mais ou menos.

                Ele achou graça e apontou para minha roupa – Gostei do smoking – ele elogiou. Dei de ombros             - Pensei que festas de empresas fossem incríveis, e não mais ou menos.

                -Depende. Se você for dono de uma multinacional e quiser fechar algum negócio ou se você quer um cargo alto na indústria de moda, acho que seria o local mais incrível que possa existir – respondi. Peguei um saquinho que havia trago comigo da festa – No entanto os docinhos são muito bons. Quer?

                Zack gargalhou – Alexy roubando doces de festa?! Essa é incrivelmente nova – ele se recuperou das gargalhadas e se aproximou para pegar um – Quero sim, estou morto de fome.

                Nos sentamos na arquibancada de frente para a pista e começamos a comer os doces.

                -Isso está bom mesmo – Zack engolia um atrás do outro.

                -Eu tenho uma notícia que acho que você vai gostar – comecei a falar, Zack aguardou eu continuar – Tive uma ideia para ajudar o orfanato, falei com meus amigos e eles prometeram ajudar. Que tal um pequeno festival, com uma peça, uma apresentação de dança e mais qualquer outra coisa, tudo isso com as crianças participando. Poderemos vender comida para os visitantes.

                 Zack me encarava atônito.

                -É uma boa ideia? – perguntei timidamente.

                -Boa ideia?! É ótimo, é perfeito! E você pediu ajuda dos seus amigos! – Zack parecia absolutamente feliz e aliviado. Ele olhou para mim e sorriu o sorriso mais radiante de todos – Alexy, muito, muito, muito obrigado mesmo!

                Eu sorri em resposta e ficamos naquela troca de sorrisos. E olhares. Eu encarei aqueles lábios, minha respiração ficou no ritmo da dele quando me aproximei. E me inclinei.

                Eu rocei meus lábios nos dele devagar antes de tocá-los de verdade. Minha mão segurou o seu maxilar e minha boca se movimentou na dele de forma tímida. A mão de Zack subiu nas minhas costas e agarrou meu terno, depois subiu mais e segurou firme meu pescoço. O beijo foi lento, tímido, quente e molhado. O cheiro dele tomou conta das minhas narinas.

                Então ele se afastou bruscamente e encarou o chão – Foi mal, Al. Eu... Não sou como você.

                -Mas então por que não me afastou antes...?

                -P-porque eu tinha que te retribuir de alguma forma... – ele desviava o olhar a todo custo.

                -Retribuir? – a palavra saiu como um xingamento da minha boca – Eu nunca te obrigaria nada, Zack. Não... Não sou assim... – engoli um soluço.

                Saí rapidamente antes que ele pudesse ver meu rosto inchado prestes a se desmanchar em lágrimas. “Ele pensa que eu sou alguma aberração”.

                Peguei minha moto e acelerei, meus olhos já marejados e a noite escura dificultavam a visão. Meus pensamentos estavam a mil.

                “Eu sou uma aberração?!”

                “Estraguei tudo!”

                Tantos pensamentos, tantos arrependimentos. Era tanta coisa na cabeça que nem me dei conta quando o sinal ficou vermelho. A única luz que avistei no trânsito daquela noite foi a de um carro que vinha a toda velocidade na minha direção.

 

                POV.Zack

                Que merda foi essa que acabei de dizer?!

                De todas as desculpas idiotas do mundo que eu poderia ter usado, escolhi dizer que aquele beijo foi um PAGAMENTO!

                Eu gostaria que me enforcassem nesse exato momento, por favor.

                Maldição, Maldição, Maldição.

                O que estava acontecendo comigo? Até pouco tempo atrás eu tinha uma namorada, eu gostava dela sim, mas não chegava a ser paixão ou coisa do tipo. Que dizer, eu jamais cheguei a me apaixonar por garota nenhuma, todas as que beijei ou namorei até hoje eu considerava apenas como amigas. Para mim isso era o significado de se apaixonar.

                Até que o Alexy apareceu na minha vida.

                Nunca antes tinha visto um garoto tão diferente e tão... Único. Era engraçado, inteligente, me arrancava risadas esquisitas e era fofo e... Muito bonito. Toda vez que eu via azul me lembrava dele e me fazia sorrir. E esse sentimento ficou ainda mais forte depois que fomos ao orfanato, a história dele, o sorriso nostálgico dele...

                Mas por que eu fiz isso?

                Porque tenho medo. Medo do que vão pensar de mim. Medo do que eu sou...

                O que os meus pais vão pensar disso? Talvez fiquem desapontados comigo.

                Eu sou um cara que gosta de outro cara. Eu tenho que aceitar isso... Ou não?

                Recusar o que eu sou e viver por assim mesmo?

                Não! Não depois do que acabei de fazer. Não quero perder a amizade do Alexy, não quero perder a companhia dele. Sinto que se eu não fizer nada vou perdê-lo para sempre. Por isso corri em disparada para o meu carro e fui atrás dele, ele já havia me entregado o seu endereço antes, então acho que daria certo.

                “É só virar aqui, seguir direto e atravessar aquele sinal...”, parei o carro porque mais a frente havia várias pessoas rodando a pista, o barulho do carro da polícia e vários policiais falavam com as pessoas. Avistei um carro com o vidro da frente amassado e uma moto destruída no chão. Aquela moto... Meu coração parou quando reconheci.

                Deixei o meu carro e corri para dentro da multidão. Fui parado pelos policiais, mas me debati tanto que consegui me soltar deles. “Não pode ser verdade, não pode ser verdade, não pode ser verdade!”.

                Lá estava ele, deitado no chão, inconsciente e machucado, da testa cortada saíam filetes de sangue, o smoking bege estava sujo com manchas rubras. Eu me ajoelhei ao lado dele.

                -Alexy... – minha voz estava trêmula – Alexy... Me desculpa. Me desculpa, não faz isso comigo, n-não morre.

                Comecei a soluçar e a chorar.

                -Por favor, Alexy... N-não me deixa, por favor...


Notas Finais


Gentemmmmm, aqui vai como imagino cada coisa deste cap ( Pessoas, eu não pego nada aleatoriamente, sempre escolho de acordo com o que imagino e com o que tem a ver com o personagem referido, ok seus lindos? :D )

~Smokings:
Castiel https://40.media.tumblr.com/6f2b5f0024b8283390791b01870566fb/tumblr_o27er5nfNB1ux00gho1_1280.jpg
Lys https://36.media.tumblr.com/d7978cdfe07d16d78f57588fb983b738/tumblr_o27esplGVK1ux00gho1_500.jpg
Kentin https://40.media.tumblr.com/ad84c40bdbc7b69e1ded467e54adbcbb/tumblr_o27erpXRnW1ux00gho1_500.jpg
Armin https://40.media.tumblr.com/5db6d974c64ff3696686f8b5d9e91189/tumblr_o27eqtDR5D1ux00gho1_400.jpg
Alexy https://40.media.tumblr.com/5a4a99387d40b85904a72951bddfa5c9/tumblr_o27eqkXRHi1ux00gho1_400.jpg
Leigh https://41.media.tumblr.com/61580254f95a2265b0751c47e1e36e03/tumblr_o27esaXZIV1ux00gho1_1280.jpg
Nathaniel https://40.media.tumblr.com/472caf5c0d0f7dc67b60c70177959e74/tumblr_o27ev1X3WF1ux00gho1_500.jpg
Kim https://40.media.tumblr.com/91b732004962155987b44367c5095372/tumblr_o27ew8XzwW1ux00gho1_1280.jpg
~Vestidos:
Sophie https://36.media.tumblr.com/21bb3cccdc0e545745f6462be1ab6398/tumblr_o27exl2TCb1ux00gho1_500.jpg
Rafaela https://41.media.tumblr.com/4336cea3755284795470a41bd193e88e/tumblr_o27ewtWO1v1ux00gho1_1280.jpg
Melissa https://41.media.tumblr.com/c70654d1d895d9cce81015067af64ba7/tumblr_o27evu5fav1ux00gho1_1280.jpg
Violette https://41.media.tumblr.com/0009573e0022c2b0033f863107562aa6/tumblr_o27exwnM8v1ux00gho1_500.jpg
Rosalya https://41.media.tumblr.com/b3da71f0a1369d1124ad777a6e65abf4/tumblr_o27exagiiC1ux00gho1_1280.jpg

~Última cena: https://41.media.tumblr.com/e3c89a83d6b06d03e4ec45a1e63ae805/tumblr_o27fldCXlP1ux00gho1_1280.jpg

Gentemmmmmmm por favor comentem o que acharam deste cap, eu fiz ele com a vontade dos deuses .u. ( sem mentira, foi luta pra conseguir terminá-lo, demorou dois dias, no primeiro fui dormir quatro horas da manhã terminando a primeira parte, no segundo fiquei doente e quase não consegui ficar de frente pra o computador para escrever o restante)
Kissus de Dandelion para todo mundo, amo vocês!


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