Capítulo 18
Segunda─feira, dia 09 de Dezembro
Um clima ameno envolvia aqueles que estavam no terraço do hotel, um céu nublado, mas que, porém deixava escapar um raio de sol aqui e ali. Largando a guitarra deixando-a pender pela faixa em seu pescoço a morena se levantou transtornada deixando o dono daquela guitarra, Uruha, sentado no banco de madeira entre as folhagens que cobriam a proteção do parapeito.
─ Chega! Eu não consigo fazer isso.
─ Olhe.
Konatsu olhou para trás. Ele havia se levantado e estava aproximando-se novamente. A uma pequena distância de encostar nela ele parou, com pouquíssima força segurou suas mãos e foi conduzindo a forma dela tocar.
─ Cassis é bem simples... ─ ele começou a dizer
Um esbarrão na parte interna de seu braço o fez interromper a própria fala, Konatsu estava inexpressiva no rosto, mas devia estar desconfortável entre ele e a guitarra.
─ Calma. ─ pediu gentil
Deslocou um pé para trás para dá-la espaço. Ele soltou um dos pulsos dela e com este ela tentou tocar alguns acordes guiando-se por uma vaga lembrança.
─ Já tentei tocar violão. ─ dizia sem uma emoção definida na voz.
Então ele tentou segurar novamente seu início de pulso, para poder guiá-la quais acordes o seu dedo tocaria. Porém ela tentou se desnvencilhar, de forma atrapalhada e se virou para ele, a uma pequena distância se encaravam agora.
Tudo se esvai em preto.
Um ligeiro incômodo; com os olhos ainda fechados, os mexeu. Maldição... Pensou ele. Cobriu a testa com o antebraço e quis esfregar os olhos. Era um sonho... Por isso não fazia sentido... Os olhos abriram-se um pouco por frações de segundo. O quarto escuro estava lacrado pela cortina de ferro da ampla sacada, porém havia luz se esforçando para entrar. Logo não devia ser tão cedo.
Sem vontade o suficiente para levantar-se da cama pôde escutar a camareira ajuntando algo metal que devia ter caído no chão. Quis voltar a dormir, mas provavelmente ao conseguiria. E sem mais nem menos memórias do dia anterior lhe vieram à mente.
Uma mão de unhas vermelhas em uma luva de renda preta segurou o seu ombro. Ao virar-se pra ver quem tomava a intimidade de tocá-lo surpreendeu-se, não só por quem era, mas por estar tão diferente do habitual, bem vestida e bela.
Com cabelos torcidos sobre um ombro e uma armação de óculos retangulares enfiada no decote tomara-que-caia do espartilho estava Isabel sorrindo de forma tal como ele fazia para insinuar alguma coisa.
Foi como uma sereia puxar um homem de sua embarcação para o mar e o arrastar em direção às profundezas. Ele simplesmente não se convencia de como se deixara levar, sem reagir, por um beijo dela. Logo estava correspondendo.
Será o álcool? Ou a fraca imposição de quem ele gostava? Isabel não era bonita o bastante para ser comparada a uma sereia, mas em termos de ousadia, audácia, estava batalhando de igual para igual.
─ Eu não reagi. ─ ele constatou para si.
Postou-se sentado sobre a cama e pensou novamente sobre o que lembrou sem mais nem menos e daí veio a dúvida. Porque eu ainda sonho com ela? Logo agora? Esfregou os olhos e aos poucos se pôs de pé. Começou a se vestir. Vou tomar café da manhã... E parar de pensar nesse sonho.
≾≿
Uma fachada inteira de vidro escurecido percorria uma parte circular do salão onde o café da manhã era servido. Cortinas brancas de um tecido fino e belo presas por prendedores dourados circulares sem uma figura exata. Àquela hora iluminação não natural não era necessária, mas se fosse preciso várias lâmpadas iluminariam o salão dentro de seus respectivos suportes de gesso que decoravam o teto.
─ Fátima! ─ a chamativa voz de Giselle chamou ─ Queria te mostrar uma coisinha.
─ Ah, agora? ─ respondia ela dividida entre o prato de café-da-manhã que servia e sua nova e estranha amiga.
─ Sim, tem que ser agora. ─ respondeu sem titubear.
Um sorriso caloroso no rosto, mas o tom da voz parecia austero. Fátima ficou sem saber o que fazer com o prato que começara a fazer. E sem mais ninguém que sentaria a mesa com ela por perto, resolveu deixar o prato ali em um dos poucos espaços livres da mesa; poderia perder o prato, mas poderia ser que ninguém tocasse também.
Giselle guiou Fátima até estar um pouco afastada das mesas e também dos arcos de entrada para o salão de café-da-manhã, onde posicionados ficavam naquele horário, funcionários do hotel ou seguranças à disposição dos hóspedes. Ali ela começou a dizer, porém sem mais o sorriso e com um tom de voz bem longe do amigável.
─ Vou falar em português bem claro. Fica longe do Reita. Bem longe.
Por cima da blusa generosamente decotada Giselle tinha um casaco leve cujas mangas eram folgadas, e como se fosse arregaçá-las para os cotovelos, ergueu o punho de forma discreta, a parecer que apenas estava com calor. Ao abaixar o braço começou a dobrar a manga da blusa.
Fátima ficou um pouco perplexa até chegar à conclusão que era realmente uma ameaça; pois ela ajeitava a manga sem diminuir a força do seu punho trincado. Soltou uma leve risada. Na posição que ela estava ninguém poderia ver o que ela havia em mãos além de Giselle, ela começou a mexer na bolsa. Retirou um objeto alongado de um azul forte e partes metálicas.
Um canivete suiço. Concluiu Giselle enchendo os olhos.
─ Olha, eu trouxe isso para caso eu fosse atacada por alguma fã louca.
Fátima esfregava o polegar pela parte acrílica brilhante; trocou um olhar com Giselle. Nem tinha erguido o canivete, nem deu na vista. Voltou o olhar; logo o guardando de volta na pequena bolsa. Voltou a falar:
─ Só não pensei que ela estaria hospedada no mesmo hotel que eu.
Giselle deu um passo para trás. O olhar de ameaçador passou para atento. Ameaçar com o punho e mostrar um canivete têm níveis de ameaça diferentes, porém ela era robusta, fosse músculo ou gordura. Diferente de Fátima que era extremamente magra.
─ Você está me ameaçando? ─ Indagou Giselle indagou depois de uma breve análise.
─ Não. ─ ela disse simplista, inexpressiva ─ Mas acho que não é uma boa ideia você vir pra cima de mim. ─ Por que você é enorme, aliás... continuou o pensamento dela.
Giselle fechou a cara. Sobrancelhas e lábios se remexeram contendo a expressão de raiva que ela quis esconder.
─ Não fique se achando... Sua... Sem sal.
Fátima fez um sinal de negação com a cabeça discretamente, e um sorriso decepcionado fez Giselle parecer uma ridícula.
─ Por que eu sou tão sem sal que você veio se certificar que não teria concorrentes, certo?
A conversa seguia em tom moderado; a voz de Fátima era tranqüila e também questionadora, provocando Giselle que ficou calada.
─ Com licença, preciso ir antes que comam sem mim.
A morena de cabelos escorridos retirou-se para o lado em direção a mesa; Giselle sentiu o impulso de fazê-la ficar e mostrar quem podia mais naquele mesmo instante. Mas caso o fizesse, quem tomaria o B.O. não seria Fátima. Mas ela vai se arrepender disso. Ah, se vai...
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