História De repente irmão - Prólogo

Odeio seminários! Sério, eu estudo feito um condenado e ainda acabo esquecendo alguma coisa na hora. Sem falar que tenho que tomar cuidado com a postura o tempo todo, principalmente com aqueles professores chatos e que parecem sentir prazer em ferrar um aluno.

Quando eu estava no ensino médio, pensava que a faculdade seria um paraíso... Doce ilusão.

Claro, a parte boa são as festas e tudo mais, só que você estuda muito mais e os professores, na maioria das vezes, mandam você se virar. Vida de universitário é difícil.

Revisando o assunto pela terceira vez, com a coluna doendo de ficar sentado de frente para o computador e com a terceira lata de energético aberta - não dormi direito à noite -, ouvi alguém tocar a campainha. Talvez seja alguém da minha equipe, então acho melhor ir atender e não ignorar enquanto finjo não estar em casa.

Abri o portão pequeno e me deparei com uma mulher familiar, entretanto, não faço idéia de quem é. Sabe quando você reconhece uma pessoa mesmo sem saber quem é? Pois é.

Ela tem a pele bem branca, os cabelos lisos e negros, os olhos verdes e não é muito alta. Definitivamente essa mulher não estuda comigo, mas me lembra alguém.

- Itachi Uchiha? - Ela perguntou um pouco nervosa e eu assenti - Meu nome é Misaki, você não se lembra de mim, mas eu sou irmã da sua mãe...

- Não tenho nada pra falar com você! - Interrompi a mulher e tentei fechar o portão na cara dela, mas ela segurou e empurrou desesperada.

- Por favor, eu preciso falar com você! - Berrou - Itachi, abre, eu só quero conversar!

- Não tenho nada pra conversar, e também não tenho mãe!

- Por favor. - Implorou - É muito sério!

Cedi. Bufando de raiva, mas cedi.

Deixei que a mulher entrasse e fomos juntos, em silêncio, até a sala da casa onde moro sozinho desde que meu pai faleceu há um ano.

Me acomodei no sofá e pedi para que ela se sentasse. Misaki sentou no outro sofá e me encarou aflita, não quero que ela fique enrolando, seja lá o que tem pra dizer, que seja dito logo!

- Bem, o que tem pra me dizer? - Quebrei o silêncio e a morena me encarou meio nervosa.

- Itachi, sua mãe faleceu semana passada... - Ela falou com a voz triste enquanto que eu mostrei indiferença, afinal, Mikoto me abandonou quando eu era criança e sumiu do mapa.

- Eu não me importo. - Respondi - Ela foi embora e não me levou, nunca tentou entrar em contato comigo... Por que eu deveria me importar?

- Itachi...

- Se já acabou, pode ir embora.

- Não é só isso! - Ela falou e eu a encarei com curiosidade, querendo que ela encerre logo esse assunto e vá embora de uma vez - Itachi, você sabe que sua mãe casou muito nova, ainda adolescente. Seu pai já era mais velho, logo as diferenças se fizeram presentes e as brigas começaram.

- Eu lembro disso melhor do que ninguém. Também sei que ela se casou com o meu pai por interesse.

- Na verdade foi por ambição da família, ela nem queria. - Ela explicou - Sua mãe era uma menina, ela era ingênua e nossa mãe a empurrou pra cima do seu pai.

Estou realmente interessado nessa história, mas não sei quem é o certo, meu pai que não se importava comigo e me mandou pra um colégio interno ou a minha mãe que me abandonou aos sete anos.

- Continue...

- Bem... - Ela soltou um suspiro alto e prosseguiu - Sua mãe não aguentou viver com o Fugaku, ele a humilhava muito. - Lembrei-me das brigas dos meus pais, realmente ele dizia coisas horríveis para a minha mãe - Então a Mikoto resolveu sair de casa, dar um jeito na própria vida e depois voltar para te buscar, então ela saiu da cidade com o dinheiro que conseguiu após vender algumas jóias e foi pra casa de uma prima nossa... - A mulher mordeu o lábio inferior, como se estivesse pensando em como prosseguir com a história - Só que as coisas não saíram como ela queria, pois sua mãe logo descobriu que estava grávida e voltou para Konoha na intenção de contar para o seu pai.

- Grávida? - Berrei incrédulo e arregalei os olhos. Minha mãe estava grávida?

- Sim... Mas seu pai ficou louco e disse que a criança não era dele. Sua mãe ameaçou entrar na justiça pedindo o DNA, enfim, ela ameaçou fazer um escândalo que poderia manchar o nome da família.

A família Uchiha é dona da maior empresa do país, um escândalo desses teria percussão nacional e meu pai era do tipo que gostava de preservar a própria imagem. Não duvido que minha tia esteja dizendo a verdade.

- Mas, a criança era ou não do meu pai? - Perguntei.

- Claro que sim! - Ela parece estar realmente certa disso - Sua mãe descobriu pouco tempo depois que tinha ido embora, ela não tinha ficado com ninguém, é óbvio que estava grávida do seu pai, mas ele não acreditou e se recusou a fazer um DNA para confirmar. Foi quando a sua mãe ameaçou fazer um escândalo, pois ela queria que seu pai, pelo menos, assumisse o bebê para que ele tivesse o nome do pai. Ela disse que, se o Fugaku não quisesse, ele não precisava nem ver o filho, desde que o registrasse.

- E o que o meu pai fez? - Indaguei curioso.

- Fez um acordo com a sua mãe. Ele daria o nome para a criança, desde que Mikoto sumisse e nunca mais aparecesse. Fugaku deu uma boa quantia em dinheiro para a minha irmã e ela saiu do país, decidiu ir morar comigo em Suna. - Suna? Não acredito que a minha mãe foi morar tão longe! - Depois que o Sasuke nasceu, seu pai viajou para lá e o registrou como filho, sem falar que novamente deu um bom dinheiro para a sua mãe ter como cuidar do bebê até poder trabalhar, tudo para que ela ficasse longe de Konoha.

- E eu? Por que ela não falou nada e por que não me levou?

- Ela quis, mas seu pai não permitiu e a ameaçou de morte caso ela pisasse em Konoha novamente.

- Não posso crer que meu pai tenha feito isso... - Falei abismado, mas não duvido nada.

- A sua mãe e o seu irmão moraram comigo por um tempo, ela aplicou boa parte do dinheiro que seu pai deu e abriu uma loja que logo foi crescendo... Sua mãe vivia bem e tinha condições de vir para Konoha quando quisesse, mas tinha medo. Caso Fugaku soubesse, ele poderia fazer algo contra ela ou contra o Sasuke.

- Entendo... - Soltei um longo suspiro - Ela estava querendo proteger o garoto.

- A Mikoto sofreu muito por ter sido separada de você, Itachi, muito mesmo. Perdi a conta de quantas vezes a vi chorando com fotos suas nas mãos.

- Eu pensei que... - Senti um nó na garganta e lágrimas querendo sair - Pensei que ela tivesse me abandonado.

A última lembrança que tenho da minha mãe é da briga que ela teve com o meu pai pouco antes de partir para sempre. Ele disse coisas horríveis e, pela primeira vez, minha mãe, que sempre ouvia calada, teve coragem para retrucar as ofensas e os xingamentos do meu pai. Me lembro de ouvir um tapa antes de ver a minha mãe sair correndo do quarto carregando algumas bolsas.

Ela foi embora chorando e sem olhar para trás.

- Ela não deixou de pensar em você nem por um segundo sequer, Itachi.

- Como ela morreu? - Indaguei após enxugar uma lágrima que acabou de cair.

- Ela tinha viajado de carro com uma amiga e sofreu um acidente. O Sasuke estava numa excursão da escola, por isso não estava junto.

- E o garoto? - Perguntei aflito, imaginando o tamanho da dor desse garoto.

- É sobre ele que eu quero falar. - Arqueei a sobrancelha após ouvir isso, afinal, não tenho certeza se quero ou não conhecer ele - Sua mãe não morreu na hora, ela ficou uns dias internada e me fez um pedido, pois sentia que não ia resistir... - Tive um mal pressentimento - Itachi, ela me pediu para te entregar o Sasuke.

- O que? - Engasguei com a minha própria saliva. Eu mal cuido de mim, como posso cuidar de uma criança?

- Estou hospedada aqui perto com o Sasuke, o deixei dormindo no hotel para vir aqui... Enfim, decidi fazer a última vontade da sua mãe. Ela pediu para que você cuidasse do Sasuke e que não deixasse o Fugaku fazer mal a ele.

- Meu pai morreu há um ano.

- Meus pêsames. - Misaki sorriu sem graça - Eu vou embora amanhã, você vai ficar com o Sasuke.

- Mas... Mas... - Comecei a gaguejar e a suar frio. Como essa mulher chega na minha casa e joga essas bombas na minha cabeça todas de uma vez? - Não sei cuidar de uma criança!

- Seu irmão já está com doze anos, Itachi, não é mais uma criança pequena. Não se preocupe, Sasuke é um garoto ótimo e tenho certeza de que vocês vão se dar bem.

Será bom ter uma campainha, mas sequer conheço esse garoto que nem tenho certeza se é filho do meu pai.

Bem, Sasuke pode não ser filho do meu pai, mas é filho da minha mãe, é meu irmão e não tem culpa de nada. Ele é tão vítima quanto eu nessa história, sem falar que deve estar sofrendo muito.

- Tudo bem. - Assenti. Minha nossa, não sei onde estou com a cabeça! - Pode trazer o garoto, eu cuido dele.