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História Decalcomania - Descamação


Escrita por: seexsaw

Notas do Autor


Dois capítulos no mesmo mês? Que luxo é esse? Desconheço e nunca sei se vou conseguir realizar essa proeza novamente.

Então... Bem, vai ser tenso. Esse capítulo é tenso e não sei como vocês irão reagir a ele. Antes de tudo deixo um aviso: não olhem os comentários antes de lerem, pode ter spoiler daqueles e vai ser bem sem graça.

Outro aviso que quero dar antes de vocês lerem é que eu percebi que alguém ficou confuso com a passagem de tempo e eu vim esclarecer: O Sehun foi embora faz dois anos, okay? Os quatro anos que eu mencionei no capítulo anterior por fala do Yixing corresponde somente ao período de dor do Oh.

Dado os recados, acho que vou parar de enrolar vocês. Escrevi esse cap ao som de Egotistic e Rainy Day do Mamamoo (tive que panfletar pq que hinos) e espero que gostem!

Boa leitura, meus amores!

Vejo vocês nas notas finais <3

Capítulo 16 - Descamação


Eu estava livre. Depois de uma semana corrida onde não tive realmente tempo de pensar em qualquer coisa a não ser em meu trabalho, o parque tinha entrado em estado de manutenção mensal isentando-me de qualquer tarefa a não ser disponibilizar o motivo da pausa no respectivo site do ambiente de lazer. Senti-me bem. Estava precisando de uma folguinha para espairecer e manter os pensamentos em ordem.

Mas também não era como se eu tivesse deixado de ficar ativo, acordei cedo e aproveitei para andar um pouco pela cidade para tirar algumas fotos e aperfeiçoar a minha captura, já que como eu não era um profissional estava estudando e buscando saber mais sobre fotografia, para fazer jus à profissão que me completara. Terminei o meu tour às 11h00 da manhã e com alguns questionamentos pendentes em minha mente, resolvi ligar para Kyungsoo. A companhia dele seria de grande ajuda para mim.

O Do não demorou a atender.

—Kyung, eu preciso conversar. —fui direto. —Você pode me encontrar no 5 Extracts?

—Eu estou no meio de algo agora. —ele dissera com a voz um pouco distante, também sussurrava como se não pudesse fazer muito barulho. Franzi o cenho em estranheza. — Mas daqui meia hora posso ir, tudo bem?

—Certo, te encontro lá. —comentei um pouco hesitante. —Beijos. —finalizei a chamada rapidamente guardando o celular em meu bolso ao passo em que tomava o meu caminho para a cafeteria que tinha se tornado uma segunda casa para mim. Durante o trajeto fui dando uma olhada nas fotos que eu havia feito no dia ficando satisfeito com a maioria delas.

A questão era que eu não tinha parado um segundo sequer desde que Yixing conversou comigo sobre Sehun no começo da semana. Tive pouco tempo para pensar ou me questionar sobre o que ele tinha me dito para tentar encontrar as devidas respostas e agora precisava de Kyungsoo para isso. O Do parecia saber muito bem das circunstâncias e sentimentos do Oh antes mesmo que eu pudesse entendê-los ou decifrá-los, talvez ele tivesse alguma noção do que poderia estar acontecendo? Bem, uma ajuda não faria mal algum, no fim das contas.

Não demorou muito para que eu chegasse até o respectivo estabelecimento, abrindo a porta e fazendo o típico barulho do sino, que tocava assim que eu adentrava a cafeteria, ressoar. Observei todo o redor para tentar achar alguma mesa que me agradava e acabei por me sentar num lugar reservado aos fundos do local. Logo uma garçonete viera até a minha mesa para pegar o meu pedido.

—Senhor Byun! —a garota que parecia ter meados dos seus vinte anos exclamara assim que viu. Ela já estava acostumada com a minha presença ali. Sorri simpático. —Como é bom vê-lo por aqui.

—Me chame de Baekhyun, por favor, Youngmi. —pedi sentindo-me um pouco constrangido na medida em que meneava a cabeça para espantar aquele estado ruim de espírito.

—Desculpe, são ordens do estabelecimento e eu sempre me esqueço. —ela se curvara em arrependimento.

—Não, não... —recusei o pedido calmamente. —Não precisa se desculpar, okay?

—Tudo bem, senh... —lancei-a um olhar reprovador e ela sorriu aberto em resposta. —Baekhyun. Vai querer o mesmo de sempre? —enfim questionou disposta a ouvir.

—Não, hoje não. Vou querer uma limonada, tudo bem? —pedi rapidamente enquanto ainda me acomodava na mesa retirando a bolsa dos meus ombros colocando-a ao meu lado pequeno sofá.

—Tudo bem, em cinco minutos estará pronta! —e assim saiu um tanto quanto saltitante pela cafeteria. Balancei a cabeça em desaprovação com um sorriso singelo no rosto. Era uma garota peculiar.

Tentei distrair-me com os aplicativos em meu celular ou até mesmo dando uma limpa no cartão de memória da minha câmera. A limonada chegou, tomei todo o conteúdo gelado e ainda assim fiquei a esperar pelo Do que só fez as graças de aparecer quase uma hora depois do combinado. Estava prestes a recolher os meus pertences e pagar a minha bebida quando o vi adentrar a cafeteria apressado e parecendo extremamente desajeitado. Lancei-o um olhar questionador no primeiro momento em que ele me encarou ao se aproximar.

—Me desculpe. —o Do pediu, sentando-se rapidamente em minha frente. —Eu estava no pediatra com a minha afilhada e não podia ir embora. Chanyeol e Yoona nunca me perdoariam. A pequenina também não.

Encarei o outro por alguns minutos com um sorriso de felicidade genuína e gentil em meu rosto. Kyungsoo demorou um tempinho para perceber que eu o observava avidamente.

—O que foi? —ele sondou, confuso.

—Estou feliz por vocês. —comentei sincero. —Por você e Chanyeol, por terem se resolvido e continuado a amizade.

—Eu também estou. —Kyungsoo respondeu em um aceno rápido. —Estou feliz por ter acontecido isso entre nós também. —disse ao encarar-me nos olhos de maneira ávida. Um sorriso provocativo adornando-lhe os lábios. Levantei a sobrancelha em confusão. — E quem diria que anos atrás estávamos nessa mesma cafeteria de um jeito totalmente diferente e...

—Okay, okay! —disse um pouco mais alto em divertimento quase indo até o outro para cobrir a sua boca com as minhas próprias mãos. —Pode parar por aí, Do Kyungsoo, já chega. Já entendemos, sim?

—É estranho pensar em nós... Naquela situação... De novo. —o Do completara vagarosamente só para me irritar enquanto realmente parecia incrédulo com toda a situação que nos metemos antes de estarmos ali.

Suspirei exaurido. Eu também não conseguia me ver de outra maneira com Kyungsoo e me espantava a ideia de que demorei tanto tempo pra perceber o quão incompatíveis nós éramos em questão de, basicamente, tudo. Eu o amava, de verdade, mas não da maneira que eu queria amar ou achava que amava.

—Ei, sem mais gracinhas agora. —Kyungsoo chamou minha atenção fazendo-me encará-lo novamente já que eu tinha me perdido em devaneios de novo. —Você disse que precisava conversar. Estou aqui.

Senti-me um pouco pressionado e constrangido em trazer todos aqueles questionamentos para cima do Do, no entanto não era como se eu tivesse outra alternativa. Youngmi veio de novo até a nossa mesa para recolher o pedido de Kyungsoo e assim que ela se afastara, fiz questão de falar sobre o tópico que tanto estava me incomodando nos últimos tempos.

—É sobre Sehun. —hesitei por alguns segundos antes de prosseguir. O Do apenas assentiu sem nenhum julgamento em seu semblante, ele estava realmente disposto a me ouvir. —No começo da semana Yixing me veio com uma informação nova, na verdade não é como se ele tivesse toda aquela situação planejada. Ele apenas me disse algo que, a meu ver, não era suposto ele ter falado.

—Vá em frente. —Kyungsoo incentivou.

—Yixing me disse que nos últimos anos o Sehun esteve em constante dor. —fiz uma careta com a ideia do que havia acabado de falar. Ninguém tinha a noção certa do quanto aquela circunstância me preocupava. —E no momento em que ele me disse isso, eu me lembrei de coisas que aconteceram. Tentei encontrar uma resposta ou algum indício e nada concreto me veio. O que será que o Zhang quis dizer com aquilo? Quero dizer, você tinha uma visão mais ampla de Sehun, pensei que talvez você tivesse percebido algo ou... Enfim. —me calei percebendo o quanto eu tinha me prolongado.

—Entendo. —o outro se pronunciara. —Eu não sei nada concreto também, Baekhyun, não me lembro de ter reparado em algo diferente no cara. —finalizou com um olhar solidário, como se estivesse insatisfeito por não poder me ajudar.

—Tudo bem. —dei de ombros. —Não é como se fosse mudar alguma coisa de qualquer forma. Eu notei algo diferente em Sehun há tempos, mas ele nunca quis me dizer o que era. Por mais que eu tenha o perguntado várias vezes. É só... —pausei ao respirar fundo. —Essa ideia do Oh estar passando por algum tipo de sofrimento e dor... Não me agrada. A situação de eu não estar por perto para ajuda-lo ou não ser confiável o bastante para saber o que está acontecendo, tudo isso não me agrada. E se ele estiver machucado ou...

—O que te faz achar que Yixing estava falando sobre dor física? —O Do interrompeu meu raciocínio agradecendo a garçonete que trouxera o seu pedido e nos deixara sozinho novamente logo após.

—O que você quer dizer?

—Bem, Yixing nunca disse que tipo de dor era, estou enganado? —perguntou e eu balancei a cabeça negativamente. —Então. Ele pode estar falando sobre os sentimentos de Sehun, certo? É uma possibilidade.

—Eu não pensei nisso. —confessei um pouco envergonhado.

—Claro que não pensou. —Kyungsoo concluiu. —A ideia de ter acontecido algo grave com o Oh te assusta mais e é totalmente compreensível.

—Você fala como o meu psicólogo. —semicerrei os olhos tentando descontrair o momento e o Do riu nasalado.

—Eu tento. —deu de ombros de maneira esnobe. —Mas eu estou falando sério. Talvez não seja nada físico. —finalizou dando um pequeno gole na sua bebida, um milk-shake de morango.

—Tudo bem, vamos supor que não seja. —comecei. —Que sentimento pode tê-lo causado tanta dor constante como o Xing disse? Ele disse que Sehun ainda estava...

—Além do fato de você ter quebrado o coração dele várias vezes? E com a minha ajuda? —Kyungsoo respondeu total e completamente transparente. Sua honestidade acertou-me em cheio quase como um soco no estômago. Senti-me nauseado e desconcertado.

—Sabe, eu não preciso de um lembrete. —disse, por fim, roubando o copo de milk-shake do Do e dando um bom gole no conteúdo. —Mas obrigado por isso. —finalizei sorrindo amarelo.

—Por nada. —o outro dissera em ironia. —Esse é o ponto. Você precisa sim de lembretes para que consiga fazer a coisa certa quando a hora a chegar.

Parei o meu revirar de olhos imediatamente quando ouvi o complemento da sentença de Kyungsoo. Observei-o incerto do que tinha acabado de ouvir.

—O que você disse? —questionei em afobação.

—Merda. —o Do sussurrou pegando o milk-shake de volta quase terminando com a bebida em dois tempos. Limpou a própria boca com o guardanapo exposto na mesa e correu o olhar pela cafeteria como se não tivesse ouvido a minha pergunta. Bufei irritado. Ele não ia me deixar sem respostas agora. Não ia mesmo. —Do que você está falando? —se fez de desentendido.

—Não brinque comigo agora, Kyungsoo. —alertei-o. —O que foi que você disse? Quando a hora chegar, o que você quis dizer com isso? Você sabe de alguma coisa que eu não sei?

Encarei avidamente o Do suspirar em frustração.

—Olha, eu me expressei mal, tudo bem? —tentou consertar. —Eu só penso que as coisas não vão ficar dessa maneira. Um dia Sehun vai voltar de alguma maneira ou de outra. É só isso.

—Você e Yixing! —esbravejei convicto. —Vocês têm estado próximos nos últimos tempos. Você ‘tá sabendo de algo, não está?

—Esse não é principal ponto da conversa, Byun. —repreendeu o outro. —Nós estamos falando de Sehun, dos sentimentos dele. Yixing disse que ele estava em dor e você o conhece melhor do que ninguém, conhece o Oh melhor do que ninguém. O que pode tê-lo feito tão mal, além do que apontamos aqui?

Meneei a cabeça, incrédulo de que Kyungsoo realmente iria me deixar no escuro daquela maneira e acabei por me contentar de que não tiraria nenhuma informação dele focando-me no que ele havia acabado de me dizer.

Ainda contrariado comecei a pensar sobre as relações de Sehun, os seus problemas e surpreendi-me ao me lembrar de um momento tão específico, entretanto tão doloroso que havia acontecido com o mais novo há bastante tempo. O tio Oh, o seu pai. Ele nunca apoiou o sonho do filho em ser pintor, fez da vida de Sehun um inferno por isso. E foi por essa razão que eu presenciei uma das piores brigas entre os dois.

—Não toca nele! —lembro-me de gritar aos plenos pulmões ao passo em que descia correndo os lances de escada atrás de Hyunsik, pai de Sehun, que pegava o filho raivosamente pelo braço puxando-o escada a baixo. O Oh mais novo apenas chorava silenciosamente.

—Você não tem o direito de me dizer como eu devo ou não educar o meu próprio filho, Byun. Coloque-se no seu lugar! —Hyunsik estava possesso. Após a proibição clara que o mais velho havia dado à Sehun sobre gastar dinheiro com as “futilidades artísticas” do garoto, ele tinha acabado de nos pegar entrando pelos fundos com materiais de pintura, contrariando totalmente a sua vontade.

—Ele estava usando o meu dinheiro, o que você tem a ver com isso? —continuei a argumentar parando em meu lugar no mesmo momento em que o Oh cessou seus passos apressados largando o braço do filho abruptamente em pura raiva.

—Eu dei a meu filho uma ordem. —dissera entredentes ao passo em que apontava o dedo indicador para o meu rosto. —E era trabalho dele me obedecer sem ressalvas. Não me importo de quem é o dinheiro, eu não quero essas merdas dentro dessa casa! —esbravejou assustando a mim e a Sehun com seu timbre de voz alterado.

—Tio Oh, você consegue se ouvir? —questionei indignado tomando a frente do Oh mais novo que parecia estático demais para se defender ou fazer qualquer coisa. —Está ouvindo o que você está dizendo? Por que você não pode simplesmente apoiar o seu filho? Não é como se ele estivesse fazendo alguma coisa errada, pense nisso!

—Eu não solicitei a sua opinião, Byun Baekhyun e se você me desacatar mais uma vez, esquecerei qualquer laço que tenho com seu pai e...

—E o quê? O que você vai fazer? —o confrontei raivosamente. Não estava aguentando mais presenciar todo aquele absurdo. —Vai me bater? Você teria coragem? —dei um passo à frente sabendo que se algo ainda restava do antigo Hyunsik dentro daquele homem vazio que eu estava vendo ali, ele nunca machucaria ninguém.

—Você não entende, não é? —a esse passo o Oh mais velho tremia de raiva, o rosto totalmente avermelhado e as veias do pescoço aparentes. —Garotinho insolente. —e foi nessa mesma hora que Hyunsik levantou a mão para ameaçar me bater. Antes que eu pudesse ao menos me surpreender com o ato, Sehun havia entrado em minha frente levando o tapa estalado e forte na lateral do rosto, quase na cabeça, em meu lugar. O mais novo permaneceu com a cabeça abaixada após o impacto da agressão e eu permaneci calado, com os olhos arregalados, sem realmente acreditar no que tinha acabado de acontecer.

Hyunsik encarou a cena diante de si, os olhos marejados e as mãos trêmulas e quando fez menção de dizer alguma coisa, Sehun pegou-me pelo braço suavemente e me puxou escada acima em direção ao seu quarto. O mais novo não chorou depois do fato, não derramou uma lágrima sequer. Apenas pediu para que eu ficasse por perto e nunca o deixasse. E eu prometi. Prometi com o pensamento de que eu nunca mais deixaria alguém machucar Sehun daquela forma.

—Eu devia ter feito alguma coisa. —disse aos sussurros com os olhos exacerbadamente marejados. Kyungsoo colocou suas mãos em cima das minhas quando percebeu o meu estado. —Eu devia ter feito alguma coisa, Soo. —minha voz falhara devido à carga de emocional.

Afastei-me do toque do Do.

—Você se lembrou de algo? —ele questionou preocupado. —Baekhyun, do que você está falando?

—Eu preciso resolver, preciso dar um jeito. —dizia desconexo movido ao sentimento deveras esmagador de impotência e revolta que tomara conta de mim. Levantei-me abrupto sendo seguido pelo olhar confuso de Kyungsoo, recolhi todos os meus pertences e retirei rapidamente algumas notas de won de um dos compartimentos da minha bolsa jogando-as em cima da mesa.

—Sinto muito, Kyung, eu tenho que ir. —comentei afobado sem ao menos olhar para o Do, apenas checando ao redor para ver se havia esquecido algo. Depois disso, corri em direção à porta da cafeteria e a deixei sem olhar para trás.

Meus passos estavam sendo movidos aos maus sentimentos e com o olhar perdido e passadas desconexas concentrei-me apenas no lugar que eu tinha como alvo. Eu ao menos tinha percebido como ou quando tinha chegado até a casa tão conhecida por mim, agora bastante diferente devido à quantidade de tempo que não a visitava, só sei que no momento apertava a campainha de modo incessante e impaciente.

A raiva corroendo-me por dentro ao passo em que corria forte por minhas veias. A porta se abriu lentamente e com a respiração descompensada, a boca seca e punhos cerrados em ambos os lados do meu corpo, eu não me contive. Não me contive ao perceber as mesmas feições, hoje ainda mais marcadas pela idade, de Hyunsik a poucos metros de mim. Senti meu rosto encharcar-se em um choro que ao menos percebi ter dado progressão e um tanto quanto desorientado limpei as lágrimas.

—Baekhyun? —o mais velho questionou. —O que você está fazendo aqui?

Respirei fundo comprimindo os olhos fortemente. As lágrimas densas e mornas percorrendo o seu caminho por meu rosto. O encarei novamente.

—Eu sinto muito, tio Oh. —disse com a voz trêmula e esganiçada. —Mas eu preciso fazer isso.

E antes que Hyunsik pudesse dizer qualquer coisa, o meu punho direito se chocou fortemente contra a sua mandíbula. O mais velho cambaleou forte para trás e acabou caindo ao chão devido o impacto.

Continuei a chorar. O sentimento de ódio envolto em mim deixando-me gradativamente assim que liberei o excesso de adrenalina em meu sistema. Eu respirava de modo bastante ofegante agora.

Só fui me dar por mim e perceber o que eu realmente havia feito quando vi vários enfermeiros cercando o senhor Oh de imediato ao meu soco questionando ao mais velho se ele estava bem ou se deviam chamar a polícia.

Tentei dizer qualquer coisa para me defender, mas nenhuma palavra saía de minha boca e só naquele momento fui perceber um andador, que provavelmente Hyunsik estava usando a todo o momento, caído junto ao seu corpo no chão. O Oh sentou-se com a devida ajuda, tranquilizando todos com o sinal das próprias mãos.

—Está tudo bem, está tudo bem. —acalmou a todos com o seu falar arrastado. Outra característica que eu deixei passar em meio à raiva. —Está tudo bem, não chamem a polícia. Só me ajudem a levantar.

Assim os enfermeiros fizeram e eu me prontifiquei a tentar ajuda-los, minha ajuda sendo recusada em dois tempos. Hyunsik se levantou levando uma das mãos até o local onde tinha sido atingido por mim com cautela. Um sentimento terrível de arrependimento acertando-me em cheio. O que eu tinha feito?

—Senhor Oh, eu... —tentei me explicar, no entanto eu nada podia dizer.

—Está tudo bem, querido. —ele tentou me tranquilizar. —Demorou demais para que alguém finalmente fizesse isso com o homem amargo que eu me tornei. Não é como se eu não merecesse.

Meneei a cabeça ao tentar dizer que não, ninguém merecia aquilo e que eu tinha sido totalmente imprudente quando fui interrompido pela voz agora dócil e nostálgica do Oh ao me convidar.

—Você quer entrar, filho? Conversar sobre o que acabou de acontecer? —questionou em um tom quase que esperançoso.

E eu não pude recusar. Não depois do que eu tinha acabado fazer.

[...]

Estar dentro daquela casa novamente depois de tanto tempo me trazia memórias agridoces. Ainda era difícil assimilar que aquele tinha sido o lugar com os momentos mais felizes, mas também os mais dolorosos. Conseguia lembrar facilmente de mim e Sehun pequenos correndo escada acima enquanto sujávamos os corrimões de tinta ou lama, no entanto, em contrapartida, a lembrança de Hyunsik expulsando o próprio filho de casa—mesmo tendo disponibilizado outro apartamento para o Oh mais novo morar—justamente por ele não acatar suas ordens, não desistir de si mesmo e dos seus sonhos, traziam o amargor característico em meu paladar. Sintomas de desgosto e profunda dor.

Tudo parecia opaco agora. A casa parecia tão vazia que a sensação de solitude te abraçava instantaneamente assim que adentrasse o ambiente. O segundo andar parecia estar interditado, como se ninguém mais transitasse por lá e todos móveis encontravam-se amontoados no andar debaixo. Tentei não ser indelicado, não ficar encarando toda a situação por muito tempo para não parecer indiscreto ou constranger o senhor Oh ainda mais depois do que havia feito, mas temia não ter tido um bom resultado. Hyunsik parecia miserável e isso, de certa forma, me entristecia. Ninguém merecia viver daquela forma.

O mais velho encarava-me como se esperasse algum comentário vindo de mim, no entanto eu nada disse. Estar frente a frente com o Oh naquelas condições parecia tirar todas as palavras da minha boca. Eu nada tinha a dizer. Hyunsik ao perceber o meu silêncio súbito se direcionou até o sofá com cautela e auxílio do andador, um enfermeiro apoiava as mãos em suas costas para ajudá-lo a se locomover.

Demorou um pouco para que o dono da casa conseguisse se sentar e assim que o fez, teve seus pés suspensos e postos sobre a poltrona de descanso. O andador ficando ao lado do sofá em espera. Observei tudo aquilo um tanto quanto desconfortável. O Oh parecia um tanto quanto debilitado, no entanto não havia ninguém conhecido ali o ajudando, apenas pessoas estranhas e, provavelmente, contratadas para ajudá-lo. Apenas uma questão pairava sobre minha mente no momento: O que tinha acontecido?

—Não fique parado aí, meu jovem. —O Oh se pronunciara. —Venha, sente-se. —indicou o sofá vazio ao seu lado. Sorri mínimo e tomei um dos lugares do estofado, depositando a minha bolsa em meu colo.

Um minuto de silêncio esmagador se instalou no ambiente e Hyunsik logo tratou de pedir um dos serviçais que estavam ali a postos para trazer-me um chá e assim tivéssemos a devida privacidade para iniciarmos a nossa conversa. Tentei negar o capricho, mas o Oh apenas meneou a cabeça como se dissesse que não aceitaria “não” como resposta. Curvei-me em respeito e me encolhi em meio ao sofá.

O mais velho pigarreou.

—Então, meu sobrinho. —dissera carinhosamente. Era quase como se eu pudesse vislumbrar de uma visão tênue do antigo Hyunsik. Aquele mesmo que se preocupava e dava imenso carinho para o próprio filho. O que nos apoiava imensamente em todas as nossas pequenas aventuras infantis e nunca nos deixava na mão. Bem, até certo ponto. —Como estão seus pais?

A pergunta repentina me fez sobressaltar no estofado onde estava sentado.

—E-eles... —tentei responder de primeira e minha voz falhou. Pigarreei. —Eles estão bem, tio Oh. Ocupados, como sempre. Mas eles sempre mandam cartões postais pra dizer se estão bem, como estão indo as viagens constantes. Coisas do tipo. —acenei a cabeça para dar ênfase.

—Eu sinto muito, filho. —o Oh se lamentou. —Pelos seus pais. Eles ainda não perceberam que o tempo passa, não é?

—Está tudo bem. De verdade. —comentei com sinceridade. —Eu estou quase com meus 30 anos agora, já me acostumei um bom tempo atrás.

Silêncio novamente. Mantive-me cabisbaixo.

—Então... —o mais velho começou. —O que o trouxe aqui, Baekhyun, de maneira tão inesperada?

Suspirei ajeitando a minha postura.

—Novamente, eu lhe peço sinceras desculpas por tudo. —levantei-me do sofá a fim de me curvar e fui o que fiz me sentando novamente minutos depois. —Eu não devia ter vindo aqui perturbá-lo e muito menos ter o agredido. Eu realmente si...

—Baekhyun. —ele me repreendeu e eu me endireitei encarando-o nos olhos. —Já disse que está tudo bem. Eu só quero entender. Entender o que te fez chegar a esse ponto.

Antes que eu pudesse formular alguma resposta, um dos empregados chegara com uma bandeja com duas xícaras de chá e alguns biscoitos. Viera até mim primeiro e eu me curvei em agradecimento ao pegar uma das peças de porcelana. Assim que o serviçal fora em direção à Hyunsik, o mesmo recusou. Estranhei a situação, no entanto não disse nada.

Tomei um pouco da bebida que tinha em mãos em respeito e me surpreendi ao sentir o aroma e o sabor forte de canela e gengibre. Era o mesmo chá que Sehun fazia. Eu realmente não sabia que o mais velho também gostava da receita. Talvez essa fosse uma das maneiras dele de suprir a falta do filho?

—Obrigado pelo chá. —agradeci ao voltar a xícara quase cheia para o pires em minha outra mão e me recompus. Ainda tinha uma pergunta a responder. —Bem... Eu não sei bem ao certo como eu devo explicar isso para o senhor, entretanto não há nenhuma justificativa para o que eu fiz.

—Prossiga. —o outro dissera calmamente.

—Eu me lembrei de algo, algo que aconteceu entre mim, Sehun e você. —confessei. —Mas isso foi há anos, eu não pensei direito e...

—Do que você se lembrou? —questionou firme como se demandasse uma resposta concreta e sincera.

Engoli em seco.

—Não acho que eu deva dizer isso, tio Oh, eu... —um olhar duro fora a mim direcionado. Suspirei exaurido. —Lembrei-me daquele dia em que o senhor nos pegou entrando com material de pintura pelos fundos, quando tinha proibido que o fizéssemos. Quando você tentou me bater e... —hesitei.

—E eu bati no meu filho, no lugar. —completou Hyunsik impassível. Apenas acenei positivamente. —Eu nunca me esqueci daquele dia. —comentou distante.

—Desculpe novamente. —falei. —Acho melhor eu ir embora e...

—Não. —Hyunsik suplicara. —Não vá embora, por favor. Não antes de termos essa conversa. Entendi que você se lembrou de tudo aquilo, mas o que realmente te fez ter essa reação? Ter vindo aqui?

Meu olhar, que antes se intercalava entre a figura de Hyunsik e o redor da sala, se perdeu na xícara de chá em minhas mãos. Senti meus olhos marejarem exacerbadamente e antes que eu pudesse controlar, algumas lágrimas irromperam por meu rosto. As enxuguei rapidamente olhando para o teto alvo para tentar conter o sentimento de saudade que tomava conta de mim e até mesmo o de descontrole.

—Desculpe. —pedi de novo tentando me recompor. Finalmente voltei minha atenção até Hyunsik que encarava tudo aquilo com uma expressão solidária em suas feições. Respirei fundo antes de prosseguir. —Foi Sehun. —confessei. —Eu vim aqui por Sehun.

O mais velho, mesmo estando confuso, apenas fez um sinal para que eu continuasse.

—Como o senhor deve saber, Sehun está fora faz dois anos, ele foi pro Canadá. —comecei. —E eu... —um soluço se fez presente. —Eu não tenho contato com ele desde então, por isso essas lembranças me atingem tão fortemente. Por isso me descontrolei e o agredi hoje. O fiz porque pensei que se eu tivesse feito algo diferente anos atrás, talvez as coisas estivessem diferentes agora.

—Sehun não te contatou por todo esse tempo? —Hyunsik pareceu incrédulo ao dizer aquilo enquanto meneava a cabeça em desaprovação. Tudo o que eu consegui fazer foi concordar. —Então ele realmente fez a escolha errada. —sussurrou.

—Desculpe? —funguei. Não tinha entendido o sentido de sua última declaração.

—Quando meu filho me procurou para que eu pudesse arranjar uma reunião com os sócios das minhas filiais para ele, eu percebi que tinha alguma coisa errada. Fiquei surpreso. —disse. —Tentei obriga-lo por anos a fazê-lo e ele sempre se impôs dizendo que não faria o que não tivesse vontade. Então não entendi o real motivo. Pra ser sincero, nunca pensei que ele deixaria Seul, muito menos você. A ligação que vocês tinham era muito forte.

Eu também achava que era, foi inevitável pensar àquela etapa.

—Durante muito tempo eu tentei destruir o sonho de Sehun. —comentou. —Tentei fazer isso antes que o sonho dele o destruísse. Eu fui um mau pai, até mesmo egoísta, mas eu realmente pensei que estava fazendo o melhor pra ele. Então eu percebi, percebi que havia inúmeras maneiras de alertá-lo, ajuda-lo sem o machucar. No entanto, eu vejo agora que foi tarde demais.

—Eu realmente não estou entendendo nada do que o senhor está dizendo. —disse em afobação. —Você tentou destruir o sonho de Sehun? O da pintura? Mas... —tentei ligar os pontos que tinham sido expostos e acabei focando-me em uma das coisas que me chamara atenção. —Destruir o sonho de Sehun antes que o sonho dele o destruísse? O que você quer dizer com isso?

—Sehun esteve comigo dias antes de ir embora. Acho que ele precisava deixar algumas coisas esclarecidas antes de ir, e agora entendo o porquê. Talvez ele não fosse voltar. —Hyunsik continuou a dizer como se tivesse a juntar peças de algum quebra cabeças em sua mente e eu continuei a não entender onde ele queria chegar. —Quando ele me disse que faria seu tratamento com o auxílio e o apoio de sua mãe no Canadá, que trabalharia lá, dizendo que era o que ele mais precisava no momento, eu não entendi o motivo. Disse a ele que ele estava cometendo um grande erro indo embora repentinamente daquela maneira. Ele não me ouviu.

—Tratamento? —questionei agoniado com a minha garanta seca sustentando aquele estado de sufocamento. —Que tratamento? —repeti. —De que tratamento você está falando, Hyunsik?

—Ele não te contou? —o mais velho pareceu ficar ainda mais desorientado, uma palidez doente lhe tomando conta do rosto. —Sehun, meu filho... O que você fez? —repreendeu levando uma das mãos, agora trêmulas, até a própria testa e massageando as têmporas por último.

—Por favor, me diz o que está acontecendo! —pedi em desespero.

—Ah, Baekhyun... —ele lamentou.

—Por favor, não me deixe no escuro também, tio Oh. Você precisa me dizer! —o implorei.

—Assim como eu, Baekhyun...—disse em pesar ao encarar-me nos olhos, os ombros caídos em profunda tristeza e amargor. —Sehun tem Parkinson.

E a única coisa que se fez audível fora o baque forte da xícara que eu tinha em mãos se chocando contra o assoalho e se desintegrando em um quebra-cabeça impossível de ser montado ou consertado. Exatamente como eu havia ficado naquele momento. Quebrado.


Notas Finais


Pela primeira vez eu não sei o que falar pra vocês. De verdade. A revelação nesse capítulo conseguiu retirar de mim qualquer explicação, qualquer palavra. A verdade foi descamada, foi exposta. O que tanto queríamos saber e acompanhamos o Baekhyun em angústia a estória inteira tentando descobrir, veio à tona. E eu não sei o que dizer.

Reler esse capítulo causou um grande impacto em mim. Agora que eu o postei então... Realmente estou sem palavras. Tudo deve fazer sentido a partir de agora. Lembram do episódio em que Oh surtou e estava quebrando todo o ateliê?

E é com isso, com essa falta de palavras, que eu, pesarosamente, digo que Decalcomania está chegando em reta final. Gente, eu nunca adiei tanto algo, como essa situação. Cortei capitulo no meio, demorei a escrever, mas acontece. Tudo tem um fim, não é? Meu coração tá bem pesado, to acabada, mas to satisfeita com o meu percorrer até aqui. Espero não decepciona-los com o final quando ele chegar. De verdade. De coração.

Então é isso, espero que tenham gostado e já peço desculpas pelos coraçõezinhos que quebrei. Nunca foi minha intenção!

Amo vocês demais. Muito mesmo e agradeço, na verdade serei eternamente grata por cada comentário. Cada fav, cada leitura. Obrigada por todo o apoio, obrigada por tentarem entender o meu Baekhyun. Obrigada por tudo!

Beijinhos e (tá doendo, gente) até a próxima atualização!

Ps: pra quem quiser saber mais sobre o Parkinson, pra entender melhor aqui está o link: https://minutosaudavel.com.br/o-que-e-mal-de-parkinson-sintomas-tratamento-causas-e-mais/


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