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História Deja Vu | SUNSUN - Hope Ur Ok


Escrita por: attplease

Notas do Autor


Oi, sumidos...
Falo com vocês nas notas finais, okay?

E aviso!!!

Na metade do capítulo, acontece um diálogo com menção a homofobia, então quero deixar esse aviso caso seja gatilho para algum leitor. Não hesite em pular caso não se sinta confortável em ler sobre!

Capítulo 10 - Hope Ur Ok


Kim Sunoo

"Não é novidade para ninguém que Jake Shim tem um histórico extenso por aí, mas beijar a irmã de um amigo às escondidas estava incluso na lista de Jake?" aquelas eram as palavras escritas em um post do Instagram, esse que eu encarava na tela do meu celular.
A conta só possuía aquela publicação, não havia mais nenhuma informação nela, nem uma foto de perfil, nada. Era apenas uma postagem com uma foto de péssima qualidade onde Jake e Jang-Mi estavam aos beijos.

— Será que essa pessoa sabe que isso daqui é a vida real? Não estamos em um Spin-off mal feito de Gossip Girl. — Sunghoon fala ao meu lado, parecendo frustrado quando apoia os braços na mesa do laboratório em que estávamos.

Aquele havia se tornado um dos lugares que ficávamos juntos na escola sem que ninguém nos atrapalhasse. Sunghoon descobriu que a sala ficava totalmente desocupada durante o intervalo, o acesso era fácil e só precisávamos cuidar o horário, saindo cinco minutos antes da sirene tocar para não darmos de cara com nenhum professor. Câmeras também não eram uma preocupação, nenhuma havia sido instalada naquela sala.

E quanto aos nossos amigos, eles estavam ocupados demais se evitando para se importarem com nós dois. Palavras de Riki, não minhas.

— E você esperava o que de alunos do ensino médio? — fiz uma careta ao bloquear o meu celular, deixando o aparelho em cima da mesa e encarando Sunghoon. — Mas você e eu sabemos que essa aluna tem nome.

— Yeji. — a voz de Sunghoon sai irritada novamente. — Eu até discuti com o Jake no caminho até em casa, o Yeonjun teve que pedir 'pra gente calar a boca.

— Você brigou com ele também? — fiz uma careta e me virei de costas para a mesa, apoiando meus braços nela quando peguei um impulso para me sentar em sua superfície. — O Jay não sentou com a gente hoje, o Heeseung não sabia se falava com o Jungwon, cada um ficou de um lado... — respirei fundo. — E eu fiquei entre todo mundo.

— Não foi uma briga séria, mas alguém precisava colocar algum juízo na cabeça dele. — o garoto entorta os lábios, se virando para mim quando se afasta da mesa e se encaixa no espaço entre minhas pernas, pousando as mãos em minha cintura. — Essa divisão de hoje 'tá me irritando, é um saco quando dois amigos brigam e você precisa ficar de um lado só. Agora nem desculpa 'pra falar com você eu tenho.

— Ei, eles vão se resolver, tudo bem? O Jake pisou na bola, mas eles não podem brigar 'pra sempre.  — sussurrei quando envolvi meus braços no pescoço do mais velho, brincando com meus dedos nos fios de cabelo de sua nuca. Ele se mantinha sério. — O que você vai fazer depois da aula?

— Eu não sei, provavelmente ouvir o Jake reclamando de não ter visto a Jang-Mi hoje, já que ela faltou. — ele respira fundo, mas dá um pequeno sorriso quando sente os meus dedos em seu cabelo. — Por que a pergunta?

— É que eu pensei em fazermos alguma coisa, você sabe... apenas nós dois. — eu digo em um sussurro, observando um sorriso crescer no canto dos lábios de Sunghoon.

— Você 'tá me chamando 'pra um encontro, Kim Sunoo?

Eu revirei os olhos.

A risada de Sunghoon ocupa meus ouvidos, e antes que eu o afastasse de mim pela provocação, ele segura mais firme em minha cintura, fazendo meu corpo deslizar na mesa e se aproximar mais dele. E só então, ele fala:

— Eu quero, de verdade. — ele sussurra, afastando as mãos para apoiar uma em cada lado do meu corpo, agora se inclinando em minha direção. — Eu só pensei que eu seria o primeiro a sugerir isso, não você.

— Não é um encontro, eu só iria chamar você 'pra assistir um filme lá em casa. — eu disse, levando minhas mãos até as dele e fazendo com que ele voltasse a posicioná-las onde estavam antes. — Por que? Você tinha alguma coisa em mente?

— Não precisa ser nada extravagante 'pra ser um encontro. — Sunghoon faz uma careta adorável, me fazendo sorrir por ele pensar daquela forma. — E sim, eu tinha algo em mente. Mas preciso confirmar antes, então não vou te contar ainda.

— Sunghoon! — juntei as sobrancelhas. — O que você quer dizer com isso? Não me deixe curioso, por favor.

— Nada, deixa 'pra lá. — ele balança a cabeça, rindo baixo. — Você vai saber depois.

— Eu te odeio. — fiz uma careta e afastei as mãos dele do meu corpo. — De verdade.

— Você odeia, é? — ele pergunta e volta a apoiar as mãos em cada lado de meu corpo na mesa.

Me sentir confortável com Sunghoon já estava se tornando um costume. Mesmo que o meu corpo reagisse a todos os toques dele, eu queria mais. E mesmo que nenhum de nós falasse explicitamente, eu sabia que aquilo estava começando a ir além de um "vamos ver até onde isso vai dar", nós dois já estávamos envolvidos, mas continuaríamos indo devagar.

Não tínhamos pressa para nada.

— Sim, eu odeio. Você não vai mesmo me falar o que é? — tentei perguntar mais uma vez, vendo o mais velho negar com a cabeça várias vezes.

— Não é nada demais, relaxa. Eu só... — ele para de falar de repente, seus olhos se arregalam em direção da porta e, em seguida, ele rapidamente afasta o corpo do meu. Antes que eu tentasse falar algo, Sunghoon se esconde por trás da mesa e leva o dedo indicador em frente aos lábios, apontando discretamente para a porta com a outra mão.

Foi nesse momento que o meu olhar automaticamente seguiu até a porta.
Uma professora estava parada do outro lado enquanto conversava com alguém. E quando peguei o meu celular na mesa, verifiquei o horário, vendo que ainda faltavam quinze minutos para o intervalo terminar. De todo jeito, ela estava lá e nós dois não poderíamos ser vistos sozinhos e sem uma explicação.

Eu usei as minhas mãos para descer da mesa em que eu estava sentado, ouvindo no mesmo momento o barulho da porta sendo aberta. Meus olhos se fecharam em um rápido segundo enquanto eu me xingava mentalmente por ser pego ali, mas eu teria que agir normalmente para que ela não acabasse vendo que Sunghoon estava embaixo de mim, ainda escondido.

— O que está fazendo aqui, Sunoo? — a mulher segurava a maçaneta com uma mão enquanto alguns materiais estavam na outra. — Não é permitido que alunos fiquem nas salas durante o intervalo.

— Professora, eu... — tentei procurar as palavras corretas, mesmo sabendo que eu era um péssimo mentiroso. — Eu estava procurando pela senhora, na verdade. Me disseram para esperar aqui, então eu achei que não iria ter nenhum problema, me desculpa.

— Por mim? — ela arqueia as sobrancelhas, se aproximando da mesa em que eu estava. — Qual sua dúvida?

Eu pensei por alguns segundos, observando a mulher arquear mais ainda as sobrancelhas enquanto se aproximava.

— Lá fora! — aumentei o tom de voz por impulso, acabando por dar um pulo que certamente assustou a mulher, porque ela parou de andar no mesmo segundo. — Eu quero conversar com a senhora lá fora, é isso! — eu agora tinha um sorriso desajeitado em meu rosto.

— Tudo bem, eu acho — ela me olha estranha. — Mas por que lá fora?

No mesmo momento, me aproximei e a fiz virar em direção da porta, levando minhas mãos até o ombro da mais velha e a guiando até a saída enquanto uma risada nervosa escapava entre meus lábios. Ela provavelmente estava me achando maluco.

— Não quero arrumar nenhum problema 'pra senhora. Nenhum aluno é permitido nas salas durante o intervalo, não é? — virei o rosto para trás ao falar, observando os olhos curiosos de Sunghoon quando o garoto tenta espiar por trás da mesa. Em seguida, comecei a acenar com a cabeça em direção da porta que ficava do outro lado da sala, fazendo sinal para que ele passasse por ela enquanto eu distraía a mulher.

— Isso foi antes de você... — ela dá uma pausa. —  Poderia me soltar, por favor? — minhas mãos se afastam dos ombros dela no mesmo momento, então ela continua: — Isso foi antes de você me dizer o que queria, mas é até melhor aqui fora. O que você queria me perguntar? Eu preciso preparar a minha aula antes do intervalo terminar.

Continuei a agir da forma mais atrapalhada possível quando apoiei minha mão na parede, respirando fundo antes de respondê-la:

— É que eu acabei lembrando de uma das aulas que tivemos aqui no laboratório... — meu olhar foi até Sunghoon, o garoto levantou em silêncio e parecia pisar delicadamente no chão quando começou a caminhar até o outro lado da sala. — E sabe, eu acho que realmente passei a me interessar mais por química.

— Mesmo? — ela parecia animada, mas logo voltou a ficar séria. — Bem, isso é bom. Assim você pode focar mais em melhorar as suas notas do ano passado.

Que humilhação. Já não bastava eu estar tentando esconder um garoto dela, eu também estava ouvindo o quão ruim eu era em química.

— É, professora, eu acho que finalmente caí na real, sabe? — soltei uma risada fraca, coçando a garganta quando vejo que Sunghoon estava saindo pela porta, torcendo mentalmente para que a mulher não virasse para o outro lado e o enxergasse ali.

Eu estava olhando para ela, mas quando tentei olhar para dentro do laboratório novamente, ele estava completamente vazio. Sem sinal de Sunghoon.

— E como você pretende começar com isso? Eu tenho algumas atividades que seriam ótimas, eu posso te mostrar e... — a mulher é interrompida por barulhos de passos no corredor, esses que são substituídos por uma voz bastante familiar:

— Sunoo! Cara, eu finalmente te encontrei. Onde você se enfiou? — Sunghoon se aproxima mais de onde estávamos, e eu não fazia a mínima ideia de onde ele havia saído, mas lá estava ele. — Oi, professora. Acho que não nos conhecemos muito bem, sou Park Sunghoon, me transferi há um tempo.

O garoto passou um dos braços por meu ombro, se parando ao meu lado e encarando a professora com um sorriso cínico nos lábios. Ele poderia ganhar um Oscar pela cara de pau de fazer aquilo depois de praticamente quase ser pego.

— Eu sei quem você é, Sunghoon. Mas seja bem vindo, de qualquer forma. — ela parecia confusa com a mudança de assunto, mas volta a me encarar. — Acho melhor conversarmos depois, Sunoo. Eu preciso mesmo organizar as coisas, mas o laboratório vai sempre estar aberto para te receber.  — ela dá uma pausa, mas finaliza: — Para estudos.

— Claro, para estudos. — repeti as palavras dela, mantendo o sorriso em meu rosto. — Até mais, professora.

Soltei um suspiro de alívio quando a mulher virou de costas e seguiu para dentro da sala, em seguida, levei o meu olhar devagar até o garoto ao meu lado. Ele tinha um sorriso ladino nos lábios, como sempre parecendo estar se divertindo com qualquer situação em que se encontrava.

— Desde que eu conheci você qualquer situação nessa escola é caótica e engraçada. — ele começa a falar. — Sempre foi assim?

— Engraçado você falar isso, porque só começou a acontecer depois que você chegou. — entortei o nariz e afastei o braço do mais velho de meu ombro, olhando em volta daquele corredor silencioso e vazio. — É a segunda vez que eu preciso mentir pra um professor por sua causa. — sussurrei em um tom divertido e peguei no braço de Sunghoon, puxando o garoto para longe do laboratório.

— E você mente muito mal, garoto. É sério. — Sunghoon diz, me fazendo revirar os olhos. — Chega a ser engraçado.

— Da próxima vez eu vou deixar você ser pego, garoto. — dei ênfase na última palavra, imitando o jeito que ele havia me chamado. — Qual é a próxima aula mesmo?

Quando soltei o braço de Sunghoon, já não estávamos mais no corredor, e sim no refeitório. Meus olhos percorreram por todos os alunos que estavam espalhados naquele espaço, não fazendo a mínima ideia de onde meus amigos estavam, ou melhor, onde cada grupo sentou.

De qualquer forma, não iria demorar muito para eu precisar ir embora dali já que faltavam poucos minutos para o intervalo terminar.

***

Eu usava o uniforme de educação física, mais especificamente o do time de basquete, já que era o que iríamos jogar.
O professor decidiu que iríamos começar a focar em apenas um esporte por mês, e depois de um sorteio, foi decidido que seria basquete.
O uniforme era todo branco, com detalhes da cor verde e amarelo nas mangas enquanto "Wall" ficava escrito no centro da camisa, exatamente como qualquer outro uniforme padrão.

As aulas de educação física da nossa turma eram sempre um caos, mas naquele dia em específico as coisas pareciam mais bagunçadas ainda. Sunghoon estava certo quando disse que desde que me conheceu, as situações em que se encontrava eram sempre caóticas e engraçadas, mas dessa vez, não havia nada engraçado. Era apenas um clima estranho que acabou piorando quando o professor separou os times do dia:

— O time termina com Sunghoon, Jungwon e Jake. — o homem diz enquanto segurava o apito que estava preso em um cordão em seu pescoço. — Sunoo, Heeseung e Jay ficam do outro lado, entendido?

Encarei Sunghoon no mesmo momento, ele estava acompanhado dos outros meninos, do outro lado da quadra. Do meu lado, Heeseung e Jay conversavam sobre quem marcaria quem com os outros dois garotos do nosso time. Não era um jogo tão sério assim, ninguém ali era especialista no esporte, então o professor apenas explicou o básico para que ninguém se perdesse no que iria acontecer. Mas eu sabia que a competitividade dos meus amigos iria falar mais alto.

Park respirou fundo por um momento, e acredito que o mais velho pensava a mesma coisa que eu sobre a escolha do professor: aquilo já estava cansativo antes mesmo do jogo começar. Mas não pelo esporte, e sim pelo jeito que Jake e Jungwon se encaravam no momento, ambos com raiva por estarem no mesmo time.

Haviam se passado poucos dias desde que Jungwon descobriu sobre Jang-Mi e Jake, e sinceramente, nem eles deveriam estar aguentando mais aquela situação, mas eles continuavam e nada acontecia, nem uma conversa.
Era a segunda vez na semana que a garota estava faltando aula e ninguém sabia ao certo o que estava acontecendo. Para ser sincero, não é muito que se saiba sobre a relação da família Yang, o mais próximo de saber algo era Jake, e agora eles estavam em pé de guerra.

— Isso não vai dar bom. — Heeseung diz ao se aproximar de mim, apoiando uma das mãos em meu ombros. — Anota o que eu 'tô falando. — o tom de voz dele era baixo, como se estivesse contando um segredo para mim. E então, ele se afasta novamente e dá uma rápida corrida até o meio da quadra.

— Certo, vamos começar. — o professor diz. Ele segurava a bola de basquete com as duas mãos.

Sunghoon e Heeseung foram os escolhidos para o lançamento da bola no ar que dava início à partida, os mais altos de cada time eram sempre os preferidos nesse momento. Então ao ser jogada para cima, o mais rápido a pegar a bola começaria com vantagem.

Eu não era o melhor jogador de basquete do mundo, apenas entendia regras básicas do tempo em que eu acompanhava o meu pai em jogos. Ele sempre foi fascinado pelo esporte, até jogava quando mais novo, o que acabou sendo uma das coisas que o influenciou a trabalhar com jornalismo, ele costuma ser da área de esportes no trabalho.

— Quer fazer uma aposta? — Sunghoon pergunta de forma desafiadora para Heeseung, os dois se encaravam no meio da quadra.

— Qual? — Lee parecia interessado.

— O time perdedor vai pagar os lanches do time vencedor até o final da próxima semana, todo intervalo. — Park responde.

Heeseung solta uma risada.

— Isso é injusto, esqueceram que vocês são os ricos do grupo? — ele pergunta.

— É melhor se esforçarem 'pra ganhar, então. — Sunghoon diz em um tom divertido, dando uma piscadinha para o garoto.

— Beleza, não vamos perder. — Heeseung entra na brincadeira, abrindo um sorriso para o outro time.

— Deixando claro que eu nunca concordei com isso. — Jay se intromete na conversa ao se posicionar no lugar dele na quadra.

E quando a bola foi jogada no ar, Sunghoon foi quem saiu na vantagem ao pular e conseguir entregar a bola para Jake, oficialmente dando início ao jogo.

***

Estávamos perdendo por cinco pontos.
O professor deu o tempo de vinte minutos para jogarmos, depois disso teríamos que misturar os times e fazer tudo de novo, então apenas aquela rodada iria estar valendo na aposta.

O problema era que Jake realmente era bom, o Australiano estava fazendo quase todas as cestas como se fosse a coisa mais fácil do mundo, e aquilo estava me frustrando. Eu não era competitivo em jogos como esses, mas ninguém gosta de perder.

— Passa a bola! — Jake gritava para Jungwon.

Shim era o único livre, e era eu quem estava marcando Yang enquanto ele quicava a bola sem parar em minha frente. Eu já não sabia mais se aquilo era permitido, então tentei tirar a bola das mãos dele, que em um ato de desespero acabou jogando a bola para Sunghoon, que foi impedido de pegar quando Jay agiu mais rápido e roubou a bola, levando-a até a linha de três pontos e completando a jogada com sucesso quando faz uma cesta.

Meu time automaticamente começa a comemorar.

— Qual é a merda do seu problema, cara? Eu 'tava livre. — a voz irritada de Jake se espalha pela quadra, o Australiano encarava Jungwon, que apenas deu de ombros de forma debochada e correu até um dos garotos do time rival, marcando-o segundos antes do jogo voltar.

Jake respirou fundo, ele parecia estar tentando se controlar. Jungwon tinha os motivos dele para agir assim, mesmo eu achando que descontar suas frustrações no jogo não era a melhor opção. Mas quem sou eu para julgar, não é? É melhor aquilo acontecer durante o jogo do que fora dele, eu acho.

— Cara, só se liga no Heeseung e fica na sua, não quero ninguém indo pra detenção hoje. — Sunghoon diz em um tom impaciente para Jake, não se importando se iriam o escutar.

Após a cesta de Jay, Sunghoon passa a bola para Jake e o jogo volta a acontecer.
Shim era rápido, o que dificultava a minha tentativa de acompanhá-lo, mas eu continuei tentando tirar a bola dele enquanto ele quicava a bola no chão. E quando tentei novamente, ele passou a bola para o outro garoto do time dele, me fazendo suspirar e voltar a correr novamente.

Os segundos seguintes foram tão rápidos que eu quase não consegui acompanhar com os meus olhos. Heeseung conseguiu roubar a bola e a levou até o outro lado, todo o time o acompanhou. Em um descuido do rival, o meu marcador me deixou sozinho e Lee aproveitou o momento para passar a bola para Jay, que passou a bola para mim e, só então, eu não perdi tempo em arremessar para a cesta, torcendo para que eu não errasse.

Heeseung e Jay vibraram, eu havia acertado.

— Nada mal, Kim Sunoo. — Sunghoon diz ao passar por mim, sorrindo de forma provocativa enquanto caminhava de costas em direção da tabela, recebendo do professor a bola que eu havia acabado de acertar na cesta.

E eu não sabia que alguém conseguia ficar tão atraente jogando basquete até ver Park Sunghoon em ação, além de tudo me provocando no meio de uma partida. Mas eu iria ignorar isso por enquanto, meu foco ali era ganhar o jogo e não precisar pagar lanche para ninguém por uma semana depois.

Mas algo me dizia que alguma coisa daria errado, e eu tive essa confirmação quando Jake e Jungwon não estavam onde deveriam estar na quadra. De repente, os dois garotos estavam empurrando um ao outro pelo ombro, disputando quem receberia a bola que Sunghoon tinha em mãos. Eu esperava ver aquela cena em qualquer turma, menos no último ano.

— Vocês têm cinco minutos. — o professor aumenta o tom de voz, chamando a atenção dos garotos. — É melhor pararem com isso.

— Desculpa, professor. — Jungwon é o único que responde, lançando um olhar nada amigável para Jake ao se afastar e deixá-lo livre para receber a bola.

Confusão e mais confusão.
Depois que tudo volta ao "normal", o tempo do professor começa a diminuir cada vez mais. O nosso time precisava de apenas três pontos para virar o jogo e ganhar a aposta, e tudo parecia mais fácil agora que Jake e Jungwon continuavam implicando um com o outro e não focando no jogo como estavam no começo.

E foi nesse momento que em um descuido, o jogo não teve como continuar.
Jake estava com a bola e precisava passá-la para alguém, mas acredito que seu ego resolveu dar o troco em Yang que estava livre, e como se eu já tivesse visto aquela cena antes, ele passou a bola para Sunghoon, que ao tentar pular para não perder para Jay novamente, pisou em falso e torceu o pé, dando apenas para escutar o barulho do impacto de seu corpo com o chão da quadra, sendo acompanhado por um gemido de dor.

Eu me assustei no mesmo momento, não hesitando em correr em direção de Park, que tinha uma careta no rosto enquanto segurava o próprio tornozelo com força.

— Porra, Jake. Que merda você fez? — Jungwon diz e me acompanha em direção de Sunghoon, se agachando em frente à ele. — Você 'tá bem, cara?

— Ah, eu 'tô ótimo, melhor impossível. — Sunghoon diz em um tom completamente irônico, fazendo uma careta de dor logo em seguida.

— Eu não fiz nada, eu só passei a bola 'pra ele, quem começou foi você. — Jake se aproxima dele também, e quando eu percebi, todos estavam em volta de Sunghoon, inclusive o professor.

— Agora não importa de quem foi a culpa, ajudem o Sunghoon! — o professor se irrita com a pequena discussão dos dois garotos. — Levem ele até a enfermaria, rápido!

Sem discussões, Jake e Jungwon deixam a intriga de lado para ajudar Sunghoon.
O garoto de cabelos escuros foi carregado por eles, sendo levantado do chão para apoiar os dois braços em cada um deles. 
E assim, todos seguiram até a enfermaria.

Ela ficava propositalmente próxima do ginásio onde estávamos, a maioria das pessoas que precisam ir até lá eram os alunos que se machucavam em alguma aula de educação física, e foi o caso de Sunghoon.

O garoto já estava visivelmente irritado com a briga de Jake e Jungwon, então eu não conseguia imaginar o quanto isso havia aumentado depois dele se machucar por conta deles.

— Vocês todos estão acompanhando ele? — a enfermeira pergunta, Sunghoon estava sentado em uma maca de frente para ela. Ela tinha uma bolsa de gelo em mãos e a aproximava do tornozelo do garoto.

— Estamos. — Heeseung é quem responde.

Quando meu olhar segue até o nosso reflexo no espelho da enfermaria, Jay, Jake, Jungwon, Heeseung e eu estávamos todos parados um do lado do outro enquanto encarávamos Park, que tinha uma expressão visivelmente irritada no rosto. 

— Vou pedir que somente um de vocês fique com ele aqui, vocês precisam voltar 'pra aula. — ela diz após passar o olhar por todos nós. — Ele apenas torceu o tornozelo, não foi nada demais e vai melhorar logo. Só peço que fique um, é regra da enfermaria em casos como esse.

— Tudo bem, vocês podem ir. — Jake diz ao se virar para todos nós.

Sunghoon solta uma risada logo em seguida, mas não havia humor nela.

— Não, eu não quero nenhum de vocês aqui. — ele faz uma careta enquanto segurava a bolsa de gelo contra o tornozelo. — Eu quero que o Sunoo fique.

Meus olhos se arregalaram assim que o escutei, observando os meus amigos fazerem a mesma coisa.

— O que foi? — Sunghoon dá de ombros. — Eu machuquei o meu tornozelo por causa de vocês dois. — com a bolsa que segurava, ele aponta para Jake e Jungwon, fazendo respingar um pouco de água neles.
— E vocês. — ele aponta para Jay e Heeseung. — Podem consolar eles lá fora. O Sunoo não me fez nada.

— Palavras dele, não minhas. — levantei às mãos.

E enfim, todos fazem o que a enfermeira manda, me deixando sozinho com Sunghoon quando voltam para o resto da aula de educação física.

— Você 'tá bem? — foi a primeira coisa que perguntei ao me aproximar da maca, a enfermeira também nos deixou sozinhos, mas estava na sala ao lado.

— Eu 'tô sim. — ele diz, batendo ao lado dele na maca para que eu me sentasse ali, e eu me sentei. — Eu só não queria eles perto de mim, eu realmente me irritei.

— Eu também me irritaria, aposta quanto que devem estar discutindo agora sobre quem foi o culpado deles terem sido expulsos da enfermaria? — eu ri baixo e levei o olhar até o local que ele havia machucado, fazendo uma careta. — Deve estar doendo.

— Sim, mas 'tá doendo menos do que há alguns minutos. — ele vira o rosto para mim. — Mas se você pretende cuidar de mim... — ele solta um gemido falso de dor. — Nossa, 'tá doendo muito, eu acho que não vou conseguir andar hoje.

Eu revirei os olhos.

— Você consegue ser idiota até em momentos como esses? — falei em meio à uma risada, dando um pequeno empurrãozinho em seu ombro. — Mas é sério, podemos remarcar o filme de hoje 'pra outro dia.

— Não precisa, é sério. — ele insiste. — Eu 'tô contando com isso 'pro meu dia não ser totalmente ruim e eu não acabar xingando o Jake quando chegar em casa. — ele ri baixo. — É sério.

— Tudo bem. — abri um pequeno sorriso. — O filme está de pé, então.

***

Eu só havia aceitado pegar um Uber até a minha casa porque Sunghoon estava com o tornozelo machucado.
Como combinado, ele iria até a minha casa após a aula e iríamos assistir a um filme juntos, ou apenas iríamos jogar conversa fora já que não tínhamos tempo o suficiente para isso na escola. E sim, eu estava um pouco nervoso quanto a isso, não iria mentir.

Primeiro porque eu e Sunghoon nunca havíamos feito nada disso antes, nós nunca ficamos sozinhos por tanto tempo assim, nem quando estávamos na festa, lá rolaram mais beijos do que conversa. E segundo, foi eu quem tomou coragem e o convidou para vir até a minha casa. Isso já diz muita coisa, eu realmente não queria que ele acabasse desistindo daquilo por pensar que eu não tinha tanto interesse quanto ele tinha em mim, então eu precisava demonstrar de alguma forma, mesmo que do meu jeito.

Mas havia uma terceira coisa que eu não cheguei a pensar antes de convidá-lo: os meus pais estariam lá. E se ele me achasse um maluco por fazê-lo conhecer os meus pais? Tudo bem que ele já conhecia a minha mãe, mas era diferente, não é? Não sei.

— Ah, e eu esqueci de um detalhe... — falei enquanto caminhávamos juntos até a porta de entrada da minha casa, me parando em frente a ela e me virando para Sunghoon, o garoto já caminhava normal, apenas mancava de leve de vez em quando.

— Qual detalhe? — ele pergunta.

— O meu pai voltou de viagem, então você provavelmente irá vê-lo hoje. — soltei uma risada nervosa, logo ficando sério. — Mas isso não quer dizer nada, tudo bem? Eu só estou avisando, não chamei você aqui porque queria te pressionar em conhecê-los nem nada do tipo, eu nem lembrav...

— Sunoo. Fica calmo. — Sunghoon me interrompe e leva a mão até o meu ombro. — Eu entendi, de verdade. — ele ri baixo. — Só vai ser estranho encarar os seus pais depois de beijar você, mas eu acho que consigo lidar com isso.

— Tudo bem. — soltei todo o ar que eu guardava em meus pulmões, agora segurando na maçaneta da porta. — A minha mãe é super tranquila, mas talvez isso mude um pouco quando ela 'tá com o meu pai, então...

Encarei Sunghoon uma última vez antes de abrir a porta, dando espaço para o garoto entrar e o seguindo logo depois.

De primeira, pareceu que a casa estava vazia, mas quando nos aproximamos mais da sala, duas risadas se misturavam com as vozes da televisão. Minhas sobrancelhas arquearam e eu olhei para Sunghoon por um momento, apontando com a cabeça para que ele me seguisse até aquelas vozes.

— Você era exatamente assim quando nos conhecemos, amor. — o meu pai falava, isso segundos antes de eu aparecer no campo de vista deles.

Minha mãe e meu pai estavam sentados um ao lado do outro no sofá, e aquilo me deu uma nostalgia gigantesca de quando nós três fazíamos o mesmo. Costumávamos assistir séries coreanas por horas enquanto comíamos Pepero, um doce em forma de palito coberto de chocolate que meu pai sempre trazia para mim, mas perdemos o costume de fazer todas aquelas coisas conforme os anos se passaram.

— Oi meu amor, você chegou! — minha mãe abre um sorriso assim que me vê passando pela porta, mas parece surpresa quando vê Sunghoon ao meu lado. — Ah, os meninos irão vir aqui hoje?

— Na verdade, só o Sunghoon veio. — abri um sorriso fraco. — Pai, esse é o meu amigo, Park Sunghoon. Ele se transferiu há um tempo de Seul.

— Finalmente, a sua mãe vivia falando que você fez amigos novos, algum deles eu precisava conhecer. — meu pai se levanta do sofá juntamente com minha mãe, ambos estavam com um sorriso no rosto. Pareciam estar de bom humor naquele dia. — Já se acostumou com Odhen, Sunghoon?

— Sim, senhor. — Sunghoon solta uma risada baixa, e pela primeira vez, ele parecia estar nervoso. — Eu costumava vir aqui algumas vezes já que o meu melhor amigo mora na cidade.

— E você está se dando bem com a casa nova? — minha mãe pergunta.

Eu sabia onde aquilo iria terminar, meus pais às vezes perguntavam coisas além do necessário e eu não queria que Sunghoon se sentisse desconfortável, mesmo que a intenção deles fosse boa. Minha mãe provavelmente já havia comentado com o meu pai sobre a situação dos meus amigos, eles contavam tudo um ao outro.

— Mãe, não queremos atrapalhar vocês. — me intrometi na conversa, sorrindo desajeitado. Em seguida, apoiei a minha mão no ombro de Sunghoon. — Então nós vamos subir 'pra sala de leitura, podem voltar a assistir o programa de vocês, tudo bem? Amo vocês.

— Mas... — minha mãe fala.

— Prazer em conhecê-los, Sr. e Sra. Kim. — Sunghoon faz uma rápida reverência para os dois antes de eu puxá-lo comigo até as escadas.

— Deixe eles, Nabi. Os jovens de hoje em dia não passam muito tempo conversando com adultos. — aquelas são as últimas coisas que eu escuto do andar de baixo.

Não demorou para finalmente estarmos dentro da sala de leitura, e assim que Sunghoon passou pela porta, eu a fechei, não deixando de rir ao falar:

— Sim, senhor. — tentei imitar a forma que o garoto havia falado com o meu pai, vendo Park revirar os olhos dramaticamente.

— Calado, Kim Sunoo. — ele diz no momento em que se joga em uma das almofadas gigantes que estavam espalhadas no chão, deixando a mochila que ele carregava logo ao lado. — Os seus pais devem me achar um antipático por ter saído daquela forma. — ele faz uma breve careta.

— Eu quem puxei você comigo, eles não vão pensar assim. — falei enquanto deixava a minha mochila em um canto da sala, me jogando ao lado de Sunghoon na almofada. — Eu salvei você de inúmeros questionamentos, acredite. Eu conheço os meus pais.

Estávamos ambos deitados de barriga para cima e com as mãos em cima da barriga, encarando o teto da sala. Alguns dias depois que ela ficou pronta, eu colei alguns adesivos que brilhavam no escuro, todos eram em formato de estrelas. Eu tive essa ideia porque lembrei do quanto eu gostei de olhar para elas no planetário.

— O seu tornozelo 'tá melhor? — perguntei após alguns segundos, virando o rosto para ele.

— Nada insuportável, não 'tô sentindo mais nada. — ele dá uma pausa, me olhando como se estivesse curioso. — Onde você aprendeu a jogar basquete?

Soltei uma risada.

— Aquela cesta foi sorte, eu sei apenas o básico. — respirei fundo. — O meu pai é fã do Bulls, então eu assistia alguns jogos com ele. Mas seria mais confiável eu te dizer que tudo o que eu aprendi foi assistindo High School Musical. — meu tom de voz era divertido. — Vai, Wildcats! Sabe?

— Wildcats? — é a vez de Sunghoon rir.

— O quê? Vai me dizer que você nunca assistiu High School Musical? — olhei para ele sem acreditar.

— Eu tenho medo da sua reação depois de ouvir a minha resposta. — ele diz, me fazendo entreabrir os lábios, chocado.

— Não acredito que eu já beijei você, cara. — me sentei na almofada, ouvindo Sunghoon rir com o drama que eu estava fazendo.

— Ah, qual é? — ele me puxa pelo braço, me fazendo apoiar uma mão no chão quando caí por cima dele, nos deixando cara a cara. — Você me beijaria de todo jeito, Sunoo.

— Cara, de onde você tira toda essa confiança? — soltei uma risada, totalmente incrédulo. O garoto abriu um sorriso.

— Não sei, cara. — ele imita a forma que eu frequentemente o chamava. — Mas eu também beijaria você, até se me dissesse que nunca assistiu Star Wars.

— Eu literalmente nunca assisti Star Wars. — fiz uma careta.

— Como assim você nunca assistiu Star Wars? — ele me olha tão incrédulo quanto eu estava antes. — Como eu já beijei você?

Aquilo me fez dar uma gargalhada sincera.

— Você é muito idiota. — revirei os olhos, o empurrando pelo ombro ao sair de cima dele, me sentando novamente ao seu lado. — Vamos fazer assim... você assiste High School Musical, eu assisto Star Wars.

— Já achamos o que assistir hoje. — ele abre um sorriso nos lábios. — Star Wars primeiro, por favor.

— Nunca! Vamos começar com High School Musical. — abri um sorriso para ele, que apenas jogou a cabeça para trás e suspirou, não indo contra o que eu havia decidido.

Me levantei rapidamente de onde eu estava e fui procurar pelo controle da televisão. Enquanto isso, Sunghoon ajeitava a almofada bem em frente da tela.

Como um bom apreciador dos antigos musicais da Disney, eu estava animado em assistir aquele filme com ele, principalmente por ser um dos meus favoritos.
E quando apaguei as luzes, observei o teto ser iluminado pelos adesivos de estrelas, me fazendo abrir um pequeno sorriso no momento em que me sentei no puff ao lado de Sunghoon, entrando no aplicativo da Disney Plus pela televisão.

— Você acha que a briga entre os garotos vai durar? — Sunghoon pergunta após um breve silêncio. — Aquilo já 'tá um saco.

— Olha, eu só comecei a ser próximo do Jungwon recentemente, então não sei como ele lidaria com esse tipo de situação. — entortei os lábios. — Mas eles não parecem querer dialogar tão cedo.

— O Jake até queria no começo, mas acho que desistiu. — Sunghoon entorta os lábios e leva a mão até o tornozelo.

— Você quer que eu pegue um gelo? Deve estar doendo ainda. — perguntei.

— Não, 'tá tudo bem. — ele me assegura. — Mas é sério, acho que eles deveriam conversar. Eu quero tentar fazer isso acontecer.

— E como você vai fazer isso?

— Eu não sei, mas eu vou. Eles não podem ser tão orgulhosos assim, são amigos há anos. — Sunghoon suspira.

— A Jang-Mi tem sorte de ter um irmão, principalmente um que se importa com ela. — falei, me aconchegando na almofada. — Querendo ou não, o Jungwon só quer tentar proteger ela, sempre. Eu só não sei exatamente de quem. Eu queria que alguém tivesse feito isso por mim.

— Como assim? Vocês tem o Heeseung, não é? ele também parece querer te proteger. — as palavras dele me fazem abrir um pequeno sorriso.

— Eu tenho, é claro. — respirei fundo. — O Heeseung é como um irmão mais velho 'pra mim, mas é diferente, sabe? Tem coisas que eu passei antes de conhecer ele, e eu não tinha ninguém além de eu mesmo 'pra segurar a minha mão, eu era muito novo.

— Você quer falar sobre isso? — o garoto pergunta no tom de voz mais atencioso possível.

Eu não queria, mas porque eu nunca falava sobre isso. Eu não chegava nem a pensar sobre, era algo que sempre me deixava triste se eu acabasse pensando demais. Eu sempre arranjava um jeito de correr para um lugar onde eu me sentia confortável sempre que meus dias me faziam voltar para aqueles dias.

— Eu não queria pesar o clima. — soltei uma risada sem graça. — Mas eu posso dizer que os meus pais não têm mais contato com os meus avós por minha causa. — agarrei a barra da minha camisa, procurando manter as minhas mãos ocupadas.

— Eles moram aqui em Odhen?

— Eles moram em Seul. — respondi. — Segundo eles, eu estava me tornando uma criança cada vez mais "afeminada" — fiz aspas com as mãos. — E eles me tratavam muito mal sempre que me pegavam falando ou fazendo qualquer coisa, era horrível. A minha mãe tentava ao máximo me proteger, mas eu não entendia o motivo daquele ódio, eu tinha o quê? 11 anos?

— Sunoo... eu sinto muito. — Sunghoon parecia realmente chateado e afetado ao ouvir aquilo.

— O que me conforta é saber que os meus pais nunca deixaram de me defender, nem mesmo quando nem eu entendia sobre a minha sexualidade. — respirei fundo.

Continuei contando para Sunghoon que, na época, o meu pai já não tinha um bom relacionamento com os próprios sogros, então eles brigaram 'pra valer em um dia, foi muito feio.
A minha mãe não hesitou em aceitar uma proposta de trabalho em Odhen quando tudo ficou mais difícil entre a nossa família, e foi assim que começamos uma vida nova aqui. Eu sentia que aquela atitude radical dos dois foi porque eles já haviam passado por coisas na infância que não queriam me ver passando também, meus avós sempre foram complicados.

Às vezes eu me sentia mal por ter afastado todos eles, mas ao mesmo tempo me sentia aliviado. Já havia se passado sete anos.

— Sete anos? — Sunghoon se surpreende. — Sunoo, eu sinceramente sinto muito por isso, ninguém merece passar por algo assim. — ele leva a mão até a minha, segurando-a firmemente e logo me puxando para deitar com a cabeça em seu colo. — Me desculpa por fazer você falar sobre isso. — ele começa a passar os dedos entre meus fios de cabelo no mesmo momento.

— 'Tá tudo bem, eu falei por vontade própria. — abri um pequeno sorriso, mesmo que triste. — Acho que nunca é bom guardar tudo 'pra si mesmo, parece que uma hora aquilo vai te sufocar.

— Eu imagino o quão ruim deve ter sido 'pra você. — ele continuava a fazer carinho no meu cabelo. — Os meus pais sabem sobre a minha sexualidade, mas acho que eles ignoram isso até que acabam esquecendo sobre, sabe? Quando eles descobriram, o clima ficou estranho por semanas, e pela primeira vez eu presenciei eles se importando com algo relacionado à mim. — Sunghoon ri sem humor. — Eu também nunca tive ninguém 'pra segurar a minha mão, sempre fui eu por eu, então eu aprendi a lidar com tudo sozinho.

— Eu sinto muito por você também. — prendi meu lábio inferior entre os dentes. — Eu acho que todo mundo diz que precisamos de alguém 'pra segurar a nossa mão em momentos como esses, mas o mais importante é ter a própria companhia, sabe? Não desistir de si mesmo é importante.

Sunghoon concorda em silêncio, mas então volta a falar:

— Mesmo assim, você me promete uma coisa?

— Que coisa? — perguntei enquanto meus olhos estavam fechados.

— Que você não vai passar por nada totalmente sozinho e que sempre que precisar de alguém, você vai falar comigo. — ele dizia enquanto passava os dedos por meus fios de cabelo novamente.

— Não posso prometer isso, mas eu posso tentar. — sussurrei ao abrir os olhos devagar.

— Você tem a mim, o Heeseung e os meninos. Mesmo que eles estejam agindo feito dois idiotas agora, você não 'tá sozinho, Sunoo.

Eu diria que meu coração doeu ao ouvir aquilo, assim como uma vontade de chorar cresceu em mim, mas eu não chorei.
A conversa levou outro rumo de repente, eu estava literalmente trocando desabafos com Sunghoon sobre coisas que vivemos no passado. E eu me sentia confortável com isso, principalmente quando as palavras "você não está sozinho" saiam da boca dele e, naquele momento, eu realmente não sentia que estava.

— Obrigado por isso. — abri um pequeno sorriso.

Por impulso, acabei por levantar a minha mão até a nuca de Sunghoon, puxando o garoto para mais perto de mim. Ele se curvou no mesmo momento já que eu ainda estava deitado no colo dele, e então, nossos lábios se colaram em um selar demorado. Não aconteceu nada além disso, mas era bom do mesmo jeito.

E tudo isso me faz voltar até o dia em que eu e Sunghoon fizemos dupla na aula de artes pela primeira vez.
Ele disse que sua nova meta era me fazer gostar dele, e mesmo que na época não fosse em um sentido romântico, aquilo estava começando a acontecer sem que eu percebesse.

— O que foi? — ele sussurra para mim após o meu silêncio, eu estava o encarando depois que nossos lábios já não estavam mais colados.

— Nada, eu só 'tava pensando — abri um pequeno sorriso, usando meus dedos para acariciar os fios de cabelo do mais velho, aproveitando que minha mão ainda estava lá. Em seguida, deslizei a ponta dos meus dedos pelo rosto dele, passando o meu indicador devagar pelo piercing no canto de sua boca, o que me fez balançar a minha cabeça lentamente. — Acho melhor começarmos o filme.

Sunghoon solta uma risada fraca, mas logo concorda com a cabeça ao se afastar de mim.
Já eu, me mantive deitado com a cabeça no colo dele quando dei início ao filme, prestando atenção em silêncio.

***

— Por que tudo se transforma em uma cena musical dramática em um corredor vazio? — Sunghoon pergunta, me fazendo rir.

— É uma coisa de High School Musical, você não entenderia... — respondi divertido. — Às vezes, tudo o que uma pessoa precisa é surtar e cantar no meio de um campo de golfe vazio, exatamente como o Troy Bolton no segundo filme.

— Em um campo de golfe, é sério? — ele ri alto.

— Eu realmente não consigo acreditar que você nunca assistiu, Sunghoon. — forcei o melhor tom de voz dramático que eu poderia. — Mas tudo bem, ainda vou fazer você assistir todos comigo.

— Isso é muito engraçado — ele ri, me fazendo arquear as sobrancelhas.

— O que é engraçado? — perguntei.

— No dia em que você dormiu no meu ombro no ônibus, no planetário, lembra? — ele começa a falar, e era óbvio que eu lembrava. Eu morri de vergonha quando descobri. —  É sério, começaram a tocar umas músicas que eu nunca ouvi na minha vida enquanto dividíamos o fone, mas eu 'tô escutando todas elas nesse filme.

— Cara, que tipo de coisa você costumava assistir e escutar durante a infância? — perguntei incrédulo. Até o Heeseung conhecia aquelas músicas, mesmo implicando comigo por escutar até hoje.

— Eu escutava Paramore, Avril, Evanescence... — ele diz baixo enquanto olha para o filme, mas o meu olhar estava preso nele. — Esse tipo de música.

— Ai, meu Deus. — falei, chamando a atenção do garoto. — Não acredito que você foi uma criança emo, Sunghoon.

— Ai, Kim Sunoo. — Sunghoon revira os olhos, me fazendo rir alto. — Presta atenção no filme.

Sunghoon realmente havia demonstrado interesse em Paramore no dia do passeio, ele até chegou a comentar que não imaginava que eu escutasse, mas eu não dei continuidade ao assunto. Eu estava preocupado demais em fugir dos pensamentos que eu tinha sobre ele naquela semana.

E eu realmente consegui fazer o garoto assistir o filme inteiro comigo, Sunghoon me fez esquecer completamente da conversa tensa que havíamos tido anteriormente. E aquele era um lado que eu não conhecia sobre ele, mas eu havia mesmo gostado, aquele momento sozinhos foi importante. Eu acho que assistiria Star Wars inteiro se fosse para sentir de novo aquela sensação de conforto somente por estar ali sozinho com ele, mesmo que eu não entendesse nada do filme. Mas eu não diria isso à ele.

Tudo passou muito rápido depois do nosso último diálogo, porque depois de um tempo, já estava tarde e ele precisava ir embora. Segundo ele, os pais de Jake iriam se reunir em casa. E aquela passou a ser a parte mais chata do dia para mim.

— Eu não acredito que vou dormir hoje com uma música de High School Musical na cabeça. — Sunghoon dizia enquanto descíamos as escadas da minha casa.

— Posso te mandar uma playlist com outras, você vai adorar. — o provoquei e ouvi o garoto respirar fundo, o que me fez rir.

— Já está de saída, Sunghoon? — minha mãe aparece de repente na sala, ela segurava um prato em mãos. — Eu iria convidá-lo para o jantar.

— Eu agradeço muito, senhora Kim. — Sunghoon se curva em uma reverência. — Mas eu realmente preciso ir, prometi aos pais do Jake que estaríamos mais cedo em casa hoje.

— Tudo bem, querido. — ela sorri. — Mas volte sempre que quiser, tudo bem? Podemos marcar para você vir novamente e ficar para o jantar.

— É claro, eu iria adorar. — ele abre um sorriso, não parecendo que estava aos beijos comigo há poucos minutos no andar de cima. — A comida estava muito boa da última vez.

E confesso, eu gostava até da forma que Sunghoon conversava com a minha mãe, eu não havia reparado o quão educado o garoto era. Nem os meus próprios amigos agiram assim quando estávamos começando a nos conhecer.

— 'Pra onde o meu pai foi? — perguntei.

— Ele foi ao mercado, mas volta logo. — ela explica. — Eu o aviso que Sunghoon foi embora.

E assim, nós nos despedimos do garoto.
Eu perguntei a ele milhares de vezes sobre o estado de seu tornozelo, mas Sunghoon me assegurou em todas que estava bem, então acreditei. Mesmo o vendo caminhar até o Uber sem colocar muito peso em uma das pernas.

***

Minha mãe guardava a louça do jantar enquanto eu rolava a timeline do twitter sem prestar atenção em nada, fazendo aquilo apenas por não ter exatamente o que fazer. Eu me ofereci para ajudar a mulher com a louça, mas ela não deixou, apenas mandou eu descansar.

— É bom que você esteja se aproximando daquele menino, ele parece um bom garoto. — ela diz, me fazendo arquear as sobrancelhas pelo assunto levantado de repente. — No jantar eu pensei que vocês não eram tão próximos assim.

— Era tudo um pouco recente, mas nós dois nos aproximamos recentemente. — bloqueei a tela do meu celular, deixando-o em cima da mesa.

— Espero que ele se adapte, moderadamente. — ela continuava guardando as coisas nos armários. — Não é bom se apegar em algo quando se é temporário, os problemas com os pais já devem o afetar demais. — ela falava com se estivesse com pena de algo.

— Como assim, mãe? — levantei as sobrancelhas.

— O que, filho? — ela questiona e se apoia no balcão da cozinha, olhando para mim. — Os pais dele não vão deixar ele na cidade 'pra sempre, Sun. Mesmo que eles não liguem muito 'pro próprio filho.

As palavras de minha mãe me fazem ficar em silêncio. Eu nunca havia parado para pensar nisso, mas Sunghoon realmente havia deixado isso claro, principalmente quando contou para mim e os meninos que moraria com os Shim por tempo indeterminado.

Se me falassem aquilo há algumas semanas, eu não iria me preocupar nem um pouco, mas as coisas estavam diferentes agora. Eu me importava com Sunghoon e tinha sentimentos por ele.
O pensamento de que ele poderia ir embora a qualquer momento me deixava enjoado, e eu não queria ter essa informação, não agora que eu estava me sentindo bem em estar com ele. Mas o que mais me incomodava sobre isso era saber o quão incrivel Park Sunghoon era e, mesmo assim, os pais dele não enxergavam isso no próprio filho, preferindo colocar o trabalho acima dele, como se família fosse apenas sangue e nada além disso.

Talvez Sunghoon procurasse em outras pessoas o que ele não tinha dos pais, e isso era triste. Se apegar em pessoas temporárias era triste, mas eu não queria que ele passasse por isso de novo, não sozinho. Porque assim como ele disse que eu não estava, ele também não estava sozinho.

— Eu acho que eu vou 'pro meu quarto, 'tô com um pouco de sono. — falei em um tom baixo e apoiei os braços na mesa para me levantar da cadeira, pegando o meu celular. — Boa noite, mãe. Diz 'pro meu pai que eu desejei boa noite também.

— Boa noite, Sun. — ela sorri fraco, acredito que percebendo minha mudança de humor. — Não esqueça de fechar as janelas, vai chover amanhã.

— Pode deixar. — assenti com a cabeça, recebendo um beijo rápido em minha bochecha antes de sair pela porta da cozinha.

Eu subi às escadas até o segundo andar, não demorando para me jogar de bruços em minha cama enquanto segurava o meu celular com ambas as mãos.
Eu sentia uma sensação estranha, nada confortável. A minha vontade era de ligar para Sunghoon, dizer tudo o que eu estava sentindo no momento e ouvi-lo fazer alguma piada sobre eu estar me importando com ele, me provocando como ele sempre costumava fazer. Mas ao invés disso, eu apenas desbloqueei a tela do aparelho que eu segurava, entrei no aplicativo de mensagens e percebi que havia uma de Sunghoon. Eu imediatamente ajeitei a minha postura na cama, entrando em nosso chat e lendo as palavras escritas na tela:

Sunghoon:
00:44

obrigado por hoje, de verdade. foi bom desabafar e passar esse tempo com você :) te vejo na escola... wildcat.

***


Notas Finais


↳ Primeiro de tudo, oi gente!!

Como alguns devem ter percebido (ou não kkkkk), a atualização não veio no dia de sempre. Eu sempre tento ser pontual e só não posto quando realmente não consigo, e foi o caso desses dias... eu surtei igual o Troy Bolton nos filmes de HSM kkkkkkkkkkkk. Eu iria postar no meio da semana, mas decidi esperar até sábado porque pretendo começar a atualizar nesse dia.

Esse capítulo foi mais focado nos sunsun e não no drama jake, jangmi & jungwon, mas foi proposital.
E eu fiquei triste escrevendo ele, confesso kkkkkk eu queria mostrar um pouco mais deles, tem coisas que ambos apenas contavam por cima, e também não é legal falar quando se tem muitas pessoas em volta, nem todo mundo se sente confortável em falar, sabe? O que era o caso deles.
Então foi bom eles dois terem esse momento sozinhos, essa conversa foi muito importante pra história!
E eu gosto que seja natural, eles estão se conhecendo e aprendendo a confiar um no outro, fazendo tudo no tempo deles e é sobre isso kkkkkk, enfim... espero que estejam gostando!

Vocês não imaginam o quão bem me fazem somente por estarem acompanhando Deja Vu comigo, então obrigada.
Até a próxima att! ❤️


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