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História Deja Vu | SUNSUN - In My Head


Escrita por: attplease

Notas do Autor


eu queria agradecer a todo mundo que tá me apoiando com deja vu, já temos +30 favoritos juntando aqui e no wattpad, isso me anima MUITO a continuar escrevendo, assim como os comentários de vocês <3

usem a hashtag #AttDejaVu no twitter caso queiram comentar, vou amar interagir com vocês por lá! ❤️

ainda vou decidir se vou começar a atualizar nos sábados ou nos domingos.

boa leitura! <3

Capítulo 2 - In My Head


Kim Sunoo.


Uma das coisas que eu nunca soube ser algo positivo ou negativo em mim é que: meu rosto vai sempre entregar se eu gostei de algo ou não, eu só não consigo fingir minhas expressões e sou sempre transparente quanto a isso. Fica mais difícil de perceber esse detalhe em mim quando não temos muita intimidade? Sim. Mas quando se trata dos meus melhores amigos, bem, eu sempre acabo passando por situações difíceis ou até constrangedoras.

Desde que aquele garoto entrou na nossa sala eu não consegui fingir que aquilo não mexeu comigo. Eu não conseguia parar de olhar para ele, eu realmente espero que ele não tenha notado, mas meu olhar ficou preso em seu rosto de uma forma que eu não conseguia parar. Ele não parecia estar prestando atenção em nada que o professor estava dizendo, ele apenas estava com a cabeça baixa enquanto desenhava em seu caderno sem parar, desde que ele chegou, eu não o vi trocar uma única palavra com ninguém da classe. Não parecia nada acessível.

Isso parece tão estranho e tão surreal, não é? Quais eram as chances de você ter sonhos frequentes com alguém que você jurou ser apenas uma criação em sua cabeça, e depois, descobrir que ele realmente existe?

Quem é Park Sunghoon? E por que diabos sonhei com esse garoto por tanto tempo? E por que diabos ele apareceu na minha vida assim? Tantas perguntas, nenhuma resposta.

Imagine-se: em um determinado momento da sua vida você começa a sonhar com uma pessoa, você sabe que está sonhando e tudo que você vivencia em seus sonhos parece real, essa pessoa então começa a conversar com você e vocês trocam experiências juntos, é como se todo sonho você estivesse vivendo em um universo paralelo. E então tudo acaba, por meses você não tem sonhos como esses e de repente... BOOM! A pessoa dos seus sonhos aparece na sua frente, mas desta vez você está acordado, e ela, não sabe nem seu nome.

E não posso falar sobre isso com ninguém, principalmente com o aluno novo. Estou apenas confuso no momento, é claro. Isso claramente vai passar e as coisas voltarão ao normal.

Só não sei se isso é verdade ou apenas eu, mais uma vez, tentando me convencer de algo irreal.

— Falar com ele é menos bizarro do que ficar secando, Sunoo. — a voz de Heeseung me assusta e então eu desperto de meus pensamentos, arregalando os olhos quando notei que fiquei esse tempo todo encarando o garoto novo. 

— Hein? — balancei a cabeça rapidamente e arrumei minha postura na cadeira, torcendo para que eu não tenha passado nenhuma vergonha. — Eu só estava pensando, não estava encarando ele. 

— Não foi o que pareceu. Mas o garoto parece um modelo mesmo. — Jay comenta, o encarando de longe. 

— Eu não estava encarando ele, meu Deus. — revirei os olhos; eu queria enfiar minha cabeça dentro de um buraco e me enterrar.

— Se você ficar na defensiva desse jeito eu vou começar a achar que estava sim, hein? — o mais velho do trio me provoca e apoia as duas mãos em sua mesa, se inclinando até mim para cochichar. — Aliás, eu e o Jake vamos mostrar a escola ‘pra ele no intervalo e depois eu vejo vocês no refeitório, pensei em chamar eles também.

— Não. — falei imediatamente, não percebendo o quão desesperado e um pouco alto eu estava soando até ver Heeseung e Jay me encarando com as sobrancelhas arqueadas, então abaixei meu tom de voz. — Quer dizer... Eu... Não posso ficar com vocês no refeitório hoje, preciso devolver algumas coisas na biblioteca. 

— Você vai demorar o intervalo inteiro na biblioteca? — Jay questiona.

— Ah, é que vou pegar mais alguns livros que eu tenho na minha lista. Lembram daquela minha meta de livros para ler esse ano? — sorri amarelo, tentando convencer meus amigos daquela baboseira que eu havia inventado.

— Eu nunca te vi tão esquisito na minha vida, juro por Deus. — Heeseung nega com a cabeça e volta a encarar seu caderno, não tentando entender mais da confusão que eu estava naquele dia, me senti aliviado por isso. 

— Vocês aí no fundo! Silêncio, por favor! — a voz da professora ecoa pela sala.

— Desculpa, professora. — nossas vozes saem em coro e então todos ficam em silêncio.

Tentei passar o resto da aula sem encarar aquele garoto, mas também não consegui prestar muita atenção na aula já que eu estava concentrado em não ser pego o "secando" mais uma vez, como diria Heeseung. Confesso que isso foi uma tarefa até fácil porque, quando eu percebi, a sirene que indicava o intervalo começou a se espalhar pelos corredores, e eu agradeci mentalmente quando a sala começou a se esvaziar. 

— Vejo vocês depois. — falei rapidamente quando terminei de pegar alguns livros que eu tinha dentro da mochila, pelo menos a parte de que eu precisava entregá-los era verdade. Mas eu precisava entregá-los semana que vem.

Passei pela porta da sala de aula tão rápido que sequer tive a chance de ver alguém além dos meus amigos, eu estava aliviado, muito aliviado de não terem feito mais perguntas. Eles são as pessoas mais insistentes que já conheci na minha vida inteira, às vezes fugir era a melhor opção, principalmente quando o meu problema ambulante irá fazer parte do intervalo inteiro deles.

— Kim Sunoo, a que devo a honra desta visita? — sorri quando ouvi a doce voz de Daya, a nova secretária da biblioteca. Eu já havia me encontrado com ela das últimas vezes que peguei alguns livros daqui, ela é estrangeira e morava em Oakland, Califórnia. Adoro ela. 

— Oi, Daya! Vim entregar esses livros que faltavam. — deixei os livros em cima do balcão da recepção, eram três no total. Por incrível que pareça eu já havia terminado de ler todos. — Orgulho e Preconceito, Midnight Sun e É assim que acaba. 

Falei todos os livros em voz alta e a mulher riu baixinho enquanto pegava cada um deles, anotando algo do outro lado do balcão em seu computador.

— O seu prazo de entrega era para semana que vem. Você é rápido, não é? — ela levantou com todos os livros em mãos, e então eu a segui até os corredores de livros. 

'Rápido e idiota por estar fugindo de um garoto que nunca me fez nada de errado.' pensei.

— Deixa que eu ajudo. — falei ao pegar os livros de seus braços, recebendo um sorriso genuíno da mais velha. — Na verdade, eu realmente gostei dos livros, eu costumo ler mais rápido quando isso acontece. Principalmente Midnight Sun, foi interessante ler o ponto de vista do Edward Cullen em relação à Bella e outras coisas.

— Você gosta mesmo de Crepúsculo? — Daya me olhou um pouco surpresa, me fazendo rir. Em seguida, a mulher me indica onde colocar os livros. — Pode colocar aqui!

— Para ser sincero, gosto de livros e filmes de ficção, também dos que contam histórias de vampiros. Eu seria hipócrita se não soubesse o mínimo sobre a Saga Crepúsculo, não seria? — soltei uma risada baixa, deixando cada um dos livros em seu devido lugar. — Pronto. 

— Você realmente não estava brincando quando disse que amava vir à biblioteca e conhecer as histórias que esse lugar guarda, não é? — ela ri e eu a acompanho, concordando.

Adoro ser transparente nesses momentos, quando conheci Daya pela primeira vez, contei a ela sobre minha paixão por histórias de todos os tipos, sou uma pessoa que adora sonhar e imaginar todos os cenários possíveis, porém, ultimamente tenho ficado nessa confusão onde não sei se isso ainda é uma qualidade minha. É isso que acontece quando você cresce, você começa a manter os pés no chão por medo de que as pessoas pensem que você é inferior a elas só porque você quer sonhar, então você se fecha e acaba se tornando um adulto amargo. 

E eu sei que ainda estou entrando na minha fase adulta, mas é assim que eu leio os adultos que fazem parte da minha vida, pelo menos alguns deles. 

— E eu pretendo aprender mais algumas histórias hoje, posso? Não estou com vontade de passar o intervalo lá fora.

 — Claro, Sunoo. Fique à vontade, preciso terminar de organizar os arquivos de alguns alunos. E não se esqueça... — ela olha para mim e leva o dedo indicador ao meio dos lábios, sinalizando silêncio na biblioteca. Eu ri baixinho com o ato dela e acenei com a cabeça em concordância.

Em poucos segundos eu me vi andando pelos corredores da biblioteca, meus olhos vagando pelas prateleiras cheias de livros enquanto eu prestava muita atenção em seus detalhes, imaginando o quão incrível era que as histórias de inúmeras pessoas estivessem reunidas em um só lugar, e eu, tinha o poder de guardar cada uma em minhas melhores memórias.

Quando cheguei ao último corredor, notei alguns alunos que estavam espalhados pelas mesas que havia na biblioteca, alguns usavam o local para estudos, outros usavam para ler, como eu. E enquanto eu procurava algum livro para me juntar à eles, ouvi uma voz familiar:

— E essa é a biblioteca da escola, eu não costumo vir muito aqui, então não sei muito o que dizer. — a voz de Heeseung se aproxima mais. — Quer dizer, obviamente você vem aqui para ler livros. Aliás, eu tenho um amigo que iria adorar contar sobre as histórias malucas que ele já leu, ele gosta muito de falar. E tenho certeza que ele está aqui em algum lugar...

— Mas que merda? — sussurrei para mim mesmo e me abaixei devagar, eu queria me esconder por trás das prateleiras e torcia mentalmente para que eles não passassem por aquele corredor. 

— Esse é provavelmente um lugar que eu não vou frequentar muito também. — uma voz um pouco grossa respondeu a Heeseung, provavelmente era o garoto novo. — Esse seu amigo é nerd, é? Não vejo muita graça em passar tanto tempo assim em um lugar silencioso demais. 

— Ele só gosta de ler, você provavelmente o viu na sala de aula. — Heeseung continua, respirei fundo quando sua voz se aproximou, me levantando devagar e entrando em outro corredor, seguindo até o final dele em silêncio. — O garoto de cabelo rosa, sabe?

— Cabelo rosa? — a voz levemente grossa novamente. — Sendo sincero, eu não prestei atenção em muita coisa hoje, nem nas primeiras aulas. — seus passos ficam mais próximos e eu prendo meu lábio inferior entre os dentes. Sem saber como fugir daquela situação, me abaixo novamente, apoiando minha mão em uma das prateleiras. — Mas se ele gosta de ficar aqui, então provavelmente é menos hiperativo e barulhento do que seu amigo japonês. 

Heeseung ri baixinho com esse comentário, me fazendo perceber o quão perto de mim eles estavam. Em um susto, virei meu rosto rapidamente quando os dois passaram pelo corredor ao lado do meu, entrando exatamente no que eu estava.

Merda, mil vezes merda.

Pressionei meus dedos com força contra a prateleira no momento em que meu olhar atingiu os dois garotos que agora também estavam de olho em mim. Eu definitivamente me odiava, porque quando me levantei desajeitadamente, me desequilibrei e deixei a prateleira cair com o peso do meu braço, assim como eu também caí com as duas mãos por cima de alguns livros que se espalharam com a queda, fazendo um barulho considerado alto para uma biblioteca. 

Barulhos como "shhh" se espalharam pelos corredores, me deixando mais constrangido do que eu já estava. 

— Ou são barulhentos iguais, eu acho. — Park completa o que estava dizendo segundos antes de eu cair. 

Fechei os olhos com força enquanto olhava para baixo, me preparando mentalmente para pregar meus olhos no rosto daquele garoto. Então, respirei fundo e levantei o olhar devagar, vendo Heeseung me encarando com as sobrancelhas arqueadas enquanto Sunghoon estava um pouco atrás dele, ambas as mãos do rapaz estavam nos bolsos de sua calça escolar. 

— Ficou maluco, Sunoo? O que você tava fazendo aí? — Heeseung se aproxima imediatamente, segura em meu braço e me ajuda a levantar. — Você tá bem? 

— Estou. — respondi enquanto me levantava, meu olhar passou por Sunghoon por alguns segundos e ele também me olhava. — Eu estava... Procurando um livro. — disse simples.

— É assim que você procura livros hoje em dia? — meu amigo pergunta achando graça da situação, mas seu rosto logo fica sério, provavelmente percebendo que eu não estava confortável com o que havia acabado de acontecer – minhas expressões me entregando novamente. — Foi mal.

— Por que você está aqui? — perguntei, mesmo sabendo o motivo, e também por estar tentando ignorar a presença do outro garoto.

— Vim mostrar a biblioteca pra ele. — Lee aponta com o polegar para o aluno novo. — Aliás, Sunghoon, esse é o amigo que eu falei, o nome dele é Kim Sunoo. 

— Park Sunghoon. — o garoto se apresenta como se eu não estivesse na mesma sala que ele quando o apresentaram. — Se te conforta, conheci um garoto mais cedo de um jeito bem mais chamativo. Mas você quase empatou. 

Arqueei as sobrancelhas após ouvi-lo. Primeiro que eu ainda não havia me acostumado com o rosto dele, e segundo, o que eu deveria responder?

"Obrigado, me sinto muito melhor agora."?

— Niki derrubou metade da garrafa de suco dele no Sunghoon. — Heeseung explica a situação e eu volto a arquear as sobrancelhas. Park segura em seu blazer e mostra a mancha amarelada em sua camisa branca, provavelmente suco de abacaxi, o favorito de Nishimura. 

— Ah, isso parece mesmo ser algo que o Niki faria. — tentei soltar uma risada, mesmo estando tenso com a presença do garoto de cabelos escuros. — Acho melhor eu arrumar isso antes que Daya brigue comigo, vocês podem ir. 

— Podemos ajudar se quiser. — Heeseung tenta se aproximar, mas eu pouso minha mão em seu ombro.

— Podem ir, o intervalo já vai acabar e você nem mostrou a escola inteira a ele ainda. 

— Na verdade, mostrou sim. — a voz de Sunghoon faz meu olhar ir até ele. — Esse foi o último lugar que Heeseung quis vir.

Travei meu maxilar e encarei Heeseung lentamente, o mais velho tinha um sorriso sem graça em seu rosto. Ele sabia exatamente o que estava fazendo quando decidiu vir aqui por último. 

— Tudo bem, me ajudem então. — respirei fundo, me abaixando para levantar a prateleira que eu havia derrubado, torcendo para que Daya não aparecesse para me dar alguma bronca, eu já tinha passado vergonha o suficiente.

Heeseung e Sunghoon começaram a pegar os livros que haviam caído, deixando-os um em cima do outro enquanto eu os colocava na prateleira, organizando cada um pelas fitas que indicavam o gênero. Ficção, terror e ação. 

Meus olhos, teimosos, seguiram até o rosto de Sunghoon novamente. 

Agora que estávamos mais próximos e ele mais ocupado do que eu, pude perceber mais alguns detalhes do garoto: ele tinha mesmo um piercing no lado esquerdo do lábio, um no nariz e um transversal em sua orelha, aquilo deve ter doído. E o pior, ele realmente era muito bonito, tão bonito que me deixava irritado. 

Talvez eu estivesse encarando a inspiração para Gorgeous, da Taylor Swift. Será que ela sonhou com ele também?

Mas algo nele ainda era diferente, não sei, talvez eu estivesse errado quando disse que meus sonhos pareciam mais reais do que a minha vida, porque ele sim parece muito mais real agora que estou o vendo na minha frente. 

— Terminou? — Heeseung aparece ao meu lado, me fazendo dar um pequeno pulo de susto. 

— Terminei o quê? 

— O que mais seria, Sunoo? De organizar os livros. — Heeseung continuava me olhando como se estivesse tentando me ler. 

— Faltou esses daqui. — Sunghoon levanta do chão, carregando três livros em mãos e me entregando. 

— Certo, então agora... — comecei a falar, colocando os livros que faltavam na prateleira, me virando para Heeseung ao finalizar. — Terminei. 

— Podemos voltar então? — meu amigo pergunta, olhando para mim com a mesma expressão de segundos atrás. 

— Podem ir na frente, preciso falar com a Daya antes. — menti. 

Nenhum deles questionou, apenas se despediram e seguiram seus caminhos para a saída, enquanto isso, respirei fundo e cuidei para não derrubar mais nada até finalmente ouvir a sirene que indicava o final do intervalo. 


***


— Que merda você 'tava pensando? Que eu queria desesperadamente me aproximar daquele garoto? Você falou que o Jake também estaria junto mas levou ele sozinho pra biblioteca. — eu falava com Heeseung enquanto caminhávamos juntos até a parada de ônibus. Niki e Jay, como sempre, nos acompanhavam. 

— Você encarou ele a aula inteira, inclusive na biblioteca. Se não queria fazer amizade com ele, então o quê? — Lee arqueia as sobrancelhas, ele segurava firme na alça de sua mochila que estava em apenas um de seus ombros. 

— Você me conhece há anos e sabe que eu me comunico fácil com uma pessoa quando eu quero, eu só... — tentei procurar a frase certa ao virar meu rosto para frente. — Achei ele parecido com uma pessoa. 

— Com quem? — Niki se intromete. — Aquele cara deve me odiar, você tinha que ver a cara que ele fez quando eu derrubei o suco nele. Só mudou quando Heeseung disse que éramos amigos. 

— Não exagera, ele reagiu como qualquer pessoa reagiria se um estranho esbarrasse nela com um suco esquisito. — Jay revira os olhos. — Você até conversou com ele depois. 

— Você achou ele parecido com quem, Sunoo? — O mais velho do grupo ignora a conversa entre Nishimura e Jongseong, me dando um leve empurrão com o ombro. 

— Eu não sei, tentei lembrar mas não consegui. Deve ser algum famoso, ele tem um rosto genérico. — dei de ombros, torcendo para que eles acreditassem nas minhas palavras, por mais que eu não achasse verdade nada do que havia acabado de dizer.  

— Ele pensou que você não foi com a cara dele. — Lee comenta ao chegarmos na parada de ônibus, se apoiando em um poste que continha uma placa enorme anunciando uma dessas lojas de fast fashion. — E eu também.

— Ele falou isso? 

— É claro. Na biblioteca você agiu como se ele não estivesse lá. — ele nega com a cabeça, e por um segundo eu me senti mal por ter agido de forma tão infantil. — Eu gostei dele, parece ser um cara legal. E os piercings dele me deram ideias. 

— Eu não fiz por querer, eu acho que só não estou em um dia bom hoje. — pelo menos isso era verdade, infelizmente eu estava uma confusão naquela semana. — Quais ideias você teve? 

— Você não vai colocar outro piercing, vai? O Sr. Lee vai te matar. — Jay apoia um de seus braços no ombro direito de Heeseung, que solta um suspiro cheio de cansaço.

A única coisa que o impedia de fazer coisas mais fora de sua zona de conforto, é claro, era seu pai. Lee Heeseung é o cara mais legal que eu já conheci, ele tem um carisma natural que facilmente conquista as pessoas, além de ser bonito, legal e reservado quanto aos seus relacionamentos amorosos. Mas acho que poucas pessoas percebem ou sabem o quão difícil é seu relacionamento com seu pai, Sr. Lee.

A mãe de Heeseung fugiu quando ele ainda era criança, deixou seu pai para cuidar dele sozinho e desde então ele ficou meio obcecado pelo filho. Eu acho que ele sente que Heeseung é a única coisa que resta da memória de sua ex-esposa.

Mas eu realmente não entendo, como tratar seu próprio filho como um fantoche vai ajudar? ele não deixa Heeseung ter muita escolha do que ele quer fazer ou não, não o dá liberdade demais e sempre monitora sua vida. Mas, ele confiava em meus pais, então Heeseung às vezes usa minha casa como uma maneira de fugir da dele. Com o tempo até minha mãe também passou a chamá-lo de filho, arrisco dizer que ela deve se preocupar mais com o meu melhor amigo do que comigo. Mas eu estou tranquilo quanto a isso.

— Eu vou pensar no assunto, sei que ele quase me matou quando eu só fiz um furo na orelha, mas depois de um tempo ele aceitou. — o garoto deu de ombros. — Ah, e o Jake nos convidou pra jogarmos Call Of Duty na casa dele mais tarde, vocês vão, não é? Vou falar pro meu pai que vou pegar carona com o Sunoo.

— E você pretendia me avisar isso quando? — o encarei incrédulo, ouvindo a risada dele.

— Agora. — ele sorri. — É sério, vocês precisam ir. Soube que a casa dele é enorme, ele quer se aproximar da gente agora que voltou pra Coréia oficialmente. 

— É óbvio que eu topo, vou estar lá no horário que vocês marcarem. — Niki é o primeiro a confirmar presença.

— Por mim tudo bem. — Jay dá de ombros.

E então, todos os olhares caem em mim. Respirei fundo ao levantar o rosto até o céu, soltando o ar pela boca quando voltei minha atenção nos três garotos em minha frente.

— Tá, eu vou. Pelo menos é Call Of Duty e não League Of Legends. — falei, sabendo que eu não sabia jogar nenhum dos dois.

Eles aplaudem exageradamente, fazendo meus olhos revirar com suas reações, e então, nossas risadas se misturam de uma forma única, como sempre fazíamos quando estávamos os quatro juntos. 

Quando percebi, nosso ônibus já estava em nossa frente e cada um se preparava para entrar nele, esperando em uma pequena fila que se formara com outros alunos e desconhecidos com o mesmo rumo que o nosso.

***

Já faziam alguns minutos que eu estava em silêncio no carro enquanto Heeseung e minha mãe conversavam sobre os assuntos mais aleatórios possíveis, as vezes ela até tocava no nome do pai de Lee, mas nada polêmico, era apenas para deixar meu amigo ciente de que poderia se sentir à vontade para contar se algo o incomodasse. Não faço ideia se isso pode ter alguma relação, posso até estar errado em pensar dessa forma, mas talvez o fato de minha mãe ser psicóloga deixe Heeseung um pouco inseguro em falar demais, por isso ele falava apenas o necessário. Talvez por medo de ouvir o que ele sabe, mas não quer ter certeza.

Eu, como filho dela, passo pela mesma coisa.

— É aqui, filho? — minha mãe pergunta após estacionar o carro, e se fosse possível, meu queixo estaria no chão nesse exato momento. 

— Cara... Ca! Caraca. — Heeseung se corrige rapidamente, lembrando da presença de minha mãe antes que uma palavra de baixo calão escapasse de sua boca. — Eu falei que a casa do Jake era enorme, mas não sabia que era tanto.

— Mãe, pode dar a volta? Eu que não vou entrar aí. — falei, travando as portas do carro e vendo meu amigo arregalar os olhos e se preparar para manifestar contra minha atitude. 

— Nada disso. — ele balança a cabeça várias vezes em negação, destravando as portas novamente ao se inclinar do banco de trás. — Eu que não vou desperdiçar um dia jogando Call Of Duty no PS5 do Jake, a casa é apenas um bônus. — e então ele abre a porta. — Seu filho não sabe o que diz, Sra. Kim. Vamos, Sunoo.

— Mãe, me salva. Por favor. — fingi estar quase chorando e a mais velha achou graça da situação, soltando uma risada.

— Anda, Kim Sunoo, seus amigos estão esperando. — ela se aproxima, segurando em minha nuca e deixando um beijo rápido em minha testa. — Me liguem quando quiserem ir embora. 

Peguei meu celular do bolso de minha calça e o desbloqueei.

— O que está fazendo? 

— Ligando pra senhora. 

A porta ao meu lado abriu e senti uma mão pesada em meu ombro, dando de cara com Heeseung, que tinha um olhar ameaçador. 

— Foi apenas uma brincadeirinha. — levantei às mãos, me rendendo. O garoto revira os olhos e eu dou risada de sua expressão, saindo do carro e olhando para dentro do mesmo após fechar a porta. — Tchau, mãe. Eu te ligo.

— Divirtam-se! — ela sorri e alguns segundos depois seu carro já estava virando a rua, oficialmente nos deixando ali sozinhos.

Heeseung e eu caminhamos juntos pelo enorme gramado da casa de cor branca, ela parecia completamente delicada por fora e eu estava rezando para não ser por dentro também, o ocorrido na biblioteca havia me traumatizado. 

Odhen era uma cidade média quase colada em Seul, não tinha muitas histórias a serem contadas mas era bem vista por turistas, e sério, em todo o tempo em que moro aqui, nunca vim para esse lado. Pra ser sincero, eu sequer sabia da existência desse bairro, mas ele era muito bonito, parecia um filme. 

— Você acha que Jay e Niki já chegaram? — perguntei enquanto encarava a enorme porta em nossa frente, Heeseung havia acabado de apertar a campainha. 

— Não sei, eles não mandaram nenhuma mensagem no grupo. — ele dá de ombros, e então a maçaneta começa a se mover até que a porta se abre, dando-nos uma visão completa do garoto de cabelo escuro, agora úmido. Ele parecia ter acabado de sair do banho. Era Park Sunghoon.

Senti como se meu coração tivesse parado por um rápido segundo. Ainda estava difícil me acostumar com seu rosto na vida real. E mais uma vez, Heeseung não me avisou que ele estaria com a gente. 

— Sunghoon? o Jake chamou você também? — Heeseung pergunta animado, meu olhar desconfiado cai em cima dele. 

— Acho que eu esqueci de citar esse detalhe. — Sunghoon sorri, sem graça. — Eu moro aqui também.

— O quê?! — minha voz e de Heeseung se juntam ao mesmo tempo. 

— Espera aí, então quer dizer que vocês dois...

— O quê? Não. — Sunghoon corta meu amigo imediatamente. — Não é nada disso. Longa história, eu e o Jake explicamos lá dentro. Entrem logo, vocês precisam ver isso. 

Sunghoon fala com pressa, abrindo totalmente a porta para Heeseung e eu passarmos, fechando-a em um segundo. Uma música abafada dava para se ouvir de onde estávamos.

Enquanto eu ainda estava processando o fato de que eu estava no mesmo lugar que Park novamente, e que ainda por cima, ele morava com Jake, agora tudo parecia ainda mais fora do normal com a cena que eu estava vendo em minha frente.

Niki, Jay, Jake e Jungwon, o representante da nossa turma, estavam no lugar que eu julgava ser a sala principal, todos jogando Guitar Hero.

"Walk This Way" do Aerosmith com Run-D.M.C tocava em um volume alto, um clássico. Jake batia no equipamento de bateria enquanto Niki tinha o de guitarra em mãos, enquanto isso, Jay e Jungwon seguravam microfones.  

Jongseong cantava com um inglês surpreendente e gritava exageradamente, o representante da turma e os outros dois meninos faziam o mesmo. Uma desafinação completa e caótica.

— WALK THIS WAY!

— TALK THIS WAY!

Eu, Heeseung e Sunghoon estávamos parados na porta da sala e eu tinha certeza que não havíamos sido notados, mas eu não me importava, aquela cena havia sido o ponto alto do meu dia, se eu não tivesse chegado segundos antes da música acabar, teria me juntado a eles.

— Finalmente vocês chegaram! — Jake sorri, o garoto estava ofegante pelo jogo. — A quanto tempo estão aí? 

— Tempo o suficiente pra ter certeza que vocês todos enlouqueceram de vez. — Heeseung dá risada. — Dez minutos com o Nishimura e já ficam assim?

Uma almofada é atirada em direção de Heeseung, e sim, ela veio de Niki.

— Mas foi hilário! — falei ainda rindo da situação, me aproximando de onde os outros meninos estavam. — Eu quero jogar também, posso?

— Não, pelo amor de Deus. — era a voz de Sunghoon. — O Jake não consegue parar quando começa. Por favor, vamos jogar COD de uma vez. — o garoto implora, fazendo todos rirem, menos eu.

— Podemos jogar depois que as partidas terminaram, pode ser, Sunoo? — o australiano se aproxima, apoia a mão em meu ombro e eu não evito em retribuir um sorriso. 

Eu não iria contestar, a casa não era minha de qualquer forma. Mas confesso que teria chegado mais cedo se soubesse.

— Eu nem sei jogar isso. — pensei alto, me afastando dos equipamentos quando os garotos começaram a preparar a sala para jogarmos Call Of Duty. 

Eu não sei se era o normal deles, mas haviam duas televisões enormes na sala, ambas estavam conectadas no jogo e tínhamos quatro controles para sete garotos. E sério, o fato de Jake já ter morado na Austrália e sempre viajar de volta ao país em algum momento sempre foi algo que me deixava curioso, mas nunca parei para imaginar como seriam os negócios de sua família. Mas olhando agora, estou mais curioso ainda em saber onde Sunghoon se encaixa nisso tudo, eu passei tanto tempo pensando nos meus sonhos que não percebi o quão próximos o novato e o australiano eram.

— Certo, coloquei todos os nomes aqui. — Jake tinha um pequeno pote em mãos com alguns papeizinhos e mostrava para todos na sala.

Eles decidiram resolver o problema dos controles com sorteio de times. A pessoa que sobrasse ficaria no time que vencesse a primeira partida, assim fazendo a primeira "competição" acontecer.

Jake começou tirando os primeiros nomes, as primeiras duplas foram respectivamente: Heeseung e Jungwon contra Jay e o próprio australiano. 

Encarei Niki, recebendo um olhar do mais novo também. Eu sabia que ele provavelmente estava gritando por dentro por não querer cair no mesmo time que eu, Nishimura sabia o quão ruim eu era nisso. Eu não queria estragar o jogo dele, mas também não queria cair no time de Sunghoon. 

— Niki e Sunghoon. — Jake termina de tirar os papéis e um sorriso cresce em seu rosto, olhando para mim. — Parece que vamos todos brigar pelo Sunoo hoje, hein?

— Brigar? Ele já é meu. — Heeseung se aproxima, passando um dos braços por trás de mim, o apoiando em meu ombro. — Se prepara pra entrar pro meu time quando eu ganhar. 

— Podem pegar ele à vontade. — Nishimura dá risada, o garoto já sentava no chão em frente à televisão, se preparando pra jogar. 

— Podem parar de fingir, eu sei que vocês estão agradecendo por essas rodadas sem mim. —neguei com a cabeça, cruzando os braços. — Mas eu quero ver quem vai ser digno de me ganhar. Menos você, Niki, seu falso.

— Você já é nosso. — Jake diz ao passar por mim, dando um tapinha em meu ombro e se sentando ao lado de Riki no chão.

Continuei com os braços cruzados, procurando por um lugar bom no sofá para me sentar e assistir os garotos jogando. 

Não demorou para a partida começar e a sala ser tomada por gritos e até xingamentos novos que eu havia aprendido naquele dia, mesmo sendo o mais novo, Nishimura tinha uma boca muito suja quando estava de frente para a tela de um jogo. O mais engraçado eram os xingamentos em japonês que o garoto soltava, Sunghoon o encarava assustado sempre que algum era longo demais.

Mas não foi isso que me surpreendeu, eu já estava acostumado com o garoto. Sunghoon e Niki jogavam em sintonia e se ajudavam como se fizessem isso juntos há meses, pareciam dois profissionais perto de Jay e Jake, que agora estavam frustrados com a quase derrota.

— Eu realmente não tenho chance alguma. — virei meu rosto pro lado ao sentir o sofá afundar ao meu lado, Yang Jungwon havia acabado de se jogar ali, só agora eu havia percebido a presença do garoto. — Sou péssimo jogando isso.

— Você tá falando sério? — perguntei. Eu não escondia meu tom de decepção, totalmente dramático. — Eu estava apostando em você e no Heeseung, não quero ficar na equipe do Niki. 

— Eles são os melhores até agora, então sinto muito. — o garoto solta uma risada, fazendo uma careta que eu particularmente havia achado uma graça. 

— Você faltou aula hoje, não foi? Como veio parar aqui? — minha pergunta saiu automaticamente, e então eu percebi que talvez estivesse sendo muito intrometido e curioso, eu nem tinha intimidade com o garoto. 

— Precisei cuidar da minha irmã mais nova hoje, longa história, mas já foi resolvido. — ele suspira como se estivesse cansado. — E eu e Jake éramos amigos antes dele voltar pra Austrália, ele me obrigou a vir aqui hoje porque queria me ver. — o mais novo solta uma risada baixa, seu olhar agora estava em Jake, que gritava entretido com o jogo.

Acho que essa havia sido a conversa mais longa que tive com Jungwon desde que começamos a estudar juntos, dois anos atrás. Eu não sabia muito sobre a vida dele, o que eu sabia eram coisas básicas que observava na escola: Ele era muito inteligente e um garoto educado que gostava muito de se posicionar nas aulas. Eu invejava as notas de Jungwon, não era à toa que ele representava a turma. Se dependesse das minhas, a única coisa que eu representaria seriam os alunos que precisam de aulas de reforço. 

Eu não sou burro nem nada do tipo, apenas tiro notas o suficiente para passar de ano.

— É melhor já se preparar, Sunoo! — Niki estava animado, como esperado, ele e Park venceram o jogo.

Jungwon me olha piedoso e então se levanta, assumindo o controle de Jake. Heeseung logo se junta em silêncio também, assumindo o controle de Jay.

— Eu tentei lutar por você, Sunoo. Me desculpa. — Jake se senta ao meu lado, me fazendo rir da decepção que o australiano demonstrava em seu tom de voz. 

Os minutos seguintes foram diferentes, Heeseung e Jungwon estavam dando mais dificuldade para Niki e Sunghoon, mas a dupla ainda estava se saindo melhor do que seus adversários. Yang apesar de não ter habilidades, era bom em seguir as dicas que Lee dava. Mas eu não era a pessoa mais confiável para julgar isso já que não entendia nada.

Enquanto eu torcia para Heeseung, eu também segurava minha língua para não perguntar nada a Jake sobre ele e Sunghoon morarem juntos. Eu estava bastante curioso quanto a isso, mas não queria parecer intrometido. 

— Falta um minuto, não tem como isso virar. — O garoto ao meu lado falava, ele estava torcendo para Yang e Lee, como eu. — Da próxima vez o Niki e o Sunghoon estão proibidos de serem uma dupla. 

— Tá brincando? Eu só quero jogar com ele agora. — Nishimura diz animado e ele e Sunghoon dão uma leve batida em seus ombros, como um cumprimento acompanhando de risadas.

E mais uma vez a primeira impressão que eu tive do garoto estava se quebrando, como ele havia conseguido se aproximar tão fácil dos meus amigos se na escola não parecia nada acessível? Não faziam nem vinte e quatro horas que eles o conheceram e estavam agindo como se fossem semanas. Eu não sei o motivo, mas aquilo estava me incomodando. 

— Que cara é essa, Sunoo? — a voz de Jay chama minha atenção, e eu balanço a cabeça, encarando meu amigo que agora estava rindo. 

— Qual cara? 

— A cara que você faz quando só seu corpo 'tá presente com a gente porque sua cabeça seguiu pra outro planeta. — ele levanta e se joga do meu outro lado, levantando o rosto para me encarar. — Melhor ficar feliz, você ficou no time mais forte. 

Virei meu rosto para a televisão da dupla e então vi Niki e Sunghoon comemorando a vitória pela segunda vez naquele dia. Os dois logo levantaram do chão, o mais novo agora caminhava em minha direção. 

— Bem vindo ao time. — tenho que levantar meu rosto para encarar Niki, mesmo sendo o mais novo, ele ainda era o mais alto de todos nós, impressionante. — No final você acabou sendo nosso. 

Encarei o garoto que estava atrás de Niki, ele tinha um pequeno sorriso vitorioso nos lábios, mas não havia falado nada diretamente para mim como havia feito com os outros. Talvez uma consequência da forma que eu agia perto dele? Não sei.

— Quero só ver se vocês vão continuar me tratando como um troféu depois que verem o filme de terror que eu sou jogando. — falei ao desviar meu olhar de volta para Riki, segurando na mão do garoto para me levantar do sofá. 

— Vamos acabar com isso logo. — Jay acompanha Jake ao assumirem os outros controles novamente. 

— O Sunghoon vai primeiro já que ele pontuou mais do que eu. — Riki explica. 

Eu e Sunghoon nos encaramos por um rápido segundo, eu desviei o olhar primeiro e me sentei em frente à televisão, pegando o controle que seria o meu. O garoto de cabelos escuros logo se sentou ao meu lado, pegando o controle também. 

Eu encarava o controle em minha frente sem saber exatamente quais eram as funções de cada botão, mas eu não queria ter que perguntar ao garoto ao meu lado, me sentia muito estúpido por ficar nervoso perto dele. 

— No R2 você atira. L3, você corre. — Como se tivesse acabado de ler meus pensamentos, Sunghoon começa a falar e mostrar os botões em seu próprio controle. — X, você pula. Quadrado, recarrega. Esse é o básico, se tiver mais alguma dificuldade é só falar. 

Fiquei prestando atenção em sua mão, tentando memorizar cada coisa que ele havia dito para que eu não passasse mais vergonha do que eu esperava enquanto jogava.

— De nada. — a voz de Sunghoon saiu quase que em um sussurro, seu tom de voz soava entediado. Arqueei as sobrancelhas minimamente, notando que eu mais uma vez não havia falado nada direcionado a ele, dessa vez eu realmente fiz sem perceber. 

— Que vença o melhor. — Jay diz enquanto o jogo carregava.


***

Três minutos. 

Faltavam três minutos para a partida acabar e eu havia matado o total de 3 pessoas. Meu personagem revivia pela milésima vez enquanto Nishimura estava impaciente atrás de mim, ele falava para eu fazer algo, e eu até tentava, mas ficava nervoso e fazia totalmente errado, sendo morto mais uma vez.

Sunghoon falava comigo, pedindo para eu lhe dar cobertura, mas eu sequer sabia como achá-lo naquele mapa esquisito. Quem desenhou aquela merda? Eu já estava impaciente com Niki gritando ao meu lado, e agora Sunghoon aparentemente havia se juntado a ele também, me deixando mais irritado.

"Vem, Sunoo.", "Pelo outro lado.", "Não! Pela esquerda".

— Não adianta de nada ficar falando, falando e falando. Eu avisei que não sabia jogar. — respirei fundo, apertando o botão de atirar com mais força. — Desse jeito eu só vou errar mais.

— Pelo menos assim você fala. — Sunghoon resmunga ao meu lado e eu viro meu rosto, o vendo travar o maxilar enquanto seus dedos se mexiam com facilidade no controle. 

— Como é? — voltei a me focar no jogo, vendo que tínhamos apenas mais alguns segundos. 

— Pelo menos assim você fala, ué. — ele repete, e a partida acaba. Vitória de Jay e Jake. O garoto respira fundo e passa a língua pelo piercing que havia no canto de sua boca. 

— E desde quando eu não falo? 

— Um jogo obrigando você a falar comigo pela primeira vez. Incrível, não acha? — ele ri sem humor, seu tom era indiferente e ele não olhava diretamente para mim. Até agora. — Qual o seu problema comigo? 

— O quê? — soltei o controle que eu tinha em mãos, encarando Park, surpreso com sua mudança de tom, até agora ele só havia sido amigável com todo mundo. 

— Eu tô tentando ser legal com você o dia inteiro, e você continua fingindo que eu não 'tô aqui. — ele estava irritado, e eu querendo me enterrar em um buraco. — Seria mais fácil dizer que não queria jogar comigo. 

— Calma aí. — franzi a testa. — Você 'tá exagerando um pouco, a gente mal se conhece. 

— Exatamente. — ele ri, irônico. — Eu conheci todo mundo aqui hoje e viramos amigos, menos você. 

— E agora eu preciso ser igual a todo mundo? — questionei. 

Mesmo que eu realmente estivesse uma confusão e acabei descontando nele, eu tinha meu direito de querer ou não me aproximar de alguém no momento, ele não era o centro do mundo. 

— Você não precisa. — seu tom de voz fica mais baixo. — Eu só odeio pessoas que fingem que alguém não existe.

Senti um desconforto no estômago com sua última frase, seu tom de voz ao mesmo tempo que parecia irritado, também soava um pouco magoado. Eu me senti mal por isso, mas também não conseguia entender como aquele rosto tão familiar agora era um estranho pra mim. Eu queria correr, me esconder em algum canto e chorar de tanta frustração. 

Confusão poderia ser considerada um dos piores sentimentos que já existiram. 

Meu olhar ficou preso no garoto, eu não sabia o que responder. Acho que ninguém gosta muito de ouvir alguém dizendo que odeia você, ainda mais ele, é como se eu estivesse ouvindo sua versão dos meus sonhos dizendo que me odiava também. 

— Eu...

A campainha toca. 

E só então eu lembro que todos os meus amigos estavam assistindo nossa pequena discussão, me deixando mais constrangido ainda. Todos estavam em silêncio e um clima estranho se instalou na sala após eu e Sunghoon pararmos de falar também. 

Jake coça a garganta, quebrando o silêncio e levantando do chão antes de falar:

— Eu pedi pizza pra gente, deve ser o entregador. — ele sorri, sem graça. — Vem comigo, Jungwon? O Sunghoon mostra pra vocês onde é a cozinha. 

— Vamos! — Jungwon se levanta rapidamente e acompanha o australiano.

— Então, onde fica a cozinha? — Jay se levanta também, batendo palmas em uma tentativa de mudar o clima do grupo. 

— Venham comigo. — Sunghoon levanta me encarando, sua expressão ainda era séria. Em seguida, ele sai da sala, esperando que todos o seguissem.

E foi o que fizemos, todos caminhamos juntos pela enorme casa, e quando passei por Heeseung, o garoto pousou uma das mãos em meu ombro, ele me olhava como quem estivesse dizendo "eu avisei". 

Mas não demorou muito para o clima voltar ao normal, pelo menos entre eles. Depois que Jake apareceu na cozinha, que era tão grande quanto a sala, todos comemoraram o fato de que iríamos comer pizza. 

Os garotos conversavam sobre todos os assuntos que podiam, eu apenas observava tudo em silêncio. 

Niki e Jungwon haviam sentado ao meu lado na mesa e agora conversavam sobre uma artista que ambos descobriram que tinham em comum como uma de suas favoritas: Kehlani. Eu conheço algumas coisas dela justamente por conta do Niki, e são realmente muito boas.

Em minha frente estavam Sunghoon e Heeseung, que conversavam sobre algo que não prestei atenção, eu sequer olhava para os dois, as poucas palavras que troquei com Sunghoon haviam feito eu me sentir mal. Eu tinha esse problema onde pequenos conflitos afetavam completamente o meu humor, eu mal havia tocado nas pizzas que todos estavam comendo.

— Mas e aí, Jake e Sunghoon, quando vão explicar o motivo de morarem juntos? — Heeseung, como sempre, não tendo vergonha alguma de parecer intrometido.

Jake bebeu um gole de seu refrigerante e riu baixo, olhando para Sunghoon, que apenas afirma com a cabeça, como se estivesse dando sinal verde para o australiano explicar o motivo.

— Longa história, então eu vou resumir...

Prestei bastante atenção quando o garoto começou a falar, mas eu tentava parecer o menos interessado possível, não queria parecer muito curioso sobre isso, mesmo eu estando muito. 

Fiquei ainda mais quando o garoto começou a contar.

A família de Jake e Sunghoon eram muito próximas, as mães dos garotos eram melhores amigas de infância e isso influenciou na amizade dos dois, segundo Jake, eles se conhecem desde pequenos. 

Sunghoon não se dava muito bem com os próprios pais, mas não entraram muito em detalhes sobre isso. E então, os pais de Park receberam uma proposta recentemente para trabalhar na França, Sunghoon ficou irritado por eles nunca pensarem nele antes de decidir algo e os três brigaram muito.

Depois de uma longa conversa, Sunghoon conversou com Jake e os dois convenceram seus pais de que Park poderia morar com a família Shim temporariamente. A mãe de Jake gosta muito de Sunghoon, então não pensou duas vezes antes de aceitar. 

— Que loucura. — Nishimura diz. — As famílias de vocês são ricas pra caralho, né? Pra trabalharem na frança... 

Jay, que estava do outro lado de Niki, lhe deu uma cotovelada, todos ouvimos o resmungo do japonês enquanto Jongseong lhe lançava um olhar mortal.


— Isso é coisa de se perguntar, garoto? — ele continuava incrédulo. — Mas sério, que merda, cara. Espero que as coisas se resolvam com seus pais, deve ser muito ruim. 

— Eu aprendi a não ligar, com o tempo. — Sunghoon dá de ombros e leva um copo com refrigerante até os lábios, bebendo um gole longo, parecia até que estava virando um shot de vodca. — Eles também não se importam de qualquer forma. 

— Foi mal ter perguntado, pela primeira vez tô me sentindo um idiota e inconveniente. — Heeseung torce os lábios, mas Sunghoon solta uma risada e dá algumas batidinhas no ombro do garoto. 

— Relaxa, cara. Eu não me importo em falar. 

Eu queria falar alguma coisa, mas preferi continuar em silêncio. Não consigo imaginar como é ter uma relação dessas com os próprios pais, e também não queria que o garoto me interpretasse mal ou ficasse mais irritado do que já estava comigo. 

E enquanto eles continuavam conversando, percebi que havia sobrado apenas um pedaço da pizza de calabresa, eu havia comido apenas um pedaço dela desde que começamos a comer. Como todos os meninos já haviam terminado, eu estava um pouco sem graça de pegar mais um pedaço depois de ter ficado o tempo inteiro perdido em meus pensamentos, esquecendo de aproveitar enquanto todos comiam juntos. 

Respirei fundo, pegando o celular em meu bolso para verificar se havia alguma mensagem de minha mãe. Por ser um horário considerado tarde, imaginei que ela estivesse um pouco preocupada já que tínhamos aula no outro dia. Olhei no relógio e marcavam exatamente dez horas da noite, a última mensagem de minha mãe era uma dessas figurinhas animadas de um bonequinho mandando beijos enquanto se balança. 

E em meio à minha distração, observei de repente um prato sendo arrastado até minha frente, o mesmo contendo o último pedaço da pizza de calabresa que eu estava secando segundos atrás. Me surpreendi ainda mais quando vi que Sunghoon era quem estava entregando o pedaço para mim. 

— Você deveria comer mais. — foi a única coisa que ele disse, de forma indiferente, mas esperando que eu pegasse o prato, e foi o que eu fiz quando o puxei para mais perto de mim.

— Obrigado. — sussurrei, confuso, o vendo apenas me analisar antes de virar o rosto para os outros meninos, se juntando à nova conversa que havia se iniciado. 

Encarei o pedaço de pizza por alguns segundos, tentando entender como ele consegue ser legal com alguém mesmo estando irritado com ela. Mas não questionei, mesmo confuso, apenas peguei o pedaço de pizza e comecei a comer, perdendo a vergonha que havia se instalado há minutos atrás.


***



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