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História Deja Vu | SUNSUN - Hot N' Cold


Escrita por: attplease

Notas do Autor


sentiram minha falta domingo??? 😭
não consegui postar ontem por causa de um pequeno imprevisto, mas aqui estou eu como prometi no twitter!! heheeh

só queria agradecer vocês pelos comentários, de coração! <3

boa leituraaaa!

Capítulo 5 - Hot N' Cold


Kim Sunoo.

O tempo é algo tão confuso, as vezes temos a impressão de que ele passa rápido, já em outros dias, é como se ele estivesse na velocidade de uma tartaruga. E eu tenho certeza de que em algum lugar, seja na internet ou em algum livro, existe alguma explicação para isso. Mas eu estava preocupado demais com a próxima aula de artes para tentar procurar algo a respeito.

E me conhecendo, eu sabia que me perderia em meus pensamentos se me distraísse com esse tipo de pesquisa, todos sabemos que a internet é um perigo... ela consegue fazer uma simples busca terminar em você assistindo tutoriais de coisas que você jamais irá realmente tirar um tempo para fazer, ou coisas que você não tenha os materiais necessários em casa para fazer.

E quanto ao tempo ser confuso, eu realmente estava frustrado. O final de semana passou voando mais uma vez, eu mal tive tempo de respirar e já estava na escola novamente. E o pior de tudo: eu passei esses últimos dias ajudando a minha mãe com a sala de leitura e quebrando a minha cabeça para finalizar o desenho de Sunghoon que eu teria que apresentar na próxima aula, depois desse intervalo.

Naquele exato momento, eu estava em um canto isolado da biblioteca, encarando o papel com o meu desenho e pensando em cada julgamento que o professor poderia fazer caso não gostasse. Mas eu havia tentado o meu melhor, até assisti tutoriais (úteis) que me fizeram chegar em um resultado melhor do que eu esperava.

Mas havia um pequeno problema...

O desenho estava mais semelhante com o Sunghoon dos meus sonhos do que com o meu colega de aula, e eu sentia que isso havia acontecido pelo fato de eu não ter trabalhado em detalhes. Ele era simples e ao mesmo tempo delicado, exatamente como eu encontrava o garoto ao pegar no sono.

— Você 'tá bem, Sunoo? — uma voz feminina me faz despertar de meus pensamentos, me dando conta de que se tratava de Shin Yuna. — Chamei você duas vezes. — ela ri fraco e eu vejo seus olhos seguirem até meu desenho em cima da mesa.

— Eu? Estou sim. — fechei o caderno com o meu desenho dentro e abri um sorriso desajeitado para a garota, ela agora havia ocupado a cadeira em minha frente. — Me desculpa, eu só estava... pensando. Tenho muitas coisas 'pra fazer hoje.

A garota afirma com a cabeça, compreensiva.

— Eu imaginei que iria encontrar você aqui, de novo. — ela entorta os lábios em um pequeno sorriso, parecendo um pouco apreensiva. — Eu queria mesmo falar com você.

— Comigo? — arqueei as sobrancelhas — Pode falar.

''Por favor, nada de informações demais.''
era a única coisa que se repetia em meus pensamentos.

— É sobre a última sexta, no passeio. — ela começa. — Eu mal falei com você, não é? Me desculpa por isso, minha amiga é um pouco complicada. Sei que eu e você conversamos sobre o planetário, dias atrás.

— O quê? — eu ri fraco. — Relaxa, eu percebi que o clima com ela não parecia muito legal.

— Mas me senti péssima de todo jeito, principalmente pela Jang-Mi. — ela respira fundo. — Eu não ando sendo uma das melhores amigas do mundo.

— Ela comentou... que vocês eram amigas. — passei a mão em minha nuca, recebendo um olhar curioso da garota.

— Você sabe sobre ele? — ela é direta em sua pergunta, não precisando especificar de quem ela estava falando.

— Eu acabei ligando os pontos, na verdade.

Era óbvio que estávamos falando sobre o rolo entre Jake e Jang-Mi.

Eu nunca senti um climão tão gigante entre duas pessoas como eu senti entre eles, na última sexta-feira. Se eles não fossem cuidadosos, eu não iria ser o único a ligar os pontos. O australiano e a garota tiveram a sorte de estarmos em um grupo maior de pessoas naquele dia, então não foi tão fácil de notar a troca de olhares. Mas Sunghoon foi quem mais me deixou indignado, ele nem chegou perto de perceber o que estava acontecendo na mesa, mesmo sem parar de encarar a mim e seu melhor amigo. Um sonso total.

Mas no final deu tudo certo, cada um seguiu o seu caminho e nenhum problema foi criado em cima disso.

— Eu entendo e não entendo a Jang-Mi, sabe? A Yeji a tratava meio mal, mas foi baixo ela ter beijado o Jake. — ela respira fundo novamente. — Eu juro, Sunoo. Não aguento mais ouvir tanta reclamação sempre que trombamos com a Yang na escola.

— Eu não sei como eu reagiria se alguma amizade minha beijasse a pessoa que eu gosto, ou um ex-namoro. — eu soava pensativo. — Eu provavelmente sofreria em silêncio. — ri fraco, sem muito humor.

— Infelizmente não é como ela reage. — a garota fala, cruzando os dois braços em cima da mesa. — Ela não consegue ser silenciosa demais, e se ela for... você precisa se preocupar. — Yuna dá uma pausa, e então, me encara. — Sabe de uma coisa?

— O quê? — eu estava curioso.

— Até agora, ela não fez nada além de reclamar, o que já é algo preocupante. — ela faz uma breve careta. — O seu amigo disse alguma coisa 'pra você?

— Qual amigo?

— O Sunghoon.

— Ele só disse que ela o irritou. — falei. — Por quê?

Ela fica em silêncio novamente, pensando um pouco antes de falar:

— Eu não sei, só acho que tem alguma coisa estranha. — ela responde, enfim. — Tem alguma coisa entre eles que a Yeji não quer me contar, pensei que você pudesse saber.

— Por que eu saberia? — arqueei as sobrancelhas.

— Porque vocês são próximos, não são? Vi você dormindo no ombro dele... no ônibus.

Merda, merda, merda.
Eu estava torcendo para isso ter sido apenas alguma mentira do Heeseung, mas realmente aconteceu.

— Isso não quer dizer nada, na verdade. — dei de ombros, mudando logo de assunto. — Mas o que exatamente você acha que os dois estão escondendo?

— Eu não sei, mas sei que ela pretende fazer alguma coisa agora que o Jake voltou. — ela batuca os dedos na mesa. — E as chances de isso envolver a Jang-Mi também são grandes.

Eu estava mesmo querendo saber onde a garota estava tentando chegar, mas ela apenas soltava mais informações que me deixavam com um ponto de interrogação enorme em meu rosto, mas ela continuou:

— Eu me preocupo com a Yang, por isso 'tô aqui. — ela me encara. — Se você souber de alguma coisa, pode me falar. Quero impedir que a Yeji tome alguma atitude estúpida e se arrependa depois.

— Tudo bem. — suspirei. — Eu sou amigo do Jungwon, então se isso envolve a irmã dele, eu também me preocupo. — dei um sorriso fraco, segurando firme em meu caderno. — Pode me contar também caso acabar sabendo de algo, vou tentar me informar, mas não prometo nada.

— Certo. — a garota sorri de volta. — Me desculpa por encher você com esses assuntos, de verdade. Não queria envolver você nisso, mas eu precisava saber.

— Somos amigos, não é? Então fica tranquila, 'tá tudo bem.

Não estava tudo bem.
Mas eu não iria dizer nada disso.

Que merda o Sunghoon estava escondendo com a Yeji? Já não bastava eu saber sobre o Jake escondendo um segredo de um amigo? Agora eu teria que saber sobre o Sunghoon também?

Mas eu não acreditava que o Sunghoon faria algo assim, não com alguém que o deixava morar em sua casa, e ainda por cima, fosse seu melhor amigo. Eu ainda não sabia como me sentia sobre Park, mas minha perspectiva sobre ele havia mudado muito desde o tempo que ficamos juntos no planetário, mesmo que eu ainda o ache meio cabeça dura, um pouquinho irritante e também insistente demais.

E mesmo que eu não acredite que ele faria algo, bem lá no fundo, eu realmente não queria acabar me decepcionando.

— Você vai ficar aqui até o final do intervalo? — questionei a garota que ainda estava sentada em minha frente.

— Eu não sei, não temos muito tempo de qualquer forma. — ela dá de ombros, rindo fraco.

E então, nós passamos o resto do intervalo ali, conversando sobre assuntos que surgiam de repente e até sobre os dias em que costumávamos frequentar a biblioteca, mas não nos falávamos.
Minha amizade com Yuna parecia como uma daquelas que evolui aos pouquinhos, não deixando de ser algo bom, natural e tranquilo. Ela era boa de papo, principalmente quando o assunto eram livros de terror, que eu descobri naquele momento ser a categoria favorita da garota.

***

O intervalo já havia terminado e agora eu estava sentado no único lugar que havia sobrado para mim.
Antes mesmo de o professor entrar na sala, todos já haviam arrumado suas carteiras em um círculo, deixando o meio da sala livre para a dinâmica que iríamos fazer. Já que o período de artes era curto, assim ganharíamos mais tempo.

A divisão das aulas da semana eram sempre as mesmas, mudando somente a ordem delas, ou seja, se semana passada tivemos o terceiro horário de artes, hoje ela seria no quarto horário. E eu ainda não havia entendido o motivo disso, mas era algo único da Wall School.

— Muito bem, pessoal. Ainda bem que vocês já ajeitaram as coisas! Assim ganhamos mais tempo. — a voz do professor ecoa pela sala quando ele passa pela porta e deixa seus materiais em cima de sua mesa, o homem parecia animado. — Todos aqui fizeram os desenhos, certo?

Ele passa um olhar julgador por cada aluno daquele círculo, recebendo olhares inocentes e culpados de vários alunos. De frente para mim, Heeseung e Jake estavam com um sorriso orgulhoso, provavelmente por terem tudo pronto desde semana passada. Um pouco ao lado, Jungwon se mantinha em silêncio, enquanto Jay parecia rabiscar algo com pressa em uma folha. E enfim, meu olhar parou em Sunghoon, que estava me encarando, parecendo curioso.

— Vou levar isso como um sim. — o professor diz, caminhando do meio do círculo até a cadeira dele, onde se sentou. — Vai ser exatamente como eu falei, vocês irão até o centro, irão mostrar o desenho de vocês e então explicar a sua interpretação. E por favor, falem mais do que apenas uma frase, vocês precisam saber se comunicar. Comunicação também é arte.

Ele abre um pequeno sorriso e junta as duas mãos, fazendo um pequeno barulho na sala de aula, agora silenciosa.

— Certo, quem vai primeiro?

— Eu vou, professor. — Jungwon levanta a mão, recebendo um olhar assustado de Jay, que provavelmente esperava ter mais tempo até precisar apresentar.

— Tudo bem, Jungwon. A sua dupla é logo depois de você.

Yang concorda e se levanta de sua carteira, segurando o desenho em mãos.

O garoto de cabelos escuros então vira a sua folha, mostrando seu trabalho para toda a turma: era um desenho de Jay. Em volta dele, havia detalhes com várias coisas que o meu amigo gostava, mas em destaque estavam: videogames, um skate e o que eu acreditava ser o logotipo da Versace. Jongseong era muito fã de moda.

— A minha dupla é o Park Jongseong, professor. — ele inicia. — No começo, era apenas um desenho simples dele, mas acabamos nos aproximando por causa da escola e eu decidi adicionar alguns detalhes e informações que aprendi sobre ele na última semana. — ele segurava sua folha em frente à própria barriga. — E a minha interpretação sobre a atividade foi essa: observar a pessoa. Sem observar alguém, isso se torna apenas mais um desenho sem significado, ou vazio.

Todos aplaudem quando Jungwon termina, assim como o professor que parecia satisfeito com as palavras do representante da turma. Já o meu amigo, Jay, estava animado com o desenho que Yang havia feito dele, provavelmente não se lembrando que ele seria o próximo a apresentar também.

— Sua vez, Jongseong — a voz do professor faz a turma ficar em silêncio novamente.

Jay se levanta e segue até o centro da sala quando Jungwon volta para o lugar em que estava sentado antes.

Eu conhecia o Jay há anos, então eu sabia o quanto ele não estava confortável em ter a atenção de todo mundo, isso era algo que seu rosto também entregava.

Ele era provavelmente o mais reservado do nosso grupo, e eu percebia o quanto o garoto se cobrava por não conseguir atingir as melhores notas na escola. Park sempre reforçava que não era assim propositalmente, ele falava isso até para os professores, que sempre o incentivavam quando percebiam o esforço do garoto. Jay odiava qualquer tipo de atenção demais exatamente por conta disso, ele não suportava a ideia de ter pessoas o julgando mentalmente.

Somos parecidos quanto a isso.

— A minha dupla é o Yang Jungwon, como vocês viram. — Jay começa a falar. O garoto encara o papel em suas mãos por alguns segundos, e enfim, mostra para todos na sala de aula.

Jay havia desenhado apenas dos olhos de Jungwon para cima, na cabeça de Yang, havia uma coroa de flores. E diferente de Jungwon, o desenho de Jay não era nada colorido, era apenas a cor de seu lápis, algo agradável de se ver.

— Os olhos são a primeira coisa que eu reparo em uma pessoa. — a voz do garoto sai baixa, mas não era algo para se preocupar, a sala continuava um silêncio total. — O olhar diz muito sobre uma pessoa e demonstra vários sentimentos com apenas uma pequena mudança de expressão. — ele força um sorriso em direção do professor, e o engraçado disso, era o fato dos olhos de Jay estarem entregando o quão ansioso ele estava para sair dali. — Amor, raiva, medo, tristeza e felicidade... eu acredito que os olhos também são arte.

Jay finaliza e solta um longo suspiro, recebendo aplausos de todos da sala.

— Estou impressionado, Jongseong. — o professor balança a cabeça várias vezes enquanto entorta os lábios e anota em seu caderno. — Gostei da sua finalização.

— Obrigado, professor. — Jay se inclina em uma reverência ao mais velho e logo volta para sua carteira, afundando na mesma ao se sentar. Jake estende a mão em punho para o garoto e os dois fazem um pequeno toque. Jungwon também faz um sinal positivo com o dedão para ele, sorrindo.

E a dinâmica continua.

Faltavam muitas duplas ainda, e eu me sentia tranquilo quanto a isso, eu achava melhor que outras pessoas fossem antes de mim, assim eu me sentiria mais confortável em compartilhar minhas perspectivas com pessoas que preciso conviver todos os dias. E eu sequer havia ensaiado o que eu iria falar.

— Tudo bem, vamos continuar. Quem se candidata a ir agora? — o professor larga o lápis na mesa e encara todos ali. — Não me façam escolher.

Meu olhar seguiu até Sunghoon, do outro lado do círculo. O garoto me encarava também, e assim como Jay havia comentado há minutos, os olhos do garoto deixavam bem claro que ele pretendia tomar uma atitude sobre a pergunta do professor.

''Não.'' Movi os lábios sem que um som saísse entre eles, negando com a cabeça várias vezes para Sunghoon.

O garoto sorriu com diversão, fazendo exatamente o oposto do que eu havia pedido quando levantou a mão e falou:

— Eu vou, professor.

— O aluno novo. — o homem diz, animado. — Gosto quando vocês se posicionam. Fique à vontade.

Sunghoon não demorou para levantar-se de onde estava e seguir até o centro. Ele não parava de me olhar nem por um segundo, e eu esperava que ele soubesse o quanto eu estava o xingando mentalmente por não ter esperado nem que mais algumas duplas fossem em nossa frente. Na verdade, eu tinha certeza de que ele sabia, o sorriso em seu rosto o entregava completamente.

— Kim Sunoo é a minha dupla. — ele é direto, mostrando o seu desenho para o resto da sala.

Mas o desenho era diferente do que ele havia feito semana passada. E quando eu digo diferente, eu realmente quero dizer isso. Sunghoon havia feito algo muito mais realista e trabalhado, não algo que se faz em apenas 15 minutos.

Será que eu era o único amador naquela sala de aula?

— No começo, meu desenho era outro. — ele ri fraco. — Mas eu sou um pouco crítico demais quanto as coisas que eu desenho, então me dediquei um pouco nisso. Acredito que isso já responda um pouco sobre a minha interpretação dessa atividade. — Sunghoon olha para o desenho mais uma vez, e então, vira o rosto em minha direção. — Desde o começo, o Sunoo parecia uma pessoa difícil de ler. — ele dá uma pausa. — E eu ainda acho isso, na verdade. Mas ele me disse uma coisa nos últimos dias que me fez pensar bastante.

— O que ele disse? — o professor pergunta, curioso.

­— ''Talvez você só não tenha encontrado o seu conforto ainda.'' — ele repete a frase que eu havia dito no planetário, e eu arqueio as sobrancelhas. — Ele me disse isso depois de eu comentar sobre não sentir tanto interesse ou animação em alguma coisa específica. E depois de pensar muito, eu cheguei na conclusão de que isso sempre esteve bem embaixo do meu nariz... — ele faz uma careta, rindo sem graça. — O meu conforto sempre foi desenhar.

Sunghoon diz, simples assim, e continua:

— Esse é o motivo do meu desenho ser apenas ele, e de uma forma mais realista. — Sunghoon já não me olhava mais, agora seu olhar estava perdido na sala de aula. — Os últimos dias me fizeram enxergar um pouco mais dele. E mesmo sendo apenas 1%, foi o melhor que eu consegui, professor. Como eu disse, ele é difícil. — ele ri fraco.

E então, Sunghoon finaliza, recebendo aplausos como os outros haviam recebido também.

— Esse último passeio aproximou a turma inteira pelo jeito, não é? Isso é bom, eu queria mesmo ver esse lado de vocês, por isso pedi que não fizessem duplas com quem costumam conversar todos os dias. — o mais velho explica, e então sua atenção vai toda para mim. — Sunoo, sua vez.

Eu ainda estava sem reação com as palavras de Sunghoon, não sabendo descrever exatamente o que eu estava sentindo.

Okay, tudo bem.
Eu estava querendo me esconder.
Era completamente estranho conviver com esse garoto e a mistura de sentimentos que suas palavras me causavam, ainda mais quando eram ditas em frente de todas essas pessoas, incluindo meus amigos. Eu acho que nem eles tinham essa ideia de que eu e Sunghoon havíamos conversado sobre mais coisas naquele passeio. E nem eu esperava que uma simples frase o faria refletir tanto, eu só estava realmente feliz por ter visitado o planetário.
Mas eu gostei mesmo de saber sobre a interpretação dele, eu acho.

Quando me levantei com o meu desenho em mãos, encarei o papel uma última vez antes de seguir até o meio da sala, me preparando mentalmente para falar sobre quem eu havia tentado, com muita falha, fugir há semanas. Meus olhos passaram por todos que estavam sentados naquele círculo, parando em Sunghoon, que tinha uma expressão curiosa e ao mesmo tempo divertida em seu rosto, ele provavelmente estava mesmo se divertindo com aquilo.

— A minha dupla é o Park Sunghoon. — falei, e assim como os outros haviam feito, mostrei o meu desenho, mesmo receoso. — Eu não sou a pessoa mais talentosa do mundo, mas, me disseram que o perfeito não existe. — dei um pequeno sorriso em direção do professor. — O desenhei dessa forma porque...

Confesso que eu não sabia explicar exatamente o porquê, pelo menos não sem parecer um maluco. Então eu travei.

— Porque é assim que eu o enxerguei pela primeira vez. — falei aquilo tão automaticamente que até eu havia me impressionado. — É... acho que essa foi a minha primeira impressão do Sunghoon. — levantei um pouco o meu desenho, evitando encarar Park. — Essa pessoa é ele, mas sem detalhes. Acredito que depois que você começa a conhecer uma pessoa de verdade, os detalhes vão aparecendo aos poucos, e essa é a interpretação que eu tive e quis passar com esse desenho.

Tudo o que eu falei havia sido verdade, menos a última parte. O desenho saiu daquela forma porque a minha cabeça ainda não conseguia diferenciar o sonho da realidade, mas eu estava trabalhando nisso sozinho.

— É uma interpretação um pouco diferente da sua dupla, não acha?

O professor questiona, fazendo uma sensação estranha passar por meu corpo, principalmente em minha barriga. Ele não havia julgado nenhum desenho até agora. Pelo menos não negativamente.

— Mas eu gostei. — o homem completa, me fazendo sorrir aliviado. — Isso mostra uma quebra de sintonia, um outro lado, sabe? É interessante.

Concordei com a cabeça e imediatamente procurei por Sunghoon, vendo que o garoto agora não possuía mais o mesmo sorriso de antes, ele somente observava a conversa enquanto tinha os dois braços apoiados na mesa, sem expressão.

E assim finalizei minha apresentação, recebendo aplausos também, não parando para prestar atenção em mais nada quando voltei a me sentar em minha carteira, respirando fundo ao me afundar nela.

Mais alunos se apresentaram depois de mim, e mesmo aquele período de aula sendo curto, ele foi útil, deu o tempo certo para que todos se apresentassem. E foram muitas interpretações diferentes, eu realmente consegui entender onde o professor queria chegar com isso: ele queria mostrar as variações da arte e que aquela atividade não precisava ser exatamente da forma que ele havia descrito, mas sim como cada um havia interpretado.

Quando tentei algum contato visual com Sunghoon novamente, o garoto estava conversando com Kim Yu-mi, a garota que costumava pedir informações sobre livros para mim antes de começar a focar mais em seus estudos.

Respirei fundo, fitando o meu desenho em cima da mesa uma última vez antes de fechar meu caderno com ele dentro, e enfim, o professor se posicionou após todos terminarem suas apresentações:

— Quero agradecer a quem se dedicou hoje nas apresentações, vocês tiveram um ótimo desempenho. — o homem falava com animação. — E é isso por hoje, pessoal. Espero que vocês tenham uma boa semana.

Todos agradecem o professor, e segundos depois, o sinal para a próxima e última aula toca.

Teríamos aula de matemática, então todos os alunos começaram a ajeitar suas carteiras em seus devidos lugares. E eu estava torcendo para tudo terminar logo, eu odiava qualquer aula da área de exatas.

***

— Você marcou um horário certo com eles, filho? — minha mãe pergunta enquanto eu terminava de guardar as compras no armário da cozinha.

— Sim, mãe. Eles vão chegar as sete horas. — respondi e guardei a última compra, logo fechando o armário e me virando para mais velha, que cortava algumas verduras em cima de uma tábua específica para isso.

Hoje é o dia em que minha mãe decidiu chamar os meus amigos para jantar aqui em casa.

Nós conseguimos finalizar a sala de leitura nesse último final de semana, mas minha mãe não quis aceitar a ajuda dos meus amigos. Segundo ela, isso não era trabalho para visitas e ela queria os agradar por serem meus amigos, e causar uma boa impressão.

— Ótimo. — ela sorri, animada. — Vou caprichar no jantar, espero que eles gostem. Faz um tempo que não cozinho para mais pessoas desde que seu pai viajou à trabalho.

— Sua animação faz até parecer que eu não costumo ter amigos, mãe. — eu ri baixo. — O meu pai vai continuar fora por quanto tempo?

— Ele me disse que voltaria em algumas semanas, provavelmente.

O meu pai trabalha com jornalismo, então não o vejo em casa com tanta frequência assim. Mas nem sempre as coisas foram desse jeito, só passaram a surgir mais oportunidades e ele achou que poderia ser algo bom financeiramente para a nossa família, pelo menos eu lido bem com isso.

— Espero que não demore muito. — fiz uma pequena careta, me desapoiando do balcão atrás de mim e me aproximando da mesa em que minha mãe estava. — Acho que vou tomar um banho rápido enquanto eles não chegam.

— Qualquer coisa eu os recebo por você. — ela sorri fraco enquanto terminava de cortar as coisas.

Em segundos eu já subia as escadas até o meu quarto, não demorando para separar algumas roupas e seguir até o banheiro que ficava no mesmo corredor que o meu quarto, no segundo andar. Todo esse processo levou no máximo uns cinco minutos, que se tornaram vinte do momento em que eu entrei dentro do box até o momento em que eu saí, enrolado com a toalha em minha cintura. Em seguida, caminhei até o pequeno balcão que ficava de frente para um espelho, encarando meu reflexo e respirando fundo antes de começar a vestir as roupas que eu havia separado para mim.

E realmente vinte minutos haviam se passado quando eu saí de dentro do banheiro após estender minha toalha. E foi nesse momento em que eu escutei vozes familiares no andar de baixo, o que me fez rir sozinho, sabendo que se tratava de meus amigos sendo estranhamente pontuais.

— Olha só, se não é o garoto que não recebe os próprios amigos em casa. — Heeseung nega con a cabeça quando me vê descendo as escadas, me fazendo revirar os olhos de forma divertida.

Todos que estavam presentes ali já eram rostos familiares para a minha mãe: Heeseung, Jay e Niki. Os três estavam reunidos na sala, provavelmente por indicação da minha mãe, que agora apareceu apoiada na porta que dava acesso à cozinha.

— Desde quando vocês são pontuais assim? — eu ri baixo. — Até parece que minha mãe não conhece vocês.

— Sempre somos pontuais quando o assunto é comer a comida da Sra. Kim. — Niki diz, lançando um sorriso inocente para minha mãe, que acha graça.

— Bom saber disso, espero que não deixem nada sobrar, viu? — minha mãe diz, com humor. — E quanto aos outros meninos? São três, não são?

— Eles devem estar a caminho, o Jungwon mora perto da casa deles. Aquela que a senhora nos levou aquele dia, lembra? — Heeseung pergunta para a mais velha.

— Ah, claro. — ela balança a cabeça em afirmação. — Mas casa deles? Eles são irmãos?

— Longa história, tia Kim. — Niki diz, ele era o único que chamava minha mãe assim.

— O Sunghoon mora com o Jake temporariamente, problemas com os pais. — Jay faz um breve resumo, recebendo um olhar mais curioso ainda da mais velha.

Mas antes que o assunto pudesse continuar, o som da campainha se espalhou por todos os lados, fazendo um silêncio se instalar na sala quando todos se encararam.

— Provavelmente são eles, eu atendo dessa vez. — soltei uma risada fraca e me virei em direção da porta principal, seguindo até ela sem muita pressa.

Não me importei em olhar pelo olho mágico, apenas segurei na maçaneta e abri a porta, dando de cara com quem eu estava esperando: Jake.
Um sorriso se formou no rosto do australiano quando nossos olhares se encontraram. Ao lado dele estava Jungwon, que tinha o mesmo sorriso em seu rosto.

Mas nada de Sunghoon.

— Estamos muito atrasados? — o australiano questiona em um tom divertido.

— Nem um pouco, os outros meninos chegaram há pouco tempo também. Podem entrar! — dei espaço para que eles entrassem, segurando a porta atrás de mim.

Jake é o primeiro a passar pela porta.

E eu não iria perguntar, mas minha curiosidade falou mais alto quando Jungwon passou por mim, então questionei:

— O Sunghoon não vem?

— O quê? — Jungwon arqueia as sobrancelhas para mim, virando o rosto para o lado de fora como se estivesse procurando alguém. — Mas ele veio.

Passos rápidos se aproximam da porta quando o mais novo me responde, e assim, um Sunghoon ofegante surge por ela.

— Eu... — ele respira fundo, levantando o braço e balançando a mão que segurava um celular. — Tinha deixado meu celular no Uber.

Jake gargalha ao ouvir as palavras do melhor amigo.

— Agora entendi o porquê de você ter ficado tão quieto do nada... você simplesmente não estava com a gente. — as palavras do australiano fazem Park revirar os olhos.

Sunghoon então repara em mim pela primeira vez. O garoto tinha a mesma expressão que ele tinha na sala de aula naquele mesmo dia, mudando apenas um mínimo e breve sorriso que deu em minha direção, acredito que aquilo havia sido uma tentativa de cumprimento.

— Pode entrar. — falei em um sussurro enquanto ainda segurava a porta, agradecendo mentalmente quando os três meninos finalmente entraram e eu a fechei.

Eu estava com a impressão de que a minha apresentação na aula de artes não havia agradado muito a Sunghoon, mas eu iria ignorar isso, pelo menos enquanto eu achar que isso não seja um problema real. Afinal, ele não viria até minha casa se estivesse irritado, eu acho.

Quando chegamos na sala, os meninos estavam discutindo sobre qual filme iríamos assistir após o jantar. Com ''os meninos'', eu quis dizer: Niki e Jay.

— Todo mundo já assistiu Harry Potter, Riki. Precisa ser um filme que ninguém assistiu ainda.

— Mas é um filme que nunca perde a graça. — o mais novo dá de ombros. — Mas tudo bem, você venceu, vamos assistir Pânico 5.

Heeseung, que não estava participando daquela conversa, largou imediatamente o celular quando notou que os garotos estavam me acompanhando até a sala.

— Finalmente, o Tom e o Jerry aqui já estavam começando a brigar. — ele aponta para Jay e Niki, rindo baixo.

— Como sempre. — Jake dá risada.

— Não vão me apresentar? — a voz de minha mãe surge da porta da cozinha novamente, a mais velha encarava tudo em silencio por todo esse tempo.

— Mãe... quase me esqueci. — falei quando nos aproximamos do sofá, me virando para os meninos e achando graça ao perceber que todos haviam mudado de postura quando perceberam a presença da minha mãe. — Esses são Jake, Jungwon e Sunghoon. — os apresentei, apontando para cada um ao falar seus nomes. — E essa é a minha mãe.

— Sou Kim Nabi. — ela se apresenta para os três, que fazem uma reverência um pouco longa demais. No sofá, Niki e Jay achavam a situação totalmente engraçada. — Prazer em conhecer vocês. — ela diz, simpática. — Eu queria muito me sentar aqui para conversarmos, mas tenho que terminar o nosso jantar. — minha mãe faz uma breve careta. — O Sunoo poderia mostrar a nossa sala nova enquanto isso, não é?

Os garotos concordam com a sugestão da minha mãe, recebendo um sorriso da mesma antes da mulher sumir pela porta da cozinha novamente, nos deixando sozinhos.

— Desde quando vocês três tem essa postura? — Heeseung dá risada após se certificar de que minha mãe não estava mais entre nós, recebendo um dedo do meio de Jake.

— A mãe do Sunoo parece um anjo, cara. — Jake se aproxima, dando algumas batidinhas em meu ombro. — Eu me senti intimidado.

— Eu também, eu me sentiria a pior pessoa do mundo se não passasse uma boa impressão a ela. — foi a vez de Jungwon, que arrancou risadas de todos.

— Tudo bem, vocês podem continuar apreciando a minha mãe enquanto eu mostro o quarto novo 'pra vocês. Me sigam. — falei em um tom divertido, seguindo até as escadas na esperança de que eles iriam me seguir, e foi exatamente o que aconteceu.

A sala de leitura ficava no final do corredor, duas portas depois de onde o meu quarto ficava. Quando virei a maçaneta, dei espaço para que meus amigos entrassem, e todos eles pareciam realmente curiosos com o lugar, me deixando um pouco feliz com aquela demonstração de interesse.

— Nossa, ficou realmente legal. — Jungwon comenta, o garoto agora se aproximava da enorme e única prateleira da sala. — Vocês fizeram mesmo tudo isso sozinhos?

— Fizemos. — eu ri baixo. — Foi cansativo, mas valeu a pena.

A sala não era tão grande assim, era realmente um espaço normal e agradável que eu poderia usar como um refúgio dentro da minha própria casa. Além da prateleira com os livros, eu havia enfeitado as paredes com capas de alguns dos meus álbuns favoritos, além de ter um quadro em destaque com uma ilustração do meu livro e filme favorito: Coraline. Era uma história tão complexa e interessante, eu passaria horas falando sobre suas teorias.

Além do quadro, uma televisão estava pendurada do outro lado da parede, assim eu poderia usá-la para ver filmes ou até escutar alguma música dependendo do tempo em que eu decidisse passar lá dentro. Tudo havia ficado do jeito que eu e minha mãe imaginávamos quando isso era apenas uma ideia sem futuro.

— Poderíamos assistir o filme aqui, não é? Já podemos inaugurar essa televisão. — Heeseung sugere, se se jogando no meio das várias almofadas que estavam espalhadas em cima de um tapete enorme e felpudo.

— Sabe o que também ficaria legal aqui? — Niki pergunta, me fazendo segurar um sorriso, deduzindo que ele falaria alguma besteira.

— O quê?

— Um pebolim. — ele diz, orgulhoso com a ideia. — Eu viria até aqui jogar com você.

— Vou pensar, Riki. Vou pensar. — neguei com a cabeça, rindo fraco. — Mas eu só poderia jogar quando vocês estivessem aqui, então acho difícil minha mãe concordar.

Meu olhar seguiu até Sunghoon quando eu terminei de falar. O garoto estava de frente para a prateleira, segurando um de meus livros em mãos e encarando ele em silêncio enquanto os outros meninos se distraiam juntos. E então, eu decidi fazer algo que eu ainda não tinha feito com ele desde que nos conhecemos na escola: tomar a atitude de falar primeiro.

Riki agora se intrometia em uma conversa de Heeseung e Jay, e eu aproveitei o momento para caminhar até Sunghoon, chamando sua atenção ao falar:

— Posso te emprestar ele se você quiser. — me referi ao livro em sua mão, se tratava de ''As vantagens de ser invisível.'', o primeiro livro que eu havia ganhado oficialmente no meu aniversário de 14 anos.

Sunghoon virou o rosto em minha direção, rindo pelo nariz ao fechar o livro, deixando-o no mesmo lugar em que estava na prateleira antes.

— Eu já assisti o filme, mas valeu. — ele sorri fraco e com os lábios juntos. — Sua sala é legal.

— Obrigado. — retribuí o sorriso, percebendo o quão estranho estava sendo aquela tentativa de diálogo, mas eu continuei. — Você entende melhor algumas coisas do filme se ler o livro.

— É o que sempre dizem, não é? — ele agora passava os olhos pelos livros da prateleira, não me encarando nem quando eu o respondi.

— Sim, são sim. — fiz uma breve careta, desistindo de tentar continuar uma conversa sem interesse.

Me afastei de Sunghoon sem dizer mais nada e segui até os meninos que estavam sentados nas almofadas, eles conversavam sobre jogos. O assunto provavelmente veio à tona depois da minha conversa com Riki. Eles estavam tentando decidir qual seria o jogo mais adequado para se ter em uma sala como a que estávamos, parecia até que eu havia concordado com a ideia, mas eu deixei a conversa continuar.

Depois de alguns minutos, estávamos todos, inclusive Sunghoon, deitados nas almofadas enquanto conversávamos. Jay estava tentando confirmar sobre uma festa que alguns alunos da 302 iriam fazer no próximo final de semana, e apesar de ter sido quem sugeriu que fôssemos em uma, Jake não parecia estar tão animado assim com essa que havia surgido. O motivo era óbvio: Yeji é aluna da 302.

— Vou tentar achar outra, cara. Mas essa vai ser a mais memorável, todo mundo vai. — Jay dá de ombros e guarda o celular no bolso.

— Espero que seja memorável mesmo. Pelo menos eu quero beber muito... — Jake faz uma careta, e de repente, o australiano coça a garganta assim que seu rosto muda completamente de expressão. — Beber refrigerante, não é? Eu descobri uma marca nova muito boa, cara.

Ninguém entende a reação do garoto, pelo menos não até percebermos que minha mãe havia acabado de parar na porta e nos encarava.

— Vim chamar vocês 'pra jantar, meninos. — ela dá um sorriso. — A conversa estava boa, não é? Mas a comida vai esfriar.

Pela reação da minha mãe, acredito que ela não havia escutado o que estávamos falando. Mas ela não era burra, então provavelmente estava fingindo que não havia entendido a rápida mudança de assunto.

Os garotos sorriram nervosamente enquanto se levantavam, e eu tinha a mesma reação que eles.

— Eu queria ouvir isso desde que cheguei aqui, Tia Kim. Sou o fã número um da sua comida. — Riki dá o primeiro passo ao passar pela porta, acompanhando a minha mãe até as escadas e salvando a pele de todos nós.

— Refrigerante, Jake? — Jay negava com a cabeça para o australiano, saindo indignado pela porta.

Jungwon e Heeseung logo saíram também, o mais velho da dupla precisava até limpar algumas lágrimas que saíram de seus olhos depois de segurar o riso por tanto tempo.

— Espero que a sua mãe não me odeie, Sunoo. Foi mal. — ele dá uma pequena batida em meu ombro, e então, sai pela porta também.

Eu sabia que aquilo não iria dar em nada, então realmente não me preocupei, até porque eu sabia que minha mãe confiava em mim e nas minhas escolhas de amizade. Ela nunca havia odiado algum amigo meu antes.

E quando dei um passo para seguir atrás dos meninos, Sunghoon impediu minha passagem ao apoiar a mão na lateral da porta. Eu recuei rápido, encarando o garoto e o ouvindo respirar fundo.

— Posso falar com você?

— Agora? — arqueei as sobrancelhas.

— Sim. — ele fecha a porta, me deixando mais confuso ainda.

— Sobre o quê você quer conversar? Daqui a pouco alguém pode subir aqui procurando a gente.

— Ou eu falo com você aqui, ou eu falo na escola. — ele dá de ombros.

— Tudo bem. — respirei fundo. Eu sabia que a minha curiosidade não me faria aguentar até lá. — O que você quer?

Sunghoon fica em silêncio por alguns segundos, o garoto se encosta na porta que havia fechado e por fim, cruza os braços, falando:

— Eu coloquei o meu primeiro piercing quando eu tinha 15 anos, mas fiz isso escondido dos meus pais. — ele fala, simples. — Mas depois disso eu cheguei à conclusão de que a minha real intenção não era esconder isso deles. Eu queria que eles me dessem atenção, mesmo que fosse de forma negativa. Mas eles não deram a mínima. — ele ri, sem humor. — Já os outros eu coloquei porque eu gostava mesmo, fiz por mim e não por eles.

— Por quê você 'tá me falando essas coisas? — eu não conseguia levantar mais as minhas sobrancelhas do que elas já estavam.

— Porque eu pensei que já havíamos passado dessa fase de ''conhecer'' o outro. — ele faz aspas com as mãos. — Mas já que não passamos, esses são os detalhes que você esqueceu de colocar no seu desenho.

— Isso é por causa da aula de artes? — o questionei, respirando fundo mais uma vez. — Eu realmente gostei de saber que ajudei você a pensar aquilo sobre desenhar.

— Mas você falou na escola como se eu não tivesse te contado absolutamente nada sobre mim. — ele ri pelo nariz e descruza os braços, se desencostando da porta também.

— Mas eu realmente não sei, não exatamente. — entortei os lábios, bufando. — Eu só não consigo entender o porquê isso te incomoda tanto, cara.

— Eu também não sei, Sunoo. E isso é irritante. — suas palavras me fazem arquear as sobrancelhas mais uma vez. O garoto jogou a cabeça para trás e soltou o ar entre os lábios quando me encarou novamente, se aproximando de mim. — É irritante 'pra caralho, e não é de você que eu 'tô falando.

— De quem você está falando, então? — o questionei.

— De mim. — ele me encarava, sério. — Uma hora você parece gostar de mim, já em outra, você parece que não se importa. — ele nega minimamente com a cabeça. — E mesmo assim eu continuo tentando.

— E eu continuo achando que eu não mereço todo esse esforço, Sunghoon. — eu sentia o meu corpo muito agitado, e não sabia o motivo daquela reação. — Nunca tentaram tanto assim se aproximar de mim, e eu...

Alguém começa a bater na porta, me fazendo dar um pequeno pulo de susto. Sunghoon imediatamente me puxa contra ele, me colocando contra a porta e levando o dedo indicador até o meio de seus próprios lábios, indicando silêncio.

— Cara, vocês dois estão aí dentro ainda? — a voz de Nishimura sai abafada do outro lado da porta. — A tia Kim pediu para que vocês não demorassem muito, seja lá o que estiverem fazendo aí. — a voz do garoto sai desconfiada, e ele bate mais uma vez.

— Você precisa parar de achar que não merece algo. — Sunghoon ignora o garoto e sussurra para mim, seu rosto estava perto até demais. — E eu não faço a mínima ideia do porquê eu fico tão incomodado com você dizendo isso sobre si mesmo também.

Eu tranquei minha respiração quando subi meus olhos até os dele, sentindo o frio se instalar em minha barriga quando ouvi suas palavras. No mesmo segundo, Sunghoon abaixou o dedo de seus lábios e esticou o braço até a prateleira de livros ao nosso lado, pegando o mesmo livro que ele tinha em mãos há pouco tempo. O garoto havia feito tudo isso enquanto continuava com os olhos em mim, e eu já não lembrava se Riki continuava batendo na porta do outro lado.

— Eu queria de verdade conseguir não tentar me aproximar de você. — ele sussurra mais uma vez, se afastando de mim e pegando na maçaneta da porta, esperando que eu me desencostasse dela para abri-la, dando de cara com Niki.

— Que merda vocês estavam fazendo aí dentro? — a voz do japonês sai totalmente impaciente.

— O Sunoo não queria me emprestar o livro, foi mal. — Sunghoon diz, levantando o objeto em mãos e mostrando para o mais novo. —  Eu precisei ameaçar ele aqui dentro, mas já resolvemos.

— Custava ter me respondido? — Nishimura faz uma breve careta.

— A porta estava literalmente destrancada, Niki. — Sunghoon aponta e solta uma risada fraca, negando com a cabeça e me encarando uma última vez antes de seguir até as escadas.

— Você 'tá bem, cara? — o mais novo pergunta ao se virar para mim.

Se estar bem significava que eu estava surtando internamente por não entender absolutamente nada do que acabou de acontecer, sim, eu estava bem.

Sunghoon me deixou parado igual um idiota dentro da sala de leitura.

Eu estava completamente confuso e com uma mistura de emoções correndo por todo o meu corpo, tentando fazer com que minha cabeça entenda e saiba separar todas as coisas que eu sentia por Sunghoon quando ele era apenas uma pessoa que não existia na vida real.

Ou na minha vida, para ser mais realista.

E se ele não sabia o porquê de não conseguir desistir de tentar se aproximar de mim, eu sabia exatamente quais eram os motivos que eu tinha para estar me mantendo cada vez mais longe. E isso era uma confusão total, porque assim como o professor de artes havia dito, estávamos em uma quebra de sintonia.

***


Notas Finais


oiii gnt, não se esqueçam da hashtag no twitter caso comentem lá! #AttDejaVu

vejo vocês domingo!!! <3

playlist da fanfic: https://open.spotify.com/playlist/4QMK2NnVYvTSVh4DP54AiA?si=gSAProRuRI-Qp8UmpIR47w


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