História Delírios - No quarto de Nnoitra

Nnoitra se mantinha a espera de uma resposta, afinal estava furioso por ter passado a reunião toda pensando no que Neliel estaria fazendo ao lado de Grimmjow...

— Francamente... Eu acho que essa porta não tem mesmo uma serventia. – Resmungou Grimmjow pelo fato de Nnoitra ter ultrapassado a mesma sem nem sequer bater. Neliel permanecia comendo seu misto quente com olhos grandes a observar a cena, parecia um esquilinho.

— Não me venha com essa, eu quero uma explicação! Por que a Neliel está na sua casa?! – Perguntava o maior muito irado dando a volta no sofá a fim de pegar sua namorada de volta.

— Cara ela vem sempre aqui, não se preocupe, nós nunca tivemos nada. – Explicou Grimmjow revirando os olhos, muito irritado.

— Não quero saber, não vou deixar ela ficar sendo escravizada por um cara malicioso como você! – Ralhava o moreno ao pegar Neliel pelo braço, o que fez com que ela derrubasse o misto quente que comia, ele a puxava e ela esticava o braço a fim de pegar seu lanche de volta enquanto os dois discutiam, ela só queria comer em paz.

— Malicioso?! Eu?! Você é o maior pegador de todos os tempos! E pior: O mais superficial. Só pensa em pegar as garotas mais bonitas e levá-las pra cama, nunca se importou se elas eram legais ou se tinham sentimentos! – Grimmjow o acusava sem dó, mesmo que Neliel estivesse perto.

— Cuide da sua vida que eu cuido da minha. Vamos Neliel! – Esbravejou ele e saiu arrastando a garota consigo, em seguida a fez entrar em seu carro e a levou embora, ela só lhe dava as coordenadas – Nunca mais quero saber que esteve sozinha com ele! – Resmungava ele durante o curto trajeto até a casa dela.

— Como ele disse, não tem nada entre a gente, mas acho que a melhor coisa que podemos fazer é deixar quieto isso de namoro, pois eu não vou mudar nada por você. Jowjow é meu melhor amigo e isso é mais importante pra mim. – Explicou ela calmamente assim que ele parou o carro na frente de sua casa.

— Você tá me dando um fora?! – Perguntou o moreno estático, pois aquilo nunca tinha acontecido com ele, as garotas eram sempre deixadas, mas nunca ninguém o tinha deixado.

— Você é bem esperto. – Disse ela e saiu do carro – Foi legal ser sua namorada e até mais! – Ela se despediu e já ia entrando em sua casa, mas ele insistiu em resolver aquilo.

— Não pode estar falando sério... Olha, vamos conversar e ver o que podemos fazer... – Dizia ele na intenção de fazê-la repensar o que tinha dito.

— É minha decisão final. Boa noite. – Disse ela e entrou em sua casa, não dando a ele uma chance de negociar.

O moreno se foi dali irado, queria muito acabar com a raça de Grimmjow, então foi até a casa do mesmo e a invadiu novamente. Tentou persuadi-lo a conversar com Neliel, para que ela lhe desse mais uma chance, mas o azulado só o colocou pra correr de lá.

No dia seguinte o moreno estava na cafeteria assim que ela chegou, a garota o atendeu como fazia com os outros clientes e ele sussurrou a ela que não aceitava o término do namoro, ela fingiu não ouvir e continuou a trabalhar.

A semana se seguiu assim e ele não poderia vê-la à noite por estar em uma maratona de reuniões, mas a via durante o dia e ao mesmo tempo ia até a loja de Grimmjow a fim de lembrá-lo de não se aproximar de Neliel, o informou também que na sexta-feira realizaria uma festa e tinha planos com a garota nessa noite.

Grimmjow já estava cheio das gracinhas de Nnoitra, que ia a loja e a sua casa também, já fazia dois dias que dizia a Neliel que não poderia recebê-la, pois não queria ver o moreno tocando-a novamente. Em uma noite estava conversando com Renji antes de fechar a loja e estava lendo o contrato de compra de seu futuro apartamento, achou que essa seria a única forma de se ver livre de Nnoitra e sua obsessão por Neliel.

— Qual é a dessa pressa em arranjar um apartamento? – Perguntou Renji enquanto observava o desespero do azulado.

— Eu não aguento mais ter que ficar dando desculpas a Nell para que não venha me visitar e eu já queria mesmo sair daquela casa. – Respondeu Grimmjow e logo tratou de assinar os papéis que já tinham sido analisados por seu advogado.

— Eu não entendo, se não quer que ela vá lá, porque não diz que não quer mais vê-la? Você sempre foi muito bom com isso... Sabe... Isso de dar foras nas garotas. – Sugeriu Renji confuso.

— A Nell é diferente, não posso dizer que não quero mais vê-la. – Disse o azulado despercebido de suas palavras.

— Cara... Você ta a fim dela?! – Questionou o ruivo assombrado.

— Eu? A fim da Nell?! Claro que não... – Respondeu ele desviando o olhar.

— Então porque vai se mudar? – Perguntou novamente o ruivo, sem se dar conta de que ela tinha acabado de entrar pela porta e estava perplexa com as palavras que acabara de ouvir.

— Quando pretendia me contar que ia se mudar? – Perguntou ela tentando entender melhor aquela conversa, já que só tinha ouvido a última frase.

— Eu acabei de assinar o contrato, queria que eu dissesse quando? – Ele lhe devolveu uma pergunta na intenção de ganhar algum tempo até ter um jeito melhor de conversar com ela.

— Não sei... Talvez quando resolveu que queria sair da casa... – Respondeu ela indignada, Renji saiu de fininho e se foi dali antes que sobrasse para ele.

— E desde quando eu tenho que dar satisfações do que eu quero fazer? – Ele já estava começando uma nova discussão.

— Eu não queria satisfações, só acho que podia ter comentado algo. Esses dias você tem me evitado... – Dizia ela quando ele a interrompeu:

— Eu tava mesmo te evitando, pois não aguento mais morar em um lugar no qual eu não tenho sossego! – Esbravejou ele e ela emudeceu.

Neliel o fitou por uns instantes e era claro que ele ainda aguardava por uma retrucada cheia de ira, mas ela não o fez. Colocou a mão na bolsa que trazia consigo e tirou de dentro dela as chaves que ele tinha lhe dado há muito tempo, em seguida as colocou sob o balcão. O som daquele chaveiro contra a madeira soou como uma bomba aos ouvidos de Grimmjow, estava realmente tudo acabado.

— Se não me queria por lá, era só pedir. – Ela disse a sério e saiu da loja, o azulado elevou a mão direita ao rosto e se lamentou por ter mais uma vez afastado a garota de si, mas não podia falar sobre aquilo naquele momento, então deixou que ela fosse embora.

Neliel caminhava pelas ruas e algumas lágrimas lhe corriam pelo rosto, seu peito apertado não negava o quanto queria estar com Grimmjow, ele era o único que sempre a fazia se sentir melhor, mas por um momento parou para pensar em como os dois brigavam.

Olhou para a direção da estação, mas preferiu ir embora a pé, não era tão longe e com menos de uma hora estaria em casa, uma casa vazia já que seus pais estariam na aula de dança, ela definitivamente queria muito ir para outro lugar, mas não tinha mais as chaves, nem o belo chaveiro de lua e estrelas, mais uma vez seus olhos marejaram.

Não entendia como aquele cabeça de mirtilo podia ser tão chato e ao mesmo tempo tão necessário em sua vida, sentia raiva por não conseguir parar de pensar nele. Por um instante pensou se aquilo não seria algo como aqueles clichês de mangás shoujo, onde a garota se apaixona pelo bad boy, um clássico.

Assim que imaginou algo como aquilo, tratou de apertar forte a pedra vermelha pendurada em seu colar, afinal era pra isso que ela servia. Segundo sua avó, aquela pedra fazia parte de uma lenda dos nativos da ilha em que morava que fazia com que a pessoa que a usasse não fosse capaz de entregar a ninguém o seu coração, com Grimmjow seria da mesma forma, pelo menos era o que ela esperava.

— Não tem como eu gostar do Jowjow, a gente nem consegue conversar por uma hora sem brigar... – Murmurou ela pra si mesma antes de entrar em sua casa.

Para sua surpresa, seus pais estavam lá, ela então caminhou até a cozinha onde sua mãe preparava inúmeras marmitas e as congelava.

— Neliel querida, ainda bem que chegou! – Exclamou a mãe com uma dose extra de preocupação estampada no rosto.

— O que há com esse monte de comida? – Perguntou a filha espantada.

— Sua avó não está muito bem e passará por uma cirurgia na semana que vem, então seu pai e eu vamos ter que ir pra lá, o filho deve estar presente durante os dias em que ela ficará internada e eu vou para cuidar da casa, roupas e comida para ele. – Explicou a mais velha estocando os potes no freezer.

— Mas mãe eu não posso ir, tenho muitas provas e acabei de voltar ao trabalho... – Dizia ela quando sua mãe a interrompeu:

— Por isso esse monte de comida... Nós vamos e você fica aqui para repor suas provas, só vai ser uma semana mesmo, então você não terá problemas.

Neliel recebeu mais algumas instruções antes de ir dormir, sua mãe terminou seus últimos afazeres enquanto seu pai colocava as malas no carro, sua avó paterna morava a duas cidades de distância então eles não precisariam de muito tempo para chegar lá.

No dia seguinte quando a garota se levantou, eles já tinham partido e deixado seu desjejum sob a mesa, ela comeu e foi para a escola, retomando sua rotina normalmente.

O dia se passava e ela estranhou o fato de Nnoitra não aparecer na cafeteria, mas ficou um pouco contente em imaginar que ele finalmente poderia ter desistido. À tarde foi avisada por Rukia que não precisaria levar o lanche de Grimmjow, pois o mesmo não estava na loja, tinha ficado em casa para organizar sua mudança.

— Quem se muda em uma sexta-feira? – Comentou Rukia e se foi para seu escritório.

Neliel se sentiu um tanto triste em saber que ele estava mesmo deixando sua casa, era como se ele nem se importasse com a discussão deles no dia anterior e muito menos com o fato de tê-la magoado.

A cafeteria fechava suas portas e todas as garotas saíram, pois queriam comentar sobre como seria o fim de semana com seus namorados, mas não o queria fazer perto de Neliel, era como se elas sentissem pena dela por ser tão azarada com os homens.

Neliel foi a última a sair, com exceção de Rukia que fecharia o local antes de ir, mas antes que percebesse foi pega pelo braço por Nnoitra, que a arrastava até seu carro...

— Pensou que eu ia me esquecer de buscar a minha namorada para a minha festa? – Perguntou ele animado e logo abriu a porta e a colocou para dentro, deu a volta e a levou dali. Rukia observou tudo de dentro da cafeteria.

— Só pra constar, eu não sou sua namorada. – Ela respondeu e se manteve calma.

— É claro que é, aliás, só vai deixar de ser quando eu disser que não quero mais. – Explicou ele e ela revirou os olhos, já eram quase nove horas da noite e ela estava exausta.

— Olha, eu nem estou vestida para uma festa, me deixa ir pra casa... – Ela resmungava e ele ria.

A garota estava com uma blusinha de mangas longas em malha branca com um decote canoa, saia de pregas num xadrez preto e vermelho um pouco acima do meio das coxas e uma sandália preta com laços nas laterais, um look dos que Grimmjow tinha indicado a ela.

— É claro que não, eu quero exibir a minha garota pros meus amigos e você está linda assim. – Retrucou ele e ela pôde entender o que as garotas eram para ele, apenas troféus.

Assim que chegaram lá, ele já foi caminhando entre um amontoado de gente abraçado a ela e a apresentando a todos como sua, ela só queria sair daquela multidão o mais rápido possível e ele percebeu isso, então a levou escadas a cima e a arrebatou para um cômodo escuro, assim que as luzes foram acesas ela pôde ver que era o quarto dele.

Ela se virou rapidamente na tentativa de escapar, mas ele se colocou entre ela e a porta, a seguir trancou a mesma.

— Eu disse que hoje teríamos tempo de sobra pra nos conhecermos melhor... – Dizia ele, mas ela o cortou:

— Eu não quero saber nada sobre você, então me deixe sair.

— Você pode não querer, mas eu quero muito conhecer cada parte de você. – Retrucou ele já tomando posse da garota em um abraço apertado, de forma que, por mais que ela tentasse, não conseguia escapar.

— Então você quer me conhecer? Ok, vamos voltar a alguns anos atrás... Quando você disse que eu era gordinha e tinha cabelos verdes, algo “problemático”... Ou melhor, quando eu me confessei pra você e recebi algo como “Volte quando for como a Inoue” – Ela o empurrou ao se aproveitar de um momento em que ele estava pasmo, por saber que ela era a garota a quem ele humilhara há anos atrás. Boquiaberto ele somente balbuciou algumas palavras:

— Era você...