Arremessado para quase a entrada da Vila, Muichiro que já estava machucado no rosto teria que correr contra o tempo, Tanjiro estava sozinho. Tinha de protegê-lo.
Já podia ouvir rugido de Oni próximo, julgou ser um fraco qualquer e não deu atenção, queria a Lua Superior 4.
Um jovem ferreiro tentava escapar de um humanoide com cara de peixe e quatro pernas, sempre que o atacava aquele peixe tentava comer a espada impedindo seu corte.
Muichiro não deu bola para aquela situação, mas a julgar pelo que Tanjiro lhe disse por fazer o bem - “bom, está no meu caminho mesmo” - pensou o jovem Hashira.
Ele entrou na frente do garoto que teria a mesma idade - Corre! - O garoto ficou admirado, estava perto de um Hashira finalmente - Anda logo, ou vai me atrapalhar - A cabeça do demônio foi cortada e se desfez como água. Diferente. Obra de uma arte de sangue.
- Muito obrigado Senhor Hashira!
- “Senhor Hashira”? - O garoto apareceu por entre árvores e o reverenciou.
- Eu te chamei de “cabeça oca” por nunca falar com a gente, me perdoa.
- “Cabeça oca?”. Eu não tenho tempo pra isso… - Iria partir de encontro a Tanjiro.
- Espera! Eles atacaram o Senhor Kanamori também, eu tentei ajudar mas eram grandes e terríveis, um deles me trouxe pra cá. Por favor, ajude o Senhor Kanamori!
- “Se empenhe em viver e nada mais, e não deixe as chances passarem” - A voz do Mestre em suas sessões de terapia ecoaram na sua mente. - “Isso deve ser cabeça oca” - Vamos, aonde ele está?
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- Tem certeza que é por aqui?
- Sim! Ele estava cuidando das ferragens dos Haganezuka, fica nos fundos da colina!
rum - Encontrei…
Muichiro enxergou ao longe um mesmo humanoide tentando escalar uma árvore, Kanamori estava no alto dela com sua espada azul em punho.
Ele fez o mesmo golpe com o primeiro Oni, com o olhar vago para o perfeito nada não se importou com a água lamacenta e fedida em seus pés.
- Mestre Tokito! Eu sabia que viria, muito obrigado - Agradeceu o ferreiro descendo da árvore com um salto.
- Você é o Kanamori então? - Ele assentiu - Está encarregado de ser meu novo ferreiro, já deve saber… Embora eu só precise que minha lâmina esteja bem afiada…
- Não se preocupe Mestre Tokito, Senhor Oda me passou tudo sobre sua espada, lamento a morte dele - reverenciou, mas o Hashira não se importou - Ele parecia prever a morte… Mas, há mais desses pela Vila, eles se espalharam como formigas, são… são dos nossos.
- Eu notei. Se escondam! - Muichiro nem esperou Kanamori falar, saiu em disparada mais adentro da floresta em direção a algumas cabanas isoladas.
- SENHOR TOKITO!
Tokito sentira a presença. Não era a mesma que lhe arremessou, mas era igualmente forte e assustadora.
Ele se posicionou e caminhou cuidadosamente para um objeto que parecia um pequeno palco colorido bem à frente da cabana.
- Impressionante ter notado a minha presença… - O japonês arrastado e com sotaque lhe incomodou um pouco - Pensando bem é o mínimo que espero de um Hashira.
O pequeno palco se transformou na horripilante Lua Superior 5.
- “Tem mais de um…”
- Ouviu o que fiz na cabana com essa família né? hihihi.
Kanamori e o jovem ferreiro observavam tudo ao longe, Kanamori pensou em fazer retaguarda para o Hashira então se manteve em posição.
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Ao longe podia-se ouvir o sino da Vila sendo tocado incansavelmente - SE ESCONDAM, ONIS - RAPÍDO SE ESCONDAM! ELES NOS INVADIRAM - PROTEJAM OS LÍDERES, ACIONEM O ESQUADRÃO! - Muitos ferreiros e moradores haviam se tornado humanoides de flores, peixe e com várias imperfeições pelos corpos, eles eram lentos, mas temíveis.
OS CAÇADORES QUE ESTAVAM PROTEGENDO O MESTRE FORAM MORTOS, ENVIEM OS CORVOS PARA OS HASHIRAS!
Não precisa! Já estou aqui!
Mitsuri apareceu com seu chicote estalando na entrada da Vila, tão linda e formidável, em perfeito equilíbrio nas pontas dos pés. Se não fosse a situação, poderia ser ela a pioneira da ginástica rítmica de um mundo sem Onis e unido. - Respiração do amor - o vermelho do chicote parecia brilhar e ela passava por entre as garras dos Onis e mordidas fazendo deles trampolim com giros e saltos.
Era harmônico, leve e poderoso. Todos se tornaram água gosmenta. Parou sua “dança” quando a última cabeça de peixe, das dezenas, foi ao chão.
Mestre Tecchin-han forjou seu chicote, ele era um excelente artesão. Ele foi um dos líderes mortos no ataque.
- Desculpe a demora pessoal… Irei me chicotear por essa imprudência! Senhor Tecchin-kan! - chamou ela para o filho de seu ferreiro.
- Sim Kanroji-sama?
- Está bem para cuidar dos feridos?
- Sim! Não… Não foi nada.
- Eu sinto muito, sabe disso… Mas tenho que ir. Tem Luas Superiores aqui!
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- Eu gostaria de contar detalhes do meu Espetáculo para você, muito prazer, meu nome é Gyokko.
- Espetáculo ? Que espetáculo?
- Que bom que perguntou! - Bateu palmas.
Da cabana começaram a sair os moradores composto por duas mulheres, um senhor e três crianças, todos estavam entrelaçados entre si pelos membros e órgãos. Uma visão perturbadora, que fez Kanamori vomitar. Ele conhecia a família.
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Durante o século XIII, eram comuns trupe de saltimbancos, malabaristas, contadores de histórias, músicos e outros artistas itinerantes que viajavam de cidade em cidade, especialmente para feiras e festivais. Essas apresentações populares incluíam acrobacias, números com animais treinados, música e até algumas formas de teatro. Esses artistas se apresentavam em praças públicas, feiras ou durante celebrações religiosas.
Entretinham a nobreza em festas e eventos nas cortes dos reis e senhores feudais. Embora não fossem circos no sentido moderno, esses artistas desempenhavam um papel semelhante ao de um circo, oferecendo entretenimento ao público e dependendo da hospitalidade das cidades ou dos nobres para sobreviver. No meio de uma Londres cinzenta e coberta pela fumaça das indústrias, havia um lugar onde o impossível ganhava vida
Os espetáculos itinerantes medievais, eram os antecessores dos circos que surgiriam séculos mais tarde.
Bentley Managi, era um desses artistas, embora nascera com uma deficiência congênita que fazia suas pernas serem severamente curvadas, o que o impossibilitava de caminhar normalmente. Em uma sociedade obcecada pela perfeição e pela ordem, ele era visto como um erro, uma aberração, mas quando se apresentava em praças ou para a corte, sua história de risos maldosos e até mesmo sentindo a compaixão desconfortável de alguns mudará para aplausos, risos de felicidade e uma admiração questionável.
O circo moderno, com picadeiro, tendas e o formato que conhecemos, só apareceu no século XVII, quando o cavaleiro inglês Philip Astley montou um picadeiro em Londres para exibir suas habilidades equestres e, posteriormente, incorporou outros tipos de artistas ao espetáculo. Atraindo pessoas de todas as classes sociais, o circo oferecia um refúgio temporário da realidade dura da época.
Essa é a história que conhecemos, a realidade é que a ideia do picadeiro foi de Bentley, atingindo diversos públicos em seus eventos e a demanda aumentada de artistas, era hora de “enriquecer” como ele mesmo chamara aquilo - “ter finalmente meu próprio negócio, e meu negócio é a minha arte” - O imaginar do brilho das luzes, o som dos tambores e as risadas da multidão em volta de si lhe impulsionou para buscar financeiros e parceiros que apoiem o espetáculo que um dia fora a céu aberto, agora com endereço próprio.
Uma. Dua. Três. Talvez, mais de vinte portas batidas em sua cara, e até mesmo expulso de um bar onde buscara um banqueiro que mesmo bêbado negou o empréstimo. - “Loucura!” - ouvira - “A corte já lhe dá muito por apresentações de Natal, sua aberração”.
Em meio a lama, foi nesse momento que Bentley conheceu Philip, um homem baixinho com um olhar astuto, mas gentil. Ao vê-lo, ele não o tratou como os outros faziam. Ao contrário, ele viu em Bentley algo especial: "Você tem uma história para contar… Senhor Bentley Managi, à família das flores, estou certo?”
Philip concedeu o empréstimo, disse a Bentley que cuidaria de todos os quesitos financeiros e ele do espetáculo, e por ser o artista renomado da corte, ficaria com metade dos ganhos.
O tempo passou, o circo foi montado e embora o convite parecesse sombrio à primeira vista, foi a única porta que se abriu para ele. Lá, Bentley não era mais invisível. No circo, ele se apresentava como "O Grande Gênio", uma alusão à sua fragilidade física, mas também à sua resistência interna.
Bentley encontrou no circo o que jamais encontrara fora dele: uma espécie de pertencimento. Os outros performers tornaram-se sua família, e a vida itinerante, longe da rigidez vitoriana, lhe deu um sentido de liberdade que ela nunca havia experimentado antes. Afinal, “O Grande Gênio” comandava o espetáculo pois sabia tudo que iria acontecer, além dos artistas, com convidados treinados.
No entanto, essa felicidade tinha um preço. Ele sabia que, fora dos limites mágicos do circo, ainda seria tratada como uma estranho. O acordo dos ganhos nunca chegou em sua mesa, e Philip constantemente mudara seu comportamento chegando até a chicoteá-lo como um escravo merecia. No fim, o circo era seu lar, sua prisão e sua liberdade.
Foi lá que Bentley passou o restante de seus dias, iluminado pelas luzes dos espetáculos, cercado por outros que, como ele, não tinham lugar no mundo exterior. Voltar a vida antiga também não lhe ajudaria, pois ninguém mais pagaria para algo chulo quando se há um grande cenário confortável lhe esperando. Ele aprendeu que, às vezes, a felicidade era algo frágil e fugaz, como os aplausos que terminavam tão logo o espetáculo acabava.
Com as constantes humilhações, pedia a Deus para lhe tirar a vida, já que seu único lugar de “felicidade” agora acabara. Desejava também ser um grandalhão forte para acabar com a cara de Philip.
Após anos de apresentações, o fascínio do público pelas "maravilhas" começou a desaparecer. O Circo do Fantástico, outrora um espetáculo cobiçado, estava perdendo público e, junto com ele, o sustento que mantinha a trupe unida. A Era Vitoriana estava mudando rapidamente, e a curiosidade mórbida que atraía multidões começava a ceder lugar a novas formas de entretenimento.
Agora, pressionado pelas dívidas e pela falta de público, Philip se via forçado a tomar decisões difíceis. A demissão de Bentley, para ele, parecia inevitável.
Certa noite, após uma apresentação particularmente vazia, Philip o chamou à sua tenda. Com um olhar cansado, ele hesitou antes de falar, sabendo o peso de suas palavras.
"Managi... você sabe que as coisas não estão fáceis. O circo está caindo aos pedaços, e nós não podemos mais sustentar tantas atrações. Não há outra escolha a não ser deixar você ir."
A raiva subiu como uma onda dentro dele, misturada ao medo.
- "Deixar-me ir? E para onde? Não há nada para mim lá fora. Eu estava muito bem sem você e agora estou preso. E quer me descartar como se eu fosse um objeto quebrado?
- “Bem”? Mendigando dinheiro até para bêbados? Isso é estar bem?
As palavras ecoaram como um veredito final, e algo dentro de Bentley quebrou e a ideia de voltar a ser rejeitado pelo mundo a aterrorizava mais do que qualquer outra coisa. A raiva transformou-se em um impulso incontrolável. Apanhou uma lâmina de um canivete que estava sobre a mesa, usado para cortar cordas e ajustar os cenários do espetáculo e antes que o dono do circo pudesse reagir, por ser mais baixo, ele cravou a lâmina em seu abdômen. Philip tentou gritar, mas o choque e a dor o silenciaram. Ele caiu no chão com olhos arregalados, enquanto o sangue manchava o tecido da lona.
A respiração de Bentley estava pesada, olhando fixamente para o que acabara de fazer. Um estranho prazer lhe subiu o peito.
Sabendo que os trens que transportavam o circo eram sua única chance de escapar sem levantar muitas suspeitas, ele elaborou um plano. Primeiro, pegou todo o dinheiro que encontrou na tenda, depois, vestiu roupas comuns, abandonando o traje extravagante da “O Grande Gênio".
Correndo para a saída da tenda foi impedido por um homem japonês, alto que batia palmas lentas e um sorriso de canto.
- Acompanho seus espetáculos há muito tempo - falou num inglês puxado igual ao seu - de fato, esse foi o que mais me entreteu, mas… - Parou as palmas e levantou o chapéu - humanos… Sempre em busca de fama e dinheiro não é mesmo? Por isso vocês são fáceis de conquistar.
- Quem… O que você é?
- Sou seu mais novo empréstimo, Senhor Managi - Muzan lhe fez uma leve referência - Seu espetáculo atrai muitas mulheres e crianças, atrai também a corte cujo tenho interesse. Pelo que pesquisei, você era o verdadeiro dono desse lugar? Que tal tornar isso realidade?
E assim, Bentley Managi se tornou Gyokko, cujo aparência de um homem defeituoso, tornara lugar para um musculoso com alargadores que com sua Arte Demoníaca de Sangue permite que ele supere facilmente os demônios comuns. Além de ter força e durabilidade sobre-humanas, Gyokko pode mudar de forma, cobrindo o corpo em escamas florais mais resistentes que diamantes. Ele também pode transformar seus adversários em qualquer “aberração de circo”.
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- Veja! Veja só, não é magnífico? Prestem atenção como são ligados pela espada, não é perfeito? - Ele mostrava tudo realmente como um grande show. - Nessa obra eu quis ostentar! Mas o mais legal ainda está por vir, veja só essa escolha artística impecável! - Ele apunhalou uma espada - é só girar a espada assim que a obra começa a andar!
As crianças começaram a gritar de dor. Kotetsu começou a chorar enquanto Kanamori permanecia assustado e enjoado.
- Ah… - Um suspiro de prazer - Gostou?
- Eu odiei…
Por um breve momento ao apresentar seu “Show” Gyokko esqueceu de Tokito a sua frente. A Névoa densa que estava por entre seus pés e toda a floresta se estendeu até os olhos e a espada do Hashira por raspão, passou por seu pescoço. Ele conseguiu saltar para um vaso no telhado com a mesma forma da água cheia de gosma.
- “Ele consegue se teletransportar de um objeto para o outro?” - olhou em volta, não havia nada - “Essas coisas simplesmente aparecem? Entendi”.
- Eu nem terminei de mostrar o meu… - Outro corte, dessa vez no vaso no telhado.
Gyokko então já estava em outro palco no chão.
- ATREVIDO! MAL EDUCADO! INSOLENTE! NÃO TEM RESPEITO NENHUM COM MINHAS OBRAS DE ARTE.
Muichiro estava sem paciência para shows.
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