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História Dependence (Em revisão) - Damned Princess


Escrita por: kaisooisreal

Notas do Autor


EAE NEGADA????
NOIS É BIGHIT OTÁRIO.
VOLTEI PORRA.
AIMI NÓTI DÉDI, TÁ LIGADO?
Tá, deu. Desculpa. Já devo ter mencionado que fico meio eufórica quando posto, principalmente depois de tanto tempo.
Eu sei, dois meses é muito tempo, desculpem, mesmo. E se não me desculparem, tudo bem, desistam de mim, mas não desistam de Dep, ok? Não é culpa dela se a mãe dela é uma irresponsável.
Bom, recorde de palavras (EU NÃO QUERIA, FOI MAIS FORTE QUE EU) de novo, blablabla. Vamos pro capitulo?

Ah, aviso: se tu é diabético, lê isso naum. NamJin ta foda aqui XD

Capítulo 26 - Damned Princess


- Minhas costas estão doendo.

- Você já disse isso.

- Eu sei, mas é verdade. Minhas costas estão doendo.

- Não é minha culpa se você dormiu todo torto.

- Foda-se, minhas costas estão doendo.

Jin suspirou, desistindo de me deixar de bom humor. A verdade era que ele não merecia ficar me aguentando reclamar, mas não parecia muito incomodado com isso também.

Olhou para frente, para o pátio onde os alunos falavam besteiras e corriam uns atrás dos outros, mexiam nos celulares ou liam algo. Passar o intervalo onde eu estava não era um costume meu, mas visto a situação atual do grupinho tretoso, era melhor estar sentado ao lado do prédio principal com Jin do que ouvindo mimimi de viado.

Segundo Seok, eu que estava de mimimi, mas de qualquer forma, eu preferia estar ali.

Nossos amigos também não estavam onde normalmente ficávamos; na realidade, sequer estavam todos juntos. Observei os rostos conhecidos que brincavam a uns dez metros de nós, e estalei a língua.

- Onde JiMin e JungKook foram? – Perguntei, pela quinta vez, mais ou menos.

- Sabe que eu não sei. – Jin não se deu o trabalho de olhar para mim. – E em que isso vai afetar a sua vida? Se eles saíram para ficar sozinhos, apenas deixe que fiquem.

Bufei, sentindo minhas costas doerem. Apesar de elas não serem o verdadeiro motivo de todo o meu mau humor, estavam incomodando. Eu ficara muito tempo agachado do lado de fora de casa no dia anterior, e para piorar, quando voltei para a cama, fui o saco de pancada de Tae enquanto Jin e um copo de leite eram seus consoladores.

Acordei com a cabeça no chão, e o tronco parcialmente pendurado da cama. Estava com dores no corpo inteiro, na realidade. Mas aquilo não estava me afetando de todo.

- Sério que ninguém está achando isso estranho? – Perguntei, ignorando sua fala anterior como forma de mostrar que não iria contradizê-lo. Jin olhou para mim, e então para frente, juntamente comigo. Suspirou.

- Tenho certeza de que todos notaram. – Disse, em sua voz calma. – Tente relaxar um pouco, NamJoon. Problemas assim não se resolvem da noite para o dia.

- Eu sei. – Resmunguei. – Mas isso não é o que vai ajudar eles em alguma coisa. – Indiquei, irritado, para onde estavam Jia, YoonGi, Tae e Hope.

Jin observou-os brincar, pensativo.

- Talvez ajude. Na realidade, acho que é a melhor medida para os dois. Combina com o tipo de química deles.

- Combina? – Perguntei, erguendo a sobrancelha de forma quase irônica. – Pra mim, isso parece a última coisa que eles fariam.

- O que mostra que às vezes podemos não conhecer tão bem alguém quanto acreditamos conhecer. – Jin não falou com intenção alguma por trás, apenas aquilo e nada mais, mas olhei para ele mesmo assim. Ele me mirou, completando: – Você não nota que eles estão fazendo isso pra tentar se aproximar de novo?

- Ficar se tratando como quase estranhos não me parece a melhor forma de se aproximar. – Observei, espreitando o grupinho, que ria de algo agora. Parecia uma conversa normal, com um grupo de adolescentes normal. E isso estava errado.

- Também não é pra tanto. – Jin tentou. Eu tinha noção de que estava sendo um pouco irritante, mas não conseguia evitar. – Eles estão conversando normalmente, sem aquele clima pesado de antes.

- Eles nunca se trataram assim. Nem quando ainda eram estranhos. – Resmunguei, observando Tae apoiado em Jia enquanto conversavam. – Como isso pode ser “normal”?

Jin não me respondeu, mas soltou uma risadinha soprada. Olhei para ele, que tinha um pequeno sorriso divertido no rosto.

- O que foi?

- Nada. É engraçado.

- O quê? – Franzi o cenho.

- Você preocupado desse jeito. – Seu sorriso se esticou mais um pouco. Ele estava rindo da minha cara. Permiti que minha carranca se formasse (o resto que já não estava formado), mas Jin não abalou sua expressão.

- Eu só-

- Tudo bem, NamJoon. – Jin não me deixou começar a tentar me explicar, virando o rosto para frente. – Não tem problema nenhum em se preocupar. O estranho seria se você não o fizesse.

Não respondi, e fiquei-o mirando com cara de idiota, tenho certeza. Seu sorriso tinha sumido serenamente de sua face, e ele observava os quatro conversarem com a expressão distante. Olhei para o perfil de seu rosto, para a forma que a luz do sol deixava partes de seus cabelos em tom vermelho vivo, para o vento que batia com leveza em seu rosto, fazendo sua franja dançar em sua testa.

E, como de costume, fui invadido por uma sensação boa. Não era aquele sentimento ardente que sentia quando o tocava. Era mais singelo e pacífico, como a pequena brisa que corria por todos aqueles adolescentes por ali espalhados, sem ser notada pelos outros, no entanto. Tinha o calor do sol de verão que passava pela proteção das nuvens fofas acima de nós.

Não era extremamente quente, ou frio. Tinha o aconchego de uma tarde fresca, de um olhar, de seus sorrisos. Tentei lembrar de já ter sentido algo assim antes, e soube quase imediatamente que a resposta era não. Nunca havia sentido coisas semelhantes antes de conhecê-lo, nunca tinha sido tão diferente do que era agora, nunca havia me sentido tão confortável perto de alguém como me sentia naquele momento.

E, como em deixa para me fazer ainda mais afetado, ele virou os olhos grandes em minha direção. Não tive a sensação ruim que normalmente sentimos quando somos pegos encarando alguém. Jin não pareceu surpreso tampouco. Apenas nos miramos. Palavras não eram necessárias. Para mim, bastava vê-lo ali ao meu lado, me olhando como se eu não fosse apenas mais um.

Como se fossemos únicos.

Seu sorriso cresceu lenta e levemente, como uma flor desabrochando. Eu não me sentia capaz, naquele momento, de retirar meus olhos de cima de si.

Era como hipnose, uma hipnose em que eu tivesse plena ciência de que podia quebrar aquele momento delicado como vidro fino com facilidade absurda, que poderia simplesmente ignorar seus olhos e seu sorriso, mas não o faria. Não o faria porque não queria fazê-lo. Porque sabia que me importava, caralho, como me importava.

Queria ele assim sempre, perto, feliz e lindo. Queria aquele garoto de todas as formas possíveis, e, diferentemente de antes quando esses pensamentos me assustavam e me deixavam irreconhecível aos meus próprios olhos, eu estava sereno. Sereno e completo. Eu tinha aquilo, e iria preservar.

Iria, a cada segundo, querê-lo mais, e, a cada segundo, ser menos capaz de ficar longe.

E se o perder?

Não vou deixar isso acontecer.

Não tem o mundo sob controle pra ter tanta certeza.

Não vou deixar isso acontecer.

- NamJoon? – Eu quase não o ouvi falar, mas vi sua boca bonita se mover, formando meu nome. Foquei meu olhar no seu, deixando-o continuar. Suas bochechas estavam um tanto coradas. – Podemos ir para outro lugar?

Olhei-o, um pouco confuso, e então um sorriso sacana se formou no canto de minha boca.

- Pra quê? – Mirei-o maliciosamente, fazendo com que ele hesitasse. – Está com saudades, princesa? – Tinha plena noção de que ia apanhar, mas provocá-lo não tinha preço.

- Idiota. Não tem nada a ver com isso, idiota. Seu idiota. – Ele não pareceu tão alarmado e envergonhado como pareceria há algumas semanas, mas vi-o corar. Ri baixinho.

- Não precisa ficar com vergonha de dizer, sabe disso.

Ele me mirou com uma ponta de indignação, abrindo a boca, e eu ri um pouco mais alto.

- Você é um completo idiota. – Ri de novo, e Jin cruzou os braços. Não me mirara nos olhos desde o início daquilo.

- Ok, ok. O que foi? Queria fazer o quê? – Ele não me respondeu, olhando para o lado oposto ao que eu estava. Baixei um pouco o corpo para olhar para si. – Jin?

- Idiota. – Me permiti surpreender por um momento. Aquela infinidade de ‘idiota’ só podia significar uma coisa.

- Quem diria. – Jin parecia dividido entre se esconder em algum lugar em socar minha cara, e eu não conseguia deixar de sorrir (ou rir). – O pervertido não era eu?

- É você. – Respondeu, malcriado. – E a culpa é sua.

- Quê? – Perguntei, segurando a risada leve.

- Fica fazendo isso. – Apontou para mim, indicando meu corpo de cima a baixo com o indicador, num gesto rápido.

- O quê?

- Isso. – Ele cruzou os braços, olhando para a frente de novo. – Cara chato.

- Ei. – Chamei, ainda sorrindo de orelha a orelha, e tentando não rir. – O que tem? Eu só estava te olhando. Nada novo.

Jin me olhou de canto, com ar ignorante. Era engraçado vê-lo agindo assim, mas eu tinha que garantir que não o deixasse muito irritado. Sabe-se lá qual seria meu castigo depois disso.

- Não se faça de santo. Você não “só me olha”. Você fica fazendo isso. – Indicou de novo a mim, me fazendo erguer uma sobrancelha junto de meu sorriso de canto, meio confuso, meio divertido.

- O que é “isso”, afinal?

- Isso. – Ele me olhou, com o começo de uma careta torcendo seu nariz. – Fica me olhando como...como se eu fosse, sei lá, um milhão de dólares.

- Que comparação horrível. – Disse eu, após explodir em gargalhadas.

- Faça uma melhor então. – Ele resmungou, causando mais uma risada minha. Levei um tapa na cabeça. – Idiota.

- Calma. – Falei, sorrindo, segurando o pulso da mão que me batera. Olhei-o de frente, sua boca estava torcida numa expressão de chateação fofa, e seus olhos me miravam, repreensores. – Dinheiro é bom, mas eu não acho que um amontoado de papel me faria o efeito que você faz.

Jin corou um tiquinho, fortalecendo meu sorriso singelo.

- Não fale essas coisas. – Baixou o olhar, mesmo que ainda estivesse virado em minha direção.

- Por que não? É verdade. – Respondi. – E quanto ao “isso”... – Me inclinei para mais perto de seu ouvido, sussurrando, rouco. – Pare você antes.

Jin, que havia tentado se afastar de minha aproximação repentina, paralisou, me mirando com os olhos arregalados. Sorri de novo, o rosto a centímetros do dele, distante o suficiente para que eu pudesse focar toda a sua face, mas apenas isso.

Jin soltou a respiração pesadamente, como se repentinamente se lembrasse de que precisava de oxigênio renovado em seus pulmões. Mantive o olhar calado ao seu, sem expressão, por alguns segundos antes de desviar os olhos e voltar a encarar o quarteto, que acabara de receber mais duas acompanhantes.

- Onde Suzy e Fei estavam? – Perguntei, sem pensar muito. Ouvi uma risadinha de Jin, que tardara um pouco mais que eu para voltar à sua posição anterior, como se nada tivesse acontecido.

- Se está tão curioso sobra cada passo que eles dão, vai até lá.

Olhei para ele.

- Eu não-

- Nem começa. – Ele elevou a mão, me interrompendo. – A única coisa que você faz desde o começo do dia é reclamar da vida dos outros, NamJoon. Não negue. – Acrescentou quando me viu prestes a contrariá-lo.

Fechei a boca num estalo, formando nela uma careta descontente. Jin sorriu, e tirou o celular do bolso, focando-se no aparelho.

Observei-o abrir a caixa de mensagens, e desviei o olhar. Deixei que meus olhos vagassem pelo pátio, consequentemente voltando a mirar meu grupo de amigos.

Jia estava com o braço em volta dos ombros de Fei, o que era cômico, porque a chinesa era muito mais alta que a rosada em questão. Era o que aconteceria se Suga tentasse usar JungKook de apoio de braço. Nada prático.

Suzy parecia meio desconfortável, visto que a Meng falava com ela com um olhar quase ameaçador. Fei tentava acalmar os ânimos da amiga, mas Jia nunca se acalma. YoonGi estava bastante desinteressado no draminha feminino, mas olhava para Tae com sincera atenção enquanto o garoto falava animadamente de alguma coisa, assim como Hope, que o observava com um projeto de sorriso desde que havia chegado à escola. Ainda não eram os sorridentes escandalosos de sempre, mas estava melhor. Nisso eu tinha que admitir que Jin talvez tivesse razão sobre o “ir aos poucos”.

Jin soltou uma risadinha, fazendo com que toda a minha atenção voltasse para ele de novo. Ele elevou o olhar, me mirando, e seu sorriso foi para mim. Não retribuí, apenas o mirei, e ele falou, ainda sorrindo:

- JungKook perguntou se eu quero comida. Eu disse que sim, e ele respondeu que JiMin tinha acabado com tudo o que eles tinham comprado pra trazer aqui fora. – Soltei uma risada curta, e Jin deu de ombros, ainda sorrindo.

- Diga pra ele que fazer bullying com o namorado é feio.

- Olha quem fala. – Olhei para nossa esquerda, de onde viera a voz, e encontrei JungKook me mirando com uma careta, que eu sabia não ser realmente séria. JiMin estava sorrindo, e aquilo era o bastante para entender Jeon.

- Eu faço brincadeiras com amigos. – Falei, entendendo a que ele se referia. Apoiei meus cotovelos no concreto atrás de mim, ficando quase deitado ali. – É diferente.

- Duvido. – Jeon se sentou ao meu lado, entendendo um sanduíche para Jin, passando o braço pela minha frente. – Hyung, ele zoa com a sua cara também, né?

- Uhum. – Jin concordou, já com a boca cheia. – Só que eu zoo com ele também, então tudo bem.

- Também? – Perguntei. Pareceria indignado, se não estivesse tão de boas. – Eu pareço um alvo de dardos pra essa sua língua afiada, SeokJin.

- Não exagere. – Jin forçou um biquinho. Suas palavras eram pouco compreensíveis de boca cheia, mas ele ainda parecia lindo. – Eu não sou uma pessoa ruim assim.

- Tem razão. – Sorri, me inclinando para perto dele e roubando o sanduíche de sua mão. – Você não é. – Mordi o pão, e devolvi-o para as mãos abertas em pedido de Jin, sorrindo sacana.

- Idiota. – Disse, simples, antes de voltar a prestar mais atenção no sanduíche do que em mim.

- Vocês parecem um casal de velhinhos. – JungKook reclamou, fazendo careta.

- Isso é bom, huh? – Respondi, com a sobrancelha elevada para ele. Não estava dando muita bola para aquilo no momento. – Quer dizer que duramos.

Olhei para Jin, que sorriu, as bochechas cheias de comida, parecendo um esquilo.

- Como vocês estão...tranquilos. – JiMin disse, após olhar de mim para Jin com o cenho franzido em leve confusão.

Eu dei de ombros. Sabia do que ele estava falando; mas não estava com vontade de ficar negando sobre tudo o que me perguntassem, sendo que nem muita moral para negar eu tinha mais. Joguei a cabeça para trás, forçando meus cotovelos, e mirei o céu azul antes de responder JiMin, dando de ombros.

- O vento das boas sensações passou por aqui. – Tinha plena noção de meu amigo de infância me mirando como se eu tivesse perdido alguns parafusos do cérebro, e soltei uma risadinha.

- SeokJin hyung. – O Park chamou Jin, que o mirou, quase terminando o sanduíche. – Eu não sei que droga você deu pro Mon, mas vicia ele nisso. É bem melhor que o Monster que fica mal humorado o dia todo.

Jin franziu o cenho, mastigando.

- Eu não fiz nada. – Ele respondeu, engolindo a quantidade grande de comida que colocara na boca, olhando para JiMin em estranhamento. Sorri, fechando os olhos, e joguei minha cabeça para trás de novo, me sentindo leve.

- Se quer saber, hyung... – Ouvi a voz de JiMin soar ao meu lado, mas era como se ele estivesse em outra dimensão, diferente da minha no momento. – Eu acho que você fez tudo.

 

 

 

- TaeHyung, sai desse banheiro! – Bati pela décima vez na porta de madeira, esperando ser ignorado de novo.

Ao contrário do que imaginava que aconteceria, a porta se abriu num clique, e a cabeça molhada de Tae saiu dali, meio irritada.

- Ai que saco, hyung. – Ele reclamou, e sua expressão era a exata de uma menina mimada de seis anos que não havia ganhado bolo. – Eu estou ocupado, faz favor de me deixar me concentrar?!

- Você está aí faz quase duas horas desde que eu saí, Tae. – Respondi, também pouco paciente. – É o meu banheiro, eu quero usar.

- Se quer cagar dá pra usar qualquer outro banheiro da casa. Você só quer encher o saco mesmo! – O moleque respondeu, todo cheio de atitude. Senti uma veia saltar em minha testa.

- Duas horas, TaeHyung! O que vocês estão fazendo aí, afinal de contas?

- Não te interessa. – Ele respondeu, curto e grosso. Ah, e malcriado. – Eu te ajudei com as suas raízes, não foi? Já arrumei o YoonGi, agora é minha vez!

Olhei para seus cabelos, que eu achei estarem escuros por causa da água antes. Notei que estavam com tintura, e torci o nariz pelo cheiro químico.

- E o que o YoonGi tá fazendo aí ainda, então? – Perguntei, apenas para não perder o ritmo das respostas à altura da malcriação de Tae.

- Me ajudando, dã. – O moleque revirou os olhos. Sua cabeça era a única que se via, a porta quase fechada escondia o resto do cômodo.

- NamJoon, deixa eles em paz. – Jin se manifestou, sentado na ponta de minha cama. Virei para mirá-lo, que olhava para o telefone, o braço direito apoiando seu peso em meu colchão. Ao seu lado havia uma caixinha de palitos de chocolate, que ele comia confortavelmente. – Você está um saco hoje.

- O q- – Ia reclamar em alto e bom som, mas fui interrompido pela porta se fechando por um TaeHyung satisfeito por eu ter levado bronca. Bufei, virando de costas para a porta do banheiro, e Jin elevou o olhar, me mirando sem expressão antes de esboçar um sorriso.

- Vem cá. – Chamou, batendo no colchão ao seu lado. Mantive o cenho ligeiramente franzido, para constar que estava irritado, mas obedeci-o como um cachorrinho adestrado. – Vê se relaxa. Eu sei que a noite foi difícil e que você não quer ser chato, mas...você está sendo chato.

Terminou sua fala com um sorriso cúmplice assim que me sentei a uma distância considerável de si no colchão, quase todo largado sobre a cama.

- Como você sabe que eu não quero? – Perguntei, sem mirá-lo. Encarava a parede oposta com interesse zero. A porta do banheiro ainda estava bem fechada. – Eu posso estar me esforçando pra ser um completo babaca.

- É, você pode. – Jin concordou, me fazendo olhar para ele por seu tom meio risonho. – Mas sei que não está.

Olhei para ele, forçando o descaso em minha expressão.

- Ah é? Como?

- Se você estivesse tentando ser babaca supremo, a primeira pessoa que ia encher seria eu. – Respondeu, simples, com a audácia de me oferecer seu sorrisinho “irritaria-qualquer-um-mas-o-NamJoon-é-um-trouxa-então-estou-seguro-e-de-quebra-ele-vai-ficar-mais-trouxa-ainda-por-mim-olha-só-tá-até-babando”.

Abri a boca em descrença.

- Quem te disse essa merda?

- JiMin ah. – Jin respondeu, pegando mais um palito da caixinha e prendendo-o entre os lábios. Óbvio, essas pestes amam ficar falando merda pra SeokJin. Ninguém sabe cuidar da própria vida?

- Deixa eu adivinhar. – Comecei, suspirando e jogando completamente minhas costas sobre o colchão, deitando ali com as pernas penduradas para fora da cama. – Foi ele que te disse pra ficar repetindo o dia todo o quanto eu estou chato, acertei?

- Na verdade quem disse isso foi o JeongGuk. – Jin respondeu, abrindo um sorrisinho de canto. Sua boca estava um pouco suja de chocolate, que ele lambeu antes que eu pudesse sequer processar a visão. Uma pena. – JiMin ah disse que eu devia te dar minha droga mais vezes. Eu ainda não entendi do que ele está falando.

- Dá na mesma. Eles parecem uma pessoa só. – Respondi em descaso após rir baixinho da segunda parte de sua fala, e fechei os olhos. Jin apenas riu baixinho, e eu abri um dos olhos, espreitando-o quando olhou para o aparelho celular de novo. – Pra quem não queria, você está usando bastante isso aí, não?

Seok virou o rosto para mim, meio perdido, e assim que focou meu rosto, deu um sorrisinho sem graça.

- Estou tentando configurar ele ainda. – Respondeu. – Tae me ensinou como fazer, mas ainda não peguei bem as manhas. Meu antigo telefone era muito mais básico que esse. Não sei usar esses modelos cheios de coisinhas e frescuras.

- Posso ver? – Perguntei, estendendo a mão. Sentia uma moleza enorme, assim que aquele pequeno gesto me custou muita força de vontade.

Jin apenas me entregou o aparelho, e se inclinou, meio deitando-se lateralmente ao meu lado. Seu cotovelo apoiava todo o flanco direito de seu corpo, mas sua cabeça quase tocava na minha enquanto ele olhava junto comigo para a tela brilhante do aparelho. Olhei-o com o rabo dos olhos, vendo-o olhar apenas para a tela, sem notar que minha atenção não estava ali.

Voltei a focar no celular, deslizando a tela de bloqueio – que ainda portava a foto que vinha quando se comprava o telefone – e notando que o garoto não colocara sistema de senha, visto que o celular exibiu sua tela inicial sem empecilhos.

- Tae te ensinou a colocar senha? – Perguntei. Jin apenas negou com a cabeça, e eu ri curto, entrando nas configurações ajudando-o com aquilo. – Toma, você vai ter que escrever ela duas vezes, para confirmar.

Estendi o telefone para ele, já deixando de mirar a tela, e forma que não soubesse qual era a senha.

- Ahn...qual eu coloco? – Jin chamou, sem pegar o telefone de minha mão. Olhei para si.

- Como eu vou saber? A senha é sua. – Falei, achando graça. Jin encolheu os ombros, tímido, e eu, ainda sorrindo, puxei o aparelho de novo, mirando a tela. – Vou colocar uma agora. Quando você tiver seu momento de inspiração, você muda.

Disse, e, sem mais delongas, escrevi a palavra em letras romanizadas, confirmando a senha.

- “NamJoon”? – Jin perguntou, dividido entre a careta que fazia e a risada que queria soltar.

- Você disse que não gosta de ‘Rap Monster’. – Dei de ombros, e ele riu.

- Ok, pelo menos assim eu não esqueço a senha. – Disse, divertido, sem olhar para mim. Mirei-o, começando a sorrir, e voltei a prestar atenção no celular que tinha em mãos.

- Tae te ensinou alguma coisa útil ou só como se usava a câmera? – Perguntei, meio brincando, e rindo ao notar que Jin encolheu os ombros, envergonhado. Entrei na galeria sem pensar muito, soltando mais uma risadinha ao ver que as primeiras fotos eram Tae, Tae e Jin ou Tae, Jin e JiMin. Todas tiradas claramente por TaeHyung.

Olhei para Jin, que cobriu o rosto com as mãos. Sorri, puxando uma de suas mãos da frente de sua face. Ele estava completamente deitado agora, com a cabeça mais baixa que a minha. O topo de ambas se tocava com leveza.

- Ei, qual o problema? Estão ótimas. – Falei, ainda achando engraçado. Não as selfies, mas sua vergonha para com elas e, claro, a figura rara que Kim TaeHyung conseguia ser. – Você é bonito, Seok.

Disse e voltei a olhar para o aparelho, subitamente sentindo uma pontada de vergonha. Desci mais na galeria, como forma de me distrair, visto que eu tinha bastante consciência dos olhos de Jin me observando por baixo de suas mãos.

Depois da verdadeira seção de fotos que Tae havia feito com os outros (JungKook, Jia e Hope também apareceram em várias, até mesmo YoonGi surgia de vez em quando), havia poucas fotos, mas foram as que mais me chamaram atenção.

- ...Seu sasaeng. – Acusei com voz suave e baixa, sem seriedade, tombando levemente minha cabeça contra a dele. – Eu posso te processar, sabia?

E olhei para ele, sentindo minha respiração próxima da sua, mesmo que não o bastante. Baixei a mão que segurava o celular, mirando o garoto que escondera por completo o próprio rosto sob suas mãos.

Encarei-o em silêncio, sentindo o quarto subitamente parecer um lugar mais calmo. Jin não havia demonstrado intenção de destapar a cara tão cedo, e seu único movimento que eu podia notar era o de seu peito subindo e descendo à medida que respirava.

Estiquei um pouco o pescoço, selando uma de suas mãos com leveza. Afastei o rosto de novo, e alguns segundos foram necessários antes que ele abrisse uma fresta entre os dedos e me mirasse dali, ainda escondido.

- Você é bonito demais para ficar escondendo o rosto assim, SeokJin. – Falei, sereno. Vi suas mãos relaxarem, e ajudei na ação de tirá-las da frente de sua face que comaçava a perder seu tom rubro.

- SeokJin... – Ele murmurou, nossos rostos estavam tão próximos quanto era possível sem ainda nos tocarmos. Seus olhos miravam profundamente os meus. – Você me chamou pelo nome...perdeu a aposta, seu idiota.

Esbocei um sorriso de canto, ainda segurando suas mãos.

- Perdi, não foi? – Respondi, calmo, sorrindo. Jin soltou um suspiro curto e sôfrego, mordendo a própria boca por dentro. Meu coração batia como um louco, como se minha caixa torácica fosse sua prisão, e ele tentasse desesperadamente sair dali.

- Idiota. – Ele respondeu, num fio de sussurro, fechando os olhos lentamente quando aproximei meu rosto do seu cada vez mais, milímetro por milímetro, lentamente. – Você também é bonito...muito bonito.

E nossos lábios se juntaram mais uma vez. Da forma mais calma possível, porque não tínhamos pressa, porque nos tínhamos, ali. Juntos.

O celular esquecido entre nossos corpos se bloqueou sozinho, mas não antes de exibir as poucas fotografias que SeokJin tinha tirado com o próprio telefone.

Nelas, eu sorria, ou olhava para algo sem expressão. Algumas até mesmo mostravam minhas caretas descontentes, mas todas, sem exceção, estavam preenchidas da espontaneidade de fotografias tiradas às escondidas.

 

 

 

- Eu estou falando sério. – HoSeok repetiu, com a boca cheia, se inclinando para frente, encarando YoonGi.

- Ah, claro. – O cinzento revirou os olhos. TaeHyung havia tardado muito tempo, mas conseguira fazer o que queria no cabelo do Min; os fios antes platinados agora tinham a cor de nuvens de chuva. – Você quer mesmo que acreditemos que o G-Dragon vai estar no seu teste? Ele é tipo, um dos caras mais famosos do mundo, não?

- É possível. – A voz grave de Tae soou. Todos olhamos para ele, que jogou a mão para o lado, colocando seu ponto. – É o mundo do entretenimento, afinal. Estão sempre buscando carne nova.

- Nossa, Tae, você realmente pareceu uma pessoa séria agora. – JiMin deu uma risadinha ao comentar. TaeHyung o mirou, revirando os olhos pela brincadeira.

- HYUNG, NÃO COME MEU BOLINHO. – Gritou, quase que em deixa para provar que de sério ele não tinha nada. E de pessoa também não. O garoto (cujos cabelos agora estavam num tom castanho claro) estendeu o braço e pegou de volta o bolinho que YoonGi pegara de seu prato.

- Esquece... – JiMin murmurou.

- Tae, para de gritar. – Reclamei após soltar uma risadinha do Park.

- Eu não quero ouvir nada do senhor que estava se pegando com meu hyung há quinze minutos.

- Eu não-

- Ah não? O que vocês estavam fazendo então? Algum esporte novo? – Suga se intrometeu, pegando com naturalidade mais comida do centro da mesa, sem me olhar. – Porque na minha época, isso era sim, se pegar. – Apontou com o talher para mim, ainda sem me olhar, e voltou a comer.

A risada de JiMin foi a mais alta, e a primeira a soar. Hope tentou conter-se, mas logo o acompanhou, assim como Tae. JungKook comia com um sorrisinho na boca, e minha mãe...bom, ela estava tentando não morrer depois de ter engasgado com o suco enquanto YoonGi falava. Eu que não ia ajudar.

- Não foram quinze minutos atrás. – Respondi, em tom normal, mas suficiente para que todos ouvissem. – Faz quinze minutos eu estava te ajudando a quebrar a janela, lembra? – Olhei para Tae, que parou de rir, inflando as bochechas.

Jin baixou ainda mais a cabeça, visto que havia se encolhido quando a zoação começou, e eu vi um sorrisinho em sua boca.

- Eu já disse que foi sem querer! – TaeHyung reclamou, bufando após receber risadas dos outros que em nada estavam mais se importando com aquilo.

- Eu só não entendi como você conseguiu prender a cabeça na janela, Tae. – JiMin apoiou-se no cotovelo, fazendo um favor a todos que se coçavam para voltar e encher Tae pelo episódio.

- Eu só não entendi como vocês não estão zoando o Monster por ele não ter negado que estava pegando o Jin hyung. – HoSeok comentou.

- Faz tempo que ele não faz mais isso, filho. – JiMin comentou, sempre sorridente. Seu prato estava quase vazio. – Tipo, desde ontem.

Sua fala fez com que outra horda de risadas preenchesse a mesa, e dessa vez a gargalhada característica de minha mãe os acompanhou. JungKook, a única verdadeira boa criança ali havia sido o que se levantara e a ajudara a desengasgar.

- Mentira! – Tae se levantou, animado e escandaloso. Sabia que eu estava sentindo falta dessa energia, mas já estava com vontade de arrastar a cara dele na parede por tanto estardalhaço pra viver. – Faz tempo já, ele tá todo mansinho. Vocês só não perceberam antes.

- E você, a criança gênio, sabe disso desde o neolítico, certo? – YoonGi se recostou na cadeira, em tom...preciso dizer? De descaso.

- Neolítico não foi aquela época que nem tinha pessoas na terra? – O garoto franziu o cenho, tombando a cabeça, confuso.

- Meu deus, eu não vou responder isso. – YoonGi baixou o olhar para a comida, mostrando mais interesse nela do que mostrara durante todo o jantar.

- Neolítico foi a segunda era da pré-história, Tae. As pessoas já existiam. – Jin falou, com voz mansa, para o garoto de pé, e voltou a comer.

- Ah, verdade... – O moreno pareceu acalmar um pouco sua defesa, mas logo completou: – Eu não sou burro, ok? Eu só me interesso por outras coisas.

- Verdade. Pergunte sobre a última temporada de One Piece para ele, ele sabe de cor. – YoonGi comentou, ainda fingindo que seu jantar merecia mais atenção que TaeHyung.

- Deixem o Tae em paz. – Jin comentou, com voz neutra, ainda comendo. Já estava repetindo pela sabe-se lá qual vez, e parecia muito feliz com isso.

- Verdade, coitado. – JiMin apoiou, mas o sorrisinho subentendido em sua expressão não fazia seu apoio confiável. – Além do mais, mesmo se não tivessem pessoas no neolítico, não faria diferença. Tae não é uma pessoa.

- Ei!

- Verdade. Dizem que os alienígenas foram os primeiros seres na Terra. – YoonGi apoiou a brincadeira de JiMin, fazendo com que a careta descontente de Tae piorasse a ponto de parecer que ele ia começar a espernear ali mesmo.

- Parem com isso. – Jin ralhou, sem levantar a voz, apenas se fazendo ouvir quando todos riram da fala de JiMin.

- Omma... – O Kim mais novo parecia capaz de pular no pescoço de SeokJin e chorar de gratidão.

- O quê? Eu fui substituída?! – Minha mãe reclamou, enfezada. – Só por que não te defendi uma vez?!

- Não, ‘outra omma’. – Tae sorriu, tranquilizador para ela, como quem explica algo para uma criança impaciente. – SeokJin hyung é a omma mais jovem. Vai que você morre, eu ficaria órfão. Tenho que me garantir.

- Ora seu... – Minha mãe mirou o moreno, e lhe arremessou seu guardanapo, do qual o garoto se defendeu com uma risada divertida.

- Eu te amo, omma! – Tae exclamou, desviando agora do guardanapo de JiMin, que imitara minha mãe com uma risada idiota. TaeHyung lhe devolveu o gesto, que acertou a cara de JungKook, que por sua vez arremessou o seu contra o Kim, mas acertou o prato de HoSeok. Hope se levantou para devolver, mas acabou esbarrando em SeokJin, que choramingou quando a porção de arroz caiu de seu hashi.

- Ok, chega. – Minha mãe interrompeu. – Se vocês ficarem fazendo isso, meu Jinnie não vai comer, e isso é cruel. Quem terminou, tire a louça da mesa e vão lá terminar de arrumar a bagunça que fizeram na minha janela.

- Que ele fez, você quer dizer. – JiMin apontou para Tae, cujo prato subitamente havia se enchido de comida de novo.

- Não enche, JiMin. – Tae reclamou, mas estava sorrindo. – Você só está assim porque sua maldita dieta não te deixa comer mais, e você vai ter que ir lá catar caco de vidro.

- Vai se foder.

- Vai você antes.

- Mais tarde eu vou, pode deixar.

- Modos na mesa, porra. – Minha mãe cortou o que quer que Tae fosse responder.

- Que ótimo exemplo você.

Ignorei o resto da troca de farpas, mesmo a resposta que minha mãe deu em YoonGi, e me levantei, levando minha louça suja até a pia e saindo da cozinha em silêncio.

Não que eu estivesse ansioso para varrer caco de vidro, mas aquele monte de gente por vezes me dava dor de cabeça, e eu não queria ninguém no meu pé depois.

Peguei do chão a vassoura que TaeHyung largara na velocidade da luz quando minha mãe anunciara o jantar servido. Antes disso ele choramingara por uns dez minutos sobre como o mundo o odiava, e que eu não tinha o direito de chamá-lo de cabeção por causa do “acidente”.

Suspirei curto antes de começar a varrer a bagunça. TaeHyung havia varrido grande parte dos vidros, mas tinha sido para o lado errado, visto que se a intenção dele não fosse escondê-los debaixo do tapete, ele havia feito um péssimo trabalho.

Conduzi os cacos para mais perto da parede (e mais longe do tapete do meio da sala), xingando mentalmente por ter que arrumar bagunça de criança desmiolada, pegando a pá que JiMin largara da mesma forma que Tae fizera com a vassoura e catando a bagunça.

...Uhum, deu merda. Claro que deu merda.

Eu sou Kim NamJoon, rei do desastre, muito prazer.

 Assim que me virei para levar os cacos recolhidos até a lixeira mais próxima, consegui esbarrar na bendita janela aberta, derrubando não só a pá e a vassoura, como também eu mesmo. Caí agachado, apenas amortecendo a queda com a mão direita, e urrando baixo assim que o fiz.

- Caralho. – Reclamei, apertando o dedo que sangrava um pouco pelo corte que recebera do vidro.

- Chama o Jin pra te ajudar com isso aí. Ouvi dizer que saliva ajuda a cicatrizar. – Olhei para cima, de onde viera a voz, e logo o ignorei.

- Você não vai ajudar não? – Perguntei, me levantando e colocando o dedo na boca.

- Não. Vou ficar te olhando trabalhar sozinho mesmo. – YoonGi sorriu, encolhendo os ombros, todo angelical. Contive a vontade de mandá-lo para o inferno.

- Vou contar pra ajumma que você está fazendo bullying com o Mon. – JiMin se manifestou, chegando na sala.

- E eu vou contar que você chamou ela de ‘ajumma’. – O Min respondeu, de braços cruzados, olhando para o Park. – E não seja hipócrita. Desde quando você não zoa ninguém?

- Desde quando você não me zoa o dia todo? – Perguntei, achando graça, mas voltando ao que fazia.

- Assim você me ofende, hyung. – JiMin forçou um biquinho, se agachando e pegando a pá, posicionando-a para recolher o que eu varresse. – Eu vim até aqui por você. Sabia que esse branquelo azedo não ia ajudar nem cu.

- Tenha modos. – YoonGi falou, entediado, se jogando no sofá.

- “Branquelo azedo”...muito bom. Vou adotar. – Falei, sorrindo pequeno, e recebendo outro sorriso de JiMin, apesar de eu não tê-lo mirado.

- Isso, se unam para acabar com a paz do Suga hyung, muito bem, crianças. – O Min disse, mexendo no celular.

- Opa, estão zoando o Gi? – HoSeok foi o próximo a aparecer na sala, sorrindo.

- Notou que fazer isso é basicamente uma fórmula de invocação pro HoSeok surgir? Olha que dá casamento. – Comentei com JiMin, que riu.

- Haha, muito engraçado. – YoonGi revirou os olhos para mim, e então virou para o Jung. – E nem vem, vai lá cuidar do seu namorado. – Resmungou. O sorriso de Hope sumiu no mesmo momento. – Ai! Pra que isso? – Reclamou, quando JiMin jogou uma almofada do sofá nele.

- Pra você se mancar na vida. – O Park respondeu, voltando a prestar atenção em me ajudar. Acenei com a cabeça, concordando com o moreno, e, com só uma mão, comecei a varrer os cacos de novo para a pá.

- Mon, quer ajuda aí? – HoSeok perguntou, alguns segundos depois, quando notou que eu estava fazendo.

- Não. Tô fazendo assim porque é mais rápido, prático e agradável. – Respondi, sem mirá-lo.

- Hã...isso foi sério? Ou você está sendo...

- Sarcástico? Não, claro que não. – Respondi, sem deixá-lo terminar. JiMin soltou uma risadinha.

- O quê...? Eu realmente não consigo entender essas coisas, vocês sabem, Mon. – O Jung parecia um tiquinho chateado, mas em grande parte, estava apenas um pouco frustrado por aparentemente ser o único que não havia entendido. – O Gi vive sendo cínico e o caralho as quatro, e você parece respirar sarcasmo. Eu nunca sei se vocês estão falando sério ou só zoando com a minha cara. – Choramingou.

- Hope hyung, vem cá ajudar. – JiMin disse, compadecidamente explicando o que o Jung devia ter entendido desde o início.

Entreguei a vassoura para HoSeok, que resmungava com JiMin sobre todos entenderem ironia menos ele, e enquanto o Park o consolava com suas risadas agradáveis, fui até o banheiro lavar meu dedo.

Demorei um pouquinho a mais para ter certeza de que terminariam o serviço sem mim, e então fui para a sala.

JungKook e Jin não estavam ali, assim como minha mãe. Suga havia sido obrigado a dividir seu sofá com Tae, que retirara as pernas do Min dali para se sentar. O branquelo não estava muito feliz com isso.

- Eu já disse que vou ser o primeiro a jogar. – TaeHyung parecia defender um ponto que eu conhecia de cor. Acontecia todas as noites. – JungKook vai jogar comigo, não você, Suga hyung.

- JungKook nem está aqui. – YoonGi respondeu, com as pernas contrariadamente flexionadas no sofá.

- Ele disse que ia jogar comigo.

- Mas ele não vai jogar agora, vai? Me dá esse controle.

O recém castanho fez uma careta, mas entregou o objeto ao mais velho. Ambos iniciaram a partida, e eu olhei para a cozinha, sem pensar muito.

- Ele está lavando a louça e já vem, hyung. – Tae falou, sem sequer me olhar, conduzindo o cursor do controle pelo menu do vídeo game. Mirei-o, suspirando de forma pouco notável, e, o ignorando, fui até o andar de cima.

Muitas vezes eu era tomado por essa sensação; não queria estar no meio daquela bagunça, porque sabia que me irritaria com muita facilidade. Meus fones de ouvido eram meus únicos companheiros, e muitas vezes, nem eles tinham espaço no momento.

Adentrei meu quarto com passos silenciosos, indo até a janela, e me sentando ali, com as costas apoiadas numa de suas laterais. Suspirei, olhando para as casas vizinhas, seus quintais pequenos e suas paredes claras. Não estava alto o bastante, mas podia ver um pouco do resto do bairro, com suas luzes artificiais protegendo-os da escuridão total da noite sem lua.

Retirei os fones do bolso, assim como meu telefone, cuja tela estava cada vez pior de se olhar, e conectei-os. Deixei que meu aleatório fizesse seu trabalho de nunca tocar o que eu queria ouvir, e voltei a mirar a noite amena enquanto a batida de ‘Population Control’ começava a tocar.

Minha cabeça sempre foi mais pensativa que ativa, desde que me conheço por gente. Gosto de pensar, e não consigo parar de fazê-lo, o tempo todo. Mas ali, ao som de músicas que eu ouvia apenas por preguiça de pular para a próxima, senti todos os pensamentos se misturarem numa massa multicolor na escuridão que estava meu cérebro, e parei de vê-los de forma concreta.

Uma trégua. Dos garotos, de meus próprios incômodos, sempre impedindo que minha imaginação fluísse. Um momento de descanso.

Não contei quantas músicas passaram, e não prestei atenção em suas letras; elas me fariam pensar.

E quando ele se apoiou na janela, um pouco longe de mim, sem parecer querer me interromper, sequer olhei-o. Estiquei a mão que estava para dentro do quarto, e o puxei com leveza, apoiando meu braço em volta de sua cintura.

Ele ficou de pé, sem falar, e acabou por se apoiar em mim com a mesma serenidade que eu havia agido. Continuei olhando para fora, com o pensamento em lugar nenhum, e Jin não me incomodou nisso. Apoiou seu braço em meus ombros de forma confortável, e se manteve ali.

Não me incomodava com ele ali, e não apenas porque ele sabia muito bem como não ser um incômodo. Mas porque, mesmo ali, em meu momento de lobo solitário, eu senti sua falta. Não era algo gritante, como muitas vezes eram minhas necessidades por ele. Era algo calmo, a simples vontade de tê-lo ali.

E sua presença era calma, ele olhava para fora como eu, parecendo preso em seu próprio mundo, e eu tampouco o incomodei nisso.

No meio de ‘Stressed Out’, ele retirou meu fone direito, colocando-o. Soprei um sorriso nasal, apertando sua cintura para que ele ficasse mais perto, e fechei os olhos.

A mão direita de Jin estava apoiada em minha coxa, e agora ele balançava minimamente o corpo no ritmo da música. Permiti que meus olhos focassem em algo concreto pela primeira vez em no mínimo vinte minutos, e olhei para seu rosto.

Seus olhos estavam fechados. Seus suspiros eram frequentes, mesmo que discretos. No quarto escuro, a pouca luz que vinha de fora contrastava em seu rosto bonito, sombreando-o de forma misteriosa.

Observei-o balançando a cabeça com suavidade por mais que cinco músicas inteiras, preso numa espécie de estado de contemplação. Vez ou outra, meus dedos apertavam levemente sua cintura, como forma de lembrar-me de que ali estava. E a sensação de confirmar que estava me passava uma onda energética agradável por todo o corpo, como chocolate derretendo na boca.

Não notei que sorria pequeno até deixar de fazê-lo quando Jin abriu os olhos e me mirou com sua típica expressão curiosa nos orbes, e se manteve encarando-me por alguns longos segundos.

- Essa voz é sua, não é? – Demorei um pouco para forçar meu cérebro a prestar atenção na música que soava nos auriculares, arregalando um pouco os olhos ao notar que o que tocava era, de fato, uma música minha. A única já gravada.

A batida soava com a qualidade mediana de uma fita caseira, visto que eu gravara aquilo como um experimento uma vez, com Min, que me ajudara a usar seu equipamento. Fora algo aleatório, então eu só tinha aquela gravação, e não a mostrara a ninguém.

- Não passe. – Jin colocou a mão sobre a minha quando tirei o celular do bolso para pular para a próxima faixa. Olhei para ele, que apertava os lábios de forma um tiquinho apreensiva, num apelo. Suspirei, acenando com a cabeça, e bloqueei novamente o telefone.

Todo dia, da mesma forma.

Estas funções e equações não poderiam me dar uma resposta.

No final as coisas se tornaram incontáveis lesões.

Com a luz, para que eu possa ver as estrelas escondidas por trás disso.

Olhei para fora da janela, deixando-o escutar o que quer que eu tivesse criado naquele dia sonhador.

Estou sozinho, ninguém tenta sequer me entender. Estou bem, estou bem.

Assim, todos os dias, enquanto me matam,

Sem um significado, o dia é suspenso a partir do número de um jogo.

Eu só queria fazer, o que gosto de fazer...

Eu só queria ter sucesso...

Esperei pacientemente – talvez um pouco incomodado – que a faixa terminasse, e, quando ‘Money Right’ começou a tocar, olhei para Jin, que provavelmente mantivera os olhos fechados, visto que os abria naquele momento.

- “Em vez de viver toda uma vida suspirando cheio de tristeza, eu escolhi viver uma vida afastando a minha tristeza e respirando livremente”. – Seus olhos curiosos me miraram ao citar a última frase que saíra de meus lábios naquela gravação. – Como você consegue resumir uma vida inteira numa frase assim?

Pisquei uma vez, brevemente. Não sabia o que esperar de sua reação, mas não estava esperando aquilo. Jin me olhava com mais intensidade do que jamais olhara. Não era ardente, ou melancólico, era apenas...descoberto, e um pouco sonhador. Como se eu tivesse aberto seu diário de infância após tanto tempo.

- Jin...caralho, por que você está chorando? – Perguntei, um pouco alarmado após minha tentativa de começar uma fala macia. – Ei... – Chamei-o, apertando sua cintura de forma insegura. Ele não tinha lágrimas correndo desesperadamente na face, como acontecera nas outras vezes. Seus olhos apenas brilhavam, acumulando pequenas gotas em cima de suas maçãs do rosto.

- Eu estou bem. – Sua voz saiu mais fraca que o normal, mas pela primeira vez na vida, eu acreditei em seu “estou bem”. De alguma forma, ele parecia esbanjar energia, mesmo chorando. Caralho, como eu ficava nervoso com aquelas lágrimas.

- Então não chora, por favor. – Falei, baixinho, antes de puxá-lo, fazendo com que se sentasse em minhas pernas. Abracei seu tronco agora com as duas mãos, apoiando o queixo em seu ombro. – Odeio te ver chorando.

Sua risada, curta e baixinha, morreu na escuridão do quarto após passar por meus ouvidos de forma harmoniosa.

- Nem todos os choros são de tristeza, NamJoon. – Ele não me olhava, mas acomodou sua cabeça sobre a minha, olhando para a parede perdida no breu de forma pensativa. – Esse, por exemplo, foi de orgulho.

- Orgulho? – Perguntei, movendo minha cabeça sobre seu ombro, fazendo com que ele se desacomodasse e me mirasse, afirmando com a cabeça curtamente.

- Você é realmente bom nisso. – Falou, e eu me senti encolhendo os ombros, um pouco acanhado, apesar de ter-me mantido mirando-o sem trégua. – Mas ela parece incompleta.

Arregalei um pouco os olhos. Sabia que tinha que estar me acostumando mas...

- E está.

...o jeito que esse garoto parece entender cada uma de minhas loucuras secretas ainda me surpreende sempre.

Jin sorriu, carinhoso, com minha resposta. E eu não podia evitar me manter mirando-o com a sensação de estar olhando para um diamante na calçada.

Sua mão se conduziu até meu cabelo, afastando a franja de minha testa, e pousou seus dedos compridos quase em minha nuca, movendo meus fios recém descoloridos minimamente. Suspirei, sustentando seu olhar, que, mesmo estando quase secos, ainda podiam-se ver rastros de seu curto, mas significativo choro.

Eu sabia que não havia apenas “orgulho” ali. Jin não me contaria, até porque ele provavelmente sequer sabia colocar em palavras, mas eu vi muito mais ali; eu sabia que ele se reconhecera, porque mesmo que aparentasse ser mais conformado que eu, eu sabia que todos, todos, temos uma vontade secreta de mostrar do que somos capazes. De fazer diferença.

- Por quê? – Ele perguntou num sussurro, já abaixando a cabeça.

- Porque essa história ainda não acabou. – Falei, num fio rouco de sussurro, roçando meu nariz ao dele, e engoli em seco. – E acho que ela vai continuar mudando, sempre.

Porque eu vou fazer questão de ter que apagar aquele “estou sozinho” da letra. Algo que eu sempre vi como uma verdade imutável. Quem sabe o que mais me espera.

Você está se tornando um maldito otimista.

Olhe para esse garoto; como eu poderia continuar apenas negando tudo?

Não meta SeokJin no meio disso também.

SeokJin está no meio de tudo.

- Vai. – Ele concordou, num último sussurro, e eu senti todo meu corpo arder em antecipação quando nossos lábios roçaram com sua fala. – Você vai conseguir, sei que vai.

- Se você ficar exatamente como está, acho que posso fazer qualquer coisa. – Segredei, suspirando contra sua boca macia, com os olhos quase se fechando. Sua risada surpresa soprou em minha face, e senti seus lábios esticados num sorriso.

- Me avise quando for entrar no modo sincero, porque você sempre me pega de surpresa.

- Eu sempre sou sincero. – Reclamei, mesmo que estivesse sorrindo também, já com as pálpebras guardando meus olhos, tentando não enlouquecer com aquela proximidade chove-não-molha.

- Está mentindo nesse exato momento. – Os braços de Jin repousavam sobre meus ombros, e ele suspirou, ainda sorrindo.

- Eu poderia apenas parar de falar então. – Falei, após rir curtinho, e apertei mais sua cintura contra mim.

- Seria uma boa ideia. – Foi a última coisa que a noite ouviu antes de nossas bocas se enroscarem.

Era estranho, mas infinitamente prazeroso; eu sentia como se, mesmo que o beijasse vinte vezes por dia, a sensação sempre seria maior e mais forte que a primeira vez; não entrando numa rotina, mas melhorando a cada minuto.

Talvez Jin melhorasse a cada minuto, talvez fosse eu, talvez fosse apenas porque sua presença nunca seria demais, então seus lábios não tinham como ser ruins. E talvez, talvez, fosse porque meus sentimentos ainda não tivessem parado de crescer e melhorar, e continuariam fazendo isso sempre.

Sentia os dedos de Jin em meus fios, meio trêmulos, como se aquele sentimento ardente estivesse tentando escapar pela ponta de seus dígitos, incendiando tudo. Meu peito apertava e latejava, como normalmente fazia ao queimar junto de SeokJin, e meus próprios dedos pareciam arder enquanto circundavam aquele corpo bem desenhado.

Meu pescoço, tenso para beijá-lo cada vez mais fundo, não incomodava. Seu toque quente, sua respiração ofegante dentro de minha boca, seus lábios e sua língua luxuriantes, tudo parecia dez vezes melhor que qualquer sensação que eu já provara antes; mesmo seus beijos anteriores.

Movi minha boca contra a sua de forma lenta, e por um momento pude sentir como se meus joelhos ainda doessem contra a terra dura, me sustentando à sua frente no balanço do pequeno parque, com suas lágrimas molhando a nós dois; como se a água ainda ondulasse à nossa volta na piscina; como se ainda estivéssemos á sombra do paredão, a sete quadras de casa, com o sol dando adeus ao longe; como se o vento do terraço da escola ainda batesse em nossos corpos sobrepostos, ardentes em desejo.

Era a mesma sensação que eu me tornara adicto, e ao mesmo tempo parecia melhor que todas elas juntas. O toque de Jin em mim, meu toque nele, tudo parecia preenchido de tantas sensações e emoções que eu não sabia bem o que pensar, só sentir.

- Sério... – Chamei, rouco, respirando com dificuldade ao soltar nossas bocas sedentas. Minha testa repousava contra a sua, e eu sentia sua respiração quente em meu rosto.

- Hm? – Ele parecia meio cansado, mas radiante. Afastei um pouco o rosto do seu, mirando-o. Seus olhos estavam fechados, e seus lábios exibiam um sorriso pacífico. Selei aquele sorriso, não voltando a afastar o rosto.

- Você pode ficar exatamente como está? – Perguntei, com os olhos cerrados e a boca roçando em sua bochecha. Meus braços o abraçavam com tamanha firmeza que apenas eles já deixavam claro o quanto minha pergunta significava.

Jin tardou em reagir, mas acabou por acenar fraco com a cabeça, logo deitando-a em meu ombro, e suspirando.

- Enquanto você me quiser por perto, eu vou estar exatamente aqui.

Meus braços o abraçaram com força, e eu senti como se mesmo que eu quebrasse seu corpo sob mim, não seria suficiente para ficar próximo o suficiente; para mostrar o quanto me tornara dependente daquela presença, daquele sorriso, daquela pessoa em toda sua inteira, linda e gentil existência.

- Não acredito que até agora ninguém apareceu pra interromper. – Comentei, com meus dedos passando por seus cabelos, e minha cabeça apoiada nele enquanto ele mesmo se apoiava em mim, ainda me abraçando com força. Ele não mostrara o rosto desde aquilo, mas eu sentia uma aura pacífica sobrevoar a nós dois enquanto mantinha-me acariciando-o distraidamente.

Jin soltou uma risadinha, que soprou em meu pescoço, fazendo-me encolher um pouco.

- Tae deve estar dormindo então. – Ele respondeu, claramente sorrindo, virando o rosto ainda mais para a dobra de meu pescoço, soando abaixo de meu queixo.

- Ou com HoSeok. – Supus, logo suspirando. – Eles podiam maneirar mais nos dramas.

- Não fale assim. Eles não estão felizes com essa situação. – A canhota de Jin movia os fios de minha nuca, fazendo espirais imaginários ali, me causando uma pequena cócega, que eu aguentava por ser algo prazeroso. – E você também, não tem muita moral para falar sobre dramas.

- Como assim? – Levantei minha cabeça, fazendo com que ele também o fizesse, e o mirei, um pouco indignado. – Eu sou a pessoa mais prática do mundo. Odeio drama.

Jin não foi muito bem sucedido em conter o sorriso divertido que sua face assumiu, e eu me mantive meio chateado.

- Ok, se você diz... – Deixou a frase no ar de propósito, como que para deixar claro que não me levara a sério, e se virou, ainda sentado em meu colo, mas já não me abraçando.

- Ei. – Chamei, em parte forçando minha chateação, em parte realmente incomodado. Jin me olhou, sem perder seu sorriso em momento algum. Ele parecia se segurar para não gargalhar. – Eu não sou dramático.

Jin riu baixinho, e notei o quanto minha frase parecera com um apelo infantil. Daqueles em que a criança não tem argumento algum, mas segue insistindo, sabe? Notei também que ele parecia bonito demais sorrindo, e, mesmo que aquilo não fosse novidade, se assemelhava a uma novidade aos meus olhos, com o brilho fascinante que as novidades têm. Santo universo.

- Claro que não. – Ele sorriu, me olhando diretamente, molhando a boca com a língua de forma meio distraída antes de completar: – Agora use sua praticidade suprema e esqueça isso, ok?

Franzi o cenho, escandalizado, recebendo uma gargalhada de sua parte. Em poucos segundos, um sorriso fraco foi tomando lugar em minha expressão, que olhava para ele com gentileza mansa. Fixei minhas mãos em sua cintura de novo, fazendo-lhe cócegas, que foram recebidas com gargalhadas de desespero e algumas contorções engraçadas.

- NAMJOON! EU VOU CAIR DA JANELA SEU LOUCO! PARA! – Parei com as cócegas rindo mais que o papa enquanto segurava sua cintura de forma firme e o abraçava relaxadamente.

- Lembra que eu te chamava de ‘pirralho’? – Perguntei, ainda divertido, enquanto ele ofegava ao se recuperar do pânico. Sua cabeça acenou de forma hesitante, e eu sorri, apoiando o queixo em seu ombro. – Acho que vou voltar a usar esse apelido.

- Por quê? – Sua pergunta pareceu mais sofrida por ter sido soltada num ofego, e ele me olhou, como se perguntasse o que tinha feito de errado, e se eu tinha tomado meu remédio hoje.

- Porque você é uma verdadeira peste. – Fiz questão de sorrir de forma que eu sabia que o irritava, e suas bochechas imediatamente inflaram.

- Você que fica fazendo bullying e eu que sou a peste? – Ele perguntou. Seu tom perdeu um pouco o tom chateado, vacilando em seu teatro de fingir que conseguia ficar irritado comigo. Eu sabia que não conseguia. Não com tanta facilidade, ao menos. – E eu sou mais velho, você tem que me respeitar.

- Hm? Mas na última vez que eu te chamei de hyung, você me mandou tomar no cu. – Tombei ligeiramente a cabeça, ainda apoiado em seu ombro.

- Tenho certeza de que não falei desse jeito. – Ele respondeu, e eu imediatamente sorri. – E isso não tem nada a ver. Você não usa o ‘hyung’ como sinal de respeito.

- Como assim? – Perguntei, com a voz mais baixa, e o puxei para mais perto, abraçando-o com firmeza. Jin ofegou levemente assim que levei a boca até o pé de sua orelha, respirando pesadamente uma vez, de propósito. – É meu apelido especial para você, hyung. Uso ele de vez em quando, não quer que eu não te respeite. – Rocei o nariz na pele pálida de seu pescoço, soltando um sorrisinho satisfeito ao ouvi-lo suspirar de novo.

- Garoto malcriado. – Ele sussurrou, e meu sorriso selou sua pele com leveza, mas sustentando todo o sentimento mais quente que se alojara ali.

- Que você gosta. – Meu sorriso se encaixaria à beira do “cafajeste” quando sussurrei de novo, selando sua mandíbula. Minhas mãos pareciam tremer por não estar-se movendo, explorando aquele corpo, mas eu me conteria, me conteria o quanto fosse necessário para não correr o risco de assustá-lo, de perdê-lo.

- Mais do que deveria. – Sua resposta foi quase inaudível, tanto que me perguntei se havia imaginado, quando ele voltou a circular meu pescoço com seus braços de forma lenta, escondendo o próprio rosto em meus cabelos, na lateral de minha cabeça. – Muito mais. – Sussurrou baixinho ao lado de minha orelha, e eu constatei que não estava ouvindo coisas.

Senti algo queimar em meu peito, como se as borboletas saidinhas que ali viviam tivessem se incendiado e voassem, flamejantes, por aí. Ele já havia sido direto quanto ao que sentia assim antes? Eu achava que não.

Aspirei fortemente o cheiro de seus cabelos, apertando seu corpo, e então afastei-o de mim, olhando profundamente em seus olhos antes de unir nossas bocas mais uma vez naquela noite. Eu vira insegurança naquele olhar, e pela primeira vez parei para pensar que eu não era o único com incertezas; eu não era o único que perdera a calma por não saber o que ele pensava, por não saber até que ponto eu era correspondido.

Lamentei por ser tão cabeça dura, eu provavelmente o fizera sofrer um bocado com minha teimosia crônica. Abracei-o com firmeza e carinho, com um pouco mais certezas do que já tivera antes, querendo garantir pelo menos uma coisa; eu estava ali, e pretendia continuar assim.

Prendi seu lábio inferior entre os meus, soltando com leveza, e finalizando o beijo curto, mas profundo. Jin pareceu relaxar ao extremo quando suspirou de olhos fechados, molhando os lábios discretamente. Olhei para ele, que retribuiu em seguida.

Sorri, selando sua boca de novo, levando minha mão ao seu cabelo e passando-a ali com gentileza.

- Você fica muito bonito quando cora, hyung. – Segredei, recebendo com um sorriso sapeca sua expressão envergonhada.

- Viu? Esse apelido não tem o menor respeito vindo de você. – Ele resmungou baixinho, virando o rosto.

- Falando nisso. – Falei,divertido, recebendo sua atenção distraída. Ele logo fez a expressão chateada de novo, como se tivesse esquecido que devia mantê-la. Segurei uma risadinha. – O que vai fazer sobre seu prêmio? – Ele me olhou interrogativo. – Eu perdi a aposta. Te chamei de ‘SeokJin’, lembra?

Jin abriu a boca em compreensão, e acenou com a cabeça, assumindo uma expressão mais pensativa.

- Sobre isso... – Começou, olhando para o chão. Tombei o rosto levemente, esperando que continuasse. – Podemos mudar o trato? – Por algum motivo ele parecia envergonhado. Hesitei, mas concordei com a cabeça. – E se cada um chamasse o outro como quisesse? Não seria mais natural?

Franzi um pouco o cenho, demorando em oferecer-lhe uma resposta. Imaginei o ‘NamJoon ah’ voltando.

- Claro. Seria o natural. – Falei, após um momento. – Mas por que essa mudança? Começou a gostar mais dos apelidos?

Ele sorriu de canto, meio sem jeito, e encolheu os ombros.

- É que te ouvir me chamando de “SeokJin” é meio assustador. Parece que você está brigando comigo.

Soltei uma risada surpresa ao ouvir isso, mas acenei com a cabeça, achando graça.

- Ok, então.

Jin ficou em silêncio, com um pequeno sorriso no rosto, e olhou pela janela, pensativo outra vez.

- Nam. – Chamou, e eu o olhei, demorando um tiquinho em notar do que ele havia me chamado. – Esse está bom, não? É bonitinho, tem a ver com o seu nome, não é tosco como “Rap Monster” e... – Se calou, voltando a mirar a frente. Sua falta de jeito era engraçada, mas o incentivei:

- E?

- Ninguém te chama assim. – As ocasiões em que o maior desejo da vida de Jin parecia ser se tornar um jabuti estavam ficando mais escassas, mas aquele foi um desses momentos. Elevei um pouco o cenho, sinceramente surpreendido.

Mas claro que acabei por sorrir.

- É verdade. – Falei, com um sorriso de canto que se recusava a morrer, e que eu tinha que colocar um pouco de esforço para não deixar que aumentasse muito. Ele me mirou, meio hesitante, e eu o retribuí. – Mas você não precisa fazer isso. Até ganhou a aposta.

Ele sorriu de canto, meio sem graça outra vez, e deu de ombros.

- Não custa nada.

- Oya, te contaminei com meus apelidos então, SeokJin?

- Não seja idiota. E não me chame assim, é realmente estranho. – Ele fez uma careta, e eu gargalhei. E não é que o mundo dá voltas mesmo? Ele me mirou, um pouco incomodado, mas acabou sorrindo fraco. – É, você é um maldito manipulador de mentes.

Mordi a língua ao sorrir, mirando-o divertido.

- Não fale assim. Eu sou seu Nam, hm? – Amansei a voz de propósito, apoiando-me em si outra vez. Seu olhar descrente durou pouco, e logo ele já sorria de novo.

- Você é impossível.

Sorri, bagunçando seus cabelos, e recebendo com esse mesmo sorriso seu xingamento.

- A propósito. – Falei, quando me ocorreu algo. – Quer dizer que eu posso te chamar de princesa?

- Não força a amizade. – Sua resposta veio sem hesitação, me fazendo rir. Ele me olhou, forçando uma expressão séria, logo sorrindo pequeno. – Faça o que quiser.

- Eu sempre faço o que quero.

- Eu sei. – Sua expressão ficou presa em algum ponto entre o sorriso e a careta que fez. – Por isso nem contestei.

- Ah, fala sério. – Apelei, sorrindo de canto. – Admita que você gosta quando eu te chamo assim. – Seu erguer de sobrancelha carregado de cinismo seria resposta o bastante, mas eu não me rendi, num riso relaxado: – Um pouquinho? – Ele não respondeu, e deixou de me olhar, rindo baixinho. – Eu sabia.

 - Você é muito idiota.

- E você adora isso. – Respondi, casual, puxando-o um pouco mais para meu colo, de forma que encostasse em meu peito.

- Maldito idiota.

- O que há com esse ‘maldito’?

- Descubra sozinho.

Olhei-o por um momento, e minha boca esticou-se num sorriso de canto enquanto ele olhava para o nada que não fosse meu rosto. Os braços cruzados como que para confirmar a birra.

- Maldito por quê? Gosta tanto de mim que não sabe lidar com isso?

- Egocêntrico idiota.

Soprei uma risada divertida.

- Se você não negar eu vou entender como um ‘sim’, SeokJin.

- Já disse pra não me chamar assim, maldito idiota.

Seu tronco foi abraçado com mais firmeza, e eu o puxei completamente, encaixando minha cabeça na dobra de seu pescoço. Ele não negara.

- Maldita princesa.

 

 

 

- Por que está aqui?

- Porque eu estava preocupado com você. Não é obvio? – Não podia ver as expressões de Tae por Hope estar tapando-o quase por completo de meu ponto de observação, mas consegui notar um suspiro dolorido, acompanhado de um quase gemido de mesma essência.

Meus músculos se retesaram, querendo me levantar. A mão de Jin na minha, acariciando de leve, foi a única coisa que me impediu.

- Por que você continua fazendo isso? – A voz de Tae não estava embargada, mas tudo indicava que poderia ficar a qualquer momento. – Mais cedo também, por que foi para casa comigo? Faz um mês que você nem liga para a minha existência e agora eu virei sua bonequinha de porcelana?... – Engoliu um soluço. Senti um pesar. Apesar de qualquer besteira que eu sempre dissesse, ver Tae sofrendo não é, de forma alguma, minha atividade favorita. Ou passividade.

Jin passou o braço por minhas costas, prendendo-se ao meu redor ao segurar meu braço do outro lado, e tombou a cabeça em meu ombro. Apertei sua mão, ainda olhando para os dois em frente à casa.

HoSeok mirou a rua por alguns segundos, e então virou-se para olhar Era pela primeira vez desde que chegara ali. O Kim não refletiu seu ato, manteve os olhos reluzentes de futuras lágrimas fixos no poste de luz do outro lado da rua.

- Porque você é minha boneca de porcelana. – Respondeu, com uma firmeza gentil que eu nunca vira em sua voz. Ele pareceu diferente do crianção que eu conhecia. Tae também parecia. Sozinhos, um ao lado do outro, eles pareciam ser outra pessoa, e de certa forma, pareciam ainda mais complementares desse jeito. – Porque eu sinto falta de você. Porque eu sinto falta de acordar e a cama não estar virada de ponta cabeça por sua causa. Porque eu sinto falta dos seus sorrisos. – Suspirou, molhando os lábios. – Por que parou de sorrir, Tae?

TaeHyung pareceu ficar mais tenso. Há quanto tempo eu não via um sorriso, grande e verdadeiro, de Tae? Há quanto tempo eu vinha ignorando seus humores inconstantes e apenas taxando-o de “mimado birrento”? Eu não vinha sendo demasiado injusto?

A expirada forte que Tae presenteou ao ar da noite pareceu por um momento o único som ali. Apenas se ouviu toda a tensão, o medo e a melancolia que o garoto guardava no coração.

- Eu não parei... não parei de sorrir. – Pude ver um sorriso sem humor em sua voz, que saiu fraca, como um suspiro na noite quente. – Mas eu não sou de ferro, HoSeok. Não consigo simplesmente fingir que não vi nada, que não ouvi nada, que não perdi o que tive por tanto tempo da noite para o dia.

- Não viu...? Do que está falando, TaeHyung? – A voz de Hope ficou confuso, mas havia algo a mais ali. Insegurança.

- O que estava fazendo com o namorado do Jack naquele dia?  -Tae perguntou, seco e sem rodeios, sem deixar que o mais velho falasse mais. O moreno olhou para Tae com confusão. – Eu vi vocês passeando de mãos dadas naquele dia, Jung HoSeok. Não se faça de idiota.

- Ah... – Hope, que estava inclinado um pouco mais para perto de Tae, arrumou sua postura, e então soltou uma risada pequena, recebendo o olhar irritado de Tae. – Desculpe, mas é engraçado. – Elevou o rosto, mirando o mais novo. Provavelmente estava sorrindo. – Sério? Você não notou? Passou o dia todo junto com ele e não notou? – Tae não deve ter feito uma cara muito boa, porque a graça de HoSeok diminuiu quando voltou a falar: – O Bam é quase tão animado quanto o Jack, e tem o mesmo costume estranho de sair abraçando e tocando nas pessoas enquanto conversa. Ele bate também, principalmente quando se anima com algo. Tipo o Kai hyung.

Sua fala parou, pensativa, e Tae ficou em silêncio. Outra risada de Hope pôde ser ouvida, antes que ele voltasse a falar:

- O que você achava? Que eu estava te traindo? Por favor, TaeHyung.

- E-e-eu- NÃO É MINHA CULPA SE VOCÊ ESTAVA ME DEIXANDO PENSAR EM COISAS ASSIM! – O mais novo respondeu, apertando as mãos ao redor dos joelhos, e baixando o rosto. – Você quase não falava comigo, e quando falava, era pra brigar comigo. O que você queria que eu pensasse? Que era normal e que íamos nos casar e viver felizes para sempre com uma relação de merda daquelas? ‘Por favor’ digo eu, Hobi. – Apesar das palavras amargas, a voz de Tae estava trêmula, e parecia salpicada de alívio. Me vi torcendo os dedos mentalmente para que algo de bom saísse daquela discussão.

Foi a vez de Hope ficar calado por um momento, antes de suspirar, e olhar para Tae, que tinha escondido o rosto entre os joelhos. A mão do Jung foi até as costas do loiro com hesitação, mas pousou ali, acariciando com leveza.

- Ok. Olha...você tem razão, ok? Eu sei que fui um babaca, mas eu não sou o único culpado, tá? Esse jogo é para dois, e você tem que entender que eu não sou o único que aguenta tudo calado. – Seu tom era gentil e sério, não acusatório. Ele não estava tentando se livrar da responsabilidade; estava balanceando-a, como devia ter sido feito desde o início. E HoSeok estava chorando também.

Vi Tae elevando a cabeça para olhar HoSeok, que estalou a língua, passando os dedos pelas lágrimas. Primeiro as suas, depois as do garoto que soluçava à sua frente.

 

Olhei para minha cama, onde os dois garotos tinham se deitado para dormir mais cedo. Jin estava de costas para mim, do outro lado da cama, e parecia ressonar tranquilo. TaeHyung, porém, do lado mais próximo a mim, estava inquieto. Soltava reclamações e fazia caretas em meio ao sono, balbuciando e resmungando enquanto se contorcia.

Me mantive olhando para ele, apoiado embaixo da janela. Tae claramente estava tendo um sonho ruim, mas eu não tinha muito a fazer. E tampouco era capaz de ignorar completamente suas reclamações que vinham a todo minuto.

Suspirando, fechei o livro que tinha sobre as pernas – mesmo que eu não estivesse lendo-o de verdade, pela falta de iluminação – , deixando-o no criado mudo e me agachando no lado de Tae da cama.

O garoto gemeu baixinho, incomodado, assim que mirei seu rosto de novo, agora perto de si. Não hesitei muito antes de colocar a mão em seu braço, e não precisei de muito para que ele abrisse os olhos, de supetão, com uma reclamação que morreu rapidamente, ao notar onde estava.

- Hyung... – Disse, fraquinho, e eu mirei-o na penumbra do quarto. – Eu tive um pesadelo. – Contou, choroso.

- Imaginei. – Respondi, inexpressivo. Eu normalmente não estaria com Tae em meu quarto, mas Jin me convencera. Claro. “Ele precisa de apoio, mesmo que pareça estar tudo bem”. Todos tinham ido dormir em suas próprias casas, mas Tae estava ali, e eu sabia que o fato de ele ter acatado isso sem contestar comprovava que Jin tinha, mais uma vez, razão.

- Foi horrível. Tinha umas coisinhas gordinhas que nasciam na minha pele e grudavam e ficavam fazendo tipo – insira aqui um ruído inumano agudo aqui – e – insira algo estranho que termine com “blublublu” (porque foi a única coisa que entendi das onomatopéias de Tae) aqui – e ficavam rindo de mim!

Tae geralmente era o tipo de necessitado de atenção que esperava orgulhosamente que as pessoas se interessassem em suas histórias e perguntasse coisas como “o que aconteceu?” ou “o que foi?” para que ele então soltasse a matraca. Mas, me conhecendo como conhecia, ele sabia que eu provavelmente não perguntaria – a não ser que estivesse realmente muito preocupado – então apenas falava e falava sem que eu precisasse demonstrar uma gota de interesse.

Isso era cansativo, mas me privava de ter que ficar perguntando.

- Ah... – Falei, ao fim de sua fala, quando ele me mirou energeticamente como se esperasse uma reação fantástica da minha pessoa. – E?

- “E” o quê?

- E aí? Como terminou o sonho?

- Como assim? Eu acordei! E esse não é o ponto! Você não está entendendo que eu estou morrendo de medo?

- Primeiro: fale mais baixo. Jin está dormindo. – Respondi a ele, sem alterar minha expressão diante de seu bico. – E ok, pelo menos você acordou. Agora, volte a dormir. Temos aula amanhã.

- Desde quando você parece uma mamãe preocupada? – Tae reclamou, mas ele estava tranquilo. – E você? Não vai dormir porque eu roubei seu lugar do lado do SeokJin hyung?

Olhei com desprezo para seu sorriso sapeca, e me levantei.

- Cuidado com as coisinhas roxas. – Falei, me virando para sair do quarto.

- Espera! – Ele chamou, e eu o olhei, quase na porta. – Onde você vai dormir, hyung?

- Com vocês que não vai ser, né? – Respondi, quase sorrindo. Tae estava de joelhos na cama, meio ansioso.

- Mas... – Ele olhou para Jin, parecendo desconfortável. – Dormir perto do Jin hyung te faz bem, não faz? Por que vai sair? – Sua fala foi meio nervosa. Conhecendo Tae como conhecia, ele provavelmente estava se sentindo um destruidor de lares; como quando fôramos falar com JaeHwa ajumma. Olhei-o por um momento, com o cenho meio franzido. – Não me olhe assim! É só que...você gosta de ficar perto dele, certo? E você sempre acorda de bom humor quando ele está aqui...HYUNG! EU SÓ ESTOU TENTANDO NÃO ATRAPALHAR! POR QUE ESTÁ RINDO?!

- Ei. Shiu! – Repreendi-o, ainda sorrindo. – Você não consegue não gritar? Vai acordar as pessoas.

- Mas hyu-

- Shiu!

- Tudo bem, Nam. – A voz de Jin foi fraca, mas ambos olhamos para ele, que se virou para nós, com um sorriso pequeno no rosto sonolento. – Eu já acordei.

- Viu? – Olhei para Tae, meio irritado, que se encolheu, resmungando um pedido de desculpas.

- Mas...eu estava tentando ajudar... – O mais novo ali disse de cabeça baixa, em meio ao bico manhoso. Jin o olhou com leveza.

- Tudo bem, Tae. – E voltou os olhos para mim. – Onde vai dormir?

Dei de ombros, desviando o olhar do seu.

- Na sala, acho.

- Tem certeza? – Seu olhar era energético, e sua expressão estava limpa. Acenei com a cabeça, sendo refletido nesse ato por ele.

- Qualquer coisa, se seu orgulho teimoso deixar, pode vir dormir com a gente. – Ele falou com voz calma, quase livre de emoção, e voltou a deitar. Sorri pequeno, e me virei, saindo do quarto.

Desci as escadas, com o sorriso ainda em meus lábios. Eu nunca terminava de entender como a cabeça de Jin funcionava, mas sabia de uma coisa: ele entendia muita coisa que nem mesmo eu entendia sobre minhas atitudes o tempo todo. Eu sempre fui alguém que age sem pensar, e fica por isso mesmo, não sou do tipo que me pergunto “por que fiz isso?”. Jin, sendo o contrário disso, acabava sabendo mais sobre minha má personalidade que eu mesmo.

Ao chegar na sala vazia, olhei ao redor. Pegar algum dos colchões seria uma ação trabalhosa que eu não queria efetuar, assim que meus olhos pousaram quase que imediatamente no sofá comprido dali. Não era a coisa mais confortável do mundo, principalmente para alguém com minha altura, mas era o que tinha.

Depositei a cabeça em cima de uma das almofadas do sofá, fechando os olhos com um suspiro. Dois segundo depois, porém, levantei de novo, tirando a camiseta que usava e ficando apenas de bermuda. Deitei de novo, com os braços atrás da cabeça, e deixei minhas pálpebras caírem sobre os olhos.

Não peguei no sono. Não tinha nada a ver com SeokJin ou algo assim, eu simplesmente me sentia sem sono. Minha cabeça pensava em todo tipo de coisa, todo tipo mesmo, principalmente as que não seriam consideradas de importância relevante para minha vida. Por um momento me perguntei por que diabos estava tão quente, e meu cérebro acabou me levando a meditar sobre golfinhos adestrados e pessoas de cabelos compridos. Golfinhos são estranhos. E pessoas de cabelo comprido devem estar com muito calor nesse momento.

- Por que você ainda não está dormindo? – Me levantei com o impulso de meu braço sobre o encosto do sofá, olhando para Jin, que descera pela escada, e agora ia em direção à cozinha.

- Por que você não está dormindo? – Disse eu, me levantando num impulso e indo atrás dele.

- Tae não está mais conseguindo dormir. – Me apoiei na porta da cozinha, observando-o pegar uma caixa de leite na geladeira. – Ele teve um ataque de choro agora a pouco. Consegui acalmar ele um pouquinho, mas achei que isso aqui ia ser mais efetivo. – Indicou o copo grande que servira com o líquido, guardando a caixa na geladeira novamente.

Acenei com a cabeça, os braços cruzados enquanto o esperava na porta da cozinha.

- Quer que eu suba? Ou vou só piorar as coisas? – Perguntei quando ele passou por mim, e comecei a andar atrás de si.

- Com o humor sarcástico que dominou seu ser hoje, você provavelmente só vai piorar. – Disse, sem rodeios, me fazendo rir baixo.

- Maldade.

- Achei que gostasse de sinceridade. – Ele falou, me olhando de canto. – NamJoon. – Falou, mais duro, quando o segurei antes que ele começasse a subir a escada.

- Espera. – Falei, abraçando-o com leveza, logo soltando-o. – Pronto. Matei a saudade. Vai lá.

Ele me mirou sem reagir por um momento, logo sorrindo pequeno, e negando com a cabeça.

- Você é realmente um garoto mimado. – Seus olhos eram gentis, e eu sorri levemente com sua fala. – E por que está sem camiseta?

- Está muito quente. E veja bem: se for por comparação, o garoto lá em cima é bem pior que eu. – Indiquei o andar de cima com a cabeça, e o sorriso de Jin foi substituído por uma expressão mais séria.

- Não está sendo fácil para ele. – Falou, meio apreensivo. Nossas mãos em algum momento se juntaram após o abraço, e seguiam assim. Ele olhou para o aperto, pensativo. – Aquilo que HoSeok ah disse realmente pesou em Tae. Agora ele está se culpando ainda mais por toda essa situação.

- Ele falou por que eles não conversam tudo de uma vez? Essa espera só vai machucar os dois desse jeito. – Jin acenou com a cabeça, ainda pensativo.

- Acho que não é tão simples. Os dois têm muito medo do que pode acontecer depois de uma conversa séria. Pelo menos Tae parece temer muito isso.

- Um final definitivo. – Mais uma vez, recebi uma afirmação silenciosa de Jin. Apertei um pouco os olhos, pensando naquilo tudo. Nunca tivera relacionamentos relevantes, então não entendia muito bem sobre como era o peso e a responsabilidade que aquilo tudo envolvia. Mas tinha certeza de que evitar uma conversa séria não seria adequado para como as coisas corriam no momento com os dois.

Jin também pareceu pensar, assim que ficamos alguns poucos minutos em silencio, com nossas mãos juntas sendo a única coisa que lembrava um ao outro da presença alheia.

Por fim, ele me mirou, e com um sorriso meio cansado, bufou curtinho.

- Que dor de cabeça desnecessária. – Falou, me surpreendendo um pouquinho. Ele sempre parecia tão aberto aos problemas alheios que não toava ser capaz de achar aquilo tudo um saco.

- Nem me fale. – Sorri em resposta, porém. Às vezes eu tinha que me forçar a recordar-me que SeokJin era um ser humano, mas as vezes, ele me lembrava daquilo delicadamente, com ações como aquela. E parecia igualmente ótimo. Soltei suas mãos e abri os braços – Boa sorte de qualquer forma. Faz aquele garoto se animar de uma vez.

Jin soltou uma risadinha desanimada, mas meu objetivo se concretizou ao vê-lo mais alegrinho. Ele aceitou meu abraço com a cabeça em negação lenta, como se não acreditasse em minha existência (ou cara de pau) – ele fazia bastante isso, pensando agora.

- Acho que não sou eu quem ele quer animando ele, mas vou fazer meu possível. E cuidado com o copo de leite, senão eu vou derrubar. – Levantou o rosto, me olhando sem sorriso nos lábios, mas tendo-o presente em todo o resto da expressão. – E coloque uma camiseta.

- Por quê? Está quente. – Jin riu baixinho do tom quase infantil que minha reclamação adquiriu.

- Não está tão quente, NamJoon. – Elevou a sobrancelha, dando um palmada fraca em meu ombro ao se soltar do abraço. – Não seja dramático.

- Só porque eu sinto mais calor que você, não quer dizer que eu esteja fazendo drama. – Respondi, enquanto ele começava a subir as escadas com o copo de leite na mão. – E onde está o “Nam”?

- Vou te chamar assim quando você merecer ser chamado assim e quando eu estiver afim. Se não, você é NamJoon mesmo. – Me ofereceu um sorriso arteiro, já alguns degraus acima da escada.

- Você é um garoto provocante, SeokJin. Sabe disso, não sabe? – Falei, semicerrando os olhos para si, que ainda sorria para mim, perto o bastante para que eu visse todos os detalhes de sua pessoa pulcra, mas longe o suficiente para que eu não pudesse fazer o que queria e agarrá-lo ali mesmo.

- Do que você está falando? Eu sou tedioso e irritantemente certinho. Você mesmo disse isso, Nam. – Falou com a cabeça tombada em descaso provocante, atiçador, assim como seu sorriso e toda sua postura. Que discretamente, fazia dele mais delicioso que qualquer coisa. E antes que eu pudesse respirar para contestar, ele se virou, subindo pela escada com velocidade travessa, sumindo na escuridão do outro andar.

- Maldito... – Murmurei sozinho, sorrindo de canto. – Cada dia melhor. Não vai parar de melhorar nunca, SeokJin?

Estalei a língua, mas o sorriso não saiu de minha expressão. Um sorriso que podia estar amaldiçoando SeokJin e sua maldita existência atrativa ao extremo, mas que o desejava mais que isso, e que amava toda a sua existência em proporção ainda maior.

Maldita princesa. Maldito SeokJin.

Suspirei. A palavra “maldito” nunca mais teria um significado ruim para mim. “SeokJin” tampouco.

 

 

 

- Sabe, eu apoio.

- Apoio também. Vai na fé. – YoonGi ergueu o punho num “incentivo”, sem desgrudar os olhos do celular.

Olhei para os dois com tédio, revirando os olhos.

- Vocês podem parar agora. – Falei.

- Ah, a gente sabe que pode. A gente só não quer. – JiMin respondeu,  sorrindo. JungKook faltara a escola, então não estava ali conosco. Conclusão: não tinha ninguém pra distrair o Park. Acabava que eu virava alvo de encheção de saco em momentos assim. Porra Jeon.

- Isso aí. – YoonGi confirmou, diminuindo o passo (provavelmente sem perceber) enquanto digitava no telefone.

Olhei para Suga com o cenho um pouco franzido, logo voltando a prestar atenção em JiMin.

- De qualquer forma, parem com isso. Não faz sentido.

- Por que não? Vocês já fazem isso sem problemas, certo? Por que não uma demonstração pros amiguinhos?

- Verdade. – Assim como JiMin, olhei de canto para YoonGi de novo, com o cenho franzido. O cinzento não tinha desgrudado os olhos do aparelho que carregava.

- Vocês são o quê? Um monte de garotinhas virgens que nunca viram duas pessoas se beijando antes? Por que eu teria que fazer showzinho pra vocês? Eu já pedi pra vocês ficarem se beijando na minha frente? Não né? Então aquietem o cu. – Tirar a ideia de jerico que Jia enfiara na cabeça de JiMin mais cedo estava me dando mais dor de cabeça que TaeHyung e HoSeok mano. Por que minha vida não pode ser mais tranquila? Com amigos mais tranquilos e menos fogosos?

- Isso aí. – Ergui as sobrancelhas para YoonGi, mas JiMin logo chamou minha atenção de novo.

- Mas você já viu a gente se beijando. – JiMin fez um biquinho, reclamando.

- Mas eu não pedi. – Contestei.

- Vocês tem razão.

- YoonGi hyung, você nem sabe do que estamos falando. – JiMin olhou um pouco chateado para Suga, que seguia olhando o celular.

- Com toda certeza.

- Afe. – JiMin revirou os olhos, e YoonGi soltou um sorrisinho. – Suga hyung, você pode parar de encher?

- Só porque Jeon não está aqui não quer dizer que eu vá ser seu alvo de mau humor, JiMin. Se aquieta aí.

 JiMin abriu a boca, logo fechando a cara. Revirei os olhos pela fala desnecessária de Suga, e olhei para a frente, pensativo. JiMin tombou a cabeça para me observar enquanto andávamos.

- Calma hyung. Eles estão nos esperando na cantina, lembra?

- Eu sei... – Respondi, logo virando meio rápido para olhar JiMin. – Eu não estava-

- Tudo bem, hyung. – JiMin me interrompeu. – É normal. – E deu uma batidinha amigável em meu ombro, andando à frente ao avistar alguém conhecido, para cumprimentá-lo.

- Concordo com ele. – YoonGi falou, terminando meu silencio meio perplexo, e tomou a frente, andando pelo corredor.

- Cala a boca, desgraça. – Resmunguei, andando como ele. YoonGi segurou uma risada, ainda olhando para o celular, e eu bufei.

Eu realmente não tinha nem começado a pensar em algo. Por que sempre davam um jeito de me fazer parecer ainda mais trouxa do que eu já admitia ser?

Suspirei de novo, dessa vez não irritado, e, a contragosto do que acabei de afirmar, pensei em Seok. Eu não falara muito com ele desde que começara o dia, visto que ele estava com um coala chorão pendurado em si o dia todo, e passara o tempo todo do primeiro período de aulas meio distraído. Me respondia normalmente, mas não me dava atenção o suficiente como que para conversar.

Ok, ele normalmente me cortava e pedia para prestar atenção na aula. Mas sempre acabava cedendo e me dando atenção. Hoje, porém, parecia meio ansioso até para se concentrar nos estudos. Diversas vezes notei que ele olhava para o quadro e apenas isso, sem prestar atenção.

Era irritante, mas aquilo me incomodara não apenas pelos motivos puros de me preocupar com ele.

Na hora do intervalo, Tae provavelmente ligara para Jin, porque o mesmo saíra na pressa da sala, sem mais nem menos. Eu estava tentando ser tranquilo quanto àquilo, afinal, não era nenhum leigo na situação toda de “tratar de TaeHyung”, mas as provocações externas sempre acabavam me fazendo ver meus impulsos egoístas – e até um pouco possessivos – com SeokJin de forma muito mais extrema.

- Se vai ficar bufando e suspirando como uma garotinha apaixonada injustiçada eu vou te deixar sozinho aqui. – YoonGi avisou, continuando a teclar velozmente no telefone.

- Volte a falar com os iludidos da vez e me deixe pensar sozinho, por favor. – Respondi.

- Você por acaso está insinuando que eu sou um destruidor de corações?

- Uhum.

- Ok. Eu sou mesmo. – E voltou a digitar, soltando uma risadinha com algo que leu. – Mas eu vou continuar aqui com você porque é bem capaz de você socar alguém daqui a pouco.

- Por que vocês sempre acham que eu vou cometer homicídio quando fico pensativo?

- Não homicídio necessariamente. Pode ser um ato terrorista também. – Olhei, meio duro, para ele, que me ofereceu um olhar pela primeira vez. Não que fosse muito expressivo, afinal, era Suga. – E você está sempre pensativo, Monster.

- Exato. – Respondi. – Eu não sou tão horrível assim, sou?

- Não é? – Foi o único que recebi de si antes que ele voltasse a mirar o celular, respondendo as mensagens que em nada me interessavam.

Suspirei mais uma vez, vendo a cantina próxima de nós. Fechei os olhos curtamente, continuando a andar. Não sou...certo?

- Monster! – Olhei para trás assim que entrei na cantina cheia de gente. HoSeok logo alcançou a mim e a YoonGi. – Você viu o Tae? – Perguntou, meio ofegante.

- Estamos indo encontrar com ele agora. – Respondi, meio aturdido por sua aparição repentina. Hope acenou com a cabeça, andando à nossa frente. Segurei seu pulso, a contragosto, para chamar sua atenção. Ele parou de andar, me mirando. – O que vai fazer?

Minha pergunta podia ser considerava mais significativa que apenas a dúvida sobre qual seria sua ação seguinte naquele momento. O que ele faria sobre tudo?

Hope me olhou sem reação por um momento, logo sorrindo pequeno. Seu sorriso parecia meio melancólico.

- Vai me bater de novo se eu disser que não sei? – Franzi um pouco o cenho, torcendo a boca minimamente. – Eu não sei. Só... – Olhou contemplativamente para a mesa em que Jin e Tae conversavam sem muita animação. – Só sinto que preciso estar por perto.

E se soltou de minha mão, andando até os dois, que ainda não o haviam notado. Pisquei uma vez. Aquele HoSeok era meio estranho para mim, principalmente depois de ter se ausentado tanto tempo e do nada querer voltar, mas supunha que ruim não devia ser. Significava que eles ainda tinham uma chance de se acertar.

- Ele tem toda a razão, sabe. – YoonGi passou por mim, ocasionando uma careta minha, que comecei a andar como ele.

- Vai continuar com isso o dia todo?

- Você está certíssimo.

- E você é insuportável. – Respondi, sem lhe dar muito caso, olhando para a mesa para a qual nos dirigíamos. Hope já se sentara ali, e ele, junto de Tae, pareciam continuar no esquema “vamos fingir que não aconteceu nada, que somos amiguinhos e que não tem um óbvio clima pesado sobre nossas cabeças”, mesmo que o mais novo parecesse abatido. Jin, toando suspirar, desviou o olhar dos dois, e seus orbes pousaram em mim e em Suga, que nos aproximávamos de si.

Seus olhos se apertaram num sorriso pequeno, que me deu aquela sensação estranha de que minha mente congelara por um momento.

- Acho que esse sorriso foi pra você camarada. – YoonGi comentou, com voz de morgaço. – Ahh, que inveja. Queria alguém assim afim de mim.

- Você não tem um monte de gente afim de você? – Olhei para ele de canto. Já estávamos a uns quatro passos da mesa.

- Tem. Mas SeokJin é combo magia né, mano? Não é fácil encontrar gente tão bonita e tão de boas assim.

- Devo me preocupar com esse seu súbito interesse? – Falei, sem olhar para ele ao me sentar ao lado de Jin.

- Relaxa. Não quero apanhar.

- Acho bom. – Encerrei o assunto com a mesma naturalidade no tom que correra toda a conversa, e olhei para Seok. – Oi. – Baguncei seus cabelos levemente, recebendo um estalar de língua de sua parte.

- Oi. – Me olhou, e acabou sorrindo. Parecia cansado, assim como as olheiras delatavam por ter passado a noite toda cuidando de Tae. Deixei que meus olhos lhe sorrissem em apoio, e levei meus dedos até sua franja, mexendo em seus fios mais uma vez. Jin segurou minha mão, baixando-a, e a segurando com leveza em baixo da mesa. Meu sorriso foi fraco, mas verdadeiro.

- Vocês são tão mel. – Hope comentou, pensativo, tomando o suco de maracujá que estava à sua frente.

- Vou vomitar. – YoonGi comentou, desbloqueando o celular novamente.

- Hobi! Esse suco é meu! – Tae exclamou, e ao receber um “desculpa” meio envergonhado do Jung, fechou a cara, baixando o rosto onde estava.

Jin olhou para Tae com olhar meio aflito, e seu suspiro largo foi ouvido. Suspirei também, apesar de não ter sido ouvido. Com o rosto apoiado em minha mão, deixei que minha visão vagasse pela cantina, avistando Fei no extremo oposto do lugar.

A chinesa estava de frente para Jia, e ao lado de Suzy. A mais baixa das três parecia falar alto, e sua expressão não era das melhores. Fei tampouco parecia muito calma, como sua expressão exacerbada delatava. Suzy, por sua vez, parecia quase em desespero no meio da discussão, tentando acalmar as outras.

Antes que eu pudesse decidir se tinha ou não interesse naquilo, JiMin chegou à mesa, com a expressão meio desanimada. Não era nada alarmante: ele sempre ficava assim quando JungKook não estava por perto. Antes eu não podia entender aquilo, agora...acho que entendia um pouquinho.

O Park cumprimentou todos na mesa (com exceção de Suga. Provavelmente ainda estava chateado com a brincadeira anterior do Min), e se sentou com a bandeja que trazia em mãos. O suco e o prato de salada claramente faziam parte de suas cotidianas dietas suicidas (sério, não sei como as pessoas conseguem se manter de pé comendo folhinha), mas ele os comia com uma falta de energia que não era comumente sua.

Não que ele estivesse melancólico ou depressivo, mas parecia...vazio. Olhei brevemente para todos ali na mesa; Tae e Hope não se olhavam, e pareciam amaldiçoar-se com seus botões. JiMin comia como se cumprisse ações pré-ditas e sem vida. Jin suspirava curtinho sempre que lhe dava na telha, olhando para Tae e Hope com clara desesperança. YoonGi...YoonGi não estava nem aí.

Torci a boca em desaprovação sobre tudo aquilo, e me levantei, chamando minimamente a atenção de meus amigos. Jin me olhou meio surpreso por eu ter soltado sua mão, como se eu o tivesse acordado de um sonho abruptamente. Olhei-o brevemente, e andei com serenidade pela cantina, até a loja.

- O q- – Jin me olhava com leve confusão quando voltei a me sentar ao seu lado. O prato de bolo de chocolate e morango que colocara á sua frente não fora muito bem analisado por ele, que me mirava meio confuso.

- É pra você. – Falei, logo apontando com o queixo para o pacote grande de marshmallows que jogara no centro da mesa. – Esses são para Tae, mas o resto pode pegar. – Meu tom de voz era descasado como minha expressão, mas senti uma espécie de alívio quando Tae levantou os olhinhos tristes, cujos quais brilharam ao avistar os doces macios.

Hope sorriu fracamente com isso, assim como JiMin, que pegou um assim que o Kim lhe ofereceu, colocando o dedo sobre os lábios para indicar segredo sobre seu pequeno desvio da alimentação saudável. YoonGi pegou quatro de uma vez e enfiou-os na boca enquanto digitava com apenas uma mão.

 

- O que foi? – Perguntei, ao sentir que o sorriso de canto de Jin estava sendo direcionado a mim havia muito tempo. Olhei para si, que andava ao meu lado, enquanto voltávamos às salas. Éramos praticamente os últimos, assim que os corredores estavam quase vazios.

Ele olhou para Tae, que andava atrás de nós com o saco de marshmallows nos braços como uma pelúcia no colo de uma criança, e sorria enquanto colocava os doces macios na boca.

- Obrigado. – Disse, voltando a me mirar. – Eu já estava ficando sem ideias para animar ele. – Seu sorriso agora era oferecido ao chão, que ele olhava à medida que andava, parecendo entre o alegre e o pensativo.

- Ah. – Acenei em resposta ao “até logo” animado de Tae e JiMin, que entraram em suas salas, dando de ombros. – Eu não fiz nada. – Jin soltou uma risadinha quando voltamos a caminhar. – O que foi?

Ele pareceu notar aí que estava rindo em voz alta, porque me mirou sem reação por um momento, logo tendo seu sorriso bonito na face de novo.

- Nada. – Apertou os olhos, e eu ergui a sobrancelha. – Só é engraçado ver sua teimosia em fingir que não se importa.

- Eu só dei doce porque sei que isso acalma qualquer fera. Principalmente Tae.

- E me deu doce também por quê? – Jin me mirou, meio acusatório. Apesar de eu saber que ele estava brincando, seus braços cruzados e seu olhar inquisidor pareciam distintos, e igualmente interessantes a se fossem a sério. – O que está tentando insinuar com isso, NamJoon?

- Que eu tenho cada vez mais ferinhas pra cuidar. – Respondi, com um sorriso arteiro, bagunçando seus cabelos, o que suavizou sua expressão brabinha. Suas bochechas infladas foram quase instantâneas, me fazendo sorrir divertido. – Mas aquele bolo foi porque você parecia precisar de um pouco de energia. – Confessei, voltando a andar, agora com as mãos nos bolsos. – E porque eu vi ele na vitrine e achei que fosse gostar.

- Hm? – Jin apressou um pouquinho o passo para me acompanhar lado a lado de novo, e tombou o corpo para me olhar, visto que eu desviara o rosto um pouco depois de completar minha fala. – Você poderia repetir? Você fez algo apenas porque achou que eu fosse gostar e admitiu isso?

- Você ouviu.

- Cadê o meu NamJoon? Aquela criança teimosa que não admite nem que o céu é azul e que o sol se põe todos os dias por causa do orgulho? – Ele forçou uma expressão pensativa, olhando ao redor brevemente, logo voltando para me ver mirando-o de canto com a boca torcida numa careta. – Ooy, NamJoon ssi... – Provocou, com a voz cantada.

Num sopro de respiração, segurei seu pulso e seu ombro, empurrando-o contra a parede num baque surdo.

Jin ofegou alto, meu corpo o mantinha à parede sem apertar, apenas lhe dando a noção de que ele ficaria ali. Meus olhos baixos o miraram, e minha boca arcou-se num mínimo sorriso sacana.

- Não me provoque tanto, hyung. – Falei, baixo, fitando-o diretamente nos olhos negros que me devolviam o ato com quase assombro. Seus orbes correram por meu rosto, absorvendo o susto e adquirindo outro ar; demônios, ele estava se divertindo com aquilo, não estava? – Ei...repita.

- Hm? – Sua expressão, dolorosamente próxima de mim, se montou em dúvida, mas seus olhos não mentiam; brilhavam como fogos de artifício na noite escura de verão. Animados e deslumbrantes.

- Repita. – Sussurrei, encostando minha testa à sua. – Eu sou sua criança? Sua? – A última palavra foi um ofego rouco. A mão de Jin se moveu lentamente após logos minutos de silencio no corredor em que éramos os únicos ocupantes. Seus dedos pousaram em meu rosto, com delicadeza.

- É. – Apesar de seu olhar energético e de sua pose divertida, sua voz tremulou um pouco, quase hesitante. Olhei para ele, que me retribuiu o olhar; um olhar cheio de insegurança, mas apinhado de esperança também. – Meu. Meu NamJoon.

E, como se estivesse combinado, seus olhos se fecharam quando eu avancei para cortar a pouca distância que havia entre nossos lábios. Aquele beijo também era diferente; estávamos ambos trêmulos, como se todas as emoções que guardáramos e cultiváramos por todo aquele tempo estivessem tentando nos escapar pelos poros. Jin suspirou quando coloquei suas mãos em meu pescoço, e o prensei na parede mais confortavelmente. Movi minha boca sobre a sua, sentindo o coração martelar em meu peito, e o contato com Jin arder em meu corpo.

Era quase como se eu não tivesse controle sobre o que fazia ou pensava; meus dedos passaram por seus fios tingidos com a afobação calma de quem tem o dia todo, mas quer aproveitar cada segundo; minha língua acariciava-lhe os lábios e sua semelhante quente, sentindo-se envolta do doce e inebriante sabor, como licor de chocolate.

As unhas curtas de Jin me machucavam insignificantemente a pele da nuca, e seus ofegos enquanto eu o apertava soavam em todo o meu ser, vibrando como uma melodia que apenas eu podia ouvir.

Soltei seus lábios sentindo os meus subitamente frios, ainda amortecidos pela anterior estimulação, e abri os olhos, logo recebendo seu olhar bonito à minha frente.

Meu sorriso – que eu não sabia muito bem quando surgira – se tornou risada junto consigo, que me olhou com os mesmo olhos brilhantes que me sorriram naquela primeira noite, quando ele começava a deixar de ser o garoto entediante da minha sala e passava a ser SeokJin, o garoto por quem eu tinha sentimentos impulsos que ainda estava apenas começando a compreender.

Soltei seu corpo, sentindo a leveza que o riso deixara para trás, e voltando a caminhar para onde andávamos antes. Não cheguei a dar meu quarto passo antes de ouvir:

- Nam! – E seus passos me alcançaram, com os braços me enlaçando o tronco por trás, me fazendo custar um pouco a manter o equilíbrio.

- O sinal já tocou, Jin. – Falei, sorrindo pequeno por seu ato. – Finalmente vai querer matar aula?

- Claro que não. – Ele respondeu sem espera, soltando o abraço e pondo-se a andar ao meu lado. Sua mão buscou a minha, segurando-a timidamente. – Idiota.

- Como é? – Perguntei, apenas para atazaná-lo mais um pouquinho, como ditava a tradição.

- Meu maldito idiota. – Seu sussurro foi o motivo de minha risada, e do sorriso que voltava sempre que eu não estava suficientemente atento ao meu rosto.

 

- Ei, Mon! – YoonGi não se deu o trabalho de andar até mim para falar comigo, então estava gritando sim, desde o outro lado da sala, um segundo depois do sinal de saída soar. Parei de colocar as coisas na bolsa e o mirei, que continuou: – Lux hoje?

Sem responder-lhe, olhei para a mesa ao lado da minha, encontrando o olhar de Jin em mim, visto que o grito de Suga chamara a atenção de todos que ainda estavam na sala.

- Vamos? – Perguntei, para sua expressão meio perdida, interrompido também no meio da arrumação de sua mochila.

Seu cenho foi franzido minimamente, e ele terminou por acenar com a cabeça, voltando a mexer na bolsa.

- Vamos. Eu só preciso achar uma coisa antes.

Levantando o rosto assim, olhei para Suga, mandando-lhe sinal positivo. Ele soltou um “foda” e saiu da sala meio apressado. Tornei a mirar Jin, que remexia a bolsa com certa aflição. Me agachei ao lado de si, mirando-o agora de baixo.

- Tudo bem?

- Uhum.

- Quer ajuda?

- Não.

- O que está procurando?

- Um papel.

- Por que não vai trabalhar hoje?

A pergunta foi proferida no mesmo tom casual que todas as outras, mas essa não me foi respondida de imediato. Ele parou o que fazia, mordendo o interior da bochecha enquanto mirava à frente, como se pensasse.

Ele voltou a concentrar-se no que fazia anteriormente, agora, porém, parecendo mais distraído.

- Jin. – Chamei, a única reação que obtive foi notá-lo ainda morder a própria bochecha. – Seok. – De novo. Ele tirou um caderno da mochila, folheando-o com um pouco de pressa. – Hyung. – Isso fez com que ele parasse, travando seu corpo na posição em que estava e virando apenas a cabeça para me olhar. – Me diz que você não foi despedido. Por favor.

 Ele moveu os olhos de forma meio perdida e meio afobada pelo chão, como se buscasse uma forma de falar, logo desistindo e suspirando baixo.

- Não, não fui. – Franzi um pouco a testa, esperando que explicasse, então, o que estava acontecendo. Após um momento meio pensativo, ele o fez. – Eu pedi pra sair.

- O quê!? – Não pude conter minha exclamação surpresa, que fez com que ele recuasse um pouco o rosto, numa careta. – Por quê?

- Ah. – Ele falou enquanto estalava a língua, e olhou para o lado, claramente irritado ao se lembrar. – Ele me prendeu num sermão de quarenta minutos sobre como eu havia sido irresponsável e antiprofissional, e que ele não ia aturar comportamentos assim e blá-blá-blá. – Eu observava-o relatar com a sobrancelha levemente erguida em descrença divertida. Jin parecia capaz de esganar alguém enquanto reclamava, mas isso era estranhamente cômico. – Aí eu fiquei sem paciência e disse que ele podia poupar saliva porque eu estava saindo por vontade própria. E saí.

- Simples assim? – Vou admitir que estava tentando me manter sério, mas não rir de Jin naquele momento estava se provando uma missão muito difícil.

- Não foi simples. Eu estava de saco cheio daquele velho. – Ele estalou a língua de novo, e eu me senti sem poder respirar ao sufocar uma risada. – O que foi? – Me olhou com uma careta chateada, mas seu rosto voltou a adquirir o ar “SeokJin” que normalmente tinha; gentil e singelo, mesmo zangado.

- Nada. Estou impressionado. – Foi apenas o que disse, porque logo voltei à minha meditação para não me afogar em gargalhadas. – Quer dizer que você consegue ser impulsivo às vezes. Quem diria.

- Culpa sua.

- Oi?

- Essa sua cabeça dura é contagiosa. – Falou, voltando a analisar o caderno, buscando o que quer que fosse aquele papel que dissera estar atrás. Me mantive olhando-o, ainda querendo rir.

Com um suspiro desanimado, ele guardou o caderno de volta na mochila, guardando o estojo e a fechando. Ao colocá-la nos ombros, se pôs de pé corretamente, olhando para mim.

- NamJoon... – Chamou, e eu o olhei, com um sorriso divertido na cara. Ouvi-o bufar, e ele começou a andar para sair da sala. – Esquece. Quando parar de querer rir de mim, a gente se fala.

Soltei uma risada baixa assim que me impulsionei para levantar, e, pendurando a mochila em um dos ombros, corri saltado até Jin, que quase chegava à porta da sala agora vazia.

- Desculpa, eu estava tentando evitar.

- Você é muito óbvio. – Ele resmungou, mas seguiu andando ao meu lado enquanto passávamos pelos corredores que ainda tinham bastante gente no ato de sair do prédio. Era sexta feira, então ou os alunos corriam o mais rápido possível para fora da escola ou ficavam de bobeira com a boa sensação de que teriam dois dias de folga, então não se preocupavam em demorar um pouco mais na escola que só voltaria a ser sua prisão na segunda feira.

- Encontrou o que estava procurando? – Perguntei, após um momento de silêncio. Jin negou com a cabeça, meio incomodado.

- Não.

- O que era?

- Lembra daquele papelzinho que a diretora nos deu? Para dizer o que faríamos sobre nossas profissões e futuro? – Acenei com a cabeça. a contragosto me lembrando. Não fazia ideia de onde estava o meu, mas diferentemente de mim, Jin parecia considerar isso um problema. – Eu não lembro de onde o deixei.

- Já o preencheu? – De novo recebi uma negação de si, e suspirei, mirando à frente.

Querendo ou não, aquilo teria que ser decidido, mas eu não me considerava, em minha décima sétima primavera, capaz de ter certeza sobre algo em minha vida. Muito menos sobro o que provavelmente faria até o fim de meus dias.

Olhei para Jin, que parecia pensar, com uma leve ruga na testa. Imaginei que ele provavelmente se cobrava bastante sobre aquilo, visto o quanto que estudava. Notei que nunca tivéramos uma conversa significativa sobre aquilo – não que fosse meu assunto favorito – e imediatamente senti vontade de saber como ele planejava seguir a vida.

Meu olhar sobre si foi notado, e ele me mirou, como se perguntasse o que eu queria.

- A propósito: O que foi? – Perguntei, preferindo deixar aquele assunto para depois. Jin me olhou, interrogativo. – Você ia me dizer alguma coisa.

- Ah... – Ele baixou um pouco o rosto, parecendo pensar. – Não. Deixa pra lá.

- Por quê?

- Porque não é importante.

- Mas eu quero saber. – Jin me olhou, quase como se quisesse brigar comigo para que deixasse-o em paz sobre aquilo, mas acabou suspirando, voltando a olhar para o caminho que fazíamos.

- Quando você não estiver mais com vontade de rir de mim. – Repetiu quando achei que fosse finalmente falar. Armei a cara injustiçada imediatamente.

- Mas eu já parei!

- Você está sempre querendo rir de mim. Você mesmo disse isso.

- Eu disse que sempre tenho vontade de rir. Não rir de você. – Expliquei, melindrado. Jin me olhou de soslaio, logo sorrindo de canto.

- Oya. Não faça essa carinha, sim? Qualquer dia eu te falo. – Deu dois tapinhas consoladores em meu braço, voltando a olhar à frente. Mirei seu perfil ainda incomodado. Aquele sorriso me dava nos nervos, mas eu gostava dele. E como gostava. Era meio estranho.

- Quando é “qualquer dia”? – Perguntei, apressando um tiquinho o passo para alcançá-lo. Acabáramos de sair do prédio para o pátio. Ele apenas intensificou ainda mais seu sorriso, continuando a andar sem me oferecer resposta. – Jin!

Parei de andar, observando-o se afastar. Os outros alunos passando por si pareciam borrões insignificantes, e eu notava cada movimento de sua passada coordenada. Minha face se aliviou, ficando limpa enquanto o contemplava.

Ele diminuiu seu passo, virando para mim com o olhar perdido que era ocorrente em seu rosto bonito. Ao fixar os olhos nos meus, os seus se apertaram no sorriso que me ofereceu, e eu, depois de sentir meu corpo estalir ao recebê-lo, como um trincado no vidro, segurei a alça da bolsa em meu ombro, e corri até ele. O sorriso de canto em minha boca não mentia, e eu sabia disso.

- ATRASADOS! – Tae berrou do portão, ao nos avistar. Alcancei Jin depois do mesmo correr de mim, e, segurando em sua cintura após a captura, acenei para o Kim mais novo.

JiMin e Hope estavam com ele, e, ignorando o que quer que fosse o problema que nos rodeava nos últimos tempos, todos sorriam.

YoonGi provavelmente já fora, JungKook provavelmente estava com algum problema, Jia claramente estava com algum problema, mas aquilo podia esperar alguns minutos. No fundo, eu sabia que problemas sempre teríamos. E não valia a pena sacrificar os momentos bons com mau humor por causa disso.

 

- JiMin. – HoSeok chamou, pela décima vez naquele minuto. – Tem certeza de que está tudo bem?

O Park acenou com a cabeça, que estava apoiada em sua mão, sem dar atenção ao Jung. Seus dedos faziam desenhos imaginários na madeira enquanto ele a mirava com olhar vazio.

Hope abriu a boca para contestar, mas eu o olhei, e, num aceno negativo de cabeça, pedi que ele o deixasse em paz. O que quer que o estivesse incomodando, se ele quisesse nos contar já o teria feito. Se não fora assim, então era melhor deixar como estava.

- O que vocês estão fazendo vagabundeando aqui dentro tão cedo? – Minha cabeça se virou para olhar a origem da voz, me dando com a figura de Jackson, que carregava um caixote com garrafas para dentro do bar. Atrás dele, vinha JB, fazendo o mesmo que o chinês.

- YoungJae disse que podíamos entrar. – Respondi, observando-o enquanto o mesmo depositava o que carregava no piso atrás do balcão.

JB estalou a língua enquanto Jack soltou uma risada, se esticando ao ficar de pé, e nos olhou, parando o olhar sobre o melancólico JiMin e logo me olhando.

- YoungJae não tem a menor autoridade aqui. Você sabe disso. – Reclamou o mais velho dos dois, se levantando depois de Jack.

- Eu sei, vocês sabem, mas acho que ele não. – Sorri, cúmplice. – Ele age como se fosse dono disso aqui.

- Ele é um sem noção. – JaeBum apenas falou, se abaixando e começando a arrumar as garrafas nas estantes da parede do bar. O cara parecia cansado, e não sorrira desde que chegara, o que era estranho. Me apoiei no balcão, mirando-o realizar seu trabalho.

- Mas JB não quer que ele fique sozinho. Ele vai ser sem noção em qualquer lugar, melhor que seja sob nossa supervisão. – Jackson piscou para nós, parecendo se divertir com o mau humor do amigo.

- Que exemplar você. – Comentei. Hope soltou uma risadinha.

YoungJae não era alguém que eu tivesse suficiente contato para julgar, mas achava o garoto divertido. Ele se parecia com uma criança que tentava desesperadamente brincar de adulto, e, desconsiderando sua risada escandalosa e sua personalidade desbocada, não tinha nada demais em suportá-lo.

JB me olhou meio irritado, mas acabou por sorrir pequeno ao me ver sorrindo. Não durou nada em seu rosto, mas pelo menos se pareceu mais com meu amigo calmo e brincalhão e menos com um adulto chato que odeia a própria vida e todos que o rodeiam.

- Onde estão o resto de vocês? – Terminou por perguntar, visto que estávamos apenas eu, HoSeok e a carcaça de JiMin ali.

- Tae ia tomar banho e se trocar e não sei mais o quê. – Respondi, entediado.

- Vocês estão mesmo se sentindo em casa aqui, não? – Jack comentou, divertido. – Qual é a dessa cara de pacu, Monster?

- O Mon foi abandonado porque o Jin hyung não larga do Tae nesses últimos dias. – A voz de JiMin foi baixinha, mas fez com que Jackson risse. Da minha cara.

- Volte pros seus desenhinhos, JiMin. – Respondi, sem paciência.

- Tae e SeokJin, huh? – O Wang colocou a mão sobre o queixo, fingindo pensar. – Acha que eles combinariam?

- Acho que sim. Digo, o Jin hyung é o que mais tem paciência pro Tae. – JiMin deu um sorriso fraco ao chinês.

- Exatamente por isso que ele é o único que aguentaria o Mon. – Hope pareceu entrar na brincadeira também. – Mas eles parecem mais mãe e filho que qualquer coisa.

- Incesto, então? – Jackson alfinetou, sorrindo, ao notar o que o Jung tratava de fazer. Hope fez uma careta, logo rindo. Sorri pequeno, e JiMin também. – Relaxa. Eu só estou com tédio. E como vocês invadiram isso aqui, vão ter que me aguentar.

- Ninguém invadiu nada. – Respondi. – Quem no mundo invade um lugar pela porta da frente com convite de alguém de dentro?

- Vocês. São mais cara de pau que minha avó.

- E esse “alguém de dentro” não deveria estar aqui dentro também. – JB completou, e olhou de lado para a mesa de som suspensa, onde Min e YoungJae conversavam ao arrumar as coisas.

O galpão estava vazio se nos excluísse da contagem: ainda eram sete da noite, e o sol terminava de se pôr. Lá fora, já tinha gente brincando no pátio, mas o Rave só abriria bem mais tarde.

- Jack... – JiMin chamou, olhando para onde o Wang olhava, chamando a atenção do mesmo. – Sua avó é cara de pau?

O tom de criança ingênua – usado propositalmente pelo Park, com certeza – fez com que nem eu nem Hope segurássemos as risadas. Jackson fez uma careta confusa, logo aliviando a expressão.

- De onde acha que eu herdei essa minha falta de vergonha? – Perguntou, estufando o peito em brincadeira. JiMin riu fraquinho. Aquilo era estranho; ele sempre gargalhava até não poder mais, mesmo nas piores piadas. Aish, JungKook.

- Dos poucos parentes seus que eu conheço, todos são iguais ou piores que você. – Contestei, relaxado. Jackson fez uma careta, mas riu.

- Do que vocês estão falando? – A voz não me foi imediatamente reconhecida, mas ao olhar para trás, e ouvir o suspiro de JB, sorri de canto ao notar que YoungJae praticamente corria em nossa direção.

- De pessoas como você. – JB respondeu, se virando para voltar a arrumar as coisas. Ergui a sobrancelha. O cara tinha levantado com o capeta congelando o coração naquele dia, não? Se me lembrava bem, ele fora o que introduzira YoungJae no Lux. E tinha quase certeza de que não costumava ser tão mau com ele.

YoungJae fez um biquinho chateado, logo ignorando JaeBum e olhando para o resto de nós, com um sorriso contagiante.

- Vocês vão ficar pra festa hoje? Monster vai batalhar? – Me olhou com os olhos brilhando em antecipação. – Min nonna vive reclamando que só o Chan tem ganhado ultimamente porque você e o Suga hyung não estão mais vindo.

Com os olhos um pouco arregalados pela velocidade que ele falara tudo aquilo, acabei por sorrir.

- Acho que uma batalha não vai fazer mal. – Respondi, recebendo um olhar curioso de YoungJae. Ele se colou à HoSeok, cochichando alto o bastante para que eu ouvisse:

- Ele sempre foi tranquilo assim?

- Não. – Hope respondeu, após gargalhar. JiMin e Jackson não tinham conseguido parar ainda. – Normalmente ele te olharia com tédio e provavelmente nem te responderia. – Fui interrompido de mandar meu olhar irritado para todos ali ao ter minha atenção chamada pelo outro lado do galpão, de onde Jin e Tae sugiram. – Mas normalmente ele não estaria olhando desse jeito para alguém, então não se preocupe. Ele não tem que ser internado ainda.

Olhei feio para Hope, que riu divertido. JiMin sorria largo, e Jackson segurava a barriga ao se sacudir em risadas. JB saíra, provavelmente para buscar mais caixas, então pelo menos ele não estava incluído no bullying.

- Estão zoando com você de novo? – Jin perguntou ao chegar perto de nós, se sentando no banco ao meu lado e depositando a mochila no balcão. Ele também trocara de roupa, e seus cabelos molhados pareciam castanhos na pouca luz dali de dentro.

- O que você acha? – Resmunguei. Tae riu de forma relaxada, e eu agradeci por ele estar mais alegrinho. Pelo menos por hora.

- Acho que a gente poderia sair daqui e parar de atrapalhar. – Jin torceu o nariz numa careta singela. – Encontrei com JaeBum ah ali atrás. Ele não parecia muito feliz.

- Não deixe aquele velho rabugento te incomodar, hyung. – YoungJae rapidamente respondeu. Jin pousou os olhos pela primeira vez no garoto desde que chegara ali. – Ele está de mau humor por minha causa. Vocês não deveriam se preocupar com isso.

Tae abriu a boca, provavelmente para perguntar sobre aquilo, mas Jackson o olhou, duramente, quase implorando. Ergui a sobrancelha, mas dei de ombros. Só tinha um interesse sobre essas coisas: que fossem ter suas DRs bem longe de mim, porque eu não estava mais podendo.

 

- Como assim o Yoda não está aqui hoje? – YoonGi reclamou. Min o olhou, também irritada.

- Eu não sei, cara. Ele simplesmente não veio. – A baixinha bufou ao errar na acústica do equipamento que montava. – Provavelmente tem alguma coisa a ver com aquele anão do capeta com voz de anjo que ele chama de namorado. Vai por mim, ele não vai vir hoje.

- Ah, que saco. Queria dar uma humilhada nele hoje. – Suga estalou a língua.

- Cara, vocês querem alguém forte? – Min perguntou subitamente, claramente se cansando de Suga reclamando em seu ouvido. O cinzento acenou com a cabeça, enquanto eu dei de ombros. Topara ir na batalha porque YoonGi pedira, mas diferentemente dele, não queria batalhar com ChanYeol. Já estava na hora de renovar. – Tem uma dupla. Dois baixinhos marombas. Um é chinês, afiado no inglês. O outro é coreano, mas tem uma puta voz de orgasmo...

- Desnecessário. – Comentei. Suga sorriu, e Min também.

- Os caras mandam bem? – Meu amigo parecia ter se empolgado de novo. Pobre ChanYeol, foi trocado como copo descartável.

- Muito. E eles tem uma onda tipo “Jackson e Mark”, tá ligado? Os caras mandam muito bem no parkour.

- Por que todo rapper tem que ter um bônus de ficar pulando feito macaco? – YoonGi resmungou. Me vi inclinado a concordar com ele. Eu e Suga não éramos as pessoas mais coordenadas motoramente do mundo. As batalhas com Mark, quando ele ainda estava aqui e Jack ainda batalhava, eram uma dor de cabeça. Pra quê ficar dando cambalhota enquanto faz rap, mano?

- Não têm que ter. – Min sorriu. – Mas o povo vibra. Vocês dois deviam malhar mais essas bundas gordas.

- Sua caluniosa. Cala a boca. – Min riu de YoonGi, voltando a prestar atenção nos fios que conectava antes.

- Ei Min. – Chamei, antes que lhe déssemos espaço. A garota me olhou, com a franja caindo sobre os olhos e uma pequena chave de fenda na boca. – Como esses dois são?

A morena sorriu.

- Você vai ver... TENHAM CERTEZA DE VIR, OK? – Completou, quando já nos afastávamos. Suga ergueu a mão, tranquilizando-a, e eu sorri de canto.

- Vamos arrasar esses baixotes. – Meu amigo disse, alongando o pescoço como se estivesse se aquecendo para dar um “olé” em alguém.

Ri com leveza, andando ao seu lado e cumprimentando conhecidos enquanto nos dirigíamos até onde os outros estavam.

- Puta merda. – YoonGi soltou, ao avistar os garotos. Olhei para lá com uma interrogação na cara, logo olhando para ele, ainda confuso, ao não entender. – Me diz que eu tenho problemas de visão e aquele não é Im JaeBum.

- É sim. – Falei, olhando de novo para lá. – Por quê?

- E aquele é o YoungJae?

- Uhum. – Franzi mais o cenho. – Que merda você fez dessa vez?

- Eu não estou afim de apanhar. – Apenas disse, encostando em meu ombro. – Falou cara. Nos vemos na battle, ok?

E com isso, deu as costas, se misturando às pessoas que não paravam de chegar, sob a noite que ainda era uma criança.

- Oi hyung! – YoungJae me cumprimentou, claramente forçando um sorriso que antes não estava em sua expressão. Acenei-lhe sem muito entusiasmo, olhando para JB. O mesmo me encarou com a expressão vazia, e eu desviei o olhar, me unindo a eles, ao lado de SeokJin, que me sorriu pequeno.

- Você não estava com Suga? – JB me perguntou, chamando minha atenção.

- Estava. – Acenei com a cabeça. Não me contive em completar: – Por quê?

- Faz tempo que estou tentando falar com ele, mas ele parece estar fugindo de mim. – É porque ele está. Pensei, mas acabei perguntando:

- Sobre o quê?

- Ele não precisa falar com ele. – YoungJae não deixou que o outro começasse a falar. – Você não tem que trabalhar? Jack hyung está sozinho lá dentro, hyung. – O garoto disse, já empurrando o mais velho pelas costas, com o rosto baixo.

- YoungJ-

- Apenas vá! – Quase todos ali arregalaram os olhos ao ver o garoto aumentar o volume da voz. O mais alto pareceu querer falar algo a mais, mas pegando o impulso que o mais novo lhe dera nas costas, pareceu optar por ir embora mesmo. YoungJae o observou em silêncio, com o olhar quase triste.

- Jae...? – Tae foi o que resolveu chamar pelo garoto, que parecia completamente alheio ao mundo ao seu redor.

O garoto piscou algumas vezes, nos olhando e imediatamente armando o sorriso ao notar a expressão que fazia.

- Hm? Ah! Não se preocupem com o hyung. Ele está meio estressado com algumas coisas lá em casa, nada demais. – Explicou, sorrindo seu sorriso grande. Tae sorriu-lhe gentil, assim como JiMin e Hope, mas eu me mantive mais atrás, tentando entender quanta dor havia naquele olhar jovem.

- Você está fazendo de novo. – Pisquei uma vez antes de olhar para meu lado, onde Jin olhava serenamente para os outros quatro. Franzi o cenho, confuso, mas ele logo explicou: – Tentando entender os problemas e as dores de todo mundo. Não se sente sobrecarregado em saber tanto sobre os problemas de todo mundo? – Seu olhar subiu até alcançar o meu, com limpa expressão de uma pergunta proferida serenamente.

- Como assim? – Soltei um sorriso, que não tinha muita graça em si. – Eu não faço isso.

- Ah,faz. – O tom de sua voz foi firme, como uma mãe que afirmasse algo ao filho teimoso. – Você faz pose de desinteressado, mas sempre fica tentando entender o que os outros estão sentindo. Sempre se preocupa em saber se eles estão bem ou não. Não negue isso, NamJoon.

Olhei-o, meio intrigado, e voltei-me de novo para os outros, que conversavam em roda. Mirei YoungJae, que ria de algo que Hope dissera; passei a visão para TaeHyung, sorria, mas se podia quase ver o peso que seus ombros carregavam. Hope não estava numa situação diferente e, bem, JiMin não era tão bom ator quanto os outros três, mesmo que eu sentisse que com o Park, era puramente preocupação. Sinceramente, aquele olhar estava fazendo com que eu começasse a me preocupar sobre JungKook.

 - Eu gosto de pensar que as pessoas estão bem. – Falei, sem pensar, enquanto refletia, e, ao notar o que dissera, olhei para Jin, me sentindo meio estranho.

Ele olhava para o grupo, e seu sorriso se apertou junto de seus olhos, que se viraram para mim com leveza. O sorriso era para mim, então parecia mais brilhante, e aquele olhar bonito sempre me dava vontade de suspirar mentalmente.

- Você é um carneirinho que se finge de lobo, Kim NamJoon. – Disse, divertido, apertando os olhinhos ao sorrir.

- Diga a verdade. Você me odeia, né? – Falei, franzindo o cenho numa careta. Isso fez com que Jin gargalhasse, continuando a sorrir quando parou.

- Claro que não. Eu estava te elogiando, se não percebeu.

- Você me chamou de carneirinho. – Olhei-o duramente, como se aquilo fosse explicação suficiente para minha teoria. Jin riu de novo.

- Sim. Você preferia ser um lobo, senhor predadorzão? – Ergueu a sobrancelha, debochado, claramente se divertindo.

Dei de ombros antes de responder:

- É mais legal, não? – Falei, e num sorriso malandro, enlacei sua cintura, colocando o rosto na dobra de seu pescoço com velocidade.

- Ah, me solta! – Ele gritou, rindo. – Isso faz cócegas, NamJoon!

- Você é minha presa, carneirinho SeokJin. – Falei, em tom sério, tirando meu rosto de seu pescoço, e o mirando com uma ponta de seriedade na expressão.

- Seu canibal. – Ele brincou, inclinando-se um pouco para trás, para que nossos rostos não ficassem tão próximos no abraço. – Carneiros não podem ser presas de outros carneiros.

- Por isso mesmo. – Falei, num sorriso, me inclinando mais e fazendo com que ele fizesse o mesmo. Seu peso sobre meu braço era incômodo, mas eu estava firme. – Eu sou um lobo disfarçado de carneiro. Não o contrário.

- Então porque age como um carneirinho? – Ele perguntou, com o olhar fixo no meu. Sua coluna estava bastante curvada na posição em que estava, mas nós dois estávamos parados no lugar, apenas nos mirando.

- Porque é assim que conseguimos a confiança dos carneirinhos para chegar perto o suficiente... – Falei, erguendo com leveza seu e meu corpo, que começou a endireitar-se, menos curvado.

- ...Para nos abocanhar? – Seu sorriso foi espoleto, quase sacana, quando ele ergueu a sobrancelha ao falar. Sorri da mesma forma em afirmação, e ele fechou os olhos com calma, sorrindo mais pacificamente. – Não deu certo como estratégia direta. Você é um carneirinho muito arisco, lobo NamJoon. – Justificou-se sob meu olhar confuso.

- Não parece ter dado tão errado. – Falei, molhando a boca.

- Não. – Ele concordou. – De alguma forma deu muito certo. Agora me solte.

- Por quê? – Reclamei. Estava demorando.

- Porque você está querendo entrar no modo lobo sedento e estamos em público. – Justificou, voltando ao tom de brincadeira com as mãos em meus ombros.

- Jin, fala sério...

- Não discuta. – Bufando com sua cortada, soltei sua cintura, olhando para o lado em forma de expressar a injustiça que aquilo era. – Não seja assim, ok? Estamos aqui para nos divertir, certo? – Disse, rindo, ao mexer em meus cabelos antes de dar um passo na direção dos outros e se virar para que eu o acompanhasse.

- Você é o que não me deixa me divertir. – Resmunguei, andando ao seu lado os poucos passos que nos separavam dos quatro. Jin apenas riu baixinho, e eu o mirei. Tae havia maquiado discretamente seu rosto, eu notara isso na oportunidade anterior. O jeans escuro e a blusa cinza deixavam seu corpo delgado ainda mais bonito.

- Fala sério. Justo quando não marcamos bobeira e deixamos vocês em paz, vocês param por vontade própria? – JiMin reclamou, claramente desapontado. Jin ergueu a sobrancelha para ele, parecendo meio divertido, mas crítico.

- Então você sabe que está sempre atrapalhando, né, seu cara de pau filho da puta? – Acusei-o, sem perder a compostura. Não estava muito interessado naquilo no momento. JiMin sempre fora alguém que precisa de Se Mancol em dose tripla.

Quase todos os meus amigos precisavam, na realidade.

- Mon. – Hope chamou, e eu o olhei. – Vocês vão batalhar hoje?

Acenei com a cabeça, e notei que Tae e YoungJae pareceram se animar um pouco.

- SeokJin hyung. – Tae chamou, e Seok o olhou. – Você já viu o Mon batalhando?

- Não. – Jin negou com a cabeça singelamente, com um sorriso meio sem jeito.

- NOSSA! ENTÃO A GENTE COM CERTEZA TEM QUE IR VER! – Tae deu um berro, que, mesmo que não fosse incomum vindo dele, sua trégua melancólica fez bom trabalho em assustar todos ali perto. – ChanYeol hyung vai se arrepender de ter nascido hoje! Não é, hyung?

- ChanYeol não veio hoje. – Relatei, com a sobrancelha meio erguida para ele.

- O quê?! Por quê?!

- Eu sou seu hyung, não o jornal nacional. – Resmunguei, dando de ombros. – Pode parar de gritar?

- Isso quer dizer que Baek hyung também não está aqui? – O garoto continuou falando alto, fazendo bico. Acenei com a cabeça, confirmando sua pergunta, e ele soltou uma exclamação decepcionada.

- Desde quando se dá tão bem com BaekHyun? – Foi JiMin quem perguntou, olhando-o curiosamente.

- Aquele cara é simplesmente foda! – Tae olhou para o Park como se fosse óbvio. – Ele é estiloso e bonito. Além de ser divertido-

- E falsiane. – JiMin o interrompeu.

- Isso são só boatos.

- Que provavelmente ele mesmo espalhou para aumentar sua fama. – O baixinho contestou. – Admite Tae. Aqueles dois são um casal de najas.

- Não precisa falar assim. – Tae fez um biquinho. – Eles são legais. Se não fossem, não seriam amigos do Kai e do KyungSoo hyung.

- Não? – Interferi. – Meu irmão tem o péssimo costume de atrair gente babaca.

- Tipo vocês. – Tae rebateu, fazendo careta. – Quanto ódio no coração.

- Eu não disse nada. – Levantei os braços. – E não sei o BaekHyun, mas o ChanYeol é bem irritante e infantil quando quer.

- Vocês parecem umas dondocas fofoqueiras. – Todos olhamos para YoonGi, que se aproximava com um copo grande na mão. Deu um gole na bebida, mostrando seu sorriso gengival. – Relaxa os ânimos e vamos curtir. A battle vai começar.

- Olha quem fala. – Comentei enquanto todo o grupo começava a andar com calma. – Você estava xingando o ChanYeol até meia hora atrás.

- Isso foi antes. – YoonGi respondeu sem se virar para mim. – Ele perde meu interesse a partir do momento que não é mais um rival.

- Que exagero. Amanhã ele pode estar aqui de novo. – YoungJae concordou com a cabeça ao meu lado. Ele estava tão quieto que quase esqueci que estava com a gente.

- Então amanhã ele volta a ser meu alvo de interesse. – Suga respondeu sem hesitar, soltando uma gargalhada e sendo seguido por risadas dos outros.

 

- Monster, você está bem? – Min chamou minha atenção. Olhei para ela, que me oferecia um microfone. Demorei um segundo para me tocar que tinha que pegar aquilo. – O que aconteceu?

- Como pode caber tanto músculo em pessoas tão pequenas? – Comentei, distraído, olhando de relance para a dupla que conversava com alguns garotos ali perto. Min nos indicara os dois como nossos oponentes: Casper e SangMin, segundo ela.

- Não seja exagerado. Eles são mais altos que eu. – Ela revirou os olhos, mas sorria.

- Todo mundo é mais alto que você.

- E até parece que não está acostumado. Você convive com o JiMin ou não? – Continuou após dar de ombros revirando os olhos, me ignorando.

- Sei lá... – Respondi, ainda olhando para os dois. – Parece desproporcional.

- Afe. Exagero. – Min deu de ombros, voltando a fazer seu trabalho.

- Se você continuar com isso, vou ter que contar pro SeokJin que você está com tesão por musculosos agora.

- Não seja estúpido. – Bati com o punho que segurava o microfone de leve na cabeça de Suga, que resmungou um “ai” para rir em seguida.

- O quê? Eles são gostosos ué. Pena que não são o meu tipo. – Suspirou teatralmente, com os olhos lamentadores em cima dos dois garotos sorridentes ali perto.

- Ué. Seus tipos não eram todos? – Min verbalizou meus pensamentos, me fazendo rir. Ambos recebemos um olhar de tédio do cinzento.

- Claro que não. – Ele revirou os olhos. – Eu sou rodado, não puta. Tenho minhas preferências.

- “Sou rodado, não puta”. Isso é pleonasmo. – Falei, com a sobrancelha erguida, na intenção de irritá-lo.

- Não me vem bancar o geninho mirim usando palavras difíceis. Você é só um idiota com um pouco de cérebro.

- Pelo menos eu tenho um pouco de cérebro. Você nem lembra de algo simples como isso. – Devolvi-lhe a provocação, e ele me olhou, entediado.

- Eu uso meus neurônios para coisas mais interessantes que regras de gramática.

- Ok, as mocinhas podem parar. – Min interferiu, sequer nos olhando. Ainda mexia no equipamento, checando tudo. O som extremamente agudo do microfone sendo ajustado soou, chamando a atenção de todos por perto. A garota fez uma careta, logo pegando o microfone que havia em cima de sua mesa e levando-o à boca. – Oi...oi. Teste. Tudo em cima? Beleza. Pessoal! Quem quer ver uma boa batalha? Vão chegando!

A voz potente da DJ atraiu olhares e pessoas, que começaram a aglomerar-se ao redor do tablado pequeno em que as batalhas ocorriam. Os grupos conversavam e riam, e, mesmo que fossem poucos, eu sabia que as pessoas iriam continuar chegando, durante todo o tempo em que as batalhas fossem seguindo-se.

Ela também atraiu a dupla que nos enfrentaria, que se despediram dos amigos com quem conversavam e se viraram para nós, do outro lado do tablado. Os dois tinham a altura próxima, mesmo que o mais “atracado” dos dois fosse ainda mais baixo que o outro. O mais alto tinha um sorriso gentil no rosto, que apesar disso inspirava autoconfiança. O menor deles usava um boné que não permitia muito a visão de seu rosto, mas se movia agilmente, como se a qualquer momento pudesse sumir e aparecer a uma dezena de metros.

- Ok, vamos chegando! – Min falou de novo, ressoando em toda a ala sul do pátio. – Vamos abrir quente hoje, pessoal! Rap Monster e Suga contra Casper e SangMin. Não quero saber de pedidos ou preferência. Freestyle!

YoonGi moveu os ombros como fazia quando se animava com aquelas coisas. Seu sorriso era cínico e assassino; olhava para os dois novatos como se se imaginasse esmagando-os com a sola do sapato.

Os dois se aproximaram do centro do tablado, assim como nós. O mais alto, que julguei ser SangMin – pelas feições coreanas – ainda sorria, relaxado. Casper estava sério, e eu definitivamente não consegui ver seus olhos com aquele boné na frente.

- Quantos anos vocês tem, crianças? – SangMin perguntou, enquanto esperávamos que Min nos indicasse que começássemos. Ergui a sobrancelha para ele, descrente, logo lembrando que ainda estávamos de uniforme.

- Nossa idade mental com certeza é maior que a sua, se perde tempo com provocações desse tipo. – YoonGi não conteve a resposta afiada. Meu amigo tinha a mesma altura que o mais baixo deles, mas o fato de SangMin ser um pouco mais alto que si com certeza não o assustava.

O moreno abriu a boca, mudamente, parecendo buscar algo para contestar Suga. Seu parceiro, porém, pôs a mão sobre seu peito, parando-o.

- Deixe, Min. – Ele disse. Sua voz era grave, mas estridente. Mesmo assim, senti-a forte, e me perguntei como seria o rap daquele cara. – Você realmente devia ter ficado quieto.

- Eu só tentei conversar. – O outro bufou, acatando o pedido do mais baixo.

- Deixe conversas para depois da batalha. – Casper respondeu.

- E provocações para quando começarmos ela. – YoonGi emendou, sorrindo pequeno quando o moreno o olhou, meio chateado.

Suspirei pequeno, olhando para cima, o céu sem estrelas daquela noite amena. Uma brisa fria passou por mim, e estremeci ao lembrar que o verão estava chegando ao seu fim.

Min assoviou para chamar nossas atenções, erguendo o polegar com olhar interrogativo, como se perguntasse se estávamos prontos. Ao receber afirmações dos quatro, ela pôs os headphones, começando a dançar os dedos pelo equipamento em sua mesa.

Balançando as cabeças no ritmo da batida que se iniciava, os quatro aspirantes e a rappers em cima do tablado começaram a se concentrar. SangMin e Casper olharam para nós dois, parecendo ansiar que começássemos. YoonGi, porém, cedeu-lhes a vez num sorriso divertido. Meu amigo parecia outra pessoa quando entrávamos naquele tablado, e eu sabia que, como eu, ele se sentia maior, mais capaz e mais vivo que nunca. Como um monstro, que podia fazer qualquer coisa.

 Casper, dando um passo curto atrás, pareceu dar sinal para que seu amigo começasse. A pouca plateia aumentava, e, como nós em cima do tablado, todos balançavam as cabeças no ritmo da batida, ansiando que a batalha de fato começasse.

- Hey yo, hoje, subimos de novo aqui. – A voz grave de SangMin soou quando ele colou os lábios ao microfone. – Dias e dias batalhando. Vencemos todas. Quem temos aqui agora? Ouvi muito de vocês. Que eram monstros, que eram imbatíveis. Quero ver o que podem fazer, dongsaengs. – Terminou a frase com um tom e sorriso de ironia, movendo o punho sobre o olho como se secasse lágrimas.

Molhei os lábios, olhando para o cara enquanto sentia-me cada vez mais dentro da batida. YoonGi, ao meu lado, sorriu de canto, cheio de cinismo. Fez questão de aumentar o deboche de sua face antes que erguer o microfone, inspirando profundamente, para então começar, com o rap violento que era sua marca registrada.

- O quê? É só isso? Me desculpe, mas quem é você? Nunca escutei seu nome. – Soltou uma risada, colocando a mão no ouvido, olhando em deboche. – Nas noites, ninguém vai nos bater. Batalhando desde o início, você não faz ideia do que essa voz já cantou, quantos jovens já derrotou. Dois monstros, você disse? Obrigado! Tome cuidado, nós podemos pisar em você! E então você vai chorar “mianne hyung”. – Meu amigo imitou o gesto de choro que o outro fizera, sorrindo angelicalmente depois.

A plateia vaiou alto, e eu pude ver de relance Tae e YoungJae fazendo escândalo, próximos do tablado.

SangMin respondeu-lhe, parecendo queimar por dentro. Imaginei que o cara provavelmente era gente fina, julgando por sua expressão relaxada de antes, mas parecia capaz de socar a cara de Suga. E eu sabia que grande parte da responsabilidade sobre esse fato era de meu amigo que não saberia o que é limite nem se lhe jogassem isso na cara com lava ardente.

Pobre garoto, mal sabia ele que YoonGi vencia sempre, porque sabia deixar os caras malucos com suas provocações. Malucos e sem respostas.

- Dois monstros? Mas só um de vocês batalha? O que há? Grandão, vai ficar só assistindo? – SangMin provocou após sua resposta às farpas de Suga.

YoonGi olhou para mim de canto, gargalhando debochadamente. Eu me mantivera em silêncio, deixando que meu corpo canalizasse a batida, mas quieto em meu canto. Analisava, mais que tudo, o parceiro misterioso de SangMin, que tampouco se manifestara durante a batalha até o momento. O cara mirava YoonGi com olhos fixos, segurando o microfone na frente do corpo, relaxadamente, sem pressa alguma.

- Monster vai batalhar com quem ele se interessar batalhar. Se você não pareceu bom o suficiente para ele, sinto muito por você. – YoonGi proferiu, sempre em tom de risada e deboche. – Vou avisando: o mostro é ele. Eu sou apenas um lunático. O quê? Surpreso? Eu sou o hyung, ele é minha escolta. Mas esse filho da puta te faz em pedaços num segundo. Considere-se com sorte! Eu gosto de tirar pedacinho por pedacinho, te ver cair aos pouquinhos. Vai demorar um pouco mais.

Meu amigo rimou com destreza e velocidade, deixando o outro claramente meio atônito. Com uma gargalhada das que Suga apenas soltava quando estava batalhando foi ouvida no microfone.

Ele realmente parecia um lunático quando estava ali, com o microfone na mão e o olhar radiante em desejo assassino. Desejo de soar alto, e ser ouvido.

- E vocês nada podem falar. O que seu amigo aí já fez essa noite? Hey, múmia, não vai falar? – YoonGi se dirigiu ao mais baixo dos dois, sorrindo ao provocar.

- Assim como seu amigo, eu sou paciente. Você é um pouquinho diferente, mas não vou gastar saliva com quem não me interessa. Agora, vou batalhar. Vai aceitar o holofote? – YoonGi hesitou, e eu olhei para o baixinho de forma interessada. Aquilo foi...

- Vai falar em inglês agora, maldito chinês? – Suga murmurou, com o microfone pendurado ao lado do corpo, olhando para o cara à nossa frente com um sorriso claramente irritado.

Antes que YoonGi e sua personalidade doida inventasse de responder a algo que não havia entendido, eu levei o microfone à boca, inspirando pesadamente. Min deixara a batida mais lenta pela curta pausa de YoonGi, e eu agradeci por isso.

- Está dizendo que embaixo dessa massa muscular há um cérebro? Genial. Você atacou meu hyung com o que notou ser seu fraco, mas e agora? Como vai me enfrentar? Eu sei responder seu inglês, e agora essa batalha vai esquentar. Faça o que quiser. Vai desistir?

- Deixe desistências para quando eu já não tiver fôlego, moleque. – Casper sorriu pela primeira vez na noite, respondendo em coreano, o que eu vi como sinal para que voltássemos a “conversar” no idioma que a maioria ali tinha como única língua fluente.

Suspirei outra vez, olhando para meus pés ao pensar em como seguir. Minha cabeça balançava curtamente com a batida, e eu levei o microfone de novo à boca, pondo em fogo parte de minha animação pela saudade de voltar a batalhar.

- ...Fazia tempo que não vinha aqui, olha só! Rostos novos. Não quero soar arrogante, mas me desculpe, eu não sou um perdedor. Abaixo do céu infinito e acima de meus hyungs, eu vou seguir fazendo minha voz soar. Vou te responder até que minhas cordas vocais se arrebentem, porque eu não sou de desistir. Uma vez me pediram que eu não desistisse, e eu não vou fazê-lo. Tenho quem preciso, tenho o que preciso, eu não vou me deixar cair. Vou alcançar com minha voz a exosfera. Desculpe hyung, não vou voltar atrás.

As frases saíram como um jorrão, e eu sentia-me cada vez mais animado em seguir com aquilo; em seguir soltando o ar de meus pulmões em rimas, em alcançar cada vez mais gente, que se aproximava, animados pela batida e por nossas vozes inexperientes soarem nos microfones em direção à noite escura.

- Você é um garoto petulante, I like it. Saiba que eu não vou colocar o rabo entre as pernas com apenas alguns latidos, grandão. Estou aqui para batalhar, aprender e ensinar. Vamos ver quanto aguenta, quanto sua voz aguenta no meu ar. Vamos esmagar sua exosfera, é só observar. Volte a falar, eu vou cuspir meu rap em cima de você, não vai conseguir se defender. – Como imaginei anteriormente, a voz estridente de Casper deixava seu rap mais ofensivo que o de SangMin. Ele avançava, movendo o corpo como se também falasse com ele. O cara tinha tanta presença que até era possível esquecer sua baixa estatura.

O cara era gigante.

Sorri de canto, sentindo-me arder em animação. Olhei para YoonGi, que sorria quase maniacamente.

- Hey, baixote, respire um pouco. Debochar de meu sonho não vai me fazer descer até seu nível. Continue olhando para cima, quem sabe você me vê. Cantando porque gosto e batalhando porque posso, eu vou continuar subindo, e vou rir de quem disse que não conseguiria. Tenho meus amigos e tenho minha confiança. Vou seguir lutando, porque não tenho nada mais a fazer. – Meu tom era alto, quase gritado, e eu movia-me com ferocidade, batendo-os de frente com os olhos em chamas. – Eu sou um monstro, destruo tudo o que toco. Mastigo os versos como chiclete. Tome cuidado, eu não sou doce.

- S-U-G-A. Não tem “R”, otário. Não sou doce. Sou mais azedo que esse camarada. – YoonGi me complementou, se adiantando para os dois. – Mas vai ter que nos engolir.

Suga finalizou sua fala com um ‘yo’ e baixou o braço que erguera ao proferir seus últimos versos, sorrindo abertamente. A música baixou o volume, batendo discretamente, à espera de uma resposta da outra dupla. SangMin pareceu inflar o peito para responder, mas Casper soltou a respiração, sorrindo baixo, e baixou a mão do microfone do amigo. Min entendeu o gesto, finalizando a batida de vez.

- Parece que a dupla dos monstrões açucarados continua ilesa! Mas não paramos por aqui pessoal! A noite ainda é uma criança! – Min falou, voltando a aumentar o volume da música, que mudara completamente.

Notei outras pessoas entrando no tablado. Conhecia muitos; C.A.P, DaHyun, JiYoon, BITTO, Aron e Le. Eles pareciam energéticos, e eu sabia que a battle seguiria por um bom tempo.

As pessoas gritavam e aplaudiam; como eu esperava, a plateia aumentara bastante, mas eu só me importava com um pequeno pedaço daquele aglomerado – que parecia o mais barulhento, devido a Tae. Olhei para Jin ao seu lado, que me mirava com um pequeno sorriso nos lábios. Sorri de canto, pequeno, sem ser notado por ninguém.

- Ei, vocês dois. – Minha atenção foi chamada, e eu olhei para a dupla que se aproximava de nós dois, Casper com um meio sorriso no rosto, enquanto SangMin parecia meio contrariado ao acompanha-lo. – Viemos agradecer pela batalha. Vocês são mesmo bons. – O mais baixo deles estendeu a mão para mim, olhando-me diretamente nos olhos, com o boné agora virado para trás.

- Vocês também mandam bem. – Falei, retribuindo o aperto. – YoonGi hyung não vai te cumprimentar exatamente por isso. Ele é bem infantil quanto a amizades com oponentes. – Falei, divertido, quando Casper estendeu a mão para Suga, que esvaziava uma garrafa d’água com vontade.

- Não fique me caluniando pros outros, moleque destruição. – YoonGi reclamou ao fechar a garrafa. – Não se deixem enganar por esse porra. Ele que é o antissocial. Eu te cumprimento, te abraço, faço o que você quiser. – Apesar disso, YoonGi não cumprimentou Casper, que já baixara a mão, divertido.

- Qualquer coisa mesmo. – Fingi contar um segredo aos dois, sorrindo pequeno. Recebi um soco de YoonGi nas costas. – Ai caralho!

- Pelo menos finja que é educado, Monster. – Falou, ignorando minha reclamação enquanto andávamos para o canto do tablado. – SeokJin está olhando. – Comentou, apontando para o grupo de nossos amigos, que haviam rodeado o elevado e nos esperavam ali no canto.

- Isso, continue a usar Jin pra me controlar. – Murmurei, ligeiramente sem saco para aquele assunto. Suga, ao contrário do que eu desejava, me ouviu.

- Fazemos o que podemos, Mon. Eu só estou usando as armas que conheço. – YoonGi deu de ombros, dando outro gole na garrafa. – Vocês dois: querem saber um segredo para deixar esse cara mansinho? Eu tenho uma palavra mágica; melhor que ‘abracadabra’ e ‘por favor’. – Os dois olharam-no curiosamente. Até SangMin parecia mais relaxado. – “SeokJin”. – Sussurrou, para todos os efeitos, parecendo falar sério.

- Ah, chega. – Resmunguei. – Qual o seu sonho de vida? Acabar com a imagem séria que as pessoas têm de mim?

- Entre outros. – Meu hyung sorriu angelicalmente, desviando quando tentei bater em sua cabeça.

Casper riu baixinho.

- Vocês realmente se dão bem. – Comentou. Era estranho pensar que ele era o cara sério e concentrado que estava batalhando conosco um tempo atrás. SangMin andava ao seu lado como escolta, parecendo mais distraído de seu incômodo.

- Eu sempre disse isso pra ele, mas esse puto me trocou por outro. – YoonGi comentou, em descaso, abraçando-me pelo ombro e logo soltando-me.

- Que nojo hyung. – Comentei, sorrindo de canto. Casper riu, e SangMin sorriu pequeno.

- Nojo?! Se você não me quer, tem muita gente que sim, ok?

- Então vá inventar mentiras sobre eles. – Respondi sem me abalar, olhando para a frente, onde nossos amigos nos esperavam.

- HYUNG! – Tae acenou. – Vocês foram fodas!

- Eu sei, valeu. – YoonGi comentou, descendo do tablado com tranquilidade.

- Vocês mandaram muito bem também, hyungs! – YoungJae sorriu para Casper e SangMin, que agradeceram com a acenos de cabeça.

Eu não estava muito interessado. De feito, só prestava atenção nele.

- Voltei. – Falei, sorrindo-lhe. Ele retribuiu pequeno, parecendo um tiquinho encabulado.

- Bem vindo de volta. – Murmurou, quando fiquei à sua frente.

- Eeee, começou o mel. – YoonGi provocou, causando risadas dos outros.

- Assim parece que você está com ciúmes, Suga. – Devolvi-lhe, me virando para ele com a mão discretamente na cintura de Jin.

- Me poupe. – Ele respondeu, logo sorrindo.

- YoonGi ah, não se preocupe. Eu vou mandar NamJoon te dar atenção como antes, ok? – Jin brincou, sorrindo.

- Não, obrigado. Estou ótimo sem ele enchendo o saco o tempo todo. – YoungJae, Tae e JiMin riram escandalosamente. Nem parecia que ficavam todos abatidinhos quando ninguém estava olhando.

- Estou dizendo que eles parecem! – Todos olhamos para Casper e SangMin, de quem saíra a exclamação repentina.

Ao notar os olhares confusos, Casper suspirou, risonho, e SangMin pareceu meio sem jeito.

- Parecem mesmo. – Casper acenou com a cabeça, concordando com o amigo.Todos o miramos meio confusos, e ele sorriu. – Min disse que vocês dois parecem com um casal de amigos nossos, desculpem por ele ser tão escandaloso.

- Escândalo é a especialidade desse grupo, não se preocupe. – Comentei, relaxado, notando que o mais alto dos dois parecia um tiquinho incomodado. Concluí que provavelmente era mais novo que Casper.

- Parecem com eles por quê? – Tae tombou a cabeça como um gatinho curioso.

- Eles são dois postes igual a esses aqui. – SangMin foi o que respondeu, apontando para mim e para Jin.

- Eles ganham a vida com isso, sabia? São modelos, Shin e Takuya. – Casper comentou. – Vocês poderiam tentar.

- Eu passo. – Jin respondeu, após estremecer com a ideia.

- Idem. – Levantei a mão, relaxado.

O chinês ali deu de ombros, e Tae sorriu.

- Ele tem razão, sabe? SeokJin hyung é muito bonito. – O Kim mais novo ali tinha os olhos brilhantes. Sabia que ele gostava daquela área, e tinha certeza de que a partir dali, Jin nunca mais teria paz.

- Não, não. Definitivamente não. – Jin parecia nervoso, negando. Eu olhei-o, divertido.

- Ok, calma. Ninguém vai te obrigar a nada, Jin.

- Verdade hyung. Você vai fazer o que quiser, e vamos te apoiar no que quer que seja. – JiMin sorriu seu sorriso bonito. Jin olhou-o, meio agradecido. Sorri pequeno; com aquele apoio, não só meu, mas também dos outros garotos, eu sentia que talvez o futuro deixasse de ser um assunto tão ruim para Seok. Quem sabe, quem sabe, todos pudéssemos ficar satisfeitos com os caminhos que escolhêssemos na vida.

- Vocês vão pro Rave Lux hoje? – YoungJae foi o que perguntou. – É que a Min pediu pra eu ajudar o garoto novo que está cuidando do som lá dentro quando ela não pode estar.

- Ah, a gente te acompanha então. – Tae decidiu por todos, gentil como seu sorriso. Não sabia se eles já se davam tão bem antes, mas aquela curta convivência naquela noite com certeza amansou Tae em relação ao garoto. Até porque provavelmente os dois estivessem com problemas de natureza bem parecida, se eu não estivesse muito enganado.

O grupo se moveu como um só, andando sem pressa em meio à grande quantidade de gente que ainda permanecia no pátio. O Rave só ficaria movimentado de verdade mais tarde, e mesmo assim ainda haveria pessoas ali fora, fazendo o que gostava, sem se importar com mais nada, pelo menos por uma curta noite.

 

- JaeJae. – YoonGi chamou o garoto pelo apelido, e eu soube que dali não saía coisa boa. Já tínhamos entrado no galpão, e a iluminação colorida já fazia seu trabalho de me deixar aturdido e meio cego. A música soava baixa, ambiente, como se ainda estivesse sendo testada, mas as pessoas já ocupavam em parte o espaço; no bar, na pista ou onde fosse, já havia pequenos grupos de adolescentes e jovens adultos, entrando na onda em que seguiriam pelo resto da noite e madrugada. – Qual você disse que era o nome do garoto novo da Min mesmo?

Assim que perguntou, eu olhei para a cabine de som suspensa, como YoonGi fazia, e ali, sorrindo por não sei que motivo, estava um garoto que eu não tinha certeza sobre já ter visto na vida.

Olhei para Suga, já imaginando onde aquilo daria. Coitado do novato, tinha um sorriso tão inocente...

- Eu não disse. – YoungJae falou, após olhar lá para cima também. Sua expressão perdeu a seriedade repentina que adotou por um momento, sorrindo pequeno para YoonGi. – Ele é o Joe. L.Joe.

- Nome verdadeiro? – YoonGi falou em tom de interrogatório, não desgrudando o olhar da janela que agora mostrava o garoto de lado, mexendo sem expressão em algo na mesa de DJ.

- Não sei. Acho que ele é chinês. O nome provavelmente não é muito pronunciável.

- Eu ouvi isso. – Casper brincou.

- Eu te disse, hyung! – SangMin riu alto, desviando da mão de Casper, que tentou calá-lo, com o mesmo sorriso.

- Chinês? Ele não parece chinês. – YoonGi ainda olhava para cima. – Sabe a idade dele?

- Hyung, eu conheci ele ontem rapidinho, porque tive que ir pra casa... – Hesitou, meio pensativo, mas logo voltou a falar: – Se quer saber tudo isso, vai lá puxar papo com ele. Tenho certeza de que você é bom com isso.

Se Jae não fosse quem era, eu teria visto aquela frase como irônica – claro que YoonGi sabia puxar papo. Ele era faixa preta nisso – mas o sorriso do moreno era meio incoerente com aquele tipo de coisa.

- Vou mesmo. – YoonGi abraçou YoungJae pelo ombro. – Vamos. E que deus não deixe JaeBum me ver assim com você. – Acrescentou, já se afastando com o garoto.

 - Espera, hyung! – YoungJae olhou para nós, meio perdido ao ser puxado pelo outro. – Tchau pessoal! – Gritou, já meio longe, com Suga sempre levando-o.

Acenei relaxadamente, achando aquilo engraçado, e notei os outros sorrindo de canto também.

- O que acham que Suga hyung fez pra conseguir deixar o JB brabo? – JiMin perguntou, ainda olhando os dois após baixar a mão que lhes acenava. – Quer dizer, é o JB. Já viram ele de mau humor assim antes?

- Boa coisa não foi. – Falei, apenas, recebendo afirmações dos outros. Também me questionara aquilo. JaeBum sempre me pareceu de boas; aquele de boas que é de boas demais, então ninguém o leva a sério. Esse era JB normalmente, mas parece que todos temos mais de um lado.

Não vou mentir dizendo que não queria saber o que tinha acontecido, mas sabia que essa minha curiosidade não condizia com a imagem que eu normalmente passava, então sempre tratava de deixá-la meio escondida.

Nos dirigimos todos até o canto do bar, menos pelas bebidas e mais por Jackson e o mencionado JaeBum, que ainda estavam tranquilos em seu lugar de barmans. Jackson parecia muito feliz por não estar mais sozinho ali atendendo.

- Monster! – Jack sorriu grande ao nos ver. – Lacraram lá fora de novo? Já veio gente contar aqui.

- Você tinha que ter visto, hyung! – Tae sorriu. – Os quatro foram incríveis, mas o Mon hyung foi ainda mais! Parecia que ele estava brilhando!

- Que exagero. – Resmunguei, me sentando num dos bancos em frente ao balcão. JiMin ocupou o outro, sendo imitado por Tae e por Hope. SangMin ficou de pé ao lado de Casper, e ambos se despediram, sumindo na escuridão iluminada confusamente; olhei para Jin, e bati em minha coxa, convidando-o, visto que não haviam mais bancos livres.

Jin negou com a cabeça, meio tímido. Acostumado com sua vergonha inconstante, não insisti, apenas me levantei, deixando que ele sentasse ali, e ficando de pé.

- Mon hyung deixou de ser o ogro antissocial pra ser o namorado cavalheiro dos sonhos, é isso mesmo? – JiMin comentou, levemente impressionado ao nos olhar. Olhei-o com tédio, mas Jin apontou para mim, armando uma cara descrente.

- Quem,esse aqui? – E forçou uma risada, claramente me avacalhando. Olhei-o, meio chateado, e fui presenteado com seu sorriso travesso e tranquilizador.

- Você não cansa de fazer minha caveira também, né?

- Ah, eu estou brincando, Nam. – Sorriu de olhos fechados, malditamente adorável. – Mas nós não somos namorados, JiMin ah.

- Não?! – Jackson não escondeu sua cara surpresa, fazendo com que eu risse, assim como Jin.

- Toma cuidado com isso, hyung. – Tae falou, estranhamente sério. – Pode acabar ficando tarde demais, e dar em coisas que você não desejava. Virar assunto desconfortável que você desvia sempre.

Olhei para o Kim em estranhamento, assim como os outros que nos acompanhavam. Este apenas olhou para HoSeok de canto por uma fração de segundo, voltando a assumir sua expressão “calma” e brincando com as próprias unhas.

Hope piscou algumas vezes, e ao notar que eu o mirava desconfiado, encolheu os ombros com expressão acuada, como se jurasse desesperadamente que não sabia do que estava falando seu...eles eram o que agora? Ex-namorados? Mas eles tinham terminado de verdade? Eu já não lembrava.

Afe, que dupla complicada.

As horas foram passando; o Rave se enchia cada vez mais, e a música agora soava em bom som. O bar estava movimentado também; JaeBum surgira das sombras mais ou menos uma hora depois que chegamos ali, e agora estava imerso na tarefa de ajudar Jack com os inúmeros pedidos no bar; garotas sentavam, conversavam, casais se beijavam, amigos riam. Eu acompanhei tudo de forma tranquila, dando pequenos goles de bebida vez ou outra.

Tae estava quieto, sumira por um tempo com JiMin, e voltara uns quarenta minutos depois, claramente vindo da pista de dança, pois suava e sorria, animado – mesmo que tenha precisado apenas se sentar ao lado de HoSeok para ir acalmando de novo, e voltando a ficar estranho. O Jung era outro que claramente não estava pra aquilo naquela noite: conversava com outras pessoas conhecidas, e eu perdi a conta de quantos copos ele esvaziou; não me preocupei sobre isso, ele devia saber o que estava fazendo, mas ainda assim...aquela situação deixava todo o grupo desconfortável.

Jin, depois de um tempo me notando de pé enquanto conversava e bebia, acabou puxando minha camisa discretamente, chamando minha atenção para si. Olhei-o, e ele pareceu se encolher um pouco ao desviar o olhar e se levantar do banco, ainda segurando minha camisa. Olhei para o banco, e então para ele; sorri, e me sentei, batendo em minha coxa como fizera antes. Jin mordeu levemente a boca, mas se sentou na ponta de minha coxa, com a cabeça baixa.

Em algum momento, JiMin saíra do galpão sem aviso prévio, atendendo o telefone que ele ficara urubuzando durante todo o tempo ali. Não lhe demos muita atenção, mas ele não voltou mais por um bom tempo.

- Vocês estão aqui! – YoungJae chegou uns quinze minutos depois de JiMin ir-se ocupando o banco em que o mesmo estava. O garoto sorria largamente, mas ficou sério ao notar JaeBum mirando-o, paralisado subitamente no que fazia com as bebidas. O mais novo baixou o olhar, sendo imitado pelo outro. Jae nos olhou de novo, com seu sorriso ressuscitado como se nunca tivesse sumido dali.

- Onde está YoonGi? – Tae perguntou, simpático, ao garoto, apesar de claramente não estar muito afim de sorrir.

- Ah, ele me mandou embora de lá. – Jae encolheu os ombros. – Para mim, foi ótimo. Minha vela já estava do tamanho da Torre Eiffel.

Todos rimos pequeno. Jackson deslizou um copo pelo balcão para YoungJae, que pegou com um sorriso. JaeBum estava imerso no que fazia, mas era claro que prestava atenção em nosso grupo.

- Eles já se pegaram? – Jackson perguntou, sabendo da situação por ter sido contado por Tae anteriormente.

- Não. Joe é meio lerdinho, ou difícil. Não tenho certeza. – YoungJae respondeu, sem dar muito caso. – Mas YoonGi hyung claramente não precisava mais dos meus serviços. – Completou, rindo, e dando um gole em sua bebida.

- Suga vai conseguir pegar ele. Ele sempre consegue. – Jackson decretou, após rir com YoungJae, secando um copo grande e o colocando na estante atrás de si. – Ele tem essa aura que atrai as pessoas, e é bem insistente.

YoungJae acenou, sorrindo, e JaeBum pegou um caixote de madeira, saindo de trás do bar sem ser notado. Olhei para YoungJae de canto, e o olhar do garoto fixava no moreno que sumira pela porta dos fundos. Talvez tivesse sido notado.

O garoto, ao notar meu olhar, sorriu, não conseguindo mantê-lo por muito tempo no rosto, porém.

Tae colocou a mão nas costas do garoto, que, sem devolver o olhar, suspirou, levantando do banco sem nada dizer e se dirigindo à porta antes mencionada. Observei-o, logo olhando para Tae. Jin fazia o mesmo, em meu colo, com minhas mãos leves sobre seu quadril.

Tae, ao notar nossos olhares, suspirou tristemente.

- Acha que eles conseguem conversar dessa vez? – Olhou para Jackson ao perguntar, claramente se dirigindo ao mesmo. O Wang soltou a respiração pesadamente.

- Tudo vai depender do Jae. – Respondeu. Eu os olhava, sem entender direito o que se passava. – JB não está em condições de falar muito, mas Jae vai ter que ter paciência com ele.

- Paciência... – Tae repetiu baixinho, pensativo, acenando com a cabeça.

- Eles nunca conseguem conversar exatamente por isso; nenhum dos dois deixa o outro falar, e eles acabam só se desentendendo mais. Deviam ser diretos um com o outro, mas parecem ter medo de onde isso pode dar. – Jack continuou. – Os dois sempre foram como irmãos. Acho que entendo que JB esteja temeroso mas...ele está passando dos limites, agindo como se tudo fosse culpa de Jae.

Juro que se ele não tivesse falado essa segunda parte, eu teria esquecido que estava falando dos dois Jae’s. Ele descrevera perfeitamente... Olhei para Tae, e então para Hope, ao seu lado, mais afastado de mim.

- Eu sei bem do que está falando. – TaeHyung fez uma careta descontente. É, parece que eu não estava ficando biruta. Jack acenou com a cabeça, compadecido, e olhou para Hope, que era o foco de todos os olhares amigos com exceção de Tae.

O Jung olhou para Jackson longamente, logo me mirando e parecendo suspirar para olhar Tae.

- Acho que nós dois sabemos. – Falou, manso mas direto, olhando sem trégua para Tae, que agora lhe devolvera o olhar.

Olhei para os dois, me sentindo um tiquinho tenso em antecipação. Não era possível.

- ...E? – Tae falou após longos segundos silenciosos em que os dois apenas trocaram ávidos olhares incessantes.

- E? – Hope o imitou. Ambos pareciam confiantes, como se estivessem no limite de seu terreno, decidindo se pulariam para o campo do outro; se enfrentariam as minas que ali jaziam.

- E: que você me deve desculpas. Muitas. – Tae falou, e eu me senti bater em minha própria testa mentalmente. Não, não. Começou mal, vai dar a mesma merda de sempre. Pela cara de Hope, ele provavelmente pensou o mesmo que eu. – Mas...eu também tenho...que pedir desculpas... Algumas. – O Kim baixou a cabeça, murmurando.

Não contive minha surpresa, e Hope parecia estar olhando para um desconhecido, de olhos arregalados.

- Como é? – Hope sorriu, baixando a cabeça para mirar Tae. – Você está pedindo desculpas?

Não, não, não provoque... Isso não vai dar em lugar nenhum, porra.

Tae pareceu fazer uma careta, e o sorriso de Hope se aliviou do travesso para o gentil.

- Tudo bem, eu aceito, se aceitar as minhas. – HoSeok falou, parecendo surpreender um pouco Tae, que suspirou imperceptivelmente porém. – Mas só desculpas não vão resolver nada, Tae. – Completou, subitamente mais sério.O mais novo o olhou, meio alarmado, o medo claro em seus olhos. – Pelo menos não a longo prazo. Então eu vou te pedir uma coisa, que sei que é meio difícil pra você, mas por favor...seja sincero. – O Jung assumiu um olhar mais doído. – Sincero sobre tudo, ok? Sobre o que não te agrada e sobre o que quer. Eu não sou adivinho.

Tae olhou-o longamente, terminando por baixar a cabeça de forma lenta, acenando pequeno, afirmativamente.

- Só... – O Kim começou a falar quando achei que ele já não falaria nada. Sabia que era difícil para ele, por ser quase tão orgulhoso quanto eu, mas eles precisavam daquilo, eu sabia que sim. Hope não podia sustentar o relacionamento pelos dois, ele mesmo o dissera. – Só se você também for, ok? Você nunca reclama, e esse foi o começo do problema, certo? Me...me diga quando eu estou errado, e eu vou tentar melhorar.

Arregalei meus olhos de novo. Quem diria. Que conversa civilizada e cheia de closes certos era aquela? Tae falava timidamente, eu quase não o escutava, mas vê-lo tentando agir mais maturamente me fez sorrir pequeno.

Hope também sorriu, e, provavelmente concluindo que já era o bastante de DR pública, se levantou, abraçando Tae, que ainda sentado, enterrou o rosto no peito do Jung. Eles ainda tinham muito o que conversar, mas agora eu sentia que...talvez eles conseguissem, e talvez amanhã eu não tivesse que aguentar cara de enterro dos dois de novo.

Jackson bateu palmas, sorrindo, e eu me permiti sorrir também. Jin esticou os lábios carnudos, subitamente virando parcialmente para me abraçar em animação. Correspondi o abraço achando graça. Sabia que aquilo estava incomodando-o muito – até porque ele que estava “cuidando” de Tae – e sua agitação alegre e silenciosa era muito bonita.

Seok afastou o rosto de meu pescoço, sorrindo meio sem graça por ter agido no impulso, mas eu não permiti que se afastasse mais; apertei suas costas que abraçava e selei sua bochecha. Ele me olhou, parecendo meio surpreso por eu não ter feito mais que isso, mas terminou por sorrir em pura alegria.

Vê-lo assim era bom, me dava uma sensação de leveza. Sequer era um problema seu que havia se resolvido (?), mas ele respirava alívio alegre.

Os dois abraçados ao nosso lado ainda não tinham se largado. Não falavam nada, apenas se seguravam um ao outro; Hope com segurança calma, e Tae com uma espécie de desespero infantil que fazia com que suas unhas se fincassem na camiseta do Jung sem trégua e sem noção de força.

- Então, temos um namoro oficial de novo? – Jackson perguntou, sorridente, quando os dois se soltaram parcialmente. Hope continuava de pé, segurando o ombro de Tae, que abraçava-o com um braço, pela cintura.

- Esse namoro nunca foi oficial. – Tae respondeu antes que Hope pudesse afirmar (ou contradizer, vai entender), e em sua face se formou uma careta discreta.

- Como assim? – Fui eu o que perguntou, meio confuso. Hope parecia na mesma situação que eu.

- Hope hyung nunca pediu. – TaeHyung proferiu aquilo com clara mágoa guardada, mas sua pose de braços cruzados e seu bico eram de todo infantis. – A gente só acabou ficando juntos, mas nunca teve pedido.

- Nunca teve porque essas coisas não foram necessárias no nosso caso, ué. – Hope olhou para Tae, parecendo meio descrente. – Mas se isso te incomodava tanto, poderia ter me falado.

- Você só pediu pra eu ser sincero agora.

- Tae, faz favor. – Jin foi o que se meteu, olhando meio repreensor para o mais novo. Concordava com ele; era só o que faltava ele começar com birra de criança agora. TaeHyung inflou a bochecha, mas descruzou os braços, olhando de canto para Hope e murmurando um “desculpa” fraco. HoSeok gargalhou, tranquilizando-o quanto à seriedade daquilo.

- TaeTae, você podia ter pedido, sabe, não sabe? – A voz do Jung ficou mais mansa, como se ele soubesse exatamente o que estava se passando na cabeça do Kim, e abaixou o rosto para ficar na altura do deste. O mais novo virou o rosto, de novo inflando as bochechas. Hope riu. – Ok.

- O-o que está fazendo? – Tae gaguejou sem intenção ao ver o mais velho se ajoelhar atrás de seu banco. Virou-se para olhar o Jung de frente, com o olhar levemente alarmado.

- Resolvendo isso. – Hope respondeu com praticidade. Eu segurava o riso que queria soltar, assim como Jackson ao meu lado do outro lado do balcão. Jin parecia compartir o nervosismo de Tae, apesar de estar sorrindo. – KIM TAEHYUNG! – Gritou, fazendo com que Tae desse um pulo no banco.

- E-eu.

- EU TE AMO! QUER SER MEU NAMORADO? – Eu estava no meu limite. Já sentia meus ombros tremendo pela risada, e Jackson cobria o rosto, sacudindo o corpo ao gargalhar sem fazer som. Casal micão estava de volta, enfim?

- MEU DEUS SEU IDIOTA. – TaeHyung gritou após alguns segundos de silencio em que ele cobriu a própria cara. As pessoas ao redor assistiam aquilo sem dar muita atenção, apenas se divertindo, e Tae pulou do banco em que estava, indo em direção ao mais velho, alterado. – LEVANTA DAÍ! – Puxou o braço do outro, que não se deixou levantar.

- Só se me responder. – HoSeok fez um biquinho, fazendo com que Tae olhasse-o, estupefato. Gargalhei alto, não conseguindo mais me segurar.

- LEVANTA.

- ME RESPONDE!

- OK, OK, EU ACEITO, TÁ? SÓ LEVANTA DAÍ. – Tae pegou o braço do mais velho, puxando-o para que levantasse novamente, e dessa vez, Hope se deixou erguer, com um sorriso gigante na cara.

- AEEE! – Jackson bateu palmas, gritando alto. As pessoas desconhecidas e conhecidas por perto também aderiram à salva, e eu não vi problema em fazer o mesmo. Jin sorria enormemente, ainda em meu colo, batendo palmas de leve.

Tae xingou o mais velho por um tempo, voltando ao seu banco, mas não conseguia ficar sem sorrir. Hope era só alegria, e eu suspeitava de que demoraria muito em largar o mais novo outra vez.

- Tomara que dure. – Jin me segredou, jogando a cabeça em meu ombro, num suspiro, e fechando os olhos.

- Pelo amor dos deuses, sim. – Falei, meio aflito com a ideia de outro problema daqueles surgindo. Jin riu fraquinho, apoiado em meu corpo. Apertei meus braços ao redor de si, perguntando em seu ouvido: – Está cansado?

- Eu estou bem . –Jin disse, mas bocejou curtinho, me fazendo rir. Olhei meu celular, checando as horas. – Também pudera. Já são três da manhã. Já dormiu a essa hora antes, SeokJin?

- Sabe que não estou acostumado com esse ritmo maluco de vocês... – Jin bocejou outra vez. Seus olhos estavam fechados, e sua respiração calma. – E eu não dormi quase nada noite passada.

- É, eu sei. – Falei, com meu rosto em seus cabelos. Olhei para Hope e Tae, que conversavam com amigos, confortáveis um com o outro de novo, mesmo que não plenamente. Não podia se forçar tudo também; as cicatrizes continuariam ali, mas eles teriam que saber superar isso, e seguir em frente. – Quer ir pra casa? O pessoal provavelmente vai demorar em querer ir embora ainda.

Jin suspirou.

- Tanto faz.

- Como ‘tanto faz’?  - Ri curtinho. – Você mal está se aguentando acordado. Com pretende ir pra casa mais tarde?

- Você me leva. – Ele murmurou, e eu ri de novo.

- Parece que vou ter que fazer isso de qualquer forma. – Falei, arrumando seu corpo sobre mim e então me levantando, fazendo com que ele também ficasse de pé, sonolento. – Ei, Hope. – Chamei, e recebi sua atenção. – Eu vou levar essa coisa pra casa, ok? Nos vemos amanhã.

- Claro. Boa noite Jin hyung! – O Jung acenou para nós dois. Acenei em cumprimento para Jackson, que sorriu ao me ver com Jin semimorto ao lado, acenando em resposta.

- Como vamos pra casa agora? – Jin me perguntou quando saímos do Rave Lux, recebendo o ambiente um pouco barulhento de fora com prazer após a bagunça lá de dentro. Em comparação, parecia mais silencioso que cemitério militar ali fora. – Está muito tarde para três, certo?

- Na realidade o primeiro trem é às quatro e meia da madrugada, então dava pra esperar. – Falei, segurando Jin por precaução. Ele estava realmente sonolento, então não tinha muita firmeza em sua caminhada. – Mas eu acho que tenho para um taxi aqui.

- Taxi? Isso é caro. – Jin me olhou, preocupado.

- Não se incomode com isso agora, ok? Você tem que dormir. – Falei, seguindo a andar e não o olhando.

- Eu posso esperar o trem. – Teimou.

- Jin. – Falei, olhando para ele e parando de andar por um momento. – Não tem problema, ok? Eu estou fazendo isso porque quero, não é como se fossemos transformar isso num hábito. Eu estou preocupado com você e vou te mimar um pouquinho, ok? Sem birra.

Terminei minha fala no mesmo tom que a começara a voltei a segurá-lo, andando pelo pátio em direção ao portão. Era verdade: Jin estivera tão estressado com Tae nos últimos dias que não se permitira descansar. Agora que tirara um pouco daquele peso das costas, seu corpo percebera a exaustão que sentia, e aquilo não era bom.

- Você está sempre me mimando, seu idiota. – Jin murmurou, mas quando eu o olhei de canto, ele sorrira, bocejando outra vez.

- Vem cá. – Falei, soltando sua cintura e me ajoelhando à sua frente, de costas para si.

- Nam eu não... – Jin olhou para minhas costas, meio bambo ao ficar de pé sozinho.

- Sobe. – Falei, deixando claro que não o deixaria contestar. Ele mordeu a bochecha internamente, suspirando ao ceder, subindo em minhas costas e abraçando meu pescoço. – Pronto, viu? Não foi difícil.

- Não é porque não é você que está sendo carregado como uma criança, idiota. – Ele murmurou em meu ombro.

- Ué. Sou eu que estou carregando, eu que devia reclamar. – Brinquei. – Fica quietinho aí enquanto eu consigo um táxi.

Jin não me respondeu, apenas manhosamente, e se arrumou em minhas costas. Sentia sua respiração em meu pescoço, me dando calafrios vez ou outra.

O trajeto para ir até minha casa, assim como o de conseguir um taxi antes disso, foi demorado, mas eu fiz tudo em silencio, apenas preocupado com a criança grande que carregava nas costas. Ele adormecera em meu dorso ainda na frente do Lux, e entrara quase como um sonâmbulo no táxi que parou após uns quinze minutos. Em toda a rota, ele cochilou, com a cabeça apoiada em meu ombro e murmurando vez ou outra coisas que eu não conseguia compreender por parecerem mais com ronronares de gato que com palavras humanas.

Paguei o motorista pela corrida ao chegarmos em casa, e tive um tiquinho de dificuldade em carregar Jin nas costas de novo. Ele era leve, muito leve, mas ainda assim, era um garoto grande, que de quebra estava mais pra lá que pra cá, então não me ajudava muito no serviço de ser uma carga fácil.

Subi as escadas de casa, tentando não fazer barulho e principalmente não cair com Jin nas costas. Cheguei em meu quarto e acomodei o garoto em minha cama, tirando seus sapatos e arrumando seu corpo esguio no colchão. Olhei para as roupas desconfortáveis que Tae lhe vestira – que incluíam uma calça bem justa – e hesitei, pensando que seria melhor ele vestir outra coisa para dormir, logo decidindo que era melhor não me dispor a fazer aquilo. Era mais seguro, para ele, e para minha sanidade.

Dando-lhe uma ultima olhada, entrei no banheiro, tomando um banho rápido e voltando ao quarto com uma toalha sobre os cabelos encharcados. Me surpreendi ao ver Jin acordado, olhando para meu teto com expressão distante. Dirigiu o olhar à mim ao me notar no cômodo, e sorriu pequeno.

- Achei que fosse acordar só semana que vem. – Falei, indo até o guarda roupa e pegando uma camiseta e uma bermuda confortáveis. – Quer se trocar? Pode tomar banho também, tem uma toalha no banheiro. – Falei, me aproximando de si enquanto enxugava os cabelos com uma mão.

Ele provavelmente estava cansado o suficiente para estar com preguiça de fazer qualquer uma dessas coisas, mas não custava oferecer.

Ao contrário do que eu pensava, ele levantou- com muita moleza – e pegou as roupas de minha mão, indo até o banheiro sem falar mais.

Olhei para a porta fechada por alguns segundos, terminando por pegar um dos travesseiros da cama e colocando-o no chão, com preguiça de ir buscar colchão ou o que fosse lá embaixo. Me deitei no tapete com os braços atrás da cabeça, olhando para o teto da mesma forma que Jin fizera, e me mantive ali, sem me mover, por longos minutos, fechando os olhos.

- Nam. – Jin sussurrou, me acordando do breve cochilo que tirara.

- O que foi? – Perguntei-lhe, com a voz já meio sonolenta, olhando-o.

- Você não vai dormir no chão, vai?

- Onde mais eu dormiria? – Perguntei, olhando para seu rosto incomodado.

- Deixa de ser cabeça dura. – Ele apenas disse. – Essa cama é gigante. Eu não vou dormir sozinho aqui. – Falou, voltando a se deitar em minha cama e sumindo de minha vista. Me mantive olhando para a pequena parte de seu corpo que eu conseguia ver, processando o que ele dissera. Sua cabeça surgiu sobre mim outra vez, com o começo de um bico. – Está esperando o quê?

Pisquei uma vez, me levantando enquanto obedecia sua ordem não dita. Jin rolou pra o outro lado da cama, e eu coloquei o travesseiro de novo em cima da cama, sempre olhando para Jin meio descrente.

Me deitei, ainda estranhando; Jin nunca dissera que não dormíssemos juntos, mas eu adotara aquilo como uma regra de segurança própria desde o inicio. A sensação dele zangado por isso me deixava meio perdido – apesar de feliz.

Olhei para ele, esperando encontra-lo dormindo, mas me surpreendi ao ver seus olhos fixos em mim. Não estávamos tão próximos, mas eu sentia o quão perigosa – e deliciosa – seria essa proximidade aumentada.

- Eu esqueci... – Jin começou após alguns segundos em que apenas nos encaramos. – Parabéns por ter ganhado a batalha. Você estava incrível lá em cima.

Recebi seu sorriso com um pouco de surpresa novamente, mas acabei olhando-o, e perguntando-o:

- Gostou, foi? – Jin acenou com a cabeça, meio animado. Queria saber para onde fora todo aquele seu sono anterior.

-Você e YoonGi ah são muito bons. – Ele falou. – Na verdade, são meio assustadores.

- Como assim? – Ri soprado, e Jin assumiu um ar explicativo meio confuso, como se ainda ordenasse seus pensamentos.

- Pense no rap de vocês como uma porta fechada. – Ele começou, meio hesitante, estendendo as mãos acima de si, tentando ilustrar a porta. Acenei com a cabeça, prestando atenção em si. – O seu rap é...audacioso, mas tem um graça, como se você fosse abrindo a porta vagarosamente, e expondo as coisas de forma mais explicativa. Mais ou menos como se você fosse um gênio que explicasse algo para um bando de idiotas.

Tentei segurar uma risada barulhenta, porque minha mãe estava no quarto ao lado, mas o olhei, divertido.

- Como assim?

- Sei lá... – Ele fez uma expressão meio chateada por minha reação.

- E o YoonGi? – Perguntei, após um silêncio seu. Seus olhos me miraram. – Qual a relação dele com a porta?

- Bom... – Ele pareceu pensar, e então me olhou, sem expressão no rosto, dizendo sem um pingo de hesitação ou dúvida: – É como se ele quebrasse a porta com a cabeça.

Não contive o começo de minha risada, mas abafei o barulho em minha mão, olhando para Jin em seguida, que me mirava, com os olhos curiosos me analisando. Ao notar que ele provavelmente ficaria chateado por eu estar rindo, o puxei sem pensar muito, abraçando-o.

- Eu te adoro. – Falei, novamente, sem pensar. Estava ficando com sono, e a presença de Jin era suficientemente confortável para que eu me sentisse relaxado como se estivesse sozinho.

Jin não respondeu, e eu olhei-o, rindo de novo ao notar sua face corada. Afastei sua franja de sua testa, olhando-o,divertido.

- Deu pane?

- I-idiota. – Ele murmurou. – Já disse pra me avisar quando for soltar essas coisas, seu maldito. –E enterrou o rosto em meu peito de novo. Ri baixinho, abraçando-o relaxadamente, e fechei os olhos.

Já me sentia quase no mundo do sonhos – mesmo que eu provavelmente não fosse sonhar, porque Jin estava ali – quando senti Seok se mover em meus braços. Olhei para si, que pareceu se assustar.

- Eu te acordei? – Perguntou, temeroso, e eu neguei com a cabeça, claramente sonolento.

- Não vai dormir? – Perguntei, com a voz fanha por ter sido acordado.

- Perdi o sono. – Falou, olhando para o teto enquanto segurava meu braço ao redor de si com as mãos distraidamente.

- Ah, não senhor. – Reclamei, chamando sua atenção. – Você estava morrendo de sono, agora vai dormir. – Falei, e o abracei mais forte, como se fosse um ursinho de pelúcia.

- Mas...

- Sem “mas” nem “menos”, Jin. – Falei, sem olhá-lo, com a voz sonolenta em seu pescoço, sentindo-o arrepiar. – Vamos dormir. Boa noite.

- ...Boa noite. – Jin tardou em me responder, e eu já estava de olhos fechados, indo em direção ao inconsciente quando ouvi sua risadinha, e senti seu selar curto em meu queixo. Não me movi, já estava mais pra lá do que pra cá. – Nam idiota.

 


Notas Finais


Quem quer ver Jin deixar cair a máscara de madre Teresa logo? ~moonface~ (to, to dançando e cantando Audácia aqui sim).
Eae galerê? Gostaram? Conseguiram chegar no fim da Bíblia? Ahsuhausas desculpa. Vou diminuir esses caps, na moral. Ta cansativo.
Bom, eu demorei tanto que, porra, se for ficar falando dos comeback igual normalmente faço vai ser foda, mas só me sinto na obrigação de mencionar três coisinhas:
1- Lotto é lacre. Lotto é néctar dos deuses.
2- SAI DA MINHA NUVEM.
3- Parabéns aí pro maknae de ouro (que por sinal, se enfiou em algum buraco ~moonface~ nesse capitulo e sumiu. Alguém tem teorias aí? Estou aberta a lê-las kkkkk)
Bom, to ouvindo os fogos de artifício né? AMÉM VHOPE. Eu queria fazer isso de outro jeito, mas ia demorar demaaaais, e eu já tava ficando sem paciência. Enfim, espero que tenha agradado. E se não...sinto muito, não sou perfeita kjjkjk.
****na battle, eu não me preocupei com as rimas porque sou uma péssima poeta, mas façam o seguinte: finjam que traduzindo pro coreano, saporra rima, ta? FINJAM.****

E, antes que eu suma pro além de novo (não me batam, vou voltar mais rápido dessa vez), mais uma coisa: gente, eu não entendo porque vocês ficam com essa de “não me ignora”, tomara que você leia esse comentário”, entre outros. CLARO, ATÉ PORQUEA TROUXA PEDE COMENTÁRIO QUASE CHORANDO E NÃO VAI LER.
EU SOU RETARDADA MAS NÃO TANTO, OK? EU AMO LER E RESPONDER COMENT. DEMORO PORQUE NÃO TENHO NET, MAS MAN...PODE COMENTAR CINQUENTA VEZES, EU VOU TE RESPONDER TODAS ELAS, EU AMO COMENTÁRIO. ESCRITORAS DE PLANTÃO AÍ SABEM DO QUE EU TO FALANDO.

Ah, ah! Lembrei de outra coisa. Dã: obrigada pelos favoritos e coments do cap passado, gente, obrigada meeeeesmo. Eu fiquei muito feliz :’)
E, @Bangdogmyeon obrigada.Gente, essa linda dedicou uma fic pra mim *-* é um plot bem interessante, vão por mim:
Link: https://spiritfanfics.com/historia/twain-breast-6287843

Bom, e pra encerrar, obrigada de novo. Comentem, por favor :3 e NÃO DESISTAM JIMIN, EU VOLTO. EU DEMORO, MAS EU VOLTO.
XOXO [LOTTO, LOTTO LA LA LA ~~~BYUN BAEKHYUN SUA AFRONTA À MINHA VIDA FDP]


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