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História Depois da Tempestade - Capítulo X


Escrita por: DrixySB

Capítulo 10 - Capítulo X


- Ele apenas... Disse para você... Se cuidar – tentou Hunter, reticente, espiando a reação da bioquímica, temeroso de que ela desabasse à sua frente, ou esbravejasse, de modo a descontar a ira que sentia. Ele suspirou pesadamente antes de tornar a falar – e me pediu para lhe entregar isso.

Tratava-se de um pedaço de papel com um número de telefone e o nome do Doutor Samson na caligrafia de Fitz.

- Disse que vê-lo realmente te faria um bem enorme... Seria bom que o consultasse.

Relutante e com o rosto fechado e tempestuoso, ela pegou o papel da mão de Hunter que, por um instante, achou que ficaria no vácuo.

Jemma o olhou nos olhos pela primeira vez desde que ele a procurou para transmitir os recados de Fitz.

- Disse mais alguma coisa?

Ela estava tão calada que Hunter quase se assustou ao ouvir a voz dela. Balançou a cabeça negativamente.

- Isso é tudo – concluiu.

Jemma desviou o olhar, assentindo conformada.

Lance Hunter foi o único com quem Fitz falou antes de partir. O único de quem ele se despediu. Todos os outros membros da equipe ficaram chateados com sua repentina partida, com a forma como ele saiu à surdina da base. Daisy lamentou, Bobbi recriminou sua atitude classificando-a como precipitada e Mack concordou com ela, achando que aquilo havia sido rude da parte do engenheiro. May não falou nada a respeito, mas em seu semblante era perceptível que ela também não estava feliz com sua súbita decisão. Coulson disse que achava compreensível o modo como ele se foi e que ele iria fazer falta. Com isso todos concordaram. Chateados que o amigo houvesse ido embora sem se despedir, mas já assaltados por um sentimento de profunda nostalgia.

As coisas não seriam as mesmas sem ele por ali.

Todavia, ninguém se sentiu mais arrasado do que Jemma. Por ele ter ido embora, por não ter dito adeus, por não deixar claro se ainda regressaria, porque sentiria sua falta a cada dia. Uma falta que ameaçava lhe despedaçar por dentro. A falta de seu companheiro de laboratório, daquele que dormia ao seu lado, de seu melhor amigo, de seu amante...

Ela levou as mãos à cabeça, não conseguindo mais lutar contra as lágrimas traiçoeiras que brotavam de seus olhos. Havia permanecido firme e forte até ali diante de Hunter, por mais tempo do que achou que conseguiria. Estavam em um canto qualquer de um corredor do playground. Ele quis evitar formalidades, preferindo transmitir as mensagens que Fitz deixara de um modo mais casual, pensando consigo que isso tornaria a situação menos dolorosa. Mas estava enganado.

Hunter não soube como reagir quando ela começou a chorar. De modo que, com certa hesitação, tocou o ombro dela, tentando confortá-la com aquele gesto, mas sabendo que isso não chegava perto de ser o suficiente.

- Eu sinto muito, Jemma...

- Por que ele só se despediu de você? – ela indagou, a voz embargada devido ao pranto.

Hunter deu de ombros.

- Acho que ele não queria vacilar em seu propósito de ir embora... Achou que comigo a despedida seria menos sentimental. Você sabe como é, Bobbi lhe daria um sermão, Daisy e Mack fariam de tudo para impedi-lo, May o trucidaria com um olhar... Não estou dizendo que não tentei dissuadi-lo, mas...

Ele engoliu em seco antes de prosseguir.

- Mas o fato é que, nesse momento, ele sente que isso vai ser melhor pra ele. E pra você também. Pode não parecer agora, Jemma, mas, pelo que ele me disse, se ficasse por aqui, vocês iam acabar machucando um ao outro. E ele não partiu pra sempre. Uma hora ele volta... Não sei quando, ele não me disse. Mas acho que ele precisa desse tempo longe.

O sofrimento de ambos tinha de ser analisado por perspectivas diferentes, ângulos diferentes. Mas um não poderia relativizar o outro. Cada um enfrentou o seu período de trevas de maneiras distintas, sim. No entanto, a intensidade de suas angústias e agruras, a veemência de sua dor, era equivalente.

Ela assentiu, aceitando o toque reconfortante de Hunter, tentando espantar as lágrimas para longe.

- Eu sei que vocês vão resolver isso... Tudo vai ficar bem.

*

As batidas insistentes de Bobbi na porta de seu quarto, alguns minutos atrás, não davam mostras de que iriam cessar. De modo que Jemma permitiu que ela entrasse em seu quarto, sentasse ao seu lado na cama - à sua frente, mais propriamente dizendo - e a ouvisse. Era do que Jemma precisava, afinal. Desabafar, dizer tudo o que sentia, o que a afligia, colocar pra fora suas angústias, expressar a falta que sentia de Fitz, tentar encontrar uma saída para a confusão emocional em que havia se metido. Sabia que não seria simples encontrar uma solução, mas por ora, bastava ter alguém que realmente se preocupasse e se importasse com ela. Alguém com quem ela pudesse contar com o apoio.

Bobbi ouviu cada palavra, franzindo o cenho quando Jemma mencionou o quão distante Fitz parecia, mesmo quando eles haviam se tornado íntimos.

- Eu não consigo imaginar o Fitz agindo assim... Distante, indiferente quando vocês estavam juntos. Esse não se parece com ele...

Jemma encolheu os ombros.

- Ele estava protegendo a si mesmo... Evitando se entregar totalmente a isso. Eu não posso culpá-lo, de certa forma até o entendo. E eu também não sou inocente nessa história. Não agi de todo certo.

- O que quer dizer?

Após um longo e exausto suspiro, Jemma confessou algo de que também não se orgulhava. Sobre como dormir com Fitz era um ótimo meio de aliviá-la de certa dor e dos momentos de depressão ainda consequentes do trauma severo que lhe acometera uns meses atrás. Aquela melancolia pungente ainda se alojava em seu peito de vez em quando e se entregar ao prazer físico a libertava disso.

- Então era só isso, Jemma? – Bobbi indagou em um sussurro pesaroso – era uma válvula de escape pra você?

- Não… Não se tratava apenas disso. Eu não posso negar que isso me fazia fugir da realidade por um momento. Mas não era só isso... Eu tenho sentimentos por ele – disse em um tom determinante – mas nunca lhe falei. E esse foi meu erro. Então ele pensou que se tratava apenas de um escape e... Que estava com ele só para tentar esquecer...

- Will – Bobbi completou.

Jemma fechou os olhos com força, levando as mãos à cabeça, sentindo-se a pior das criaturas. Bobbi torceu os lábios, não conseguindo afugentar a curiosidade e verbalizando a pergunta que rondava sua mente.

- Jemma, não fique irritada, mas eu preciso lhe perguntar isso... Se, por acaso, vocês tivessem conseguido salvar Will e ele houvesse voltado... Como acha que seria?

- Ótimo. Ele merecia voltar e ter uma vida digna...

- Digo, entre você e Fitz?

- Oh... Seria muito melhor. Ele acreditaria em mim... Acreditaria que ele nunca foi uma segunda opção.

- Então você não escolheria...

- Nunca houve escolha, Bobbi – Jemma a cortou, subitamente – Eu só poderia ficar com Will em um mundo em que Fitz não existia. E Will sabia disso.

Bobbi a fitou, complacente.

- E então? Por que nunca disse isso a ele?

- Eu contei a ele tudo o que houve comigo no outro planeta, como ele simbolizou a minha esperança de voltar durante todo o tempo até eu achar que não havia mais nenhuma chance de retorno... Ele viu o vídeo que gravei falando sobre meus planos com ele... Achei que estivesse claro.

- Não disse com todas as letras, Jemma...

Ela sacudiu a cabeça, os olhos cerrados.

- Sempre fui um desastre ao tentar falar abertamente sobre meus sentimentos... Foi mais fácil em um vídeo que achei que ele nunca iria ver...

- Esse é o problema de vocês dois. Não conseguem expressar o que sentem um para o outro. Isso é terrível. Vocês se conhecem tão bem, parecem possuir uma ligação psíquica, como se conseguissem ler a mente um do outro... Não dá para entender a razão de não conseguirem simplesmente conversar.

- Acredite, eu também não entendo...

Ficaram momentaneamente em silêncio.

- Acho... – Jemma recomeçou, hesitante – que o que causou a insegurança de Fitz foi algo que disse a ele...

- O quê?

- Eu disse... Que amava Will.

Bobbi entreabriu a boca, consternada, pensando no quanto aquilo devia ter partido o coração de Fitz em milhares de pedaços.

- Então você o amava mesmo?

Jemma desviou o olhar, sentindo-se confusa novamente, sem saber como responder.

- Eu nunca disse isso a Will. Na verdade, nunca me passou pela cabeça... Nunca pensei a respeito disso durante o tempo em que estive lá, com ele. Mas quando Fitz me questionou a respeito – seu semblante era vago, como se espiritualmente, Jemma estivesse à milhas distante dali – eu achei que essa era a resposta mais exata. Quer dizer, eu parei pra pensar e achava que o fato de retribuir os gestos e atenções de Will, bem como querer voltar para salvá-lo, arriscando a mim mesma, significava que...

- Que você o amava.

- Sim, mas eu não tenho mais certeza disso. Naquele momento, quando eu disse a Fitz, pareceu a conclusão mais certa, a resposta mais justa...

- Jemma, você parece confundir sentimentos com, sei lá, ciência. Não há respostas exatas quando se trata disso – Bobbi apontou para seu coração – Pareceu justo, pareceu exato... Mas o que era afinal? O que você sentia por Will, o que sente por Fitz? Não é o seu lado racional que vai lhe dar uma resposta, é o seu instinto.

Simmons a encarou, avaliando suas palavras, e chegou à imediata conclusão de que Bobbi não poderia estar mais certa.

- Precisa dar um jeito de desembaralhar seus sentimentos – Bobbi concluiu, com um tom de voz tranquilizador, afável e, ao mesmo tempo, penetrante. Jemma sentiu aqueles conselhos reverberarem em sua alma.

Ela engoliu em seco antes de prosseguir.

- Bobbi... Eu acho, sinceramente, que o que senti por Will só poderia ser delimitado àquele espaço-tempo. Como se fosse algo que não faria sentido nesta dimensão... E só tinha fundamento naquela porque Fitz parecia inalcançável, intangível... Quase como uma abstração. Mas aqui... Ele é muito real. Eu posso tocá-lo, posso senti-lo... E jamais desejaria outro toque que não o dele.

Um sorriso melancólico se desenhou nas feições de Bobbi. Era adorável quando mesmo tentando descrever o que sentia, a bioquímica recorria a uma fraseologia que só parecia fazer sentido para estudiosos da teoria do universo simulado.

- Durante essas vezes em que ficaram juntos, você disse que Fitz parecia indiferente... Que estava se autopreservando, possivelmente... Mas, tem alguma ideia do que ele sentiu enquanto estava com você?

Aborrecida, Jemma balançou a cabeça negativamente.

- Ele fez o impossível para esconder o que sentia... E, de qualquer modo, como eu falei, ele mal me olhava nos olhos. De forma que eu não tinha sequer um vislumbre do que ele sentia – todavia, o seu rosto, ainda sombrio devido à angústia que se instalara em seu espírito nos últimos dias, pareceu se iluminar fracamente diante de uma recordação – Teve uma vez... A última vez. Ele me olhou nos olhos naquele dia e... E eu realmente me senti amada – sua expressão esmoreceu novamente, o desânimo tornando a nublar sua face – e talvez seja por isso que ele tenha partido... Por ter se sentido revelado naquela noite...

- Ele pensou que quanto mais claro deixasse o que sente por você, mais se machucaria...

- Por crer que eu não sinto o mesmo... Que não é recíproco...

- E é?

Jemma deu um sorriso mordaz.

- Ninguém parece acreditar que tenho sentimentos por ele.

- Não é questão de não acreditar, Jemma. Mas o que você disse até agora, é que nutre sentimentos por ele. Mas que sentimentos seriam esses? Carinho, afeto, paixão...? Amor?

Seu coração falhou uma batida. Ser interrogada acerca de seus sentimentos era um lembrete do quanto ela precisava urgentemente confrontá-los e compreendê-los definitivamente.

- Ok, eu não vou te pressionar. Mas você precisa entender que Fitz merece uma resposta mais clara e objetiva. Ficar nessa incerteza, na dúvida, é cruel. Com ele e com você.

Ela baixou o olhar.

- Eu nunca disse... As palavras.

- As três palavrinhas – Bobbi enfatizou.

- Sim. Não sei como lidar com elas... Por muito tempo encarei o amor como sendo apenas uma reação química do cérebro... Até me ver envolvida em tudo isso. Eu nunca tinha me apaixonado...

- Não tenha medo do que sente, Jemma. E nem de expressar isso. Não deixe que seja tarde demais. Você merece ser feliz agora. Não adie isso.

Jemma suspirou, conformada.

- Que diferença faz agora que Fitz foi embora?

- Vai desistir disso porque ele se foi? Não acha que esse é o momento de lutar?

Durante um longo segundo, que pareceu se arrastar além do normal, ela refletiu em silêncio, encarando as próprias mãos pousadas em seu colo antes de tornar a falar.

- Ele pediu um tempo. Não seria justo desrespeitar isso.

Bobbi assentiu, comprazente, sabendo que ela tinha razão. Não era correto invadir o espaço de Fitz. Ele também precisava de tempo para colocar seus sentimentos e sua vida em ordem.

Era frustrante, mas ela não sabia o que fazer para ajudar seus amigos. Sentiu-se impotente, de mãos atadas. A única coisa que poderia fazer agora, era consolar a garota que parecia despedaçada à sua frente. Sabendo que suas palavras de conforto eram vagas, mas era o máximo que ela poderia fazer.

- Ah, Jemma! Se eu pudesse ajudar em algo... Venha cá!

Ela envolveu Jemma em um abraço fraternal e reconfortante. A bioquímica apoiou a cabeça em seu ombro, deixando que lágrimas tímidas escorressem pela sua face.

- Sério, eu odeio ver vocês dois sofrendo. Odeio! Eu lutaria sozinha contra toda a Yakuza e a Máfia Italiana só para ver vocês dois felizes. Juntos ou separados... – seu rosto ganhou uma expressão astuta, repentinamente – Juntos de preferência.

Um sorriso retraído surgiu na face de Jemma e, intimamente, ela agradeceu por contar com o apoio e o conforto de Bobbi, uma verdadeira amiga, naquele momento crucial e caótico de sua vida.

- Vai dar tudo certo, Jemma. Tudo vai ficar bem, você vai ver.

Jemma queria desesperadamente acreditar em Bobbi e Hunter quando ambos diziam que tudo ficaria bem. Mas ela sabia que sua história com Fitz estava longe de um final feliz.



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