História Descensum: Highway to Hell - Limbo: II

A comemoração na noite passada havia sido pesada. O apartamento de Dave e Debbie estava completamente repleto de garrafas de bebida espalhadas pelo chão, assim como caixas de pizza e de comida chinesa. A garota havia voltado sozinha para casa e deixado os meninos com os outros músicos na casa de shows. Sua cabeça estava a mil nas últimas semanas, tendo diversos questionamentos sobre seu futuro. Será que ela havia tomado a decisão correta em seguir o ramo musical? Talvez fosse melhor seguir a mesma carreira que seus pais, afinal de contas.

Quando deu aproximadamente umas três horas da manhã, os meninos chegaram no apartamento. Sid e Liam estavam completamente chapados, enquanto Dave já parecia estar menos fora de si. Chamaram-na para fora de seu casulo, - leia-se quarto -, e então os quatro se reuniram na sala para comer um pouco de pizza. Aparentemente os meninos compraram na pizzaria de esquina, a Paolo's Pizzeria, que era a favorita de Debbie. Seria isso tudo uma tentativa de animá-la?

— Como você anda meio pra baixo, a gente resolveu comprar isso para você. — Dave abriu a caixa e pegou um pedaço para a garota. 

— Vocês... Vocês realmente não precisavam disso, cara. — Debbie passou a mão em seus cabelos, em um nítido acanhamento. 

— De certa forma, você é a nossa líder. Você estando mal, a banda inteira vai mal. — Sid complementou. — Agora... Você vai aceitar o pedaço ou não? — Riu, observando Dave ainda com o pedaço de pizza em sua mão.

A garota riu e pegou finalmente o pedaço. Era bom tê-los por perto. E eram esses momentos que faziam tudo aquilo de ter uma banda valer a pena. Mas era extremamente complicado, estava desempregada fazia um mês, e só conseguiam pagar o aluguel porque os pais de Dave davam um dinheiro extra para o rapaz todo mês, caso contrário, provavelmente já teriam sido despejados.

Até pensou por um momento em pedir dinheiro para seus pais, mas as coisas não tinham sido legais quando saiu de casa. Se lembra exatamente do dia, com cada detalhe. Sua mãe possuía um mix de tristeza e raiva ao mesmo tempo, enquanto seu pai apenas conseguia expressar indiferença, era como se ela não estivesse mais ali no momento em que ele a viu com as malas. Queria vê-los mais uma vez para contar todas as coisas que havia feito esse tempo inteiro que esteve longe de casa, mas ao mesmo tempo... Era como se fossem parte de um passado que não importava mais.

— Você sabe que eu detesto assuntos sérios, mas... — Liam se apoiou na pia da cozinha, ficando em pé ao lado de Debbie, que encarava os outros rapazes sentados no sofá. — Tem algo realmente te incomodando, não tem?

— Até você consegue enxergar isso, Liam? 

— "Até eu"? — Sorriu de canto de boca e deu um gole na bebida que estava em suas mãos. — Eu posso não ser o cara mais sensível do mundo, mas você é uma das minhas melhores amigas. Na verdade, você é a única amiga mulher que tenho.

— Você realmente acha que esse esforço todo vai valer a pena? Digo... Nossos ensaios, o transporte para os shows, tocar em lugares de graça, e todas as outras coisas que não preciso nem mencionar. Você acha que isso vai nos levar a algum lugar?

— A gente não vai saber se não tentarmos.

Liam sorriu e se afastou da garota, indo se sentar junto aos meninos no sofá. Eles realmente não saberiam até onde poderiam chegar se não tentassem, mas Debbie não sabia quanto mais poderia dar. Até que ponto aguentaria sem cair no choro enquanto estivesse cantando no palco. Odiava ter que se aproveitar dos meninos, e por isso limitava-se até na quantidade de comida que comia em casa, já que era Dave que pagava tudo. Nos últimos meses, havia emagrecido aproximadamente uns 5kg, pesando agora preocupantes 39kg. Nem na época que havia tentado ser modelo pesava tão pouco assim.

Voltando para a manhã seguinte, acordou com a cabeça doendo um pouco, e a sua barriga roncando. Por mais que odiasse aquilo, precisava comer. Fez panquecas, e as comeu enquanto assistia o noticiário matinal. Liam e Sid já haviam ido embora para casa, visto que eles não estavam esparramados no sofá ou no chão. Não demorou muito para que Dave levantasse e se juntasse à ela. Juntos, comiam panquecas e assistiam tv.

— Está animada para o show de semana que vem? 

—   Um pouco nervosa, na verdade. Bandas grandes vão estar lá.

— Vai dar tudo certo. 

Dave sorrindo era como se iluminasse o salão. Sua felicidade era pura e contagiava qualquer pessoa com quem conversasse, por mais que ela estivesse tendo o pior dia de sua vida. Essa era uma das coisas que mais admirava nele, a forma em que mantinha a calma em situações completamente desesperadoras.

— Você viu que o The Neighbourhood vai tocar depois de nós?

— Hm... Sim. Já prevejo as fãs irritadas e desesperadas desejando que a nossa vez acabe logo para que eles possam tocar.

— Vai ser infernal.

— Mas vamos fazer dessa experiência a melhor que pudermos, está bem? Como se fosse a última. 

 Era difícil gostar de bandas que eram conhecidas na mídia. Achava que tudo havia se tornado comercial demais, era como se músicos não existissem mais, e sim produtos fabricados pelas gravadoras para vender, vender e vender. 

Uma semana dali, suas vidas mudariam completamente. Aquela semana passariam ensaiando sem parar, para que naquele dia, fizessem o show mais importante de toda a sua carreira, aquele que seria o início de tudo. 

 — Nós três estamos preocupados com você, sabe? Quando saímos, você não vem junto. E estamos sentindo cada vez mais que você se arrependeu de ter começado a banda.

— Eu só... Eu só estou duvidando um pouco das coisas. Mas isso deve passar em breve. 

— Você sabe que eu evito ao máximo ser alguém negativo, mas prefiro perguntar isso de uma vez por todas para não perder tempo: Você quer desistir?

— Não! É claro que não... Tudo vai ficar bem.

Se Debbie soubesse o que ela saberia meses depois, talvez ela teria desistido naquele exato momento, e teria voltado para a casa de seus pais. Será que teria sido pior ou melhor?