História Desejo Impuro - Jeon Jungkook - A vilã da história.

Meus olhos se arregalaram, meu corpo inteiro parecia dormente e a única coisa que eu sentia era o gelar das minhas mãos, aquilo não poderia estar acontecendo, só podia ser um pesadelo. 

Todo mundo estava vendo aquilo, vendo Jin me puxando para beijá-lo e abraçando meu corpo, não tinha como não reconhecê-lo do ângulo em que estava, já eu… não estava tão nítida, mas rezava para que aquela merda acabasse logo.

— Puta merda… — Namjoon olhou discretamente para mim, que movi a cabeça em um "não" o mais discreta que conseguia ser.

Meus batimentos estavam tão acelerados que chegava a ser doloroso. As pessoas se entreolharam confusas, e vozes questionadoras começaram a ecoar, o que tornava a situação ainda pior do que já estava.

— Desliguem isso, agora! — A voz alta de Seokjin se sobressaltou em meio a tantas.

— Mas que porra é essa, Jin? — O irmão mais velho de Ah-ri exclamou.

— Ele a traiu? — Sa-Rang, que estava junto a nós na mesa, parecia tão confusa quanto os outros. — Quem é aquela garota?

— Taehyung, por que colocou esse vídeo junto dos outros? Você sabia, fez de propósito? — Hoseok encarou o amigo.

— O que? Eu nem mesmo me lembrava que tinha gravado isso! Acha que eu teria coragem de fazer algo assim? 

— Não importa, a merda já está feita! — Yoongi os cortou. 

O clima que antes estava pacífico e animado, agora se encontrava tenso e caótico. Onde uma simples cena de beijo, pode ser capaz de destruir uma união tão preciosa, e com simples significa que o problema não é o beijo, mas sim as pessoas que estão realizando o ato, que nunca deveria ter acontecido.

O datashow foi desligado, mas era como se aquela cena ainda estivesse sendo reproduzida em looping, pois os convidados e parentes dos recém casados estavam cada vez mais alterados e confusos, inclusive o casal, eu podia ver muito bem de onde estava as reações angustiadas de Ah-ri, já com lágrimas escorrendo de seus olhos e borrando a maquiagem, afinal, ela sabia, eu sabia, todos sabiam que eles não tinham rompido, apenas passavam por um momento complicado, e o quanto ela ficou chateada pelo rapaz ter dado uma festa quando poderiam estar se reconciliando.

Ela estava sofrendo, enquanto ele me beijava, beijava a pessoa que ela considerava a melhor amiga.

Vi Seokjin tentar se aproximar dela, mas a mesma apenas o empurrava, inconsolável.

— Será que vocês poderiam se acalmar? Isso não é da nossa conta! — Namjoon se pôs de pé. 

— Como você quer que mantenhamos a calma, Kim? — Disse Hoseok. — Ah-ri acabou de descobrir que é corna! No dia do próprio casamento! Na frente da família, tem noção do quão humilhante isso é? E nem mesmo sabemos quem é aquela garota.

— E isso é necessário? — Jeongguk se pronunciou pela primeira vez desde que tudo começou a desabar.

— Não, mas…

— Eu acho que sei quem ela é… 

A voz de minha irmã mais velha entonou de uma maneira que eu nunca tinha escutado antes, parecia carregada de raiva e repulsa. No mesmo instante a atenção de todos naquela mesa se dirigiu a ela, que se levantou da cadeira da qual estava sentada.

— Você sabe? — Sa-Rang a olhou de cenho franzido, não muito diferente dos outros.

— Não teria como não saber, visto que passei dezenove anos convivendo com ela… — Ela se virou, e seu olhar fulminante veio de encontro ao meu. — Eu reconheço muito bem aquele vestido! 

Não havia nada mais pesado e massacrante para mim naquele momento, quanto a sensação dos olhares de todos eles sobre mim. Engoli a seco, com tanta dificuldade que minha garganta pareceu arder.

— Do que você está falando? — Yoongi cruzou os braços, estava de pé ao meu lado. Eu era a única que ainda estava sentada, sequer tinha forças e consciência para mover o corpo, tudo que eu mais desejava era desaparecer desse lugar. — Está insinuando que a garota que Jin beija no vídeo é a Sunhee?

— Não estou insinuando, estou afirmando! — Rebateu a mais velha. — Mas eu quero ouvir da sua boca, admita! — Se dirigiu a mim.

De fato, ela era a única capaz de saber que aquela pessoa era eu, e além dela, as únicas pessoas que sabiam desse ocorrido eram Namjoon e Jimin, mas ambos prometeram não comentar nada sobre isso, e se não fosse pelo vídeo que Taehyung gravou do momento sem perceber, seria como se nada tivesse acontecido. Entretanto, meus planos não são os mesmos que o destino almeja.

Por que precisava ser desse jeito?

— Sora, por favor… — Namjoon tentou falar.

— Eu sei que é você, desde aquele dia, você tem agido estranha, principalmente com Ah-ri, você se afastou dela. Era culpa que você vinha sentindo? E mesmo assim está aqui, agindo como se nada tivesse acontecido, comemorando a alegria da sua "amiga" mesmo depois de ter ficado com o noivo dela pelas costas! — Bateu a mão na mesa, surpreendendo a todos ali. — Vamos! Fala! Por acaso o gato comeu a sua língua?

Por que? Por que eu sempre tinha que ser a vilã da história? Ela realmente acha que eu fiz de propósito? Que eu quis ver o pior na vida de uma das pessoas que mais considerei importante para mim?

Mas isso era fato, e nunca iria mudar, mesmo que fizéssemos as pazes, ela nunca perderia a oportunidade de me subjulgar, e ainda assim, sob os olhares confusos e pesados, me levantei, finalmente.

Senti uma lágrima solitária escorrer por meu rosto, me sentia uma bomba relógio, angustiada, nervosa, ainda podendo ouvir as vozes alteradas através da bolha invisível que tínhamos projetado apenas entre nós.

Eu sei que não terei razão, mesmo se tiver a oportunidade de tal.

— Sim, você está certa… — Fechei as mãos em punho, tentando manter meu corpo de pé, ignorando as reações surpresas dos outros, sem desviar os olhos de Sora. — Aquela garota que está beijando Kim Seokjin, sou eu! — Disse em alto e claro tom.

Ou possivelmente, eu tenha sido tão clara, que até mesmo Ah-ri foi capaz de me ouvir, pois no momento em que me virei na direção em que ela estava, seus olhos já estavam fixos nos meus, fazendo com que mais uma lágrima escorresse por meu rosto.

— Caralho… — Ouvi Yoongi murmurar.

— Vocês realmente ignoraram o fato de estarmos em público. — Taehyung começou a se afastar.

— Foda-se o público… — Sora Contornou a mesa. — Sua vadia!

Fechei os olhos com força, virando meu rosto para o lado e dando alguns passos para trás pelo impacto do ato, pude ouvir alguns gritos alterados e chamaram por ambos nossos nomes, enquanto uma sensação de ardência incômoda começou a se manifestar na minha bochecha esquerda.

Minha irmã mais velha, pela primeira vez, havia me batido.

— Vocês enlouqueceram? — Reconheci a voz de Seokjin. — Parem com isso!

Arfei, abrindo os meus olhos novamente e a vontade de chorar se intensificou ainda mais, pois todas as esperanças que eu tinha de tudo isso ser um sonho evaporou como fumaça. Não conseguia acreditar que estava diante daquilo tudo, era a primeira vez que via todos eles em conflito, e por minha causa…

— Como você pôde fazer isso, Seokjin? E com a minha irmã? — Sora gritou, os outros tentavam acalmar a situação, mas nada parecia adiantar, ainda haviam muitas pessoas confusas e as famílias estavam decepcionadas.

Eu não conseguia me mexer, não conseguia fazer nada, apenas telespectar o pior momento da minha vida.

Era tudo culpa minha… não deveria ter saído de casa naquele dia.

— É verdade? Era a Sunhee naquele vídeo? — Vi a silhueta de Ah-ri se aproximar, segurando a saia de seu vestido branco. — Por que…? — Ela olhou para mim.

— Ah-ri… E-Eu… — Minha voz falhou, se recusando a sair coerente. — Me desculpa...

— Sua… — Sora esbravejou vindo em minha direção novamente, a única reação que tive foi fechar os olhos e esperar por uma ação que não veio.

— Não se atreva a encostar nela de novo, Sora. 

Abri os olhos, me deparando com um corpo grande parado de costas para mim. Uma cena que eu nunca imaginei que fosse presenciar.

— Jeon… — Sora o encarou, tinha um dos seus pulsos sendo segurado pela mão do rapaz.

Ele me protegeu? Não, não deveria ter feito isso.

— Sunhee não tem nada a ver com isso, a culpa foi minha, porra! Fui eu quem beijei ela! — Jin exclamou, em voz alta. 

Meus olhos se intercalaram entre Seokjin e os outros, ao mesmo tempo que também olhava para o casal que se estranhava na minha frente.

Não aguentava mais isso, não conseguia mais olhar para eles por sequer um segundo, começando a me afastar devagar até ter forças o suficiente para correr dali.

Ouvi meu nome ser chamado, mas ignorei, deixando aquele lugar e seguindo em uma direção que não fazia ideia até onde iria parar. Só queria ficar longe deles, das vozes, dos julgamentos, da minha irmã que agora me odeia assim como todo mundo, talvez eu realmente seja uma vadia, talvez eu realmente mereça passar por isso.

Gemi, no instante em que minhas pernas fraquejaram e precisei me apoiar na parede de gramado para evitar que meu corpo fosse de encontro ao chão. A pele da minha bochecha esquerda ainda ardia e só conseguia chorar de tanta vergonha e humilhação. Não me importava mais em manter a aparência, minha maquiagem não existia mais e muito menos o penteado em meu cabelo se manteve, caindo solto por meus ombros.

Após um arfar pesado, escondi o rosto nas mãos enquanto me encolhia alí mesmo, sem a mínima noção de onde estava, correndo o risco de pessoas desconhecidas estarem me vendo neste estado.

Minhas forças pareciam ter sido esgotadas, pois as estava desperdiçando para chorar, estava doendo tanto.

— Sunhee! — Ouço uma voz me chamar, uma, duas, três vezes até que eu finalmente consegui reconhecer o timbre grave, bem próximo de mim. — Huh… achei você…

Retirei as mãos do meu rosto, virando-me para olhá-lo, minhas sobrancelhas se ergueram em surpresa. 

O que ele estava fazendo aqui? Por que veio atrás de mim?

— Por que…? — Minha voz soou baixa, falha. — Por que veio atrás de mim? Por que não está com Sora? Não deveria… — Fui interrompida pelo meu próprio soluço.

— Sunhee, você precisa se acalmar, por favor. — Falou, começando a se aproximar. 

— Me acalmar? Eu acabei de estragar um casamento, os fiz passar por uma humilhação na frente dos amigos e família. E agora minha irmã e todos me odeiam, como quer que eu me acalme, Jeon? 

O rapaz apenas continuou olhando em meus olhos, seus lábios se entreabriram mas nenhuma palavra saiu, como se não tivesse uma resposta depois do que eu disse. Eu estava com tanta vergonha, vergonha por ele ter visto tudo aquilo, vergonha por ele possivelmente também estar pensando o mesmo que os outros, e só veio atrás de mim por pena.

Retomou os passos, se aproximando ainda mais até estar a centímetros do meu corpo, infelizmente eu já estava no limite da parede e não tinha como me afastar.

Desviei os meus olhos e os fechei com força quando senti suas mãos tocarem o meu rosto, passando seus polegares por minhas bochechas, secando algumas lágrimas.

— É perigoso ficar sozinha aqui. — Disse. 

— Eu não me importo! — Me afastei de seu toque. — Eu não quero voltar para lá, não quero ter de olhar nos olhos da minha irmã e dos outros de novo! E nem você deveria querer olhar pra mim agora! Eu sou a vilã da história! Eu estraguei tudo… 

— Tudo bem, eu não vou te forçar a fazer nada que não queira. Mas também não posso te deixar aqui desse jeito, me deixa ao menos…

— Não! — O interrompi antes de terminar. — Os meus pais… eles não sabem, se eu chegar em casa assim, eles… — Solucei novamente.

— Sunhee…

— Sai daqui…

Ele suspirou, parecia estar tentando manter a calma. E no fundo eu sabia que também deveria fazer o mesmo, de que adiantaria me alterar e descontar minha angústia em alguém que não tem culpa? Mas era incompreensível para mim que ele não estivesse demonstrando o mesmo que os outros, ou talvez, só esteja disfarçando. 

— Entendi… 

Ergui o olhar que antes estava em uma direção qualquer, encarando Jeongguk novamente.

— O… que?

— Se você realmente não quer voltar para casa agora, não precisa voltar. — Disse, olhando para mim.

— Mesmo assim,  não é como se eu tivesse para onde ir. — Funguei. — Não fale como se fosse fácil.

— Mas eu estou facilitando pra você. 

Franzi o cenho, ele só podia estar ficando louco.

— Jeongguk…

— Você tem alguma escolha? — Me mantive em silêncio. — Foi o que eu pensei. — Respirou fundo. — Você pode ficar comigo. 

Ficar com ele? Como assim ficar com ele? Ficar onde? 

— F-Ficar com você...? 

— Apenas, me deixe te tirar daqui. — Seu olhar parecia suplicar por isso, o que me deixou ainda mais bagunçada internamente.

Isso era errado, mesmo que sem escolha, essa era uma das mais complicadas opções que eu tinha… entre voltar para aquela desordem, ou ir com ele.

— Eu não quero…